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SANTOS, Izequias Estevam. Conhecimento. In: Textos selecionados de métodos e técnicas de pesquisa científica. 3ª Ed. Rio de Janeiro: inpetus, 2001, p. 29-45. Teoria do Conhecimento Pensar sobre a idéia de conhecimento envolve uma série de questões profundas, investidas de um grande teor filosófico. Filosofia é o estudo da vida. Pensar a vida exige esforço, exige sair do comum, investe abrir-se ao questionamento das coisas. Para tudo isso, é necessário amor pela sabedoria. Deste modo, o motor do conhecimento é a dúvida, a sede de conhecer, para transformar. Um movimento que encontra-se num processo histórico de aprimoramento. A teoria do conhecimento iniciou-se, portanto, com os primeiros filósofos, pensando a origem e o porquê das coisas. Em 1690, John Locke produziu uma obra denominada Ensaio Sobre o Entendimento Humano, onde organizou, por assim dizer, o 1º tratado de teoria do conhecimento. Pouco mais tarde, em 1765, Leibnitz publicou outro livro, questionando e aprimorando as concepções filosóficas sobre o tema. Outros nomes importantes neste processo histórico da teoria do conhecimento são: George Berkeley (1710), David Hume (1740) e Imnannuel Kant (1781) com sua obra Crítica da Razão pura. O grande foco destes pensadores era tratar da sede de conhecimento inerente ao ser humano e como isto foi, aos poucos, se subdividindo em campos diversos de conhecimento. De modo geral, desde a antiguidade (período anterior a Cristo), se pensava sobre estas coisas; um período em que o foco era compreender a multiplicidade dos pensamentos e dos processos de transformação do conhecimento, criando uma identidade entre o ser e o pensar. Com base nestas reflexões é que se desenvolveram os primeiros estudos organizados de aritmética, geometria, astronomia e música, conduzidos pelos sofistas. Ainda na antiguidade, outra grande nome para a teoria do conhecimento foi Socrátes (470-399 a.c.). Sua principal contribuição à construção da teoria do conhecimento foi a máxima “só sei que nada sei”. Pode-se citar-se ainda Platão (428-399 a.c.) com sua busca incessante pela verdade como motor da teoria do conhecimento. Aristóteles (384-322 a.c.), por seu turno, empenhou-se na busca pela essência profunda das coisas através de estudo sistemático dos fundamentos da realidade e do conhecimento (metafísica). Na idade média, os dois principais contribuidores à teoria do conhecimento foram Santo Agostinho e Santo Tomaz de Aquino. O primeiro elaborou uma ligação entre razão e fé, subjugando o homem aos propósitos divinos, ou seja, as coisas são como são por vontade de Deus, de modo que o conhecimento humano também procede absolutamente de Deus (sec. II ao VIII). Com Santo Tomaz de Aquino e a Escolástica (sec. IX), seguiu-se ainda o paradigma da razão como doação divina e o conhecimento como benevolência de Deus. Após o século XI, as teses de Galileu Galilei, Descartes e Francis Bacon fizeram surgir centros de estudos racionais, visando a produção de conhecimento científico, que se afasta da concepção escolástica – é o homem a sede de razão e conhecimento. A partir do século XVI e XVII (período medieval), estas idéias ganham força e a questão do conhecimento é tratada por duas correntes: o racionalismo e o empirismo. O racionalismo teve como representante exponencial René Descartes (1596- 1650), com sua obra Discurso do Método. Seu ponto de partida era a busca pela afirmação de uma verdade, ou seja, algo que não pudesse ser posto em dúvida, donde se fez alicerce para o estudo, observação e questionamento de todas as explicações sócio-políticas organizacionais – que se pautavam na explicação da vontade divina. Daí houve uma dissociação entre os modelos de conhecimento científico, filosófico e religioso. A contribuição do empirismo foi a afirmação da busca essencial da verdade através da verificação e experimentação. Conhecer e saber: São palavras sinônimas relacionadas à produção do conhecimento. Significam ter posse de informações sobre as coisas que nos cercam. Conhecimento em si, significa uma prática, uma consciência de si e do mundo, conhecer de forma metódica e prática, experimentar. O saber envolve experiência, maturidade, prudência, competência como atributos peculiares à aquele que se propõe a conhecer. É ter habilidade para o exercício prático racional e constante. O saber metódico afasta os preconceitos, superstições, mitos; visa a superação de obstáculos; busca