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CONTABILIDADE E GESTÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS AULA 3 Prof.ª Daiane Lolatto 2 CONVERSA INICIAL Nesta abordagem, trataremos especificamente da Norma Brasileira de Contabilidade Técnica Geral n. 1.000 (Revisão 1) – NBC TG 1000 (R1) (CFC, 2016). E, para tanto, estudaremos os seguintes tópicos: • NBC TG 1000 (R1): contabilidade para médias empresas • NBC TG 1000 (R1): políticas contábeis, instrumentos financeiros e estoques • NBC TG 1000 (R1): investimentos, imobilizado e intangível • NBC TG 1000 (R1): provisão, subvenções, impairment • Por que adotar a NBC TG 1000 (R1) Aproveite esta leitura e exercite os conhecimentos adquiridos resolvendo as atividades propostas. Lembre-se: a melhor forma de aprender é exercitando! Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO As NBCs direcionadas às médias empresas são de extrema importância para o desenvolvimento e crescimento sustentável dessas empresas. Essas normas têm como objetivo principal padronizar e regularizar as práticas contábeis dessas empresas, garantindo maior transparência e confiabilidade nas informações financeiras apresentadas por elas. A aplicação das NBCs também oferece benefícios para o mercado como um todo, visto que as informações contábeis padronizadas permitem uma melhor avaliação e análise da saúde financeira das empresas, o que pode influenciar nas decisões de investimentos e de crédito. Diante disso, nesta abordagem vamos conhecer as diretrizes para a elaboração e apresentação das demonstrações contábeis. A NBC TG 1000 (R1) (CFC, 2016) produziu, afinal, diversas mudanças na elaboração dessas informações, e este conteúdo é fundamental para entendermos o próximo conteúdo. Por isso, é imprescindível você se atentar a todos os tópicos e detalhes descritos. Iniciaremos falando sobre a contabilidade para médias empresas. 3 TEMA 1 – NBC TG 1000 (R1): CONTABILIDADE PARA MÉDIAS EMPRESAS A NBC TG 1000 (R1), que anteriormente era aplicado às pequenas e médias empresas, agora se aplica exclusivamente às médias empresas. Essa mudança ocorreu em dezembro de 2021 com a publicação da NBC TG 1001, que passou a ser a norma aplicável às empresas de pequeno porte, como mencionado anteriormente (CFC, 2016, 2021a). As empresas de médio porte são aquelas com uma receita bruta anual entre R$ 78 milhões a R$ 300 milhões ou um ativo total de até R$ 240 milhões. Embora a NBC TG 1000 (R1) não defina especificamente um intervalo de receita bruta ou ativo total para classificar uma empresa como de médio porte, outras normas e contábeis e tributárias permitem essa definição. Com base na alteração da Lei das Sociedades por Ações pela Lei n. 11.638/2007, art. 3º, parágrafo único, são consideradas empresas de grande porte aquelas que, no exercício social anterior, obtiveram receita bruta anual superior a R$ 300 milhões ou possuem ativo total superior a R$ 240 milhões. Essas empresas devem seguir as normas contábeis específicas, editadas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Por outro lado, a NBC TG 1001 deve ser aplicada às pequenas empresas com receita bruta anual entre R$ 4,8 milhões e R$ 78 milhões (CFC, 2016, 2021a; Brasil, 1976, 2007). Portanto, empresas que possuem receita bruta anual entre R$ 78 milhões a R$ 300 milhões ou ativo total de até R$ 240 milhões são consideradas empresas de médio porte. É importante ressaltar que a definição de médias empresas pode variar de acordo com a legislação e as normas contábeis vigentes em cada país. No Quadro 1, podemos acompanhar a aplicação das normas para cada tipo de entidade. Quadro 1 – Aplicação das normas contábeis Tipo de entidade Porte da entidade Norma a ser aplicada Alternativa permitida Empresas de grande porte (sociedades por ações) Ativo total > R$ 240 milhões ou receita bruta anual > R$ 300 milhões (Lei n. 11.638/2007) Todos os pronunciamentos técnicos do CPC Não há 4 Médias empresas Ativo total até R$ 240 milhões ou receita bruta anual entre R$ 78 milhões a R$ 300 milhões NBC TG 1000 (R1) Todos os pronunciamentos técnicos do CPC Pequenas empresas Receita bruta anual entre R$ 4,8 milhões a R$ 78 milhões NBC TG 1001 NBC TG 1000 (R1) ou os pronunciamentos técnicos do CPC Microempresas Receita bruta anual < R$ 4,8 milhões NBC TG 1002 NBC TG 1001 ou NBC TG 1000 (R1) ou os pronunciamentos técnicos do CPC Fonte: Elaborado com base em Brasil, 2007; CFC, 2016, 2021a, 2021b. Sendo assim, vamos analisar algumas regras dispostas na NBC TG 1000 (R1). Segundo a norma, o objetivo das demonstrações contábeis é fornecer informações relevantes sobre a posição financeira da empresa (balanço patrimonial), seu desempenho (resultado e resultado abrangente) e fluxos de caixa. Essas informações são úteis para os usuários, de forma geral, que podem não ter condições de solicitar relatórios personalizados para atender às suas necessidades específicas de informação. As características qualitativas da informação compreendem compreensibilidade, relevância (restrição da materialidade), confiabilidade, primazia da essência sobre a forma, prudência, integralidade, comparabilidade, tempestividade e equilíbrio entre custo e benefício. Vamos comparar, no Quadro 2, o volume de características que as informações contábeis das médias empresas devem ter em relação às pequenas empresas e microentidades. 5 Quadro 2 – Conceitos e princípios gerais NBC TG 1000 (R1) Médias empresas NBC TG 1001 Pequenas empresas NBC TG 1002 Microentidades Compreensibilidade Compreensibilidade Compreensibilidade Relevância/materialidade Relevância/materialidade Relevância/materialidade Confiabilidade Confiabilidade Confiabilidade Primazia da essência Essência sobre a forma Prudência Prudência Prudência Comparabilidade Integralidade Comparabilidade Comparabilidade Tempestividade Custo x benefício Fonte: Elaborado com base em CFC, 2016, 2021a, 2021b. Podemos observar que as informações geradas pelas médias empresas possuem mais pré-requisitos do que as informações geradas pelas pequenas empresas e microentidades. Adicionalmente, as informações devem ser íntegras (completas), tempestivas, e o custo da geração da informação deve ser inferior aos benefícios gerados por ela. De acordo com a NBC TG 1000 (R1), o conjunto completo de demonstrações contábeis que devem ser apresentadas pelas empresas de médio porte são: a. Balanço Patrimonial (BP); b. Demonstração do Resultado do Exercício (DRE); c. Demonstração do Resultado Abrangente (DRA); d. Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL); e. Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC); f. Notas Explicativas (NE), compreendendo o resumo das políticas contábeis significativas e outras informações explanatórias. A NBC TG 1000 (R1) especifica a estrutura básica de cada uma dessas demonstrações (CFC, 2016). Assim, as empresas de médio porte devem recorrer à norma para elaborarem e apresentarem suas demonstrações. Vamos comparar a obrigatoriedade das demonstrações contábeis para as médias 6 empresas em relação às empresas de pequeno porte e às microentidades, no Quadro 3. Quadro 3 – Obrigatoriedade das demonstrações contábeis NBC TG 1000 (R1) Médias empresas NBC TG 1001 Pequenas empresas NBC TG 1002 Microentidades BP BP BP DRE DRE DRE DRA DMPL/DLPA DLPA DMPL/DLPA DFC Declaração de conformidade DFC NE NE (menor rigidez) Fonte: Elaborado com base em CFC, 2016, 2021a, 2021b. Diante disso, vamos estudar, na sequência, algumas particularidades da geração da informação contábil das médias empresas. De antemão, é importante destacar que as regras para essas empresas são mais robustas que as regras aplicadas às pequenas empresas e microentidades e devem ser analisadascom bastante atenção. TEMA 2 – POLÍTICAS CONTÁBEIS, INSTRUMENTOS FINANCEIROS E ESTOQUES As políticas contábeis são importantes para garantir que as informações financeiras de uma empresa sejam apresentadas de maneira clara e consistente. Algumas das políticas contábeis envolvem depreciação de ativos, reconhecimento de receita e registro de despesas. Os instrumentos financeiros abrangem uma variedade de ativos e passivos, como ações, títulos e outros. Nas médias empresas, os instrumentos financeiros costumam ser utilizados para gerenciar riscos e obter recursos. A gestão adequada desses instrumentos financeiros contribui para o sucesso do negócio. Os instrumentos financeiros mais comuns nas médias empresas abrangem empréstimos bancários, linhas de crédito e contas a receber de clientes. 7 Os estoques (bens destinados à revenda, produção ou consumo) representam ativos relevantes para as médias empresas. Logo, é essencial ter políticas adequadas para a sua gestão, incluindo o método de avaliação dos estoques e divulgação adequada das informações financeiras relacionadas a esses ativos. Sendo assim, vamos entender qual o tratamento contábil dado às médias empresas a respeito de suas políticas contábeis, instrumentos financeiros e estoques. 2.1 Políticas contábeis, mudanças de estimativa e retificação de erros A NBC TG 1000 (R1) estabelece que as situações que não forem tratadas por essa norma devem ser contempladas de forma que resultem em informações relevantes e confiáveis. A administração pode considerar as exigências e diretrizes das normas completas (os pronunciamentos contábeis do CPC) ao lidar com questões similares ou relacionadas. A mudança nas políticas contábeis que já estão em uso somente pode ocorrer quando houver uma exigência normativa (algo de teor obrigatório); ou quando gerar demonstrações contábeis que apresentem informações mais pertinentes e confiáveis acerca dos efeitos de transações, eventos ou circunstâncias na situação patrimonial e financeira, no desempenho e nos fluxos de caixa da entidade (algo que é voluntário) (CFC, 2016). No que diz respeito à aplicação da mudança de política contábil obrigatória, em alguns casos pode haver normas transitórias. Se as normas transitórias apresentarem a forma de aplicação inicial, essas normas específicas devem servir como base para registrar uma mudança de política contábil. Caso não existam normas transitórias ou se a mudança for voluntária, a aplicação da mudança deverá ser retrospectiva (CFC, 2016). De acordo com a norma, a mudança retrospectiva envolve a aplicação de uma nova política contábil para transações, eventos e condições, considerando a data mais antiga em que for possível, como se essa nova prática contábil sempre tivesse sido aplicada. Caso seja impossível determinar os efeitos da mudança em um único período, para informações comparativas de períodos anteriores a empresa deve aplicar a nova forma contábil aos valores contábeis dos ativos e passivos no início do período mais antigo em que a aplicação retrospectiva for possível. Além disso, a entidade deve ajustar o saldo de 8 abertura de cada componente do patrimônio líquido afetado para esse período, conforme a nova prática contábil (CFC, 2016). Um exemplo de aplicação retrospectiva ocorre quando uma empresa decide adotar um novo método de avaliação de estoques, como o método conhecido como primeiro a entrar, primeiro a sair (Peps) ou a média ponderada. Nessa situação, a empresa recalcula o valor dos estoques de períodos anteriores de acordo com o novo método e ajusta as demonstrações financeiras passadas de acordo com essa nova avaliação. Na Figura 1, podemos observar as regras de aplicação das mudanças de política. Figura 1 – Aplicação das mudanças políticas obrigatórias e voluntárias Fonte: Elaborado com base em CFC, 2016. As estimativas contábeis mencionadas pela NBC TG 1000 (R1) são utilizadas para se lidar com a incerteza relacionada às atividades das empresas e às práticas de mercado, sendo uma parte essencial do processo de reconhecimento e mensuração contábil. Vários elementos patrimoniais da entidade não podem ser medidos com precisão e, portanto, estimativas confiáveis devem ser adotadas para refletirem adequadamente a realidade dos negócios. No decorrer do tempo, essas estimativas podem sofrer alterações. Um exemplo disso é o aumento da provisão de garantias em razão do aumento nas vendas de bens com defeito ou a redução da vida útil de um ativo imobilizado devido à obsolescência tecnológica do bem (CFC, 2016). Padoveze, Benedicto e Leite (2014, p. 251) associam a mudança de estimativa a alterações de circunstâncias, surgimento de novas informações e maior experiência em relação à estimativa. Assim, as estimativas contábeis podem exigir revisão à medida que as condições em que foram realizadas Mudança de política obrigatória Exigência das normas Conforme normas transitórias Mudança de política voluntária Informações mais pertinentes e confiáveis Aplicação retrospectiva Quando não houver disposições transitórias 9 sofrerem alterações ou surgirem novas circunstâncias que não foram previstas. Conforme a NBC TG 1000 (R1), a mudança de estimativa contábil deve ser reconhecida de forma prospectiva (CFC, 2016). Caso a entidade seja capaz de estimar o impacto da mudança em um ou mais exercícios subsequentes, é necessário que essa estimativa seja divulgada em notas explicativas. Por exemplo, vamos supor que a empresa tenha um equipamento industrial e, inicialmente, tenha estimado que ele duraria dez anos, antes de ser substituído. No entanto, após uma análise mais detalhada, percebe-se que a vida útil real desse equipamento é de apenas oito anos. Diante dessa constatação, a empresa deve fazer um ajuste na forma como calcula a depreciação do equipamento, a partir do