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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 4 2 DESENVOLVIMENTO MOTOR .......................................................... 5 3 DESENVOLVIMENTO MOTOR E SUAS FASES ............................... 8 3.1 Fase do movimento reflexo .............................................................. 8 3.2 Fase do movimento rudimentar ........................................................ 9 3.3 Fase do movimento fundamental ................................................... 10 3.4 Fase do movimento especializado ................................................. 11 4 AMPULHETA DE GALLAHUE ......................................................... 12 5 DESENVOLVIMENTO MOTOR E SEUS ESTÁGIOS ....................... 13 5.1 Fase motora reflexa ........................................................................ 14 5.2 Fase motora rudimentar ................................................................. 15 5.3 Fase motora fundamental ............................................................... 15 5.4 Fase motora especializada ............................................................. 17 6 INFLUÊNCIA DE FATORES INDIVIDUAIS E AMBIENTAIS NO DESENVOLVIMENTO MOTOR ............................................................................ 18 6.1 Fatores individuais.......................................................................... 18 6.2 Fatores ambientais ......................................................................... 19 7 HABILIDADES MOTORAS, FASES DE APRENDIZAGEM E ANÁLISE DE TAREFAS ....................................................................................... 21 7.1 Definições teóricas ......................................................................... 21 7.2 Esquemas unidimensionais de classificação das habilidades motoras .........................................................................................................23 7.2.1 Aspectos musculares das habilidades...................................... 23 7.2.2 Aspectos temporais das habilidades ........................................ 23 7.2.3 Aspectos ambientais das habilidades ....................................... 24 7.2.4 Aspectos funcionais das habilidades ........................................ 25 7.3 Esquemas bidimensionais utilizados para classificação das habilidades motoras ........................................................................................... 26 7.4 Esquema bidimensional de Gentile ................................................ 26 7.5 Esquema bidimensional de Gallahue ............................................. 28 8 APRENDIZAGEM MOTORA ............................................................. 29 8.1 Relação entre indivíduo, ambiente e tarefa .................................... 32 8.1.1 Indivíduo ................................................................................... 32 8.1.2 Ambiente .................................................................................. 34 8.1.3 Tarefa ....................................................................................... 35 9 TEORIAS DA APRENDIZAGEM MOTORA ...................................... 36 9.1 Teoria de Fitts e Posner ................................................................. 36 9.2 Teoria de Adams ............................................................................ 37 9.3 Teoria de Bernstein ........................................................................ 38 9.4 Teoria de Gentile ............................................................................ 39 10 BIBLIOGRAFIA ................................................................................. 42 4 1 INTRODUÇÃO O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 DESENVOLVIMENTO MOTOR Tal como acontece com o desenvolvimento cognitivo e social, o desenvolvimento motor é um aspecto importante do estudo do comportamento humano. Esse campo de desenvolvimento só recentemente apresentou extensos estudos, pois somente a partir da década de 1980 houve uma busca por modelos teóricos e abrangentes do comportamento humano ao longo da vida (GALLAHUE; OZMUN, 2005). O desenvolvimento motor é definido como a mudança progressiva na capacidade motora de uma pessoa ao longo do tempo, principalmente durante os primeiros anos de vida. São mudanças no comportamento motor desde a infância até a idade adulta, bem como um envolvimento no processo contínuo de aprender a se mover com eficiência (GALLAHUE; OZMUN, 2005). As mudanças que ocorrem em um indivíduo desde a concepção até a morte são chamadas de desenvolvimento humano. O termo "desenvolvimento" refere-se as mudanças no comportamento e/ou estrutura dos seres vivos ao longo do tempo. O processo de desenvolvimento motor se revela por meio de mudanças no comportamento motor (GALLAHUE; OZMUN, 2005). Clark e Whitall (1989 apud CORRA; PEROTTI JUNIOR; PELLEGRINI, 1995, p. 94) conceituam sobre as mudanças no comportamento motor que ocorrem durante o ciclo vital, bem como o processo ou processos que provocam essas mudanças. Segundo Caetano, Silveira e Gobbi (2005), o desenvolvimento motor é um processo de mudanças no nível de funcionamento de um indivíduo em que uma maior capacidade de controlar o movimento é adquirida ao longo do tempo, por meio da interação entre as exigências da tarefa, da biologia do indivíduo e do ambiente. De acordo com Haywood e Getchel (2004), o desenvolvimento motor é um dos pressupostos fundamentais para a integração corporal das pessoas ao 6 ambiente em que atuam. Ambos os autores definem o desenvolvimento motor como um processo contínuo e sequencial, vinculado à idade cronológica. Nele, o indivíduo progride de um movimento simples, sem habilidade, até alcançar o ponto das habilidades motoras mais complexas e organizadas, e assim chegar ao ajuste dessas habilidades que o acompanharão até o envelhecimento. Para Ferreira et al. (2006) apesar desse processo ser organizado e seguir um padrão definido, pode haver variações no ritmo de desenvolvimento de um indivíduo para outro. Segundo Gallahue e Ozmun (2005), essas variações ocorrem como resultado de três fatores interligados: a biologia do indivíduo, o ambiente e as exigências da tarefa. Pellegrini e Barela (1998) enfatizam a importância do movimento no desenvolvimento; afinal, o deslocamento de uma parte do corpo ou do corpo como um todo está presente em todas as nossas ações, inclusive as mais básicas, como alimentação e comunicação. O movimento passa a existir da influência entre a conexão do indivíduo, do ambiente e da tarefa, mas o sistema corporal não se desenvolve na mesma proporção, amadurecendo em alguns casos mais lento e rapidamente em outros. Como exemplo de desenvolvimento corporal mais lento, pode-se citar o desenvolvimento na forma de deslocamento,em que a força muscular serve como limitador de taxa ou um controlador para o caminhar, até que a criança atinja um nível de força suficiente para suportar seu corpo no rastejar, engatinhar, rolar e caminhar, permitindo então o estudo do desenvolvimento ao longo do ciclo da vida (HAYWOOD; GETCHELL, 2004). Em contraste, o desenvolvimento corporal de forma mais rápida ocorre por meio dos estímulos apresentados desde a primeira infância, como exercícios envolvendo equilíbrio, coordenação motora, esquema corporal, lateralidade. Como resultado, Gallahue e Ozmun (2005) afirmam que o período da infância é ideal para a criança adquirir e refinar seu repertório motor por meio de experiências vividas. Começando com movimentos simples e progredindo para os 7 mais complexos. Os autores dividem os movimentos em três categorias, conforme apresentado a seguir: Movimentos manipulativos: referem-se à manipulação motora rudimentar ou refinada. Movimentos estabilizadores: são qualquer movimento que requeira algum grau de equilíbrio. Movimentos locomotores: envolvem mudança na localização do corpo relativamente a um ponto fixo na superfície. Gallahue e Ozmun (2005) dividem o desenvolvimento motor em quatro fases, como mostra a imagem abaixo. Fonte: Adaptada de Gallahue e Ozmun (2005, p.69). 8 3 DESENVOLVIMENTO MOTOR E SUAS FASES Gallahue e Ozmun (2005) dividem o desenvolvimento motor em quatro fases: fase do movimento reflexo, fase de movimentos rudimentares, fase de movimentos fundamentais e fase de movimentos especializados. Cada fase possui características e idades específicas. 