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TEORIA GERAL DOS CONTRATOS_01

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TEORIA GERAL DOS CONTRATOS
CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA DO CONTRATO
1. Conceito e natureza jurídica do contrato
O contrato é um negócio jurídico bilateral ou plurilateral. Ele depende para a sua formação da participação de pelo menos duas partes e do mútuo consenso entre elas. O negócio jurídico unilateral é aquele que se aperfeiçoa com a manifestação de apenas uma vontade, como, por exemplo, um testamento. Já os negócios bilaterais, como os contratos, são aqueles que se aperfeiçoam com o encontro de, pelo menos, duas vontades.
Segundo Pereira (2017), o fundamento ético do contrato é a vontade humana, desde que atue na conformidade da ordem jurídica. O seu habitat é a ordem geral; e o seu efeito, a criação de obrigações. Para o autor, o contrato seria um acordo de vontades, na conformidade da lei, com a finalidade de resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos. Logo, sempre que o negócio jurídico resultar de um mútuo consenso, estaremos diante de um contrato, restringindo-a ao Direito das obrigações, estendendo-se a outros ramos do Direito privado (por exemplo, o contrato de casamento), e o Direito público (por exemplo, contratos firmados pela Administração Pública).
Os contatos também podem ser divididos em unilaterais e bilaterais. Porém, essas classificações não se confundem com a sua natureza jurídica. O contrato unilateral é aquele que gera obrigações para apenas um adas partes; enquanto o contrato bilateral gera obrigações para ambas as partes. Podemos entender essa distinção, por exemplo, através do contrato de doação. Trata-se de um negócio jurídico bilateral. Todavia, em relação à classificação quanto às obrigações geradas, trata-se de um contrato unilateral, na medida em que só há obrigações para o doador, enquanto, ao donatário cabe aceitar a doação, o que não passa de um ônus/encargo.
1.1 Elementos do contrato
De acordo com Gonçalves (2012), para que um negócio jurídico produza efeitos, possibilitando a aquisição, modificação ou extinção de direitos, deve preencher certos requisitos ou elementos, apresentados como de sua validade. Se os possui, é válido, e dele decorrem os mencionados efeitos almejados pelo agente. Se, porém, falta-lhe um desses requisitos, o negócio é inválido, não produz o efeito jurídico em questão e é nulo ou anulável.
Em relação aos contratos, os elementos que os tornam válidos são de dois tipos: a) de ordem geral, que são aqueles comuns a todos os atos e negócios jurídicos, ou seja, capacidade do agente, o objeto ilícito, possível e determinado ou determinável e a forma prescrita ou não defesa em lei, de acordo com o artigo 104 do Código Civil (BRASIL, 2002); e b) de ordem especial, específico dos contratos, que são o consentimento recíproco ou acordo de vontades.
Tais elementos podem ainda ser divididos em três grupos: subjetivos, objetivos e formais. Segundo Diniz (1996), os subjetivos consistem na manifestação de duas ou mais vontades e capacidade genérica dos contratantes, na aptidão específica para contratar e no consentimento. A capacidade pode ser genérica, negocial ou especial. Se faltar capacidade genérica e for absolutamente incapaz, trata-se de ato nulo, segundo o artigo 166 do Código Civil (BRASIL, 2002). Por outro lado, se se tratar de relativamente incapaz, trata-se de ato anulável, segundo o artigo 171 do Código Civil (BRASIL, 2002). No caso da capacidade negocial, na ausência desta, e caso vá contra o interesse público, trata-se de ato nulo. Em contrapartida, se ferir interesse privado, é anulável. Além da capacidade geral, existem casos em que a lei exige também a capacidade especial para contratar, como ocorre, por exemplo, na doação e na transação. Nesses casos, tem que o impedimento não e refere propriamente à capacidade geral, mas à falta de legitimação ou à existência de algum outro impedimento para a realização de certos negócios.
Em relação ao requisito de consentimento, este deve ser livre e espontâneo, sob pena de ter a sua validade afetada pelos vícios ou defeitos do negócio jurídico: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude.
Os requisitos objetivos referem-se ao objeto do contrato, que, segundo o artigo 104 do Código Civil (BRASIL, 2002), deve ser lícito, possível e determinado ou determinável. Logo, o objeto do contrato não pode contrariar a lei, nem os princípios gerais do Direito. Se o contrato é ilícito, a consequência é a nulidade. Além disso, o objeto do contrato precisa ser realizável no campo material ou físico. No entanto, essa impossibilidade pode se apresentar de diversas formas:
•                    Impossibilidade relativa: impossível apenas para a pessoa do devedor e não para os demais.
•                    Impossibilidade absoluta: impossível para todos. Se o contrato tiver as seguintes impossibilidades, originária, total e absoluta, ele é inexistente.
•                    Se a impossibilidade for superveniente ou parcial, tem-se a resolução da obrigação.
•                    Se a impossibilidade for relativa e originária, tem-se a nulidade do contrato.
Se é relativa superveniente, tem-se a resolução.
O objeto do contrato deve ser ainda determinado ou determinável. Vale ressaltar que ela pode ser relativa, pois, se a indeterminação for temporária, é possível realizar o contrato, como, por exemplo, nos casos de obrigação de dar coisa incerta.
