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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DE BH CURSO DE GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO MARCOS FERNANDO DA CRUZ FRAGA RAFAELA STEPHANIE DE QUEIROZ THIAGO FIDELIS MARTINS CORREIA TERAPIA NUTRICIONAL NA ASCITE QUILOSA Belo Horizonte 2023 1 MARCOS FERNANDO DA CRUZ FRAGA RAFAELA STEPHANIE DE QUEIROZ THIAGO FIDELIS MARTINS CORREIA TERAPIA NUTRICIONAL NA ASCITE QUILOSA Artigo apresentado à disciplina TCC em Saúde do curso de graduação do Centro Universitário Estácio BH como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Nutrição. Belo Horizonte 2023 2 MARCOS FERNANDO DA CRUZ FRAGA RAFAELA STEPHANIE DE QUEIROZ THIAGO FIDELIS MARTINS CORREIA TERAPIA NUTRICIONAL NA ASCITE QUILOSA Artigo apresentado à disciplina TCC em Saúde do curso de graduação do Centro Universitário Estácio BH como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Nutrição. Aprovado em: Nota: Banca examinadora: Professor Universidade Professor Universidade 3 TERAPIA NUTRICIONAL NA ASCITE QUILOSA Marcos Fernando da Cruz Fraga Rafaela Stephanie de Queiroz Thiago Fidelis Martins Correia RESUMO Introdução: A ascite quilosa é uma etiologia rara, causada pelo acúmulo de líquido linfático (quilo) na cavidade peritoneal. A terapia nutricional é parte importante do tratamento e o objetivo deste trabalho é discuti-la. Metodologia: revisão de nove artigos da área da Saúde, publicados entre 2001 e 2022, sobre ascite quilosa. Desenvolvimento: A ascite quilosa é uma condição rara e, portanto, há poucos estudos randomizados sobre o tema. Sabe-se que a terapia nutricional deve consistir em uma dieta hiperproteica e hipolipídica, com suplementação de triglicerídeos de cadeia média (TCM), porém há dúvidas sobre o quão ef icaz é a dieta em si e o que fazer em casos de pacientes com risco de cetoacidose. Conclusão: A taxa de sucesso da terapia nutricional, bem como a forma com que deve ser implementada em pacientes que correm risco de desenvolver cetoacidose são inconclusivas. PALAVRAS-CHAVE: Ascite quilosa, terapia nutricional, tratamento conservador. ABSTRACT: Introduction: Chylous ascites is a rare etiology, caused by the accumulation of lymphatic liquid (chyle) in the peritoneal cavity. The nutritional therapy is an important part of the treatment and this work aims to discuss it. Methodology: review of nine articles in the Health f ield, published between 2001 and 2022, about chylothorax. Development: Chylous ascites is a rare condition and therefore there are few randomized studies about it. It is known that the nutritional therapy must consist of a hypolipidemic and high protein diet, with supplementation of medium-chain triglyceride (MCT), however there are doubts about how ef f icient is the diet itself and what to do in cases where there is risk of ketoacidosis. Conclusion: The success rate of the nutritional therapy, as well as the way it must be implemented i n patients with risk of ketoacidosis is inconclusive. KEY WORDS: Chylous ascites, nutritional therapy, conservative treatment. 4 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………………... 4 2 METODOLOGIA ……………………….…………………………...……………... 6 3 DESENVOLVIMENTO ……………………….…………………………...………. 7 4 CONCLUSÕES …………………….………………………..…....….….…….… 13 5 REFERÊNCIA …………………….………………………..…....….……...….… 14 5 1. INTRODUÇÃO A ascite é uma condição patológica provocada por um acúmulo superior a 20 mL de fluido na cavidade peritoneal. Isso ocorre quando a quantidade de líquido ascítico formada diariamente supera a capacidade de reabsorção linfática. A maior causa de ascite (correspondente a cerca de 80% dos casos) é a cirrose hepática, condição que leva à hipertensão portal, que, por sua vez, é a causa direta da ascite. Entretanto, há outras causas possíveis para o desenvolvimento da etiologia, como neoplasias, insuficiência cardíaca, entre outras. (DOERR et al., 2001) Quando a ascite é causada por acúmulo de fluido linfático (ou quilo) na cavidade peritoneal, denomina-se ascite quilosa. O principal fator que pode desencadear a ascite quilosa é a obstrução linfática por neoplasias. Entretanto, a ascite quilosa pode também aparecer como complicação pós-operatória após cirurgias abdominais ou pélvicas e também em outras situações de