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- -1 SEGURANÇA INTERNACIONAL O CRIME ORGANIZADO TRANSNACIONAL - -2 Olá! Nesta aula, estudaremos o crime organizado transnacional e veremos que este raramente é a causa do conflito armado, mas é uma importante fonte de receitas para os terroristas, facções, insurreições e estados subdesenvolvidos em conflito. Além do Crime Organizado, será abordada também a posição do Brasil face as essas "novas ameaças”. Ao final desta aula, você será capaz de: 1. Definir crime organizado transnacional. 2. Identificar as principais fações do crime organizado transnacional. 3. Analisar a relação entre o crime organizado e o terrorismo internacional. 4. Avaliar a participação do crime organizado em insurreições e conflitos em Estados subdesenvolvidos. 5. Avaliar a posição do Brasil face às "novas ameaças”. 1 Crime organizado transnacional Na aula anterior, tratamos do terrorismo internacional e suas consequências para o sistema internacional. A segurança internacional, entretanto, não está ameaçada apenas pelo terrorismo, outra ameaça tem se expandido com a transnacionalização, o crime organizado. Este é um problema que compromete não só as relações internacionais dos Estados, mas também sua segurança nacional, aumentando a violência, os índices de criminalidade, a corrupção do poder público e a desagregação social. O caso colombiano, no qual o Estado oficial controla apenas 1/3 de seu território soberano, incapaz de lidar com o narcotráfico e com a guerrilha, é um bom exemplo. O crime organizado transnacional está diretamente relacionado à lavagem de dinheiro, transferências ilegais de dinheiro no âmbito da internet por meio da ação de hackers, assim como da invasão de privacidade, da exploração sexual, o etc.tráfico de drogas Com relação ao tráfico de drogas, pode-se enumerar uma série de atividades ilícitas, tais como o comércio de substâncias entorpecentes como a cocaina, a heroina, o ópio, a maconha e também das chamadas drogas sintéticas, como ecstasy, de fácil manipulação e venda. O grande perigo, todavia, está no mercado negro de armas, principalmente o comércio de Armas de Destruição em Massa (ADM). - -3 Com o fim da URSS e da corrida nuclear em 1991, um shopping center de armas abriu-se para o mundo: o arsenal das antigas repúblicas soviéticas. Apesar de não ser causa de conflitos armados, o crime organizado transnacional é fonte de receitas e armas para terroristas, fações, insurreições e estados subdesenvolvidos em conflito. Os principais conflitos armados mundiais, principalmente na África e na Ásia, recebem armas desse grande mercado, quando não de produtores clandestinos. Se não resta dúvida de que o tema é de fundamental importância para o estudo da segurança internacional, não ficou claro o que é tão pouco quem é o crime organizado transnacional. 2 Definindo crime organizado transnacional Qual a primeira imagem que vem a sua mente quando você pensa em crime organizado? Imagens de jovens armados com fuzis automáticos e metralhadoras, sobre as lajes das favelas cariocas, atirando contra a polícia? Cenas de carros blindados da polícia atingidos por RPGs (Rocket Propulsed Granades, de fabricação russa ou do Leste europeu); helicópteros danificados e até derrubados por armas antiaéreas de calibre 30 ou 50 milímetros, sucatas da Segunda Guerra que ainda circulam no mercado negro. Ou são as notícias dos telejornais que dão conta dos assaltos a carros-fortes, bancos e quartéis do Exército em São Paulo, quando os bandidos procuram dinheiro para financiar o tráfico e armas militares para sustentar a resistência das face à autoridadequadrilhas com armamento inferior. Tudo isso é o crime organizado? Sim e não. Esse pessoal está no crime organizado, mas não é o crime organizado. As organizações criminosas que controlam o mercado ilegal são empresas transnacionais. Segundo o diretor do FBI, , numa prestação de contas para o Congresso dos Estados Unidos,Robert Muller III crime organizado é uma operação mundial de cerca de 250 “empresas criminosas”, que auferem um lucro anual de 1 trilhão de dólares. - -4 Entre elas estão as quatro máfias italianas (siciliana, napolitana, calabresa e romana); os cartéis colombianos e mexicanos; a Yakuza (Japão); as Tríades (China); os cartéis nigerianos, somalis e sul-africanos; os Dragões Vermelhos (Vietnã, Laos e Camboja), especializados na produção de papoulas, ópio