O terceiro requisito de validade do negócio jurídico é a forma, que é o meio de revelação da vontade. Esta deve ser prescrita ou não defesa em lei. De acordo com Amaral (2017), há dois sistemas no que tange à forma como requisito de validade do negócio jurídico: a) o consensualismo, que sustenta a liberdade da forma; e b) o formalismo, que defende a forma obrigatória. No Direito brasileiro, a forma é, em regra, livre. As partes podem celebrar o contrato por escrito, público ou particular, ou verbalmente, a não ser nos casos em que a lei, para dar maior segurança e seriedade ao negócio, exija a forma escrita (GONÇALVES, 2012), conforme estabelecido pelo artigo 107 do Código Civil (BRASIL, 2002).
Vale ressaltar, no entanto, que conforme estabelece o artigo 166 do Código Civil (BRASIL, 2002), são nulos os negócios jurídicos que não se revestir na forma prescrita em lei, ou for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade. Em alguns casos, a lei reclama ainda a publicidade, mediante o sistema de Registros Públicos, de acordo com o artigo 221 do Código Civil (BRASIL, 2002). 
1.2 Formação dos contratos 
A primeira fase na formação dos contratos são as negociações preliminares. Nesta fase, as declarações de vontade das partes não são definitivas, ainda estão sujeitas a alterações. A seguir, se tem a proposta, que, conforme estabelece o artigo 427 do Código Civil (BRASIL, 2002), ela obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. Quanto a obrigatoriedade da proposta, ainda estabelece o artigo 428 (BRASIL, 2002): 
“Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente.”
Nota-se que o critério adotado pelo Código Civil é temporal. A proposta pode ser feita entre presentes, se o destinatário pode respondê-la de imediato; e entre ausentes, se é necessário prazo. Ou seja, no caso da proposta entre presentes sem prazo a aceitação deve ser imediata, se o destinatário não aceitar, o proponente se desobriga. Já na proposta entre presentes com prazo será até término do prazo fixado. Na proposta entre ausentes com prazo, se terá até o término do prazo.
Surgem, então, algumasquestões, como, por exemplo, no caso do destinatário da proposta declarar a vontade dentro do prazo, mas o proponente apenas receber isso depois de passado o prazo. O Código Civil adota a teoria da recepção para fins de formação (existência) do contrato, conforme exposto nos artigos 428 e 434 (BRASIL, 2002). Para que a proposta seja obrigatória, que o contrato exista, não basta que tenha sido expedida no prazo, mas que tenha chegado dentro do prazo. No entanto, no que tange a eficácia do contrato, o Código Civil adota a teoria da expedição: tendo o contrato chegado dentro do prazo, os efeitos deste são retroativos, começam a valer desde o momento da expedição.
A última fase da formação dos contratos é a aceitação, que em sua forma pura e simples é um ato de adesão, é “dizer sim”. Com a aceitação, se tem a formação de um contrato.
2. Principologia
O Direito Contratual rege-se por diversos princípios, alguns clássicos e outros modernos. Dentre eles, os mais importantes são: da autonomia da vontade, da supremacia da ordem pública, do consensualismo, da relatividade dos efeitos, da obrigatoriedade, da revisão ou onerosidade excessiva e da boa-fé.
2.1 Obrigatoriedade contratual
O princípio em epígrafe, também denominado princípio da intangibilidade dos contratos, representa a força vinculante das convenções. Por isso, também é chamado de princípio da força vinculante dos contratos.
Segundo Pereira (2017), pelo princípio da autonomia de vontades ninguém é obrigado a contratar. A ordem jurídica concede a cada um a liberdade de contratar e definir os termos e objeto da avença. Os que o fizerem, porém, sendo o contrato válido e eficaz, devem cumpri-lo, não podendo se forrarem às suas consequências, a não ser com a anuência do outro contraente. Como foram as partes que escolheram os temos do ajuste e a ele se vincularam, não cabe ao juiz preocupar-se com a severidade das cláusulas aceitas, que não podem ser atacadas sob a invocação dos princípios de equidade. O princípio da força obrigatória do contrato significa, em essência, a irreversibilidade da palavra empenhada.
O referido princípio tem por fundamento a necessidade de segurança nos negócios jurídicos e a intangibilidade ou imutabilidade do contrato, também conhecida como pacta sunt servanda. A intangibilidade do contrato decorre da ideia de que, entre as partes, acordo de vontade faz-se lei, não podendo ser alterado nem mesmo pelo juiz. As partes contratantes não podem, unilateralmente, alterar o conteúdo do contrato. A alteração de conteúdo do contrato pressupõe um novo acordo de vontade, ou seja, demandaria um aditivo contratual. Tem-se como limitação a esse princípio os casos de os casos de escusa por caso fortuito ou força maior, conforme disposto no artigo 393 do Código Civil (BRASIL, 2002).
2.2  Autonomia da vontade
Tradicionalmente, desde o Direito Romano, as pessoas são livres para contratar. Esse princípio teve seu apogeu após a Revolução Francesa, ao estabelecer que uma obrigação originária de um contrato se impõe aos contratantes com a mesma força que uma obrigação legal. Esse princípio sustenta que os indivíduos, nas relações entre particulares, teriam liberdade de estabelecer as regras a serem seguidas. As regras das relações entre particulares seriam postas pelos próprios indivíduos e não pelo Estado.
