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AULA02 - O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL ATÉ O INÍCIO DO SÉCULO XX

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CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA 
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 
 
CURSO: GEOGRAFIA DISCIPLINA: GEOGRAFIA URBANA DO BRASIL 
 
CONTEUDISTA: Marcelo Werner da Silva 
 
AULA 2. O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL ATÉ O INÍCIO DO 
SÉCULO XX 
 
Meta 
 
Mostrar como ocorreu o processo de urbanização do Brasil, do início da 
colonização portuguesa até o início do século XX. 
 
Objetivos 
 
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: 
 
1. Identificar as funções dos aglomerados urbanos brasileiros durante o período 
colonial; 
 
2. Perceber a progressiva ocupação do território nacional a partir da criação de 
vilas e cidades; 
 
3. Relacionar as transformações urbanas a partir de meados do século XIX com 
a teoria higienista e com a engenharia militar; 
 
4. Identificar o contexto das reformas urbanas do início do século XX. 
 
 
Pré Requisitos 
 
Para essa aula é importante que você reveja o processo de colonização do 
Brasil, levando em conta as capitanias hereditárias e o governo geral, além disso 
é preciso que relembre a parte da história brasileira que tange à expansão 
mineira nas Minas Gerais, o bandeirantismo, a vinda da família real e o período 
áureo do café no país. 
 
Introdução: A origem de nossas cidades. 
 
Como conhecer o passado de nossas cidades? E para que serve esse estudo? 
Nesta aula veremos algumas questões que apontam nessa direção e esperamos 
que após ela você tenha elementos para discorrer, mais apropriadamente sobre 
o passado das cidades brasileiras. Afinal contamos no país com muitas cidades 
que preservam muito da realidade do período colonial. Quantas imagens na 
mídia vemos sobre Paraty, no estado do Rio, sobre Ouro Preto, Mariana, 
Tiradentes e outras cidades históricas de Minas Gerais? Esses exemplos se 
multiplicam se consideramos o conjunto do território brasileiro. 
 
Nessa aula veremos alguns elementos que explicam como se deu a urbanização 
pretérita no Brasil, suas motivações. Quais as funções que as cidades exerciam? 
Como se deu o processo de urbanização brasileiro? Quais as motivações para 
as modificações ocorridas nas cidades no século XIX e início do XX, decorrentes 
da expansão do modo de produção capitalista? Nessa aula tentaremos 
responder essas questões. Esperamos que você goste! 
 
1. AGLOMERAÇÕES URBANAS NO PERÍODO COLONIAL 
 
Ao ser “descoberto” em 1500, não interessou inicialmente à coroa portuguesa a 
colonização do Brasil. Portugal estava envolvido com o lucrativo comércio com 
as Índias e a tomada de posse serviu apenas para garantir o domínio sobre as 
novas terras, de cuja existência já se tinha conhecimento prévio e que já se 
encontrava previamente partilhada desde 1494 pelo Tratado de Tordesilhas 
(MELLO-LEITÃO, 1941, p. 17-22; BARROSO, 1941, p. 108). 
 
Verbete 
 
O Tratado de Tordesilhas foi um tratado papal que dividia o mundo a ser 
conquistado entre Portugal e Espanha, traçando uma linha a 370 léguas a oeste 
do Cabo Verde. Tal divisão arbitrária foi mais tarde contestada por outras 
potências marítimas e veementemente desrespeitada durante o processo de 
colonização da América. 
 
Fim do verbete 
 
Colonizar, até o século XVI, significava simplesmente estabelecer feitorias 
comerciais (PRADO JÚNIOR, 1943, p. 15). Porém quando sentiu ameaçado seu 
domínio sobre as terras brasileiras, Portugal resolveu adotar uma política de 
colonização, implantando o sistema de capitanias hereditárias a partir de 1530. 
 
Verbete 
 
Feitorias eram entrepostos comerciais montados na costa dos domínios 
portugueses, tinham como objetivo mediar o comércio entre as colônias e a 
metrópole e foram extensivamente usadas como tática colonial durante os 
séculos XV e XVI. 
 
Fim do Verbete 
 
Para a implantação desse sistema foram utilizados os mecanismos já existentes 
em Portugal e que foram desenvolvidos durante o processo de reconquista 
cristão dos territórios então ocupado pelos árabes. O instituto da sesmaria foi 
transposto para os territórios conquistados (como de resto toda a estrutura 
jurídica portuguesa), sendo o grande mecanismo de viabilização do processo de 
apropriação do território brasileiro. Do mesmo modo que as terras conquistadas 
aos mouros na península ibérica, a Coroa portuguesa tomou posse do território 
brasileiro por aquisição originária, ou seja, por direito de conquista, 
considerando as terras brasileiras como terras virgens, sem qualquer senhorio 
ou cultivo anterior, permitindo à Coroa repassá-las a terceiros, assegurando com 
isto a colonização (ABREU, 1997, p. 203-204) 
 
Verbete 
 
Aquisição Originária é uma concepção de domínio utilizada pelos portugueses 
para legitimar sua colonização. A ideia é um pouco parecida com o que 
conhecemos atualmente como usucapião, onde quem fica por determinado 
tempo em algum lugar pode reivindicar posse sobre tal. 
 
Fim do Verbete 
 
As capitanias eram instituídas e concedidas por cartas de doação e confirmadas 
e regulamentadas por forais. Os capitães-mores não eram proprietários, mas 
delegados lusitanos com amplos poderes que podiam ser transmitidos 
hereditariamente. Para o nosso interesse aqui duas de suas atribuições eram 
importantíssimas: o de conceder terras e o de criar vilas (MARX, 1991, p. 32). 
 
Início de Boxe Explicativo 
 
Cartas de Foral 
 
Quando da implantação do regime de capitanias hereditárias na história do 
Brasil, a Carta de Foral regulava os direitos e deveres que o Capitão-donatário 
passava a ter em virtude da Carta de Doação recebida. Entre estes, visando a 
adequada exploração das terras, relacionam-se: 
 
• Criar vilas e distribuir terras a quem desejasse cultivá-las; 
• Exercer autoridade no campo judicial e administrativo; 
• Escravizar os indígenas para o trabalho na lavoura; 
• Receber a vigésima parte dos lucros sobre o comércio do pau-brasil; 
• Entregar 10% do lucro sobre os produtos da terra à Coroa; 
• Entregar 20% dos metais preciosos encontrados à Coroa; 
• Observar o monopólio régio do pau-brasil 
 
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Carta_de_Foral#No_Brasil 
 
Final de Boxe 
 
Com o início da colonização outra prática portuguesa de controle territorial foi 
também utilizada no Brasil, um sistema municipal de base urbana, cujas 
manifestações materiais foram o arraial (ou povoado), a vila e a cidade. Destes, 
apenas o arraial tinha origem espontânea, pois era resultante do agrupamento 
de famílias em algumas residências - chamadas fogos - que apresentavam certa 
contiguidade e unidade formal (ABREU, 1997, p. 213). 
 
Verbete 
 
Maurício de Almeida Abreu (1948-2011), foi professor da UFRJ, titular da 
disciplina de Geografia Urbana e autor do clássico sobre a cidade do Rio de 
Janeiro “Evolução Urbana do Rio de Janeiro” e do recente “Geografia Histórica 
do Rio de Janeiro (1502-1700), dentre outras obras. Foi alterando suas 
pesquisas da geografia urbana para a geografia urbana histórica, tendo sido um 
dos expoentes da Geografia Histórica brasileira. 
 
Para maiores detalhes acesse a página dedicada ao seu trabalho: 
http://mauricioabreu.com.br 
 
 
 
Fonte: Museo Del Tratado, Tordesilhas, Espanha. Fev/2008 - 
http://mauricioabreu.com.br/ 
 
Original em: http://mauricioabreu.com.br/index.php 
 
Fim do Verbete 
 
Já as vilas resultavam da decisão de donatários e governadores, que tinham 
poder para criá-las, ou de ordem real para elevação de algum arraial a essa 
categoria. A criação de cidades, no entanto, era um atributo exclusivo da Coroa, 
que por isso eram chamadas de cidades reais (ABREU, 1997, p. 214). 
 
