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05/11/2023, 04:32 Negros da terra: formas de escravismo indígena
https://estudante.estacio.br/disciplinas/estacio_9400811/temas/2/conteudos/1 1/59
Objetivos
Módulo 1
O Novo Mundo com velhos habitantes
Reconhecer a diversidade étnica das populações nativas antes
e durante a conquista da América pelos europeus.
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Negros da terra:
formas de
escravismo
indígena
Prof. Luis Henrique Souza dos Santos
Descrição
Os processos de redução da diversidade dos
povos indígenas à lógica de exploração
colonial e a agência nativa pela sobrevivência
de seus costumes e visões de mundo.
Propósito
A compreensão da relação entre os povos
indígenas e os colonizadores e seus
descendentes na estrutura colonial é
fundamental para os profissionais de
Educação e cidadãos, de maneira geral,
poderem se posicionar diante dos desafios
contemporâneos em torno da questão
indígena no país.
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Módulo 2
Negros da terra: formas do escravismo
indígena
Identificar as formas que o escravismo assumiu sobre os
povos indígenas no Brasil colonial.
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Módulo 3
Guerras contra a conquista
Analisar a configuração das resistências indígenas nas ações
coloniais para com os povos nativos.
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Introdução
O mês era agosto, no ano de 2021. Você, caro estudante, deve ter
acompanhado nos noticiários e nas redes sociais as
manifestações com numerosos indígenas nas largas avenidas de
Brasília e, mais especificamente, no acampamento de milhares
deles na Esplanada dos Ministérios. De forma simbólica, o
acampamento recebeu o nome de “Luta pela vida”, e contou com
mais de seis mil indígenas, de mais de 170 etnias distribuídas
pelo Brasil. Essa mobilização tinha um propósito: demonstrar a
insatisfação dos povos nativos para com a tese do “Marco
Temporal”, que estava em julgamento no Supremo Tribunal
Federal.
O “Marco Temporal” foi assim denominado por estabelecer um
limite – a promulgação da Constituição de 1988 – para que os
povos originários pudessem demandar a demarcação de suas

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terras, garantindo dessa maneira a inviolabilidade de seu
território. Com essa determinação, os indígenas só poderiam
recorrer à justiça para requerer a demarcação se comprovassem,
juridicamente, a ocupação daquelas terras até a promulgação da
Constituição de 1988.
Entre os dizeres dos indígenas em agosto de 2021, disseminou-
se a frase: “Nossa história não começa em 1988”. É aqui que
nossa atenção deve estar ao nos depararmos com casos como
esse relativo às populações originárias. Como pode o Estado
brasileiro determinar uma data para que esses povos
reivindiquem suas terras, quando eles existem muito antes da
própria fundação do Brasil?
A sobrevivência dos povos indígenas no mundo contemporâneo
tem sido creditada à mudança de mentalidade da legislação
portuguesa (durante o período colonial) e brasileira (após a
independência) com relação às populações nativas aldeadas,
isoladas e assimiladas. No entanto, esse discurso predominante
ignora a própria agência dos povos originários na sua
conservação, apesar dos avanços do “homem branco” sobre suas
terras e cultura. Será a respeito desses problemas que nos
debruçaremos no decorrer deste tema.
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1
O Novo Mundo com velhos habitantes
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer a diversidade étnica das populações nativas antes e durante a conquista da América pelos
europeus.
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Comunidades indígenas e
formas de organização
nativas em 1500
O que hoje chamamos de Brasil compreende um território vasto,
limitado pelo Oceano Atlântico desde a fronteira com o Uruguai até as
franjas do Amapá com a Guiana Francesa, sem contar as fronteiras com
outros oito países no interior continental.
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Atlas Atlântico Português, 1519.
Todo esse longo emaranhado de regiões é fruto de um processo
histórico de ocupação dessas terras, fundamentalmente por
portugueses, pela apropriação do trabalho negro escravizado e de
imigrantes europeus, além do gozo da mão de obra indígena. Entender a
complexa trama de relações que levaram à colonização e criação do
Brasil é um desafio com o qual não conseguiremos lidar neste
momento. Porém, iremos abordar, com o máximo de profundidade
possível, as relações estabelecidas entre os povos nativos e a
colonização:
 Quem são os povos indígenas?
De partida, deve-se destacar que o termo “índio” é
impróprio, assim como a própria denominação
indígena, já que, originalmente, foi utilizada pelos
europeus para caracterizar, como sendo a mesma
coisa, povos de corpos, línguas e costumes muito
distintos uns dos outros. Além disso, seu uso pode
ser traçado como aquele que é natural da Índia, ou
seja, do subcontinente asiático ao qual os europeus
buscaram chegar no período das Grandes
Navegações, nos séculos XV e XVI.
 Então, como denominar esses
povos?
Atualmente, antropólogos, historiadores,
indigenistas e os próprios órgãos estatais
responsáveis por estipular políticas e lidar com
essas populações aceitam nomes como “povos
nativos”, “povos originários”, “povos indígenas”
(sempre no plural), ou mesmo as designações que
ó i t b l
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Em suma, estamos diante de uma rede de significados ao tratar dos
povos nativos no período colonial:
Primeiro
O olhar dos colonos
sobre os indígenas.
Segundo
O olhar dos indígenas
sobre outros indígenas.
As áreas de conhecimento que têm realizado maiores avanços nos
estudos dessas populações no território brasileiro são a antropologia e
a arqueologia. Especialmente a arqueologia tem conseguido mapear o
longo período de ocupação desses povos, que remonta a, pelo menos,
12 mil anos. Sendo assim, estamos aqui diante de uma história que
conhecemos muito pouco, já que, com frequência, começamos a falar
da vida dos povos originários a partir da colonização, que ocorreu há
apenas cinco séculos. Nas escavações que vêm sendo realizadas por
todo o país, destaca-se a presença da cerâmica, manipulada de
diferentes formas, especialmente nas tradições aratu e uru (FAUSTO,
2000, p. 54).
esses próprios povos estabelecem para sua
autodeterminação, muitas vezes apropriando-se de
denominações dadas pelos colonizadores.