Nesse quadro, diferenciam-se os contratos típicos e atípicos. Contratos típico são aqueles que possuem expressa previsão legal, como o contrato de compra e venda. Assim, quando indivíduos celebram um contrato típico, estaria ele somente seguindo as disposições normativas. Nos contratos atípicos, a autonomia a vontade se faz ainda mais presente, uma vez que as partes têm o poder de criação, uma vez que são aqueles sem previsão no Código Civil (GONÇALVES, 2012).
2.3  Consensualismo
De acordo com o princípio do consensualismo, basta, para aperfeiçoamento do contrato, o acordo de vontades, contrapondo-se ao formalismo e ao simbolismo que vigoravam em tempos primitivos. Segundo Gonçalves (2012), ele decorre da moderna concepção de que o contrato resulta do consenso, do acordo de vontades, independente da entrega da coisa. Um exemplo disso é o contrato de compra e venda: quando pura, torna-se perfeita e obrigatória, desde que as partes acordem no objeto e no preço, conforme o artigo 482 do Código Civil (BRASIL, 2002). O contrato já estará perfeito e acabado desde o momento em que o vendedor aceitar o preço oferecido pela coisa, independentemente da entrega desta.
 2.4 Boa fé
Conforme disposto no artigo 422 do Código Civil (BRASIL, 2002): “os contratantes são obrigados a guardar assim, na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. De acordo com Aguiar Júnior (2003), a regra da boa-fé é cláusula geral para a aplicação do direito obrigacional, que permite a solução do caso levando em consideração fatores metajurídicos e princípios jurídicos gerais. O princípio da boa-fé se biparte em boa-fé subjetiva, também chamada de concepção psicológica da boa-fé, e a boa-fé objetiva, também denominada de concepção ética da boa-fé (GONÇALVES, 2012).
Boa-fé subjetiva diz respeito a substâncias psicológicas internas do agente. Geralmente, tal estado deriva da ignorância do sujeito a respeito de determinada situação, por isso, o legislador cuida de ampará-lo, distinguindo do a gente de má-fé. Já a boa-fé objetiva, é um princípio geral que estabelece um roteiro a ser seguido nos negócios jurídicos, através de normas de condutas que devem ser seguidas pelas partes. A boa-fé objetiva, relaciona-se com a lealdade, honestidade e probidade com a qual a pessoa mantém em seu comportamento. Ainda que exista esta divisão, o ordenamento jurídico brasileiro, em seu Código Civil e Código de Defesa do Consumidor aplica somente a boa-fé objetiva. Veja a seguir algumas das funções da boa-fé: 
· Integração
Incide no conteúdo do contrato, auxiliando na resolução de dúvidas e lacunas, buscando atender às legítimas expectativas dos contratantes. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Dessa forma, a boa-fé presume deveres instrumentais e deveres de proteção. Deveres instrumentais são a é legítima a expectativa de que duas partes colaborem umas com a outra para garantir os fins reconhecíveis desse contrato. Os deveres de proteção se relacionam com outros interesses que o contrato eventualmente pode colocar em risco, porém, não aqueles que efetivamente motivaram a contratação. Os limites de tais deveres se encontram na razoabilidade, e são frequentemente definidos pela jurisprudência.
· Função de modificação superveniente
Alterações negociais podem ser efetuadas derivando do princípio da boa-fé. Dessa forma, parte-se do pressuposto de que um dos contratantes toma um comportamento que gera na outra parte uma expectativa legítima de alteração da obrigação contratual. O comportamento reiterado gera expectativa legítima ao longo do cumprimento do contrato, gerando obrigação ou proibição do exercício de um direito. Dessa forma, a modificação da relação contratual pode ser surgimento de uma obrigação/dever ou proibição ao exercício de um direito.
2.5 Supremacia da Ordem Pública
Apesar dos contratos serem regidos pela liberdade contratual e pela autonomia da vontade, essa autonomia não é de todo absoluta. A liberdade contratual encontra limitação na ideia de ordem pública, entendendo-se que o interesse da sociedade deve prevalecer quando colide com o interesse individual.
De acordo com Rodrigues (2016, p. 16): “ideia de ordem pública é constituída por aquele conjunto de interesses jurídicos e morais que incube à sociedade preservar. Por conseguinte, os princípios de ordem pública não podem ser alterados por convenção entre os particulares”. A ordem pública é ainda uma cláusula geral exposta na Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (BRASIL, 1942), regra de Direito Internacional Privado que retifica a eficácia de qualquer declaração de vontade ofensiva da ordem pública. Ele é determinadoainda pelo artigo 2.035 do Código Civil que determina (BRASIL, 2002): “nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código, para assegurar a função social da propriedade e dos contratos”. Logo, a noção de ordem pública e o respeito aos bons costumes constituem freios e limites à liberdade contratual.
2.6 Relatividade dos efeitos
A força relativa dos contratos, apesar de não ser instituto expressamente previsto pelo Código Civil, é um princípio consagrado. Segundo o mencionado princípio, os contratos estabelecem obrigações apenas entre as partes (contratantes), não gerando obrigações para terceiros. No entanto, no que concerne os direitos gerados pelos contratos, é possível que eles sejam atribuídos a terceiros, como ocorre no caso de beneficiários do seguro. Vale ressaltar que, assim como as obrigações são limitadas às partes, a responsabilidade também é. Segundo o artigo 439 do Código Civil (BRASIL, 2002):
“Art. 439. Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar. Parágrafo único. Tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens.”
Se justifica a existência dessa limitação dos efeitos do contrato com base em dois pontos: a liberdade contratual e a eficiência, pois se restringem os efeitos onerosos às partes do contrato.