exercício corrente em diante (prospectivamente). Diferentemente da mudança das políticas e estimativas contábeis, os erros envolvem omissões ou incorreções nas informações contábeis. Esses erros podem ocorrer durante registro, mensuração, apresentação ou divulgação das informações contábeis (CFC, 2016). A contabilização de um ativo por um valor superior ou inferior e a omissão do registro em um período específico são alguns exemplos de erros. Existe diferença na forma de correção de erros materiais e imateriais, e essa diferença se dá pela forma como os erros afetam as demonstrações contábeis. Quando a entidade identifica erros materiais de períodos anteriores, deve fazer o ajuste retroativo, nas primeiras demonstrações contábeis autorizadas para emissão após sua descoberta, como aconteceu no caso das Americanas, na operação de risco sacado, também conhecida como forfait ou financiamento a fornecedores. Os erros imateriais intencionais também devem ser corrigidos retroativamente, pois decorrem de fraude (CFC, 2016). Por exemplo, deixar de reconhecer uma despesa para aumentar o resultado líquido é um caso de erro imaterial intencional. Por outro lado, os erros imateriais involuntários, que não afetam significativamente a tomada de decisões do usuário da informação contábil, não precisam ser corrigidos retrospectivamente. Sendo assim, podemos resumir a aplicação das mudanças nas políticas e estimativas contábeis e a retificação de erros conforme demonstrado no Quadro 4. 10 Quadro 4 – Mudanças nas políticas e estimativas contábeis e a retificação de erros Operação Aplicação Mudança de política contábil Retrospectiva Mudança de estimativa contábil Prospectiva Retificação de erro Retrospectiva Fonte: Elaborado com base em CFC, 2016. 2.2 Instrumentos financeiros O instrumento financeiro corresponde a um contrato que resulta em um ativo financeiro para a entidade e um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra entidade(CFC, 2016). Isso quer dizer que um instrumento financeiro é um acordo que estabelece direitos e obrigações financeiras entre duas partes. Por exemplo, se uma empresa empresta dinheiro a outra empresa por meio de um contrato de empréstimo, esse contrato é considerado um instrumento financeiro. A empresa que empresta o dinheiro possui um ativo financeiro, pois tem o direito de receber o valor emprestado com juros, no futuro. Por outro lado, a empresa que recebe o empréstimo possui um passivo financeiro, pois está obrigada a devolver o valor emprestado dentro do prazo estabelecido. A norma classifica os instrumentos em dois grandes grupos: instrumentos financeiros básicos e instrumentos financeiros mais complexos. No Quadro 5, podemos verificar essa classificação. Quadro 5 – Instrumentos financeiros básicos e complexos Instrumentos financeiros básicos (aplicação da Seção 11 da NBC TG 1000 (R1)) Instrumentos financeiros complexos (aplicação da Seção 12 da NBC TG 1000 (R1)) Caixa (dinheiro físico) Títulos mobiliários lastreados em ativos, tais como hipotecas garantidas, contratos de recompra e pacotes de recebíveis garantidos 11 Depósitos à vista e a prazo fixo, quando a entidade é o depositante (por exemplo, contas bancárias) Opções, direitos, garantias, contratos a termo, contratos futuros e swaps de taxa de juros, que podem ser quitados em caixa ou pela troca com outro instrumento financeiro Títulos e letras negociáveis (ações, certificados de depósito bancário, entre outros) Instrumentos financeiros que se qualificam e são designados como instrumentos de hedge Contas, títulos e empréstimos a receber e a pagar Compromissos de conceder empréstimo para outra entidade Títulos de dívida e instrumentos semelhantes (debêntures, empréstimos, entre outros) Compromissos de receber empréstimo se houver possibilidade de quitação em caixa Investimentos em ações preferenciais não conversíveis e em ações ordinárias e ações preferenciais não resgatáveis Compromissos de receber empréstimo se o compromisso não puder ser quitado em caixa Fonte: Elaborado com base em CFC, 2016. Os instrumentos financeiros básicos são reconhecidos e mensurados inicialmente pelo custo da transação ou pelo valor presente dos futuros pagamentos de caixa descontados sob taxa de juros de mercado, se envolverem uma transação de financiamento. Após o reconhecimento inicial, os instrumentos financeiros básicos são avaliados pelo custo amortizado, pelo valor justo ou pelo custo menos redução ao valor recuperável, de acordo com as normas contábeis aplicáveis. Os ativos financeiros são baixados quando os direitos contratuais para os fluxos de caixa vencem ou são liquidados, e os passivos financeiros são baixados quando a obrigação é paga, cancelada ou vencida. Os ativos e passivos financeiros mais complexos são reconhecidos pelo valor justo e mensurados subsequentemente pelo valor justo, com as variações sendo reconhecidas no resultado. A contabilidade de hedge tem como objetivo proteger operações financeiras específicas, como variação na taxa de juros, na taxa de câmbio ou no preço de uma mercadoria, e é regulamentada pelas normas contábeis aplicáveis (CFC, 2016). 2.3 Estoques Segundo a NBC TG 1000 (R1), os estoques são ativos mantidos para venda no decorrer das operações comerciais normais, ativos em processo de 12 produção para venda ou ativos consolidados na forma de materiais ou suprimentos a serem consumidos no processo de produção ou prestação de serviços. A entidade deve avaliar seus estoques pelo menor valor entre o custo e o preço de venda estimado, deduzido dos custos para finalizar a produção e das despesas de pôr os produtos para venda. O custo do estoque envolve todos os custos de aquisição, custos de transformação e outros custos incorridos para colocar os estoques no seu local e nas condições atuais (CFC, 2016). Os custos de aquisição se referem aos gastos envolvidos na compra de um bem. Isso inclui o preço de compra, o recolhimento de impostos de importação e outros tributos (exceto aqueles que podem ser recuperados posteriormente pela empresa), os custos de transporte, manuseio e outros custos diretamente relacionados à aquisição. Para determinar o custo de aquisição, são deduzidos descontos comerciais, abatimentos e itens semelhantes. Já os custos de transformação englobam os gastos necessários para transformar matérias-primas em produtos acabados. Isso inclui tanto os custos diretos, como com a mão de obra, quanto a alocação sistemática dos custos indiretos de produção, sejam eles fixos, sejam variáveis. Os custos indiretos fixos de produção são aqueles que permanecem constantes, como a depreciação e a manutenção de instalações e equipamentos, além dos custos administrativos relacionados à gestão de uma fábrica. Os custos indiretos variáveis de produção variam de acordo com o volume de produção, como os materiais indiretos e o consumo de energia (CFC, 2016). De acordo com a NBC TG 1000 (R1), a entidade deve avaliar o custo de estoques utilizando o método do Peps ou o método do custo médio ponderado. Esse mesmo tratamento é dado pela NBC TG 1001 e pela NBC TG 1002. O método intitulado último a entrar, primeiro a sair (Ueps) não é permitido pela norma. Entretanto, essa restrição ao método Ueps não é imposto às grandes empresas ou empresas que adotam os pronunciamentos contábeis do CPC, de um modo geral (CFC, 2016, 2021a, 2021b). No final de cada exercício social, a empresa deve verificar se seus estoques precisam ser reduzidos ao seu valor recuperável. Isso ocorre quando o valor contábil dos estoques não pode ser completamente recuperado, tornando necessária a avaliação de possíveis perdas (CFC, 2016). 