e heroína; a Máfia Russa e suas ramificações por todo o Leste europeu, que controla a lavagem de dinheiro e o contrabando de armas. Trata-se de um conglomerado de “negócios criminosos” que gere o mercado ilegal em escala global. Este é o cerne do crime organizado, que delega para baixo as tarefas do submundo. Vamos tentar, então, definir formalmente o que é “crime organizado”: Criminalidade organizada geralmente diz respeito à reunião de vários membros de uma sociedade, que se associam e organizam sua atividade criminal como um projeto empresarial, formando o que se denomina de "organização criminosa". Existe, contudo, uma lacuna no ordenamento jurídico brasileiro quanto ao conceito técnico do que vem a ser o "crime organizado". Esta lacuna conceitual parece ocorrer em diversos países que convivem com essa realidade. A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, ocorrida na cidade italiana de Palermo, em 11 de dezembro de 1999, ratificada pelo Brasil em 29/01/2004 e promulgada pelo Decreto nº 5015, de 12/03/2004, define no item ‘a’ de seu artigo 2º uma "terminologia" a ser utilizada pelos Estados- membros, nos seguintes moldes: Para efeitos da presente Convenção, entende-se por: ‘Grupo Criminoso Organizado’ - grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material; [...]. Saiba mais Em cada pais as facções do crime organizado costumam receber uma designação. Assim costuma-se chamar de máfia (do italiano maffia) ao crime organizado italiano e italo- americano; Triade ao chinês; Yakuza ao japonês; Cartel ao colombiano e mexicano e Bratva ao russo e ucraniano. A versão brasileira mais próxima disso são os Comandos, facções criminosas sustentadas pelo tráfico de drogas e sequestros. - -5 A partir daí, um debate se instalou no país sobre a necessidade ou não da presença de, no mínimo, quatro elementos para a caracterização da organização criminosa, como exigido na tipificação da quadrilha ou bando, ou seja, que bastaria a associação de pelo menos três pessoas. Há quem sustente que o conceito de "organização criminosa" não é jurídico, e sim criminológico. Com essa perspectiva, defende-se que a Convenção de Palermo possui status de lei ordinária e, tendo obedecido o trâmite legal previsto na Constituição Federal, deve produzir seus efeitos, dentre eles o de fornecer à ciência jurídica penal o conceito de "organização criminosa" e viabilizar a aplicação da definição em diferentes âmbitos da legislação. Como, a priori, seria impossível esgotar todas as manifestações dos grupos ilícitos organizados num único conceito jurídico rígido, estaria legitimada a opção do legislador por um conceito aberto e funcional. Podemos observar na definição da ONU que não é necessário pensar em crime organizado como uma estrutura com dezenas de pessoas. Bastam três para a definição se efetivar. Com efeito, parece que o tamanho da organização – seja na área territorial, seja no número de integrantes, não é determinante. Os elementos determinantes são a prática ilícita, a hierarquia, a força ou o poder de intimidação e a atuação delimitada. Um traficante que tenha tão-somente dois "funcionários", um que venda a droga e outro que faça a "segurança" é um representante do crime organizado. Enquanto ele próprio (o traficante) "compra" o "material" de outros traficantes maiores, o "vendedor"faz a rede de contatos (consumidores) com a finalidade de escoar a droga, enquanto o terceiro providencia os meios para que as transações ocorram com "tranquilidade". Esse amplo espectro conceitual pode abrigar desde organizações como a exemplificada, como aquelas que possuem centenas de integrantes e estruturas hierárquicas complexas, como as que incluem "olheiros" (aqueles que observam a chegada da polícia ou de membros rivais; "aviõezinhos" (pessoas encarregadas do transporte de pequenas quantidades de drogas); "soldados" (indivíduos armados responsáveis pela "segurança" do bando); "gerentes" (responsáveis pelas atividades num determinado território) etc. Estas redes e sub-redes criminosas movimentam uma quantidade enorme de dinheiro e são responsáveis, direta ou indiretamente, diariamente, por vários crimes, tais como homicídios, roubos, corrupção, etc. O montante transacionado por essas organizações é tão expressivo que torna a lavagem de dinheiro uma obrigação, já que criminoso, para aproveitar seus lucros, precisa dar uma "aparência lícita" ao dinheiro oriundo