 2.7 Revisão
Quando as partes contraentes assinam um contrato, diversas são as incertezas quanto ao futuro. Existem fatores imprevisíveis que podem vir a alterar o equilíbrio contratual, sendo assim, o Código Civil, quanto à certos riscos, permite a revisão do contrato (BRASIL, 2002): “Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação”. Já o artigo 6 do Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990), determina que: “São direitos básicos do consumidor: (...) V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas (...)”. Veja a seguir alguns dos requisitos que configuram as alterações capazes de ensejar a revisão: 
Tempo de risco
 O risco que permite a resolução ou revisão deve ocorrer após a celebração do contrato, e seus efeitos devem ser sentidos antes do cumprimento total das obrigações.
· Excessiva onerosidade
 O risco deve ser tal que torne o cumprimento do contrato excessivamente oneroso para uma das partes com vantagem para a outra; ou aumente ou diminua consideravelmente o valor de uma das prestações. Portanto, é necessária que haja a mencionada onerosidade para o devedor e a consequente vantagem para o credor.
· Acontecimentos extraordinários e imprevisíveis
A tendência é limitar os riscos abrangidos pelos artigos 317 e 478 do Código Civil, com base em um critério de escusabilidade. A questão é que deveria a parte ter se precavido contra o risco em questão, ou seja, deve ser medida a sofisticação da parte e o grau de probabilidade do acontecimento. Nesse sentido, fatos de ocorrência mais remota seriam escusáveis, assim como a inexperiência dos contratantes.
3.  Interpretação dos contratos
Toda manifestação de vontade necessita de interpretação para que se saiba o seu significado e alcance. O contrato origina-se de ato volitivo e por isso requer sempre uma interpretação. Nem sempre o contrato traduz a exata vontade das partes. Muitas vezes a redação mostra-se obscura e ambígua, malgrado o cuidado quanto à clareza e precisão demonstrado pela pessoa encarregada dessa tarefa, em virtude da complexidade do negócio e das dificuldades próprias do vernáculo.
As regras de interpretação são regras referentes ao conteúdo do contrato, definindo o sentido de algo já escrito ou dito. Nesse sentido, o artigo 47 do Código de Defesa do Consumidor determina que (BRASIL, 1990): “As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor”. Já o artigo 423 do Código Civil (BRASIL, 2002): “Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente”.
4. Classificação
Os contratos se agrupam em diversas categorias, suscetíveis de subordinação a regras peculiares. Desse modo, os contratos classificam-se em diversas modalidades, subordinando-se a regras próprias ou afins, conforme as categorias em que se agrupam.
Os contratos podem ser divididos:
a) Quantos aos seus efeitos: em unilaterais, bilaterais e plurilaterais; gratuitos e onerosos. Contratos unilaterais são os contratos que criam obrigações unicamente para uma das partes, enquanto os bilaterais são contratos que geram obrigações para ambos os contratantes. Plurilaterais, são os contratos que contêm mais de duas partes.
b) Quanto às vantagens patrimoniais: gratuitos ou onerosos. Gratuitos são aqueles em que apenas uma parte aufere benefício ou vantagem, enquanto os onerosos são aqueles em que ambos os contraentes obtêm proveito.
c) Quanto a formação: podem ser paritários, de adesão e contratos-tipo. Contratos paritários são aqueles do tipo tradicional em que as partes discutem livremente as condições, porque se encontram em situação de igualdade. No contrato de adesão, não se tem esta liberdade, devido a preponderância da vontade e um dos contratantes, podendo a outra parte apenas aderir. E no caso do contrato-tipo, as cláusulas não são impostas por uma parte à outra, mas apenas pré-redigidas.
d) Quanto ao momento de sua execução: instantânea, diferida e de trato sucessivo ou em prestações. Contratos de execução instantânea são aqueles que tem uma execução única, que se consumam em um só ato. Os de execução diferida são os que devem ser cumpridos também em um só ato, mas em momento futuro. Já os de trato sucessivo, são os que cumprem por meio de atos reiterados.
e) Quanto ao agente: em personalíssimos ou intuito personae e impessoais. Personalíssimos são os contratos celebrado em atenção às qualidades pessoais de um dos contraentes, por essa razão, o obrigado não pode fazer-se substituir. Os impessoais são aqueles cuja prestação pode ser cumprida, indiferentemente, pelo obrigado ou por terceiro.
f) Quanto ao modo porque existem: em principais, acessórios ou adjetos e derivados ou subcontratos. Contrato principal é aquele que tem existência própria, e não dependem de qualquer outro. Os acessórios, por outro lado, são os que tem sua existência subordinada à do contrato principal.
g) Quanto à forma: em solenes ou formais e não solenes ou de forma livre; consensuais e reais. Solenes são os contratos que devem obedecer a forma prescrita em lei para se aperfeiçoar. Os não solenes são os de forma livre, onde basta o consentimento para a sua formação.
h) Quanto ao objeto: em preliminares ou definitivos. Os contratos preliminares são aqueles que tem por objeto a celebração de um contrato definitivo.
i) Quanto à designação: em nominados e inominados, típicos e atípicos, mistos. Contratos nominados são aqueles que têm designação própria, como o contrato de compra e venda, empreitada, etc. Os inominados, são então aqueles que não têm nominação própria. Já os típicos, são aqueles regulados pela lei, que tem nela o seu perfil traçado. Os mistos, por outro lado, resultam da combinação de um contrato típico, com cláusulas criadas pela vontade dos contratantes.
