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CONTABILIDADE E GESTÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS AULA 5 Profª Daiane Lolatto CONVERSA INICIAL Nesta etapa, trataremos das principais fontes de captação de recursos das micro e pequenas empresas, os métodos de avaliação de investimentos e o desenvolvimento e planejamento estratégico dessas empresas; para tanto, estudaremos os seguintes tópicos: • Fontes potenciais de captação de recursos; • Métodos de avaliação de investimentos; • Desenvolvendo o planejamento estratégico em PMEs; • A implementação e os órgãos de governança nas PMEs; • O processo sucessório. Aproveite a leitura e exercite os conhecimentos adquiridos resolvendo as atividades. Lembre-se, a melhor forma de aprender é exercitando. Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO As micro e pequenas empresas podem obter recursos para desenvolver suas atividades por meio de diversas fontes, como empréstimos bancários, financiamentos governamentais, investidores privados, entre outras opções de captação de recursos. Para isso, é importante que as micro e pequenas empresas tenham um planejamento estratégico bem-definido, para orientar suas atividades e decisões. Isso inclui a definição de objetivos claros, análise dos ambientes interno e externo e identificação dos recursos necessários que possam influenciar no sucesso da empresa. Diante disso, vamos conhecer como as Micro e Pequenas empresas obtêm recursos para desenvolverem suas atividades, os métodos de avaliação de investimentos e o desenvolvimento e planejamento estratégico dessas empresas. Este conteúdo é fundamental para entender o próximo conteúdo. Por isso, é imprescindível se atentar a todos os tópicos e detalhes descritos. Iniciaremos falando sobre a contabilidade para pequenas e médias empresas. 3 TEMA 1 – FONTES POTENCIAIS DE CAPTAÇÃO DE RECURSOS Começar um negócio utilizando apenas recursos próprios costuma ser a melhor opção, uma vez que não há a necessidade de pagar juros. Contudo, isso não é tarefa fácil, pois exige um planejamento cuidadoso para acumular os recursos necessários e uma disciplina financeira rigorosa. Muitas vezes, as empresas precisam recorrer a outras fontes de recursos, como recursos pessoais, de amigos e familiares, investidores anjos, capital semente, venture capital e private equity, financiamento coletivo (crowdfunding), agências de fomento, incubadoras, hotéis tecnológicos e bancos (Lemes, 2019). Na sequência, vamos entender os cuidados que devem ser tomados pelos empreendedores na hora de captar recursos, com o objetivo de alertá-los sobre erros comuns que podem ocorrer nessa decisão. 1.1 Recursos pessoais, de amigos e familiares A melhor forma de as empresas obterem recursos, normalmente, é por meio de amigos e familiares, pois, em geral, não exigem garantias e cobram juros baixos ou nenhum juro. Eles também são mais flexíveis em relação a prazos de pagamento (Lemes, 2019). No entanto, a possibilidade de contar com recursos de amigos e familiares depende de vários fatores que nem sempre estão sob controle do empreendedor, como a disponibilidade financeira dessas pessoas, sua disposição em investir na ideia do empreendedor, e até mesmo a estabilidade dos relacionamentos pessoais. Quando possível, é importante tomar cuidado para não prejudicar os relacionamentos (Lemes, 2019). Caso os recursos pessoais, de amigos e familiares, não sejam viáveis, ou insuficientes, os empreendedores devem buscar outras formas de financiamento. 1.2 Investidores anjos Investidores anjos são uma ótima alternativa de financiamento para micro e pequenas empresas, especialmente para startups. Eles são pessoas físicas que investem seu próprio capital em projetos na fase inicial, auxiliando no desenvolvimento do negócio (Losada, 2020). Geralmente, são empresários, executivos e profissionais liberais experientes, com boas redes de 4 relacionamento e habilidades de avaliação de oportunidades. Os investimentos anjos são realizados geralmente por um grupo de 2 a 10 investidores, e o investimento típico varia entre R$ 50.000,00 e R$ 600.000,00 (Lemes, 2019). Empresas como Kroton, Bossa Nova Investimentos, TOTVS, IGC Partners são exemplos de investidores que procuram investir em startups. Além de obterem retorno financeiro, investidores e empreendedores contribuem para a economia como um todo, impulsionando empresas inovadoras e de alto potencial, criando empregos qualificados e contribuindo para o crescimento do país (Lemes, 2019). O momento de saída é importante para esses investidores. Eles podem optar por uma saída estratégica, investir em fundos de venture capital, vender para outros investidores anjos ou recomprar sua participação (Lemes, 2019). Por outro lado, segundo Lemes (2019), o empreendedor, ao vender sua participação, deve refletir sobre: • projeções de crescimento: é importante que tanto o investidor quanto o empreendedor sejam realistas na hora de vender um negócio. As previsões devem ser otimistas, mas não exageradas, para evitar questionamentos do comprador; • investimento necessário e uso dos recursos: para crescer ainda mais, é preciso saber quanto e onde investir os recursos. Além disso, é importante pensar na perenidade da empresa e na saída do investidor; • EBITDA e margem EBITDA: o empreendedor deve entender a importância dessas métricas na avaliação do negócio; • retorno sobre capital investido: é importante que o comprador entenda qual será o retorno sobre o investimento feito na empresa; • endividamento: o nível de endividamento da empresa deve ser condizente com seu tamanho e uma dívida inteligente não é um problema, mas uma dívida excessiva pode ser. 1.3 Capital semente Capital semente é um tipo de financiamento de longo prazo fornecido por fundos de investimento a startups em seu estágio inicial de desenvolvimento ou que ainda estão em fase de concepção. Esse tipo de financiamento é muito procurado por empreendedores, pois pode gerar estabilidade financeira para a 5 empresa até