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Nome: Rayanne Costa dos Santos Matrícula: 201902328621 Disciplina: Direito Penal IV Turma: 1001 Professor: Francisco Belo Crimes contra a Administração Pública Peculato Definição: Peculato ocorre quando um funcionário público se apropria indevidamente de dinheiro, valores ou quaisquer outros bens móveis, sejam eles públicos ou particulares, dos quais ele tem posse devido ao seu cargo. Alternativamente, o peculato também se caracteriza quando o funcionário desvia tais recursos em benefício próprio ou de terceiro, conforme preceitua o art. 312 § 1° do Código Penal: Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. O peculato é um crime que pode manifestar-se de diversas formas, conforme o Código Penal (CP) Peculato-Apropriação e Peculato-Desvio (Art. 312 do CP): Estas são variações do crime comum de peculato. Enquanto o peculato-apropriação envolve a apropriação indevida de bens por um funcionário público, o peculato-desvio refere-se ao desvio de tais bens para finalidades diferentes das originais. Peculato-Furto (Art. 312, §1° do CP): Aqui, o agente público utiliza-se de sua posição para subtrair bens, aproveitando-se das facilidades de seu cargo. Peculato Culposo (Art. 312, §2° do CP): Este tipo ocorre quando o agente público, por negligência, imprudência ou imperícia, permite a subtração de bens públicos que deveria estar guardando. Peculato Mediante Erro de Outrem (Art. 313 do CP): Nesta modalidade, o agente público se beneficia de um erro espontâneo de terceiros para se apropriar indevidamente de bens ou valores. Características 1. Sujeito Ativo O peculato é considerado um crime próprio, pois necessariamente deve ser cometido por um funcionário público, aproveitando-se de sua posição ou facilidades advindas desta. Em termos técnicos, o peculato é também classificado como crime funcional impróprio: mesmo sendo específico a funcionários públicos, se um particular cometer um ato similar, ele será punido, mas sob outra tipificação penal. Exemplo: Tício, em sua posição de funcionário público, entra nas instalações de seu local de trabalho e subtrai um notebook para uso pessoal. Este é um exemplo clássico de peculato- furto. O peculato é, em sua essência, um crime comissivo, uma vez que se baseia em uma ação deliberada do agente, caracterizando um ato de fazer, e não de omitir. Sujeito Passivo O sujeito passivo no crime de peculato tem uma dualidade: Estado: Como guardião dos interesses públicos e dos bens que estão sob responsabilidade de seus servidores. Pessoa física ou jurídica: Aquele que, de fato, sofre o prejuízo direto ou indireto pelo ato criminoso, seja pela subtração, apropriação ou desvio de bens. Bem Jurídico Protegido A norma visa proteger o patrimônio. Pode ser tanto um bem pertencente ao Estado quanto um bem particular que, de alguma forma, esteja sob responsabilidade ou guarda do servidor público. O aspecto determinante aqui não é a propriedade do bem, mas a condição do agente que comete o delito: ele deve ser um funcionário público e utilizar-se dessa posição para realizar a infração. Essa distinção é fundamental para entender as nuances do peculato e como ele se diferencia de outros crimes contra o patrimônio. A condição do agente e a maneira como ele utiliza seu cargo são centrais para sua caracterização. 1.1. Peculato-Apropriação Conforme o artigo 312, essa modalidade de peculato ocorre quando um funcionário público se apropria de dinheiro, valores ou outros bens móveis - sejam eles públicos ou particulares - dos quais tem posse devido ao seu cargo. Uma observação crucial é a necessidade da ação ser realizada "em razão do cargo". Ser um funcionário público, por si só, não é suficiente para a caracterização do delito. É imprescindível que o indivíduo cometa a infração aproveitando-se de sua posição como servidor. Assim, o artigo 312 só se aplica quando o autor explora sua condição específica de funcionário público. Esta premissa é fundamental e se estende a todos os crimes cometidos por servidores contra a administração pública. A posição ocupada pelo agente é central para determinar a natureza e gravidade do delito. 