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Fonte: Plantarium, 2019 O gênero Pteridium possuí uma só espécie, P. aquilinum, onde no Brasil tem sido identificada como var. Arachnoideum, sua variedade é a única encontrada nas regiões de São Paulo; Rio Grande do Sul; Santa Catarina; sul, sudeste e centro de Minas Gerais; norte do Rio de Janeiro e sudoeste do Espírito Santo, contém ainda pequenos focos no Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pernambuco e Bahia. É descrita como uma planta rizomatosa, com folhas grandes, de 60 a 180 cm de comprimento e de 60 a 120 cm de largura; bipinadas, com as pinas profundamente lobadas e glabras lanuginosas ferrugíneas na face dorsal. Suas folhas formam touceiras densas ou se 2 PTERIUDIUM AQUILINUM, SAMAMBAIA (SAMAMBAIA-DO-CAMPO) 2.1 Introdução A P. aquilinum pertence à família Polypodiaceae e é conhecida pelos nomes populares samambaia ou “samambaia-do-campo" (imagem 1) (TOKARNIA et al. 2000), é uma planta bastante primitiva, tendo uma ampla distribuição geográfica por todo o mundo. Portanto, é uma planta cosmopolita, não sendo encontrada apenas em regiões desérticas e polares. Imagem 1 - Pteridium aquilinum, samambaia do campo ou samambaia do campo. Ellen M afra estendem ao longo dos rizomas. Normalmente o rizoma e seus rizoides, estão profundamente enterrados, o que permite à samambaia resistir as queimadas. O rizoma também atua como órgão de armazenamento de nutrientes, possuindo propriedades de expansão, no que facilita a colonização e a fixação da planta no solo. (TOKARNIA et al. 2004) A fome é um fator principal que leva os animais a ingerirem (SPINOSA et al. 2008), devido a fatores de superlotação do pasto, ausência de material fibroso na alimentação ou até mesmo em períodos de seca (pós-inverno). 2.2 Princípio ativo e mecanismo de ação O composto tóxico presente na P.aquilinum são a tiaminase, responsável por distúrbios neurológicos observados somente em monogástricos (SPINOSA et al., 2008), e o ptaqilosídeo que é um glicosídeo norseqiteperno causador dos quadros de carcinoma epidermioide e síndrome hemorrágica fatal (diátese hemorrágica), também conhecida por hematidrose ou “suor de sangue” (NOGUEIRA; ANDRADE, 2011). Em relação ao mecanismo de ação da tiaminase, essa enzima quebra a vitamina B1, inativando-a. A tiamina é um cofator em reações de descarboxilação, como a conversão do piruvato a acil-CoA e a oxidação de α-cetoglutarato a succinil- CoA. Portanto, a sua inibição compromete o metabolismo de gorduras, carboidratos e proteínas (SPINOSA et al., 2008). Em geral, os ruminantes não são sensíveis a este tipo de intoxicação, já que a microbiota do rúmen produz grandes quantidades de tiamina. Por outro lado, em ovinos, tem-se produzido experimentalmente um quadro de intoxicação causado pela tiaminase, a inclusão de rizomas na dieta desses ovinos produz sintomas e lesões indistinguíveis dos da necrose cérebro-cortical (TOKARNIA et al. 2000). Quanto ao ptaquilosídeo, trata-se de um composto instável, em solução aquosa na presença de ácido base ou calor, degradando-se muito rapidamente em pterosina B e D-(+) glicose. Uma característica importante é que, em condições alcalinas, o ptaquilosídeo pode dar origem a um conjugado denominado dienona. Pesquisadores japoneses verificaram que o anel ciclopropil da dienona é aberto e promove o aparecimento de uma terminação livre (OH) que interage, Ellen M afra preferencialmente, com um átomo de nitrogênio da base adenina do DNA, sendo essa substância considerada, atualmente, o verdadeiro componente tóxico. A dienona é capaz de associar-se quimicamente a uma infinidade de proteínas com terminais amino expostos, como DNA, já que o ptaquilosídeo atravessa a membrana celular e nuclear das células. No núcleo, a dienona causa uma alteração permanente e irreparável em determinados genes. Esses genes são os que codificam a ativação de outros genes ou tem função reguladora de outros processos bioquímicos, como gene p53 (regulador do apoptose e da supressão de tumores). Desse modo, a dienona propicia a formação e multiplicação de um tecido afuncional e canceroso (SPINOSA et al., 2008). A intoxicação crônica por Pteridium aquilinum em bovinos leva ao desenvolvimento de neoplasias principalmente em faringe, esôfago e bexiga. Estes órgãos apresentam condições alcalinas, o que propicia a transformação do ptaquilosídeo em dienona (TOKARNIA et al. 2000). 