 Pensemos em um exemplo:
Atentos aos efeitos provocados pelo ato de nomear
povos tão distintos, podemos refletir sobre a
palavra “tapuia”. Ao aportar no litoral atlântico do
Brasil, os portugueses encontraram agrupamentos
nativos do grupo linguístico tupi-guarani. Nas
regiões da Bahia, deparam-se com os tupinambás,
povo que ficou conhecido por sua disposição para a
guerra e pelos rituais de canibalismo. Nesse
contato com os tupinambás, os portugueses
assumiram muitas de suas estratégias de relação
com outros povos mais para o sertão, chamados de
tapuias, significando bárbaros, desprovidos “de
aldeia, agricultura, canoa, rede e cerâmica”
(FAUSTO, 2000, p. 48).

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Aratu
É proveniente do nordeste brasileiro. Parece ter
desaparecido antes mesmo dos efeitos da conquista no
século XVI, já apresentando decadência nos séculos X-
XI.
Uru
É proveniente da regiãoamazônica. Parece ter se
tornado predominante a partir dos séculos X-IX
(FAUSTO, 2000, p. 54).
Essas formas de se confeccionar e manipular peças em cerâmica são
relevantes para a datação e o mapeamento do deslocamento de povos e
seus respectivos costumes, além de destacarem a própria organização
das aldeias ou ocupações.
Outro lugar-comum ao tratar dos povos indígenas é a aldeia, pensada
sempre de maneira circular e as habitações, em formato de oca.
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Disposição anelar em povoado Xingu.
A disposição anelar das aldeias, no entanto, está identificada com as
povoações na região do Alto Xingu, com tradições linguísticas distintas
que, antes do período da conquista, parecem ter construído espaços de
convívio e fortificação contra tupis ou jês – quem sabe até os dois –,
que eram menos sedentarizados e mais belicosos. É provável que essa
disposição anelar tenha se expandido com o passar dos séculos e com
as realocações, tópico que retornará ao nosso diálogo.
A população que vivia na floresta amazônica, assim, era diversa,
complexa e, fundamentalmente, descentralizada. Uma das principais
preocupações de antropólogos e arqueólogos do século XX – talvez se
apropriando de preocupações presentes nos textos de autoridades
coloniais – era a ausência de estado entre esses povos.
Muitas explicações foram aventadas, com destaque para a suposição
que vigorou durante muito tempo de que a não formação de um estado,
à semelhança do que ocorreu no império inca, se dava pela presença da
própria floresta. Não era possível construir estradas, não havia
plantações extensivas, nem era possível concentrar grande contingente
nos núcleos populacionais. No entanto, olhar para os povos da várzea
amazônica e das margens dos principais rios do sul amazônico
somente pela sua falta foi o principal erro dessas interpretações.
Diante da profusão de povos pelo território, uma estratégia adotada
pelos antropólogos e por linguistas tem sido a de mapear os troncos
linguísticos e suas variações. Podemos destacar dois esforços de
fôlego na apresentação e preservação da diversidade cultural e
linguística nativa no Brasil.
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Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes de Curt Nimuendajú.
O primeiro é o “Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes”, de
Curt Nimuendajú, etnólogo alemão que se estabeleceu
profissionalmente no Brasil e desenhou algumas versões desse
monumental mapa nos anos 1940 para diferentes instituições
(NIMUENDAJÚ, 2017). Além do mapeamento, esse documento propicia
uma compreensão de certos deslocamentos de grupos indígenas,
destacando sua mobilidade e adaptação. O outro esforço, mais recente,
é do Centro de Documentação de Línguas Indígenas (CELIN) localizado
no Museu Nacional/UFRJ, que lida com a grande diversidade indígena e
estabelece conexões sem apresar a cultura multiétnica nativa.
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Conversão e deslocamentos
indígenas no sertão
No processo de conquista da América portuguesa, portugueses e seus
descendentes estabeleceram-se, em um primeiro momento, no litoral.
Construíram postos mercantis, em que exerciam pouco poder sobre os
grupos populacionais locais, mas seu foco e efeito de controle se deu na
constituição de cidades, com instâncias políticas e administrativas.
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No império português, as Câmaras Municipais têm uma função
fundamental na organização local e, apesar de congregarem os
chamados “ homens bons” da região, tornaram-se apoio e utilizavam
suas ações para reivindicar privilégios com a Coroa lusitana. Guida
Marques, em artigo de 2014, destaca essa posição dupla das câmaras,
estudando mais especificamente o caso da Bahia durante o século XVI
e XVII e sua luta contra os “gentios” (MARQUES, 2014). Os índios que
não eram vertidos ao cristianismo, considerados “bravos” ou “bravios”,
passavam à categoria de “bárbaros”, podendo, assim, ser caçados e
feitos escravos. Pela limitação de expansão dos europeus sobre a
América, esses índios geralmente ocupavam o que era chamado de
“sertão”, terra desconhecida e para dentro.
Nesse longo processo de assentamento das populações de origem
europeia, principalmente portuguesas, chamadas no geral de colonos, o
contato com os povos nativos gerou conflitos e acomodações. No que
se refere aos conflitos, podemos destacar as incursões indígenas às
fazendas, as incursões para expulsar e apresar índios lideradas pelos
bandeirantes (aspecto que trataremos mais à frente), entre outras
rusgas de colonizadores e seus descendentes com os indígenas.
Obra de Jean Baptiste Debret, 1830.