Porém o status de vila não diminuía a importância de um centro urbano. Tanto 
nas vilas, quanto nas cidades, estava a sede de um governo local. Em ambas 
fazia-se justiça em nome do rei, prerrogativa que se materializava 
obrigatoriamente na paisagem urbana pela edificação de um pelourinho.Também possuíam um termo, ou área de jurisdição, dentro da qual se situavam 
os arraiais e um patrimônio fundiário: as terras do Conselho (ABREU, 1997, p. 
214-215). 
 
Boxe Explicativo 
 
Pelourinho 
 
O pelourinho, também conhecido como picota, era um instrumento de jurisdição 
comum em Portugal. Era colocado em lugar público em cidades e vilas para que 
ali fossem punidos os criminosos sob os olhos do povo. 
 
 
Figura 2.1– Pelourinho de Alcântara/MA 
Fonte: Foto de Marcelo Werner da Silva tirada em 22 de fevereiro de 2010. 
 
Fim do Boxe Explicativo 
 
Ao se fundar um novo município (vila ou cidade), a delimitação de seu termo, ou 
seja, de sua área, era uma das primeiras providências e talvez uma das mais 
delicadas, tendo em vista os interesses diretos dos habitantes e dos 
concessionários de terra em toda a região. Havia outras exigências, como a de 
estipular a localização da casa de câmara e cadeia e a do pelourinho, ficando 
também estipulado a área comum da vila, de seu logradouro público, de seu 
rossio (MARX, 1991, p. 67-68). 
 
Boxe de explicação 
 
Termo e Rossio 
 
“No ato de elevação a vila, atribuía-se a cada um dos concelhos um termo e um 
rossio. O termo era todo o território de jurisdição da municipalidade onde podia 
haver vários bairros e paróquias. O rossio designava os terrenos cedidos pela 
Coroa, por meio de carta de foral, para constituir patrimônio da municipalidade. 
O rossio era de usufruto comum, podendo ser utilizado para pastos, plantações 
e obtenção de lenha. Servia ainda de reserva para futura expansão da vila, seja 
para moradia ou para abertura de caminhos e praças. Competia aos edis da 
Câmara parcelar o rossio e arrendar datas de terra aos moradores mediante o 
pagamento de um imposto anual, o foro”. (DERNTL, 2010, p. 74). 
 
Final do boxe de explicação 
 
Com o progredir do povoamento, a Coroa preocupou-se em garantir terras para 
as vilas a serem criadas. Passou-se então a incluir nas cartas de sesmaria, a 
partir do início do século XVIII, a cláusula que garantia à Coroa eventualmente 
criar vilas nestas áreas sem encargo nem pensão para o sesmeiro, ficando 
também livre de ônus a terra que se destinasse ao conselho municipal (Abreu, 
1997, p. 216-217). 
 
Verbete 
 
Sesmeiro é um termo que mudou de sentido na colonização brasileira em relação 
à Portugal. Lá o sesmeiro era quem concedia terras e no Brasil era o beneficiário 
da concessão, aquele que recebia as terras, para cultivar ou para morar. 
 
Final de Verbete 
 
Portanto, por esses mecanismos as câmaras municipais dispunham de grandes 
quantidades de terra. Porém, com o tempo, esse patrimônio fundiário foi sendo 
diminuído, seja por venderem terras de seu patrimônio (ao invés de aforá-las), 
por remirem foros, ou por apropriação por particulares, fato facilitado pela falta 
de demarcação oficial do patrimônio público ou pelo pouco zelo dos oficiais da 
Câmara (ABREU, 1997, p. 238). 
 
Além das sesmarias de terras cedidas a particulares para fazer lavouras e criar 
gado, e das sesmarias dadas aos conselhos para patrimônio municipal, os 
representantes da Coroa (donatários, governadores, capitães-mores, etc.) 
também doaram as sesmarias de chãos. Estas eram doações de solo aos 
moradores dos núcleos urbanos para construção de casas de moradia e quintais 
(ABREU, 1997 p. 218). 
 
Ao contrário das sesmarias de terras, as doações de chãos não estavam sujeitas 
ao dízimo. Com o correr da colonização muitos governos locais tentaram impor 
foros a esses chãos alodiais, dando origem a inúmeras demandas judiciais, 
graças às quais, hoje podemos recuperar diversas informações sobre o Brasil 
urbano do passado (ABREU, 1997, p. 219). 
 
Boxe de explicação 
 
Alodial é a propriedade imóvel livre de foros, vínculos ou ônus (GRANDE 
ENCICLOPÉDIA LAROUSSE CULTURAL, vol. 1, p. 211) 
 
Final de Boxe de explicação 
 
1.1 – A Importância da Igreja para a urbanização brasileira 
 
Outro tipo de áreas que deram origem a vilas foram os patrimônios religiosos. 
Para que fossem instaladas capelas e que estas contassem com assistência de 
um padre, os proprietários de terras doavam uma área, que pudesse ser utilizada 
pela Igreja como sustento daquela capela. Essa doação era feita ao padroeiro, 
que, através de uma irmandade, aforava aos colonos as terras recebidas 
(patrimônio religioso). Garantia-se assim uma renda regular à capela, condição 
que o juízo eclesiástico exigia para que os serviços religiosos pudessem ser 
oferecidos com a regularidade e decência exigidos pelas leis canônicas. Da 
repartição desses patrimônios surgiram pequenos arraiais, sendo que os que 
prosperaram tornavam-se freguesias, chegando muitos a serem elevados à 
categoria de vilas (ABREU, 1997, p. 233-234). 
 
 
 
 
 
 
 
Boxe de curiosidade 
 
Santos e Terras 
 
Orago é o santo que dá nome a uma capela, a um templo ou uma freguesia, no 
entanto, no Brasil Colônia eles receberam uma atribuição bastante inusitada, 
como podemos ver na imagem abaixo: 
 
 
 
Figura 2.2 -Manuscrito de 1873, arquivado no cartório mais antigo de Ponta 
Grossa, registra a doação de uma grande área nas margens do Rio Tibagi à 
irmandade de São Sebastião. Na época, o terreno foi comprado por 950 mil réis 
Fonte: Arquivo do Cartório de Ponta Grossa 
 
O fato é que a abundância de terras e a devoção católica levaram muitas famílias 
abastadas que povoaram o Brasil até o século 19 a doar parte de seus 
patrimônios aos santos prediletos, em troca do perdão de um pecado ou em 
retribuição a um pedido atendido. O costume, trazido pelos portugueses, faz com 
que, acredite se quiser, ainda hoje a Igreja Católica receba valores por ocasião 
da venda desses terrenos. 
 
Caso queira saber mais sobre isso, veja, no link abaixo, reportagem sobre o 
assunto: 
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1116989 
 
Final de boxe de curiosidade 
 
Aos grandes concessionários de terra era interessante ceder essas terras, pois, 
além de terem acesso aos serviços religiosos, também se beneficiavam pela 
instalação de populações despossuídas de terras, que podiam assim produzir e 
consumir (MARX, 1991, p. 36, 38). 
 
Verbete 
 
Murillo Marx (1945-2011) foi professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo 
da USP . De 1989 a 1999, publicou livros que abordam com profundidade a 
urbanização do Brasil, como Nosso chão, do sagrado ao profano (1989), Cidade 
no Brasil: Terra de quem? (1991) e Cidade no Brasil: Em que termos? (1999). 
 
 
Fonte da imagem: Jornal da USP 
 
Original em:https://bibfauusp.files.wordpress.com/2011/05/murillo-marx.jpg 
 
Final de verbete 
 
Portanto aqueles núcleos que não eram atendidos pelo poder instituído, eram 
atendidos pela Igreja. A institucionalização da vida dessas comunidades ocorria 
com a oficialização de sua ermida, de sua visitação por um cura (pároco), 
elevação esta que significava a ascensão de toda uma região ao novo status de 
paróquia ou freguesia. 
 
Verbete 
 
Na hierarquia religiosa existem as Catedrais, as Igrejas e as Capelas (ou 
ermidas), que é um pequeno templo localizado em lugares mais afastados. 
 
Fim do Verbete 
 
Boxe de Curiosidade 
 
A construção de ermidas, capelas e capelas curadas eram regulamentadas pelas 
Constituiçõens primeyras do arcebispado da Bahia, redigidas em 1707 e 
publicadas em 1719. A importância deste documento se estendeu durante todo 
os períodos colonial e imperial, com implicações de suas normativas chegando 
até aos dias atuais. Tais normas impunham ou recomendavam a localização 
ideal para a construção dos templos, que deviam estar em “lugares decentes e 
acomodados”, significando com isso que estivem em locais altos e livre de 
umidade e longe “...quanto for possível, de lugares immundos, e sordidos...” 
(MARX, 1991, p. 22). 
 