O enunciado número 21 das Jornadas de Direito Civil do CJF se refere à “revisão do princípio da relatividade de efeitos”, onde se tenta relativizar, então o princípio da força relativa dos contratos, preconizando que ele seria incompatível com a consagrada função social dos contratos. Dessa forma, poderiam os contratos obrigarem terceiros ou os terceiros responder pelo descumprimento doscontratos. Nesse sentido, tem-se o “caso Zeca Pagodinho”, envolvendo a AMBEV e a Schincariol, no qual a decisão demonstrou a possibilidade de geração de efeitos para terceiros. Em termos gerais, foi entendido que a AMBEV contribuiu, deliberadamente, para o descumprimento do contrato pelo cantor com a Schincariol, sendo, assim, responsabilizada por suas ações nesse sentido.
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS
EFEITOS DOS CONTRATOS
1. Eficácia
A eficácia dos contratos parte diretamente das leis; logo, transforma-os em fonte mediata ou primária das obrigações. É a lei que disciplina os efeitos dos contratos; que obriga o declarante a pagar a recompensa prometida e impõe ao autor do ato ilícito o dever de ressarcir o prejuízo causado.
De acordo com Pereira (2017), o fundamento ético do contrato é a vontade humana, desde que atue na conformidade da ordem jurídica. Seu habitat é a ordem legal. Seu efeito, a criação de direitos e de obrigações. O contrato é, segundo Gonçalves (2012, p. 26), “um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos.
1.1 Em relação aos sujeitos
Um dos principais efeitos dos contratos é a produção de obrigações entre as partes, e só para as partes. Devido a relatividade, somente as pessoas que estipularam o contrato se obrigam. Afirma-se, então, que o contrato é uma “lei entre as partes”.
Nos contratos unilaterais, tem-se a criação de obrigações unicamente para uma das partes, como no caso de doação pura, por exemplo. Segundo Gomes (2019, p. 77), o contrato é “unilateral se, no momento em que se forma, origina obrigação, tão somente, para uma das partes”. Já nos contratos bilaterais, ambas as partes contraem obrigações e ao menos alguns dos deveres recíprocos de prestação estão vinculados entre si, de modo que a prestação de um representa, de acordo com a vontade de ambas as partes, a contraprestação, a compensação pela outra (LARENZ, 1958). Por sim, no caso dos plurilaterais, como efeito, tem-se a criação da obrigação para mais de duas partes, tendo as partes um objetivo, um fim, em comum.
1.2. Aos terceiros
Ainda que, na maioria dos casos, os contratos somente gerem obrigações entre as partes, existem exceções em que os contratos atingem terceiros com seus efeitos. Tem-se efeitos em relações à terceiros, ou também as chamadas estipulações em favor de terceiros nos contratos celebrados entre duas pessoas, denominadas estipulante e promitente. Neles convenciona-se que a vantagem resultante do ajuste reverterá em benefício de terceira pessoa, alheia à formação do vínculo contratual (RODRIGUES, 2016). Neste vínculo, figuram três personagens: o estipulante, o promitente e beneficiário, decorrendo o vínculo obrigacional da manifestação de vontade apenas do estipulante e do promitente, podendo, no entanto, o beneficiário recusar a estipulação a seu favor.
Conforme o artigo 435 do Código Civil (BRASIL, 2002): “Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação”. E no Parágrafo único: “Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar nos termos do art. 438”.
Sendo assim, tem-se que o contrato se torna exigível tanto pelo estipulante quanto pelo beneficiário. Vale ressaltar, ainda, que estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, independentemente da sua anuência e da do outro contratante, conforme estabelece o artigo 438 do Código Civil. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade.
1.3 Ao objeto em relação aos contratos bilaterais perfeitos e imperfeitos
O contrato bilateral é aquele que gera obrigação para ambos os contratantes, sendo assim as obrigações são recíprocas. Conforme conceitua Larenz (1958), o contrato bilateral é aquele que ambas as partes contraem obrigações e ao menos alguns dos deveres recíprocos de prestação estão vinculados entre si, de modo que a prestação de um representa, de acordo com a vontade de ambas as partes, a contraprestação, a compensação pela outra.
O contrato bilateral imperfeito é uma categoria intermediária. Contrato bilateral imperfeito é denominado o unilateral que, por circunstância acidental, ocorrida no curso da execução, gera alguma obrigação para o contratante que não se comprometera. Pode ocorrer com o depósito e com o comodato quando, por exemplo, surgir para o depositante e o comodante, no decorrer da execução, a obrigação de indenizar certas despesas realizadas pelo comodatário e pelo depositário. . Conforma aponta Gonçalves (2012, p. 98): “Contratos unilaterais porque aquelas contraprestações não nascem com a avença, mas de fato eventual, posterior à sua formação, não sendo, assim, consequência necessária de sua celebração”.
1.4 Direito de retenção
O direito de retenção aplica-se principalmente aos contratos de locação. Conforme o artigo 571 do Código Civil (BRASIL, 2002), o locatário gozará do direito de retenção, enquanto não for ressarcido. Esta foi uma inovação então introduzida, uma vez que tal benefício só era antes previsto, nas locações, para assegurar a indenização das benfeitorias necessárias e úteis feitas com consentimento expresso do locador.
