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ASPECTOS IMPORTANTE DO MARCO REGULATÓRIO DAS OSCS (Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014) por Miguel Lima (contato profissional miguellimant@gmail.com), Diretor Administrativo-Financeiro na FACE – FUNDACAO DE ASSISTENCIA COMUNITARIA CEARENSE INTRODUÇÃO A Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014, é uma legislação brasileira que estabelece o regime jurídico das parcerias entre a administração pública e as organizações da sociedade civil (OSCs) para a realização de atividades de interesse público. Também é conhecida como Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil ou Marco Regulatório das OSCs. A lei foi criada com o objetivo de promover maior transparência, responsabilidade e eficiência na gestão dessas parcerias, garantindo que os recursos públicos sejam aplicados de forma adequada e que os projetos beneficiem efetivamente a sociedade. Essa legislação vem para fortalecer o terceiro setor no Brasil, permitindo que as OSCs exerçam um papel importante na promoção de ações sociais, culturais, educacionais, de saúde e outros serviços de interesse público. Além disso, a Lei nº 13.019/2014 busca garantir a transparência, eficiência e responsabilidade na utilização de recursos públicos em parcerias com as organizações da sociedade civil, contribuindo para o desenvolvimento social do país. A Lei introduziu uma série de mudanças significativas no relacionamento entre o poder público e as OSCs. Alguns dos principais pontos e diretrizes da lei incluem: 1. Formalização das Parcerias: A lei exige que as parcerias entre a administração pública e as OSCs sejam formalizadas por meio de termos de colaboração, termos de fomento ou acordos de cooperação, dependendo da natureza da parceria e da destinação dos recursos. Isso ajuda a garantir a transparência na relação entre as partes. 2. Regularidade Jurídica e Fiscal: As OSCs precisam estar em situação regular do ponto de vista jurídico e fiscal para celebrar parcerias com o poder público, o que contribui para a seleção de organizações idôneas. 3. Participação Social: A lei prevê mecanismos de participação social, permitindo que a sociedade acompanhe e fiscalize a execução das parcerias. 4. Prestação de Contas: As OSCs são obrigadas a prestar contas dos recursos públicos recebidos e dos resultados alcançados com a execução dos projetos. A transparência na prestação de contas é um dos pilares da lei. 5. Planejamento e Avaliação: As parcerias devem ser baseadas em planos de trabalho e projetos que contemplem metas, prazos e indicadores de resultados. Além disso, a lei incentiva a avaliação dos impactos das ações realizadas. mailto:miguellimant@gmail.com 6. Profissionalização e Capacitação: A Lei nº 13.019 também incentiva a profissionalização das OSCs e a capacitação de seus membros para melhor desempenho na gestão de projetos e recursos. 1 FORMALIZAÇÃO DAS PARCERIAS A formalização é um processo fundamental para garantir transparência, segurança jurídica e responsabilidade na execução das ações e no uso de recursos públicos. A legislação prevê diferentes modalidades de formalização, dependendo do tipo de parceria e da finalidade dos recursos envolvidos. As modalidades são: • Termo de Colaboração: Este é o instrumento utilizado quando a administração pública e a OSC pretendem executar um projeto em conjunto, com recursos financeiros compartilhados. Nesse caso, a administração pública transfere recursos para a OSC, que assume a responsabilidade pela execução do projeto e presta contas dos valores recebidos. • Termo de Fomento: Semelhante ao termo de colaboração, o termo de fomento é usado quando a administração pública repassa recursos para uma OSC, mas com a diferença de que a OSC é quem escolhe e propõe o projeto a ser executado. O controle e a fiscalização da aplicação dos recursos continuam sendo responsabilidade do poder público. • Acordo de Cooperação: Este instrumento é utilizado quando não há transferência de recursos financeiros entre as partes. É mais comum em parcerias de natureza técnica, cultural, educacional ou de pesquisa. O acordo de cooperação formaliza a