dos crimes que pratica. Resumindo as diversas definições e conceituações, a atividade criminal organizada possui alguns elementos indissociáveis, que são a prática ilícita de crimes, associada a uma estrutura hierárquica e compartimentada de atividades - que incluem a intimidação -, dentro de um ou mais territórios delimitados. É um fenômeno mundial, que possui ligações – inclusive – transnacionais. Em última análise, a organização criminosa tradicional pode ser concebida como um organismo ou empresa, cujo objetivo seja a prática de crimes de qualquer natureza. - -6 3 A hierarquia no crime organizado Se existisse uma hierarquia no crime organizado, provavelmente os grupos envolvidos na venda de drogas no varejo, sequestros, roubo armado, aluguel de armas, ataques a bancos e cargas seriam os soldados. Têm base comunitária e recrutam mão-de-obra no próprio local de moradia, especialmente favelas e bairros populares desassistidos. Praticam ações sociais locais, de modo a aumentar sua própria proteção com base na lei do silêncio. Fica aquela impressão de que o bandido é melhor do que a polícia. Nesse caso, a ausência do Estado é tão evidente, que o os criminosos se “legitimam”. É uma simbiose estimulada pela ausência do poder público. Nas comunidades pobres, o tráfico de drogas é o principal fator econômico, inclusive gerador de empregos: as tarefas de infra-estrutura do tráfico empregam dezenas e dezenas de milhares de pessoas em todo o país. Trata- se do trabalho de misturar a droga com outras substâncias, pesar, embalar (a “endolação”) e outras coisas mais. Nem só de “soldados” vive o movimento, Em geral, são crianças e adolescentes que se empregam nessa ocupação de preparar a droga. Em seguida, estariam os grupos criminais que conseguiram estabelecer conexões para fora do seu próprio ambiente, além da favela e da periferia, tais como o e o Comando Vermelho (CV) Primeiro Comando da que apresentam uma organização maior, como ramificações nacionais. Percebe-se aqui umaCapital (PCC), atuação diversificada, onde elementos de um estado vão para outros e desenvolvem ações articuladas no tráfico, no roubo armado e no contrabando de armas. O Comando Vermelho é uma organização criminosa, criada em 1979, na prisão Cândido Mendes, na Ilha Grande, Angra dos Reis - Rio de Janeiro, como um conjunto de presos comuns e presos políticos membros da Falange Vermelha, que lutaram contra a ditadura militar. Durante toda a década de 90, o Comando Vermelho foi uma das organizações criminosas mais poderosas do Rio de janeiro, mas atualmente, muitos de seus líderes estão presos ou mortos e a organização já não é tão poderosa. Entre os integrantes da facção que se tornaram notórios depois de suas prisões, estão Fernandinho Beira-Mar, Marcinho VP, Fefeu da Cancela, filho de Polaco, Mineiro da Cidade Alta e Elias Maluco. Primeiro Comando da Capital (PCC) é uma organização criminosa paulistana, criada com o objetivo de "defender"; os direitos de pessoas encarceradas no país, Surgiu no início da década de 1990 no Centro de Reabilitação Penitenciária de Taubaté, local que acolhia prisioneiros transferidos por serem considerados de alta periculosidade pelas autoridades. A organização também é identificada pelos números 15.3.3; a letra "P" era a 15º letra do alfabeto português e a letra "Cêquot; é a terceira. Hoje a organização é comandada por presos - -7 e foragidos, principalmente, no Estado de São Paulo. O PCC conta com vários integrantes, que financiam ações ilegais em São Paulo e em outros estados do país. Ações de roubo a bancos nas cidades do interior, novas rotas do tráfico fora das capitais, ataques a delegacias e presídios também resultam dessa articulação. Esse pessoal já está num nível diferenciado. Costumam usar uniformes camuflados e máscaras, armas pesadas, intimidando a população. Operam de forma semelhante a uma guerrilha. Esses grupos também estabelecem as pontes entre a rua e a cadeia. Partiu deste escalão, por exemplo, o sequestro de uma equipe de reportagem da TV Globo, obrigando a emissora a transmitir em rede nacional um vídeo manifesto do PCC, em 12 e 13 de agosto de 2006. A primeira exibição do vídeo foi local, apenas em São Paulo, tarde da noite, mas os bandidos só ficaram satisfeitos quando o material apareceu no Fantástico. No já se percebe o contato com organizações internacionais e até transnacionais. Trata-se deterceiro escalão homens como