Já com relação às acomodações, destacam-se esses mesmos conflitos
nos quais os nativos tomam partido. Ou seja, ao tratar com diferentes
povos, europeus aliavam-se a determinado grupo, ao passo que
guerreavam com outros.
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Tupinambás – Gravura de Jean de Lery
Um dos exemplos mais conhecidos dessas parcialidades entre
indígenas e europeus está na tentativa de colonização francesa no Rio
de Janeiro, com a construção do forte de Coligny sob a liderança de
Nicolas Durand de Villegaignon, nos anos 1550. Após disputas
religiosas entre os franceses, um grupo de protestantes decide
abandonar a fortaleza e buscar a sorte de sobrevivência entre os
tupinambás. Do relato de um dos missionários que decidiu aventurar-se
por pequeno período entre os índios, Jean de Léry, depreende-se,
também, que os franceses não eram os únicos a estabelecer alianças
com os povos nativos, nem mesmo a viver entre estes.
Assim, abrimos espaço para tratar de dois tipos bastante comuns no
período da conquista. Muito corriqueiros para várias nações europeias,
eram os náufragos e o que em português convencionou-se chamar de
lançados. Um costume dos marinheiros, quando se colocavam em
direção a terras desconhecidas, era recolher meninos para a viagem; à
medida que se aproximavam da costa, lançavam esses jovens em terra
firme, para que estabelecessem contato, por imersão, com as
populações nativas. De outra feita, buscando a sobrevivência, os
náufragos das embarcações se assentavam com os povos nativos,
descobrindo seus modos e sua linguagem. O caso mais conhecido na
história do Brasil talvez seja o de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, que
passou a vida entre os indígenas na Bahia e se tornou conexão
importante para o estabelecimento dos portugueses no Recôncavo,
costurando casamentos de seus filhos e filhas com homens lusitanos
(AMADO, 2000).
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Obra Episódios da vida de Diogo Álvares Correia, o Caramuru, autor desconhecido.
O segundo tipo, que recebe maior atenção da historiografia e da
memória popular acerca da colonização e seus contatos com os
indígenas, foram os missionários religiosos.
No caso do Brasil, a ordem religiosa que mais se destacou foi a
Companhia de Jesus, fundada em Roma na esteira do Concílio de Trento
e do movimento de Contrarreforma. Voltados para a conversão de
pagãos e para a luta contra o protestantismo na Europa, os jesuítas
rapidamente se dedicaram à redução das populações ameríndias ao
cristianismo romano. Representativa dessa importância foi a presença
dos inacianos nas embarcações que chegaram à Bahia para a fundação
de Salvador e do sistema de Governo-Geral, com o Governador Tomé de
Sousa, em 1549.
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O missionário espanhol José de Anchieta foi, junto com Manuel da Nóbrega, o primeiro jesuíta
que Ignacio de Loyola (fundador da Companhia de Jesus) envia para a América.
Por fim, cumpre destacar que a ocupação do litoral pelos europeus e
seus descendentes na construção de fazendas e cidades voltadas para
o comércio atlântico, durante o século XVI e XVII, contou com a
assimilação e dizimação das populações indígenas, como já é
conhecido pelos debates mais recentes da historiografia. Contudo, as
populações nativas sobreviveram à conquista. E essa sobrevivência está
relacionada tanto a um isolamento em virtude dos limites de avanço da
conquista no território quanto aos próprios deslocamentos de grupos
inteiros na busca por segurança e por mitos de salvação. Nesse sentido,
destacamos dois exemplos bastante elucidativos da sobrevivência pela
transumância:
Busca pela “terra sem mal”
Trata-se de uma prática conhecida como messiânica pela historiografia,
liderada pelos caraíbas, aos quais eram atribuídos poderes de cura e
profecia no tronco linguístico tupi (VAINFAS, 1995). Os caraíbas,
diferentemente do que se considera sobre as religiosidades nativas, não
estavam fixos em uma tribo e eram caracterizados justamente pela sua
desterritorialização e por ocupar a floresta (FAUSTO, 2000, p. 58).
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Família Caraíba.
Exerceram função fundamental na construção de “heresias”, de
concepções religiosas metamorfoseadas e na articulação de grandes
contingentes indígenas para se deslocarem em direção ao sertão. Ainda
em termos religiosos, aparece também uma “religião nativa”, construída
pelos missionários com nomes e cosmogonias indígenas modificadas.
Cristina Pompa chama atenção para essa construção por conta do
principal problema dos missionários: a dificuldade de ensinar nova
religião a populações que não tinham uma religião institucionalizada
como eles conheciam e estavam conhecendo entre maias e astecas na
América Hispânica, a quem chamavam de pagãos (POMPA, 2003).
Formação de novos
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agrupamentos
É o caso dos bororo (FAUSTO, 2000, p. 50). Sendo uma das populações
ameríndias mais conhecidas da atualidade, ocupando regiões do sul do
Brasil, com uso de adereços e costumes bastante característicos e
estudados pelos antropólogos no século XX, é possível que sua origem
esteja associada ao deslocamento de outros grupos indígenas e de sua
mistura a povos já estabelecidos no sul do país há alguns séculos.
Índios Bororo.
Ou seja, os deslocamentos em virtude da pressão da conquista sobre o
sertão podem ter sido fatores motivadores para a miscigenação e
criação de novas identidades e novas práticas entre povos indígenas.
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Encontros e contatos dos
europeus com os “selvagens”
A descrição desse Novo Mundo e de seus habitantes, com corpos
distintos, costumes exóticos e habilidades diferenciadas coube aos
chamados “cronistas”, europeus enviados juntamente à expedições, que
se destinavam a escrever sobre o que viam e viviam.
Acontece que se tornou lugar-comum tomar as descrições dos
cronistas como descrições acuradas dos modos de vida dos indígenas.