que ela se torne sustentável. Os fundos de capital semente buscam altos retornos e estão dispostos a assumir riscos significativos, investindo em empresas inovadoras e de base tecnológica, podendo aplicar quantias substanciais em comparação aos investidores anjos (Lemes, 2019). Muitas vezes, as empresas apoiadas pelos fundos de capital semente são apenas ideias ou projetos no papel, e os recursos ajudam o empresário a cobrir gastos iniciais, com desenvolvimento do produto ou serviço, pesquisas de mercado, formação da equipe e aprimoramento do plano de negócios. O primeiro passo dos gestores de fundos de capital semente é selecionar os projetos que receberão os investimentos, avaliando as oportunidades do mercado, os produtos e serviços propostos, a equipe envolvida, a estratégia de atuação e o modelo de negócios (Lemes, 2019). O financiamento de capital semente também pode ser destinado a negócios que já possuem uma base sólida de produtos ou serviços e uma pequena clientela. Nesses casos, os recursos são utilizados para expandir a estrutura, aumentar a produção e as vendas, consolidar a marca e, acima de tudo, atrair a atenção de fundos de investimento com maior capacidade financeira (Lemes, 2019). Os investidores de capital semente geralmente formam fundos que arrecadam recursos de outros investidores e investem em várias empresas iniciantes para reduzir os riscos. Após avaliar cerca de mil projetos, aproximadamente dez são escolhidos para a próxima fase, que envolve apresentar a empresa ao comitê de investimento do fundo. O grupo então realiza uma análise e decide se aprova ou não o investimento. Depois disso, durante dois a três meses, os empreendedores e os membros do fundo se encontram para discutir e negociar a participação dos novos sócios (Lemes, 2019). Para conseguiresse tipo de investimento, é preciso mais do que ideias promissoras e boa argumentação. É recomendado documentar parte do plano de negócios e projetar o modelo de negócios, evidenciando maiores probabilidades de retorno para os investidores interessados. A participação em eventos voltados para as startups e a convivência em ambientes de inovação e empreendedorismo podem proporcionar aos empreendedores maiores chances de estabelecer uma rede de contatos com investidores de fundos, possibilitando a viabilização de seu negócio (Lemes, 2019). 6 No Brasil, as principais instituições governamentais que atuam no âmbito do capital semente são a Finep, responsável pelo financiamento de estudos e projetos, e o Fundo Criatec, mantido pelo BNDES e Banco do Nordeste do Brasil (BNB). Para aqueles que desejam ter acesso a fundos privados de capital semente, é possível consultar organizações que fomentam e representam as startups brasileiras, como a Associação Brasileira de Startups (ABStartups) (Lemes, 2019). 1.4 Venture capital e private equity Em uma fase mais avançada do novo empreendimento, há a possibilidade de receber investimentos de todos os tipos de investidores de risco. Esses fundos normalmente investem em empresas de médio porte, que tenham alcançado um faturamento significativo e que precisam dar um grande salto. Os investimentos compreendem venture capital e private equity (Lemes, 2019). O venture capital é uma forma de financiamento para empresas que envolvem a troca de participação societária, resultando em responsabilidades conjuntas para investidores e empreendedores. Ele é destinado a startups que testaram seus produtos e estão prontas para crescer, trazendo investidores como sócios para o empreendimento (Lemes, 2019; Losada, 2020). O venture capital investe em empresas estabelecidas, mas de pequeno e médio portes, com potencial de crescimento, fornecendo recursos financeiros para as primeiras expansões e levando o negócio a novos patamares no mercado. Assim como no capital semente, o foco está em empresas inovadoras, em setores como biotecnologia e tecnologia. A seleção dos projetos também passa por avaliação, apresentação ao comitê de investidores e negociação (Lemes, 2019). O private equity é uma atividade de investimentos em participações privadas. O objetivo desses recursos consiste em fornecer um impulso financeiro à empresa para que ela se prepare para abrir capital na bolsa de valores, por exemplo (Lemes, 2019; Losada, 2020). As empresas de capital aberto também podem receber recursos do private equity. Nesse caso, o capital é destinado a mudanças financeiras, operacionais ou estratégicas, visando a um novo posicionamento no mercado aberto (Lemes, 2019). 7 1.5 Financiamento coletivo (crowdfunding) O financiamento coletivo (crowdfunding) é uma forma de financiamento empresarial em que várias pessoas podem contribuir com pequenas quantias para viabilizar uma ideia, negócio ou projeto, podendo ou não receber uma contrapartida em troca. É uma maneira rápida e relativamente simples de arrecadar fundos para a realização de uma ideia ou projeto popular, com uma baixa contrapartida (Coelho, 2018; Lemes, 2019; Losada, 2020). O financiamento coletivo é uma forma de financiar ideias, testar produtos/serviços e construir uma comunidade. O empreendedor define metas financeiras e um prazo de 90 a 180 dias, por exemplo, para arrecadação. Cada pessoa contribui com o que puder e, em troca, recebe recompensas. Se a meta mínima for alcançada, o projeto se torna realidade e todos os contribuintes recebem suas recompensas. Se a meta não for alcançada, todos recebem seu dinheiro de volta (Lemes, 2019). No Brasil, a Resolução n. 88, de 27 de abril de 2022, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) trata dessa modalidade de captação. 