trauma abdominal, além de poder ocorrer de forma idiopática. (DOERR et al., 2001; SOBRINHO et al., 2022) O tratamento da ascite quilosa pode ser feito por meio de uma dieta hiperproteica e hipolipídica, com suplementação de triglicerídeos de cadeia média (TCM), para se reduzir a produção de linfa. Isso constitui uma das principais partes do chamado tratamento conservador, que reúne, basicamente, as formas menos invasivas de intervenção, isto é, os tratamentos não-cirúrgicos. Persistindo os sintomas, pode-se iniciar tratamento medicamentoso com octreotida. Se, ainda assim, o paciente não apresentar melhora considerável, deve-se realizar tratamento cirúrgico. (DOERR et al., 2001; SOBRINHO et al., 2022) A questão da ascite quilosa, como um todo, é complicada de se tratar por ser uma condição rara e da qual, portanto, há poucos estudos randomizados publicados. Em geral, coloca-se o paciente em tratamento conservador por tempo limitado, para, em seguida, caso não haja êxito, partir para tratamentos mais invasivos. Ou seja, persistindo os sintomas, mesmo após algumas semanas de tratamento conservador, deve-se implementar medicação e/ou dar início à intervenção cirúrgica. (SCHILD et al., 2013) 6 A incidência de casos de ascite quilosa é de 1 em cada 20000 internações hospitalares, por isso, trata-se de uma condição rara. Sua ocorrência está associada ao rompimento e/ou obstrução dos vasos linfáticos, por causas traumáticas, a mais frequente, ou atraumáticas. (SOBRINHO et al., 2022) Por se tratar de uma condição rara, acerca da qual há poucos estudos randomizados disponíveis na literatura médica e nutricional, acredita-se que uma revisão da literatura sobre o tema possa ajudar no aprimoramento das técnicas de terapia nutricional que podem trazer benefícios aos pacientes com ascite quilosa. (SOBRINHO et al., 2022; SCHILD et al., 2013) As maiores dificuldades em se tirar conclusões desta revisão da literatura científica que concerne ao tema estão no fato de que os artigos consultados apresentam discrepância e, até mesmo, contradições entre si. Por exemplo, SOBRINHO, et al. (2022) afirmam que a taxa de sucesso do tratamento conservador varia de 67% a 100%, enquanto SCHILD. et al. (2013) colocam essa taxa de sucesso como sendo de 20% a 80%. Entretanto, espera-se que a revisão da literatura médica e nutricional sobre ascite quilosa seja benéfica no sentido de trazer uma luz sobre a direção que futuras pesquisas sobre o tema devem tomar, em especial, no que diz respeito ao tratamento conservador, no qual a terapia nutricional tem papel importante, se não central. (SOBRINHO et al., 2022; SCHILD et al., 2013) Em relação às taxas de mortalidade de pacientes com ascite quilosa, os dados também apresentam divergências. SCHILD et al. (2013) apontam uma taxa de mortalidade de 25%, enquanto WENIGER et al. (2015) afirmam que essa taxa corresponde a 20%. Já DOERR et al. (2001) apresentaram a taxa de mortalidade de pacientes com ascite quilosa como sendo de 50%, um valor consideravelmente mais alto que os anteriores. (SCHILD et al., 2013; WENIGER et al., 2015; DOERR et al., 2001) Do fato de que os dados estatísticos apresentados pelos autores têm divergências entre si e do fato de que, como apontam SCHILD etal. (2013), faltam estudos randomizados sobre a condição, depreende-se que é preciso investir em pesquisas sobre o tratamento da ascite quilosa. Por mais rara que seja a etiologia, é uma 7 condição com taxas de mortalidade elevadas. A pesquisa bibliográfica é um primeiro passo para a compreensão do problema, síntese de ideias de diferentes autores e apresentação de dados estatísticos que precisam ser melhor investigados em futuras pesquisas. O objetivo deste trabalho é apresentar uma síntese das informações descritas na literatura acerca da ascite quilosa, uma vez que, por se tratar de uma etiologia rara, há poucos estudos randomizados sobre o tema que respondem de forma clara a questão de qual o melhor tratamento para a ascite quilosa e de qual deve ser a duração desse tratamento. O chamado tratamento conservador é o primeiro a ser introduzido, por ser minimamente invasivo e de baixo custo. O tratamento conservador inclui a terapia nutricional e, se bem-sucedido, poupa o paciente de maiores incômodos e o sistema de saúde de gastos com internações e tratamentos mais invasivos. Então, o objetivo desta pesquisa bibliográfica é tirar conclusões da literatura médica e nutricional sobre o tema que possam aprimorar a terapia nutricional, que é parte central do tratamento conservador, visando a redução dos dias de internação dos pacientes com essa patologia e dos gastos do sistema de saúde. 