Somente após a especialização dos estudos históricos e antropológicos
começou-se a chamar atenção para o enviesamento desses escritos. O
olhar colonizador desses cronistas passou a ocupar esses estudos, que
questionavam as descrições e os dados que expunham, tornando um
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pouco mais difícil a tarefa de chegar a relações dos costumes
indígenas, já que havia muitos exageros em suas descrições.
Carta de Pero Vaz de Caminha.
Tomemos aquele que ficou marcado como o primeiro relato do encontro
entre portugueses e indígenas – conhecidos mais tarde sob a
denominação de botocudos, do tronco linguístico macro-jê –, a célebre
carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal sobre a descoberta das
terras de Vera Cruz. Sem nos debruçarmos sobre toda a carta, alguns
trechos são interessantes para notarmos tópicas da relação entre
europeus e os ameríndios (HOLANDA, 2000).
Depois de aportarem na foz de um rio, encontraram-se com um grupo de
cerca de vinte indígenas, todos nus, os quais não “estimam nenhuma
cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com
tanta inocência como têm em mostrar o rosto.” (CAMINHA, fl. 2v). A
inocência do indígena era uma das tópicas mais recorrentes da
cronística portuguesa, assim como associá-la à infância, estabelecendo
os degraus de evolução social no qual o ameríndio se encontra no
primeiro estágio (HOLANDA, 2000). Outro aspecto fundamental eram os
interesses portugueses nas conquistas de novas terras: ouro e prata.
Para tal, Caminha constrói interessante contato entre indígenas e o
capitão-mor da frota.
[...] entraram e não fizeram nenhuma
menção de cortesia nem de falar ao
capitão nem a ninguém. Um deles,
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porém, pôs olho no colar do capitão
e começou d'acenar com a mão
para a terra e depois para o colar,
como que nos dizia que havia em
terra ouro. E também viu um castiçal
de prata e assim mesmo acenava
para a terra e então para o castiçal,
como que havia também prata.
Mostraram-lhes um papagaio pardo,
que aqui o capitão traz, tomaram-no
logo na mão e acenaram para a
terra, como que os havia aí.
Mostraram-lhes um carneiro, não
fizeram dele menção. Mostraram-
lhes uma galinha, quase havia medo
dela e não lhe queriam pôr a mão e
despois a tomaram como
espantados.
(CAMINHA, fl. 3)
Na esperança de encontrar na Terra de Vera Cruz o que os espanhóis já
descobriam mais ao norte, para além dos mitos disseminados entre
navegadores, os portugueses colocam nas ações dos indígenas o
prenúncio de grandes riquezas no Brasil. Somente no final do século
XVII, nos sertões da América portuguesa, se achou ouro. Porém, as
suspeitas e expectativas existiam desde a primeira hora da colonização.
Para além de propaganda de um território com possíveis metais
preciosos, as descrições do Novo Mundo sob domínio português
tiveram outras funções.
Comentário
As histórias, crônicas, cartas e os mapas
tornaram possível o conhecimento da
geografia local, apesar de vários espaços
desconhecidos e das populações – sob o
olhar de determinadas parcialidades dos
próprios indígenas que iam estabelecendo
contatos. Ao habilitar a apreensão da forma
de organização e alguns poucos aspectos de
sua cosmogonia e formas de vida, tanto no
Reino (em Portugal e Espanha) quanto nas
cidades, durante os séculos XVI, XVII e XVIII
se estabeleceram normas e legislações para

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Simultaneamente à aparição das primeiras notícias que circularam na
Europa sobre habitantes no Novo Mundo nos anos finais do século XV,
tiveram início debates sobre a natureza da alma “selvagem” e de como
lidar com esses seres. Todo questionamento era possível, inclusive se
eram homens. Se sim, como chegaram lá, uma vez que, até onde
sabiam, esse novo continente estava completamente separado da
Europa e da África?
Na tradição de pensamento judaico-cristã opera-se o conhecimento por
meio da relação com o já conhecido. Ou seja, doutores no direito
romano, na teologia e na história buscaram adequar a nova descobertaa um quadro, que julgavam completo, das tradições legais, teológicas e
históricas já estabelecidas.
Nesse sentido, vale destacar que, na temática que nos importa, o
principal debate se estabeleceu entre jesuítas e dominicanos ao longo
do século XVI sobre a natureza e a liberdade do indígena. O índio era
passível de livre-arbítrio? Ele conhecia a verdade do evangelho e a
esqueceu – como ocorria com africanos e indianos – ou ele era
inocente, sem qualquer conhecimento de Jesus? Esse tipo de
questionamento motivou uma verdadeira guerra de tinta com a defesa
de diferentes pontos de vista. Tal debate emerge de um esforço de
legitimação tanto da conquista dos novos territórios quanto da
submissão – seja pela vassalagem ou pela escravidão – dos povos nela
descobertos (ZERON, 2005).
Domingos de Gusmão, dominicano e padroeiro da ordem.
lidar com os indígenas. Essas leis, é claro,
não foram uniformes e contaram com
contradições e modificações recorrentes.
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Um dos grandes problemas dessa controvérsia era estar baseada nas
descrições de navegadores impressionados com as descobertas e com
a tentativa de enquadrar todo o novo em velhos quadros teóricos. Daí
emergem figuras míticas nos mares e na terra, como o ibupiara, monstro
descrito pelos nativos e temido pelos portugueses (CAMENIETZKI;
ZERON, 2000).
Obra Fundação de São Paulo, de Antônio Parreiras, 1913.
Emergem, também, os títulos que permitiram encaixar os ameríndios na
escada civilizacional europeia, como “selvagens”, “gentios”, “bárbaros”,
entre outros. Essas categorias foram mobilizadas de diferentes formas.
Quando interessados na defesa da conversão à fé católica, o índio era
gentio, pois podia ouvir e assimilar a palavra dos missionários; quando
fazia investidas contra as fazendas, resistindo e se opondo à presença
dos brancos, o indígena era bárbaro e bravo.