Fernandinho Beira-Mar, do CV, e o Comendador (Arcanjo Ribeiro), que controlou o tráfico de maconha do Paraguai para o Brasil durante anos, que fazem a ponte entre o plano doméstico e o internacional. Outro exemplo histórico para este nível do crime organizado é o do contraventor carioca Toninho Turco (Antônio José Nicolau), que no início dos anos 1980 criou a primeira interface entre os produtores de cocaína do Cartel de Medellín e as favelas cariocas. Toninho Turco tratava diretamente com Pablo Escobar, À quadrilha formada pelo contraventor tinha 91 integrantes, dos quais 61 eram policiais e ex-policiais. Toninho Turco foi morto numa operação da Polícia Federal e do Exército, em 11 de fevereiro de 1987. - -8 Os produtores e exportadores de drogas e armas, ou seja, os homens que manipulam a pirataria de produtos e serviços, os cyber crimes, o tráfico de seres humanos e de órgãos, controlando governos e exércitos, são a outra ponta do crime organizado. Estão no poder em várias partes do mundo, especialmente na África, na Ásia e no leste europeu. A máfia italiana ainda é uma das principais organizações dessa operação, mas, segundo o FBI, os , com forte atuação no Brasil, já comandam 80% do tráfico de drogas do oriente para ascartéis nigerianos Américas. Em Kano, a segunda maior cidade da Nigéria, até recentemente havia um terminal aeroportuário, protegido pelo exército nacional, que funcionava exclusivamente para o tráfico. Essa esfera do crime organizado em geral é do conhecimento de governos e serviços de inteligência, mas não da população. São poucos os que como o magnata russo - tentou comprar o Corinthians, a Varig Bóris Berezovisky e emissoras de televisão, preso e libertado por falta de provas - buscam a exposição pública. Saiba mais De acordo com o jornalista e escritor Misha Glenny, autor de MacMafia (Companhia das Letras, 2008) Berezovisky foi um dos principais responsáveis pela primeira eleição de Vladimir Putin à presidência da Federação Russa. - -9 Os promotores do acreditam que ele é um dos “poderosos chefões” da Máfia Russa. Isso nos dá uma ideia GAECO do calibre desse pessoal. Esses homens estão diretamente envolvidos na luta pelo poder, inclusive como financiadores do terrorismo. O GAECO é um grupo de atuação especial criado pela Procuradoria Geral de Justiça brasileira em 1995, que tem como função básica o combate a organizações criminosas e se caracteriza pela atuação diretados Promotores na prática de atos de investigação, diretamente ou em conjunto com organismos policiais e outros organismos. Finalmente, o primeiro escalão na cadeia de comando do crime organizado é formado por cidadãos acima de qualquer suspeita em seus países. Vestem paletós Armani e ocupam luxuosos escritórios nos principais centros financeiros do mundo. Aqui o pessoal fala inglês, alemão, russo, um pouco de espanhol e até idiomas exóticos. Nenhum deles é ou foi favelado ou mora em periferias. Operam no mercado de capitais e controlam enormes operações financeiras, que chegam à incrível cifra de 1,5 trilhão de dólares/ano. A maioria deles é composta de banqueiros e financistas. E todos se consideram homens de negócio bem- sucedidos. Não põem a mão na sujeira, ficam muito longe das matanças e das misérias do vício. São inúmeras as organizações criminosas que existem atualmente. Cada uma assume características próprias e peculiares, amoldadas às próprias necessidades e facilidades que encontram no âmbito territorial em que atuam. Condições políticas, policiais, territoriais, econômicas, sociais, etc. influem decisivamente para o delineamento destas características. Uma das características que chama a atenção é que o uso da violência varia em cada sociedade. Em algumas áreas, como a China, o crime organizado é mais um negócio do que um conflito civil, por isso a violência é mais focada. Na Itália, a violência também tem foco: os criminosos atacam juízes e promotores. Já no México, há execução de famílias inteiras. Em locais como a Colômbia e países da África as atividades criminosas estão centradas em drogas. No Brasil, na Rússia e nos Estados Unidos há uma grande diversificação de bens, serviços e negócios ilegais. O tráfico de pessoas é mais pronunciado na Ásia e nos países que faziam parte da União Soviética. Mas também nos Estados Unidos os imigrantes ilegais que tentam atravessar a fronteira com o México são sequestrados por quadrilhas que os vendem