1.2. Peculato-Desvio Conforme delineado na segunda parte do artigo 312, temos a modalidade de peculato conhecida como peculato-desvio. O diferencial desta para o peculato-apropriação reside no fato de que, ao invés de apropriar-se, o servidor desvia os bens ou valores para um fim diferente do previsto. Exemplo: Mévio, atuando como Auditor da Receita Federal e responsável pelo ordenamento de despesas de sua divisão, utiliza de sua posição para efetuar créditos de ressarcimento relacionados a diárias e passagens aéreas, com o intuito de se beneficiar indevidamente desses valores. Neste caso, Mévio não toma posse direta do dinheiro, mas redireciona-o para propósitos ilícitos, configurando o peculato-desvio. Jurisprudência Ação Penal 702 – STJ – 03/06/2015: O julgado classifica como peculato-desvio (conforme art. 312, caput, 2a. parte do CP) a ação de usar posições para efetuar pagamentos indevidos como ajuda de custo, estruturação de gabinete, segurança pessoal, despesas médicas e estéticas em benefício de conselheiros, passagens aéreas, além de valores para servidores "fantasmas" ou inexistentes, e outras despesas sem respaldo legal. Nesse sentido, o STJ entendeu que pagamentos em favor de funcionários inexistentes é uma forma de se praticar o peculato-desvio. 1.3 Peculato-Furto Difere das modalidades de peculato-apropriação ou peculato-desvio. Nesta forma, o crime não se baseia na apropriação ou desvio de um bem confiado ao agente devido ao seu cargo, mas na subtração de um item que estava sob a custódia da administração. Conforme o art. 312, § 1° do Código Penal: § 1º - Se o funcionário público, ainda que não tenha a posse direta do dinheiro, valor ou bem, o subtrai ou contribui para sua subtração, em benefício próprio ou de terceiros, aproveitando-se das facilidades proporcionadas por sua posição de servidor, a mesma pena é aplicada. Neste cenário, embora o servidor não tenha a responsabilidade direta ou guarda do bem, ele comete um ato análogo ao furto. Contudo, devido à sua posição como funcionário público e à exploração dessa condição para efetuar a subtração, o delito é classificado como peculato- furto. 1.4 Peculato Culposo Previsto no art. 312, § 2° do CP, o peculato culposo se caracteriza da seguinte maneira: § 2º - Se o funcionário contribui culposamente para o crime de terceiros: Pena - detenção, de três meses a um ano. Esta forma de peculato ocorre quando um funcionário, sem intenção, contribui para o crime funcional cometido por outro servidor devido a um descuido ou negligência. Exemplo: José, funcionário público, deixa um notebook do órgão em sua mesa e não tranca a porta. Paulo, outro servidor do mesmo órgão, aproveita a situação e leva o notebook. Paulo comete peculato-furto, enquanto José é responsável por peculato culposo. Divergência Doutrinária: Se um funcionário público contribui por negligência para um crime cometido por um não-funcionário, a doutrina se divide. Enquanto uma parte acredita que o servidor não comete peculato culposo, outra defende o contrário. O art. 312, § 3° do CP destaca: § 3º - Se o dano é reparadoantes de uma sentença final, a punibilidade é extinta. Se a reparação ocorre depois, a pena é reduzida pela metade. Este efeito da reparação do dano é válido apenas para o peculato culposo e não para outras modalidades de peculato. 1.5. Peculato Mediante Erro de Outrem O crime previsto no art. 313 tem semelhanças com o peculato-apropriação, sobretudo por ambos envolverem a ação de apropriar-se. Exemplo: João, querendo pagar o IPVA de seu carro e não tendo recebido o boleto, dirige-se por engano a uma delegacia pensando que poderia realizar o pagamento lá. Rob, um agente na delegacia, percebendo o erro de João, decide não o corrigir. Em vez disso, ele aceita o pagamento e se apropria do valor indevidamente. O cerne do peculato mediante erro de outrem é precisamente o "erro de outrem". Esse erro deve ser espontâneo, não sendo resultado da ação ou indução do agente público. O servidor simplesmente aproveita a situação criada pelo erro da pessoa. Se o servidor ativamente engana ou induz o terceiro ao erro para se beneficiar, estamos diante de outro crime - possivelmente