As diferentes categorias nas quais os ameríndios eram classificados
geraram distintas posições tomadas pela Coroa, pelas Câmaras
Municipais e pelos colonos. Por isso a importância das descrições de
Pero Magalhães Gandavo, Gabriel Soares de Sousa, Frei Vicente de
Salvador, Antonil, entre outros cronistas dos primeiros séculos de
ocupação portuguesa da América. A partir desses relatos de viagens e
do cotidiano da conquista, são publicadas leis que, em alguns
momentos defendem a liberdade inquestionável dos indígenas, depois
sua possibilidade de apresamento em caso de “guerra justa”, para, no
século XVIII, restringir o contato com os índios à atuação do Estado.
Por fim, outro aspecto fundamental do contato entre europeus e nativos
foi a língua. Comumente temos referência à “língua tupi” quando nos
deparamos com nomes de origem indígena. A língua é um aspecto
crucial para a construção de conceitos e categorias, como temos visto,
além da redução e compreensão do outro. Assim, chama atenção uma
das primeiras anotações sobre a língua dos nativos da costa por Pero
de Magalhães Gandavo, cronista real:
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A língua de que usam, toda pela
costa, é uma: ainda que em certos
vocábulos difere em algumas
partes; mas não de maneira que se
deixem uns aos outros de entender:
e isto até altura de vinte e sete graus
que daí por diante há outra
gentilidade, de que nós não temos
tanta notícia, que falam já outra
língua diferente. Esta de que trato,
que é geral pela costa, é muito
branda, e a qualquer nação fácil de
tomar. Alguns vocábulos há nela de
que não usam senão as fêmeas, e
outros que não servem senão para
os machos: carece de três letras,
convém a saber, não se acha nela F,
nem L, nem R, cousa digna de
espanto porque assim não tem Fé,
nem Lei, nem Rei, e desta maneira
vivem desordenadamente sem
terem além disto conta, nem peso,
nem medida.
(GANDAVO, 2008, p. 134)
“Vivendo desordenadamente”, cumpria aos portugueses ensinar-lhes
como viver da maneira correta. Por isso a importância que foi dada para
o ensino de latim aos indígenas, nos primeiros anos da colonização, e
para a compilação da chamada “língua geral” tupi. Esse esforço foi
empreendido por José de Anchieta, que, em 1595, publica um
vocabulário da língua brasílica. Era necessário reduzir a dispersão de
línguas em uma só a ser ensinada para os missionários e tornar possível
a domesticação do selvagem (DAHER, 2012; GOODY, 1988).
Uma história apagada
Assista agora a uma explicação sobre o apagamento do papel dos
povos locais, desde a idealização dos europeus como bons selvagens
até a ideia de não adaptação por determinismos geográficos e afins.

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Vem que eu te explico!
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Apagamentos da história indígena
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
A visão do outro
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
Relatos de resistência
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
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Questão 1
No processo de conquista da América, os portugueses criaram
categorias e denominações, muitas vezes generalistas, sobre os
povos que encontraram. A seguir, estão algumas dessas categorias
e nomeações, com sua explicação. Assinale aquela que está
correta:

Vamos praticar alguns
conceitos?
Falta pouco
para atingir
seus objetivos.
A
Aratu era a tradição cultural na qual estavam inseridos
todos os povos nativos da América portuguesa,
percebida pelos colonos logo em sua chegada.
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Questão 2
Considere as afirmativas a seguir:
I. Os primeiros contatos entre europeus e nativos se davam pelos
“lançados”, homens que, muitas vezes, tornavam-se completamente
integrados à cultura ameríndia.
II. No Brasil, os missionários religiosos mais importantes foram os
jesuítas, que construíram colégios nas cidades e aldeamentos dos
indígenas nas proximidades dos centros urbanos.
III. Em função da pressão sobre as terras no litoral e no sertão, é
possível observar o deslocamento das populações indígenas em
busca de mitos de salvação e de novos espaços para se isolar dos
colonizadores.
Assinale as alternativas que relacionam de forma correta as
afirmativas acima:
B
Atentos às diversidades culturais dos povos
indígenas, os portugueses evitaram o uso de termos
generalistas, para respeitar as denominações
tradicionais dos ameríndios.
C
Os povos que viviam na floresta amazônica eram
conhecidos por uru, principalmente pela sua
integração econômica e social com os povos do
cerrado e do semiárido.
D
Os portugueses, estabelecendo contato e alianças
com os tupinambás, designavam todos aqueles
outros nativos como tapuias.
E
Jê era a forma de designação do tronco linguístico
dos povos tupis. Possuíam características
completamente distintas dos tupinambás encontrados
na costa do Atlântico.
Responder
A I e II estão corretas.
B I e III estão corretas.
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2
Negros da terra: formas do escravismo indígena
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as formas que o escravismo assumiu sobre os povos indígenas no Brasil colonial.
C II e III estão corretas.
D I, II e III estão corretas.
E Apenasuma das afirmativas está correta.
Responder
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Debates teológicos sobre a
liberdade ou escravização
indígena
A escravidão, atualmente, está associada à submissão de alguém ao
trabalho compulsório sem remuneração e sem liberdade de decisão. Em
consultas a dicionários, ainda vemos as referências recorrentes a
condições subalternas de uma raça em relação a outra, considerada
superior, seja do ponto de vista teórico ou em quesitos materiais.
Eleanor Roosevelt segurando a versão impressa da Declaração Universal dos Direitos Humanos
em espanhol.
Há, contudo, uma barreira legal imposta à escravização de outrem na
contemporaneidade, mais especificamente após a promulgação da
Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, na esteira dos
documentos e decisões da recém-criada Organização das Nações
Unidas, três anos antes. Essa obstrução, no entanto, é recente.