2.3 Sinais clínicos Os sinais da intoxicação pela P. aquilinum variam conforme a espécie animal (monogástricos e ruminantes) e o tempo de ingestão da planta (SPINOSA et al., 2008). Embora na literatura haja citações de intoxicação por Pteridium aquilinum nas espécies equina e ovina, no Brasil ainda não foi confirmada a doença nessas espécies (TOKARNIA et al. 2000). Sinais neurológicos determinados pela tiaminase, acometem principalmente equinos, caracterizando-se por incoordenação motora, tremores musculares, podendo acontecer convulsões, opistótono e morte. (NOGUEIRA; ANDRADE, 2011). 2.3.1 Sinais clínicos nos ruminantes Em ruminantes, particularmente em bovinos, a intoxicação pela samambaia pode ser dividida em três tipos: a diátese hemorrágica, a hematúria enzoótica e os carcinomas do trato digestivo superior (SPINOSA et al., 2008). Carcinomas do trato digestivo superior: Essa manifestação clínica traduz- se por tosse, regurgitamento, timpanismo, diarreia e perda acentuada de peso. Tem Ellen M afra sugerido que que há uma interação entre o papiloma vírus e o ptaquilosídeo da P. aquilinum para produzir esse quadro. Dessa forma, a planta atuaria promovendo a depressão da resposta imunológica do animal ao vírus produtor desse tumor. Esse tipo de intoxicação pela planta ocorre em bovinos acima de cinco anos de idade e caracteriza-se por formações tumorais no trato digestivo, com nódulos de diferentes tamanhos, os quais causam obstrução mecânica (SPINOSA et al., 2008). Diátese hemorrágica: nesse quadro a ingestão da samambaia causa sério dano na medula óssea, resultando em grave leucopenia e trombocitopenia (NOGUEIRA; ANDRADE, 2011). Os sintomas aparecem por volta de três a oito semanas de ingestão da planta, sendo caracterizados por hemorragias na pele e nas mucosas e sangramento pelos orifícios naturais (SPINOSA et al., 2008). Com a evolução do quadro do animal pode apresentar temperatura de 41 a 42°C (NOGUEIRA; ANDRADE, 2011). Hematúria enzoótica: esse quadro tem aparecimento insidioso e acomete bovinos sempre com mais de dois anos de idade (SPINOSA et al., 2008). Ela dá pequenos tumores (carcinomas de bexiga) sob a forma de nódulos de superfície lisa ou rugosa (forma de couve-flor), variando de milímetros a centímetros de diâmetro, presentes na mucosa da bexiga. A ulceração destes pequenos tumores acarreta contate perda de sangue que se mescla com a urina, o que resulta em um quadro crônico de anemia, emagrecimento progressivo e morte. Uma das características do quadro também é a hematúria intermitente (NOGUEIRA; ANDRADE, 2011). O curso dessa doença, geralmente, dura diversos anos (SPINOSA et al., 2008). 2.4 Diagnóstico e diagnostico diferencial No diagnóstico da intoxicação pela tiaminase de P. aquilinum deve levar-se em consideração sobretudo o histórico e quadro clínico. Em equinos, os diagnósticos diferenciais mais importantes devem ser feitos em relação à raiva, encefalomielite e leucoencefalomalácia (TOKARNIA et al.2000). Pode ter como diagnóstico diferencial em equinos também uma outra planta que apresenta tiaminase, como a Equisetum arvesnse (SPINOSA et al., 2008). Como a P. aquilinum causa deficiência de tiamina em equinos, o diagnóstico pode ser firmado ante a recuperação do animal pela aplicação desta vitamina (TOKARNIA et al. 2000). Ellen M afra 2.4.1 Necropsia e histopatologia O quadro clínico em monogástricos determinado pela tiaminase não apresenta lesões significativas à necropsia ou aos exames histopatológicos (NOGUEIRA; ANDRADE, 2011). Nos quadros de diátese hemorrágica,a histopatologia tem grande valor. Nessa avaliação, verifica-se a rarefação do tecido hematopoiético da medula óssea (SPINOSA et al., 2008). A necropsia revela hemorragias múltiplas, equimoses e petéquias em órgãos