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MÉTODOS DE REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE História do Centro de Material e Esterilização (CME) O CME surge da necessidade de um local onde fossem processados os materiais utilizados em cirurgia, a partir da concepção e dos princípios de assepsia e controle de infecção. Dessa maneira surgem o CME e a enfermagem em CME. Sua importância se dá também no controle de infecção hospitalar no serviço de saúde. Os primeiros CME eram ligados ao Centro Cirúrgico (CC) e tinham estrutura simples se compararmos aos CME atuais. Com o crescimento da demanda de materiais cirúrgicos, sentiu-se a necessidade de centralizar as atividades de limpeza, acondicionamento e esterilização em um único local, de forma a racionalizar o trabalho e otimizar o uso de equipamentos, pois quando dispersos pela instituição, dificultavam sua manutenção e padronização de procedimentos. Inicialmente a enfermagem que atuava no CC também era responsável pelo CME, porém hoje vemos uma evolução, sendo o CME uma unidade independente do CC, incluindo o que se refere ao seu recurso humano. O CME tem como fundamentação teórica e conceitual o Ministério da Saúde (MS), que apresenta o CME como “O conjunto de elementos destinados a recepção, expurgo, preparo, guarda e distribuição dos artigos para as unidades dos estabelecimentos assistenciais de saúde” (BRASIL, 2002). RDC 15: A RDC 15, de 15 de março de 2012, regulamenta os requisitos para as boas práticas para o processamento de produtos para a saúde, definindo o CME como “Unidade funcional destinada ao processamento de produtos para a saúde dos serviços de saúde” (ANVISA, 2012). Regulamenta área de inspeção, preparo e acondicionamento; área de esterilização; sala de desinfecção química, quando aplicável, área de monitoramento de processo de esterilização e Armazenamento e distribuição. A RDC 15 também versa classifica o CME em CME classe I e CME classe II. CME classe I = realiza o processamento de produtos para a saúde não críticos, semicríticos e críticos de conformidade não complexa passíveis de reprocessamento. CME classe II = realiza o processamento de produtos para a saúde não críticos, semicríticos e críticos de conformação complexa e não complexa passíveis de processamento. O CME classe II também deve contar com áreas de apoio, como vestiário com sanitários para os funcionários, depósito de material de limpeza, copa de funcionários, sala administrativa e sala de descanso dos funcionários em plantões noturnos. PRINCIPAIS CONCEITOS EM CME Produtos para saúde: divididos em três categorias. Críticos: o risco de transmissão de infecção envolvido é alto, caso estejam contaminados com qualquer microrganismo. É aquele produto que penetra em tecidos estéreis ou sistema vascular e precisa estar esterilizado, uma vez que qualquer contaminação poderá resultar em transmissão de doenças. Semicríticos: entram em contato com mucosa íntegra ou pele não intacta. O risco de transmissão de infecção envolvido é intermediário, pois as membranas apresentam certa resistência a infecções causadas por esporos bacterianos. Esses produtos devem receber no mínimo a desinfecção de alto nível. Não críticos: entram em contato com a pele intacta ou não entram em contato direto com o paciente. O risco de transmissão de infecções é baixo, porque a pele age como uma barreira efetiva a muitos microrganismos. Devem receber desinfecção de nível baixo, e em caso de ausência de matéria orgânica, a limpeza seria suficiente (GRAZIANO; SILVA; PSALTIKIDIS, 2011). Dinâmica e Fluxo no CME: fluxo unidirecional, ou seja, não há o cruzamento de materiais (materiais limpos não cruzam com materiais contaminados). Os materiais contaminados de diversas maneiras são encaminhados ao CME, onde são submetidos a processo de recepção, limpeza, preparo e acondicionamento, esterilização, armazenamento e distribuição. Possui três áreas – expurgo, área limpa e área estéril – que devem ser separadas entre si por barreiras físicas, impossibilitando o fluxo de materiais e pessoas. O CME classe I pode ter entre si separações com barreiras técnicas que são conceituadas como “o conjunto de medidas comportamentais dos profissionais de saúde visando à prevenção de contaminação cruzada entre o ambiente sujo e o ambiente limpo, na ausência de barreiras físicas” (ANVISA, 2012). Todo estabelecimento de assistência à saúde (EAS) que tiver um CC, centro obstétrico e/ou ambulatorial, hemodinâmica, emergência de alta complexidade e urgência deve ter um setor de CME. Se houver materiais de conformação complexa, deverá existir um CME classe II. O CME pode se localizar dentro ou fora da EAS, desde que não haja prejuízo à integridade do material ou qualquer risco de contaminação ou perda da validade do processo realizado (SOBECC, 2013). Devem ter um POP. Planta Física e Estrutura do CME: CME deve ser um local autônomo e independente do CC, sendo que o ideal é que o CME esteja próximo de unidades fornecedoras (exemplo – almoxarifado e rouparia) e permita comunicação e transporte fácil para os centros consumidores. Recomenda-se que seja afastado de áreas e grande circulação de pessoas. O tamanho do CME deve estar de acordo com a demanda diária de produtos, número de leitos, presença de CC, especialidades, número de procedimentos entre outros. Pisos - Devem ser de cor clara, ser resistentes ao calor, umidade e soluções corrosivas, ser não porosos, não sonoros e absorventes da luz, oferecer boa condutibilidade elétrica, ser duráveis, ser laváveis e ser de fácil limpeza. A preferência deve ser por pisos de vinil, que são menos duros e de fácil conservação. Paredes - As paredes devem ser lisas e planas, sem saliências ou reentrâncias, com cantos abaulados e arredondados. O revestimento deve ser de material lavável, impermeável, sem porosidade, resistente a abrasão, durável e de cor suave, diminuindo a reverberação da luz. Teto/Forro - O uso