13 Vamos continuar tratando das regras contábeis para as médias empresas. Na sequência, vamos compreender o tratamento contábil dado aos investimentos, ao imobilizado e ao intangível. TEMA 3 – NBC TG 1000 (R1): INVESTIMENTOS, IMOBILIZADO E INTANGÍVEL Os investimentos, o imobilizado e o intangível se referem a um conjunto de ativos que são imprescindíveis para as empresas. Esses ativos podem incluir investimentos em outras empresas ou empreendimentos conjuntos, além de bens e equipamentos fixos utilizados para a produção de bens ou serviços. O ativo intangível pode ser representado por patentes, marcas, softwares e outros direitos de propriedade intelectual importantes para a criação e manutenção da vantagem competitiva de uma empresa. O gerenciamento desses ativos é fundamental para o sucesso da empresa, pois afeta a sua capacidade de inovação e crescimento no mercado. Sendo assim, é necessário compreender as regras contábeis desses ativos. Na sequência, vamos entender algumas de suas especificidades contábeis. 3.1 Investimentos As entidades que possuem investimentos em outras empresas devem atender a alguns critérios específicos na elaboração das suas demonstrações contábeis. O investimento da empresa pode ser realizado em outra que seja controlada ou coligada àquela. De acordo com a NBC TG 1000 (R1), coligada é uma entidade na qual o investidor possui influência significativa, mas que não é controlada pelo investidor e também não se configura como um investimento em empreendimento controlado em conjunto. A influência significativa se refere ao poder de participar das decisões relacionadas à política financeira e operacional da entidade coligada. Segundo a norma, se o investidor possuir 20% ou mais do poder de voto da entidade coligada, presume-se que ele tenha influência significativa, a menos que seja claramente comprovado o contrário. Se o investidor possuir menos de 20% do poder de voto, presume-se que não tenha influência significativa, a menos que seja claramente comprovado o contrário. A 14 propriedade de partesubstancial ou majoritária por parte de outro investidor não impede que um investidor tenha influência significativa (CFC, 2016). Quando a legislação societária brasileira permitir outras opções além do método da equivalência patrimonial, o investidor deverá registrar todos os seus investimentos em entidades coligadas de acordo com uma das seguintes alternativas: método do custo, método da equivalência patrimonial e método do valor justo, conforme determina a NBC TG 1000 (R1). O método do custo consiste em registrar o investimento pelo valor pago na aquisição, com ajustes posteriores para recuperação ou reconhecimento de perdas de valor. O método da equivalência patrimonial é aplicado quando o investidor possui influência significativa sobre a coligada ou controlada, registrando-se o investimento pelo valor contábil da participação ajustado pelo resultado líquido da coligada ou controlada. O método do valor justo é utilizado quando há informações de mercado disponíveis para se precificar o investimento, registrando-o pelo valor justo de mercado na data do balanço, obtido por meio de cotações em bolsas de valores ou outras avaliações de mercado (CFC, 2016; Santos et al., 2022). Controladora é a entidade que detém o controle de uma ou mais empresas controladas. No balanço individual das controladas, deve-se aplicar tudo o que se refere a investimento em coligada, exceto quando houver disposição em contrário (CFC, 2016). O investimento em empreendimento controlado em conjunto (joint venture) tem se tornado uma nova tendência mundial. Trata-se de uma alternativa interessante para obter capital necessário para se expandir e manter as atividades econômicas, assim como para agregar atributos importantes ao negócio, como tecnologia, capacidade gerencial ou mercadológica, rede de distribuição, entre outros, detidos por acionistas distintos. Além disso, o compartilhamento do controle é uma maneira de distribuir os possíveis riscos de um negócio entre os acionistas envolvidos. Essa divisão de controle é normalmente definida no estatuto ou contrato social da empresa ou por meio de documentos complementares, como um acordo de acionistas (Santos et al., 2022). Assim como ocorre nos investimentos em empresa controlada e coligada, nos investimentos em empreendimento controlado em conjunto as participações devem ser mensuradas pelo método do custo, pelo método de equivalência patrimonial ou pelo método do valor justo (CFC, 2016). 15 3.2 Propriedade para investimento Propriedade para investimento é um tipo de investimento imobiliário em que um investidor adquire um imóvel com o objetivo de obter retorno financeiro a longo prazo. Essa propriedade pode ser alugada ou vendida, com o objetivo de se gerar renda ou se obter lucro com a valorização do imóvel (Santos et al., 2022). A propriedade para investimento mantida por um arrendatário por meio de arrendamento operacional pode ser classificada e contabilizada como propriedade para investimento, desde que atenda à definição de propriedade para investimento e o arrendatário possa avaliar seu valor justo de forma contínua, sem custos ou esforços excessivos. Essa classificação alternativa deve ser analisada individualmente para cada propriedade (CFC, 2016). Propriedades de uso misto devem ser separadas entre propriedade para investimento e ativo imobilizado. No entanto, se o valor justo do componente de propriedade para investimento não puder ser avaliado de forma confiável, sem custos ou esforços excessivos, toda a propriedade deve ser contabilizada como ativo imobilizado (CFC, 2016). 