como escravos. As organizações criminosas da Rússia, que ganharam força com o fim da União Soviética, são as mais afeitas à dinâmica globalizada. Já se tem notícia de relações russas com organizações da Colômbia, Japão, China e Itália. - -10 4 As principais facções do crime organizado transnacional A título exemplificativo podem ser elencadas as seguintes organizações criminosas espalhadas ao longo de todo o globo terrestre: • Tríades Chinesas - Surgiram no ano de 1644, como movimento popular para expulsar os invasores do Império Ming. Em 1842 com a colonização inglesa de Hong Kong seus membros se dirigiram para lá e depois para Taiwan, onde incentivaram camponeses a plantarem a papoula e a explorar o ópio, que até então era uma atividade lícita. Um século depois, foi proibido o comércio do ópio em todas as suas formas, ocasião em que as Tríades passaram a explorar hegemonicamente o “negócio” da heroína. • Yakuza - Sua origem remonta aos tempos do Japão feudal do século XVIII, desenvolveu-se na execução de atividades de dupla valência: ilícitas – cassinos, prostíbulos, turismo pornográfico, tráfico de mulheres, drogas e armas, lavagem de dinheiro e usura; e lícitas – casas noturnas, agências de teatro, cinema, publicidade e eventos esportivos. No século XX, com o desenvolvimento industrial do Japão, incorporaram as suas atividades à prática das chamadas “chantagens corporativas” que consistem em adquirir ações de uma empresa e a partir de então exigir lucros exorbitantes, sob pena de revelarem os segredos industriais aos concorrentes. • Máfia Italiana - Não se pode mencionar uma data precisa para a origem da Máfia Italiana, vez que são várias as máfias italianas surgidas ao longo do tempo, sendo as mais conhecidas a Cosa Nostra, a Camorra Napolitana, Na’drangheta, Calabresa e Sagrata Corona Pugliesa. • Estados Unidos - A criminalidade organizada surge no final da década de 20, com o contrabando de bebidas alcoólicas, fruto da chamada “Lei Seca”. Diversos grupos (gangs) exploravam a atividade ilícita o que ocasionou lutas sangrentas entre grupos rivais. Com o passar dos anos foram incorporadas outras atividades criminosas tais como o jogo e a prostituição. Com o desenvolvimento econômico americano, após a Segunda Grande Guerra, estabeleceu-se uma parceria entre esses grupos e a Máfia Italiana, criando a Máfia ítalo-americana que incorporou as atividades dos grupos americanos o tráfico de drogas. • América do Sul - Já no século XVI, os colonizadores espanhóis cultivavam, exploravam e comercializavam a coca em regiões do Peru e da Bolívia. Com o passar dos anos os agricultores locais dominaram o cultivo da planta e a sua transformação em pasta base para o refinamento da cocaína, tendo grande parte deles migrado para a Colômbia, que mais tarde se tornou a região de maior produção e comercialização da cocaína na América do Sul. As organizações criminosas de maior destaque da Colômbia são o Cartel de Cali e o Cartel de Medellín, que hoje, além da cocaína comercializam, também, o ópio em parceria com as Tríades Chinesas. Analisar a relação entre o crime organizado e o terrorismo internacional Embora sejam semelhantes, no que tange a alguns de seus aspectos externos, o terrorismo e o crime organizado têm causas e objetivos distintos, exigindo medidas de repressão também diferenciadas. Contudo, é importante que tenhamos consciência de que a eventual aproximação de organizações de ambas as definições, pode gerar um estado semelhante ao que enfrenta a Colômbia, com largas porções de seu território subtraídas ao controle governamental, numa complexa simbiose entre cartéis do narcotráfico e milícias paramilitares terroristas. Durante a Guerra Fria, as insurreições dependiam de estados patrocinadores para financiar suas operações. Com a queda do comunismo, cada vez mais os grupos estão com financiamentos dependentes dos lucros das suas operações com o comércio de drogas. O comércio transnacional tem atingido mesmo extremistas religiosos que têm ultrapassado sua histórica aversão ao tráfico de drogas. • • • • • - -11 Os grupos terroristas, em particular vêm o comércio de drogas como uma forma de ultrapassar declínio de receitas provenientes de patrocinadores, promotores estaduais, instituições de caridade, frente às empresas, e os bancos que tiveram seus bens congelados ou apreendidos no âmbito nacional e as convenções internacionais. Alguns líderes