de forros acústicos tem impacto na redução de ruídos no CME. Os forros podem ser removíveis ou não, e muitas vezes sustentam instalações e equipamentos. O material deve permitir a limpeza, e nas áreas onde há presença de vapor, deve-se optar por um material impermeável. Janelas - as janelas podem ser usadas no CME, desde que lacradas, permitindo entrada de luz natural e iluminação em áreas que necessitam de melhor visualização. Outro detalhe também diz respeito ao estresse do trabalhador e à possibilidade de visão do meio externo, o que pode ser um fator de diminuição de estresse e humanização. Para que as janelas possam ser mantidas fechadas e lacradas, é necessário sistema de ar condicionado e climatização. Ventilação/exaustão/ar-condicionado - O sistema de ar condicionado, além de ter o objetivo da climatização adequada, também está diretamente ligado à retirada de aerossóis em suspensão e à manutenção da temperatura adequada na área de armazenamento e distribuição, contribuindo para conservar o produto. Recomenda-se o uso de exaustão na área de recepção e limpeza dos produtos, com uso de pressão negativa, evitando que o ar contaminado saia dessa região. Já na área de armazenamento e distribuição de materiais, recomenda-se uso de pressão positiva, evitando que ao abrir a porta o ar que está no lado externo entre na região considerada mais limpa. Para garantir esse sistema, há a necessidade de um piso acima do CME com o controle e maquinário do ar condicionado do CME. Iluminação - a iluminação natural pode ser utilizada no CME, mantendo janelas lacradas; porém, devido à especificidade das atividades desenvolvidas no CME, é necessário que seja mantida iluminação artificial. No CME deve haver boa iluminação geral, além de pontos específicos em bancadas de trabalho e estações, locais que exigem maior acurácia visual. A iluminação pode ser feita também com lâmpadas fluorescentes repelentes a insetos. Sistema de água e energia- O consumo de água e luz no CME é muito grande, dessa forma tudo deve ser bem planejado para que o sistema de economia possa ser eficiente. Deve- se sempre ter a sustentabilidade em mente. EQUIPAMENTOS E MÁQUINAS DO CME Os equipamentos devem ser qualificados quanto à sua instalação, operação e desempenho periodicamente. Também devem ser calibrados anualmente os instrumentos e leitoras de testes de monitoramento de esterilização e selagem térmica. A manutenção dos equipamentos deve ser periódica e acompanhada pelo enfermeiro do CME e profissionais da engenharia clínica. Sempre que houverem reparos, trocas de local ou suspeita de falhas o equipamento deve ser testado. Destacamos a participação do profissional engenheiro nesse processo, validando quanto a questões técnicas todo o processo, em especial as manutenções preventivas e as validações anuais, preconizadas para os equipamentos médico-hospitalares. Termodesinfetadoras: São máquinas que removem a sujidade pela ação de força de spray e de jatos de água aplicados por meio de bicos ou braços rotativos associados ao detergente. São programadas para sucessivas etapas, como a pré-lavagem, ciclos de lavagem, enxague, desinfecção térmica e secagem. A NBR ISO 15883- 1 especifica os requisitos gerais de desempenho. Lavadoras Ultrassônicas: As lavadoras ultrassônicas são lavadoras que agem por ondas sonoras impossíveis de serem ouvidas por humanos, que variam entre 20 e 120 kHz, as quais se propagam em meio líquido. A lavadora ultrassônica gera bolhas microscópicas que estouram quando entram em contato com a superfície dos materiais, gerando uma área de vácuo localizado, removendo a sujidade do material. Chamamos esse processo de cavitação. É recomendado que produtos de conformação complexa, ou seja, aqueles de difícil limpeza e com lúmens de difícil acesso, produtos com válvulas e espaços internos inacessíveis, sejam lavados nesse tipo de máquina após passarem por processo de limpeza manual. Lavadora de Descarga: Também chamada de lavadora descontaminadora, realiza a limpeza de produtos como comadres, papagaios e vidros de aspiração, por meio de jatos de água com detergente, através da ação de braços rotativos e bico direcionados sob pressão. Tem como vantagem o fato de a equipe de saúde não entrar em contato com secreções biológicas do paciente, diminuindo o potencial de risco biológico da atividade. Secadora: O processo de secagem de produtos para a saúde acontece em muitos estabelecimentos de maneira manual, ou seja, com uso de panos e compressas limpas e claras. A opção da secagem com uso de equipamento específico se dá em especial quando existem materiais de difícil conformação. Filtros High Efficiency Particulate Air (Hepa) podem ser adaptados à secadora para remoção de 99,97% das partículas de 0,3 micra. A secadora possui fluxo contínuo de ar e distribuição uniforme de calor para que a secagem possa ser eficiente. Pistola de Ar Comprimido: necessidade do profissional que atua no CME de utilizar os equipamentos de proteção individual (EPIs) em todos os momentos do processo. Seladoras: A selagem deve estar livre de fissuras, rugas ou delaminações e ser feita de forma que permita a transferência sob técnica asséptica do pacote. A selagem deve obedecer à largura de 6 mm, podendo ser em “linha” simples, dupla ou tripla, e distante 3 cm da borda e do material. Equipamentos para Esterilização: Após o processo de selagem, o produto para a saúde embalado deve passar pelo processo de esterilização. A escolha do equipamento para o processo de esterilização dependerá dos recursos disponíveis no estabelecimento, tipos de materiais a serem esterilizados, tipo e quantidade de materiais e ciclos de esterilização necessárias, por exemplo, por dia em um CME. As autoclaves são os equipamentos responsáveis pelo processo de esterilização. Incubadoras para Testes Biológicos: Equipamento de monitoramento do processo de esterilização. USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL NO CME O CME é um local onde o profissional pode estar exposto a diversos riscos ao exercer a sua atividade laboral. Os riscos podem ser entendidos como tudo aquilo que pode colocar a saúde em situação de exposição e possíveis danos, sejam permanentes ou não. É exigido o uso de EPIs desde a área de recepção do material até a área de distribuição do mesmo aos setores consumidores. O uso de EPIs no CME está vinculado ao tipo de atividade desenvolvida em cada área onde se dá o processamento dos produtos para a saúde. Os EPIs são: Luvas - As luvas indicadas para uso na área de limpeza de produtos devem ser de materiais chamados nitrila e butila, que são antiderrapantes; Máscaras - são indicadas para serem usadas na área de limpeza do material, pois protegem o profissional da inalação de aerossóis e respingos na região da boca e nariz. O uso de máscaras faciais com filtro de carvão ativado pode reduzir a inalação do vapor dos desinfetantes e esterilizantes nas áreas de desinfecção e esterilização no CME. Podem ser substituídas por protetores faciais, no caso de ausência de vapores ou aerossóis; Protetores Faciais - protegem a face contra impactos (partículas quentes ou frias), produtos químicos (poeiras, líquidos e vapores) e riscos biológicos (aerossóis, gotículas e partículas diversas). Os protetores faciais oferecem proteção sem necessidade do uso de óculos; Aventais - são usados na área de limpeza do material, para proteger o profissional dos riscos biológicos. O avental deve ser impermeável e cobrir todo o corpo do profissional, inclusive os membros superiores; Protetores Auriculares - Visam proteger os ouvidos contra níveis elevados de ruído, regidos pela norma NBR nº 10.152, que estabelece o limite de 60 decibéis para uma condição de conforto durante a jornada de trabalho. Os protetores podem ser do tipo concha, externos, ou de inserção e/ou descartáveis; Calçados - recomenda-se pela NR 32 o uso de calçados fechados. Para o CME, a recomendação é de calçados fechados, e na área de expurgo, pelo fato de ser uma área úmida, com possibilidade de quedas ou de se molhar os pés, recomendamos o uso de botas ou calçados impermeáveis; EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA COLETIVOS NO CME No CME, pode ser necessário o uso de lava‑olhos devido à possibilidade de contato de produtos químicos na região dos olhos. Já o chuveiro pode ser usado coletivamente, ou então recomenda-se que haja chuveiros nos vestiários, para qualquer eventual necessidade dos profissionais que atuam nesse setor fechado. Além do EPIs e EPCs recomendados no CME, devem estar ao alcance de todos as informações necessárias em caso de emergências, como incêndios, acidentes com materiais perfurocortantes etc. Todos esses procedimentos devem ser registrados e monitorados visando à segurança do profissional no ambiente de trabalho do CME. RECURSOS HUMANOS NO CME O trabalho no CME é realizado por uma equipe especializada e voltada às necessidades específicas do CME. O enfermeiro configura peça-chave nos CMEs no Brasil. Segundo a RDC 15 – “O CME deve contar com um profissional de nível superior, para coordenar as atividades relacionadas ao processamento de produtos para a saúde, de acordo com as competências profissionais definidas em legislação específica”. A RDC, conforme lemos, não fala claramente da presença do enfermeiro como profissional a liderar e coordenar o CME, porém no Brasil temos o trabalho de coordenação e supervisão do CME cabendo ao enfermeiro, já que sua formação e desenvolvimento de competências direcionam essa função a ele como profissional mais preparado e capacitado a coordenar o setor. O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), em sua Resolução nº 424/2012, normatiza as atribuições dos profissionais de enfermagem em CME. As atividades realizadas com mais frequência no CME são, em ordem de frequência: supervisão das atividadesrealizadas nessa área, confirmação da programação de cirurgias para verificação da disponibilidade de produtos como caixas e roupas, atendimento às unidades consumidoras, coordenação do processo de trabalho da unidade, acompanhamento da equipe nas atividades, em especial em relação aos novos trabalhadores, supervisão do funcionamento de equipamentos, confirmação das cirurgias em relação ao uso de materiais consignados e checagem de documentação de controle de esterilização. Os auxiliares e técnicos de enfermagem desempenham a função de realizar os procedimentos do CME. O auxiliar administrativo também faz parte do CME, sendo considerado o elo entre o ambiente externo e interno ao CME, sendo responsáveis por uma efetiva comunicação com os demais setores da instituição. De acordo com Possari (2010), CME é um local de constante inovação tecnológica. Dessa forma, o treinamento e desenvolvimento ao profissional nesse setor deve ser direcionado à realidade do profissional do CME, pois suas atividades diferem das demais unidades do estabelecimento. Conforme afirma Possari (2010), o treinamento e desenvolvimento devem acontecer de forma periódica e regularmente, sendo inclusive considerado como indicador de qualidade do serviço, ou seja, o tempo gasto em treinamento e desenvolvimento tem ligação direta com a qualidade do serviço e sua avaliação positiva. O processo de desenvolvimento não acaba; portanto, ter o enfermeiro envolvido no processo de treinamento e desenvolvimento é essencial ao seu sucesso na equipe de enfermagem. CONCEITOS DE MICROBIOLOGIA Biofilme: consiste em multicamadas de células bacterianas ou fungos agrupados e envoltos em um material extracelular amorfo, composto por exopolissacarídeos de origem bacteriana que têm por função unir as células firmemente à superfície dos biomateriais e entre elas, formando uma matriz extracelular composta, fundamentalmente, de carboidratos e proteínas, mas também de DNA extracelular e detritos de células mortas. O biofilme pode ter sua formação iniciada poucas horas