a verdade através de provas, de fatos e de teorias. O modelo metódico de conhecer confere, portanto, cientificidade à informação fornecida. Formas de conhecer O processo de conhecimento envolve um confronto entre o externo – o mundo que nos cerca – e o interno – a maneira como vemos as coisas. É um processo lento e gradativo através do qual interage com o meio ambiente e social, descobre os fenômenos naturais e toma posse dos instrumentos metodológicos para questionar as verdades oferecidas sobre a realidade social. Nesse contato, o homem passa a conhecer e compreender o real. Dada a complexidade da vida moderna, nem sempre nos damos conta deste processo de produção cotidiana de conhecimento. Temos a intercalação de 3 fatores para o conhecimento: intuição, razão e comunicação. O primeiro depende da sensibilidade de cada um; o segundo, é o esforço de raciocinar, dar valores, ponderar e julgar algo; o terceiro é quando já temos a informação organizada em nossa mente, quando já a processamos e transmitimos. O saber metódico é fruto da constante interação entre intuição e razão, entre a experiência e o conceito, entre o concreto e o abstrato. Tipos de conhecimento De qualquer forma, ao materializar-se, o conhecimento pode assumir formas diferentes. Temos 4 tipos específicos de conhecimento que são validos como formas de explicação da realidade: I) popular; II) religioso; III) filosófico; IV) científico. A diferença entre eles reside no modelo de explicação da realidade que cada uma assume. Conhecimento popular É uma forma de conhecimento natural, da experiência cotidiana, inata ao ser humano. Ela permeia e influencia as demais formas de conhecimento. Suas características são: superficialidade, sensitividade, subjetividade, assistemática e acrítica. Não está ocupado das explicações profundas, da busca pela essência das coisas, mas com as aparências. Ele apenas retém, repete e reproduz as experiências vividas, atualizando-as. Conhecimento religioso Busca explicar a realidade do homem no universo, sua origem e existência. Não demonstra nem experiência suas explicações; atribui tudo à fé e à revelação divina. É absoluto. Se embase em dogmas e doutrinas. A evidência, a prova da verdade é doada pela fé. Suas características: inspiracional, infalível, sistemático, não verificável. Conhecimento Filosófico Surgiu da separação entre as explicações religiosas e as intelectuais. Busca explicar o ser e o existir, separando fé e razão. Refuta as explicações religiosas de que tudo é vontade divina. Busca coerência e define rigorosamente os conceitos. Está na base do saber científico. Suas características são: conhecimento valorativo, infalível, sistemático, racional. Conhecimento científico Como visto, nem todo conhecimento é científico. Para ser científico é preciso: 1) delimitação do campo de conhecimento; 2) método criterioso para a pesquisa. O conhecimento científico se divide em, inicialmente, dois grandes blocos: ciências humanas e ciências naturais. Mas a produção do saber científico não é isolada, de modo que estes campos interagem. Suas características: ocupa-se de fenômenos regulares, onde causas e efeitos se sucedem entre fatos isolados, ou grupos de fatos; registro de semelhanças e classificação dos fenômenos; afirmação de resultados em leis, teorias e generalidades. Trabalha apenas através de método sistemático.Inicia-se pela busca do maior número de informações possíveis sobre o tema, segue-se com aplicação de experiências, verificação de regularidade e das condições de sua ocorrência, elaboram-se hipótese que serão verificados via método criterioso. O percurso então será: escolha do tema, elaboração do problema, planejamento da investigação, coleta de dados, análise sistemática, produção de resultados. Suas peculiaridades são, portanto, racionalidade, objetividade, precisão, clareza, factualidade, comunicabilidade, sistematização, falibilidade. De modo geral, conhecimento é algo fundamental à qualquer pessoa. Podemos não produzi-lo, mas sempre o consumimos. SANTOS, Izequias Estevam. Ciência. In: Textos selecionados de métodos e técnicas de pesquisa científica. 