1.6 Agências de fomentos Agência de fomento é uma instituição financeira não bancária regulada pelo Banco Central do Brasil, cujo principal objetivo é financiar investimentos de capital fixo e de giro para projetos empreendedores incluídos em programas de desenvolvimento na unidade da Federação onde a agência está sediada. Essas agências buscam substituir os bancos de desenvolvimento e reduzir a participação do estado no sistema financeiro (Lemes, 2019). As agências de fomento oferecem linhas de crédito mais baratas e vantajosas para micro, pequenas e médias empresas que desejam investir em setores estratégicos para o desenvolvimento regional, como infraestrutura, indústria, comércio, agronegócio, turismo e informática. Esses recursos são provenientes de fontes estaduais ou do BNDES (Lemes, 2019). Os empreendedores podem acessar essas linhas de crédito para investir em capital de giro, máquinas e equipamentos, inovação e franquias. Há também opções de crédito para profissionais autônomos, microempreendedores individuais e, em alguns casos, até mesmo para grandes empresas, dependendo do estado (Lemes, 2019). 8 As agências de fomento também realizam outras atividades, como prestação de garantias em operações compatíveis com seu objeto social, serviços de consultoria financeira, aplicação de disponibilidades de caixa em títulos públicos federais, cessão de créditos, aquisição de créditos oriundos de operações compatíveis com seu objeto social e financiamento para empreendimentos de pequeno porte (Lemes, 2019). Embora as agências de fomento não sejam fáceis de acessar, suas linhas de financiamento podem ser a melhor opção para obter capital para sua empresa. É importante conhecer as diferentes agências, linhas e programas existentes e acompanhar os editais para aproveitar essas oportunidades. As principais agências de fomento do Brasil são o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e as Fundações de Amparo à Pesquisa dos Estados (FAPs) (Lemes, 2019). 1.7 Incubadoras Incubadora de empresas é uma instituição que tem como objetivo fornecer suporte aos empreendedores para que possam desenvolver ideias inovadoras e transformá-las em empreendimentos de sucesso, oferecendo suporte técnico, gerencial e formação complementar. Existem diferentes tipos de incubadoras, como as de base tecnológica, tradicionais, mistas e sociais (Lemes, 2019). As incubadoras oferecem infraestrutura, capacitação aos empreendedores e redes de relacionamento que favorecem o crescimento do negócio e o acesso ao mercado. As empresas incubadas são aquelas que estão passando pelo processo de incubação, recebendo suporte de uma incubadora para o seu desenvolvimento. O tempo médio de incubação é de três anos e, ao se graduar, a empresa está preparada para o mercado (Lemes, 2019). Por outro lado, um parque tecnológico é um complexo industrial e de serviços de base científico-tecnológica que agrega empresas cuja produção se baseia em pesquisa tecnológica, visando promover a cultura da inovação e da competitividade. Os parques tecnológicos beneficiam os empreendimentos neles localizados, a região e a economia como um todo, facilitando o fluxo de conhecimento e tecnologia, gerando empregos qualificados e impulsionando a atividade empreendedora (Lemes, 2019). 9 1.8 Hotéis tecnológicos O Hotel Tecnológico é uma iniciativa que funciona como uma pré- incubadora de projetos de base tecnológica, com o objetivo de apoiar alunos, ex- alunos e servidores universitários no desenvolvimento de seus projetos. Ainda, busca estimular e incentivar a criação de empresas, permitindo que as ideias se tornem negócios caracterizados pela aplicação tecnológica (Lemes, 2019). Conhecido também como Programa Hotel de Projetos no Instituto Federal de São Paulo, esse programa tem como objetivoprincipal apoiar o desenvolvimento de projetos empreendedores, levando em conta a viabilidade mercadológica de produtos, processos e serviços e a capacidade física de hospedagem no IFSP dos projetos (Lemes, 2019). Assim como uma incubadora, o Hotel Tecnológico busca promover os projetos hospedados, oferecendo formação empresarial, estimulando a postura empreendedora e incentivando a criação de empresas com produtos/serviços inovadores de base tecnológica, fortalecendo a relação entre o meio acadêmico e o mercado (Lemes, 2019). 1.9 Bancos Quando um empreendedor enfrenta dificuldades financeiras, geralmente considera solicitar um empréstimo ou financiamento. No entanto, o empreendedor deve entender a diferença entre esses conceitos. No caso do financiamento, o dinheiro é destinado a uma finalidade específica, como a compra de um equipamento ou veículo. No empréstimo, o tomador tem a liberdade de usar o dinheiro como quiser. Antes de recorrer a bancos, é recomendável explorar outras opções, visto que os empréstimos e financiamentos são bastante onerosos no Brasil (Lemes, 2019). Para negociar com as instituições financeiras, é aconselhável elaborar um plano de negócios que especifique como os recursos serão usados, quanto é necessário e como será feito o pagamento. Existem vários tipos de bancos, mas para empreendedores iniciantes, os mais acessíveis são os bancos de desenvolvimento e comerciais (Lemes, 2019). O BNDES é um banco público federal que apoia investimentos de longo prazo em diversos setores econômicos, incluindo agricultura, indústria, infraestrutura, comércio e serviços, além de investimentos sociais em áreas 10 como educação, saúde e agricultura familiar. O banco oferece várias opções de crédito para pequenas empresas, incluindo linhas de investimento para implantação, ampliação e modernização, aquisição de máquinas e equipamentos nacionais, além de capital de giro, microcrédito e financiamento para produtores rurais e exportadores (Lemes, 2019). TEMA 2 – MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS O objetivo de um investimento é obter um retorno que supere o valor investido, a fim de compensar o risco de trocar um valor presente garantido por um valor futuro que pode não ser recuperado. Essa diferença entre o retorno obtido e o valor investido é conhecida como rentabilidade do investimento, e representa uma espécie de prêmio por investir. É esse prêmio que fundamenta a existência dos juros, que são pagos como uma compensação pelo serviço prestado ao investidor pelo ato de emprestar dinheiro a terceiros (Padoveze; Benedicto, 2010). De acordo com Lemes (2019), os principais métodos utilizados para avaliação de investimentos são o Payback, o Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno (TIR). Na sequência, vamos entender como apurar o resultado utilizando esses métodos. 