após o começo do uso do material, e sua prevenção pode partir da limpeza precoce desse material. Remover o biofilme dos materiais: uso de métodos mecânicos de limpeza, como fricção com aparatos adequados e ultrassonografia (lavadoraultrassônica). Endotoxinas: São liberadas quando há a ruptura da parede celular de uma bactéria – os componentes da membrana celular são então chamados de endotoxinas. O componente da membrana celular bacteriana se constitui de lipossacarídeos, fosfolipídeos e proteínas que, quando liberadas na circulação sanguínea, podem ser tóxicas para o ser humano (pode causar febre no hospedeiro e resultar ainda na lise de suas células sanguíneas). As endotoxinas representam preocupação no processo de limpeza do CME, pois seus resíduos no material podem causar reações chamadas de pirogênicas, ou seja, febre, tremores e desconforto intenso, o que muitas vezes é confundido com processo infeccioso. A estratégia para diminuir a quantidade de endotoxinas dos produtos após o procedimento de limpeza está relacionada à qualidade da água no enxágue dos materiais. Estrutura celular bacteriana: Plasmídeo: estrutura responsável pela autoduplicação (forma de resistência) da bactéria. Cápsulas: com grande presença de água, essas cápsulas ficam ao redor da parede celular. Além de favorecerem a aderência ao substrato, também ajudam as bactérias a resistirem ao processo de fagocitose. Esporos: formam uma camada protetora em alguns gêneros de bactérias, tornando-as mais resistentes a mudanças ambientais que ameacem sua sobrevivência. Também atuam na proteção contra agentes químicos e físicos. Príons: são considerados os agentes causadores de doenças degenerativas do sistema nervoso denominadas encefalopatias espongiformes transmissíveis. São agentes proteináceos pequenos, não convencionais, tendo como característica não possuir nenhum ácido nucleico (RNA e DNA) detectável pelos métodos atuais. Entre as doenças causadas por príons, temos a mais epidemiologicamente relevante, que é a doença de Creutzfeld- Jakob. A proteína priônica se concentra no tecido nervoso (incluindo dura-máter) e no cérebro, sendo considerada de alto risco de transmissão. Os materiais contaminados, ou com suspeita de contaminação, por príons devem ser processados de maneira especial. Carga microbiana – bioburden: bioburden é o termo usado para se referir ao volume estimado e ao tipo de contaminantes em um objeto a ser esterilizado. O bioburden é considerado a população viável de microrganismos em um produto ou pacote. Resistência dos microrganismos: A resistência acontece por meio de mutações espontâneas ou transferência de conteúdo genético dos microrganismos. Pode se dar por exposição repetida a concentrações subideais de agentes germicidas – por exemplo, falhas do processo de fabricação e manipulação ou utilização do produto em concentrações não adequadas. Morte microbiana: se dá com a contagem de número de sobreviventes após o contato com um agente destrutivo. Essa morte pode ser identificada quando ao ser inoculado a um meio de cultura, o microrganismo não é capaz de se reproduzir. Para o processo de esterilização, é requerido um nível de segurança de esterilidade de 10-6, sendo esse número definido como margem de segurança nos processos de esterilização LIMPEZA A limpeza é a remoção de sujidades orgânicas e inorgânicas de sua superfície, visando reduzir os microrganismos e resíduos, sejam eles químicos, orgânicos, proteínas, sangue, biofilmes ou endotoxinas. Veremos os tipos de limpeza. Limpeza Manual: se inicia com a adoção de um local para recepção dos produtos. Deve-se lavar peça por peça do material, mantendo-as submersas em água para evitar a formação de aerossóis. Deve-se imergir o material em solução detergente, em cubas de tamanho adequado, e após o tempo determinado pelo fabricante, o produto deve ser friccionado por cinco vezes, com escovas não abrasivas, seguindo a direção das ranhuras. As escovas utilizadas no processo devem ser exclusivas para essa finalidade, evitando-se o uso de esponjas abrasivas que possam causar danos ao material. Além disso, as escovas devem ser inspecionadas e substituídas sempre que necessário e também ser limpas a cada uso para evitar que acumulem sujidade e se proliferem microrganismos. Suas limitações e falta de uniformidade do processo por diferentes profissionais, ou seja, cada profissional acaba realizando a limpeza de uma forma, às vezes com critérios diferentes, o que acaba por comprometer o resultado. A limpeza manual deveria ser indicada para alguns tipos de materiais, ou seja, aqueles delicados que não suportariam o processo automatizado de limpeza nas lavadoras desinfetadoras. As desvantagens da limpeza manual se relacionam ao risco ocupacional, variações de técnicas entre os profissionais, acidentes com materiais perfurocortantes e contato constante com umidade, produtos químicos e aerossóis gerados durante o processo de escovação. Outro fator que se configura como desvantagem é o tempo gasto nesse processo. Limpeza Automatizada: é aquela que utiliza lavadoras no processo de limpeza; portanto, possibilita a reprodutividade do processo e o controle dos parâmetros, além de minimizar os riscos ocupacionais. As lavadoras são programadas para ciclos de pré-lavagem com água fria, ciclo de lavagem propriamente dito e enxágue. Quando realizam a termodesinfecção, usam água a alta temperatura e, ao final do ciclo, utilizam água deionizada ou de osmose reversa. O ciclo também inclui secagem com ar quente, por meio dos braços rotativos. Alguns fatores podem influenciar diretamente na qualidade da limpeza dos produtos para a saúde, sendo eles a qualidade da água, o detergente e a configuração do produto. Destacamos que mesmo utilizando as lavadoras automatizadas, há necessidadede uso de EPIs completos, pois existem o risco ocupacional relativo aos aerossóis e os riscos biológicos presentes em todo o processo de limpeza dos