3ª Ed. Rio de Janeiro: inpetus, 2001, p. 47- 80. Ciência: base técnica A palavra ciência possui um significado aberto (conhecimento, saber) e um significado fechado (tipo específico de conhecimento produzido de modo sistemático e experimentado). A ciência se compõe de duas dimensões inseparáveis que referenciam respectivamente o caráter lógico e o técnico: a dimensão de conteúdo e a dimensão metodológica. Conceito Ciência: estudo de problemas solúveis via método sistemático. Foco: afirmação de verdades, explicação de fatos por meio da experimentação e investigação que permitem definir leis e regularidades de sua ocorrência. Ela esta voltada a estabelecer certezas através de procedimentos racionais. Exige, por conseguinte, o uso de métodos sistemáticos e a formulação de hipóteses e conceituações. A ciência não se constitui de verdades e certeza eternas. Ela é feita para ser superada. Seu produto é uma teoria (conjunto de idéias). Processo histórico Desde o início, a humanidade sempre buscou compreender e explicar a origem das coisas, mas a grande revolução neste sentido, ocorre somente entre os séculos XV e XVII, que daria inicio à chamada ciência moderna. Este período foi marco de transformação em todos os campos da organização social. No campo específico da ciência, mudaram as técnicas de pesquisa, os objetivos e o papel da ciência na sociedade. Houve uma mudança drástica na forma como o homem via a si mesmo e ao mundo. Foi o período em que foram retomadas as idéias do período final da antiguidade. É deste período a expansão marítima e tecnológica, que permitiu também um desenvolvimento grande da imprensa e da divulgação de livros e informações. Este período foi marcado ainda pela cisão na igreja católica, com a reforma protestante, que também contribuiu de forma extrema para o desenvolvimento científico. Relacionado a isso, o próprio desenvolvimento do capitalismo foi um estímulo ao desenvolvimento científico, pela necessidade que este sistema produtivo possui de inovações. Neste contexto, houve avanços marcantes em todos os ramos de conhecimento. A investigação, a observação e experimentação passaram a ser regra. Ciência na idade moderna Pode-se dizer que a ciência moderna se estabeleceu a partir do século XVIII, com o surgimento de inúmeros estudos criteriosos em todas as áreas do conhecimento. Em função do crescente interesse do Estado pela ciência, ampliaram-se os centros de estudo, que no século XIX desenvolveram-se ainda mais. Pouco a pouco, a ciência tornou-se pública, na medida em que exercia conseqüências na vida prática cotidiana das pessoas. Pode-se apontar como grandes marcos deste processo, o desenvolvimento da força a vapor, da energia elétrica, e a publicação de alguma obras como A Origem das Espécies de Darwin. A partir daí, como uma necessidade imposta pelo sistema capitalista crescente, as realizações da ciência se aceleraram e intensificaram cada vez mais, produzindo materiais cada vez mais sofisticados, com tecnologias cada vez mais avançadas que facilitaram e agilizaram a pesquisa científica. Ciência e tecnologia Enquanto a ciência busca a afirmação de verdades, a tecnologia objetiva a alteração e a eficiência. A tecnologia utiliza-se dos resultados da ciência para desenvolver produtos que modificam o mundo e submetem a natureza às necessidade humanas. A tecnologia tem como objetivo inovar, criar, revolucionar. Mas ela sempre precisa do saber científico, do embasamento teórico que a precede. A tecnologia é, portanto, um conjunto de conhecimento destinado à uma aplicação prática. Diretamente relacionado a isso, tanto a produção da ciência em si, quanto para a produção tecnológica, é necessário que haja pesquisa, ou seja, um trabalho ordenado, sitemático e racional que objetiva produzir conhecimentos. É um processo que se inicia com a formulação de um problema, o desenvolvimento de estudo e a produção de resultados. A pesquisa pode ser experimental, aplicada, ou de fundamentos teóricos. Para tudo isso, o alicerce principal é a metodologia científica. A produção científica e tecnológica é um dos mais importantes setores de distribuição de poder no mundo moderno. Por isso, o apoio e incentivo estatal são fundamentais, pois, para que o país se desenvolva, é necessária a produção científica e tecnológica. Neste sentido, as trocas comerciais são muito importantes para a incorporação de novos conhecimentos, mas para que haja independência, é fundamental que o país invista em pesquisa. Não basta absorver o que vem de fora. Ciência e tecnologia são, assim, um bem econômico, uma mercadoria de alto valor no mercado internacional. Isto porque, conhecimento é poder, capacidade de domínio. É fundamental que o país possa produzir ciência e não apenas consumi-la.
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