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Fichamento - A dinâmica migratória do Paraná o caso da região Sudoeste ao longo do século XX

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Acadêmico: Jéfferson Adriano Ferreira
Disciplina: Organização do Espaço Brasileiro
Profa. Dra. Karla Rosário Brumes
Resenha: A dinâmica migratória do Paraná: o caso da região Sudoeste ao longo do século XX
MONDARDO, Marcos L. A Dinâmica Migratória do Paraná: O Caso da Região Sudoeste ao Longo do Século XX. R. bras. Est. Pop., Rio de Janeiro, v. 28, n. 1, p. 103-131, jan./jun. 2011.
Primeiramente em seu artigo o autor menciona que o estado do Paraná possui uma peculiaridade no que diz respeito a dinâmica migratória, ocorrida ao longo do século XX. Em síntese foram três os períodos de evolução demográfica no Estado, onde o processo migratório deu-se com importante papel na configuração e desenho do território. Relacionando e explicando na sequencia os três períodos.
1. Entre 1900 e 1940, existia uma população encontrava-se dispersa, onde praticava sua economia de subsistência;
2. 1940 até 1970, ocorre uma expansão da fronteira agrícola estadual, a qual atraiu milhares de trabalhadores bem como suas famílias de vários locais do país, ocupando e apropriando-se de áreas da região. Ao final deste período a população paranaense havia aumentando em 5x seu tamanho inicial;
3. Entre 1970 e 2000, devido a modernização da agricultura, o agro torna-se subordinado a indústria, assim impondo uma nova divisão social e territorial do trabalho, dessa forma diminuindo a população das áreas rurais, provocando, por sua vez, a urbanização, formando correntes emigratórias em busca de trabalho, terra e melhores condições de vida.
A ampliação territorial da frente de expansão: A migração cabocla para o Sudoeste paranaense - 1900 a 1940
A mobilidade dos caboclos se caracteriza como a primeira corrente migratória para o Sudoeste do estado do Paraná, ocorreu até o final do século XIX, início do XX, com uma população pouco numerosa, e predominantemente rural, essas pessoas advindas de cidades como é o caso de Palmas, que possuía uma população relativamente grande para o período. Além de locais mais distantes como é o caso do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Esses migrantes eram antigos ocupantes do espaço das fazendas, além de peões, agregados, e muitos ex-escravos, também fazendeiros que perderam suas terras, que se embrenhavam nas matas em busca de recursos, terras, melhores condições de sobrevivência, pois o momento era de desvalorização do trabalho, assim as pessoas estavam em busca de terras ainda livres da lógica da dominação capitalista.
Essa mobilidade é chamada de “Fronteira em Marcha” (Corrêa 1970), ocorria uma expansão territorial do modo de vida caraterizado pela caça, pesca e coleta, além de um aumento da criação e comercialização de alguns animais.
Ao chegar na região Sudoeste do estado o caboclo (primeiramente na maior parte homens, posteriormente ocorre um equilíbrio entre homens e mulheres) se fixavam em terras como posseiros, essas frentes de expansão foi um dos modos que se deu a reprodução e aplicação do capital. Onde a população da referida região passa de 3 mil pessoas para 6 mil habitantes, no período de 20 anos (1900 a 1920), já em 1940 a população era de 23 mil habitantes.
Devido à falta de meios de comunicação até a década de 1940 e também pelo fato das atividades econômicas a região era ainda pouco povoada.
A Expansão acelerada da fronteira agrícola paranaense: A migração gaúcha e catarinense para a regia Sudoeste - 1940 a 1970
O período foi marcado por uma intensa migração em direção a região, esses emigrantes eram na maioria advindos dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (colonos voltados à policultura alimentar e à pecuária suína). Essa crescente quantidade de pessoas provocou uma grande expansão territorial pela consolidação da fronteira agrícola, e também houve o surgimento de diversos núcleos urbanos, criados com intuito de dar suporte às atividades agrícolas. São dois os fatores que provocaram essa mobilidade, o intenso processo de minifundização (subdivisão das terras por herança familiar), ampliação de grandes propriedades dedicadas a pecuária, geraram um excedente populacional em busca de melhores condições de vida.
Ao chegarem à região Sudoeste e Oeste do Paraná essas pessoas formavam pequenas propriedades baseadas no trabalho familiar e direcionado à produção para lavouras de subsistência.
Em 1943 (começou a atual em 1948) foi criada a Colônia Agrícola Nacional General Osório - Cango, projeto geopolítico do governo Getúlio Vargas, chamado marcha para Oeste, propunha o deslocamento de um grande contingente de pessoas para ocupar áreas chamadas “vazias”. Existia uma necessidade de estimular a pessoas a migrar para áreas pouco povoadas, para desbrava-las, acarretando expansão e integração territorial, logo, desenvolvimento econômico do país. O projeto Marcha para Oeste teve como intuito criar um “novo” trabalhador rural, distante de suas tradições e passado, deveria ser ordeiro, produtivo, voltado para o lucro.