produtos no expurgo, ou seja, na área contaminada. Qualidade da água: deve atender a padrões mínimos de qualidade para que possa ser utilizada no processamento dos produtos para a saúde. A água pode conter microrganismos (bactérias gram-negativas e micobactérias), endotoxinas (causadores de reações pirogênicas, como visto anteriormente), carbono orgânico (indica que a água pode ter material proveniente de microrganismos, plantas e animais), pH (níveis extremos podem interferir na ação de detergentes), dureza (concentração de carbonato de cálcio e presença de sais, de cálcio e de magnésio), íons de ferro, cobre e manganês, que podem causar manchas nos produtos e nos equipamentos. A qualidade insatisfatória da água pode provocar oxidação das câmaras das lavadoras, mudança de coloração dos produtos componentes das lavadoras e oxidação dos produtos e instrumentais. A escolha do método de tratamento da água deve contemplar os recursos da instituição, seus objetivos, os tipos de equipamentos e os produtos para a saúde, além de sustentabilidade. Uso de filtros de sedimentos: visam à remoção de partículas grosseiras e removem ferro e manganês. Abrandadores: recipientes cilíndricos que contém esferas ligadas por íons sódio, denominadas resinas, transformam a água dura em água mole, ou seja, substitui os íons cálcio e magnésio por íons sódio. Deionização: usa resina de troca iônica para remoção de sais da água. Não retira endotoxinas ou microrganismos. Osmose reversa: processo no qual membranas semipermeáveis dispostas em espiral e uma bomba produzem fluxos de água e pressão dentro de um sistema. Uma parte da água passa pelas membranas, sendo removidos os sais orgânicos, bactérias e endotoxinas. A água purificada é recolhida em reservatórios próprios, e o resíduo não purificado pode ser reutilizado em descargas ou outros fins. Destilação: a água precisa ser aquecida até o ponto de ebulição para que o vapor, ao ser gerado, seja resfriado, retornando à fase líquida no reservatório. Sais inorgânicos, bactérias, cistos e endotoxinas são removidos nesse processo. Detergentes: são produtos destinados à limpeza de superfícies e tecidos, por meio da diminuição da tensão superficial, favorecendo a remoção da sujidade. No CME, vemos que são utilizados detergentes enzimáticos, alcalinos ou neutros, desde que tenham certificado para uso em produtos para saúde. Os detergentes devem ter compatibilidade com o produto a ser processado, sem causar danos, oxidação e manchas, e não podem conter corantes ou fragrâncias. Além disso, seus agentes tensoativos devem ser biodegradáveis, com baixa formação de espuma. Os detergentes são constituídos de íons, estruturas químicas responsáveis por solubilizar as sujidades. Dentro do CME temos a recomendação do uso de detergente enzimático para a limpeza de produtos para a saúde. Os detergentes enzimáticos possuem enzimas que facilitam a quebra da matéria orgânica, ou seja, a sua destruição e retirada do produto. As enzimas são substâncias catalizadoras, produzidas por células vivas, que têm poder de acelerar reações químicas, mesmo em baixas concentrações. Dependendo do tipo de substrato no qual irão atuar. Ao lavarmos os produtos, todos os seus componentes devem entrar em contato com o detergente. Portanto, todas as peças precisam estar abertas, possibilitando que o detergente entre em contato com elas, inclusive preenchendo lúmens e canais. Mesmo com o uso de detergentes ideais à limpeza, o uso de fricção é indispensável para uma boa limpeza. Assim, devem ser usadas escovas e aparatos de limpeza adequados, conforme dito anteriormente. A imersão do produto no detergente enzimático não deve ultrapassar o tempo recomendado, pois pode facilitar a formação de biofilme. Os detergentes enzimáticos têm temperatura ideal em que eles se tornam eficazes. Se forem utilizados em condições fora dessa recomendação, sua eficácia poderá ser reduzida. Os detergentes alcalinos são eficazes na retirada de manchas e manutenção do brilho de instrumentais em relação ao detergente enzimático, pois com o tempo de uso de processamento os instrumentais tendem a adquirir aparência de desgaste, que pode ser confundida com sujidade. Outro aspecto importante é a adoção de procedimentos operacionais padronizados (POP), para o processo de limpeza dos produtos, disponíveis e de fácil acesso aos profissionais envolvidos no processo. O enfermeiro deve, portanto, participar desse processo, treinando e capacitando os profissionais do CME para o processo adequado, seja automatizado, seja manual. Enfatizamos ainda a importância do início precoce da limpeza, ou seja, quanto mais rápido iniciarmos o processo, mais bem-sucedido ele será. A limpeza tem início durante o uso – por exemplo, durante o procedimento cirúrgico, na devolução do instrumental à mesa cirúrgica, quando o material pode ser limpo com uma compressa umedecida com água destilada estéril. Secagem: material úmido pode favorecer o crescimento bacteriano, interfere no processo de esterilização, dilui os desinfetantes e causa manchas nas superfícies dos materiais. O processo de secagem pode ser realizado de forma manual, com material que não libere fibras ao ser friccionado. A inspeção visual é obrigatória para todos os materiais, devendo ser realizada em bancada previamente desinfetada com álcool 70% e forrada com tecidos de cor clara, para facilitar o processo. O processo de secagem também pode ser implementado e realizado com uso de pistolas de ar comprimido. As secadoras podem ser utilizadas como equipamento auxiliar no processo de secagem, em especial nos materiais de difícil acesso à secagem, como acessórios de inaloterapia e oxigenoterapia. Não se recomenda o uso de qualquer tipo de produto químico para secagem de produtos, como éter, álcool ou benzina, pois seus resíduos podem interferir na qualidade da esterilização e também na vida útil do produto, além de oferecerem riscos ocupacionais ao profissional