3.1 Fase do movimento reflexo Essa fase se distingue por movimentos involuntários que são controlados subcorticalmente e servirão de base para fases posteriores do desenvolvimento motor ( GALLAHUE; OZMUN, 2005). Esses movimentos começam durante a vida intrauterina e duram aproximadamente até o primeiro ano. Segundo os autores: Por meio da atividade reflexa, o bebê consegue informações sobre o ambiente imediato. As reações do bebê à luz, ao toque, a sons e mudanças de pressão disparam a atividade do movimento involuntário. Esses movimentos involuntários, combinados com a crescente sofisticação cortical nos primeiros meses da vida pós-natal, desempenham papel importante na tarefa da criança de aprender mais sobre o próprio corpo e o mundo externo (GALLAHUE; OZMUN, 2005, p. 68). Esta fase é subdividida em duas partes: movimentos primitivos e posturais. Os reflexos primitivos são aqueles que visam à proteção e à nutrição, como a fixação que está ligada à tentativa de proteger e a sucção que está ligada à estimulação dos lábios ou da gengiva na tentativa de gerir o alimento, que são considerados mecanismos primitivos de sobrevivência. Os reflexos posturais são movimentos involuntários que compartilham muitas semelhanças com os movimentos voluntários. São movimentos relacionados à estabilidade, locomoção e manipulação. Por exemplo, o reflexo da marcha, que lembrará a caminhada quando o bebê for colocado na posição ereta, com o peso do corpo depositado para frente sobre uma superfície plana. Em resposta, o bebê "caminha" para frente (usando os membros inferiores) e se arrata pelo chão (o que parece ser engatinhar, quando o bebê é colocado em posição inclinada e aplica 9 pressão na sola de um de seus pés, expressando o reflexo de engatinhar, usando os membros superiores e inferiores). Conforme Gallahue e Ozmun (2005) está fase possuem dois estágios. Estágio de codificação de informações: ocorre do período fetal até o quarto mês de vida. Fase em que os bebês coletam e agrupam informações. Estágio de decodificação de informações: a partir do quarto mês, em que o bebê passa a processar as informações coletadas e há a inibição de alguns reflexos, devido ao desenvolvimento dos centros cerebrais. 3.2 Fase do movimento rudimentar Esta fase distingue-se pelo aparecimento de movimentos voluntários desde o nascimento até aos dois anos de idade. Segundo Gallahue e Ozmun (2005, p. 70), esses “movimentos são determinados pela maturação e são caracterizados por uma sequência de surgimento bastante previsível”. Gallahue e Ozmun (2005) dividem esta fase em dois estágios. Estágio de inibição do reflexo: começa no nascimento e, com o desenvolvimento do córtex, os movimentos reflexos (involuntários) são substituídos pelos rudimentares (voluntários). No entanto, os movimentos ainda são descontrolados e sem refinamento. Estágio de pré-controle: inicia-se por volta do primeiro ano, quando começa a haver maior controle e precisão dos movimentos, devido ao rápido desenvolvimento cognitivo e motor. Neste estágio, surge a manutenção e a aquisição do equilíbrio, a locomoção e a manipulação dos objetos. Entre os movimentos surgidos na fase rudimentar estão: estabilizadores (controle da cabeça, do pescoço, do tronco, sentar e ficar em pé), locomotores (arrastar-se, engatinhar e ficar em pé) e manipuladores (alcançar, segurar e soltar). 10 3.3 Fase do movimento fundamental Esta fase é caracterizada pelo aumento da exploração da capacidade motora do corpo pela criança. De acordo com Gallahue e Ozmun (2005), a fase fundamental do movimento contribui com padrões fundamentais de comportamento observável. No entanto, não é apenas o amadurecimento que é necessário para atingir esse nível, mas também o estímulo e o ambiente. Este período começa aos dois anos de idade e dura até os sete. Os movimentos fundamentais, embora aprendidos na infância, são importantes e tem utilidade durante toda a vida no cotidiano e nos movimentos fundamentais. Gallahue e Ozmun (2005) classificam esta fase em três estágios, conforme descrito a seguir. Estágio inicial: representa as primeiras tentativas da criança para realizar a habilidade fundamental. O movimento é caracterizado pela ausência de algumas partes ou por uma sequência inapropriada, sendo o uso do corpo limitado ou exagerado. A integração espaço-tempo é insatisfatória. Esse estágio ocorre, geralmente, dos 2 aos 3 anos e, como exemplo, temos a corrida. Nesse estágio, a criança apresenta passos largos e irregulares com extensão incompleta da perna de apoio, o balanço da perna tende a ser para fora do quadril e a fase de voo não é observada. Estágio elementar: há maior controle motor e coordenação rítmica do movimento fundamental. Com isso, a sincronização e a coordenação geral aumentam, embora ainda ocorra alguma limitação ou exagero. Esse estágio dura, geralmente, até os 5 anos. Usando o mesmo exemplo da corrida, a criança já apresenta uma fase de voo observável, embora limitada. A perna de apoio, no impulso, apresenta uma extensão mais completa. Há também um aumento na oscilação de braço e pé de trás, cruzando a linha mediana da altura. Estágio de proficiência: caracteriza-se por um movimento mecanicamente eficiente, coordenado e controlado. Geralmente, alcança-se esse estágio entre 5 e 6 anos. Gallahue e Ozmun (2005) destacam, mais uma vez, a importância da prática e do ambiente. Sem atingir esse estágio, é muito difícil atingir a fase do 11 movimento especializado. Nesse estágio, a criança tem a fase de voo bem definida, apresenta a máxima extensão da passada, a extensão completa da perna de apoio e a oscilação vertical do braço em oposição às pernas. Entre os movimentos desta fase estão: estabilizadores (equilíbrio dinâmico e estático), manipulativos (chutar, lançar e pegar) e locomotores (andar, correr e saltar). 3.4 Fase do movimento especializado Este é o estágio em que as habilidades fundamentais são refinadas e aprimoradas para que possam ser aplicadas em situações mais difíceis, na vida diária, de forma recreativa ou prática esportiva. Geralmente, a dominância começa a partir de sete anos e dura até os quatorze anos ou mais.Gallahue e Ozmun (2005) dividem esta fase em três estágios. Estágio de transição: ocorre entre os sete e os 10 anos. É a fase em que a criança começa a combinar as habilidades fundamentais para executar em ambientes esportivos, e os movimentos apresentam maior controle e precisão. São exemplos dessa fase andar em pontes de corda, pular corda, em que são necessários usar uma combinação de movimentos fundamentais como o equilíbrio (estabilizador), o salto e a caminhada (locomotores). Estágio de aplicação: geralmente ocorre entre 11 e 13 anos. É a fase de sofisticação do movimento e da tomada de decisões, ou seja, o indivíduo decide de qual modalidade quer participar, sendo que sua escolha se dará a partir de suas facilidades e dificuldades em realizar determinada tarefa. Estágio de utilização ao longo da vida: começa em torno dos 14 anos e segue por toda a vida adulta. É o ápice do desenvolvimento motor e se caracteriza pelo uso do movimento ao longo da vida. O nível de participação do indivíduo depende do talento, da oportunidade, da questão física e de sua motivação. 12 Pode-se analisar as fases do desenvolvimento motor divididas em fase do movimento reflexo, fase do movimento rudimentar, fase do movimento fundamental e fase do movimento especializado. 4 AMPULHETA DE GALLAHUE A ampulheta de Gallahue é um modelo teórico de desenvolvimento motor que fornece orientações para a descrição e explicação do comportamento motor. A própria ampulheta representa uma visão descritiva do desenvolvimento, enquanto o triângulo invertido que a cerca representa uma visão explicativa, em outras palavras, a ampulheta representa como o motor se desenvolve em determinada faixa etária e o triângulo corresponde à razão dessas características motoras ocorrerem. Fonte: Adaptada de Gallahue e Ozmun (2005, p.65). 13 Neste modelo, a ampulheta representa o indivíduo e ela é preenchida pela areia, que representa o recheio da vida. Observa-se que a areia vem de duas fontes diferentes: um recipiente hereditário e outro, ambiental. A presença desses dois vasilhames demonstra que o processo de desenvolvimento é influenciado tanto pela hereditariedade quanto pelo ambiente. O recepiente hereditário tem uma tampa, porque a quantidade de areia é fixa, uma vez que a estrutura genética é determinada na concepção. Por outro lado, o recipiente ambiental é aberto, o que significa que a areia pode ser adicionada a ele ao longo do ciclo de vida. A base da ampulheta é composta por quatro fases subsequentes de desenvolvimento: Fase motora reflexa; Fase motora rudimentar; Fase motora fundamental; Fase motora especializada. O nível de desenvolvimento motor aumenta à medida que a areia, derivada de recipientes hereditários e ambientais, é adicionada à ampulheta. Em outras palavras, à medida que a criança atinge a maturação e é exposta a ambientes que promovem a aprendizagem, ela desenvolve e refina suas habilidades motoras, do nível mais fundamentais ao mais complexos, progredindo eventualmente alcançando a competência motora. 5 DESENVOLVIMENTO MOTOR E SEUS ESTÁGIOS Uma das quatro fases do desenvolvimento motor propostas pela ampulheta de Gallahue. 