2. METODOLOGIA Foi feita uma pesquisa bibliográfica em artigos científicos sobre a ascite quilosa e, a partir disso, serão apresentadas as discussões encontradas em diferentes autores e tais discussões servirão de base para se levantar hipóteses que ajudarão na elaboração de ideias para futuras pesquisas sobre o tema, principalmente, a respeito do papel da terapia nutricional no tratamento de tal condição. Foram consultados nove artigos científicos, publicados entre 1995 e 2022. Analisou- se, em cada artigo, dados estatísticos sobre a condição da ascite quilosa: taxa de incidência, causas, taxa de mortalidade e taxa de sucesso do tratamento conservador; e principalmente, buscou-se responder à questão de quais alimentos devem ser incluídos na terapia nutricional, a qual é parte central do tratamento conservador. 8 Foram selecionados para a pesquisa os artigos que abordassem a questão de forma clara e didática, que apresentassem dados estatísticos relevantes para embasar os argumentos e que trouxessem informações significativas sobre a terapia nutricional na ascite quilosa, que é o tema central a ser abordado neste trabalho. 3. DESENVOLVIMENTO A ascite quilosa é uma etiologia multifatorial. DOERR et al. (2001) apontam as possíveis causas como sendo: neoplasias (50% dos casos); trauma, podendo ser tanto por razões cirúrgicas, quanto não-cirúrgicas (25% dos casos); outras causas diversas (10% das ocorrências). Há, ainda, os casos idiopáticos (15%), que correspondem à maioria das incidências em neonatais (de forma congênita). WENIGER et al. (2015), por sua vez, apresentam um panorama mais detalhado das ocorrências registradas na literatura dos casos de causa cirúrgica: de 0,17% a 2% dos casos de ascite quilosa como complicação pós-operatória aparecem após cirurgia ginecológica pélvica; 1% a 6,6% dos casos, após cirurgia colorretal ; 4.7% após cirurgias hepáticas, incluindo transplante de fígado; 3,8% a 5;1%, após nefrectomia; e, de um 1% a 10% das incidências, após cirurgia pancreática. Os autores ainda colocam que os fatores de risco que podem levar ao desenvolvimento da ascite quilosa são: idade avançada, sexo feminino, trauma cirúrgico, ascite pré-operatória e baixa albumina pré-operatória, pancreatite crônica, quimioterapia, tumores retroperitoneais, tumores regados pela artéria mesentérica, remoção prévia de linfonodos, manipulação da região para-aórtica, ressecção vascular concomitante, perda sanguínea acentuada em procedimentos cirúrgicos, hemicolectomia direita e alimentação enteral precoce. (DOERR et al., 2001; WENIGER et al., 2015) O quilo é um líquido leitoso, composto por albumina, gorduras e células (das quais 95% são linfócitos). Sendo assim, a perda contínua de quilo pode levar a um quadro de desnutrição e imunodeficiência. As consequências nutricionais da ascite quilosa para o paciente dependem de seu estado nutricional prévio, da duração da condição e da quantidade de quilo perdida com tal condição. Um alto fluxo linfático pode levar a um comprometimento do quadro hidroeletrolítico, com redução do plasma sanguíneo (hipovolemia), redução da concentração plasmática de sódio (hiponatremia) e acidose metabólica. Também é importante observar se há depleção dos níveis de gordura e de vitaminas lipossolúveis e monitorar constantemente a 9 contagem total de linfócitos e de células sanguíneas. Diante de tal problemática, a terapia nutricional na ascite quilosa teria dois objetivos principais: recuperar o estado nutricional do paciente após a perda de quilo, repondo os nutrientes faltantes devido a essa perda; e reduzir a formação de linfa por meio de alimentação adequada, fazendo com que o paciente apresente evolução clínica. (SOBRINHO et al., 2022) O chamado tratamento conservador da ascite quilosa reúne as formas menos invasivas e menos custosas de intervenção médica, dentre as quais estão a terapia nutricional baseada em uma dieta hiperproteica e hipolipídica, com