e paciente Controle Microbiológico: colocam-se parafusos de aço inox previamente contaminados (bioindicadores) em pontos estratégicos da lavadora e expostos ao processo de limpeza e desinfecção térmica. Após o processo, os bioindicadores são incubados a 37 ºC por sete dias. Se for observado crescimento, procede-se o esfregaço para identificação do microrganismo. Esse tipo de controle é recomendado a cada três a seis meses. Para o monitoramento diário, recomenda-se o uso de monitores químicos do processo de limpeza. Controle químico – os testes têm o objetivo de validarem a eficácia do processo de limpeza, obtendo resposta em tempo real e auxiliando na tomada de ações corretivas imediatas, protegem a imagem da equipe do CME e auxiliam na redução e prevenção de infecção, garantindo a segurança do paciente no processo de esterilização. EMBALAGENS PARA ESTERELIZAÇÃO O produto deve ser embalado, para que possa ser submetido ao processo de esterilização, no caso de ser um produto para a saúde crítico. A embalagem deve permitir que o agente esterilizante entre em contato com o material de forma uniforme e também garantir a esterilidade do material após o processo de esterilização. Os produtos desmontados nas caixas garantem que o agente esterilizante possa entrar em contato com todas as superfícies do instrumental. Já os materiais como cúpulas ou cubas devem ser esterilizados e posicionados na caixa com a boca para baixo, evitando o acúmulo de líquido do processo de esterilização no material. Se os materiais precisam ser dispostos em diversas bandejas, recomenda-se esterilizar cada bandeja individualmente, para que não haja interferência no processo de entrada e saída do vapor no processo de esterilização. Ao selecionarmos a embalagempara esterilização, é necessário considerarmos os seguintes critérios de seleção: Ser permeável ao agente esterilizante, permitindo seu contato com o material embalado e facilitar a saída do ar ao término do processo, permitindo também a saída do agente esterilizante ao término do processo; Prover adequada barreira às partículas de sujeira, ser resistente à umidade, impedindo que gotículas entrem no pacote; Ser livre de ingredientes tóxicos e corantes que manchem o material; Resistir ao máximo a danos, ser flexível e a memória, ou seja, a permanência da dobra da embalagem, deve ser mínima; Não oferecer dificuldade à abertura do pacote ou possibilitar sua contaminação durante a abertura; Permitir selagem íntegra sem orifícios e áreas queimadas ou enrugadas; Permitir visualização do conteúdo. Tecido de Algodão: o campo cirúrgico deve ser confeccionado em tecido 100% algodão, com padrão sarja. A embalagem de tecido de algodão ainda é bastante utilizada, apesar de diversos serviços já terem aderido ao uso de embalagens descartáveis. Deve-se evitar o uso de tecidos cerzidos ou costurados e com remendos, pois a presença de furos pode comprometer a função de barreira da embalagem. Além disso, a embalagem deve ser lavada a cada uso para que o algodão possa ser hidratado, evitando seu ressecamento e quebra das fibras. Também é necessário evitar contato com líquidos, pois o tecido é absorvente, e monitorar com cuidado o número de reúsos da embalagem de algodão, atentando para desgastes e rasgos e furos. O prazo de uso das embalagens de esterilização feitas de tecido de algodão é de 7 dias. O método compatível com o tecido de algodão para esterilização é o de vapor saturado sob pressão, realizado em autoclaves, não sendo recomendado seu uso em outros métodos por incompatibilidade ao tecido e possibilidade de o agente esterilizante impregnar as fibras de tecido. Papel Grau Cirúrgico: É um sistema de barreira estéril, descartável, disponível em diversas apresentações e tamanhos, geralmente impregnado com indicador de processo químico de esterilização, tendo necessidade de selagem térmica. É muito utilizado por seu baixo custo e compatibilidade com diversos métodos de esterilização. O papel grau cirúrgico tem dois componentes, sendo um deles o papel propriamente dito e o outro uma face de filme plástico que possibilita a visualização do conteúdo da embalagem. Devido à sua conformação, ela comporta materiais menores e não muito pesados, pois há possibilidade de ruptura da embalagem. Sempre que possível, recomenda-se o uso de embalagens duplas. Antes de utilizar a embalagem de papel grau cirúrgico, deve-se conferir se a selagem não apresenta rugas, dobras, estrias ou falhas, se o envelope não apresenta áreas de selagem queimadas por excesso de calor e se não existe produto preso na área de selagem ou selagem sobre o produto. Além disso, é necessário abrir as embalagens e verificar se a abertura permite o acesso ao produto sem que ele toque na parte externa da embalagem. Deve-se olhar a embalagem contra a luz para ver se não existem furos do papel ou filme plástico e observar se a embalagem permite a abertura sem rasgar, sem liberar partículas e sem despedaçar. Papel Crepado: embalagem descartável, biodegradável, flexível e maleável. É composto de celulose 100% tratada e apresenta as seguintes características: alta eficiência de filtragem, sendo barreira efetiva contra a penetração de microrganismos; flexibilidade, com facilidade de moldar-se, sendo recomendado como embalagem para campos e aventais cirúrgicos. Entre as desvantagens do papel crepado, encontramos a baixa resistência mecânica e o fato de não permitir a selagem térmica. SMS – Tecido Não Tecido: conhecido como manta de polipropileno, tem resistência mecânica e ótima barreira microbiana, é hidrorrepelente e possui facilidade de disponibilidade no mercado e diversas marcas. Possui baixo desprendimento de fibras e pouca memória, sendo barreira bacteriana em torno de 99 a 100%, e embalagem muito segura. Se houver boas condições de armazenamento, pode ser preservada por longos períodos de tempo. É indicado para embalar produtos assimétricos e pesos elevados e pontiagudos, pois