3.3 Imobilizado De acordo com a NBC TG 1000 (R1), os ativos imobilizados são ativos tangíveis (materiais) mantidos para uso na produção ou fornecimento de bens ou serviços, para locação a terceiros ou para fins administrativos, e que se espera que sejam utilizados por um período superior a um ano. Por exemplo, um prédio usado para fins comerciais, o maquinário de uma fábrica ou equipamentos de informática que servem a fins administrativos podem ser considerados ativos imobilizados (CFC, 2016). O reconhecimento inicial dos bens do ativo imobilizado ocorre pelo custo de aquisição, o qual inclui todos os gastos necessários para colocar o bem em condições de uso. Após esse reconhecimento inicial, o ativo imobilizado pode ser mensurado pela entidade por meio do método do custo ou método da reavaliação, caso isso seja permitido por lei. No método do custo, o item deve ser apresentado no balanço pelo seu custo original, subtraído da depreciação acumulada e das perdas estimadas por redução ao valor recuperável (impairment). No método da reavaliação, quando permitido por lei (o que não é 16 o caso no Brasil), um item do imobilizado pode ser apresentado pelo seu valor reavaliado, que representa seu valor justo no momento da reavaliação, deduzido da depreciação acumulada e das perdas estimadas por redução ao valor recuperável (CFC, 2016; Santos et al., 2022). De acordo com a Lei das Sociedades por Ações, a depreciação é uma forma de contabilizar os desgastes ou perdas de utilidade por uso, ação da natureza ou obsolescência dos ativos imobilizados (Brasil, 1976). Vamos supor que uma empresa tenha adquirido um veículo por R$ 60 mil para realizar a entrega de suas mercadorias. Conforme o veículo é utilizado, ele sofre depreciação, ou seja, ocorre uma redução do seu valor contábil, ao longo do tempo. Se a vida útil estimada do veículo é de 4 anos e a empresa decide adotar o método linear de depreciação, a cada ano, o veículo será depreciado em R$ 15 mil (R$ 60 mil / 4 anos). A empresa também pode fazer uso de outros métodos de depreciação, como descrito na sequência. A NBC TG 1000 (R1) estabelece que, caso as partes principais de um item do Ativo Imobilizado apresentem padrões de consumo de benefícios econômicos significativamente diferentes, o custo inicial do ativo deve ser alocado para suas partes principais e depreciado separadamente, ao longo das vidas úteis dessas partes. Os outros ativos devem ser depreciados como um único item, ao longo de toda a sua vida útil. Os métodos de depreciação que as entidades de médio e grande porte podem optar compreendem o método da linha reta ou linear, o método dos saldos decrescentes e o método das unidades produzidas (CFC, 2016). A NBC TG 1001 e a NBC TG 1002 restringem a apuração da depreciação pelo método de linha reta (CFC, 2021a, 2021b). A baixa do ativo imobilizado pode ser realizada em razão da venda ou quando não existir expectativa de benefícios econômicos futuros pelo seu uso ou venda (alienação). A entidade deve registrar ganho ou perda na baixa do ativo imobilizado e não classificar esse ganho como receita ou essa perda como despesa. O ganho é reconhecido como outras receitas na DRE e a perda, como outras despesas. Enquanto as receitas e despesas decorrem da atividade principal da empresa, os ganhos e perdas são oriundos de atividades não operacionais. Vamos imaginar que uma empresa possua um veículo registrado no ativo imobilizado no valor de R$ 50 mil e que já tenha sido depreciado em R$ 25 mil. Então, a empresa decide vender o veículo por R$ 40 mil. Nesse caso, a empresa deve reconhecer um ganho na DRE no valor de R$ 15 mil (R$ 40 mil – 17 R$ 25 mil). Os valores registrados no BP devem ser baixados, em virtude da venda. 3.4 Intangível De acordo com a NBC TG 1000 (R1), o ativo intangível é um ativo não monetário (que não pode ser diretamente convertido em dinheiro, nem representa um direito a receber dinheiro), identificável, que não tem substância física, como uma marca registrada, uma patente ou um software (CFC, 2016). Esse tipo de ativo intangível pode ser identificado de duas maneiras. Primeiramente, quando pode ser separado da empresa e negociado, transferido, licenciado, alugado ou trocado. Umexemplo disso é quando uma empresa desenvolve e registra legalmente uma marca, adquirindo direitos exclusivos de uso. Essa marca pode ser vendida, licenciada ou transferida para terceiros, representando um ativo intangível separável. Em segundo lugar, um ativo intangível pode ser proveniente de direitos contratuais ou outros direitos legais, independentemente de sua possibilidade de separação ou transferência da empresa. Por exemplo, uma empresa pode obter uma patente para proteger uma invenção ou processo exclusivo. Essa patente confere à empresa o direito legal de explorar e comercializar a invenção, mesmo que essa não possa ser separada da empresa. A entidade deve avaliar o valor inicial de um ativo intangível pelo seu custo. O custo de um ativo intangível adquirido separadamente envolve o preço de compra acrescido de tributos de importação e tributos de compra não recuperáveis, com dedução de descontos comerciais e abatimentos. A mensuração do valor de um ativo intangível adquirido em uma combinação de negócios deve ser realizada com base no valor justo na data da sua aquisição. Após o seu reconhecimento de valor inicial, o ativo intangível deve ser mensurado pelo custo menos qualquer amortização acumulada e qualquer perda acumulada por redução ao valor recuperável (impairment). A vida útil do ativo intangível é finita; logo, a amortização vai compreender o período de vigência dos direitos contratuais ou outros direitos legais (CFC, 2016). O valor da amortização de um ativo intangível deve ser distribuído de forma sistemática, ao longo de sua vida útil. A despesa referente à amortização deve ser reconhecida em cada período contábil, salvo se o custo do ativo intangível for reconhecido como parte do custo de um ativo, como estoques ou 18 ativo imobilizado. O início da amortização do ativo intangível ocorre quando este está disponível para uso, ou seja, quando se encontra no local e em condições necessárias para ser utilizado conforme planejado pela administração. A amortização cessa quando o ativo passa a não ser mais reconhecido como tal. É responsabilidade da entidade escolher o método de amortização que melhor reflita o consumo esperado dos benefícios econômicos futuros do ativo. Caso a entidade não consiga determinar esse padrão de maneira confiável, o método de linha reta deve ser utilizado (CFC, 2016). A entidade deve assumir que o valor residual de um ativo intangível é zero, exceto se houver um compromisso de terceiro independente para comprar o ativo ao final da sua vida útil ou se houver um mercado para o ativo (CFC, 2016). O valor residual de um ativo intangível é o valor estimado que o ativo terá no final de sua vida útil ou período de uso. A baixa do ativo intangível é realizada da mesma forma que