Portanto, o costume da edificação de igrejas em locais elevados (verfig. 2.3) 
transcendia a lógica, tradição ou vontade plástica. Obedecia na verdade a uma 
legislação clara, que se não cumprida poderia impedir a aspiração dos 
moradores por uma capela. 
 
 
Figura 2.3 – Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Cairú/BA. 
Fonte: Foto de Marcelo Werner da Silva (07.02.2012) 
 
Fim do Boxe de curiosidade 
 
Com a construção da “capela”, o local transforma-se em paróquia, cujo nome 
corriqueiro tradicional era freguesia, que era a menor unidade da organização 
eclesiástica, como que a sua unidade territorial (Marx, 1991, p. 26-27). Portanto, 
o forte fervor religioso do povo brasileiro proporcionou a base para o surgimento 
de inúmeras aglomerações urbanas. 
 
Nas imagens a seguir vemos o modo como surgiram e cresceram muitos núcleos 
urbanos no Brasil, partindo de patrimônios religiosos e paulatinamente 
incorporando população e atividades características da vida urbana.
 
Figura 2.4 – A criação de aglomerados urbanos a partir da instalação de 
patrimônios religiosos 
Fonte: Marx, 1991, p. 42-43; 78-79; 110-111. 
 
1.2 A organização espacial dos núcleos urbanos coloniais 
 
1.2.1 O sistema social da Colônia e o papel das vilas e cidades 
 
Para situar a formação de cidades e vilas coloniais há que abordar o arcabouço 
institucional que condicionou toda a vida da colônia brasileira e por consequência 
também o seu desenvolvimento urbano. Aí se inclui o que Reis Filho (1968) 
chama de “sistema social da colônia”, esse era constituído pelos organismos 
criados pela coroa portuguesa para administrar sua colônia brasileira, 
destacando-se sua organização político-administrativa. 
 
A falta de sucesso da maior parte dos donatários das capitanias hereditárias do 
início da colonização fez o governo português estabelecer um governo-geral em 
1549, em Salvador, que é fundada com o intuito de ser a capital da colônia. 
 
O controle e a coordenação militar e administrativa das capitanias é então 
centralizado pelo governo-geral, que desta maneira coíbe os abusos de uma 
colônia que se transformava em uma terra sem lei, pois cada donatário tinha 
poderes quase absolutos somente em sua capitania, facilitando a impunidade e 
o banditismo. Capitanias que não tiveram implantação satisfatória acabam sendo 
retomadas pela Coroa, surgindo a figura das “cidades reais”, estabelecidas em 
áreas sob jurisdição direta do governo-geral. 
 
O governo geral era composto pelo Governador-geral, pelo Ouvidor Geral, 
responsável pela aplicação da justiça, o Capitão-Mor, que cuidava da questão 
militar e o Provedor-Mor, que era responsável pela área fazendária. 
 
Ao lado desse governo-geral havia uma organização municipal que atuava em 
bases locais através do estabelecimento de vilas e cidades, que funcionavam 
como pontos de controle do território colonial. Portanto, eram apenas duas as 
instâncias de poder, com a base municipal se reportando diretamente ao 
governador-geral, inexistindo os atuais Estados ou as Províncias surgidas após 
a Independência. 
 
A estrutura urbana fornecia a base física e legitimadora do poder estatal 
português, garantindo a extração do excedente sobre a produção da colônia. O 
segredo português foi formar uma organização estatal burocrática que reunia os 
proprietários rurais (os chamados homens bons), concedendo-lhes uma 
autonomia que garantia sua subordinação direta à Coroa. As elites 
administrativas eram recrutadas dentro dos quadros latifundiários, não existindo 
uma elite administrativa que se perpetuasse nos cargos da Câmara. Garantia-se 
deste modo a cooptação das elites coloniais (ZANCHETI, 1986, p. 13). 
 
Neste aspecto a cidade também era o centro da violência estatal, pois nela se 
centralizavam as forças militares. A empresa colonial não teria êxito sem um 
sistema repressivo complexo, não apenas físico, mas também psicológico e 
ideológico. 
 
A Igreja cumpria o papel ideológico e psicológico fundamental de criar a ideia de 
colono, de desbravador e agente da civilização para os homens brancos, ou seja, 
de papéis sociais compatíveis com o sistema econômico implantado. Tal atuação 
era facilitada pelo virtual monopólio da educação que a Igreja detinha. Com a 
união Estado-Igreja, onde o Estado estivesse ausente ele era substituído pela 
Igreja, conforme já vimos. 
 
Por outro lado, a base econômica que se estabeleceu era rural, através de uma 
produção extensiva, através de grandes latifúndios, voltada para a produção de 
açúcar para o mercado externo, com a classe social dominante sendo formada 
pelos proprietários rurais. 
 
Ao lado desta classe dominante de grandes proprietários produtores de açúcar 
e dos excluídos sem voz, que eram os escravos negros e indígenas; havia as 
atividades econômicas urbanas e seus atores (comércio, ofícios mecânicos, 
funcionalismo, mineração), uma classe intermediária que era mantida sob 
controle através do citado aparato ideológico-repressivo (ZANCHETI, 1986, p. 
20-21). 
 
Essa massa de excluídos realizavam revoltas esporádicas: rebeliões de tropas 
pelo atraso de pagamentos, da população livre contra a carestia de vida e de 
escravos contra sua própria situação. Porem essas revoltas eram contra as 
condições de vida e não contra o sistema em si (VASCONCELOS, 1997, p. 267). 
 
Por estas informações, compreendemos a exata noção do que era o Brasil no 
período colonial. Não havia a perspectiva da contraposição Brasil versus 
Portugal. As classes dominantes, inseridas no modelo econômico sentiam-se 
parte da tradição lusa. Já os excluídos, negros, indígenas e mesmo homens 
livres, por esta mesma condição, buscavam sobreviver como podiam em um 
mundo que não lhes reservava espaço. Sua revolta era quanto ao seu status 
quo, pois não tinham o sentido de participação. 
 
Compreende-se assim a colocação de Novais (1997), para quem o termo mais 
exato para denominar o período colonial, seria o de América portuguesa, ao 
invés de Brasil-Colônia. 
 
Portanto esse era o sistema social da colônia, do qual é importante guardar que 
ao lado do Governo-Geral, centralizado na capital Salvador e depois no Rio de 
Janeiro, somente havia o governo local instalado nas vilas e cidades e controlado 
pelos latifundiários locais. 
 
1.2.2 A relação campo x cidade no período colonial 
 
Como já visto as vilas e cidades do período colonial eram importantes como 
ponto de controle do território, mas tinham que enfrentar o que Azevedo (1994) 
chamou de “anti-urbanismo do período colonial”, ou seja, a tendência da vida da 
colônia concentrar-se no campo, em detrimento das cidades. As tentativas de 
edificar vilas para que o poder colonial ampliasse a sua atuação, muitas vezes 
esbarrava na resistência dos moradores. Vianna (1933, p. 350) relata que, em 
uma tentativa de reunir “moradores dispersos”, em 1879, levou o capitão-mor de 
Iguape a obrigar os moradores “a construir cada um uma casa na cidade, em 
vista ‘dos poucos moradores que haviam nella’, sob pena de 10 cruzados”. 
 
Surge o que Oliveira Viana chama de “homo coloniais”, assim caracterizado por 
ele: amante da solidão e do deserto, rústico e anti-urbano, fragueiro e 
“dendrófilo”, que evitava a cidade e amava o campo e a floresta, a própria figura 
do bandeirante. Daí o “complexo do sertão” que o dominava, o gosto pelo 
insulamento....”. Para ele os paulistas primitivos (mas que podemos ampliar para 
todos os habitantes do período) residiam em uma vila, mas não eram urbanos. 
Eram puros agricultores aldeados, que deixavam suas casas fechadas para irem 
trabalhar nos campos (Oliveira Viana citado por Azevedo, 1994, p. 68). 
 