2.1 Payback – Períodos de Retorno do Investimento O Payback fornece uma estimativa de quantos períodos (normalmente em anos) serão necessários para que o investimento inicial seja recuperado (Padoveze; Benedicto, 2010). Vamos supor que uma empresa esteja avaliando a possibilidade de investir em um novo projeto que exigirá um investimento inicial de R$ 100.000,00 e que tenha uma projeção de fluxo de caixa anual de R$ 30.000,00. Para calcular o Payback, é necessário identificar em quantos anos o fluxo de caixa anual será capaz de recuperar o investimento inicial de R$ 100.000,00. Dividindo o investimento inicial pelo fluxo de caixa anual, temos: 𝑃𝑎𝑦𝑏𝑎𝑐𝑘 = Investimento Inicial / Fluxo de Caixa Anual 𝑃𝑎𝑦𝑏𝑎𝑐𝑘 = R$ 100.000,00 / R$ 30.000,00 𝑃𝑎𝑦𝑏𝑎𝑐𝑘 = 3,33 anos 11 Portanto, nesse caso, o Payback é de 3,33 anos, o que significa que o investimento inicial será recuperado em um período de aproximadamente 3 anos e 4 meses. Conforme Lemes (2019), se o Payback for menor ou igual ao padrão definido pela empresa, ela deve aceitar o projeto e se o Payback for maior que o padrão definido pela empresa, ela deve rejeitar o projeto. Esse método apresenta vantagens como facilidade de compreensão, orientação para a liquidez e facilitação da análise de risco. Por outro lado, suas desvantagens incluem a falta de consideração ao valor do dinheiro no tempo, a subjetividade na definição do período de retorno do investimento, a não consideração das consequências após o período de retorno do investimento e a penalização de projetos de longo prazo, que podem ser estrategicamente importantes (Lemes, 2019). 2.2 Valor Presente Líquido (VPL) O método do Valor Presente Líquido (VPL) consiste em calcular a diferença entre o valor presente das entradas de caixa e o valor presente das saídas de caixa, ambos descontados ao custo de capital. Esse cálculo permite visualizar quanto cada projeto pode contribuir em termos financeiros para maximizar a riqueza dos acionistas (Lemes, 2019; Padoveze; Benedicto, 2010). A fórmula para calcular o VPL é a seguinte: 𝑉𝑃𝐿 = (𝐹𝐶0) + (𝐹𝐶1) (1 + 𝑘) + (𝐹𝐶2) (1 + 𝑘)2 + (𝐹𝐶3) (1 + 𝑘)3 + (𝐹𝐶4) (1 + 𝑘)4 + ⋯ + (𝐹𝐶𝑛) (1 + 𝑘)𝑛 Em que: 𝑉𝑃𝐿 = Valor Presente Líquido; 𝐹𝐶0 = Valor do Investimento Líquido; 𝐹𝐶1…𝑛 = Fluxo de Caixa Livre de cada ano; 𝑘 = Custo de Capital. Vamos supor que uma empresa esteja avaliando a possibilidade de investir R$ 50.000,00 em um novo projeto que promete gerar fluxos de caixa de R$ 10.000,00 por ano durante 5 anos. A empresa estima que o custo de capital é de 10% ao ano, ou 0,1 ao ano. 12 Para calcular o VPL, precisamos descontar cada fluxo de caixa futuro para o valor presente usando a taxa de desconto (custo de capital) de 10%. Fazendo isso, teremos: 𝑉𝑃𝐿 = (𝑅$ 50.000,00) + (𝑅$ 10.000,00) (1 + 0,1) + (𝑅$ 10.000,00) (1 + 0,1)2 + (𝑅$ 10.000,00) (1 + 0,1)3 + (𝑅$ 10.000,00) (1 + 0,1)4 + (𝑅$ 10.000,00) (1 + 0,1)5 𝑉𝑃𝐿 = (𝑅$ 50.000,00) + 𝑅$ 9.090,91 + 𝑅$ 8.264,46 + 𝑅$ 7.513,15 + 𝑅$ 6.830,13 + 𝑅$ 6.209,21 𝑉𝑃𝐿 = (𝑅$ 12.092,13) O resultado negativo indica que o projeto não é viável, uma vez que o valor presente dos fluxos de caixa não cobre o investimento inicial de R$ 50.000,00. Assim, se o VPL for maior ou igual a 0, o projeto é viável e deve ser aceito e se o VPL for menor que 0, o projeto não é viável e não deve ser aceito (Lemes, 2019; Padoveze; Benedicto, 2010). O método do VPL apresenta vantagens, como a possibilidade de somar VPLs positivos de diversos projetos, a utilização exclusiva dos fluxos de caixa e do custo de capital, além da consideração do valor do dinheiro no tempo. Em contrapartida, suas desvantagens incluem a dificuldade em definir o custo de capital, interpretação mais difícil por ser dado em valor absoluto e dificuldade em ajustar o risco dos projetos (Lemes, 2019). 2.3 Taxa Interna de Retorno (TIR) A Taxa Interna de Retorno (TIR) é uma variação do método do VPL. A TIR iguala os valores presentes das entradas e saídas de um projeto. Quanto maior a TIR, mais vantajoso é o projeto. A TIR permite calcular uma única taxa de retorno que resume o mérito do projeto. Ela é denominada “interna” porque sua obtenção não depende de qualquer outra informação além do fluxo de caixa livre do projeto (Lemes, 2019; Padoveze; Benedicto, 2010). A fórmula para calcular a TIR é a seguinte: (𝐹𝐶0) + (𝐹𝐶1) (1 + 𝑇𝐼𝑅) + (𝐹𝐶2) (1 + 𝑇𝐼𝑅)2 + (𝐹𝐶3) (1 + 𝑇𝐼𝑅)3 + (𝐹𝐶4) (1 + 𝑇𝐼𝑅)4 + ⋯ + (𝐹𝐶𝑛) (1 + 𝑇𝐼𝑅)𝑛 = 0 13 Em que: 𝑇𝐼𝑅 = Taxa Interna de Retorno; 𝐹𝐶0 = Valor do Investimento Líquido; 𝐹𝐶1…𝑛 = Fluxo de Caixa Livre de cada ano. O objetivo é encontrar a taxa TIR que faz com que a soma dos fluxos de caixa presentes seja igual a zero. Para encontrar essa taxa, a fórmula deve ser resolvida por meio de tentativa e erro, variando o valor da TIR até que a soma dos fluxos de caixa presentes seja igual a zero. Existemsoftwares e calculadoras financeiras que podem calcular a TIR automaticamente a partir dos fluxos de caixa fornecidos. Suponha que você está considerando investir em um projeto que requer um investimento inicial de R$ 10.000,00 e que gera fluxos de caixa anuais de R$ 2.500,00 nos próximos 5 anos. Aplicando a fórmula da TIR, temos: (𝑅$ 10.000,00) + (𝑅$ 2.500,00) (1 + 𝑇𝐼𝑅) + (𝑅$ 2.500,00) (1 + 𝑇𝐼𝑅)2 + (𝑅$ 2.500,00) (1 + 𝑇𝐼𝑅)3 + (𝑅$ 2.500,00) (1 + 𝑇𝐼𝑅)4 + (𝑅$ 2.500,00) (1 + 𝑇𝐼𝑅)5 = 0 A apuração por meio de uma planilha eletrônica (como o Excel) pode ser realizada conforme Figura 1. Figura 1 – Apuração TIR pelo Excel Fonte: Lolatto, 2023. Isso significa que, com base nas informações fornecidas, a taxa de retorno anual do projeto seria de 8%. Ou seja, se a rentabilidade esperada é maior do que o custo de oportunidade do investimento, o projeto seria uma boa opção para investir. Assim, se a TIR for maior ou igual ao custo de capital, o projeto é viável e deve ser aceito e se o VPL for menor que o custo de capital, o projeto não é viável e não deve ser aceito (Lemes, 2019; Padoveze; Benedicto, 2010). 