suplementação de TCM, e, em alguns casos, pode-se realizar nutrição parenteral. A literatura acerca de ascite quilosa apresenta dados um pouco divergentes acerca da taxa de sucesso do tratamento conservador, mas pode-se colocar uma média de 75% dos casos de ascite quilosa como sendo possíveis de se tratar dessa forma. Por sua simplicidade e baixo custo, a terapia dietética é costumeiramente a primeira estratégia de tratamento a ser adotada. E, se bem-sucedida, pode reduzir os custos do tratamento e o período de internação do paciente. (SOBRINHO et al., 2022, SCHILD et al., 2013; WENIGER et al., 2015) Visando a redução da produção linfática e a recuperação do quadro de desnutrição causado pela perda de quilo, o paciente com ascite quilosa deve ser submetido a uma dieta hiperproteica e hipolipídica, com um ajuste fino da suplementação de ácidos graxos, já que o quilo tem triglicerídeos como um dos principais componentes. SOBRINHO et al. (2022) indicam uma dieta com ingestão de clara de ovo, laticínios desnatados, leguminosas e grãos integrais, em que os dois últimos representam as principais fontes de energia (carboidratos). A ingestão diária de gordura deve ser de 20 a 30 gramas. Deve-se observar também a suplementação de TCM e outros ácidos graxos. Aos pacientes em terapia nutricional devem ser administrados suplementos de TCM em quantidades adequadas para suprir suas necessidades calóricas. Recomenda-se uma dosagem de 50-60 g/dia, resultando em 400-500 Kcal/dia. Essa dosagem pode ser dividida em várias doses de 15-20 mL por dia, as quais costumam ser bem toleradas. É aconselhável fazer uma introdução gradual a fim de minimizar possíveis problemas de intolerância. (SOBRINHO et al., 2022) 10 Entretanto, há casos especiais em que a prescrição dietética merece atenção redobrada. Para pacientes com diabetes descompensado e pacientes com cirrose hepáticas, ou outras condições em que há cetose ou acidose, por apresentarem maior risco de cetoacidose, a suplementação de TCM deve ser limitada ou, até mesmo, contraindicada dado o potencial cetogênico do TCM. (SOBRINHO et al., 2022) Além disso, como os óleos fontes de TCM não contêm ácidos graxos essenciais (AGE), os autores afirmam que de 2 a 4% das calorias ingeridas pelo paciente em terapia nutricional devem ser provenientes de AGE contidos em óleos de soja, milho e girassol. Em caso de intolerância, os AGE podem ser administrados por meio de emulsõeslipídicas intravenosas. É importante também administrar aos pacientes, suplementos multivitamínicos para prevenir a deficiência de vitaminas lipossolúveis. (SOBRINHO et al., 2022). Por se tratar de uma condição rara, existe pouca informação acerca da ascite quilosa na literatura médica e os dados disponíveis podem apresentar divergências entre si pelo fato de as pesquisas sobre o tema serem esparsas. Enquanto SOBRINHO et al. (2022) acreditam que, até por sua simplicidade e baixo custo, a terapia dietética seja promissora como principal tratamento na maioria dos casos de ascite quilosa, outros autores, como SCHILD et al. (2013), apontam que somente a dieta é insuficiente na maioria dos casos, sendo necessário recorrer à paracentese, para drenar parte da linfa da cavidade peritoneal, e à administração de medicamentos como octreotide ou outros análogos da somatostatina. Os autores também indicam uma dieta com suplementação de TCM via parenteral, por ser absorvida diretamente pelo sistema da veia porta, sem entrar em contato com os vasos linfáticos do intestino ou com o ducto torácico (SCHILD et al., 2013; SOBRINHO et al., 2022) DOERR et al. (2001) afirmam que há uma tendência na literatura sobre ascite quilosa de se estabelecer comparações entre as taxas de sucesso de tratamentos cirúrgicos e não-cirúrgicos. Os autores não fogem muito dessa tendência, mas fazem a importante observação de que o sucesso de um ou outro tratamento vai depender bastante das condições individuais de cada paciente e da causa para o desenvolvimento da ascite quilosa. Sua pesquisa concluiu que o tratamento conservador sozinho é mais efetivo em crianças, chegando a uma taxa de sucesso 11 de 80%. Para pacientes adultos, em geral, é preferível um tratamento mais duradouro, de aproximadamente 2 semanas, com drenagem torácica por paracentese e suporte