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PROCESSO PENAL 2 PROCESSO PENAL INQUÉRITO POLICIAL CARACTERÍSTICAS DO IP 4. SIGILOSO: o princípio da publicidade não atinge o inquérito policial por se tratar de pro- cedimento administrativo. De acordo com o art. 20 do CPP, “a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”. Resta claro pela leitura do dispositivo que sua finalidade é a de evitar que a publicidade em relação às provas colhi- das ou àquelas que a autoridade pretende obter prejudique a apuração do ilícito. Além disso, o sigilo tem como função garantir a eficiência da diligência e preservar a intimidade, privacidade e segurança do investigado. Esse sigilo pode ser dividido em sigilo externo, o qual abrange os terceiros desinteressados, diga-se, a imprensa. Esse tipo de sigilo ocorre em decorrência do preconceito existente naturalmente na sociedade brasileira. Já o sigilo interno abrange os protagonistas da investigação, ou seja, os agentes, escrivães, peritos, entre outros. Visto isso, é percebido uma fragilidade do sigilo interno, pois não atinge o acesso aos autos pelo Juiz e o Promotor, os quais têm amplo acesso aos autos, ainda que não reduzidos a termo. No entanto, o advogado também tem direito à análise dos autos, mas apenas aos autos já documentados (Art. 7º, XIV, EOAB). Da negativa de acesso aos autos por parte do delegado, caberá Mandado de Segurança, visto estar em risco direito líquido e certo atribuído por lei federal (EOAB) ao advogado. Como também há risco de restrição de liberdade do acusado, caberá Habeas Corpus preventivo. Além disso, o Brasil é o único país do mundo em que o STF precisa sumular algo já previsto em lei. Veja bem: ainda que haja previsão de acesso do advogado aos autos já documentados, muitos delegados ainda não per- mitiam esse acesso. Pensando nisso, outra ferramenta a ser utilizada é a Reclamação ao Supremo, visto que o STF, nessa situação, obrigou-se a lançar mão da súmula vinculante 14: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”. Além de ter acesso aos autos, o defensor também poderá estar presente no interrogatório do indiciado e na produção de provas testemunhais. Não poderá, contudo, fazer reperguntas, dado ao caráter inquisitivo do inquérito. A presença do advogado em tais oitivas confere maior valor aos depoimentos, pois é comum que os réus, após confessarem o crime perante o delegado, aleguem em juízo que o documento foi forjado ou que foram forçados a confessar. ATENÇÃO! O impedimento de acesso a autos já documentados pelo advogado configura o art. 32 da lei de abuso de autoridade! InquéRITO POlICIAl 3 O delegado, quando haver interesse público e não prejudicar a investigação, poderá divulgar informações à imprensa, ou seja, poderá quebrar o sigilo das investigações. No entanto, quando o juiz decretar o segredo de justiça, absolutamente ninguém poderá prestar declaração à imprensa, tudo isso para proteger a intimidade, família e vida privada da vítima. ATENÇÃO! Não viola a S.V. 14 quando se nega que o investigado tenha acesso a peças que digam respeito a dados sigilosos de terceiros e que não estejam relacionados com o seu direito de defesa (Informativo 964, STF). 5. INDISPONÍVEL: a autoridade policial, ao perceber nas diligências que se trata de uma causa de exclusão de ilicitude, não pode simplesmente desistir do Inquérito, tendo em vista que tal ato é revestido de interesse público. Sendo assim, toda investigação iniciada deverá ser finalizada e enviada à autoridade competente (Art. 17 do CPP). Da mesma forma, em nenhuma hipótese, poderá a autoridade policial arquivar ou solicitar o arquivamento do Inquérito, fato cabível apenas ao MP. 6. DISPENSÁVEL: a existência do inquérito policial não é obrigatória e nem necessária para o desencadeamento da ação penal. Há diversos dispositivos no CPP permitindo que a denúncia ou queixa sejam apresentadas com base nas chamadas PEÇAS DE INFORMAÇÃO que, em verdade, podem ser quaisquer documentos que demonstrem a existência de indícios suficientes de autoria e de materialidade da infração penal. Ex.: sindicâncias instauradas no âmbito da Administração Pública para apurar infrações administrativas, onde acabam também sendo apurados ilícitos penais, de modo que os documentos são encaminhados diretamente ao Ministério Público. Ora, como a finalidade do inquérito é justamente colher indícios, torna-se desnecessária sua instauração quando o titular da ação já possui peças que permitam sua imediata propositura. O art. 28 do Código de Processo Penal expressamente menciona que o Ministério Público, se entender que não há elementos para oferecer a denúncia, deverá comunicar a vítima, o delegado e o investigado, e ainda encaminhará os autos para a instância revisional do MP (após a mudança do pacote anticrime – lei 13.964/19). Entretanto, se o Ministério Público considerar que as provas contidas nas peças de informação são insuficientes, mas que novos elementos de convicção podem ser obtidos pela autoridade policial em diligências, poderá requisitar a instauração de inquérito policial, remetendo à autoridade as peças que estão em seu poder. ATENÇÃO! O art. 39, § 4º do CPP prevê que o órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, nos crimes de ação pública condicionada, se com a representação forem apresentados documentos que habilitem o imediato desencadeamento da ação. Por fim, o art. 40 do CPP prevê que os juízes e os tribunais encaminharão cópias e documentos ao Ministério Público quando, nos autos ou papéis que conhecerem no desempenho da jurisdição, verificarem a ocorrência de crime de ação pública. O Ministério Público, ao receber tais peças, poderá, de imediato, oferecer denúncia, ou, se entender que são necessárias diligências comple- mentares e imprescindíveis, requisitá-las diretamente ou requisitar a instauração de inquérito policial, remetendo à autoridade as peças que se encontram em seu poder. Em última análise, não se convencendo dos fatos, pode o MP arquivar o IP ou até mesmo realizar o acordo de não persecução (visto adiante). 4 ATENÇÃO! Algumas doutrinas (nessa vertente, Nestor Távora e Guilherme Nucci) ainda citam mais duas características do IP: a OFICIALIDADE E A OFICIOSIDADE. O primeiro relaciona o enten- dimento de que a realização do Inquérito Policial é atribuição de órgão oficial do estado (Polícia Judiciária). Já a oficiosidade afirma que a polícia, ao tomar conhecimento de uma infração penal de ação penal pública incondicionada, agirá de ofício, ou seja, sem provocação.
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