internos, como pulmão diafragma, peritônio, gradil costal na face peritoneal, além de hemotórax e sangue coagulado na luz do intestino (NOGUEIRA; ANDRADE, 2011). Nos quadros de hematúria enzoótica, verifica-se na necrópsia, formações nodulares na bexiga (SPINOSA et al., 2008), além de urina com sangue em seu interior (NOGUEIRA; ANDRADE, 2011). A histopatologia revela-se um processo neoplásico de origem epitelial e mesenquimal, algumas vezes com anaplasia severa. (NOGUEIRA; ANDRADE, 2011), Geralmente verifica-se também uma reação linfocítica severa (SPINOSA et al., 2008). Nos quadros de carcinoma no trato digestivo superior, verificam-se formações neoplásicas de coloração amarelo-acinzentada infiltradas, normalmente na base da língua, no esôfago, na cárdia e no rúmen. A histopatologia revela carcinoma epidermóide (carcinoma escamoso), com grande formação de queratina (NOGUEIRA; ANDRADE, 2011). 2.5 Tratamento e controle Não há tratamento conhecido como eficácia comprovada para qual quer das formas de intoxicação produzidas pela P. aquilinum em ruminantes (NOGUEIRA; ANDRADE, 2011). A remoção dos animais do pastoso invadidos pela planta não reverte nem altera o curso dessa afecção, sendo, portanto, aconselhado o abate do animal (SPINOSA et al., 2008). Já para os equinos, a simples remoção dos animais de áreas infestadas, interrompendo a ingestão da planta, muitas vezes é o suficiente para a cura (NOGUEIRA; ANDRADE, 2011). Ellen M afra Animais gravemente acometido podem ser tratados com vitamina B1(500mg a 1g/dia durante três dias) (NOGUEIRA; ANDRADE, 2011). A identificação e a erradicação da planta no pasto são a melhor maneira de controlar a intoxicação (SPINOSA et al., 2008). 2.6 Referências TOKARNIA Carlos, DOBEREINER Jurgen, CANELLA Camilo. Ocorrência da intoxicação aguda pela “samambaia” (Pteridium aquilinum (L.) Kuhn) em bovinos no Brasil, Pesquisa agropecuária brasileira, Brasília, v. 2, n. 1, pág. 329 á 336, janeiro, 2004. Disponível em: https://seer.sct.embrapa.br/index.php/pab/article/view/17929 SOUZA Natália, CARNEIRO Cláudia, SANTOS Rinaldo. Pteridium aquilinum: o que sabemos e o que ainda falta saber, Bioscience journal, Uberlândia/MG, v. 26, n. 5, pág. 798 á 808, outubro, 2010. Disponível em: https://www.sumarios.org/artigo/pteridium-aquilinum-o-que-sabemos-e-o-que- ainda- falta-saber ANJOS Bruno, IRIGOYEN Luiz, FIGHERA Rafael, GOMES Aline, KOMMERS Glaucia, BARROS Claudio. Intoxicação aguda por samambaia (pteridium aquilinum) em bovinos na região central do Rio Grande do Sul, Pesquisa veterinária brasileira, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, pág. 501 a 507, outubro, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pvb/a/HLzNrtXsmNBwC9FKycbmvXy/?lang=pt CRUZ Guilherme, BRACARENSE Ana. Toxicidade da samambaia (pteridium aquilinum (L.) Kuhn) para a saúde animal e humana, Semina: ciências agrárias, Londrina, v. 25, n. 3, pág. 249 – 258, setembro, 2004. Disponível em: https://doi.org/10.5433/1679-0359.2004v25n3p249 TOKARNIA Carlos, DOBERNEIR Jurgen, PEIXOTO Paulo. Plantas tóxicas do Brasil, 1° edição, Rio de Janeiro: Editora Helianthus, 2000. SPINOSA Helenice, GÓRNIAK Silvana, NETO João. Toxicologia aplicada a medicina veterinária, 1° edição, Barueri, SP: Manole 2008. Ellen M afra https://seer.sct.embrapa.br/index.php/pab/article/view/17929 https://seer.sct.embrapa.br/index.php/pab/article/view/17929 https://seer.sct.embrapa.br/index.php/pab/article/view/17929 https://www.sumarios.org/artigo/pteridium-aquilinum-o-que-sabemos-e-o-que-ainda-falta-saber https://www.sumarios.org/artigo/pteridium-aquilinum-o-que-sabemos-e-o-que-ainda-falta-saber https://www.sumarios.org/artigo/pteridium-aquilinum-o-que-sabemos-e-o-que-ainda-falta-saber https://www.sumarios.org/artigo/pteridium-aquilinum-o-que-sabemos-e-o-que-ainda-falta-saber https://www.scielo.br/j/pvb/a/HLzNrtXsmNBwC9FKycbmvXy/?lang=pt https://www.scielo.br/j/pvb/a/HLzNrtXsmNBwC9FKycbmvXy/?lang=pt https://doi.org/10.5433/1679-0359.2004v25n3p249 https://doi.org/10.5433/1679-0359.2004v25n3p249
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