14 5.1 Fase motora reflexa A fase motora reflexiva ocorre entre o desenvolvimento do feto dentro do útero até aproximadamente a idade de um ano. As primeiras formas de movimento humano são os reflexos. Os reflexos são movimentos involuntários que ocorrem durante o primeiro estágio do desenvolvimento motor. Esses movimentos involuntários são importantes porque permitem que o bebê sobreviva nos primeiros estágios da vida, fornecendo informações sobre seu corpo e o ambiente. Os reflexos são divididos em dois tipos: primitivos e posturais. Os reflexos primitivos são movimentos relacionados à sobrevivência e podem ser classificados como agrupadores de informações, caçadores de alimentação e reações protetoras. Os reflexos posturais, por outro lado, são semelhantes ao comportamento voluntário posterior. Os reflexos de sugar e a busca pelo olfato são exemplos de reflexos primitivos; e entre os reflexos posturais, encontram-se o reflexo primário de caminhar, reflexo de arrastar-se e reflexo palmar de agarrar. A fase reflexiva é dividida em dois estágios abrangentes: Estágio de codificação de informações: o estágio de codificação (agrupamento) ocorre, aproximadamente, do período fetal até o quarto mês após o nascimento. Os reflexos neste período são movimentos pelos quais o bebê reúne informações, busca alimento e encontra proteção. Estágio de decodificação de informações: o estágio de decodificação (processamento) tem início aproximado após o quarto mês de vida. Durante esse período, ocorre uma crescente inibição de muitos reflexos que são substituídos por movimentos voluntário. 15 5.2 Fase motora rudimentar A fase motora rudimentar dura desde o nascimento até aproximadamente dois anos. Nessa fase, são observadas as primeiras atividades motoras voluntárias, conhecidas como movimentos rudimentares. A sequência de aparecimento desses movimentos é altamente previsível e resistente a mudanças, exceto em condições ambientais extremas. No entanto, o ritmo de aparecimento do movimentos varia de criança para criança, uma vez que é dependente de fatores ambientais, biológicos e relacionados à tarefa. Movimentos rudimentares incluem movimentos estabilizadores, como controlar a cabeça, o pescoço, e músculos do tronco; movimentos manipulativos, como alcançar, agarrar, e soltar; e movimentos locomotores, como arrastar, engatinhar, e caminhar. Dois estágios compreendem a fase motora rudimentar, os quais representam progressivamente ordens superiores de controle motor. Estágio de inibição de reflexos: a partir do nascimento, tem início o estágio de inibição dos reflexos. Nesse estágio, os reflexos são inibidos e desaparecem de modo gradual. Os movimentos voluntários nesse período parecem descontrolados e grosseiros, visto que o aparato neuromotor do bebê ainda está em estágio rudimentar de desenvolvimento. Estágio de pré-controle: tem início por volta do primeiro ano, as crianças começam a apresentar maior precisão e controle sobre os seus movimentos. Elas aprendem a se equilibrar, manipular objetos e locomover-se de modo proficiente. 5.3 Fase motora fundamental Essa fase ocorre dos dois aos sete anos. Este período é caracterizado pela exploração e experimentação das habilidades motoras. A criança aprende a realizar locomotores, movimentos estabilizadores e manipulativos com competência (primeiro de forma isolada e depois em combinação). 16 Alguns exemplos de habilidades fundamentais que devem ser desenvolvidas durante esta fase: equilibrar-se de forma dinâmica e estática, caminhar, correr, saltar, galopar, alcançar, arremessar, pegar, chutar, rebater, etc. As habilidades motoras fundamentais são consequência da fase de maturação e movimentos rudimentares, no entanto, o ambiente desempenha um papel importante na obtenção do nível máximo de desenvolvimento dessas habilidades. A fase fundamental é dividida em três fases distintas. Estágio inicial: geralmente crianças de dois a três anos encontram-se no estágio inicial, marcado pelas primeiras tentativas da criança em realizar uma habilidade, por esse motivo, os movimentos apresentam elementos incompletos ou são executados em sequência inapropriada. Esse período é caracterizado pelos movimentos desordenado e incompletos (grosseiramente inibido ou exagerado). Estágio elementar: é típico de desempenho de crianças de quatro a cinco anos. Esse estágio parece depender, primeiramente, do amadurecimento. Durante esse tempo, a criança possui um maior controle e melhor coordenação rítmica de seus movimentos. No entanto, os movimentos parecem um poucorígidos e sem fluidez. Muitos indivíduos, adultos e crianças, alcançam somente esse estágio em atividades básicas como arremessar, pegar e rebater. Eles atingem esse estágio por maturação, ou seja, pela areia do recipiente da hereditariedade da ampulheta de Gallahue ter sido totalmente despejada. No entanto, não atingem a maturidade por falta de estímulo ambiental (prática, encorajamento e instrução). Estágio maduro: sugere-se que as crianças podem e devem atingir o estágio maduro entre as idades de cinco e seis anos. O estágio é distinguido por um padrão de movimento bem coordenado, mecanicamente correto e eficiente. As crianças que chegam a esse estágio apresentam uma rápida melhora em seu desempenho: arremessam mais longe, correm mais rápido, pulam mais alto e mais longe. Apesar disso, a avaliação do padrão de movimento deve ser realizada pela técnica e não necessariamente pelo rendimento, em função de que uma criança pode compensar uma incapacidade motora por uma força maior, por 17 exemplo. Esta é uma habilidade que pode ser refinada com o tempo. Algumas crianças chegam a esse estágio devido à maturação e a um mínimo de influência ambiental, porém, a maioria necessita de oportunidades para a prática, encorajamento e instrução em um ambiente que propicie o aprendizado. Vale ressaltar, caso o desenvolvimento for retardado ao longo de um período, pode implicar em algumas habilidades nunca atingir o padrão maduro, caso não haja considerável esforço suficiente e influência externa. Se isso acontecer, as crianças serão incapazes de desenvolver habilidades atléticas especializadas durante a segunda infância, adolescência e idade adulta. 5.4 Fase motora especializada Começa por volta de sete anos. Durante esta fase, o movimento torna-se um artefato que pode ser aplicado nas atividades motoras complexas na vida cotidiana, bem como nos esportes. Nesse período, as habilidades fundamentais são refinadas e combinadas para seren utilizadas em situações com nível crescente de exigência. Três estágios competem na fase especializada: Estágio transitório: geralmente se estende dos 7 aos 10 anos. Esse estágio é marcado pelo refinamento e aprofundamento das habilidades fundamentais. Nesse período, as habilidades fundamentais também são combinadas e aplicadas ao desempenho de habilidades especializadas durante a prática esportiva e em ambiente recreativo. Dessa forma, recomenda-se que as crianças participem de uma variedade de atividades/esportes. Do ponto de vista técnico, isso é vantajoso porque a criança se tornará proficiente em uma gama de tarefas. Do ponto de vista psicológico, a especialização precoce prejudica a criança, pois ela poderá chegar ao grupo profissional muito cedo, sendo submetida a um rigoroso cronograma de treinamento, aumentando suas chances de se dispersar. Programas de educação física devem introduzir as habilidades esportivas somente depois de a criança atingir o nível maduro nas habilidades fundamentais. 18 Os esportes oficiais não devem ser incluídos na educação física durante o período de transição. Em vez disso, habilidades básicas, regras e estratégias dos esportes devem ser priorizados. Ressalta-se que crianças que não desenvolveram as habilidades maduras não serão bem-sucedidas na aquisição de um gesto esportivo. Esse fenômeno é conhecido como barreira de proficiência. Nessas situações, é necessário reaprender habilidades fundamentais. Estágio de aplicação: entre os 11 e 13 anos, aproximadamente, a criança está na fase de aplicação, na qual o indivíduo se torna capaz de tomar decisões fundamentadas em fatores da tarefa, individuais e ambientais, sobre a sua participação (ou não) em determinada atividade. Nesse estágio, ocorre ênfase na forma, habilidade e precisão crescentes do desempenho motor. Estágio de utilização permanente: inicia por volta dos 14 anos. Esse estágio é caracterizado pelo auge do processo de desenvolvimento motor. Os indivíduos selecionam atividades prazerosas e as levam consigo durante a vida, seja por diversão, aptidão ou satisfação. Nesse contexto, se insere a prática de esporte de caráter competitivo (a nível escolar, nacional e olímpico) e recreativo. 