nutricional. Em resumo, dos autores consultados, SOBRINHO et al. (2022) e WENIGER et al. (2015) são os mais otimistas em relação ao tratamento conservador. Divergem, entretanto, na questão: nutrição enteral versus nutrição parenteral. SOBRINHO et al. (2022) acreditam que a terapia nutricional (enteral) é a que deve ser tentada primeiro. Afirmam que a nutrição parenteral total (NPT) tem a vantagem de permitir o descanso do aparelho digestivo e diminuir o fluxo linfático, bem como de proporcionar rápida recuperação do estado eletrolítico do paciente. Contudo não recomendam a NTP como medida inicial de tratamento, primeiramente porque há grandes chances de sucesso da terapia nutricional administrada via enteral, depois, por ser um procedimento que envolve riscos, como canulação da linha central, infecção e obstrução, além de ser um procedimento mais caro que uma simples prescrição dietética. WENIGER et al. (2015), por sua vez, afirmam que a NTP sozinha foi bem- sucedida em 77% a 100% dos casos, em 75% dos quais houve suplementação de TCM. Os autores ainda ressaltam que, em sua pesquisa, estavam incluídos estudos em que não se especificava se se tratava de simples suplementação de TCM ou de NTP; tais estudos apontaram uma taxa de sucesso do tratamento conservador de 71% a 100% (SOBRINHO et al., 2022; WENIGER et al., 2015) SCHILD et al. (2013) descrevem, do ponto de vista médico, como deve ser administrado o tratamento conservador e quais os procedimentos posteriores, em caso de falha do tratamento conservador. Segundo os autores, o tratamento conservador apresenta uma taxa de sucesso de 20% a 80%, o que configura um valor de incerteza bastante elevado. Afirmam, ainda, que a NTP é usualmente o primeiro procedimento a ser tentado em pacientes com ascite quilosa, em especial, nos casos em que a ascite quilosa aparece como complicação pós-operatória, já que sua pesquisa aponta que a terapia nutricional via enteral não é, frequentemente, suficiente para tratar a condição. Os autores não especificam, entretanto, as razões pelas quais a NTP deve ser preferível em comparação com a nutrição enteral. (SCHILD et al., 2013) 12 Finalmente, DOERR et al. (2001) trazem uma maior variedade de especificações que tornam o tratamento conservador preferível a intervenções mais invasivas e vice- versa. Os autores ressaltam a importância de se levar em consideração as condições individuais de cada paciente, bem como da causa do desenvolvimento da ascite quilosa. É, contudo, o estudo mais antigo dos estudos publicados, então é preciso levar em consideração o fato de que alguns dos dados que apresenta pode estar desatualizados. (DOERR et al., 2001) O estudo de SOBRINHO et al. (2022) é o mais atual e o que traz maiores informações sobre a nutrição adequada para pacientes com ascite quilosa, portanto é dele que foi possível obter a maior parte das conclusões relevantes para este trabalho. Os outros artigos consultados, todavia, foram importantes para que se pensasse em algumas especificidades que podem estar envolvidas no tratamento da ascite quilosa. Por se tratar de uma patologia rara, há poucos estudos sobre o tema, en tão essa revisão da literatura médica é importante para que se levantem ideias a partir dos resultados de diferentes estudos e se pense em quais rumos as futuras pesquisas sobre o assunto devem tomar. Ainda que os artigos analisados não apresentem informações conclusivas sobre qual a melhor forma de se iniciar a terapia nutricional na ascite quilosa: enteral ou parenteral, é indiscutível que os pacientes com ascite quilosa necessitam de uma dieta capaz de recuperar seu estado nutricional debilitado pelas perdas de nutrientes intrínsecas à perda de quilo. Em geral, recomenda-se uma dieta hiperproteica e hipolipídica, com suplementação de triglicerídeos de cadeia média (TCM), ácidos graxos essenciais (AGE) e vitaminas lipossolúveis. A fonte de energia (carboidratos) dessa dieta deve ser leguminosa e grãos integrais. Os TCM devem ser administrados de forma a comporem 400-500 Kcal do total ingerido. AGE devem compor de 2% a 4% da ingestão calórica. Recomenda-se a introdução gradual da suplementação lipídica, a fim de se evitar intolerâncias. Pacientes com comorbidades que apresentam cetose e/ou acidose devem ter essa suplementação