Vale ressaltar ainda que o direito de retenção pode ser verificado nos casos em de contrato com cláusula de reserva de domínio. Nestes casos, se tem a venda de coisa móvel, em que o vendedor tem a própria cosia vendida como garantia do recebimento do preço, somente a posse é transferida ao adquirente. A propriedade permanece com o alienante e só passa àquele após o recebimento integral do preço. De acordo com o artigo 521 do Código Civil (BRASIL, 2002): “Artigo 521. Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago. ”.
1.5 Exceção do contrato não cumprido
A exceção do contrato não cumprido pode ser considerada como regra dispositiva, ou seja, aplicada aos contratos se as partes não tiverem decidido de forma diversa. Conforme o artigo 476 do Código Civil, nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro (BRASIL, 2002).
Para entender melhor esse instituto, partiremos de um exemplo. Partes A e B tem obrigações a cumprir, independentes uma da outra. A não cumpre suas obrigações, porém, mesmo diante do inadimplemento de A, B deve ser obrigado a cumprir sua obrigação. A, mesmo não tendo cumprido o que deveria, teria as pretensões de cumprimento por parte de B e também de indenização. Assim, tendo em vista a situação imaginária acima, entende-se que a exceção de contrato não cumprido serviria para quebrar a mencionada independência das obrigações. Voltando ao caso anterior, de A e B, com a presença dessa exceção, A perderia suas pretensões de cumprimento por parte de B e também de indenização. Em suma, B pode então resistir à pretensão de A de que a sua obrigação se cumpra (pretensão de cumprimento) ou de pagamento de indenização ou multa (pretensão indenizatória).
No entanto, para que se tenha a exceção do contrato não cumprido se tem dois requisitos: a) a outra parte deve ter inadimplido primeiro; b) e somente pode ser solicitado enquanto não for "purgada a mora”. Após ser purgada a mora pelo devedor, a outra parte, que levantou a exceção, não pode mais resistir ao cumprimento de sua própria obrigação.
1.6 Vícios ocultos
Vícios ocultos ou vícios redibitórios são vícios que atingem a coisa, objeto de um contrato civil, desvalorizando-a ou tornando-a imprópria para o seu uso. O Direito brasileiro atribui um dever geral de qualidade ao contratante obrigado à entrega de um bem ou à prestação de um serviço. O bem ou serviço deve possuir as características que são razoáveis esperar dele, tendo em vista as circunstâncias e os fins a que o contrato se destina.
O dever de qualidade em questão tem fundamento na boa-fé́.Além disso, é tema de algumas disposições legais, como as dos vícios redibitórios – artigos 441 a 446 do Código Civil (BRASIL, 2002) -; e as dos vícios de qualidade e quantidade – artigos 18 a 27 do Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990).
Os vícios redibitórios são regras dispositivas, que se aplicam a coisas, conforme o artigo 441 do Código Civil (BRASIL, 2002): “Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor”. Portanto, tem-se que a parte pode rejeitar a coisa recebida caso esta possua vícios ou defeitos ocultos que a tornem impropria para uso a que é destinada ou lhe diminuam o valor. Mas se tratando de vícios ou defeitos ocultos, estes podem demorar um determinado tempo a aparecer. Nesse sentido, os artigos 445 e 446, do Código Civil (BRASIL, 2002), trazem os prazos para o exercício do direito:
“Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.
§ 1o - Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.
§ 2o - Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria.
Art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência.”
Vale ressaltar ainda que, para a caracterização dos vícios redibitórios se tem alguns requisitos, não se trata de qualquer defeito ou falha existente no bem móvel ou imóvel. Alguns dos requisitos para a caracterização dos vícios redibitórios são:
que a coisa tenha sido recebida em virtude de contrato comutativo ou de doação onerosa, ou remuneratória;
que os defeitos sejam ocultos, ou seja, não sejam facilmente verificáveis;
que os defeitos existam no momento da celebração do contrato e que perdurem até o momento da reclamação; 
que os defeitos sejam desconhecidos pelo adquirente;
que os defeitos sejam graves.
1.7 Evicção
Todo alienante é obrigado não só a entregar ao adquirente a coisa alienada, como também a garantir-lhe o uso e gozo. Sendo assim, dá-se a evicção quando o adquirente vem a perder total ou parcialmente a coisa por decisão fundada em motivo jurídico anterior (GONÇALVES, 2012). Evicção vem do latim evincere, que significa perder ou ser vencido. Evicção é a perda da coisa, objeto de um contrato, diante de uma decisão judicial ou ato administrativo de apreensão que a atribui a um terceiro. Na visão clássica, evicção era a perda por sentença judicial, atualmente prescinde de sentença, pode ser uma decisão judicial que não seja sentença.
São partes na evicção o alienante, que é aquele que transmitiu a coisa com o vício da evicção; o adquirente, evicto ou evencido, que é quem adquire e perde a coisa; e o terceiro, evictor ou evencente, que tem a decisão judicial ou apreensão administrativa em seu favor. No caso da evicção, tem-se que o alienante transmite o bem para o adquirente, por exemplo em um contrato de compra e venda, depois o terceiro pleiteia o bem do adquirente, como por meio de uma ação reivindicatória, e posteriormente se tem o denunciar da lide pelo alienante.