6 INFLUÊNCIA DE FATORES INDIVIDUAIS E AMBIENTAIS NO DESENVOLVIMENTO MOTOR 6.1 Fatores individuais Atribui-se à hereditariedade a tendência do desenvolvimento humano ocorrer de forma ordenada e previsível no sentido céfalo-caudal (da cabeça aos pés) e próximo-distal (do centro do corpo às extremidades) o que é denominado de sequência desenvolvimentista. Essa tendência pode ser exemplificada em razão do bebê obter o controle da musculatura da cabeça e do pescoço antes das pernas (desenvolvimento céfalo - caudal), bem como o controle da musculatura do tronco antes dos punhos, mãos e dedos, (desenvolvimento proximo-distal). O controle motor de uma criança segue uma progressão de padrões motores globais para movimentos mais refinados e funcionais, um processo conhecido como 19 diferenciação. Por exemplo, quando um bebê tenta pegar um objeto, seu movimento é muito limitado, porque ele não consegue distinguir braços, mãos e dedos. No entanto, com o seu desenvolvimento, torna - se capaz de distinguir grupos musculares e alcançar um padrão de movimento controlado e eficiente. O processo de integração ocorre concomitantemente à diferenciação. Integração é a interação coordenada de músculos e sistemas sensoriais. No mesmo exemplo anterior, a integração refere-se à interação entre olhos com o movimento da mão. Apesar do desenvolvimento infantil seguir uma sequência universal e resistente a mudanças, a idade em que se manifesta pode variar. Desvios de seis meses a um ano são comuns. Essa variação está intimamente relacionada à prontidão. Prontidão refere -se às características do indivíduo e do meio que tornam uma tarefa apropriada para o domínio de uma criança. Por exemplo, seus alunos não estarão prontos para executar um rolamento para frente, se não dominam a progressão de habilidades educativas do posicionamento das mãos e da cabeça, impulsão de membros inferiores e rolamento sobre as costas. É necessário fornecer habilidades prévias para atingir as metas. Por fim, o último fator individual que influencia o desenvolvimento motor é o período sensível, que corresponde a um período em que o aprendizado de novas habilidades é mais fácil e rápido. Uma intervenção apropriada nesta janela de tempo promove padrões de desenvolvimento positivos mais do que se a mesma intervenção ocorresse mais tarde. Os anos da infância é sensível para o desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais e habilidades esportivas. 6.2 Fatores ambientais Historicamente, pensava-se que as crianças desenvolviam suas habilidades motoras simplesmente por meio da maturação. No entanto, sabe-se na atualidade que os fatores ambientais desempenham um papel importante na aquisição de habilidades motoras. 20 Dentre os fatores ambientais, destacam-se a necessidade de encorajamento, as oportunidades frequentes de praticar, a instrução qualificada e um ambiente que promova o desenvolvimento e refinamento das habilidades motoras. Em outras palavras, as crianças precisam de alguém para incentivá-las a se movimentar e praticar suas habilidades e que as ensine a realizar o gesto motor, assim como precisam praticar suas habilidades com frequência e em um ambiente propício para o aprendizado. Nesse sentido, a presença dos responsáveis pela criança, tipicamente pais e professores, é vista como fundamental. Então, cabe a eles fornecer esses recursos seja forma direta ou indireta. As crianças devem ser encorajadas a praticar suas habilidades, descobrir e explorar novos movimentos. Infelizmente, muitas crianças não recebem estimulação adequada para seu desenvolvimento motor. No mundo atual, muitospais trabalham fora de casa e, em alguns casos, o pai ou a mãe são os únicos cuidadores dos filhos, resultando na falta de tempo e recursos para engajá-los em atividades físicas. Nesse contexto, não é incomum que a atividade física seja substituída por atividades passivas, como televisão e uso do computador. Considere que uma criança está em um período crítico para desenvolver habilidades fundamentais, mas ela não está recebendo incentivos para se engajar em atividades físicas. O resultado mais provável é que essa criança não desenvolverá habilidades fundamentais de forma eficiente, bloqueando os estágios subsequentes de desenvolvimento e, como resultado, terá menos probabilidade de participar de atividades esportivas e recreativas. Além do incentivo à atividade física, as crianças necessitam de um ambiente adequado para essa prática. Isso inclui recursos e materiais disponíveis. Por exemplo, se um bebê está em um ambiente que não oferece o suporte necessário (uma mesa ou um sofá ) para ele se movimentar e ficar de pé, ele só passará para a posição ereta quando desenvolve força suficiente e equilíbrio em sua perna. Outro exemplo seria um bebê que mora em uma casa precária, de chão batido com cascalhos, em que ele talvez pule as etapas de arrastar-se e engatinhar 21 até que tenha força e equilíbrio nas pernas para se colocar de pé. No mundo de hoje, as crianças vivem cada vez mais em apartamentos ou áreas densamente povoadas, onde não têm acesso a recursos e ambientes onde possam correr, arremessar, pular, etc. Como resultado, ficam dependentes da disponibilidade de seus cuidadores para transportá-las para um parque ou quadra esportiva, locais que permitem desenvolver suas habilidades. Um ambiente adequado também deve estar presente nas aulas de educação física. Deve considerar o número de alunos, espaço disponível e materiais disponíveis. O número de alunos deve ser suficiente para proporcionar educação de qualidade a todas as crianças. A oportunidade de prática que o encorajamento e o ambiente proporcionam não promove o desenvolvimento completo da maioria das crianças. Uma instrução qualificada é necessária para isso. Nesse contexto, o professor é essencial, pois sem ele muitas crianças não conseguirão desenvolver habilidades fundamentais, aperfeiçoá-las e integrá-las em ambientes esportivos e recreacional. A chave para uma integração bem-sucedida de fatores individuais e ambientais é a capacidade de reconhecer quando um indivíduo está pronto para aprender e, como resultado, facilitar as experiências de aprendizagem motora. 7 HABILIDADES MOTORAS, FASES DE APRENDIZAGEM E ANÁLISE DE TAREFAS 7.1 Definições teóricas Segundo Magill (2000, p. 6), uma habilidade refere-se a uma tarefa específica que deve ser alcançada. Nesse sentido, pode-se dizer que as operações de adição, subtração, multiplicação e divisão são habilidades fundamentais da matemática, assim como chutar uma bola é uma habilidade fundamental do futebol, mas apenas chutar uma bola é uma habilidade motora. A habilidade motora é definida como a presença de movimento voluntário do corpo ou de segmentos corporais para atingir um objetivo específico (MAGILL, 22 2000, p. 6). Considere que esse conceito implica algumas características, como o fato de se tratar de movimentos voluntários em que os reflexos não são considerados habilidades; e requerendo movimento do corpo e /ou de segmentos corporais. Diante disso, as operações matemáticas citadas não são habilidades motoras, pois não requerem movimento corporal, mas são classificadas como habilidades cognitivas. Como resultado, uma habilidade motora requer um objetivo a ser alcançado; portanto, movimentar a mão de forma preguiçosa não é considerada uma habilidade motora, pois, embora seja realizada de forma voluntária e envolva o movimento de um segmento corporal, ele não possui um objetivo a ser alcançado. Uma característica adicional da habilidade motora é que ela deve ser aprendida. Tocar um instrumento musical ou praticar um esporte, por exemplo, é uma indicação clara de que o ser humano não surge sabendo desenvolver habilidades motoras e que elas devem ser aprendidas. Mesmo a habilidade de caminhar, que um indivíduo desenvolve automaticamente quando adulto, precisa ser aprendida durante a infância. A aprendizagem é o processo pelo qual as habilidades são adquiridas ou modificadas, como resultado de estudo, experiência, formação, raciocínio e observação, por isso, não se aprende rapidamente, da noite para o dia. Dessa forma, o aprendizado pode ser dividido em fases, as quais representam uma descrição do nível de desenvolvimento da habilidade, das quais diferentes teorias foram desenvolvidas sob diferentes enfoques. Entretanto, em todas elas, o aprendizado faz parte de uma fase inicial em que o indivíduo requer muita atenção para executar as habilidades, com desempenho inconsistente e grande número de erros; isso culmina em uma fase final em que o indivíduo requer pouca atenção para executar as habilidades, com desempenho consistente e poucos erros. Existe uma ampla gama de habilidades motoras que podem ser agrupadas com base em características comuns. 23 7.2 Esquemas unidimensionais de classificação das habilidades motoras As habilidades motoras podem ser classificadas em várias categorias com base em características comuns. Os esquemas unidimensionais de classificação utilizam apenas um fator para categorizá-las, e os quatro mais conhecidos utilizam aspectos musculares, os temporais, os do meio ambiente e os funcionais. 