um estelionato. Corrupção Passiva (Art. 317 do CP) Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Aumento de pena (§ 1º) § 1º A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. Corrupção passiva privilegiada (§ 2º) § 2º Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa Objetividade Jurídica: Visa à proteção da Administração Pública, assegurando seu funcionamento íntegro e adequado. Sujeito Ativo: Este crime se caracteriza como próprio, sendo o sujeito ativo o funcionário público. A infração deve ser cometida em razão de sua função, ainda que fora de exercício ou antes de sua oficialização. Contudo, um particular pode ser coautoria ou participar, auxiliando ou instigando a conduta, conforme previsto no art. 30 do Código Penal. É fundamental diferenciar este ato da corrupção ativa, onde o particular é quem oferece ou promete vantagem indevida. Diferenciação de Envolvimento de Particulares: Participação em Corrupção Passiva: O funcionário público, buscando vantagem, pode contar com a colaboração de um particular, que atua como mediador entre ele e a vítima. Neste cenário, tanto o funcionário quanto o intermediário são responsabilizados por corrupção passiva. Atuação em Corrupção Ativa: Se o particular oferece ou promete a vantagem e o servidor aceita, o primeiro responde por corrupção ativa e o servidor por corrupção passiva. Este cenário destaca uma exceção à teoria monista no que tange ao concurso de pessoas. Sujeito Passivo: O Estado é o principal prejudicado, mas a conduta também pode afetar terceiros que sejam impactados diretamente pela ação criminosa. Natureza da Conduta: O crime é caracterizado quando um funcionário público solicita vantagem sem ameaça ou coação, distinguindo-se da concussão, em que há exigência da vantagem. Igualmente, o crime se consuma quando o servidor recebe ou aceita a promessa de uma vantagem, demandando a presença de um terceiro (particular) que faça a oferta ou promessa. Corrupção Ativa (Art. 333 do CP) De acordo com o Art. 333 do Código Penal Brasileiro (CP), corrupção ativa ocorre quando alguém oferece ou promete uma vantagem indevida a um funcionário público com o intuito de influenciar sua atuação. A pena para esse crime varia de 2 a 12 anos de reclusão, além de multa. Este delito é popularmente conhecido como "suborno". A prática envolve, por exemplo, o oferecimento de um "agrado" ou "cafezinho" ao servidor público para que este não cumpra seu dever conforme a lei. É um crime comum, o que significa que pode ser praticado por qualquer pessoa. Contudo, existe uma particularidade interessante na legislação brasileira sobre esse tema. Enquanto quem oferece a vantagem comete o crime de corrupção ativa (Art. 333 do CP), o funcionário público que aceita a vantagem é responsabilizado pelo crime de corrupção passiva (Art. 317 do CP). Corrupção Passiva x Corrupção Ativa A pessoa oferece a vantagem e o servidor aceita; ou a pessoa oferece e o servidor recusa. Existe ainda a possibilidade de o servidor solicitar a vantagem, mesmo que não tenha havido oferta inicial, levando o particular a aceitar ou recusar essa solicitação. Finalidade da Vantagem: É essencial que a oferta da vantagem vise influenciar o agente público em suas atividades. Se o dinheiro é dado sem esse propósito, o crime do Art. 333 não se configura. Consumação: O crime se consuma no momento em que a oferta é feita e chega ao conhecimento do servidor. Não é necessário que o servidor aceite a oferta para que o crime esteja consumado. Tentativa de corrupção ativa é rara, ocorrendo somente se a oferta for feita por escrito. Forma Majorada: Se o funcionário público, em função da vantagem oferecida, atrasa, omite ou pratica um ato contrário ao seu dever funcional, a pena do ofertante é aumentada em um terço. Em resumo, enquanto a corrupção ativa visa influenciar a ação do servidor por meio de vantagens, a corrupção passiva é o ato do servidor em aceitar ou solicitar tais vantagens. Ambos os crimes são graves e comprometem a integridade e moralidade da administração pública. Referência Bibliográfica BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940. 18 de setembro de 2023 Taguatinga/DF