14 O método da Taxa Interna de Retorno (TIR) apresenta diversas vantagens, como a consideração do valor do dinheiro ao longo do tempo, sua base exclusiva nos fluxos de caixa e no custo de capital, a possibilidade de comparar a taxa de retorno do projeto com as taxas de mercado e a facilidade de compreensão e comunicação. Entretanto, é importante ressaltar que o método TIR também apresenta algumas desvantagens, como a sua dependência na determinação do custo de capital, a possibilidade de múltiplas respostas caso os fluxos de caixa sejam não convencionais e a potencial propensão a decisões equivocadas em investimentos mutuamente exclusivos (Lemes, 2019). TEMA 3 – DESENVOLVENDO O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO EM PMES Tanto na teoria quanto na prática dos negócios existem diversas técnicas e ferramentas disponíveis para a realização de diagnósticos do ambiente empresarial. Vamos abordar duas delas, a análise SWOT e a análise das cinco forças de Porter. 3.1 Análise SWOT A análise SWOT é uma das principais ferramentas utilizada no planejamento estratégico. Para criá-la, é necessário identificar e avaliar informações do ambiente interno e externo da empresa, com o objetivo de definir as estratégias de negócios mais apropriadas (Lemes, 2019). Essa ferramenta foi desenvolvida por Albert Humphrey, pesquisador norte-americano que trabalhou em um projeto na Universidade de Stanford entre as décadas de 1960 e 1970. Para criar a análise SWOT, Humphrey utilizou dados da Revista Fortune 500, que publica o ranking das maiores empresas americanas. A sigla SWOT é formada pelas primeiras letras dos termos em inglês Strengths (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças) (Chiavenato; Sapiro, 2020; Lemes, 2019). Na análise interna de uma empresa, são identificadas suas forças e fraquezas, enquanto na análise externa são identificadas oportunidades e ameaças (Kuazaqui, 2016; Lemes, 2019). • Forças: são fatores internos da empresa, como seus recursos e características dos produtos, que proporcionam vantagens estratégicas; 15 • Fraquezas: são fatores internos da empresa, como seus recursos e características dos produtos, que resultam em desvantagens estratégicas; • Oportunidades: são elementos do macroambiente que não podem ser controlados, mas que favorecem a empresa; • Ameaças: são elementos do macroambiente que não podem ser controlados, mas que prejudicam a empresa em determinado período. Segundo Lemes (2019), para realizar uma análise SWOT completa, é importante considerar cinco fatores principais de autoanálise, como os recursos disponíveis, as necessidades ou carências de capacidades e competências, as características internas da empresa, incluindo suas forças e fraquezas, as causas e motivos subjacentes às forças e fraquezas identificadas, assim como a comparação do desempenho da empresa com o desempenho de seus concorrentes. A seguir, podemos verificar algumas perguntas que a empresa pode responder para fins de elaboração da matriz SWOT, segundo Lemes (2019). Exemplos de perguntas para identificar pontos fortes: • Quais são as habilidades e competências da empresa? • Como podemos aumentar ainda mais a visibilidade da empresa? • O que os concorrentes, clientes, fornecedores e funcionários dizem que a empresa faz bem? • Como podemos aplicar e aproveitar os recursos disponíveis? • Qual é o nível de inovação da empresa em relação aos concorrentes? Em que aspectos a empresa se destaca? Exemplos de perguntas para identificar pontos fracos: • Em que aspectos os produtos, processos ou gestão da empresa ficam atrás dos concorrentes? • O que precisa ser melhorado na empresa? • Onde podemos buscar novos recursos para atender às necessidades internas? • O que os concorrentes, clientes, fornecedores e funcionários dizem que a empresa faz mal? • Qual é o nível de inovação da empresa em relação aos concorrentes? Em que aspectos a empresa precisa melhorar? 16 Exemplos de perguntas para identificar ameaças: • Quais leis, regulamentações, concorrentes ou inovações podem ter um impacto negativo na empresa? • Quais são os pontos fortes dos concorrentes que podem prejudicar o nosso negócio? • Existe a possibilidade de surgirem barreiras externas que afetem os produtos da empresa? • Estamos passando por um período de recessão econômica? Exemplos de perguntas para identificar oportunidades: • Quais são as oportunidades externas que a empresa pode identificar? • Quais são as novas demandas dos clientes que podem se tornar boas oportunidades de negócio? • Que tendências globais a empresa é capaz de aproveitar? • Estamos passando por um período de crescimento econômico? Diante disso, acompanhe no Figura 2 um exemplo prático de análise SWOT de uma empresa do ramo de vestuário. Figura 2 – Análise SWOT de uma empresa do ramo de vestuário Fonte: Lolatto, 2023. • Crescimento do mercado de vestuário masculino • Expansão para o mercado de vestuário feminino • Possibilidade de vendas on-line • Concorrência acirrada • Mudanças nas tendências da moda • Aumento dos custos de produção • Dependência de um único fornecedor • Falta de diversificação dos produtos • Problemas de comunicação interna • Marca reconhecida no mercado • Boa qualidade dos produtos • Equipe de vendas experiente Forças Fraquezas OportunidadesAmeaças 17 Após analisar os pontos fortes e fracos que afetam os fatores internos e externos da empresa, é hora de criar a matriz SWOT, como é mostrada no Quadro 1. Quadro 1 – Diagnóstico da empresa de vestuário com base na análise SWOT Oportunidades • Crescimento do mercado de vestuário masculino. • Expansão para o mercado de vestuário feminino. • Possibilidade de vendas on-line. Ameaças • Concorrência acirrada. • Mudanças nas tendências da moda. • Aumento dos custos de produção. Pontos fortes • Marca reconhecida no mercado. • Boa qualidade dos produtos. • Equipe de vendas experiente. Potencializar • Aumentar