Portanto, de modo geral, o aglomerado ou vilarejo era sempre mesquinho na sua 
estrutura e na sua população, o núcleo urbano sendo sempre centrífugo para as 
classes dominantes, pois os homens de posse evitavam morar neles. As 
exceções a esta regra seriam os arraiais e vilas de mineração, os centrosmercantis da costa e o caso particular de São Paulo, pois grande parte de seus 
habitantes trabalhava na área circunjacente, e que contava com muitos “oficiais 
mecânicos” entre seus moradores (AZEVEDO, 1994, p. 68). 
 
Nas cidades e vilas residiam apenas alguns funcionários da administração, 
oficiais mecânicos e comerciantes em geral. À pujança dos domínios rurais se 
opunha a mesquinhez da vida urbana, sendo frequente o descuido com que 
tratavam as habitações da cidade, por parte daqueles que preferiam viver no 
campo (AZEVEDO, 1994, p. 68). 
 
1.2.3 Fatores locacionais das vilas e cidades coloniais 
 
O núcleos urbanos coloniais surgiam devido a diversas causas, a fatores 
geográficos que possibilitaram ou facilitaram sua instalação. Autores clássicos 
como Aroldo de Azevedo (1957) e Pierre Deffontaines (1944) trataram desse 
assunto, que diz respeito à posição e situação, cuja explicação pode ser 
encontrada na aula 1. 
 
Inicialmente tiveram papel importante as feitorias, os mais remotos embriões de 
aglomerados urbanos brasileiros. Depois delas, tivemos as vilas e cidades do 
século XVI, que além de serem litorâneas e serem naturalmente pequenas, 
refletiam em seus sítios urbanos a preocupação com a defesa, seja dos índios, 
seja do invasor estrangeiro, possuindo então núcleos urbanos fortificados, ainda 
que no século XVI estas fortificações não passem de rústicas e modestíssimas 
defesas. Tal é o caso de Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo no século XVI e 
São Luís do Maranhão, no século XVII (AZEVEDO, 1994, p. 59). 
 
Além deste fato, a Metrópole (Lisboa) se viu obrigada a construir uma verdadeira 
rede de fortificações, para defender a costa brasileira, que deram origem a 
inúmeros aglomerados urbanos, como Rio Grande, Bertioga, Rio de Janeiro, 
Salvador, São Cristóvão, Recife, Paraíba, Cabedelo, Natal, Fortaleza, São Luís, 
dentre outras (AZEVEDO, 1994, p. 59). 
 
 
Boxe Multimídia 
 
Hans Staden 
 
Caso você se interesse por saber como era a vida nesses povoados 
“fortificados”, um belo livro para ler é o Duas Viagens ao Brasil, de Hans Staden. 
O livro é uma narrativa sobre a vida do autor em terras brasileiras por volta de 
1555~1560. Parte do livro fala sobre sua vida na fortificação de Bertioga, 
tentando defender o povoado dos tupinambás. Já a outra parte é sobre como ele 
é capturado, tendo que viver como prisioneiro entre os índios, testemunhando 
rituais antropofágicos enquanto aguardava sua vez para ser devorado. 
 
O livro é um dos grandes clássicos da literatura sobre o Brasil e é 
recomendadíssimo para quem se interessa por esse período. Em Staden temos 
uma narrativa fantástica que envolve choques culturais, aventuras e 
religiosidade de um jeito único. 
 
Fim do boxe multimídia 
 
Papel importante na localização das aglomerações urbanas foi desempenhado 
pelos cursos d’água e das vias terrestres, que passavam a ser determinantes na 
escolha dos sítios urbanos. A localização junto a um curso d’água atendia ao 
fornecimento de água para o uso doméstico, facilidade de obtenção de alimento 
através da pesca, vantagens no contato regional e no caso específico das áreas 
de mineração, a presença de ouro e pedras preciosas no cascalho dos leitos 
fluviais. 
 
Em um país tão extenso, a possibilidade de contar com meios de comunicação 
se tornava em fator essencial, localizando-se então os aglomerados urbanos nas 
vias naturais de passagem e ao longo dos precários caminhos da época colonial, 
tornando-se estes a espinha dorsal da rede urbana. Foram pousos de viajantes, 
em consequência, o tipo mais comum de embriões de cidade em largo período 
de nossa vida colonial e até mesmo durante o Império, o que lhes valeu o lugar 
de destaque que ocupam no relato da maioria dos viajantes estrangeiros do 
século XIX (AZEVEDO, 1994, p. 60). 
 
Atividade 1 – Atende ao objetivo 1 
 
Procure refletir a quais funções atendiam os aglomerados urbanos durante o 
período colonial. 
 
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Resposta comentada: 
 
Pelo texto pode-se perceber que as cidades e vilas eram onde estava instaladas 
as funções de comando da colônia (câmara) e onde estavam instaladas as 
igrejas. Portanto atendiam, principalmente, as funções políticas, de controle do 
território e as funções culturais e religiosas, sem esquecer as funções comerciais 
sempre muito importantes quando se fala de aglomerados urbanos. 
 
Fim da resposta comentada 
 
Já em fins do século XVI surgem os primeiros arraiais abertos pelos 
bandeirantes, que eram autorizados pelas Instruções Régias a fundá-las a uma 
distância mínima de 50 léguas, uns dos outros, garantindo a segurança dos 
caminhos (AZEVEDO, 1957, p. 45-51). 
 
A descoberta do ouro em Minas Gerais no século XVIII serviu como um grande 
incentivo para a vida urbana e para a implantação de arraiais. Nas regiões das 
minas as cidades eram consideradas como locais de segurança, sendo que a 
colonização mineira se apresentou essencialmente sob a forma de uma 
civilização urbana, ao contrário das demais áreas, como já visto no tópico 1.2.2. 
A exploração mineira gerou uma ativa circulação, de metais preciosos para a 
costa e de produtos de consumo para as regiões mineiras, circulação que, por si 
própria, foi criadora de aglomerações (DEFFONTAINES, 1944, p. 44). 
 
Independentemente de como as aglomerações urbanas coloniais surgiram, é 
importante destacar que, ao final do período colonial, com mais de trezentos 
anos de colonização, contava o Brasil com tão somente 219 núcleos urbanos, 
entre vilas e cidades. 
 
2 - O plano urbano das vilas e cidades coloniais 
 
2.1 - Diferenças entre o plano urbano das cidades coloniais 
portuguesas e espanholas 
 
Para entender como se organizavam espacialmente os núcleos urbanos 
coloniais, é importante discutir as formas de construir e planejar cidades das 
Américas espanhola e portuguesa. 
 
No livro “Raízes do Brasil”, Sérgio Buarque de Holanda compara os dois 
processos chamando os espanhóis de “ladrilhadores” e os portugueses de 
“semeadores”. 
 
A comparação surge do fato de que o autor considerava o esforço de colonização 
empregado pelos espanhóis, mais empenhado e organizado, chamando-os 
então de “ladrilhadores”. Já a urbanização portuguesa aparentava ter sido feito 
ao acaso e com descaso e portanto não obedecendo, aparentemente a nenhuma 
legislação, daí a expressão “semeadores”. 
 
Tal visão, vigente durante muito tempo, é contestado por autores como Murilo 
Marx e Maurício de Almeida Abreu, que em seus estudos mostram que havia sim 
uma legislação portuguesa sobre o urbanismo brasileiro e que esta legislação 
condicionou muito a evolução principalmente dos grandes núcleos coloniais, 
como Rio de Janeiro e Salvador, como veremos adiante. 
 
2.2 - A organização espacial dos núcleos urbanos coloniais 
 
Feita essa introdução, podemos ver agora como os núcleos urbanos coloniais 
se organizavam espacialmente e como enfrentaram os desafios da 
regulamentação urbanística. 
 
A medida que cresciam núcleos urbanos colônias, uma maior regulamentação ia 
se fazendo necessária por parte das câmaras. Estas assumiam a forma de 
posturas, recomendações referentes a autorizações de construções, 
arruamentos, alinhamentos, etc. (REIS FILHO, 1968, p. 118-119). 
 
Oscentros urbanos de maior porte, geralmente de responsabilidade da Coroa, 
contavam quase sempre com a presença de arquitetos e engenheiros militares, 
o que não garantia melhor resultado, tendo em vista a modéstia da vida urbana 
colonial e o sentido pragmático da administração portuguesa, que procurava 
resolver os problemas a medida que surgiam, sem uma política clara de 
intervenção urbana (REIS FILHO, 1968, p. 119). Portanto, estas posturas, 
imposições de alinhamento, dentre outras proibições, nem sempre eram 
cumpridas. Somente em meados do século XVIII, se estabeleceria um controle 
mais eficaz sobre as construções urbanas, reflexo da política centralizadora 
imposta pela metrópole portuguesa. 
 
