Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Acidentes Vasculares Cerebrais 1 Brenna G Bonfante Definição - Déficit neurológico súbito, explicado pelo déficit de irrigação de uma artéria cerebral. - Síndrome neurovascular - 80% isquêmico e 20% hemorrágico Fisiopatologia - Core isquêmico é uma área onde já não é possível reverter, geralmente circundado por uma área, chamada de zona de penumbra. Essa zona de penumbra, apesar de ter hipoperfusão tecidual o tecido está vivo. - A hipoperfusão tecidual é causada por uma disfunção da bomba de sódio-potássio, mas a célula ainda não morreu. Se reperfundir, o tecido volta a funcionar. Circulação anterior - Artéria carótida, cerebral média e cerebral anterior Artéria cerebral anterior (lobo frontal) - Hemiparesia contralateral de predomínio crural (perna). Lobo frontal controla a força da perna contralateral - Abulia, mutismo. Paciente entende, mas não tem “vontade” de falar. - Incontinência urinária. O controle voluntário da micção está no lóbulo parafrontal. Artéria cerebral média (lobos frontal, parietal e temporal) - Depende de qual ponto da artéria está ocluído, quanto mais proximal, mais sintomas, quanto mais distal pode ter seleção de sintomas. São sintomas possíveis: - Hemiparesia contralateral de predomínio braquio facial (rosto e braço) - Hemihipoestesia contralateral de predomínio braquio facial (déficit sensitivo) - Desvio do olhar ipsilateral - Hemianopsia homônima contralateral - Lado dominante (esquerdo): afasia sensitiva de Wernick (não entende o que foi dito) e afasia motora de Broca (entende, mas não consegue se comunicar). Afasia é dificuldade de comunicação. Area de Wernick na junção temporoparietal e área de Broca no giro frontal inferior - Lado não-dominante (direito): heminegligência. Como se nada existisse do meio para esquerda. - Hemisfério dominante é o que controla a fala Artéria carótida interna - ACI + ACM - Artéria oftálmica emerge antes da cerebral média e da cerebral anterior, é um ramo direto da carótida, inerva a retina. Em pessoas que tem estenose da carótida pode ter ateroembolia e causa amaurose fugaz. Geralmente tem reversão espontânea dos sintomas, perda transitória da visão. Geralmente é um prenuncio que poderá ter um AVC mais grave da carótida interna Artérias lenticulo-estriadas (síndromes lacunares – principais) - Ramos direto da parte mais proximal da cerebral média e inervam a região dos núcleos da base. Irriga a cápsula interna, que recebe a cerebral anterior e a cerebral média, então causa fraqueza contralateral e proporcionado, vai pegar rosto, braço e perna. - Geralmente causado pela hipertensão (AVC de pequenos vasos), mas também tabagismo, DM, dislipidemia. - Hemiparesia contralateral de proporcionada - Hemihipoestesia contralateral proporcionada Circulação posterior Artéria basilar - A artéria basilar irriga todo o tronco cerebral, um AVC ali causa disfunção de tudo que passa pelo tronco - Síndrome do encarceramento ou “locked in” onde o paciente perde toda a informação motora, fica tetraplégico, perde inclusive a capacidade de olhar para os lados (horizontal). Apenas mantem a movimentação vertical dos olhos, que possui o controle em região mesencefalica mais alta. - Entende tudo, mas não consegue movimentar para falar - Tetraplegia - Acometimento de motricidade ocular horizontal - Acometimento da deglutição - Acometimento da fala Também são sintomas de circulação posterior - Vertigem súbita (se tiver nistagmo vertical, sugere origem central e não periférica, investigar como AVC) - Rebaixamento do nível de consciência - Nistagmo espontâneo (sobretudo