7.2.1 Aspectos musculares das habilidades Este esquema categoriza as habilidades com base no tipo de grupo muscular necessário para realizar a ação, que pode ser coordenação motora grossa ou fina. A coordenação motora grossa envolve o recrutamento de grandes grupos musculares e requer menos precisão de movimento do que as habilidades motoras finas. A capacidade de coordenação motora fina está relacionada ao recrutamento de pequenos músculos na realização de movimentos específicos, mais especificamente aqueles envolvidos na coordenação mãos-olhos. 7.2.2 Aspectos temporais das habilidades O esquema baseado em aspectos temporais classifica as habilidades conforme os diversos movimentos realizados para sua execução, podendo ser classificadas em discretas, em série ou contínuas. Uma habilidade discreta é distinguida pela presença de um início e um ponto final bem definidos de curta duração, com posições claramente definidas. Quando habilidades discretas são combinadas e repetidas várias vezes e geram uma sequência de movimentos discretos, é chamada de habilidades de série. As habilidades contínuas, por outro lado, são compostas por movimentos repetitivos que duram vários minutos e não podem ser definidos como início ou fim. 24 7.2.3 Aspectos ambientais das habilidades Este esquema classifica as habilidades com base na estabilidade do ambiente no qual ela é executada. Nesse sentido, o ambiente remete ao objeto sobre o qual o indivíduo está agindo ou às características do contexto no qual ele executa a habilidade. Levando em conta os aspectos ambientais, as habilidades podem ser divididas como uma habilidade motora fechada ou aberta. Uma habilidade motora fechada é realizada em um ambiente estável ou previsível, no qual o contexto ou o objeto sobre o qual se age não se altera durante a sua execução, eles esperam pela ação do indivíduo. Por conseguinte, o praticante pode avaliar o ambiente com antecedência, organizar seus movimentos sem se sentir pressionado pelo tempo e realizar o gesto motor sem necessidade de ajustes repentinos. Pegar uma caneta sobre a mesa, por exemplo, é uma habilidade fechada, pois ela não irá se movimentar durante o período de tempo em que decide pegá-la até o momento de fazê-lo;assim, caminhando por um quarto vazio, porque o contexto ambiental não será alterado enquanto movimenta. Outros exemplos incluem chutar uma bola parada, atirar uma flecha em um alvo estático, atingir uma bola de golfe parada, etc. Em todas essas situações, o participante pode iniciar a ação quando estiver pronto e executar a habilidade de acordo com a sua própria vontade. Uma habilidade motora aberta realiza-se em um ambiente em que as condições estão em constante mudança, um ambiente imprevisível no qual o objeto ou contexto muda durante o desempenho. Por isso, os praticantes devem ser capazes de ler esse ambiente para ajustar seus movimentos, que normalmente ocorrem em um curto período, necessitando de plasticidade ou flexibilidade. A maioria das habilidades desempenhadas durante os esportes pode ser considerada de cadeia aberta, já que o executante precisa saber ler o ambiente (seus colegas de time, os adversários e a bola) para decidir qual movimento realizar. Por exemplo, quando a equipe adversária realiza um chute a gol, o goleiro deve se deslocar ao encontro da bola, a qual representa o ambiente imprevisível. 25 Da mesma forma, durante um jogo de tênis, o jogador não pode ficar parado para decidir como e quando rebater. Para ter sucesso, ele deve se mover e agir de acordo com a localização espacial e a velocidade da bola. Consequente, nesta habilidade, o indivíduo deve sincronizar o tempo de início do seu movimento considerando o movimento do objeto sobre o qual agirá. 7.2.4 Aspectos funcionais das habilidades Os aspectos funcionais classificam as habilidades como estabilizadoras, locomotoras ou manipulativas. A habilidade estabilizadora requer algum grau de equilíbrio. A locomotora é qualquer movimento que envolva alteração de localização do corpo em relação a um ponto fixo. Já a habilidade manipulativa diz respeito a aplicar força em um objeto ou receber força dele (manipulação rudimentar) e de usar os músculos do corpo de maneira complexa (manipulação refinada). Percebe-se que muitos gestos motores envolvem a combinação de duas ou três categorias. Jogar basquete, por exemplo, abrange as habilidades locomotoras (correr, saltar), as manipulativas (quicar a bola, passar, arremessar) e as estabilizadoras (girar, virar-se). Ao receber um passe, um jogador de futebol americano emprega habilidades locomotoras (correr a rota combinada, desviando dos marcadores), as manipulativas (receber o passe) e as estabilizadoras (recuperar o equilíbrio após o contato com o adversário ou aterrissar do salto para receber o passe). Ao enfrentar um pênalti, um jogador de futebol emprega coordenação motora grossa (recrutamento de grandes grupos musculares), a manipulativa (ao entrar em contato com a bola) e a fechada (a bola está parada esperando pela sua ação). Um oposto no vôlei, por sua vez, ao atacar uma bola, realiza uma habilidade motora de coordenação grossa (recrutamento de grandes grupos musculares), a locomotora (passada de ataque e salto), a manipulativa (ao tocar na bola) e a aberta (ele deve organizar seus movimentos de acordo com o posicionamento e a velocidade da bola). 26 Os esquemas unidimensionais que classificam as habilidades com base em aspectos musculares, temporais, ambientais e funcionais são amplamente utilizados e de fácil compreensão. No entanto, por considerarem apenas um fator comum ao categorizar o movimento, não englobam uma complexidade de muitas habilidades, que muitas vezes são classificadas como mais de uma categoria, pois, nesse esquema, não existe uma categoria específica para essa habilidade. 7.3 Esquemas bidimensionais utilizados para classificação das habilidades motoras Os esquemas bidimensionais utilizados para classificar as habilidades motoras são mais completos em relação aos unidimensionais, uma vez que visualizam o movimento por meio de duas perspectivas. Também permitem a visualização do movimento do mais simples ao mais complexo e do geral para o específico, o que não é possível nos modelos unidimensionais. 7.4 Esquema bidimensional de Gentile O modelo de Gentile considera os fatores contexto ambiental e a função intencional das habilidades para classificá-las, no qual cada um deles é subdividido para criar um esquema que leva a 16 categorias de habilidades. O fator contexto ambiental está relacionado às condições reguladoras, as quais correspondem às suas características que controlam/regulam o movimento de uma habilidade. Ao considera-lo para classificar a habilidade e desempenhá-la com sucesso, Gentile defende que os movimentos do indivíduo necessitam estar de acordo com condições ambientais específicas. Por exemplo, os movimentos que ele realiza para correr são dependentes do tipo de superfície sobre a qual o contato com o pé ocorre. Semelhantemente, se uma pessoa receber uma bola, seus movimentos devem coincidir com características como em qual local do campo ele recebeu a bola, qual a distância dos marcadores adversários e seus colegas de equipe, etc. 27 As condições reguladoras podem ser classificadas como fixas ou em movimento. As fixas ocorrem quando a tarefa é realizada em um ambiente estacionário, como subir escadas, arremessar dardos em um alvo, dar a primeira tacada de golfe, arremessar um lance livre no basquete, etc. Quando o movimento ocorre em um ambiente em movimento, trata-se de uma condição reguladora em movimento, como subir uma escada rolante, chutar uma bola em movimento, rebater uma bola em movimento, entre outros. Nessa classificação, há uma hierarquia implícita de nível de dificuldade na execução das habilidades, em que é mais fácil realizar o movimento em uma condição fixa do que em uma condição em movimento. As condições reguladoras podem ou não apresentar variabilidade entre as tentativas de executar uma habilidade. Se forem iguais durante o desempenho da habilidade, não haverá variabilidade, como sentar na mesma cadeira várias vezes na mesma altura (os movimentos não mudarão) e caminhar em um ambiente vago (os passos não mudarão). No entanto, se variarem durante o desempenho de uma habilidade, haverá variabilidade, como ao sentar-se em cadeiras de diferentes alturas (os movimentos serão diferentes para adaptar-se às diferentes alturas) e caminhar em meio a uma multidão de pessoas (os movimentos serão diferentes para evitar colisões com outras pessoas). Vale ressaltar também que esse sistema estabelece uma progressão no nível de dificuldade, em que é mais fácil executar o movimento quando não há variabilidade entre as tentativas em comparação com quando há variabilidade. O esquema de Gentile satisfaz qualquer profissional envolvido no ensino das habilidades motoras, pois é excelente para se conscientizar sobre as características de uma habilidade que a diferencia e a relaciona com as outras. Com o esquema de 16 categorias com grau crescente de complexidade, o profissional pode avaliar os problemas de desempenho de seu aluno ou paciente e, a partir desse diagnóstico, selecionar as atividades funcionalmente adequadas para ajudar o indivíduo a superar sua deficiência. 