islâmicos veem as drogas ilegais como uma arma destrutiva que pode ser usada contra a sociedade ocidental. Já mencionamos que, em muitos casos, lucros vindos de operações criminosas sustentam organizações terroristas. • Livres mercados e fronteiras e a facilidade de viagem e comunicação beneficiam tanto a nós quanto a criminosos e terroristas. • Graças aos avanços nas áreas de tecnologia, de comunicação, finanças e transporte, redes independentes de terroristas e grupos de crime organizado que operam internacionalmente podem facilmente começar a se relacionar. • Unindo suas técnicas e recursos, eles são capazes de causar mais danos. Tais grupos criminosos podem muitas vezes sustentar organizações terroristas, apresentando ainda mais ameaças e desafios à segurança global em diversos aspectos. No Afeganistão, os atos terroristas do Talibã são estimulados pela produção de , que é uma fonte essencialópio de dinheiro; do mesmo modo, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) são capazes de continuar operando graças ao cultivo da folha da coca, ao tráfico de cocaína e ao sequestro com pedido de resgate. De uma forma geral, podemos dizer que as ligações do crime organizado com o terrorismo predominam nas regiões de conflito separatista, mas não apenas. No ataque a Madri, por exemplo, ficou clara a participação de grupos terroristas e organizações criminosas que tiveram contato dentro das prisões. O mesmo ocorre na Tchetchênia. Como você já pode ter notado, o crime organizado, o terrorismo e os conflitos têm umatendência à intersecção nas principais regiões produtoras de droga do mundo: • A região andina da América do Sul (Colômbia, Peru e Bolívia) • O Crescente Dourado (Afeganistão, Paquistão e Irã) • O Triângulo Dourado (Birmânia, Laos e Tailândia) • • • Fique ligado O ópio é utilizado na fabricação da heroína e é extraído da papoula. O Afeganistão é o maior produtor mundial de papoulas. • • • - -12 O crime organizado, a corrupção e a violência estão profundamente enraizadas nestas áreas e as drogas exportadas a partir desses estados nacionais ameaçam a segurança internacional. Colômbia, Afeganistão e Mianmar são os três países que ilustram a forma gráfica de como a produção e o tráfico de drogas ilegais pode contribuir para os conflitos armados e a instabilidade regional. A Colômbia, o maior produtor mundial de cocaína, mantém-se enredada na violência e pelos conflitos gerados pelo comércio de drogas ilícitas. Depois de décadas de programas contra drogas, o governo lutou pela sua sobrevivência contra os "narco- guerrilheiros", os grupos terroristas e criminosos organizados. Estes grupos frequentemente aterrorizam as populações civis e cometem graves e violentos crimes com impunidade. Pelo menos 50 por cento do território da Colômbia estão sob o controle da insurreição ou de organizações paramilitares. Cerca de 40.000 colombianos foram mortos na última década de conflitos internos do país e 1,7 milhões de pessoas foram deslocadas internamente. A Colômbia já foi uma democracia estável, mas o crime organizado tornou-se uma característica dominante da economia do país. O impacto do tráfico de drogas e o combate interno levaram a um colapso do Estado de direito. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), o Exército de Libertação Nacional (ELN) e as (mais conhecida pela sua sigla espanhola (AUC), são facções armadas que sãoAutodefesas Unidas da Colômbia responsáveis por grande parte da violência do país. As três têm a maior parte das suas receitas provenientes do narcotráfico, tributando a produção, transformação da coca em cocaína, ou cobram taxas para proteger as plantações de coca, instalações de produção, rotas e transbordo. Fique ligado AUC - Coligação de unidades paramilitares de direita e esquadrões da morte que foram iniciados na década de 1960 pelos ricos traficantes droga que estavam cansados de ferem explorados pelas guerrilhas esquerdistas como as S. - -13 Alguns grupos armados podem ficar tanto como 70% dos seus fundos operacionais a partir do narcotráfico. Esses lucros são usados para comprar armas, recrutar novos membros, e financiar operações militares e terroristas. O terrorismo na África também está cada vez mais ligado ao crime organizado. A questão se agrava pelas muitas fronteiras porosas, pelos baixos padrões de vida e pela tensão política e social na África. No passado, o terrorismo na África estava ligado