vertical) - Desvio vertical dos olhos - Ataxia - Síndrome de Horner (por alteração da via simpática que controla principalmente a midríase, tem a PAM = ptose, amidrose e miose) Abordagem - Síndrome neurovascular é uma urgência médica 1. Anamnese direcionada - Condições clínicas prévias - Tempo desde o início dos sintomas - Uso de medicações 1º - Monitorização (sinais vitais) 2º - ABC 3º - Aferir glicosimetria 4º - Exame físico NIHSS 1 A- Nível de consciência 0 a 3 1 B – Perguntas 0 a 2 1 C – Comandos 0 a 2 2 – Olhar horizontal 0 a 2 3 – Campo visual 0 a 3 4 – Paralisia facial 0 a 3 5 – Força de MMSS Esq: 0 a 4 / Dir: 0 a 4 6 – Força de MMII Esq: 0 a 4 / Dir: 0 a 4 7 – Ataxia 0 a 2 8 – Sensibilidade 0 a 2 9 – Linguagem 0 a 3 10 – Disartria 0 a 2 11 – Negligência 0 a 2 - Quanto maior o NIHSS, mais grave. 2. Tomografia de crânio - Não tem como diferenciar evento isquêmico de hemorrágico sem a imagem. - Não pode tomar conduta sem a tomografia já que as condutas são diferentes! - Isquêmico ou hemorrágico? Abordagem AVCi 1. Está indicada a reperfusão? - Trombólise (Alteplase) ou - Trombectomia (em pacientes que a oclusão está na circulação proximal anterior, basicamente na carótida interna e cerebral média) Contraindicações absolutas para trombólise - AVC isquêmico, TCE grave ou cirurgia de crânio/medula nos últimos 3 meses - Hemorragia TGI nos últimos 21 dias - AVC hemorrágico ou neoplasia TGI/ SNC, independente do tempo - Suspeita de HSA, dissecção de aorta e endocardite (endocardite pode ter desprendimento de embolo séptico e causar AVC) - PAS 185 mmHg e/ou PAD 110 mmHg - Déficit em melhora - Isquemia extensa na TC de crânio (> 1/3 do território da cerebral média) - Plaquetas < 100 mil - INR > 1,7 - Uso de anticoagulantes orais diretos < 48 horas - Uso de heparina em dose terapêutica < 24 horas Indicações para trombólise - Ser > 18 anos - Se maior de 18, avaliar - Tempo de início dos sintomas? - Oclusão proximal? Angiotomografia: intracraniana e cervical - Viabilidade tecidual? Se não tiver tecido viável é inútil fazer e o sangue na região liquefeita/necrótica vai extravasar, levando a hemorragia. O método de avaliação de viabilidade depende do tempo e do local da oclusão - Oclusão proximal ou distal -> trombólise -> para isso precisa estar <4,5 dos sintomas e avalia a viabilidade através da TC de crânio. - Oclusão proximal ou distal -> janela desconhecida -> RM de crânio. Avalia a sequência de difusão que avalia o trânsito de moléculas de agua e se altera nos primeiros minutos de um AVC e avalia também a sequencia Flare se altera somente após 4,5h. Se tiver difusão alterada com flare normal, pode inferir que há um AVCi com menos de 4,5h e pode trombolisar. - Trombectomia mecânica só será uma opção caso exista oclusão de circulação anterior proximal de artérias carótidas e artérias cerebrais média segmento M1. - Oclusão anterior proximal. Preciso de angio cervical e intracraniana para identificar -> Trombectomia se até 6 horas do início dos sintomas, ver TC crânio. Se de 6 a 24 horas, fazer estudo de perfusão. - Estudo de perfusão à medida que injeta contraste, determina 2 territórios: um que identifica território morto (core isquêmico) e área de penumbra (área hipoperfundida mas ainda viva). Controle pressórico no AVCi : Como fazer? Situação Clínica Alvo AVCi – pré trombólise PAS < 185 e PAD < 110 mmHg ACi – pós trombólise PAS <180 e PAD <105 mmHg AVC não trombolisado Tolerar até PAS 220 e/ou PAD 120 mmHg (emergência hipertensiva) - Se diminui a pressão no paciente não trombolisado, vai diminuir a área de perfusão e piora o prognóstico. - Droga