28 7.5 Esquema bidimensional de Gallahue O modelo bidimensional de Gallahue é baseado na função pretendida da tarefa de movimento e nas fases de desenvolvimento motor. A primeira é classificada como estabilizadora, locomotora e manipulativa. As fases de desenvolvimento são a reflexa, a rudimentar, a fundamental e a especializada, com a capacidade de observar movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos dentro de cada um. Os movimentos reflexos envolvem movimentos involuntários que ocorrem durante a primeira infância, com reflexos corporais verticais servindo como exemplos de reflexos estabilizadores. Os reflexos de marcha e engatinhar podem ser usados como exemplos de reflexos locomotores.O reflexo palmar, por outro lado, é um reflexo manipulativo. Os movimentos rudimentares referem-se aos primeiros movimentos voluntários realizados durante a infância, nos quais o controle dos músculos da cabeça, do pescoço e do tronco são denominados de rudimentares estabilizadores. Como exemplos de rudimentares locomotores, tem-se de rastejar, engatinhar e andar. Já o ato de agarrar e soltar objetos são rudimentares manipulativos. Os movimentos fundamentais mencionam-se às habilidades de coordenação motora grossa frequentemente realizadas no dia a dia e dominadas durante a infância. Ficar em pé sem apoio, rolar para frente e para trás e equilibrar- se em um pé só são exemplos de habilidades fundamentais estabilizadoras. Já correr, saltar, saltitar e galopar se tratam de fundamentais locomotoras. As fundamentais manipulativas são arremessar, chutar e receber. Já os movimentos especializados são movimentos fundamentais que foram refinados ou combinados a outros complexos, geralmente dominados no final da infância e aplicados em atividades do cotidiano, de recreação e no âmbito esportivo. As habilidades especializadas de estabilidade são caminhar sobre uma superfície escorregadia e executar uma rotina de ginástica de solo ou sobre uma barra de equilíbrio. Como exemplo de especializada manipulativa, pode-se citar o 29 toque no vôlei, o arremesso no basquete e o chute no futebol. Por fim, os exemplos de habilidades especializadas locomotoras incluem a corrida em uma prova de 100 metros rasos ou o nado crawl em uma prova de 50 metros na natação. Percebe que, ao estudar uma habilidade sob dois enfoques, os esquemas bidimensionais de Gentile e Gallahue fornecem uma análise mais completa do movimento e abrangem uma ampla gama de habilidades motoras não contempladas por modelos unidimensionais. Em conclusão, as habilidades motoras, as quais são movimentos voluntários que almejam atingir uma determinada meta, precisam ser aprendidas durante o ciclo da vida, em um processo chamado de aprendizagem motora, o qual é composto de fases. Elas podem ser classificadas em diferentes categorias, com base em um aspecto em comum (esquemas unidimensionais) ou sob dois aspectos (modelos bidimensionais). Os unidimensionais classificam as habilidades baseando-se em aspectos musculares, temporais, ambientais ou funcionais do movimento. Já o bidimensional de Gentile considera os fatores contexto ambiental e função intencional das habilidades para classificá-las; e o esquema de Gallahue, a função intencional da tarefa de movimento e as fases de desenvolvimento motor. 8 APRENDIZAGEM MOTORA Toda habilidade motora deve ser aprendida. Desde as mais básicas, como caminhar e saltar, até as mais complicadas, como tocar um instrumento musical ou praticar um esporte, todas são adquiridas e /ou aprimoradas em algum momento da vida por meio de um processo conhecido como aprendizagem motora. A aprendizagem motora é um conjunto de processos cognitivos que resulta em uma melhoria relativamente permanente na capacidade de um indivíduo em desempenhar uma habilidade devido à prática ou à experiência (MAGIL, 2000). Algumas de suas características estão implícitas nesse conceito: a aprendizagem é uma mudança interna; necessita melhoria relativamente 30 permanente, e não transitória, ao longo do tempo; e ela não existe sem prática ou experiência. Por corresponder aos processos cognitivos internos, esse aprendizado não é diretamente observável e, como resultado, é inferido do desempenho, um comportamento motor que pode ser visto. Dessa forma, visualiza-se o desempenho motor para concluir se o indivíduo aprendeu ou não uma habilidade. Como a aprendizagem é uma alteração relativamente permanente, deve-se ter claro quais os fatores que influenciam o desempenho de forma transitória. Por exemplo, o desempenho de uma habilidade pode ser ocasionado por um estado emocional, uma condição do sistema muscular, uma motivação, perda de sono, drogas, cafeína, etc. Imagine dois cenários: em um, o indivíduo realiza a habilidade após uma boa noite de sono, motivado, descansado e não fadigado; no outro, depois de uma noite mal dormida, desmotivado, cansado e fadigado. É muito provável que o seu desempenho nesses dois casos seja muito diferente, mas não devido à aprendizagem da habilidade, e sim aos fatores que o influenciam de forma transitória. A fim de definir se há aprendizagem e se certificar que o comportamento motor não é transitório, o desempenho deve apresentar quatro características: Aperfeiçoamento: o desempenho observado apresenta melhora em relação ao desempenho visto previamente. Consistência: os níveis de desempenho, entre uma e outra tentativa, tornam-se mais semelhantes. Persistência: a melhora do desempenho deve ser observada hoje, amanhã, semana que vem, etc., a fim de garantir que ela é relativamente permanente. Adaptabilidade: o desempenho aperfeiçoado se adapta a uma variedade de características do contexto, como estado emocional, condições climáticas, ambiente onde a habilidade é desempenhada, suas características, etc. 31 Como resultado, se o nível de proficiência do desempenho do indivíduo for relativamente estável ao longo de várias observações e sob diferentes conjuntos de circunstâncias, pode-se assumir que ele é um reflexo preciso do nível de aprendizagem motora dessa pessoa. A prática possui muita importância, uma vez que, a partir dela, ocorre a aprendizagem motora. No entanto, ela não pode ser entendida como uma simples repetição mecânica do movimento. Para aquisição de novos movimentos, ela consiste no sucesso gradual de uma pesquisa para soluções motoras ideais aos problemas adequados, no processo de resolver obstáculos por meio de técnicas que mudam e são aperfeiçoadas com as tentativas. Nesse contexto, a abordagem para ensinar a habilidade de rebatedor, por exemplo, não deve se basear em fazer o aluno rebater uma bola atrás da outra em um movimento repetitivo e impensado. Pelo contrário, ele deve experimentar esse gesto de várias maneiras para determinar a melhor opção para resolver determinada dificuldade, como determinar o melhor movimento para rebater uma bola alta, ou uma bola a meia altura e rápida, ou uma bola rasteira. Outra questão da prática é a especificidade da aprendizagem, na qual o que se aprende depende, em grande medida, do que se pratica. Por exemplo, à primeira vista, o futebol e o futsal são esportes muito parecidos, mas há diferenças entre eles que influenciam o desempenho decisivamente, como o tamanho e o peso da bola, ou o tamanho e a superfície do solo. Assim, a força que se imprime em um chute ou passe é diferente nas duas modalidades, bem como o jeito com que a bola rola sobre a superfície, modificando a forma como o jogador deve conduzi-la. Além disso, a movimentação deles se difere, devido à diferença no número de jogadores e no tamanho do campo/quadra. Por isso, se um indivíduo deseja jogar futebol, ele deve praticar o futebol; já aquele que quer aprender futsal, precisa praticar o futsal. Da mesma forma, o vôlei de quadra e de areia, embora pareçam semelhantes, possuem divergências. A superfície possivelmente é a principal, porque se movimentar em uma quadra é muito diferente do que na areia. Além disso, no vôlei de praia, muitos 32 fatores do ambiente influenciam o jogo, como sol e vento, o que não acontece no de quadra. Uma prova real da especificidade da aprendizagem são os casos de atletas que migraram de um esporte para o outro (do vôlei de quadra para o de praia ou vice-versa, e do futebol para o futsal ou vice-versa) e não obtiveram tanto sucesso como no esporte de origem, o qual praticaram durante anos de sua carreira. 