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Autoridades, leigas ou religiosas, durante séculos se lançaram no ofício
de construir consensos para justificar a existência da escravidão.
No contexto das Grandes Navegações, do século XV em diante, muito
foi escrito sobre o tema da escravidão, a liberdade e a legitimidade de
comércio de seres vivos do continente descoberto e dos já conhecidos,
porém com novas rotas e novos agentes envolvidos.
Em outras palavras, apesar da distância e das diferentes populações
que foram encontradas nesses locais, o esforço de conquista da
América, África, do subcontinente indiano e do extremo oriente esteve
permeado pelo interesse comercial e pela vontade de descobrir como
lidar com esses povos desconhecidos.
Nau de Pedro Álvares Cabral.
Para tal, os aventureiros que se lançaram nessas conquistas produziam
descrições sobre os costumes e práticas dos nativos; esses relatos
rodavam a Europa, em diferentes proporções, claro; e nos principais
centros intelectuais – universidades, principalmente – realizaram-se
discussões acaloradas sobre o tema. Não é possível mensurar os
debates sobre a liberdade dos indígenas da América portuguesa sem
Atenção!
Conhecer o processo de fundamentar a
escravização – com frequência um trabalho
intelectual que recorre a motivos teológicos
e históricos – é fundamental para
compreender como ela se dá na prática –
com suas consequências legais e a violência
com a qual ocorre.

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considerar que contendas semelhantes ocorriam para outras regiões do
globo (SCHWARTZ, 1988).
Era necessário, para os intelectuais espanhóis e
portugueses interessados em intervir nas expansões
de suas nações, construir um arcabouço ideológico
sobre o qual seus conterrâneos pudessem operar nas
terras recém-descobertas.
Lançam mão das tradições já recorrentes, como o modelo aristotélico, e
realizam novas proposições para encaixar esses desconhecidos
habitantes da América.
Alunos em uma aula da Universidade de Salamanca, no século XVII.
Um dos principais espaços de onde emanam interpretações foi a
Universidade de Salamanca, de onde teólogos de relevo, como
Francisco de Vitoria e seus discípulos, constroem definições para
articular a teoria político-religiosa corrente e o domínio ibérico sobre as
novas conquistas (ZERON, 2005, p. 208). Nesse sentido, a legitimidade
da escravidão dos ameríndios foi largamente discutida, sendo pilar de
controvérsias que se estendem por todo o século XVI. Na tradição
político-teológica moderna, um dos pontos de partida era o chamado
direito natural, uma forma de considerar atribuições divinas à dignidade
humana e seu uso costumeiro.
Em outras palavras, eram o conjunto de normas que, não codificadas em
leis estatais, não poderiam ser emitidas pelos monarcas nem tocadas
por eles. Dentro do direito natural estaria o direito à vida e à liberdade –
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para ficar em dois tópicos que foram amplamente discutidos a partir do
Renascimento na Itália e a respeito dos domínios ibéricos sobre a
América. Como conciliar, então, o direito natural à liberdade com a
submissão de outrem?
Nos centros intelectuais ibéricos se construiu um consenso, ainda que
tenha sido fruto de décadas de controvérsias, em torno de três
justificativas possíveis para a escravidão do indígena:
 Guerra justa
Articulando categorias como “bárbaros” e “índios
bravios” era possível driblar a oposição que existia
na sociedade colonial portuguesa, especialmente
na figura dos jesuítas que buscavam converter e
aldear os indígenas. Nesse cenário, qualquer
episódio de violência executado por nativos podia
ser interpretado como “guerra justa”, tornando
juridicamente seguro verter aquele ser humano em
escravo (CUNHA, 2009, p. 174).
 Compra de índios escravizados por
outros índios
Os “legitimamente havidos”. Aqui estamos diante
de uma solução menos clara, mais dúbia do que a
“guerra justa”, bastante complexa para ser
efetivamente clara (CUNHA, 2009, p. 174). Nesse
ponto, nos deparamos com diferenças objetivas
entre as sociedades portuguesas e ameríndias:
Existiam escravos na cultura indígena? Caso
existissem, tinham função mercantil? Se nos
guiarmos pelos cronistas, os índios vendiam seus
conterrâneos de outras etnias vertidos em
escravidão; contudo, há pouca evidência menos
tendenciosa sobre o assunto (FAUSTO, 2000, p. 39).
 Possibilidade de escravizar
indígenas que fossem resgatados
da posse de outros indígenas
Os colonos poderiam escravizar aqueles índios que
fossem resgatados de condições de “extrema
necessidade”, como o risco de estarem submetidos
ao rito canibal de seus apresadores indígenas. Essa
categoria da “extrema necessidade” foi recorrente,
por exemplo, nos tratados teológicos da
lá ti i d i ú d
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Guerra justa e pressões sobre
o sertão no apresamento
indígena
Você pode ter notado que, até aqui, falamos pouco dos bandeirantes e
menos ainda da denominação “negros da terra”. Esse silêncio foi
proposital. É preciso ter duas coisas em mente: primeiro, que todo o
processo de violência contra os indígenas e sua expulsão de regiões
que habitavam tradicionalmente para explorar a terra e seus recursos
naturais faz parte da estrutura da expansão colonial. E, segundo, que as
demandas por escravização dos povos nativos e sua utilização em
serviços diversos, especialmente nos séculos XVI e XVII, não foi
monopólio dos bandeirantes.
escolástica, pois descrevia um sem-número de
situações possíveis para se contornar algum direito
natural para salvaguardar outro (CUNHA, 2009, p.
175).
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Quadro de Henrique Bernardeli intitulado O Ciclo da Caça ao Índio, mostrando um bandeirante em
primeiro plano.