o ativo imobilizado: pode ser realizada em razão da venda ou quando não existir expectativa de benefícios econômicos futuros pelo seu uso ou venda (alienação). Na sequência, vamos continuar tratando de algumas particularidades da contabilidade das médias empresas. Esta abordagem não esgota o assunto, apenas destaca os principais critérios de reconhecimento contábil. TEMA 4 – NBC TG 1000 (R1): PROVISÃO, SUBVENÇÕES, IMPAIRMENT As empresas enfrentam, diariamente, diversas incertezas em relação às suas operações e finanças, o que pode lhes gerar riscos financeiros significativos. Para lidarem com esses riscos, as empresas precisam contar com elementos que lhes permitam reconhecer e gerenciar essas incertezas. Nesse sentido, a provisão, as subvenções e o impairment são elementos contábeis que auxiliam as empresas na gestão de seus riscos financeiros. A provisão é uma forma de reconhecimento contábil de operações que ainda não se concretizaram, mas que são consideradas prováveis. As subvenções correspondem a pagamentos ou benefícios concedidos por entidades públicas ou privadas para apoiar atividades específicas, como pesquisa e desenvolvimento ou expansão de negócios. Por fim, o impairment é um ajuste contábil que deve ser feito quando o valor contábil de um ativo é superior ao seu valor recuperável, a fim de se refletir a nova realidade do ativo. 19 Essas ferramentas são essenciais para as empresas, especialmente para as médias empresas, que precisam gerenciar seus riscos financeiros e garantir sua sustentabilidade a longo prazo. Sendo assim, vamos estudar um pouco mais o registro dessas operações. 4.1 Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes As provisões são uma forma de passivo que envolve prazo ou valor incerto. Elas devem ser reconhecidas quando a entidade tem uma obrigação, na data das demonstrações contábeis, decorrente de um evento passado, sendo provável que, por isso, a entidade tenha que transferir benefícios econômicos para a liquidação dessa obrigação e o valor da obrigação possa ser estimado com confiabilidade (CFC, 2016). As provisões mais comuns para as médias empresas compreendem provisão para contingências trabalhistas e provisão para garantias. Vamos supor que um fabricante venda seus produtos com garantia e se comprometa, de acordo com os termos do contrato de venda, a reparar ou substituir os produtos com defeitos que surgirem dentro de três anos a partir da data da venda. Com base em experiências anteriores, é provável que ocorram algumas reclamações durante o período de garantia. Isso cria uma obrigação presente devido a um evento passado, em que é provável que haja uma saída de recursos, e o valor dessa obrigação pode ser estimado com base em experiências anteriores. Portanto, a entidade reconhece uma provisão com a melhor estimativa dos custos necessários para reparar os produtos com defeitos vendidos antes da data das demonstrações contábeis (CFC, 2016). De acordo com a NBC TG 1000 (R1), a entidade tem a responsabilidade de revisar suas provisões em cada data das demonstrações contábeis e ajustar os valores devidos com base na estimativa mais precisa para liquidá-las naquela data. Esses ajustes devem ser registrados como despesas no resultado, a menos que a provisão tenha sido registrada como parte do custo de algum ativo (CFC, 2016). O passivo contingente compreende uma obrigação possível, mas incerta, ou uma obrigação presente que não pode ser reconhecida por não ser provável uma saída de recursos e/ou o valor da obrigação não puder ser mensurado com confiabilidade (CFC, 2016). Um exemplo de passivo contingente ocorre quando uma empresa enfrenta um processo judicial movido por terceiros. Nessa 20 situação, a empresa pode ser considerada responsável e ter a obrigação de pagar uma indenização, mas o resultado final do processo ainda é incerto e o valor exato do passivo não pode ser determinado no momento. A entidade deve divulgar, na data das demonstrações contábeis, breve descrição da natureza do seu passivo contingente e, quando praticável, a estimativa do seu efeito financeiro, a indicação das incertezas referentes ao valor ou o prazo da saída de recursos e a possibilidade de qualquer reembolso. Essa divulgação é dispensada apenas se a saída de recursos for de possibilidade remota (CFC, 2016). Nesse sentido, podemos classificar as obrigações em três níveis de possibilidade: provável, possível e remota. No Quadro 6, temos um resumo do tratamento contábil relacionado à probabilidade de ocorrência de desembolso futuro da entidade. Quadro 6 – Tratamento contábil das provisões e do passivo contingente Probabilidade de ocorrência do desembolso Tratamento contábil Provável Mensurável mediante estimativa confiável Uma provisão é reconhecida e é divulgada em notas explicativas Não mensurável por inexistência de estimativa confiável Divulgação em notas explicativas Possível Divulgação em notas explicativas Remota Não divulgação em notas explicativas Fonte: Elaborado com base em CFC, 2016. O ativo contingente,por sua vez, corresponde a um ativo possível, que decorre de eventos passados e cuja realização será confirmada somente pela ocorrência ou não de um ou mais eventos futuros incertos, que não estão completamente sob o controle da entidade (CFC, 2016). Um exemplo de ativo contingente seria quando uma empresa possui uma reclamação de seguro em andamento. Nessa situação, a empresa tem a esperança de receber uma indenização, porém a concretização desse ativo está sujeita à aprovação da seguradora. 4.2 Subvenção governamental Subvenção governamental é uma ajuda fornecida pelo governo na forma de transferência de recursos para uma entidade, em troca do cumprimento de 21 condições relacionadas às suas atividades operacionais, tanto no passado quanto no futuro (CFC, 2016). Alguns exemplos de subvenção governamental são: subvenção para aquisição de equipamentos ou maquinários para produção; subvenção para pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias; subvenção para construção ou reforma de instalações; subvenção para incentivo à adoção de práticas ambientalmente sustentáveis; e subvenção para apoio ao setor agrícola. O reconhecimento das subvenções governamentais depende da forma em que elas são concedidas. A subvenção que não impõe condições de desempenho futuro à entidade beneficiária é reconhecida como receita quando os valores da subvenção forem líquidos e certos. Vamos supor que uma empresa de médio porte que receba uma subvenção governamental para aquisição de equipamentos. Nesse caso, a subvenção não exige que a empresa atenda a metas ou requisitos adicionais para receber o valor. Após a aprovação da subvenção, a empresa recebe os recursos financeiros diretamente em sua conta bancária. Nesse momento do recebimento do recurso, a subvenção é reconhecida como receita. A subvenção que impõe condições específicas de desempenho futuro à entidade beneficiária é reconhecida como receita somente quando as condições de desempenho são cumpridas. As subvenções recebidas antes do cumprimento dos critérios de reconhecimento de receita são reconhecidas como um passivo (CFC, 2016). Vamos considerar o caso de uma empresa que recebe uma subvenção governamental para desenvolver um projeto de pesquisa e desenvolvimento. A subvenção é concedida com a condição de que a empresa atinja certos marcos e entregue resultados específicos ao longo do tempo. Assim, a empresa reconhece a subvenção como passivo e, conforme cada etapa do projeto é concluída e as metas são alcançadas, a parte correspondente da subvenção é reconhecida como receita em suas demonstrações contábeis. 