tem alta resistência a rasgos e furos, porém é uma embalagem de uso único e não pode ser reutilizada, pois há alteração estrutural e perda de função de barreira microbiana. Tyvek: Ela suporta temperaturas entre 120 e 126 ºC e possui propriedades específicas, como barreira bacteriana e permeabilidade a produtos esterilizantes. Possui alta resistência a tração e rasgos, é atóxica e resistente a líquidos, tem barreira microbiana de 99%, apresenta fechamento hermético por selagem, encontra-se disponível em vários tamanhos, permite visualização do produto dentro da embalagem, não retém umidade e é reciclável. Containers rígidos: É um sistema permanente, que ao mesmo tempo condiciona e protege os produtos, podendo ser feito de alumínio, aço inox ou plástico. Tem áreas perfuradas para saída de ar e para a entrada do agente esterilizante, sendo necessário o uso de filtros específicos e descartáveis no espaço em que temos os furos no container. Não há necessidade de qualquer outra embalagem ao utilizar o container, nem internamente, nem externamente. DESINFECÇÃO DE PRODUTOS PARA A SAÚDE A desinfecção é um processo que visa à eliminação de microrganismos presentes em produtos para a saúde que destroem todas as formas de vida microbiana, menos as formas esporuladas. A desinfecção tem objetivo de agir em produtos para a saúde semicríticos, ou seja, aqueles que entram em contato com mucosas íntegras e pele não íntegra. Temos como exemplo desses materiais os produtos de saúde para oxigenoterapia, materiais de assistência respiratória, endoscópios, espéculos, lâminas de laringoscópio, entre outros. A desinfecção é classificada em: Alto Nível: destruição de alguns esporos, de bacilo da tuberculose, de todas as bactérias vegetativas, de fungos e de todos os vírus. Nível Intermediário: inativa bactérias na forma vegetativa, a maioria dos vírus, fungos e as micobactérias, incluindo o agente da tuberculose. Não inativa os esporos. Baixo Nível: elimina a maioria das bactérias, alguns vírus e fungos, mas não inativa microrganismos resistentes como micobactérias ou esporos bacterianos. A equipe do CME deve estar treinada para classificar corretamente o material para a escolha do método adequado de desinfecção. Para isso, o enfermeiro deve manter atualizado o material relacionado aos procedimentos operacionais padronizados e bem descritos, além de estar à disposição de todos para consulta e avaliação das práticas e da qualidade dos processos. As técnicas de desinfecção podem ser automatizadas ou não automatizadas. A técnica não automatizada é aquela na qual o produto é desmontado, limpo, seco e colocado em recipiente próprio com desinfetante ou solução germicida. Algumas literaturas trazem que esse método manual deve ser adotado como última alternativa ao processo de desinfecção. Dentre os métodos de desinfecção automatizada, a primeira opção recomendada é a desinfecção física, ou seja, por meio de calor. Para que esse processo possa acontecer com efetividade e segurança, recomenda-se o uso de lavadoras desinfetadoras. Para o processo de desinfecção química, utilizam-se lavadoras termodesinfetadoras e pasteurizadoras, com racks adequados para cada tipo de carga. Desinfecção de endoscópios: Ao receber o endoscópio para ser processado, o profissional deve emergir completamente o endoscópio e suas válvulas em solução desinfetante adequada, ou seja, para realizar a desinfecção de alto nível. Deve-se irrigar todos os canais com o desinfetante, com seringas, evitando espaços com ar. É preciso remover o desinfetante aplicando ar antes do enxágue. Os endoscópios também podem ser processados em equipamentos dedesinfecção automatizada. ESTERILIZAÇÃO É o processo de destruição de todas as formas microbianas (vírus, fungos, bactérias, em forma vegetativa e esporulada) mediante a aplicação de métodos físicos, químicos e físico-químicos. Ela deve garantir segurança e incapacidade de desenvolvimento de formas sobreviventes ao processo de esterilização. Os métodos físicos são o calor e a radiação, sendo que os métodos de uso do calor são o vapor saturado sob pressão (calor úmido) e o calor seco. A radiação é usada com raios gama (emitidos pelo cobalto 60) e por meio de feixe de elétrons. Vapor saturado sob pressão: Esse processo acontece em um equipamento conhecido como autoclave. O princípio da autoclave a vapor se baseia na transferência do calor latente contido no vapor de água, que, ao contato com pacotes frios dispostos nas prateleiras da câmara interna, se condensa para a forma líquida, liberando nessa ação grande quantidade de calor em torno de todos os pacotes de produtos a serem esterilizados. Esse calor coagula as proteínas microbianas, levando a um efeito letal ao microrganismo e possibilitando a esterilização dos produtos expostos ao processo. O preenchimento da câmara interna de esterilização deve respeitar 80% da capacidade do equipamento, e os pacotes a serem esterilizados não devem encostar nas paredes da máquina, para que haja circulação adequada do vapor dentro da autoclave. O plano de manutenção preventiva da autoclave é essencial para garantir o bom funcionamento do equipamento e a qualidade do processo de esterilização. Radiação Ionizante: um método de esterilização a baixa temperatura que pode ser usado em produtos termossensíveis e em escala industrial. É utilizada para esterilização de produtos para a saúde e alimentos, tratamento de resíduos, entre outros usos. No Brasil, temos como método de esterilização a radiação com forma radioativa de cobalto 60. Métodos de esterilização a baixa temperatura: O primeiro método de esterilização a baixa temperatura utilizado foi o óxido de etileno, a partir de 1950, sendo utilizado até os dias de hoje. Mais recentemente, temos outros métodos de esterilização a baixa temperatura, entre eles o plasma de peróxido de hidrogênio, vapor a baixa temperatura e formaldeído (VBTF). Ainda mais recentemente, há também os