aos movimentos de libertação, ao pretexto da criação de um Estado ou tinha base nas diferenças de religião, mas, hoje, a lista de grupos terroristas ativos está ligada a atividades do crime organizado transnacional. A África Ocidental, por exemplo, está se tornando destino intermediário na operação de transferência de droga da América do Sul para a Europa e outros lugares, e grupos terroristas estão usando fundos angariados neste processo para comprar armas para suas ações. Sem incentivos financeiros alternativos, os agricultores pobres e outros trabalhadores de baixa renda serão cada vez mais atraídos para esta arena, concordando em transportar drogas em uma direção e armas em outro. Ressentimentos políticos, étnicos e religiosos também estão alimentando o desejo de alguns africanos de participarem de atividades terroristas. Avaliar a participação do crime organizado em insurreições e conflitos em Estados subdesenvolvidos O crime organizado, em geral, opera essencialmente por motivos econômicos, enquanto muitos grupos terroristas transnacionais são impulsionados pela política, etnia, religião ou ideologia. Para estes grupos, o crime transnacional é simplesmente um instrumento para financiar as suas operações terroristas e perseguir os seus objetivos políticos. Organizações criminosas recorrem à violência para avançar ou proteger as suas empresas criminosas, mas raramente existe uma vontade de destruir as instituições governamentais. Por outro lado, são frequentemente transnacionais terroristas empenhadas em objetivos políticos, que apelam para a queda ou destruição de um governo estrangeiro ou nacional. Receitas provenientes de criminalidade transnacional permitem que esses grupos terroristas sustentem operações de insurreição meses ou anos. As principais facções armadas Colombianas, por exemplo, mantêm um contínuo estado de guerra com poucas interrupções. O comércio de drogas e a insurgência, neste caso, estão estreitamente ligados. Qualquer sucesso alcançado em operações contra drogas vai diminuir a capacidade da guerrilha e das forças paramilitares para financiar as operações militares. A dupla contra-estratégias de estupefacientes e operações contra insurgência tem articulado uma campanha integrada que dá á administração Álvaro Uribe Vélez a melhor oportunidade para reduzir o nível de drogas e violência na sociedade colombiana. - -14 Saiba mais Livros: PECEQUILO, Cristina Soreanu. : temas, atores e visões.Introdução às relações internacionais Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. Cap. 4 – O debate atual e os novos temas das Relações .Internacionais NASSER, Reginaldo Mattar. . São Paulo,Os conflitos Internacionais de múltiplas dimensões Editora UNESP: 2009. Parte 6. Sites: Site Consultor Jurídico, com o texto: Terrorismo e crime organizado têm objetivo e causa , Por Fabrício Vergueiro.distintos Filmes: São inúmeras as opções de filmes que retratam o crime organizado transnacional: Top 25 sobre "Crime organizado“: Tropa de Elite 2 (2010) Los Angeles - Cidade Proibida (1997) Império do Crime (1955) Fogo Contra Fogo (1995) O Rei de Nova York (1990) M (1951) Um Preço para Cada Crime (1951) Estrada Para Perdição (2002) À Queima-Roupa (1967) Força do Mal (1948) Bróder (2009) O Gângster (2007) Todos Porcos (1961) Dr. Mabuse: O Jogador (1922) Profissão de Risco (2001) Inimigo Público (1931) Morrer ou Viver (1999) Cash: O Grande Golpe (2008) A Honra do Poderoso Prizzi (1985) Luzes na Escuridão (2006) Confidence - O Golpe Perfeito (2003) Cadê Minha Entrega? (2009) Torturado (2008) Matador de Aluguel (1989) Um Tira Sem Vergonha (1994) http://www.conjur.com.br/2006-mai-22/terrorismo_crime_organizado_objetivos_diferentes http://www.conjur.com.br/2006-mai-22/terrorismo_crime_organizado_objetivos_diferentes - -15 CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Definiu crime organizado transnacional. • Identificou as principais facções do crime organizado transnacional. • Analisou a relação entre o crime organizado e o terrorismo internacional. • Avaliou a participação do crime organizado em insurreições e conflitos em Estados. • Avaliou a posição do Brasil face às "novas ameaças”. • • • • • Olá! 1 Crime organizado transnacional 2 Definindo crime organizado transnacional 3 A hierarquia no crime organizado 4 As principais facções do crime organizado transnacional CONCLUSÃO
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