O tráfego das ruas era basicamente de pedestres e cavaleiros, sendo o 
transporte de cargas realizado pelas vias que ligavam as entradas da povoação 
aos locais de feira ou mercado. 
 
As praças eram os locais de uso comum, pontos de atenção e de focalização 
urbanística, concentrando os edifícios principais, oficiais ou religiosos e onde 
eram realizadas as principais atividades urbanas, como reuniões religiosas, 
cívicas e recreativas, além das atividades comerciais como feiras e mercados. 
 
A partir do século XVIII, em função do comércio e da (modesta) produção 
manufatureira, as ruas passam a ser também locais de permanência, de contato 
e discussão. As ruas, praças e casas, passam então a ser construídas para 
serem vistas e por este motivo, sendo objeto de maiores cuidados. 
Desenvolvem-se então ruas comerciais, principalmente nos centros maiores, 
que aos poucos vão adquirindo funções outrora exercidas apenas pelas praças. 
 
As ruas e praças quase nunca eram calçadas, apenas com o aumento de 
movimento é que passavam a receber cuidados neste sentido. De tempos em 
tempos, eram providenciados alguns calçamentos, especialmente das ladeiras, 
mas com grandes sacrifícios por parte da municipalidade. 
 
Com a progressão da urbanização, as questões referentes ao calçamento e 
conservação passam a ser uma das principais preocupações das câmaras, 
inclusive com a designação de funcionários especialmente para cuidar dessas 
questões, como foi o caso de Salvador, em fins do século XVII. 
 
As regulamentações das câmaras também tratavam de questões relativas ao 
alinhamento, nivelamento e largura das ruas, que eram precários e irregulares, 
tendo em vista serem feitos por meio de instrumentos rudimentares de 
navegação. Os profissionais encarregados desta função eram os arruadores e 
posteriormente engenheiros. Havia também um livro de registro de arruamentos, 
que estipulava penas para construções irregulares. 
 
As ruas eram estreitas, até muito estreitas, tendo em vista os padrões atuais. O 
alinhamento e o nivelamento, assim como a largura das ruas eram 
extremamente precários, variando às vezes de uma quadra para outra de uma 
mesma rua. 
 
 
Figura 2.5– Rua de Tiradentes/MG em que se pode observar o calçamento 
original do período colonial 
Fonte: Foto de Marcelo Werner da Silva (30.05.2014) 
 
Ao iniciar-se o século XVIII, “...a rua já se transformara no local para o qual os 
colonos se voltavam cerimoniosamente, oferecendo-lhe o melhor de suas casas, 
de suas roupas, e do qual cada um procurava ocultar suas fraquezas, 
insuficiências e intimidades” (REIS FILHO, 1968, p. 148). 
 
As quadras, quando totalmente edificadas, compunham-se de uma linha 
contínua de construções, dos lados das ruas, com um grande vazio constituído 
pelos quintais na parte interior. Portanto, havia a contradição entre o vazio dos 
quintais e a aparência de grande concentração das vias urbanas. As dimensões 
das quadras variavam, mas em média comportavam oito lotes. Os telhados das 
casas eram de duas águas e as lançavam para a rua e para o interior dos lotes. 
 
 
Figura 2.6 –Planta da cidade de Salvador em 1625. Pode-se observar, no centro, 
as construções junto à rua e os pátios internos das quadras 
Fonte: Domínio Público 
 
Persistiram durante todo o período colonial os mesmos esquemas de 
parcelamento do espaço urbano originários do urbanismo medieval português. 
Ao observarem-se as vilas e cidades do período colonial, estas apresentavam a 
mesma aparência de concentração, com as casas se estendendo em filas 
contínuas (REIS FILHO, 1968, p. 150). 
 
Os bairros que surgiam, muitas vezes com tipos diferenciados de habitações ou 
de usos, constituíam já formas incipientes de zoneamento dos núcleos urbanos 
coloniais. A partir deles é que se constituiriam, com o tempo, as ruas com funções 
especializadas, que tinham o nome das atividades aí exercidas, como Ourives, 
dos Ferreiros, da Quitanda, etc. Tais denominações estariam a indicar a 
crescente utilização do espaço urbano pelos oficiais mecânicos e pelo comércio, 
e, ao mesmo tempo, a progressiva especialização das atividades de seus 
moradores, o que pode ser tomado como índice de intensificação da urbanização 
(Reis Filho, 1968: 152). 
 
 
Figura 2.7 – Rua da Quitanda, no centro de São Paulo, que mantém a antiga 
nomenclatura 
Fonte: Foto de Leandro Pinto 
 
Até o século XVII, os padrões das construções urbanas refletiam a simplicidade 
e a modéstia da vida urbana dos primeiros tempos da colonização. A partir da 
segunda metade do século XVII, surgem grandes transformações, pelo novo 
papel desempenhado pelo Brasil na sustentação da economia colonial 
portuguesa. Aparecem então, construções “monumentais” a simbolizar os novos 
tempos (REIS FILHO, 1968, p. 153). 
 
Para encerrar essa parte, é importante salientar alguns pontos. Em primeiro lugar 
o rígido sistema de controle montado por um pequeno país como Portugal e 
capaz de controlar um território continental como o brasileiro. A mistura em doses 
corretas de centralização e concessões às classes dominantes locais fez 
permanecer sob controle uma base enorme de excluídos composta por 
escravos, indígenas e homens livres. Em segundo lugar a constatação do 
poderio da Igreja católica na configuração das vilas e cidades brasileiras. São 
esses elementos de suma importância para o melhor entendimento do papel dos 
aglomerados urbanos durante o período colonial. 
 
3 – A evolução da rede urbana Brasileira no período colonial 
 
Na imagem abaixo aparece representada a progressão da ocupação do território 
brasileiro, bem como de sua urbanização. Devido a extensão do assunto, 
destacaremos apenas as dinâmicas mais importantes de cada período. No 
primeiro quadro temos o Brasil no século XVI, no segundo temos o Brasil no 
século XVII, no terceiro, temos o Brasil no Século XVIII e por último temos o 
Brasil no início do Século XIX: 
 
 
Figura 2.8 – A progressão do povoamento e da urbanização brasileira entre 
os séculos XVI e início do século XIX 
Fonte : TERRA LIVRE — AGB São Paulo nº 10 janeiro-julho92. 
 
Um dos traços comuns das vilas e cidades do século XVI é o fato delas 
concentrarem-se exclusivamente no litoral, com a única exceção da vila de São 
Paulo de Piratininga. Os motivos para isto eram vários, por exemplo, a 
necessidade de contato com Portugal, a barreira representada pelas escarpas 
do planalto brasileiro, o temor dos indígenas, etc. Neste século se delineiam duas 
áreas principais: uma região “vicentina”, no atual estado de São Paulo, com seis 
vilas e uma região “pernambucana” com quatro aglomerados urbanos (incluindo 
as cidades de Natal e Filipéia). 
 
Tal repartição geográfica reflete a realidade demográfico-econômica da época, 
pois é sabido que de todas as capitanias quinhentista apenas duas conseguiram 
prosperar, exatamente as de São Vicente e Pernambuco. Além destas áreas, a 
Bahia aparecia com quatro aglomerados, incorporando a cidade de Salvador, 
fundada para ser a sede do governo-geral. 
 
No segundo quadro temos o Brasil no século XVII. No século XVII a ocupação 
se concentrava especialmente em dois trechos do litoral: entre a cidadeda 
Paraíba e a vila de Ilhéus; e da vila de Vitória ao extremo norte do litoral 
catarinense. 
 
A concentração urbana se dava na região baiano-pernambucana, com base na 
economia açucareira e resultante em parte da luta contra os holandeses; e na 
região paulista-fluminense, girando em torno da vila de São Paulo e da cidade 
do Rio de Janeiro, devendo sua prosperidade à criação de gado e aos engenhos 
de açúcar no trecho fluminense, e ao preamento de índios, no trecho paulista. 
Além destas regiões, outras duas registravam certa concentração urbana: a 
região paraense e a região maranhense. 
 