A evicção pode ser total ou parcial. No caso da evicção total, conforme estabelece o artigo 450 do Código Civil, o adquirente pode pleitear do alienante o preço que pagou pela coisa (levando em conta o momento em que ela se perdeu); indenização pelos frutos que tiver sido obrigado a restituir ao terceiro; despesas contratuais e perdas e danos; custas judiciais e honorários advocatícios; e benfeitorias necessárias e uteis não abandonadas pelo terceiro, segundo o artigo 45 do Código Civil. Já no caso de evicção parcial, conforme exposto no artigo 455 do Código Civil, caso seja considerável, o adquirente pode optar entre a rescisão do contrato ou indenização pela parte perdida. Se for parcial, mas não considerável, cabe apenas indenização pela parte perdida (BRASIL, 2002).
1.8 Arras
Arras ou sinal, é a entrega de dinheiro ou de outro bem móvel, com garantia de firmar um negócio e fazer com que o contrato seja cumprido, é então a utilização de bens móveis para garantir a celebração do negócio. Pode-se dizer que a cláusula ou contrato de arras é uma variação da cláusula penal, com função análoga, conforme os artigos 417 a 420, do Código Civil (BRASIL, 2002). A diferença é que, ao contrário da multa, as arras são prestadas antes da ocorrência do inadimplemento. As arras e a cláusula penal, no entanto, têm uma função análoga, que é criar uma penalidade para o caso de inadimplemento, podendo as arras servir como um pré-contrato, como uma garantia de celebração do segundo contrato, o principal.
As arras podem ser de dois tipos, confirmatórias ou penitenciais. Nas confirmatórias é possível insistir no cumprimento do contrato ou pedir indenização suplementar acrescida das arras, conforme determina o artigo 419 do Código Civil (BRASIL, 2002). Já nas penitenciais ,a função das arras é indenizatória por si só́, e por isso, não haverá́ possibilidade de pedir indenização suplementar. Alguns efeitos das arras são: 
se houver inadimplência por parte do indivíduo que deu as arras, as mesmas não serão devolvidas; 
se quem gerar o inadimplemento for aquele que receber as arras, ele deverá devolver as mesmas, além de pagar o equivalente
2. Extinção
Os contratos, como negócios jurídicos em geral, têm também um ciclo vital: nascem do acordo de vontades, produzem os efeitos que lhes são próprios e extinguem-se (GONÇALVES, 2012). De acordo com Theodoro Júnior (2019, p. 100), “ao contrário dos direitos reais, que tendem à perpetuidade, os direitos obrigacionais gerados pelo contrato caracterizam-se pela temporalidade. Não há contrato eterno”.
Seguindo o curso normal, o contrato se extingue pelo cumprimento, adimplemento, implemento, pagamento, solvência ou advento do termo final. No entanto, podem ocorrer fatos diversos que levam também à extinção do contrato. As causas podem ser anteriores ou contemporâneas à formação do contrato, como é o caso da nulidade e anulabilidade, ou os casos nos quais a dissolução do contrato se dá em função de causas posteriores à sua criação, como é o caso da rescisão, resolução e resilição.
2.1 Nulidade
A nulidade pode ser relativa ou absoluta. No caso de nulidade absoluta, esta decorre da ausência do elemento essencial ao ato, com transgressão a preceito de ordem pública, impedindo que o contrato produza efeitos desde a sua formação. Tratando-se de vício originário, verificado na fase genérica da obrigação, e sendo caso de ineficácia em sentido amplo - ato nulo é ineficaz (GONÇALVES, 2012). Segundo Aguiar Júnior (2003), o pronunciamento da nulidade pode ser requerido em juízo a qualquer tempo, por qualquer interessado, podendo ser declarada de ofício pelo juiz ou por promoção do Ministério Público, conforme o artigo 168 do Código Civil (BRASIL, 2002).
 2.2 Anulabilidade
A anulabilidade advém da imperfeição da vontade, seja porque foi emanada de um relativamente incapaz não assistido ou porque contém algum dos vícios de consentimento, como dolo, erro, coação, etc. Conforme o artigo 171 do Código Civil (BRASIL, 2002):
“Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.”
A anulabilidade, de forma diversa à nulidade,não pode ser arguida por ambas as partes, nem declarada de ofício pelo juiz. Tem legitimidade para pleitear a ação somente o contraente em cujo interesse foi estabelecida a regra, conforme o artigo 171 do Código Civil. De acordo com Roppo (2009), tratando-se apenas de proteger o interesse do incapaz, do lesado, do enganado ou do ameaçado, só a estes cabe decidir se podem ou não a anulação. 
2.3 Morte
A morte de um dos contratantes só acarreta a dissolução dos contratos personalíssimos, aqueles que não poderão ser executados por outra pessoa, ou seja, aquele em consideração do qual foi ajustado. Vale ressaltar, no entanto, que subsistem as prestações cumpridas, pois seu efeito opera-se ex-nunc. Como exemplo, é possível citar o contrato de prestação de serviços, que acaba com a morte de qualquer uma das partes, conforme estabelece o artigo 607 do Código Civil (BRASIL, 2002).
 2.4 Rescisão
O termo rescisão é frequentemente utilizado como sinônimo de resolução e de resilição. No entanto, se tem a rescisão somente na dissolução de alguns contratos, como aqueles em que ocorre lesão ou que foram celebrados em estado de perigo. De acordo com Messineo (1986), dois são os casos em que se admite a rescisão: quando o contrato é celebrado em estado de perigo e em condições iníquas, ou quando acarreta uma lesão sofrida por uma das partes, determinada por uma situação de necessidade que a impulsionou a conclui-la.