colaboração entre a administração pública e a OSC, estabelecendo direitos, obrigações e responsabilidades de ambas as partes. A formalização das parcerias por meio desses instrumentos é fundamental para garantir a transparência e a legalidade das ações realizadas em conjunto. Ela estabelece as regras, responsabilidades e obrigações de ambas as partes envolvidas na parceria, assegurando que os recursos públicos sejam utilizados para atingir os objetivos previamente definidos e que a prestação de contas seja feita de maneira adequada. Além disso, a formalização ajuda a evitar possíveis desvios ou irregularidades na aplicação dos recursos, o que é essencial para garantir a confiança da sociedade nas ações das OSCs e na administração pública. Portanto, a Lei nº 13.019/2014, ao estabelecer diretrizes claras para a formalização das parcerias, contribui para o fortalecimento das parcerias entre o governo e as organizações da sociedade civil em benefício de ações de interesse público. 2 REGULARIDADE JURÍDICA E FISCAL A regularidade jurídica e fiscal é uma salvaguarda para o uso responsável e transparente dos recursos públicos e também para a escolha de organizações confiáveis, garantindo que as OSCs sejam organizações idôneas e aptas a gerenciar recursos de forma correta. Isso também contribui para a proteção dos interesses públicos. Itens a observar quando da parceria: 1. Inscrição nos órgãos competentes: As OSCs devem estar regularmente inscritas nos órgãos competentes, como cartórios de registro de pessoas jurídicas, secretarias de fazenda e/ou Receita Federal. A inscrição é uma evidência de que a organização atua dentro da legalidade. 2. Regularidade fiscal: As OSCs devem comprovar a sua regularidade fiscal, o que inclui estar em dia com o pagamento de impostos e contribuições previdenciárias. A falta de regularidade fiscal pode resultar na impossibilidade de celebrar parcerias com a administração pública. 3. Regularidade trabalhista: As organizações também devem estar em conformidade com as obrigações trabalhistas, como o pagamento de salários, encargos e benefícios para seus funcionários. 4. Registro de atos e documentos: As OSCs devem manter registros atualizados dos seus atos e documentos institucionais, como estatuto social, atas de assembleias, regimentos internos e outros documentos exigidos por lei. 5. Vedações legais: A legislação estabelece que determinadas situações podem levar à inabilitação de uma OSC para celebrar parcerias, como a existência de dirigentes com pendências legais, vínculos com políticos detentores de mandato eletivo, ou outras situações que possam configurar conflito de interesses. 6. Sanções em caso de irregularidades: A lei prevê a possibilidade de sanções caso seja identificada alguma irregularidade no decorrer da parceria, como a falta de cumprimento de obrigações legais e fiscais. Tais sanções podem incluir a suspensão ou cancelamento da parceria e a devolução de recursos. 3 PARTICIPAÇÃO SOCIAL Busca garantir que as decisões relacionadas às parcerias sejam tomadas de forma colaborativa e que a sociedade tenha a oportunidade de influenciar o uso de recursos públicos em ações de interesse público. Isso ajuda a construir uma governança mais democrática e responsável, na qual as políticas públicas são desenvolvidas e implementadas de forma mais alinhada com as necessidades e expectativas da comunidade. A seguir, os principais aspectos relacionados a esse princípio: 1. Conselhos de Políticas Públicas: A Lei nº 13.019/2014 prevê que os conselhos de políticas públicas, como os conselhos de saúde, de assistência social e outros, desempenhem um papel importante na deliberação e no acompanhamento das parcerias. Eles podem avaliar, opinar efiscalizar a celebração e a execução das parcerias, representando diferentes setores da sociedade. 2. Mecanismos de Controle Social: Além dos conselhos, a lei incentiva a criação de outros mecanismos de controle social, como comissões de acompanhamento, audiências públicas e consultas populares. Isso permite que a comunidade participe ativamente na tomada de decisões e no monitoramento das ações realizadas. 