Por outro lado, a fase inicial da conquista do planalto brasileiro, resultou na 
instalação de novas vilas na planície do médio Paraíba do Sul, na rota dos 
bandeirantes que demandavam às Minas Gerais, como também na zona dos 
campos da depressão paulista e no planalto de Curitiba. 
 
No terceiro quadro, referente ao século XVIII vemos que o processo de 
urbanização se desprende do litoral e passa a integrar largas porções do planalto 
brasileiro e da própria Amazônia. Ocorreu o povoamento da Chapada 
Diamantina, do vale médio do rio São Francisco, a expansão pastoril no sertão 
do Nordeste, a obra dos missionários na Amazônia e em menor escala, a 
influência do chamado “ciclo do muar” e da conquista de caráter militar no 
extremo sul. 
 
As vilas “bocas de sertão” chegam a fixar-se a 500 Km do litoral, particularmente 
em terra mineiras e baianas, chegando a mais de 1.000 Km em terras de Goiás 
e Mato Grosso. Na Amazônia, estes postos vanguardeiros atingiram a margem 
direita do baixo Javari, na atual fronteira com o Peru, dois mil quilômetros 
continente adentro (AZEVEDO, 1994, p. 41). 
 
Dentre as áreas de mais intensa urbanização no século XVIII, duas se 
destacavam por apresentarem uma relativa continuidade: 1) uma região “baiano-
nordestina”, 2) a região “paulista-mineiro-fluminense”, estendendo-se desde a 
foz do rio Doce até a ilha de São Francisco, em Santa Catarina, com maior 
penetração na área áureo-diamantífera de Minas Gerais e no planalto paulista-
paranaense. 
 
Apesar da intensa urbanização do Nordeste, assiste-se no século XVIII ao 
deslocamento do eixo econômico, social e demográfico da então colônia, devido 
à descoberta de metais preciosos na região das Minas Gerais, passando a 
cidade do Rio de Janeiro a ser o centro da vida colonial em detrimento de 
Salvador. Observa-se então um verdadeiro surto urbanizador em Minas Gerais, 
com a fundação de nada menos que oito vilas no período de 1711 a 1718. 
 
De todos os centros urbanos deste período, dois podem ser destacados como 
paradigmáticos dos tipos diversos de aglomeração urbana: Rio de Janeiro como 
cidade-porto e Vila Rica como núcleo urbano surgido no planalto pela 
aglutinação de arraiais de mineradores (AZEVEDO, 1994, p. 50). 
 
 
Figura 2.9 – Vila Rica, atual Ouro Preto, uma das mais importantes cidades a 
surgirem por causa da descoberta do ouro (1820). 
Fonte: Domínio Público Arnaud Julien Pallière (Domínio Público) 
 
Boxe Multimídia 
 
Levando em conta que grande parte dos pintores a retratarem o Brasil vieram só 
após a chegada da família real, temos poucas imagens que mostrem a evolução 
urbana das cidades de forma satisfatória, porém no site 
http://portalgeo.rio.rj.gov.br/EOUrbana/, temos uma série de representações 
sobre o Rio produzidos pelo Instituto Pereira Passos da Prefeitura do Rio de 
Janeiro. 
 
Tais representações mostram linhas do tempo onde podemos ver a cidade 
crescendo ao passar dos anos, a experiência é muito divertida e esclarecedora. 
Por meio desse site podemos perceber o quanto a urbanização alterou o terreno 
original da cidade até chegar no ponto em que estamos hoje. 
 
Fim do Boxe Multimídia 
 
No quarto quadro, referente ao início do século XIX, concluímos esse apanhado 
sobre o processo de urbanização brasileiro. No momento da independência o 
país era formado por 12 cidades e 207 vilas, fortemente concentradas na antiga 
região Leste, onde se situava o “coração” do país, em um triângulo isósceles 
cujos vértices poderiam ser representados por Salvador, Rio de Janeiro e Vila 
Rica (AZEVEDO, 1994, p. 58). 
 
Para finalizar, ressaltamos algumas características introduzidas no panorama 
urbano brasileiro, entre o final do século XVIII e primeira metade do século XIX. 
A mineração começou a provocar mudanças na colônia brasileira. Ela estimulou 
o comércio interno e alterou o padrão de ocupação territorial, que passou a dar 
destaque aos núcleos urbanos. 
 
As ideias do Iluminismo, postas sob suspeição pelo Estado português e 
finalmente proibidas, geraram reflexões e discussões, dando origem a revoltas, 
como a Inconfidência Mineira, que foram duramente reprimidas. Também é deste 
período a revolução industrial inglesa, que gerou mudanças importantes no 
modo de produção mundial e que indiretamente afetaram nosso país. 
 
Nesta conjuntura tumultuada, ocorre um evento que vai alterar definitivamente o 
rumo da sociedade brasileira: a transferência do governo português para o Rio 
de Janeiro em 1808, devido a conjunturas políticas europeias e a invasão do 
território português por Napoleão, ocorrida no ano anterior. 
 
Do exposto constata-se que de uma ocupação litorânea, configura-se, no final 
do período colonial, a ocupação de praticamente todo o atual território brasileiro. 
Também se pode perceber que a criação de vilas e cidade atende a políticas de 
urbanização da colônia, conforme já visto. 
 
Atividade 2 – Atende ao objetivo: 2 
 
Quando se observa a ocupação do território nacional, se destacam alguns 
processos que fizeram a colonização ser basicamente litorânea. Quais os dois 
processos que iniciaram a interiorização da colonização e consequentemente da 
urbanização? 
 
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Resposta comentada: 
 
Em primeiro lugar a fundação de São Paulo, no planalto, que a partir dai 
promoveu a colonização a partir da procura por metais e pedras preciosas e 
índios para escravização. Em segundo lugar a descoberta de ouro em Minas 
Gerais, que fez com que um grande fluxo migratório e um conseqüente processo 
se urbanização se iniciasse. 
 
Fim da resposta Comentada 
 
 
4 - NÚCLEOS URBANOS NO BRASIL DO SÉCULO XIX 
 
A instalação da corte portuguesa no Rio de Janeiro, “uma cidade 
urbanisticamente pobre, habitada por uma maioria de população escrava, e 
destituída de confortos materiais” gera um “choque de temporalidades” devido à 
necessidade de adequá-la às novas funções que passa a desempenhar. Deste 
modo a cidade do Rio de Janeiro assume a vanguarda em se falando de 
problemas urbanos, e será a partir dela que a reflexão sobre a cidade vai se 
desenvolver no Brasil do século XIX, atingindo posteriormente outras partes do 
país (ABREU, 1996, p. 159). 
 
A partir do início do século XIX, dois tipos de reflexão urbana podem ser 
identificados no pais. Um deu continuidade ao pensamento dos engenheiros 
militares, que viam a cidade como espaço físico a defender, a prover de 
comodidades e de infraestrutura. Com o crescimento das cidades, essas 
também eram identificadas como territórios perigosos, “...onde a dissensão e a 
revolta se escondiam ou estavam latentes,um espaço que precisava, antes de 
tudo, ser vigiado e controlado pela polícia” (ABREU, 1996, p. 159). 
 
O segundo tipo de reflexão urbana era o pensamento higienista, para quem a 
população era um recurso que deveria ser preservado, cabendo ao Estado 
assegurar o seu bem-estar e segurança. Para isso propunha uma “polícia 
médica” para as áreas urbanas, ou seja, “...de uma política de saúde destinada 
a colocar os interesses coletivos acima dos individuais. Esses dois tipos de 
pensamento permearam grande parte da reflexão urbana do Brasil oitocentista, 
confundindo-se, muitas vezes, um com o outro” (ABREU, 1996, p. 159). 
 
Portanto, a partir da instalação da família real no Rio de Janeiro, o pensamento 
higienista introduz-se no país, tendo, no entanto, pouca repercussão e 
aplicações práticas, à exceção do aterro de pântanos. Somente com a instalação 
da Academia Imperial de Medicina, em 1835, é que o pensamento higienista se 
difunde pelo Brasil. As sucessivas epidemias de febre amarela e da cólera, que 
assolam o Rio de Janeiro a partir de 1850, tornam-na um laboratório para 
aplicação do saber médico da época (Abreu, 1996, p. 164-166). 
 