4.3 Impairment A mensuração dos ativos nem sempre está em consonância com seu real valor. Por esse motivo é que surge o teste de impairment. Impairment é uma redução no valor contábil de um ativo, em que o valor contábil do ativo excede seu valor recuperável. A redução ao valor recuperável de ativos é aplicável a todos os itens registrados no Ativo, exceto sobre tributos diferidos ativos, ativos 22 provenientes de benefícios a empregados, instrumentos financeiros básicos e complexos, propriedade para investimento mensurada pelo valor justo, ativos biológicos e produtos agrícolas e ativos provenientes de contratos de construção (CFC, 2016). No caso dos estoques, as empresas devem avaliar, na data de divulgação das demonstrações contábeis, se seus estoques estão desvalorizados. Para tanto, é necessário comparar o valor contábil de cada item de estoque (ou grupo de itens similares) com o preço de venda líquido menos os custos para completar e vender. Caso seja constatado que algum item de estoque (ou grupo de itens similares) está desvalorizado, a empresa deve ajustar o valor contábil do estoque (ou do grupo) ao preço de venda líquido menos os custos para completar e vender. Esse ajuste é conhecido como perda por desvalorização e deve ser registrado imediatamente no resultado (CFC, 2016). Quando o valor recuperável dos demais ativos (exceto estoques) for menor que seu valor contábil, a entidade deve reduzir o valor contábil do ativo para seu valor recuperável. Nesse caso, o valor recuperável é o maior valor entre o valor justo menos a despesa para vender (valor líquido de venda) e o seu valor em uso. A NBC TG 1000 (R1) especifica como ativos que devem ser reduzidos ao valor recuperável os estoques, o ativo imobilizado (incluindo propriedade para investimento contabilizada pelo método do custo), os ágios, os ativos intangíveis (exceto o ágio por expectativa de rentabilidade futura), os investimentos em coligadas e os investimentos em empreendimentos controlados em conjunto (CFC, 2016). Após compreendermos diversas regras contábeis específicas direcionadas às médias empresas, vamos analisar por que essas empresas devem seguir a NBC TG 1000 (R1) (CFC, 2016). TEMA 5 – POR QUE ADOTAR A NBC TG 1000 (R1) A primeira revisão da NBC TG 1000 foi publicada pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) em dezembro de 2016 e entrou em vigor a partir do primeiro dia de 2017. Essa norma é aplicável a todas as empresas cuja receita bruta seja inferior a R$ 300 mil e cujos ativos sejam inferiores a R$ 240 mil. Embora existam normas contábeis específicas às microentidades (NBC TG 1002) e pequenas empresas (NBC TG 1001), essas empresas também têm a opção de aderirem à NBC TG 1000 (R1). Essa possibilidade permite que elas 23 adotem uma estrutura contábil mais abrangente, alinhada às melhores práticas internacionais, caso desejem. Dessa forma, ao optarem por seguirem a NBC TG 1000 (R1), as empresas podem elevar o nível de suas práticas contábeis, o que pode resultar em uma gestão mais eficiente, melhor governança corporativa e uma imagem mais sólida perante o mercado. Esses aspectos positivos podem contribuir para o crescimento sustentável e o sucesso a longo prazo das empresas (CFC, 2016, 2021a, 2021b). Diante disso, podemos concluir que o objetivo principal das normas é padronizar e regularizar as práticas contábeis das empresas, garantindo maior transparência e confiabilidade nas informações financeiras por elas apresentadas. Contudo, é importante destacar que a implementação das normas contábeis pode representar um desafio para as médias empresas, especialmente para aquelas que não possuem uma equipe de contadores qualificados. Por isso, é fundamental que essas empresas busquem se capacitar e buscar a ajuda de profissionais especializados a fim de procederem a uma adequada aplicação das normas contábeis. TROCANDO IDEIAS As mudanças nas políticas contábeis podem ter um impacto significativo nas demonstrações financeiras de uma empresa, especialmente em termos de sua relevância, confiabilidade e comparabilidade. Nesse contexto, como as mudanças nas políticas contábeis podem afetar as demonstrações financeiras de uma empresa e quais são as implicações dessas mudanças para a sua análise e interpretação? As mudanças nas políticas contábeis podem ter efeitos significativos nas informações financeiras apresentadas pela empresa, por exemplo: uma mudança na política de depreciação pode afetar diretamente o valor líquido contábil de um ativo e, consequentemente, o lucro líquido e o fluxo de caixa da empresa. Além disso, essas mudanças podem tornar as demonstrações financeiras menos comparáveis ao longo do tempo e com outras empresas do mesmo setor. Por outro lado, é importante considerar que as mudanças nas políticas contábeis muitas vezes são necessárias para refletir melhor a realidade da empresa e/ou a mudança nas condições de mercado. Por exemplo, uma empresa pode optar por mudar sua política contábil de reconhecimento de 24 receita para se adequar às novas normas regulatórias ou para refletir melhor a natureza do seu negócio. Diante desse cenário, é fundamental que as empresas comuniquem claramente as mudanças havidasnas políticas contábeis nas suas demonstrações financeiras, explicando as razões para elas e seus efeitos nas informações apresentadas. Além disso, os analistas financeiros devem estar atentos a essas mudanças e avaliar seus impactos para uma análise mais precisa e confiável das demonstrações financeiras das empresas. NA PRÁTICA Agora que conhecemos um pouco sobre as regras contábeis das médias empresas, que tal exercitarmos os conhecimentos adquiridos respondendo às seguintes quatro questões? 