8.1 Relação entre indivíduo, ambiente e tarefa O processo de aprendizagem motora e o desempenho sãoinfluenciados por fatores relacionados a quem executa a ação, ao ambiente onde a habilidade é realizada e aos aspectos da própria tarefa. Determinadas características desses fatores facilitam a aprendizagem e o refinamento de uma habilidade motora, porém, outras dificultam a execução de um movimento. Além de motivarem a aquisição das habilidades, a interação entre os fatores é determinante para o sucesso do movimento. O indivíduo sempre executará uma tarefa em um ambiente, desse modo, o resultado (o seu desempenho) depende de como ele explora o ambiente e a tarefa e como se localiza nesse ambiente. Por exemplo, para o sucesso da habilidade de rebater uma bola de tênis, deve haver uma sincronia perfeita entre o movimento da pessoa com a manipulação da raquete e a localização e velocidade da bola. 8.1.1 Indivíduo A aprendizagem trata-se de um processo que ocorre de forma individualizada, pois nada se aprende se não passar pela experiência pessoal (precisa-se praticar ou experimentar), e é intransferível, uma vez que não se transfere de uma pessoa para outra, mas, sim, aprendendo por si mesmo. Pelo fato de o indivíduo ser a figura central da aprendizagem, deve-se conhecer algumas características importantes do aprendiz, como idade, capacidades inclusive a de processamento de informação, experiência prévia, motivação, atenção, memória e estágio de aprendizagem. 33 Idade: a infância é considerada um período fundamental para a aprendizagem motora devido à grande capacidade de adequação aos estímulos. As experiências adquiridas durante a infância juntamente à maturação biológica geram muita variabilidade no desempenho motor na adolescência. Após essa fase, os sistemas começam a ter um declínio de eficiência, principalmente na terceira idade. Capacidade: está relacionada às qualidades físicas do indivíduo, um potencial que é definido geneticamente, o qual pode ou não ser atingido, dependendo do estímulo recebido. Capacidade de processamento de informação: a aprendizagem motora requer que o indivíduo selecione qual a melhor resposta à determinado estímulo, o que é realizado a partir do processamento de informações, o qual se faz em etapas. Inicialmente, os órgãos dos sentidos captam os estímulos do ambiente e os transformam em impulsos nervosos, os quais, em seguida, são organizados pelos mecanismos de percepção. A partir dessa organização, o mecanismo gerador de resposta escolhe o melhor plano motor para satisfazer o objetivo a ser executado, que, por sua vez, é enviado aos músculos que executam os comandos motores. Experiência prévia: um indivíduo terá mais facilidade em realizar uma tarefa nova se possuir experiência prévia em uma similar. Motivação: tem a função de estimular e criar uma expectativa a respeito da habilidade que será aprendida, além de mobilizar o indivíduo para a ação. Atenção: é necessária para se aprender qualquer coisa. Estágio de aprendizagem: o indivíduo passa por fases de aprendizagem durante as quais o desempenho apresenta uma melhora. Memória: é a capacidade de conservar experiências prévias para um uso posterior. 34 8.1.2 Ambiente O ambiente refere-se às características do contexto em que o indivíduo realiza a habilidade e o objeto sobre o qual ele está atuando. Por exemplo, se uma criança arremessa uma bola de basquete na cesta de um ginásio, o ambiente corresponderá ao ginásio e à bola. Dessa forma, percebe-se que as tarefas são realizadas em uma ampla gama de ambientes, e é justamente a essa exploração (do contexto em que a habilidade é executada e do objeto sobre o qual se age) que permite o desenvolvimento das habilidades motoras pelo indivíduo. Um aprendiz somente dominará a habilidade do chute no futebol se explorar a sua interação com a bola, por exemplo. Ele apenas saberá a habilidade do chute no futsal e no futebol se estudar a sua interação com as bolas de ambos, assim como a quadra e o campo. Apesar desses esportes serem similares, o tamanho e peso da bola como a dimensão e superfície do campo e da quadra se diferem. Nesse caso, o indivíduo deve explorar esses ambientes a fim de dominar a habilidade do chute em ambos cenários. O ambiente é dividido em duas categorias de classificação: condições regulatórias fixas e as reguladoras em movimento. A primeira ocorre quando uma habilidade é executada em um ambiente estacionário, em que o contexto ou objeto sobre o qual se age não muda durante sua execução. Por exemplo, arremessar dardos no alvo ou um lance livre no basquete, realizar um chute a gol sem goleiro no futebol, executar a primeira tacada no golfe, etc. Em qualquer uma dessas situações, o participante pode iniciar a ação quando estiver pronto e executar a habilidade de acordo com seu desejo. As habilidades motoras realizadas em um ambiente fixo são chamadas de habilidades fechadas . No que se refere as condições reguladora em movimento, essa acontece quando a habilidade é usada em ambiente em movimento e imprevisível, onde as condições estão mudando constantemente. Por exemplo, chutar uma bola ou rebater uma bola de basebol em movimento, atacar uma bola no vôlei, lançar um dardo no alvo móvel, etc. O movimento obedece ao ambiente para cumprir seu 35 objetivo, e o aprendiz deve sincronizá-lo a esse ambiente. As habilidades motoras feitas em um ambiente em movimento são chamadas de habilidades abertas. Ao realizar uma tarefa sem levar em conta o ambiente, percebe-se a importância do fator. Por exemplo, rebater uma bola no basebol sem se atentar ao seu tamanho, à sua velocidade e ao seu posicionamento, ou arremessar uma bola na cesta de basquete sem considerar o tamanho e peso da bola, bem como a distância e altura da cesta. A tentativa de realizar uma tarefa sem avaliar o ambiente é destinada ao fracasso. 8.1.3 Tarefa O tipo de movimento que será executado é determinado pela tarefa ou habilidade executada. As habilidades são classificadas em diferentes categorias usando vários esquemas para fornecer princípios sobre como implementá-las e aprendê-las. Existem esquemas unidimensionais que os classificam com base em uma característica comum e em alguns aspectos: Musculares: as habilidades motoras grossas envolvem o recrutamento de grandes grupos musculares para a execução do movimento (correr, saltar, chutar, arremessar); já as motoras finas, o recrutamento de pequenos grupos musculares em um movimento preciso (escrever, digitar, costurar). Temporais: as habilidades discretas se definem por ter um início e um fim (arremessar, rebater). Nas habilidades em série, a discreta é repetida ou combinada (sequência de ginástica, drible do basquete). Já as contínuas são movimentos cíclicos, em que não se pode definir início e fim (correr, nadar). Ambientais: as habilidades fechadas são realizadas em um ambiente estável e previsível (chutar uma bola parada, arremessar um dardo em um alvo fixo); já a aberta é feita em um ambiente instável que influencia a ação (rebater uma bola, arremessar em um alvo móvel). Funcionais: as habilidades estabilizadoras requerem algum grau de equilíbrio (girar, rolamento corporal). As locomotoras, por sua vez, envolvem a alteração da 36 localização do corpo em relação a um ponto fixo (correr, saltar em distância). Já nas manipulativas, se aplica força em um objeto ou recebe força dele (arremessar, receber). Além dessas classificações, Gentile (1972) propôs uma bidimensional com base no contexto ambiental em que a pessoa realiza a tarefa e na função da ação que caracteriza a habilidade. Cada fator é subdivido a fim de criar um esquema que leva a 16 categorias de habilidades. A aprendizagem motora é dependente da interação de cada fator individual com a tarefa realizada em determinado ambiente. Qualquer alteração em um dos três fatores afetará o movimento que surgedessas interações, evidenciando o processo dinâmico e sistêmico da aprendizagem. 9 TEORIAS DA APRENDIZAGEM MOTORA Foram propostas diversas teorias sobre como a aprendizagem motora ocorre, entre elas, pode-se destacar as de Fitts e Posner (1967), de Adams (1971), de Bernstein (1967) e de Gentile (1972, 1987). 9.1 Teoria de Fitts e Posner Fitts e Posner desenvolveram a teoria de aprendizagem motora mais disseminada (1967). Eles propuseram três fases de aprendizagem: estágio cognitivo, de fixação e autônomo. Todos estágios baseados no processamento de de componentes perceptuais e motores da habilidade. O estágio cognitivo é marcado por dificuldades na execução da habilidade motora, em decorrência de problemas cognitivos. Ao tentar desempenhá-la, por exemplo, o indivíduo se pergunta o que deve fazer; quando e como; qual o objetivo; até que ponto movimentar esse braço; qual a melhor forma de segurar o objeto; onde este braço deve estar quando a perna estiver em tal posição. 