Com relação à engenharia militar, já no início do século XVIII foram criadas 
“Aulas de Fortificação e de Artilharia” no Rio de Janeiro e na Bahia. Porém, o 
ensino regular de engenharia só teve início em 1792 com a instituição da Real 
Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho no Rio de Janeiro, transformada 
em 1810 em Academia Real Militar do Rio de Janeiro. Entretanto, somente a 
partir da década de 1850 é que este saber começou a se destacar, com a 
introdução das estradas de ferro no país (Abreu, 1996, p. 170). 
 
 
4.1 - O crescimento da população brasileira no final do século XIX e início 
do século XX 
 
Apesar da dificuldade de realizar estimativas da população brasileira antes da 
realização de Censos Demográficos, o Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE) apresenta essas estimativas antes do primeiro Censo 
Demográfico Brasileiro realizado em 1872: 
 
 
Fonte:http://memoria.ibge.gov.br/sinteses-historicas/historicos-dos-
censos/censos-demograficos 
 
Já no Censo Demográfico Brasileiro de 1872 a população brasileira era de 
9.930.478 habitantes, sendo que aproximadamente 10% eram habitantes de 
cidades, o que se manteve no censo seguinte, de 1890, em que a população 
chega a 14,3 milhões de habitantes, sendo mais de 1,3 milhões de habitantes 
vivendo em cidades. Em 1900 a população chegava a 17,4 milhões de habitantes 
(IBGE, 2007). 
 
Em 1872 apenas três capitais brasileiras tinham mais de 100.000 habitantes: Rio 
de Janeiro (274.972), Salvador (120.109) e Recife (116.671). Belém contava com 
61.997 habitantes e São Paulo, apenas 31.385 pessoas. Em 1890 o Rio de 
janeiro chegou a 522.651 habitantes, Salvador contava com 147.412 pessoas e 
Recife contava com 111.536 pessoas. Acima de 50.000 habitantes apenas outras 
três cidades: São Paulo (64.934), Porto Alegre (52.421) e Belém (50.064). Em 
1900 já eram quatro as cidades com mais de 100.000 habitantes: Rio de Janeiro 
(691.565), São Paulo (239.820), Salvador (205.813) e Recife (113.106). Já 
Belém contava com 96.560 habitantes. Com aproximadamente 50.000 
habitantes estavam cinco capitais: Porto Alegre (73.674), Niterói (53.433), 
Manaus (50.300), Curitiba (49.755) e Fortaleza (48.369) (SANTOS, 2005, p. 23). 
 
De 1872 até o início do século XX a taxa de urbanização brasileira se manteve 
em torno de 10%. Em 1920 ela chegava a 10,7%, saltando para 31,24% em 1940 
(SANTOS, 2005, p. 25). Em números absolutos a população passa para 27,5 
milhões de pessoas em 1920, chegando a 41,2 milhões em 1940. 
 
Questão 3 – Atende ao objetivo 3 
 
As reflexões urbanas do século XIX se centravam na questão da teoria higienista 
e da engenharia militar. Que tipo de visão de cidade e dos problemas urbanos 
era disseminado a partir desses enfoques? 
 
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Resposta comentada: O pensamento dos engenheiros militares via a cidade 
como espaço físico a defender, a prover de comodidades e de infra-estrutura. 
Identificava cada vez mais a cidade como um território perigoso, onde a 
dissensão e a revolta se escondiam ou estavam latentes, um espaço que 
precisava, antes de tudo, ser vigiado e controlado pela polícia. Já o pensamento 
higienista defendia que cabia ao estado assegurar o bem-estar e a segurança 
da população urbana, mesmo contra a vontade dessas populações, defendendo 
até a existência de uma polícia médica. 
 
Fim da resposta comentada 
 
5 – As reformas urbanas do final do século XIX e início do século XX 
 
Com esse aumento e a necessidade de adaptar a cidade às novas funções 
capitalistas é que foram realizadas grandes reformas urbanas em várias cidades 
brasileiras. O protótipo dessas reformas é a Reforma Passos, ocorrida no Rio de 
Janeiro no início do século XX. Tratava-se de adequar a cidade “às necessidades 
reais de criação, concentração e acumulação do capital” (ABREU, 2006, p.56), 
ou seja, à expansão das atividades capitalistas na cidade, devido ao rápido 
crescimento da economia brasileira, ao aumento das exportações e consequente 
integração do país no contexto capitalista internacional (ABREU, 2006, p.56). 
 
 
Figura 2.10 – O prefeito Francisco Pereira Passos 
Fonte: Domínio Público 
Original em:http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pereira_Passos.jpg 
 
A reforma passos aconteceu durante o mandato do prefeito Francisco Pereira 
Passos, entre 1902 e 1906 e representou “a maior transformação já verificada 
no espaço urbano carioca até então, um verdadeiro programa de reforma 
urbana” (ABREU, 2006, p.60). 
 
 
Boxe Multimídia 
 
Caso você esteja curioso para saber como essas obras mudaram o rio, você 
pode visitar o link abaixo para ver um slide show (feito pelo professor Léo 
Rossetti) sobre a reforma Pereira Passos Com fotos mostrando o antes e o 
depois de uma das maiores reformas urbanas pelas quais o Rio de Janeiro 
passou no século XX. 
 
http://pt.slideshare.net/Leo_Rossetti/reforma-urbana-do-rio-de-janeiro-incio-do-
sculo-xx 
 
Francisco Pereira Passos foi engenheiro e prefeito da cidade do Rio de Janeiro 
entre 1902 e 1906, seu nome ficou marcado na história por ter sido responsável 
por uma reforma que visava transformar o Rio de Janeiro em uma cidade “digna 
de ser capital de uma República”, abandonando alguns traços coloniais em 
busca de modernidade. 
 
Fim do Boxe Multimídia. 
 
Entre seus objetivos estava a modernização do porto, a criação de uma capital 
condizente com a importância do país como principal produtor de café do mundo 
e que expressasse o modo de vida das elites econômica e política nacionais. Já 
haviam sinais de modernização, como o crescimento da cidade em direção à 
zona sul, a introdução de um meio de transporte elitista (automóvel) e de um 
meio de transporte público também moderno (bonde elétrico). 
 
Esses avanços contrastavam com a existência da área central ainda com 
características coloniais, com ruas estreitas e sombrias e a convivência entre as 
sedes do poder político com a existência de cortiços e a criação de animais 
(ABREU, 2006, p. 60). 
 
Uma das principais medidas da reforma foi o alargamento de várias ruas, Para 
isso a Prefeitura realizava desapropriações de mais prédios do que seriam 
necessários. “Visava com isso a venda dos terrenos remanescentes (e agora 
valorizados) após o término das obras, ressarcindo-se assim de grande parte 
dos seus custos” (ABREU, 2006, p.61). 
 
Outras medidasforam a adoção do calçamento asfáltico em várias ruas do 
bairros do Centro e dos bairros do Catete, Glória, Laranjeiras e Botafogo, pela 
primeira vez em que foi utilizado no país. Já os bairros de São Cristóvão e 
Engenho Velho tiveram ruas calçadas com macadame betuminoso. Já as áreas 
suburbanas não tiveram a mesma atenção (ABREU, 2006, p. 61). 
 
Para melhorar a acessibilidade da Zona Sul foi construída a Avenida Beira Mar, 
ligando o centro (Praia de Santa Luzia) a Botafogo, sendo construída em 
terrenos tomados ao mar e que tinha duas pistas de rolamento de nove em cada 
uma e um refúgio central de sete metros. Também foram realizadas várias obras 
de embelezamento da cidade: 
 
A Praça XV, o largo da Glória, o Largo do Machado, a Praça São 
Salvador, a Praça Onze de Junho, o Passeio Público e a Praça 
Tiradentes foram agraciados com estátuas imponentes e/ou tiveram 
seus jardins melhorados; as ruas do Centro, Botafogo e Laranjeiras 
passaram por um surto de arborização e as estradas do Alto da Boa 
Vista sofreram várias modificações. Além disso, foram construídos 
pavilhões arquitetônicos em determinados pontos da cidade (Pavilhões 
de Regatas e Mourisco em Botafogo, Vista Chinesa, Pavilhão do 
Campo de São Cristovão), além de um ‘teatrinho Guignol para a 
petizada’ na Praia de Botafogo. Deu-se início ainda à construção do 
Teatro Municipal em terreno adquirido pela Prefeitura (ABREU, 2006, 
p.61-63). 
 