De partida, importa destacarmos o que seria esse “interior”. Entre os
séculos XVI e XVII, a ocupação da América portuguesa esteve
concentrada no litoral, ainda que houvesse tentativas de construir
cidades na subida de importantes rios, como o São Francisco, e no
interior de baías, como a Bahia de Todos-os-Santos e a Baía de
Guanabara. Sendo áreas profícuas para o abastecimento externo e o
escoamento de produções locais, posicioná-las próximas a rios permitia
um controle maior sobre a zona urbana, especialmente no que se refere
à preocupação paracom investidas de índios bravios, mocambos e
quilombos que viriam a se formar com o desenvolver do processo de
colonização.
Nesse cenário, o interior era o desconhecido, espaço
com dinâmicas incertas e sem muitas descrições.
Assim, a investida de aventureiros, quase sempre
protegidos pela concessão de sesmarias com grandes
proporções, oferecia algum conhecimento sobre esses
“sertões” – outro título bastante utilizado no período
colonial para qualquer zona interiorana distante
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A marcha de missionários era outra grande fornecedora de informações
sobre o interior, na busca de almas para conversão e para aldear.
Outro fator da interiorização do Brasil foi a pecuária. Contrariamente ao
que se afirma no senso comum sobre a criação de gado na América
portuguesa, esta não era realizada por homens livres e com
conhecimento bem delimitado de suas terras. Na esteira dos
importantes trabalhos sobre História Agrária, sob liderança de Maria
Yedda Linhares, Francisco Carlos Teixeira Silva esclarece o intricado
cenário de expansão da pecuária com base nas sesmarias e no
arrendamento de terras (SILVA, 1997, p. 120). Fundamentalmente, o
gado era criado por escravos, constantemente em contato e conflito
com povos nativos, quase sempre de maneira hostil, e com fronteiras
quase inexistentes.
Tela de Frans Post (1612-1680) que mostra uma paisagem brasileira com um carro de boi.
Era comum a concessão de terras pela Coroa por intermédio de seu
Governador-Geral – que era como funcionava a concessão de sesmarias
– sem muito critério de distâncias. Esse padrão se modifica no final do
século XVII, quando ocorre a tentativa de estipular dimensões de três
por uma léguas por sesmaria (SILVA, 1997, p. 121). Tais medidas,
contudo, não resolveram as discordâncias com relação à propriedade e
na legítima ocupação das terras do sertão.
Na mesma medida em que o gado se expande, rotas de deslocamento
são construídas no interior, aproveitadas pelos tropeiros. Não é possível,
assim, discutirmos a existência de estradas no interior sem
compreender que esse espaço não era vazio; era desconhecido aos
portugueses e seus descendentes, porém ocupado por populações
indígenas que dali foram expulsas ou dizimadas.
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Quadro Rancho Grande (dos Tropeiros), de Benedito Calixto, de 1921.
Apesar de estarem atualmente identificados com as regiões centro-
oeste e sul, os tropeiros eram recorrentes nas demais regiões do
território, uma vez que realizavam o transporte de produtos no mercado
interno. A própria presença dos tropeiros, assim, nos permite pensar a
respeito de um dos problemas sobre os quais a historiografia brasileira
se debruçou com afinco no século XX: a existência de um mercado
interno no período colonial.
Se o foco da ocupação extensiva do território era no litoral, e as
fazendas e terras produtivas mais cobiçadas estavam próximas à costa,
correr o risco de se expor aos perigos do interior prova a necessidade de
circulação de mercadorias nesse espaço. Existiam, assim, produtos a
serem comercializados que não vinham das frotas do Atlântico nem se
destinavam ao consumo europeu. Em meados do século XVIII, era
comum, inclusive, a circulação de peles e carnes da região do Prata com
a Região Sul do Brasil (GIL, 2002, p. 33-34).
Com o agravamento dos interesses portugueses no interior, passa a ser
recorrente a figura dos sertanistas, homens com alguma experiência
militar, especializados nas investidas a esse espaço. Como foi comum
entre os bandeirantes paulistas, tais sertanistas com frequência falavam
línguas nativas, compartilhavam de certos hábitos dos indígenas e da
presença de muitos índios. Mais uma vez, devemos estar atentos à
possibilidade de parcialidades entre as populações indígenas, aliando-
se, quando julgavam necessário e interessante, aos europeus, mesmo
na redução, caça e extermínio de outros nativos.
Comentário
No decorrer dos séculos XVII e XVIII, com a
expansão territorial que temos descrito, seja
pela busca por novas terras produtivas ou
para criação de gado, as Câmaras
Municipais atuam como agentes
importantes no financiamento e no apoio
legal de expedições de dizimação e
apresamento de indígenas. Aspecto pouco

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Apresamento indígena pelas
entradas paulistas no sertão
Vamos conversar agora sobre a denominação “negros da terra”. É
preciso ter duas coisas em mente: primeiro, que todo o processo de
violência contra os indígenas e sua expulsão de regiões que habitavam
tradicionalmente para explorar a terra e seus recursos naturais faz parte
da estrutura da expansão colonial. E, segundo, que as demandas por
escravização dos povos nativos e sua utilização em serviços diversos,
especialmente nos séculos XVI e XVII, não foi monopólio dos
bandeirantes.
O bandeirante paulista é um personagem em disputa na historiografia:

Há um esforço
realizado pela
historiografia tradicional
paulista, sobretudo com
autores como Afonso
de Taunay, que
buscaram no
bandeirante o herói de
um período áureo da
história paulista.

Encontramos
Capistrano de Abreu,
que viu na ação dos
sertanistas paulistas a
ação devastadora da
diversidade indígena do
interior.
coberto na historiografia sobre a
administração municipal brasileira, o suporte
dos concelhos aos sertanistas está
largamente documentado.