a visibilidade da marca, investindo em campanhas publicitárias mais amplas ou em patrocínios de eventos importantes na área de vestuário. • Explorar novas oportunidades de mercado, lançando linhas de roupas esportivas ou moda praia. Minimizar • Buscar novos fornecedores e estabelecer parcerias com empresas que oferecem matéria-prima de qualidade a preços competitivos. • Investir em tecnologia e automação para reduzir a falta de diversificação dos produtos e melhorar a produção. Pontos fracos • Dependência de um único fornecedor. • Falta de diversificação dos produtos. • Problemas de comunicação interna. Transformar • Criar linhasde roupas para crianças ou tamanhos especiais, por exemplo. • Adotar práticas mais eficazes de comunicação entre os departamentos da empresa. Defender • Proteger sua marca reconhecida no mercado, a empresa pode adotar medidas legais contra a concorrência desleal ou investir em estratégias de marketing que fortaleçam a fidelidade dos clientes. • Acompanhar de perto as tendências e inovar em suas coleções. • Reduzir o desperdício de material e de energia, assim como renegociar os contratos com fornecedores e transportadoras. Fonte: Lolatto, 2023. 3.2 Análise de Porter A análise de Porter é uma ferramenta de análise estratégica desenvolvida por Michael Porter, que ajuda as empresas a entenderem a dinâmica competitiva de seu setor de atuação e a identificar suas forças e fraquezas em relação aos concorrentes (Lemes, 2019). Essa análise é baseada em cinco forças que moldam a competição em um mercado específico: 18 1. A ameaça de novos entrantes: o quão fácil é para novas empresas entrarem no mercado e competirem com as empresas já estabelecidas; 2. O poder de negociação dos fornecedores: o quão forte é a posição dos fornecedores em relação às empresas, o que pode afetar o preço e a qualidade dos insumos utilizados; 3. O poder de negociação dos compradores: o quão forte é a posição dos compradores em relação às empresas, o que pode afetar o preço e a qualidade dos produtos oferecidos; 4. A ameaça de produtos substitutos: o quão fácil é para os consumidores substituírem os produtos oferecidos pelas empresas por outros produtos similares; 5. A intensidade da rivalidade entre os concorrentes: o quão forte é a concorrência entre as empresas já estabelecidas no mercado. Ao analisar essas cinco forças, as empresas podem identificar as oportunidades e os desafios do seu mercado, além de elaborar estratégias para enfrentar a concorrência. Por exemplo, se a ameaça de novos entrantes é alta, uma empresa pode investir em barreiras de entrada para impedir a entrada de novos concorrentes. Se o poder de negociação dos fornecedores é alto, uma empresa pode buscar novos fornecedores ou até mesmo verticalizar a sua produção para ter maior controle sobre os insumos utilizados (Lemes, 2019). No entanto, é importante ressaltar que a análise de Porter não é uma solução única para todas as empresas, e as estratégias elaboradas devem ser adaptadas às características e necessidades específicas de cada negócio. Ainda, essa análise não leva em consideração fatores externos ao mercado, como mudanças tecnológicas ou regulatórias, que podem afetar significativamente a dinâmica competitiva. TEMA 4 – A IMPLEMENTAÇÃO E OS ÓRGÃOS DE GOVERNANÇA NAS PMES A ideia de Governança Corporativa (GC) está ligada a um conjunto de regulamentos sobre como as empresas devem ser gerenciadas e supervisionadas. É o resultado de normas, tradições e padrões comportamentais que cada empresa desenvolve, não sendo apenas um modelo genérico que possa ser copiado ou exportado. A concepção de GC surgiu a partir da separação entre a propriedade e a gestão da empresa. Seu enfoque está na 19 definição de uma estrutura de governança que otimize a relação entre o retorno dos acionistas e os benefícios obtidos pelos seus executivos. Desse modo, a GC envolve geralmente a estratégia do negócio, as operações, a criação de valor e a distribuição dos resultados (Chiavenato; Sapiro, 2020). De acordo com o Rossetti e Andrade (2022), a governança corporativa está fundamentada em quatro valores: • Fairness (Equidade): a adoção de um senso de justiça e tratamento justo dos acionistas, com respeito aos direitos dos minoritários e sua participação equitativa nos resultados corporativos, bem como em assembleias gerais; • Disclosure (Transparência): a divulgação transparente das informações relevantes que afetam os negócios, incluindo resultados, oportunidades e riscos; • Accountability (Responsabilidade): prestação de contas responsável, baseada nas melhores práticas contábeis e de auditoria; • Compliance (Conformidade regulatória): adesão às normas regulatórias expressas nos estatutos sociais, regulamentos internos e leis do país. Os valores fundamentais da governança corporativa são essenciais para garantir a efetividade do sistema. Ainda, a GC busca promover a transparência e a confiança dos investidores e do mercado em geral. Para tanto, as empresas devem adotar práticas de GC que possibilitem o alinhamento dos interesses dos acionistas, dos executivos e dos demais stakeholders, assim como a criação de valor de forma sustentável (Chiavenato; Sapiro, 2020). Para que a GC seja efetiva, deve haver o comprometimento da alta administração e do conselho de administração em sua implementação e manutenção. É preciso que a empresa estabeleça uma estrutura de governança que contemple a definição de papéis e responsabilidades, a elaboração de políticas e diretrizes, a avaliação de desempenho e o monitoramento dos processos (Kuazaqui, 2016). Além disso, a empresa deve promover a capacitação e o desenvolvimento dos seus colaboradores e a criação de canais de comunicação transparentes e efetivos com os stakeholders. Dessa forma, a empresa poderá identificar riscos e oportunidades de forma mais rápida e precisa, permitindo uma tomada de decisão mais assertiva (Kuazaqui, 2016). 