Contudo, foi somente a partir de 1950 e 1960 que a região passa a contar com uma infraestrutura urbana e também estradas.
No início da década de 1950 a maior parte das terras da região Sudoeste já havia sido comercializada, assim tornando-se propriedade privada, porém muitas ainda sem o título de propriedade, ocorrendo somente após 1960, com a criação do Grupo Executivo de Terras do Paraná.
Nesse período ocorreu um grande deslocamento, além de colonos, profissionais urbanos, para a região, com intuito de trabalhar nas diversas funções que foram surgindo com as aglomerações urbanas.
Existia uma semelhança entre a região Sudoeste e os estados de origem desses imigrantes, o relevo acidentado, marcado pela existência de vales e morros, que dificultou a mecanização das lavouras. Assim forçando as famílias a praticarem o cultivo de arroz, milho, feijão e mandioca, além da criação de rebanhos suínos.
O Cango marca o rompimento do período anterior, o qual era dominado pelo caboclo. Iniciando uma forte ascensão no crescimento populacional do povoado ao município.
Essas ações governamentais foram de suma importância para mobilização de um grande contingente populacional em direção ao longo da fronteira Oeste do país.
A redistribuição espacial da população paranaense: Da modernização da agricultura às migrações na região Sudoeste - 1970 a 2000
A década de 1960 foi marcada pela implantação de um modelo agrícola nacional de produção, esse novo modelo, era subordinado ao padrão de acumulação capitalista, vinculado ao pacote tecnológico que provocou alterações no processo produtivo do estado, principalmente as relações de produção do setor agropecuário. Logo a região Sudoeste passa de uma região receptora de fluxos migratórios para uma região expulsora de população.
A partir da década de 1970 ocorre um novo momento de transição da dinâmica populacional, com repercussões diretas sobre os movimentos migratórios, nesta década as forças econômicas e políticas e à industrialização/Modernização passaram a comandar a produção do território. A modernização da agricultura, resultou no aumento da produtividade, logo, maior rentabilidade, o que acarretou a expulsão de inúmeros agricultores do campo, sobretudo na região Sudoeste do Paraná.
1970 também foi marcada pelo “fechamento” da fronteira colonial do Sudoeste, devido ao esgotamento das terras que antes foram ocupadas pelos migrantes catarinenses e gaúchos, com o crescimento da população ocorreu um fracionamento das propriedades além da valorização das terras. Porém esse fenômeno já vinha ocorrendo desde a década de 1960, onde muitos produtores rurais moravam nas cidades e mantinham suas terras em produção, desviando a renda da produção agropecuária para os proprietários que moram nas cidades.
Esses produtores rurais obrigaram-se a se realocarem nas cidades, acarretando uma redução da população rural e um aumento da população urbana, muitos migraram para outros estados até mesmo outros países. Esse processo de acumulação de pessoas nas áreas urbanas ocorreu entre 1960 e 2000, e é explicada pela crise que a modernização trouxe para ocampo.
Os agricultores que permaneciam na região eram obrigados a adquirir máquinas e insumos para acompanhar o desenvolvimento tecnológico, utilizando-se de créditos de financiamentos, isso fez com que os agricultores acabassem presos aos bancos de financiamentos, que na maioria das vezes cobravam juros elevados. Assim o agricultor se viu endividado e obrigado a vender sua terra, pois não conseguia mais pagar essas dívidas, logo era obrigado a migrar.
A mão de obra que agora desprovidos de terras, passam a trabalhar em outras atividades produtivas, não agrícolas, alterando assim, a divisão territorial e social do trabalho. Cidades como Francisco Beltrão, Dois Vizinhos e Pato Branco sofreram um processo de industrialização, jovens migraram para essas cidades para trabalhar na industrias.
O agricultor passa a não mais considerar o campo como um lugar de possibilidade de reprodução de seus filhos bem como de sua família, a região foi considerada como um local onde a reprodução social para os mais jovens não era mais possível.
Esse fenômeno de saída do meio rural e o intenso crescimento e proliferação de áreas urbanas, não formam um fenômeno somente da região Sudoeste paranaense, mais sim de todo o país. A urbanização em 1980 atingiu o patamar de 68%, ao passo que, em 1970 o Brasil tinha ultrapassado a quantidade de 50% de pessoas residentes nas cidades.
Nas suas considerações finais o autor explica que as migrações internas tiveram a função de atração, redistribuição e posterior expulsão de pessoas no/do Paraná, principalmente na região Sudoeste. Assim modificando a estrutura econômica, politica e cultural do estado, através da relação do capital e Estado.
A composição da força de trabalho agrícola foi alterada pelas sucessivas transformações agrícolas na região Sudoeste, isso resultou em processos de atração, reordenamento e expulsão de população.

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