3. Acesso à Informação: A administração pública e as OSCs devem disponibilizar informações sobre as parcerias, como editais, contratos, planos de trabalho, relatórios de execução e prestação de contas. Isso garante que a sociedade tenha acesso às informações relevantes para acompanhar as ações. 4. Transparência na Tomada de Decisões: A lei também estabelece que as decisões relativas à celebração e à execução das parcerias devem ser tomadas de forma transparente, com a devida publicidade e consulta a órgãos de controle social, sempre que necessário. 5. Direito de Recurso: A participação social também inclui o direito das partes interessadas, incluindo a comunidade, a apresentar recursos ou manifestações sobre questões relacionadas às parcerias, garantindo a possibilidade de contestação e contribuição para a melhoria das ações. 6. Acompanhamento e Avaliação: A sociedade civil tem o direito e o dever de acompanhar e avaliar a execução das parcerias, verificando se os objetivos estão sendo alcançados e se os recursos públicos estão sendo utilizados adequadamente. 4 PRESTAÇÃO DE CONTAS A prestação de contas é um elemento crítico para garantir a transparência, a responsabilidade e o uso adequado de recursos públicos, no entanto, estabelecerá procedimentos simplificados. Conforme artigo 64 da lei: “A prestação de contas apresentada pela organização da sociedade civil deverá conter elementos que permitam ao gestor da parceria avaliar o andamento ou concluir que o seu objeto foi executado conforme pactuado, com a descrição pormenorizada das atividades realizadas e a comprovação do alcance das metas e dos resultados esperados, até o período de que trata a prestação de contas” Principais aspectos da prestação de contas: 1. Documentação Financeira: As OSCs são obrigadas a manter registros contábeis e financeiros precisos e organizados que demonstrem a utilização dos recursos públicos recebidos, incluindo a elaboração de demonstrativos financeiros e relatórios de despesas. 2. Relatórios de Execução: Devem apresentar relatórios de execução que descrevam as atividades realizadas de acordo com o plano de trabalho e os resultados alcançados, de forma clara e objetiva. 3. Indicadores de Resultados: Deverá incluir indicadores de resultados nos relatórios de execução. Isso significa que as OSCs devem medir e demonstrar o impacto das ações realizadas, destacando como os recursos públicos contribuíram para o alcance de metas e objetivos. 4. Prestação de Contas Financeira: Além dos relatórios de execução, as OSCs devem prestar contas financeiras detalhadas, incluindo informações sobre todas as despesas realizadas com os recursos públicos. Isso é fundamental para garantir que o dinheiro tenha sido usado de acordo com as diretrizes estabelecidas no contrato de parceria. 5. Relatórios Técnicos e de Monitoramento: Em alguns casos, as OSCs podem ser submetidas a processos de monitoramento e avaliação por parte da administração pública. Elas devem estar preparadas para fornecer informações e relatórios técnicos que permitam a verificação da qualidade e eficácia das ações. 6. Prazos para Prestação de Contas: A lei estabelece prazos específicos para a apresentação dos relatórios de execução e prestação de contas financeiras. As OSCs devem cumprir esses prazos para evitar sanções e atrasos no repasse de recursos. 7. Restituição de Recursos Não Utilizados ou Irregularmente Utilizados: Caso sejam identificados problemas na prestação de contas, as OSCs podem ser obrigadas a restituir os recursos públicos não utilizados adequadamente. 5 PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO Estabelece diretrizes relacionadas ao planejamento prévio e à avaliação das ações realizadas, contribuindo para a qualidade e a prestação de contas das parcerias, como: 1. Planejamento de Ações: As parcerias devem ser baseadas em um planejamento prévio que inclui a definição de objetivos, metas, prazos e ações a serem realizadas. Esse planejamento deve ser detalhado e claro, fornecendo um roteiro para a execução das atividades. 2. Plano de Trabalho: O plano de trabalho é um documento que descreve as atividades a serem realizadas, os recursos necessários, os responsáveis e os prazos. Esse plano é parte integrante da parceria e deve ser seguido rigorosamente. 