Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito........ Processo Crime nº..... Daniel, já qualificado nos autos do processo-crime em epígrafe, que lhe move o Ministério Público, por seu advogado que esta subscreve, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, apresentar MEMORIAIS, com fulcro no artigo 403, §3º, do Código de Processo Penal, pelas razões que passa a expor. DOS FATOS O acusado foi denunciado pelo Ministério Público, como incurso nas sanções do artigo 155, caput, do Código Penal. Segundo narra a peça acusatória, no dia 02/01/2017, o acusado teria subtraído o veículo automotor dos patrões de sua genitora para fazer um passeio pelo quarteirão com sua namorada. Ao retornar à residência, para devolver o carro, foi surpreendido por policias militares que perguntaram sobre a propriedade do bem. Tendo sido analisado as câmeras de segurança da residência, constatou-se que foi o acusado que retirou o carro sem autorização do proprietário, sendo preso em flagrante. A denuncia foi recebida em 18/03/2017. Foram ouvidas as testemunhas da acusação e interrogado o acusado. DO DIREITO A defesa, segura do conhecimento de Vossa Excelência, vem aduzir os argumentos que demonstram a atipicidade da conduta e que, por consequência, impedem que presente ação penal possa prosperar, senão vejamos. Com efeito, conforme narrado na denúncia e confirmado pelo acusado no interrogatório, o acusado pretendia usar o veículo dos patrões da sua mãe para dar uma volta no quarteirão com sua namorada, tendo inclusive, enchido o tanque do carro para devolve- lo nas mesmas condições em que o pegou. Tal conduta não se trata do furto simples, tipificado no artigo 155 do Código Penal e sim de furto de uso. É sabido que para configuração do crime previsto no artigo 155 do Código Penal, o crime de furto estará caracterizado com a subtração de bem móvel alheio para si ou para outrem. A conduta do acusado que subtraiu o veículo, mas logo em seguida o devolveu ao mesmo lugar que o subtraiu e nas mesmas condições, sofre uma deficiência de dolo, ou seja, o animus, a vontade final do acusado não era a de se apoderar da coisa subtraída, não era a de tornar sua a coisa. Nesse sentido: “O furto de uso exige para a sua caracterização que a res furtiva seja devolvida ao mesmo local de onde foi retirada, que as condições da res sejam as mesmas na subtração e na devolução e que o tempo de uso seja curto” (TACrim – RJD, 21/170). Vejamos a jurisprudência que considera como conduta atípica o fato narrado na acusação: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INTEMPESTIVIDADE. ANÁLISE DE DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. MESMA TESE QUE AMPAROU O RECURSO PELA ALÍNEA “A” DO PERMISSIVO CONSTITUCIONAL E CUJO JULGAMENTO ESBARROU NA SÚM. 7/STJ. MILITAR. FURTO DE USO. ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO CONHECIDO. 1. O prazo para interposição de agravo regimental, em matéria penal, é de 5 dias, nos termos do art. 258, caput, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. Ademais, os prazos, no processo penal, são contínuos e peremptórios, conforme dispõe o art. 798, caput, do Código de Processo Penal. 2. Dessa forma, sendo a decisão disponibilizada no Diário de Justiça Eletrônico/STJ em 23/9/2021 e considerada publicada em 24/9/2021, tem-se que o prazo recursal se iniciou no dia 27/9/2021 (segunda-feira) e findou-se em 1/10/2021 (sexta-feira). Contudo, o presente agravo foi interposto apenas em 04/10/2021, sendo, portanto, manifestamente intempestivo. 3. A análise da alegada divergência jurisprudencial estava prejudicada, pois a suposta dissonância aborda a mesma tese que amparou o recurso pela alínea “a” do permissivo constitucional, e cujo julgamento esbarrou no óbice do enunciado n. 7 da Súmula deste Tribunal. 4. O chamado furto de uso se caracteriza pela ausência de ânimo de permanecer na posse do bem subtraído, que se demonstra com a rápida, voluntária e integral restituição da coisa, antes que a vítima perceba a subtração do bem. No Direito Penal comum, a conduta é considerada atípica, diante da ausência do ânimo de assenhoramento. Tal conduta, contudo, é prevista no Código Penal Militar, sendo inaplicável a legislação comum, pois incompatível com os rigores da hierarquia e disciplina, peculiares à vida castrense. 5. Ademais, além de não ser permitido o uso da viatura para fins particulares, tudo ocorreu durante o período de folga do apelante, o que afasta a alegação de que ele detinha a posse da viatura. Rever tais fundamentos para concluir pela absolvição do envolvido, importa revolvimento de matéria fático-probatória, vedado em recurso especial, segundo óbice da Súmula 7/STJ. 6. Agravo regimental não conhecido. (AgRg no AREsp 1894699/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 19/10/2021, DJe 25/10/2021 (grifo nosso). Ainda, a defesa requer o reconhecimento da prescrição, pois observa-se que a denúncia foi recebida em 18/03/2017. Entretanto, o delito imputado ao réu, previsto no art. 155, caput, do Código Penal, prevê que se prescreve em 08 anos o direito de punição do Estado e o artigo 115 do Código Penal dispõe que são reduzidos de metade os prazos de https://canalcienciascriminais.com.br/tag/processo-penal/ https://canalcienciascriminais.com.br/tag/processo-penal/ https://canalcienciascriminais.com.br/tag/direito-penal/ https://canalcienciascriminais.com.br/tag/codigo-penal/ https://canalcienciascriminais.com.br/legislacao/ prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 anos. Portanto, já tendo ultrapassado o prazo de 04 anos desde o recebimento da denúncia e não tendo sido prolatada a sentença, conclui-se que se encontra prescrita a ação penal. DO PEDIDO Diante do exposto requer: a) Que seja reconhecida a prescrição; b) A total improcedência do pedido condenatório, absolvendo-se Daniel de todos os fatos descritos na denúncia, forte no art.386 do CPP; c) Em caso de condenação, seja a pena fixada no patamar mínimo. Termos em que, Pede deferimento. (local, data) Advogado – OAB/nº
Compartilhar