A integração com Copacabana também foi promovida pelo poder público. O túnel 
do Leme foi inaugurado em 1906 e a Avenida Atlântica é construída no bairro, de 
início com apenas 6 metros de largura (ABREU, 2006, p. 63). 
 
 
Figura 2.11 - Pavilhão Mourisco na Av. Beira Mar, Botafogo, Rio de Janeiro, 1908 
Fonte: Casa Ruy Barbosa 
 
 
Figura 2.12- Avenida Beira-Mar, Botafogo, s/d 
Fonte: Casa Ruy Barbosa 
 
Também ocorreram preocupações com o saneamento e a higiene de alguns 
bairros da cidade, com vários rios sendo parcialmente canalizados. Também 
parte da Lagoa Rodrigo de Freitas foi saneada e o lixo urbano transferido para a 
Ilha de Sapucaia. Em nome da higiene e da estética combateu os vendedores 
ambulantes, proibiu a mendicância e demoliu uma série de cortiços (ABREU, 
2006, p. 63). 
 
Outras obras, não relacionadas com a administração Passos, modificaram 
profundamente a cidade do Rio de Janeiro naquele período. A principal delas foi 
a construção da Avenida Central (atual Rio Branco) pelo Governo Federal, e que 
foi inaugurada em 1905. Para sua construção foram demolidas de duas a três 
mil casas. “Esta avenida, era, sem dúvida, o complemento natural de duas outras 
grandes obras que se realizaram na cidade, ou seja, a Avenida Beira Mar (pela 
administração Passos) e o novo porto do Rio de Janeiro (a cargo da União)” 
(ABREU, 2006, p. 63). 
 
 
Figura 2.13 - Avenida Central, Rio de Janeiro, 20-02-1906 
Fonte: Casa Ruy Barbosa 
 
Para Maurício de Almeida Abreu (2006, p. 63) “...o período Passos (aqui 
incluídas as obras realizadas pela União) foi, pois, um período revolucionador da 
forma urbana carioca, que passou a adquirir, a partir de então, uma fisionomia 
totalmente nova e condizente com as determinações econômicas e ideológicas 
do momento”. Para esse autor a Reforma Passos foi importante sob três outros 
aspectos: 
 
Em primeiro lugar, ela representa um exemplo típico de como novos 
momentos de organização social determinam novas funções à cidade, 
muitas das quais só podem vir a ser exercidas mediante a eliminação 
de formas antigas e contraditórias ao novo momento. Em segundo 
lugar, representa também ò primeiro exemplo de intervenção estatal 
maciça sobre o urbano, reorganizado agora sob novas bases 
econômicas e ideológicas, que não mais condiziam com a presença de 
pobres na área mais valorizada da cidade. [...] 
Finalmente, o período Passos também se constitui em exemplo de 
como as contradições do espaço, ao serem resolvidas, muitas vezes 
geram novas contradições para o momento de organização social que 
surge. E a partir daí que os morros situados no centro da cidade 
(Providência São Carlos, Santo Antônio e outros), até então pouco 
habitados, passam a ser rapidamente ocupados, dando origem a uma 
forma de habitação popular que marcaria profundamente a feição da 
cidade neste século - a favela (ABREU, 2006). 
 
Para refletirmos sobre a importância da Reforma Passos, destacamos as 
palavras de Abreu (2006, p. 67): 
 
Concluindo, o período Passos, verdadeiro período Haussmann à la 
carioca, representa, para o Rio de Janeiro, a superação efetiva da 
forma e das contradições da cidade colonial-escravista, e o início de 
sua transformação em espaço adequado às exigências do Modo de 
Produção Capitalista. Neste movimento de transição o papel do Estado 
foi fundamental, tanto no que diz respeito à sua intervenção direta 
sobre o urbano, como no que toca ao incentivo dado à reprodução de 
diversas unidades do capital. Dialeticamente, o período Passos 
representa também a etapa inicial de desenvolvimento de novas e 
importantes contradições – agora de base totalmente capitalista - que 
marcarão profundamente a evolução da cidade no século XX. 
 
Ficando estabelecida a importância da Reforma Passos para o conjunto da 
urbanização brasileira, destacamos que várias reformas ocorreram em outras 
cidades brasileiras durante o mesmo período. Saboya (2008) mostra que foi sob 
a égide dos planos de embelezamento que surgiu o planejamento urbano 
brasileiro: 
 
Eram planos que provinham da tradição europeia, principalmente, e 
consistiam basicamente no alargamento de vias, erradicação de 
ocupações de baixa renda nas áreas mais centrais, implementação de 
infraestrutura, especialmente de saneamento, e ajardinamento de 
parques e praças [...] 
Para isso foi criada uma legislação urbanística nesses planos, bem 
como a reforma e reurbanização das áreas portuárias. Além disso, 
geralmente se limitavam a intervenções pontuais em áreas específicas, 
na maioria das vezes o Centro da cidade. 
Grande parte desses planos previam abertura de novas avenidas, 
conectando partes importantes da cidade, geralmente tendo como 
consequência imediata a destruição de áreas consideradas insalubres, 
compostas pelos chamados “cortiços”. 
O principal representante desse período foi o Engenheiro Saturnino de 
Brito, que realizou planos de saneamento para várias cidades 
brasileiras. Em algumas delas, os planos também incluíam diretrizes 
para a expansão urbana, como foi o caso em Vitória (1896), Santos e 
Recife (1909-1915). 
 
Estes planos de embelezamento se esgotam a partir dos anos 1930, quando 
nova dinâmica se instala, os planos urbanos são pensados para o conjunto da 
cidade. 
 
Dentro dessa concepção de planejamento ocorreram também a formação de 
cidades totalmente novas, planejadas, podendo-se considerar como início dessa 
prática a inauguração de Belo Horizonte em 1897 (VILLAÇA, 2004, p. 178). 
 
Atividade Final – Atende ao objetivo 4 
 
Tomando como exemplo a cidade do Rio de Janeiro, faça uma reflexão sobre a 
reforma urbana de Pereira Passos e o tipo de transformações que ela sofreu e 
quais suas motivações. 
 
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Resposta comentada: 
 
As transformações foram alargamento de ruas, com a criação de grandesavenidas para proporcionar melhor circulação aos automóveis, melhorias das 
instalações portuárias, canalização de rios e pântanos, denotando preocupações 
higiênicas e de embelezamento da cidade. Suas principais motivações foram 
superar a cidade colonial, retirando da paisagem urbana o cenário de cortiços, 
adequando-a ao novo papel de capital inserida no modo de produção capitalista. 
Também mostrar que a capital do Brasil dispunha de uma capital a altura de suas 
rivais, como Buenos Aires, por exemplo. 
 
Fim da resposta comentada 
 
Resumo 
 
Essa aula tratou da formação dos núcleos urbanos coloniais, onde práticas de 
apropriação territorial já existentes em Portugal foram transpostas para o Brasil 
com as necessárias adaptações. Que a concessão de sesmarias para o cultivo 
foi acompanhada pela concessão de “sesmarias de chãos”. Os patrimônios 
religiosos também tiveram papel fundamental na criação de núcleos urbanos. O 
sistemas social da colônia e o papel dos conselhos municipais na administração 
política do território. E que o papel da ideológico da Igreja também era exercido 
a partir da cidade. Também a relação campo-cidade, pois a vida colonial era 
fundamentalmente rural, com as pessoas indo na cidade, inicialmente para 
festividades e auxílio religioso. Conhecemos os fatores locacionais para a 
instalação de aglomerados urbanos no período colonial. Em relação ao plano 
urbano vimos a contraposição entre os modelos espanhol e português e a 
discussão se haveria ou não um planejamento para as cidades e vilas brasileiras. 
Vimos que sim e que várias regulamentações foram adotadas para direcionar a 
ocupação dos espaços da cidade. Vimos também o crescimento da urbanização 
e quais os principais eixos da expansão da urbanização no país. No século XIX 
vimos a dos engenheiros militares e dos médicos (higienistas) no planejamento 
das cidades brasileiras que cresciam e as grandes reformas que ocorreram no 
início do século XX para adequar as cidades brasileiras às necessidades de uma 
sociedade capitalista com suas diferenciações de classe. 
 
Informações sobre a próxima Aula 
 
Na próxima aula veremos que esse período condicionou o grande crescimento 
das cidades e metrópoles brasileiras que ocorreu a partir dos anos 1930. 
 
 
 
Referências 
 
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