3. Indicadores de Resultados: O planejamento deve incluir indicadores de resultados que permitam medir o impacto das ações. Esses indicadores ajudam a avaliar o progresso em direção aos objetivos estabelecidos. 4. Avaliação de Impacto: A avaliação de impacto é um processo que verifica se os resultados alcançados estão alinhados com os objetivos da parceria. Ela pode ser feita por meio de análises quantitativas e qualitativas e pode ajudar a identificar áreas de melhoria. 5. Relatórios de Execução: Durante a execução das atividades, a OSC deve elaborar relatórios de execução que descrevam as ações realizadas, os recursos utilizados e os resultados alcançados. Esses relatórios permitem o acompanhamento do progresso da parceria. 6. Prestação de Contas: Além dos relatórios de execução, a OSC deve prestar contas dos recursos recebidos e do uso desses recursos. A prestação de contas é um requisito essencial para garantir a transparência e a responsabilidade na utilização de recursos públicos. 7. Avaliação Contínua: A avaliação não deve ser um evento pontual. É importante que haja uma avaliação contínua ao longo da parceria para que ajustes possam ser feitos, se necessário, e para garantir que a parceria esteja alinhada com os objetivos estabelecidos. 8. Transparência dos Resultados: Os resultados da avaliação e os relatórios de execução devem ser disponibilizados publicamente, permitindo que a sociedade tenha acesso às informações sobre o andamento e os resultados da parceria. 6 PROFISSIONALIZAÇÃO E CAPACITAÇÃO Refere-se à importância de promover o desenvolvimento das organizações da sociedade civil (OSCs) e de seus membros, capacitando-os para atuarem de forma mais eficaz na gestão de projetos e recursos, de modo a aprimorar a qualidade e a transparência de suas ações. Aqui estão os principais aspectos relacionados a esse item: 1. Profissionalização da Gestão: A lei incentiva as OSCs a adotarem boas práticas de gestão, incluindo a profissionalização de sua equipe e a adoção de métodos de gestão modernos. Isso envolve a contratação ou capacitação de profissionais com competências em áreas como administração, finanças, planejamento, monitoramento e avaliação. 2. Capacitação dos Membros: A capacitação dos membros das OSCs é incentivada para que possam desempenhar suas funções de maneira mais eficiente e eficaz. Isso inclui o desenvolvimento de competências técnicas, legais, contábeis e gerenciais. 3. Desenvolvimento Organizacional: A profissionalização e a capacitação podem também se estender ao desenvolvimento da própria organização, buscando melhorar sua estrutura, governança, sistemas de controle e transparência. 4. Capacitação em Prestação de Contas: A capacitação em prestação de contas é fundamental, uma vez que as OSCs precisam estar preparadas para lidar com a complexidade dos procedimentos de prestação de contas exigidos pela lei, incluindo a documentação financeira detalhada e relatórios de execução. 5. Acesso a Recursos de Capacitação: A lei prevê que a administração pública pode fornecer apoio financeiro ou técnico para a capacitação das OSCs, garantindo que elas tenhamrecursos e oportunidades para se desenvolver. 6. Capacitação em Captação de Recursos: A capacitação em captação de recursos é relevante para as OSCs, pois elas muitas vezes dependem de recursos de fontes diversas. Saber como buscar financiamento de forma eficaz é essencial para a sustentabilidade das organizações. 7. Aprimoramento da Transparência e Responsabilidade: A capacitação também pode abranger temas relacionados à transparência, ética e responsabilidade na gestão de recursos públicos e na execução de projetos. A profissionalização e a capacitação visam elevar o padrão de atuação das OSCs, tornando-as organizações mais eficazes, transparentes e responsáveis em suas ações. Isso beneficia não apenas as próprias organizações, mas também a sociedade como um todo, pois assegura que os recursos públicos sejam utilizados de forma mais eficiente e que os projetos tenham um impacto mais positivo, além disso, pode contribuir para a sustentabilidade das OSCs.