20 Em resumo, a governança corporativa é um tema de extrema relevância para as empresas, especialmente em um contexto em que a transparência e a responsabilidade são cada vez mais valorizadas pelos investidores e pela sociedade em geral. A adoção de práticas de GC pode contribuir significativamente para a criação de valor de forma sustentável e para a construção de relações de confiança com os stakeholders. TEMA 5 – O PROCESSO SUCESSÓRIO No que se refere à transferência de propriedade, o ponto principal é o momento da sucessão, quando ocorre a transferência da gestão do negócio para os herdeiros. Nessa ocasião, há o risco de cada um administrar sua parte de forma independente, o que pode levar a conflitos que, por sua vez, podem levar ao fechamento ou venda do negócio. Os herdeiros devem discutir claramente questões como quem, quando e como ocorrerá a sucessão, para que a gestão futura conte com o apoio da família no momento da transição (Lemes, 2019). Os romanos diziam que a morte põe fim a tudo, expresso pela frase "mors omnia solvit". Essa ideia foi incorporada pelo Direito Brasileiro, conforme descrito no art. 1.784 do Código Civil, que estabelece que no momento em que alguém falece, todos os seus bens passam automaticamente para seus herdeiros, sejam eles legítimos ou nomeados por testamento (Mamede; Mamede, 2015). No que diz respeito ao processo de sucessão, é importante que ele seja iniciado muito antes de o empreendedor deixar o comando da empresa. O proprietário deve iniciar o processo e indicar o sucessor no momento adequado. Ao agir com antecedência para preparar bem o sucessor, o fundador (ou seus sucessores) contribui de forma eficaz para garantir a continuidade da empresa na família (Lemes, 2019). Não é sempre que o empreendedor/empresário tem a disponibilidade e a paciência necessárias para formar o sucessor. O importante é que ele saiba conduzir esse processo da melhor maneira possível (Lemes, 2019). Para garantir uma sucessão bem-sucedida, é importante que o fundador da empresa desenvolva um plano estratégico abrangente, identificando os potenciais sucessores e seus respectivos papéis e responsabilidades. A comunicação clara e aberta entre o fundador, o sucessor e outros membros da família também é importante para evitar conflitos e garantir uma transição suave e bem-sucedida. Por fim, é importante lembrar que o processo de sucessão seja 21 visto como um processo contínuo de desenvolvimento e adaptação da empresafamiliar às mudanças e desafios do mercado e da sociedade. TROCANDO IDEIAS Começar um negócio pode ser um desafio, especialmente quando se trata de reunir os recursos financeiros necessários para iniciar as operações. Algumas pessoas optam por usar apenas seus próprios recursos para iniciar um negócio e outras recorrem a recursos de terceiros. Nesse sentido, você concorda que começar um negócio utilizando apenas recursos próprios é a melhor opção? Quais cuidados você acredita que um empreendedor deve tomar ao buscar outras fontes de recursos para o seu negócio? Resposta: iniciar um empreendimento com seus próprios recursos é geralmente a escolha mais vantajosa, pois evita-se o pagamento de juros. No entanto, essa abordagem não é simples e requer um planejamento minucioso para juntar os recursos necessários, bem como uma disciplina financeira rígida. Ao buscar outras fontes de recursos para seu negócio, um empreendedor deve tomar alguns cuidados para garantir que está fazendo a melhor escolha possível. Alguns desses cuidados incluem avaliar a real necessidade do negócio, pesquisar as opções disponíveis, analisar os custos e benefícios de cada opção, ter um plano de negócios sólido, estabelecer acordos claros com as fontes de recursos escolhidas, ter um bom planejamento financeiro e, em alguns casos, consultar profissionais especializados. É fundamental que o empreendedor tome esses cuidados para garantir a segurança e o sucesso do seu negócio. NA PRÁTICA Agora que conhecemos um pouco sobre algumas questões relacionadas ao planejamento estratégico, que tal exercitarmos os conhecimentos adquiridos? Questão 1: Sobre capital semente Muitas vezes, as organizações necessitam de fontes de financiamento. Algumas das fontes de financiamento compreendem recursos próprios, ajuda de conhecidos e familiares, investidores anjos, capital semente, venture capital e private equity, financiamento coletivo (crowdfunding), agências de fomento, incubadoras, hotéis tecnológicos e bancos. 22 Nesse sentido, qual é a principal característica do financiamento de capital semente? a) Os fundos de capital semente buscam retornos moderados. b) É um investimento de baixo risco para os fundos de investimento. c) É um financiamento de curto prazo para startups que são sustentáveis. d) É fornecido por bancos em estágios iniciais de desenvolvimento de startups. e) Os fundos de capital semente buscam altos retornos assumindo altos riscos. Questão 2: Sobre venture capital e private equity Em um estágio posterior do novo empreendimento, pode-se ter a chance de atrair investimentos de diversos tipos de investidores de risco. Geralmente, esses fundos investem em empresas de tamanho médio que já tenham alcançado um faturamento expressivo e que necessitem dar um salto significativo. Os investimentos podem incluir venture capital e private equity. Nesse contexto, qual a diferença entre venture capital e private equity? a) O venture capital é voltado para startups em estágio inicial, enquanto o private equity investe em empresas mais maduras. b) O venture capital implica troca de participação societária, enquanto o private equity não. c) O private equity é exclusivo para empresas que desejam abrir capital na bolsa de valores, enquanto o venture capital não. d) O venture capital é mais arriscado que o private equity, pois investe em empresas menos estabelecidas. e) O private equity é uma forma de financiamento de empresas com fins lucrativos, enquanto o venture capital é voltado para negócios sociais. Questão 3: Sobre Payback O propósito de um investimento consiste em buscar uma rentabilidade que ultrapasse o montante investido, com o intuito de compensar o risco de trocar um valor presente seguro por um valor futuro que pode não ser recuperado. Para avaliar investimentos, são utilizados principalmente os métodos de Payback, Valor Presente Líquido (VPL) e Taxa Interna de Retorno (TIR). Sendo assim, qual é a definição de Payback em um projeto de investimento? a) O período necessário para que o fluxo de caixa acumulado do projeto se iguale ao investimento inicial. 