equipamentos a base de ozônio. Outros métodos a baixa temperatura também são conhecidos, como os químicos. Porém, após resolução da Anvisa, o uso de produtos químicos exclusivamente para esterilização não é recomendado, sendo proibido desde 2009, após surto de infecções por micabactérias no Brasil. Métodos químicos de esterilização: As soluções esterilizantes são utilizadas em produtos críticos e devem ser usadas logo após o processo e a exposição do produto. Hoje em dia temos o ácido peracético como solução de escolha para o processo de esterilização químico. Temos como normativa a proibição do método de esterilização química desde 2009 no Brasil pela Anvisa, na RDC nº 8, de 27 de fevereiro de 2009. Esse fato se deveu à grande quantidade de falhas humanas possíveis de acontecerem durante o processo. CONTROLE DOS PROCESSOS Controles e segurança na desinfecção: Para o monitoramento do processo de desinfecção, os métodos de controle são escassos. Eles se destinam em especial a desinfecção física, ou seja, à termodesinfecção. Esses controles estão relacionados a garantir que as especificações técnicas sejam seguidas. Para a desinfecção química, existem indicadores de processo que durante o processo de desinfecção podem garantir o sucesso, ou seja, controle da solução química, pH da solução e tempo de imersão do material controlado rigorosamente quanto à orientação do fabricante. Controles e segurança na esterilização: As falhas podem estar relacionadas à limpeza do material, ao tipo de equipamento, à natureza do produto a ser esterilizado, ao acondicionamento em invólucro adequado, ao método de esterilização escolhido, ao carregamento e armazenagem adequados, entre outros. Todas as etapas de validação devem ser concluídas satisfatoriamente, podendo ser realizadas em ordem aleatória, sendo que os seguintes passos devem ser realizados: Elementos do sistema de gestão da qualidade; Caracterização do agente esterilizante; Caracterização do processo e do equipamento; Definição do produto; Definição do processo; Validação; Monitoramento e controle de rotina; Liberação do produto para esterilização; Efetividade do processo de manutenção. Os parâmetros do processo de esterilização devem ser monitorados constantemente, em sua temperatura, pressão, tempo, entre outros fatores. Além desse monitoramento, devem ser adotados monitoramentos químicos e biológicos: Indicadores Químicos: podem indicar falhas em diversos momentos do processo de esterilização, pois através da mudança de cor podemos monitorar o processo e seus parâmetros – por exemplo, a temperatura, o tempo de exposição e até a integração dos parâmetros de esterilização. Temos 6 tipos de indicadores químicos. o Tipo 1 – são indicadores de processo, de exposição. São tintas termocrômicas impregnadas em fitas adesivas, ou mesmo nas embalagens de esterilização; o Tipo 2 – é destinado a monitorar o processo de esterilização, sendo específico do monitoramento do parâmetro de vácuo da autoclave. O teste deve ser arquivado, para possíveis acompanhamentos do funcionamento da bomba de vácuo, e monitorar possíveis necessidades de manutenção e conserto do equipamento; o Tipo 3 – indicadores de parâmetros únicos; o Tipo 4 – são indicadores multiparamétricos que reagem com dois ou mais parâmetros, críticos do ciclo de esterilização; o Tipo 5 – são indicadores também chamados de integradores, pois reagem com todos os parâmetros do processo, monitorando temperatura, tempo de exposição, qualidade do vapor, umidade, entre outros; o Tipo 6 – são indicadores emuladores, que reagem com todos os parâmetros de esterilização. O enfermeiro do CME deve conhecer todos os parâmetros de esterilização do equipamento, para ajustar ao uso do indicador adequado para o seu processo de esterilização. Indicadores Biológicos: são preparações padronizadas de esporos bacterianos. Os esporos são usados como indicadores de sucesso da esterilização por serem altamente resistentes em relação às bactérias em sua forma vegetativa. O indicador biológico deve ser utilizado diariamente, no primeiro ciclo de esterilização do dia. ARMAZENAMENTO E DISTRIBUIÇÃO Nessa área, os produtos para a saúde que passaram pelo processo de esterilização devem ser armazenados em local próprio e centralizados antes de serem distribuídos às unidades consumidoras. A área deve ser projetada para evitar o cruzamento acidental de materiais sujos/contaminados com aqueles já estéreis. Ao distribuir o produto para a saúde, todos os materiais devem ser registrados, garantindo a sua rastreabilidade, ou seja, onde e em quem será utilizado o material, assegurando a segurança do seu uso. As condições de armazenagem devem ser cuidadosamente monitoradas, pois a maneira como o armazenamento acontece pode determinar o sucesso do processo e de todas as etapas realizadas com o produto no CME. Para a área de armazenagem e distribuição do produto, é necessário que esse local seja privativo, sem circulação de pessoas externas e com mínima circulação de pessoas. Deve haver local para atendimento das unidades consumidoras dos produtos, para entrega e retirada desses produtos ou para a dispensação de carros de materiais estéreis para as unidades, como ao CC. As condições ambientais nesse setor também envolvem a limpeza de prateleiras e armários de forma sistemática. O local deve ser ventilado, com controle de temperatura e umidade – encontramos a recomendação da temperatura entre 18 e 22 ºC e umidade relativa entre 35 e 70%, evitando assim condições adequadas ao crescimento bacteriano.Todo o material distribuído pelo CME deve ser controlado, assegurando que o CME saiba e controle o seu retorno ao CME. Devemos evitar o máximo possível que materiais estéreis fiquem armazenados nas unidades consumidoras, devido ao risco de eventos adversos com esses materiais antes do seu uso. Portanto, o CME deve distribuir o material o mais próximo possível de seu uso, centralizando a área de armazenamento.