O Código Civil, caracteriza lesão como um vício de consentimento, que torna anulável o negócio jurídico, conforme o artigo 178. Já o estado de perigo, se caracteriza quando a avença é celebrada em condições desfavoráveis a um dos contratantes que assume uma obrigação excessivamente onerosa em situação de extrema necessidade, segundo o artigo 156, sendo este também anulável, conforme o artigo 178. Dessa forma, tem-se que em ambas as situações o negócio jurídico será anulável, tendo-se assim a rescisão do contrato (BRASIL, 2002).
2.5 Resolução
De acordo com Gomes (2019), resolução é um remédio concedido à parte para romper o vínculo contratual mediante ação judicial. A obrigação visa a realização de um determinado fim. Nem sempre, no entanto, os contraentes conseguem cumprir a prestação avençada, em razão de situações supervenientes, que impedem ou prejudicam a sua execução. Nesse contexto, a extinção do contrato mediante resolução tem como causa a inexecução ou o não cumprimento por um dos contratantes (GONÇALVES, 2012).
A resolução pode ser por inexecução voluntária ou por onerosidade excessiva. A resolução por inexecução voluntária, como o próprio nome demonstra, se dá pela opção do contratante de não cumprir com o contrato, gerando prejuízo ao outro. Sendo assim, conforme determina o artigo 475 do Código Civil (BRASIL. 2002): “a parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos”.
Roppo (2009) ressalta que é necessário que o não cumprimento invocado por quem pede a resolução seja razoavelmente sério e grave, e prejudique, de modo objetivamente considerável o seu interesse. Por exemplo, se uma parte sempre manifestou tolerância por uma certa margem de atraso, ou de pagamento de valor inexato, pouco inferior ao convencionado, isto pode ser relevante para excluir a possibilidade de resolução do contrato por falta de cumprimento legal.
Conforme determina o artigo 476 do Código Civil, nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. Aquele que não satisfez a sua própria obrigação, não pode exigir o implemento da do outro quando as prestações forem simultâneas.
Tem-se ainda a resolução por onerosidade excessiva. Embora o princípio da pacta sunt servanda ou da intangibilidade do contrato seja fundamental para a segurança dos negócios e fundamental para qualquer organização social, os negócios jurídicos podem sofrer as consequências de modificações posteriores das circunstâncias, com quebra insuportável da equivalência. Tal constatação deu origem ao princípio da revisão contratual ou da onerosidade excessiva (GONÇALVES, 2012).
A resolução por onerosidade excessiva pode ser usada por ambas as partes, tanto pelo credor quanto pelo devedor, sendo semelhante ao caso fortuito ou de forca maior, no qual um evento futuro e incerto acarreta a exoneração do cumprimento da obrigação. A resolução dos contratos por onerosidade excessiva está exposta no artigo 478 do Código Civil, que determina (BRASIL, 2002):
“Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.”
Presentes os pressupostos do artigo 478, poderá a parte lesada pleitear a resolução do contrato. Todavia, conforme exposto no artigo 479, poderá a parte contrária, considerando o contrato vantajoso, reestabelecer o equilíbrio contratual, oferecendo-se para modificar equitativamente as condições (BRASIL, 2002). Alguns requistios para que se configure a resolução por onerosidade excessiva são: 
vigência do contrato comutativo de execução diferida ou de trato sucessivo;
ocorrência de fato extraordinário e imprevisível;
considerável alteração da situação de fato existente no momento da execução, em confronto com a que existia por ocasião da celebração; 
nexo causal, entre o evento superveniente e a consequente excessiva onerosidade.
2.6 Resilição
Resilição não deriva de inadimplemento contratual, mas unicamente da manifestação de vontade, que pode ser bilateral ou unilateral. Resilir, vem do latim, que significa, etimologicamente, “voltar atrás”, podendo ser a resilição bilateral ou unilateral. No caso de resilição bilateral, se tem o distrato, que é o acordo de vontades que tem por objetivo pôr fim a um contrato anteriormente celebrado, podendo qualquer contrato cessar pelo distrato. Conforme estabelece o artigo 472 do Código Civil, o distrato se faz na forma exigida para o contrato, ou seja, ele deve obedecer à mesma forma do contrato a ser desfeito quando este tiver forma especial, mas não quando esta for livre (BRASIL, 2002).
Já a resilição unilateral, somente é possível em alguns contratos, pois, pelo princípio do pacta sunt servanda, os contratos deverão ser cumpridos e, sendo assim, se tem a impossibilidade de um contraente romper o vínculo contratual por sua exclusiva vontade.
A resilição unilateral é possível de ser exercida: a) nos contratos por tempo indeterminado; b) nos contratos de execução continuada ou periódica; c) nos contratos em geral cuja execução não tenha começado; d) nos contratos benéficos; e e) nos contratos de atividades.
Sobre o a resilição unilateral, o artigo 473 do Código Civil estabelece que:
“Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte.
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos.”
Os contratos de soja verde são aqueles feitos antes da soja ser plantada. A soja obteve, certo ano, grande valorização. Um agricultor decidiu pleitear a revisão do contrato, pela onerosidade das parcelas, segundo o artigo 317 do Código Civil. Há várias decisões do STJ sobre o caso, decidindo em favor dos compradores da soja e mantendo o contrato, dada a sofisticação das partes envolvidas e a previsibilidade de oscilações comuns a este tipo de atividade.

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