23 b) O período em que o projeto deve ser concluído para garantir seu sucesso. c) A quantidade de dinheiro que o projeto irá gerar após sua conclusão. d) A taxa de desconto utilizada para calcular o retorno do projeto. e) O lucro líquido gerado pelo projeto em cada período. Questão 4: Sobre VPL O Valor Presente Líquido (VPL) é uma das ferramentas mais importantes da análise de investimentos. Essa medida financeira é utilizada para avaliar a viabilidade econômica de um projeto, considerando o valor do dinheiro no tempo. Sendo assim, qual é a definição correta de Valor Presente Líquido (VPL)? a) É o valor que se obtém a partir da soma de todos os fluxos de caixa futuros de um investimento, descontados a uma taxa de juros apropriada. b) É o valor que se obtém subtraindo o investimento inicial do fluxo de caixa acumulado em um determinado período. c) É o valor que se obtém multiplicando o investimento inicial pela taxa interna de retorno do investimento. d) É o valor que se obtém dividindo o fluxo de caixa acumulado em um determinado período pelo investimento inicial. e) É o valor que se obtém somando o investimento inicial ao fluxo de caixa líquido gerado pelo investimento. FINALIZANDO Nesta etapa, estudamos as principais fontes de captação de recursos das Micro e Pequenas empresas, os métodos de avaliação de investimentos e o desenvolvimento e planejamento estratégico dessas empresas. Os tópicos tratados foram: • Fontes potenciais de captação de recursos; • Métodos de avaliação de investimentos; • Desenvolvendo o planejamento estratégico em PMEs; • A implementação e os órgãos de governança nas PMEs; • O processo sucessório. Na próxima etapa estudaremos sobre inovação, sustentabilidade e crescimento dos negócios. Bons estudos e até a próxima! 24 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, Idalberto; SAPIRO, Arão. Planejamento estratégico: da intenção aos resultados. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2020. COELHO, Caio Sasaki Godeguez. Crowdfunding: natureza e regime jurídico. São Paulo: Almedina, 2018. CVM. Resolução nº 88, de 27 de abril de 2022. Disponível em: <https://conteudo.cvm.gov.br/legislacao/resolucoes/resol088.html>. Acesso em: 29 mar. 2023. KUAZAQUI, Edmir. Planejamento estratégico. São Paulo: Cengage, 2016. LEMES JR, Antônio Barbosa; PISA, Beatriz Jackiu. Administrando Micro e Pequenas Empresas – Empreendedorismo e Gestão. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2019. LOSADA, Bruna. Finanças para startups: o essencial para empreender, liderar e investir em startups. 1. ed. São Paulo: Saint Paul Editora, 2020. MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Planejamento sucessório: introdução à arquitetura estratégica – patrimonial e empresarial – com vista à sucessão causa mortis. São Paulo: Atlas, 2015. PADOVEZE, Clóvis Luís; BENEDICTO, Gideon Carvalho de. Análise das demonstrações financeiras. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010. ROSSETTI, J. P.; ANDRADE, A. Governança Corporativa. São Paulo: Atlas, 2022. 25 GABARITO DOS EXERCÍCIOS DA SEÇÃO NA PRÁTICA Questão 1: Sobre capital semente Correta: e) Os fundos de capital semente buscam altos retornos assumindo altos riscos. O capital semente é um tipo de investimento de longo prazo que é oferecido por fundos de investimento para startups em seus estágios iniciais de desenvolvimento ou ainda em fase de concepção. Esse tipo de financiamento é bastante procurado por empreendedores, uma vez que pode proporcionar estabilidade financeira para a empresa até que ela se torne sustentável. Os fundos de capital semente buscam obter altos retornos e estão dispostos a assumir riscos elevados, investindo em empresas inovadoras e de base tecnológica, podendo aplicar valores significativamentemaiores do que os investidores anjo. Questão 2: Sobre capital semente Correta: a) O venture capital é voltado para startups em estágio inicial, enquanto o private equity investe em empresas mais maduras. O venture capital é direcionado para empresas em fase inicial, com grande potencial de crescimento, enquanto o private equity investe em empresas mais maduras e consolidadas no mercado. Além disso, a troca de participação societária é uma característica comum no venture capital, o que não acontece necessariamente no private equity. As demais alternativas apresentam informações incorretas sobre as duas formas de investimento. Questão 3: Sobre Payback Correta: a) O período necessário para que o fluxo de caixa acumulado do projeto se iguale ao investimento inicial. Payback é o tempo necessário para que o fluxo de caixa acumulado de um projeto de investimento se iguale ao investimento inicial. É uma medida de análise de investimentos que se concentra no prazo de recuperação do investimento inicial e, portanto, ajuda a avaliar a rapidez com que o investimento inicial será recuperado. Questão 4: Sobre VPL Correta: a) É o valor que se obtém a partir da soma de todos os fluxos de caixa futuros de um investimento, descontados a uma taxa de juros apropriada. 26 O Valor Presente Líquido (VPL) corresponde ao valor que se obtém a partir da soma de todos os fluxos de caixa futuros de um investimento, descontados a uma taxa de juros apropriada. O VPL é uma medida financeira utilizada para avaliar a viabilidade de um investimento, levando em consideração o valor do dinheiro no tempo. Ao descontar os fluxos de caixa futuros, o VPL considera a taxa de juros que seria necessária para trazer esses fluxos de volta ao valor presente.
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