limitada ou, a depender do caso, excluída, dado o potencial cetogênico dos TCM. É indicado, ainda, administrar a suplementação de 13 TCM, nos casos em que isso é feito por via enteral, misturada em sucos e/ou molhos, devido ao sabor pouco agradável dos TCM. (SOBRINHO et al., 2022) Embora a questão da nutrição enteral versus NPT seja inconclusiva nos artigos analisados, é possível levantar algumas hipóteses. Como apontam SOBRINHO et al. (2022), a NPT tem a vantagem de permitir o descanso do sistema digestivo e de levar a uma rápida recuperação do quadro eletrolítico do paciente, então é provável que seja uma estratégia mais importante nos casos em que a quantidade de quilo perdida é grande, quando há necessidade de paracentese e em casos em que a ascite quilosa foi ocasionada por cirurgia abdominal. A última hipótese, inclusive, tem algum embasamento no estudo de WENIGER et al. (2015), o qual aponta que a NPT sozinha é bem-sucedida no tratamento de pacientes que apresentaram ascite quilosa como complicação pós-operatória em cirurgias pancreáticas. Entretanto, é preciso que haja mais pesquisas para melhor delimitar em quais casos a NTP se faz necessária e em quais não. (SOBRINHO et al., 2022;) Outro tópico que carece de mais estudos e investigações é a adequação da terapia nutricional para pacientes com ascite quilosa que apresentem acidose e/ou cetose, em comorbidades como diabetes descompensado e cirrose hepática. Sabe-se que, nesses casos, a suplementação de TCM deve ser limitada ou excluída. Como lidar, então, com as perdas de triglicerídeos por esses pacientes? Quais as consequências de não se realizar tal suplementaçãonesses pacientes? Esses são questionamentos importantes que poderiam ser respondidos em um estudo que avalie especificamente pacientes com quadro de cetose e acidose, principalmente porque a ascite é uma condição relativamente comum associada à cirrose hepática. 4. CONCLUSÕES A ascite quilosa é uma patologia rara e, por essa razão, há poucos dados disponíveis na literatura médica e nutricional acerca do tema. Além disso, os estudos disponíveis podem apresentar divergências, as quais se devem principalmente à escassez de casos disponíveis para análise. 14 A revisão dos artigos consultados, ainda assim, trouxe esclarecimentos sobre a composição de uma dieta adequada para o tratamento da etiologia, as taxas de sucesso do tratamento conservador, as causas mais comuns e as comorbidades que requerem cuidados especiais em relação à posologia dos suplementos de TCM. Esta pesquisa bibliográfica permitiu, ainda, o levantamento de hipóteses a respeito de quais casos são mais propensos a ter maior taxa de sucesso com NPT e levantou uma questão importante, não abordada em nenhum dos estudos analisados: quais as consequências da não suplementação de TCM em pacientes com cetose e/ou acidose e como tais consequências podem ser contornadas? A decisão entre nutrição enteral e parenteral talvez dependa de cada caso, analisado individualmente, levando-se em consideração os fatores apontados por DOERR et al. (2001), como idade do paciente e fator desencadeador da ascite quilosa. Todavia, seria proveitoso realizar-se mais estudos que trouxessem maior clareza sobre o tópico e que confirmassem ou refutassem as hipóteses aqui levantadas. (DOERR et al., 2001) Além disso, a questão das consequências nutricionais da não suplementação de TCM para pacientes que apresentam comorbidades com quadro de cetose e/ou acidose parece de extrema relevância, ainda mais que a ascite é, muitas vezes, uma condição associada à cirrose hepática. Seria, portanto, interessante realizar um estudo que analisasse esses casos em específico. 5. REFERÊNCIA CHAN, Jason Y. K. et al. Conservative management of postoperative chylous fistula with octreotide and peripheral total parenteral nutrition. ENT-Ear, Nose & Throat Journal. [s.l.], v. 96, n.7, p. 264-267, jul., 2017. 15 DOERR, CLINTON H. et al. Etiology of chylothorax in 203 patients. Mayo Clinic Proceedings. Houston, v. 80, n.7, p. 867-870, jul., 2005. DOERR, CLINTON H.; MILLER, Daniel L.; RYU, Jay H. Chylothorax. Seminars in respiratory and clinical care medicine. New York, v. 22, n.6, p. 617-626, jun., 2001. IQBAL, M. H.; SMITH, P. R.; BANDE S. 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