37 Por isso, há grande quantidade de erros no desempenho, e a performance é hesitante, errática e mal cronometrada com o ambiente externo. Porém, isso não deve ser uma preocupação, uma vez que se trata apenas do estágio inicial para ganhos posteriores de proficiência. As instruções, demonstrações e os vídeos são instrumentos úteis para auxiliar o indivíduo na aquisição da habilidade. Quando os problemas cognitivos são resolvidos, o indivíduo entra no estágio de fixação (chamado de associativo), no qual seu foco é a organização de padrões de movimento mais eficazes para desempenhar a habilidade, e ocorre o refinamento das adquiridas na fase anterior. Os erros tornam-se menos frequentes e grosseiros, ao mesmo tempo em que a variação no desempenho diminui. Nesse estágio, o aprendiz é capaz de detectar seus erros e monitorar feedback. Por exemplo, quando um praticante de basquete erra um arremesso, já consegue detectar possíveis problemas que ocasionaram esse erro, como por exemplo, não estendeu o cotovelo durante o arremesso, não flexionou o punho, etc. Após uma prática considerável, o aprendiz entra no estágio autônomo, em que a habilidade já se tornou automática, e ele não pensa conscientemente no que está fazendo enquanto a desempenha e pode realizar atividades cognitivas de ordem mais alta e simultânea. Por exemplo, quando se aprende a caminhar com proficiência, não é mais necessário pensar na execução dos passos e pode-se fazer atividades ao mesmo tempo, como caminhar e ler o jornal; caminhar e mexer no celular; caminhar e pensar no trabalho, entre outros. No âmbito esportivo, o jogador de futebol não pensa em como está conduzindo a bola com o pé, ele executa o movimento automaticamente, olha para os seus companheiros e adversários e analisa qual a sua melhor opção de passe. 9.2 Teoria de Adams A teoria de Adams (1971) é denominada de teoria de circuito fechado e propõe que o aprendiz adquire a habilidade por meio de um feedback. A cada tentativa, ele armazena relações entre as informações que lhe permitem comparar o desempenho atual com o de referência que deve ser alcançado. 38 Essa diferença entre o desempenho realizado e o desejado é diminuída pelo feedback negativo. Por exemplo, ao executar um arremesso do basebol, o indivíduo permanece com o pé do mesmo lado do corpo que a mão arremessada à frente dele. O feedback informa que o posicionamento das suas pernas está ao contrário do que deveria ser, e o aprendiz, por sua vez, armazena essa informação e tenta executar a habilidade de forma correta na próxima tentativa. Essa teoria é composta de duas fases de aprendizagem motora. Na primeira, chamada de estágio verbal-motor, os erros de desempenho são grosseiros; e as suas correções, fundamentadas no conhecimento de resultado, que se trata de uma informação, a partir da qual o aprendiz constrói hipóteses e estratégias para efetuar uma resposta diferente da anterior. Após muita prática, quando ele for capaz de executar várias tentativas corretamente, o primeiro estágio termina. Já no segundo, denominado estágio motor, o aprendiz consegue detectar seus erros e, consequentemente, corrigi-los, a fim de aperfeiçoar o movimento e continuar aprendendo. Por exemplo, ao errar um saque do vôlei, ele percebe que o motivo da falha foi o lançamento da bola muito à frente e, na próxima tentativa, o corrige e executa o saque com sucesso. Adams propõe a passagem do estágio verbal-motor para o motor como uma analogia ao processo de transformar um comportamento controlado em automatizado. 9.3 Teoria de Bernstein Bernstein (1967) identificou três estágios de aprendizagem da habilidades com base em um controle motor combinado e uma perspectiva biomecânica. O primeiro é conhecido como redução dos graus de liberdade, que indicam a capacidade de se mover entre as infinitas possibilidades. O desafio inicial para o aprendiz é saber o que fazer com os recursos disponíveis no corpo; como resultado, sugere-se que os movimentos redundantes e não essenciais sejam reduzidos. Consequentemente, diminui-se o número de graus de liberdade que devem ser controlados, possibilitando que a atenção seja direcionada aos poucos graus que serão executados. Por exemplo, em um arremesso de peso, o praticante 39 precisa jogá-lo com a técnica correta em alta velocidade, objetivando a maior distância possível. No estágio de redução de graus de liberdade, o foco poderia ser dado somente ao aprendizado da técnica do arremesso (onde posicionar o peso, como segurá-lo, como movimentar o corpo e o peso no lançamento), não exigindo velocidade de movimento e grande distância arremessada. Após a aquisição de um número mínimo de graus de liberdade, ele tenta melhorar sua performance liberando mais alguns graus que haviam sido reduzidos. Esse estágio é denominado de liberação de graus de liberdade. Por exemplo, no arremesso de peso, além do praticante executar corretamente a técnica do arremesso, deve realizá-la com velocidade e atingir a maior distância possível. Outro exemplo, após um indivíduo aprender a técnica do salto em distância no estágio anterior, ele precisa executá-lo almejando atingir a maior distância possível. No último estágio de aprendizagem, chamado de exploração de dinâmica passiva, o indivíduo aprende como a gravidade, as características semelhantes à mola do músculo e o impulso afetam seu corpo e seu movimento. Nesse estágio, o movimento atinge o máximo de eficácia (um resultado com máxima certeza) e eficiência (mínimo de gasto calórico). 9.4 Teoria de Gentile Gentile (1972, 1987) propôs uma teoria da aprendizagem motora a partir da perspectiva do aprendiz. O objetivo do primeiro estágio é entender o movimento e estabelecer um padrão básico. Compreender o movimento pode representar o que um indivíduo deve fazer para atingir a meta. Já em termos de movimento, significa entender o padrão de movimento apropriado necessário para atingir essa meta. Por exemplo, nesse primeiro momento, se ele está aprendendo a arremessar uma bola na cesta, o foco será entender como coordenar adequadamente os movimentos dos braços e da mão para executar o arremesso com proficiência. 40 Além disso, o aprendiz deve saber discriminar os aspectos ambientais que podem interferir no movimento dos que não exercem influência sobre ele. Os aspectos que o influenciam são denominados de condições reguladoras, em um arremesso, trata-se do peso e tamanho da bola, bem como da distância da bola até a cesta. Já os aspectos que não influenciam o movimento são chamados de condições não reguladoras, por exemplo, a cor da bola a ser arremessada. No segundo estágio, o objetivo do aprendiz é descritivo, em termos de fixação/diversificação. Ele deve adquirir três características para refinar a habilidade aprendida no outro estágio:adaptação, consistência e economia de esforço. A adaptação se refere ao indivíduo adaptar o padrão de movimento a qualquer situação de desempenho que exija essa habilidade. Por exemplo, após aprender o padrão de movimento do arremesso, ele deve saber arremessar de diferentes distâncias, parado e em movimento, etc. Além disso, é exigido que o aprendiz aumente a consistência em atingir a meta (um padrão de arremesso proficiente), acerte a cesta na maioria das tentativas e aprenda a desempenhar a habilidade com economia de esforço. Dessa forma, ele não precisará prestar tanta atenção no gesto de arremessar e, consequentemente, atentará a outras características do ambiente que influenciam o seu padrão de movimento. Um aspecto importante referente ao processo de aprendizagem motora, presente em todas as teorias citadas, é a quantidade de melhora do desempenho em cada fase. Nos estágios iniciais da aprendizagem, o indivíduo apresenta uma rápida e grande melhora e torna-se mais habilidoso a cada execução. No entanto, no estágio final, como ele já é muito capaz, as melhorias na performance são lentas. Nesses casos, pode-se adicionar algumas dificuldades, como realizar um treino técnico com a fadiga já instaurada (um treino de finalização no futebol após todo o treinamento físico). Em conclusão, a aprendizagem motora é um conjunto de processos cognitivos, que resulta em uma melhora relativamente permanente na capacidade do indivíduo em desempenhar uma habilidade, devido à prática ou à experiência. 41 Já o processo de aprendizagem se influencia pela interação do indivíduo com o ambiente e a tarefa a ser executada. Por fim, diversas teorias foram elaboradas sobre como ele ocorre. Em todas elas, o aprendiz parte de um estágio inicial, no qual ele demanda de muita atenção para executar as habilidades, com desempenho inconsistente e uma grande quantidade de erros grosseiros; culminando em um estágio final, em que ele demanda de baixa atenção para realizar as habilidades, com desempenho consistente e poucos erros. 42 10 BIBLIOGRAFIA ADAMS, J. A. A closed-loop theory of motor learning. Journal of Motor Behavior, College Park, 1971. BERNSTEIN, N. A. The co-ordination and regulation of movements. London: Pergamon Press, 1967. CAETANO, M. J. D.; SILVEIRA, C. R. A.; GOBBI, L. T. B. Desenvolvimento motor de pré--escolares no intervalo de 13 meses. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, v 7, n. 2, p. 5-13, 2005. CORRÊA, U. C.; PEROTTI JUNIOR, A.; PELLEGRINI, A. M. Tendências dos estudos de apren-dizagem e desenvolvimento motor na literatura brasileira em educação física. 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