endovenosa e não via oral Droga de escolha - Nitroprussiato de sódio (Nipride): 1 ampola (50mg/2ml) + 250 ml SG 5% = 200 mcg/ml. Correr na bomba de infusão 0,5 a 10 mcg/kg/min Ou - Esmolol (Brevibloc): 1 ampola (2500 mg/10ml) + 240 ml SF 0,9% = 10 mg/ml. Correr na bomba de infusão de 0,05 a 0,3 mg/kg/min Investigação Protocolo de AVC - TC de crânio - Estudo de vasos cervicais (angioTC, angioRM, Doppler): **A** e **D** - Estudo de vasos intracranianos (angioTC, angioRM) **S** - Hemoglobina glicada **S** - Lipidograma **S** - Ecocardiograma **C** - Chagas **C** - ECG **C** - VDRL **O** - Exames de AVC em “jovem” **O** Etiologias **A**: Aterosclerose de vasos cervicais **S**: Smal vessel (doença dos pequenos vasos) **C**: Cardioembólico **O**: Outros (neurossífilis,anemia falciforme, SAF) **D**: Dissecção arterial Profilaxia A – Aterosclerose de vasos cervicais - antiagregantes + estatina - abordagem: endarterectomia ou angioplastia Estenose carotídea sintomática Grau de estenose Estatina Antiagregante Intervenção < 50% Sim Sim X 50 – 69% mulheres Sim Sim X 50 – 69% homens Sim Sim Endarterectomia 70 – 99% Sim Sim Endarterectomia ou stent (angio) S – Small Vessel - Controle dos fatores de risco + antiagregantes - HAS, DLP, DM2 C - Cardioembólico Anticoagulação? - Fibrilação atrial - Presença de trombo intracavitário O - Outros - Depende da causa - SAAF: anticoagulação D – Dissecção - Anticoagulação x Dupla antiagregação - Opções de eficácia semelhante. - Dupla “sangra” menos. AVC Hemorrágico Fisiopatologia - Sangramento intracraniano pode ocorrer no espaço subaracnóideo e configurar uma hemorragia subaracnoide (HSA) ou no espaço intraparenquimatoso - Intraparenquimatoso em 70% das vezes é causado por hipertensão arterial (hipertensivo) e são fatores de risco LDL baixo, etilismo e tabagismo - Em 30% as causas são variadas, mais raras como a angiopatia amiloide, MAV, trombose venosa central, discrasia sanguínea, vasculite, uso de cocaína, neoplasia intracraniana. - LDL < 70, mas não < 20 no AVCh AVC hemorrágico intraparenquimatoso Qual a causa? - Idade - HAS prévia? - Quadro clínico Localização do sangramento* (fator importantíssimo) - A hemorragia hipertensiva ocorre em locais em que há transição abrupta de vasos calibrosos para vasos muito “finos”. Núcleos da base, tálamo, ponte, cerebelo e córtex. - No cerebelo e córtex são mais raros e precisam ser investigados a etiologia - AVC hemorrágico de ponte até que se prove contrário é hipertensivo AVC hemorrágico não hipertensivo: angiopatia amilóide - Principal causa de AVC hemorrágico em idosos não hipertensos - RM de encéfalo com múltiplos sangramentos corticais (pequenos) - Deposição de proteína amiloide no endotélio, no vaso. Isso enfraquece o vaso. Geralmente acontece no córtex cerebral - Diagnóstico feito com RM que aparece com pontos de sangramento antigo. Manejo intra-hospitalar do AVC hemorrágico - Controle pressórico - Cirurgia se: 1. Sangramento superficial e rebaixamento do nível de consciência 2. Clipagem/embolização de um aneurisma 3. Correção de MAV - Drenagem liquórica: por derivação ventricular externa (DEV) se o paciente tiver hidrocefalia após AVC hemorrágico - Corticoide: não trata. Só serve se tiver neoplasia intracraniana, porque vai diminuir o edema vasogênico e o processo. Não usar de forma indistinta, para todos. Controle pressórico no AVCh: Como fazer? Situação Clínica Alvo AVCh PAS ao redor de 140-160 mmHg HSA (ainda não clipado ou embolizado) PAS < 160 mmHg HSA (clipado ou embolizado) Sem um alvo “específico”. Inclusive, pode ser necessário induzir elevação da PAS.
Compartilhar