1. Sobre a depreciação pelo método das unidades produzidas, o método de depreciação conhecido como unidades produzidas considera o número de unidades que o ativo produzirá durante toda a sua vida útil. Esse método de depreciação assume que o desgaste do ativo está diretamente relacionado ao número de unidades que ele produz. Sendo assim, considere que uma empresa adquiriu uma máquina por R$ 120 mil, com uma vida útil estimada de 50 mil unidades produzidas. No final do ano, a empresa produziu 10 mil unidades. Qual é o valor da depreciação anual utilizando-se o método das unidades produzidas? a. R$ 24 mil. b. R$ 30 mil. c. R$ 36 mil. d. R$ 42 mil. e. R$ 48 mil. 2. Sobre o reconhecimento do ativo intangível, conforme definido pela NBC TG 1000 (R1), o intangível compreende um ativo que não possui substância física e que pode ser identificado de duas maneiras. Primeiro, se puder ser separado da entidade e vendido, transferido, licenciado, alugado ou trocado; segundo, se for proveniente de direitos contratuais ou outros direitos legais, independentemente de esses direitos poderem 25 ser transferidos ou separados da entidade. Diante disso, assinale a alternativa que contemple um ativo intangível: a. Maquinário para produção. b. Equipamentos de uso administrativo. c. Software desenvolvido para comercialização. d. Software para operação de uma máquina específica. e. Aquisição de uma licença de software para uso da empresa. 3. Sobre o reconhecimento das provisões, as empresas se deparam constantemente com diversas incertezas relacionadas às suas operações, o que pode lhes gerar riscos financeiros consideráveis. Para lidar com esses riscos, é necessário que as empresas possuam mecanismos capazes de identificar e gerenciar tais incertezas, como as provisões. Nesse sentido, qual é a definição de provisão, segundo a NBC TG 1000 (R1) (CFC, 2016)? a. Uma obrigação presente que surge de eventos passados, cuja liquidação é incerta e cujo valor pode ser mensurado de forma confiável. b. Uma obrigação presente que surge de eventos futuros, cuja liquidação é certa e cujo valor pode ser mensurado de forma confiável. c. Uma obrigação presente que surge de eventos passados, cuja liquidação é certa e cujo valor não pode ser mensurado de forma confiável. d. Uma obrigação presente que surge de eventos futuros, cuja liquidação é incerta e cujo valor pode ser mensurado de forma confiável. e. Uma obrigação presente que surge de eventos futuros, cuja liquidação é incerta e cujo valor não pode ser mensurado de forma confiável. 4. Sobre o impairment, a mensuração dos ativos nem sempre está de acordo com seu real valor. Por essa razão é que surge o teste de impairment. Impairment é uma redução no valor contábil de um ativo, em que o valor contábil do ativo supera seu valor recuperável. Sendo assim, qual é a perda por impairment que uma empresa deve reconhecer em um imóvel que possui valor contábil de R$ 500 mil, valor em uso de R$ 250 mil e valor justo de venda de R$ 400 mil, com custo de desmontagem e venda de R$ 50 mil? a. R$ 50 mil. b. R$ 100 mil. c. R$ 150 mil. 26 d. R$ 250 mil. e. R$ 300 mil. FINALIZANDO Neste conteúdo, estudamos a NBC TG 1000 (R1) e conhecemos as diretrizes para a elaboração e apresentação das demonstrações contábeis. Estes são os tópicos tratados nesta abordagem: • NBC TG 1000 (R1): contabilidade para médias empresas • NBC TG 1000 (R1): políticas contábeis, instrumentos financeiros e estoques • NBC TG 1000 (R1): investimentos, imobilizado e intangível • NBC TG 1000 (R1): provisão, subvenções, impairment • Por que adotar a NBC TG 1000 (R1) Na próxima abordagem, estudaremos a contabilidade como uma ferramenta de controle da gestão das micro e pequenas empresas. 27 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Brasília, 17 dez. 1976. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404compilada.htm>. Acesso em: 4 jul. 2023. _____. Lei n. 11.638, de 27 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Brasília, 28 dez. 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm>. Acesso em: 4 jul. 2023. CFC – Conselho Federal de Contabilidade. NBC TG 1000 (R1): contabilidade para pequenas e médias empresas. Diário Oficial da União, Brasília, 1 nov. 2016. Disponível em: <https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTG1000(R1).pdf>. Acesso em: 4 jul. 2023. _____. NBC TG 1001 (R1): contabilidade para pequenas empresas. Diário Oficial da União, Brasília, 9 dez. 2021a. Disponível em: <https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTG1001.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2023. _____. NBC TG 1002 (R1): contabilidade para microentidades. Diário Oficial da União, Brasília, 9 dez. 2021b. Disponível em: <https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTG1002.pdf>. Acesso em: 4 jul. 2023. PADOVEZE, C. L.; BENEDICTO, G. C. de; LEITE, J. da S. J. Manual de contabilidade internacional: IFRS – US Gaap – BR Gaap – teoria e prática. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2014. SANTOS, A. dos et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2022. 28 RESPOSTAS 1. a. R$ 24.000,00. O método das unidades produzidas é utilizado quando a vida útil do ativo está relacionada ao seu uso produtivo e não ao tempo. Para se calcular a depreciação anual, é necessário primeiro calcular o custo de depreciação por unidade produzida. Isso é feito subtraindo-se o valor residual do custo original do ativo e dividindo esse resultado pelo número de unidades produzidas estimadas. No caso da questão, o custo de depreciação por unidade produzida é de R$ 2,40 (R$ 120.000,00 - R$ 0,00 ÷ 50.000 unidades). Como a empresa produziu 10.000 unidades no ano, o valor da depreciação anual será de R$ 24.000,00 (R$ 2,40 x 10.000 unidades produzidas). 2. e. Aquisição de uma licença de software para uso da empresa. O ativo intangível compreende um bem que não possui matéria, é separável, mensurável e que vai gerar benefício econômico futuro para a empresa, como a aquisição de uma licença de software. Maquinários para produção, equipamentos de uso administrativo e software para operação de uma máquina específica se referem a imobilizados. O software desenvolvido para comercialização deve ser reconhecido no estoque, pois permanece na empresa por um período curto de tempo. 3. a. Uma obrigação presente que surge de eventos passados, cuja liquidação é incerta e cujo valor pode ser mensurado de forma confiável. 4. c. R$ 150.000,00. A perda por impairment que a empresa deve reconhecer em um imóvel é de R$ 150.000,00 (valor contábil/valor recuperável). Nesse caso, o valor recuperável é o maior entre o valor em uso (R$ 250.000,00) e o valor justo de venda descontado dos custos de desmontagem e venda (R$ 350.000,00 = R$ 400.000,00 – R$ 50.000,00). Portanto, a perda por impairment é de R$ 150.000,00 (R$ 500.000,00 – R$ 350.000,00).
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