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Contudo, há trabalhos – como os de Alcântara Machado e Sérgio
Buarque de Holanda – que visam descortinar a atuação desses homens
do passado sem considerar heróis nem vilões (SANTOS, 2009, p. 47),
além do livro incontornável de John Monteiro, Negros da terra: índios e
bandeirantes nas origens de São Paulo, de 1994. Desde então, muitos
trabalhos têm versado sobre as motivações e implicações dos
sertanistas paulistas.
Voltando-nos então para a sociedade colonial, os bandeirantes foram,
sim, figuras centrais no conhecimento do interior. Foram, também,
fundamentais no entendimento da língua. Apesar da imagem que a
literatura, a pintura histórica e a historiografia elogiosa buscaram
construir, os bandeirantes possuíam hábitos similares aos indígenas. Há
relatos de sua dificuldade de comunicação, na língua portuguesa, com
habitantes de outras capitanias (HOLANDA, 1994, p. 20; p. 28).
A Capitania de São Vicente, integrada no século XVIII a São Paulo, se
tornou o principal ponto de partida de expedições do litoral em direção
aos sertões. Durante o período da União Ibérica – quando a coroa
espanhola exerceu domínio sobre a coroa portuguesa, entre 1580 e
1640 – havia certa tolerância às investidas dessas expedições, pois os
limites entre a América hispânica e a América portuguesa, além de
bastante indefinidos, eram fluidos.
Comentário
O movimento historiográfico revela, na
verdade, uma disputa social em torno da
figura do bandeirante e dos efeitos de sua
ação no sertão. O século XX foi marcado
também pela mudança de mentalidade em
relação aos indígenas, com a sua condição
de tutela pelo Estado sendo – pelo menos –
deixada de lado, e sua agência política sendo
reconhecida a partir da Constituição de
1988.

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Mapa da Capitania de Pernambuco, com representação do Quilombo dos Palmares (1647).
Nesse sentido, havia incentivo das autoridades coloniais paraessas
expedições: buscar rotas para conectar os portos do Atlântico com o
Potosí; estabelecer relações entre o litoral e as populações que se
constituíram nas margens dos principais rios do interior; e, é claro,
exercer pressão, expulsar e apresar os indígenas (MONTEIRO, 1994).
No período de atuação de grandes nomes do bandeirantismo, como
Manuel de Borba Gato, Raposo Tavares e Sebastião Pais de Barros, entre
outros, muitos foram os serviços que prestaram à Coroa e às elites
coloniais. Desses três mencionados, destaca-se Raposo Tavares e
Sebastião Pais de Barros, que, junto a outras centenas de bandeirantes,
riscavam o interior do Brasil, chegando aos rios afluentes do Amazonas
no norte e sua desembocadura no Atlântico.
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Domingo Jorge Velho.
Outro exemplo de deslocamento e de serviço às autoridades coloniais
foi Domingos Jorge Velho, sertanista paulista responsável pela
destruição do famoso Quilombo dos Palmares, em 1694, em
Pernambuco. Apesar de ser foco de resistência de negros escravizados,
ex-escravizados ou livres, Palmares também tinha presença de
indígenas. Jorge Velho foi contratado para dar fim aos numerosos
mocambos que confederados compunham em Palmares (LARA, 2021,
p. 14). Vemos, assim, uma versatilidade desses bandeirantes.
Mais do que andar pelo interior atrás de índios para escravizar e
revender no litoral – aspecto questionado atualmente pela historiografia
– e de buscar as “drogas do sertão”, eles podiam ser contratados para
realizar entradas no território, afugentar índios bravos e impedir ou
destruir os quilombos. Apesar de ficarem para a história tradicional
como figuras marginais, que viviam quase como bárbaros e nas matas,
estiveram bastante integrados na economia e na política colonial,
voltados para as atividades em que se tornaram especialistas.
Imagem de indígenas escravizados trabalhando com as "drogas do sertão.
05/11/2023, 04:32 Negros da terra: formas de escravismo indígena
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Podemos, assim, aproveitar nossa menção ao trabalho escravo africano
e tratar de outro tema problemático no senso comum sobre a
escravidão no Brasil e as contribuições recentes da historiografia para
esse assunto: É comum observarmos nos livros didáticos a assumpção
de que existe uma sequência no que se refere à escravidão indígena e
africana na economia colonial. Essa premissa coloca em primeiro plano
as iniciativas legais da Coroa em proibir a escravidão indígena, ao passo
que incentivava, especialmente pelo valor comercial, a escravidão negra
africana. Tal processo teria se dado em finais do século XVI, juntamente
a uma indisposição dos nativos de trabalho ostensivo na lavoura.
Além de falsa, essa afirmação está permeada pelo racismo para com os
povos nativos, sempre apresentados como preguiçosos e não afeitos ao
trabalho nas descrições de naturalistas e viajantes europeus a aldeias
durante nossa História, tópica também recorrente nos cronistas dos
séculos XVI e XVII. Muito pelo contrário:
A escravidão indígena conviveu com a escravidão
africana, e a sobreposição da última pela primeira se
deu, sobretudo, por dois fatores: a expressiva baixa
demográfica indígena por doenças e pela violência da
conquista; e os lucros significativos do tráfico atlântico
de escravos negros africanos (SCHWARTZ, 1988, p.
57). Assim, torna-se mais clara a acepção que se
assume de “negros da terra”, ou “gentios da terra”,
pelas quais constantemente os indígenas eram
referidos no período colonial.
Apesar das restrições legais impostas à escravidão indígena, foram
criadas formas institucionais de contornar as contingências. Foi o caso
dos “administradores particulares dos índios”, como aparece em São
Paulo, ou dos “capitães dos índios”, no Rio de Janeiro (MONTEIRO, 1994,
p. 137). Efetivamente, executava-se um uso forçado do trabalho; porém,
na lógica colonial, assumia função de tutela ante os índios,
considerados na infância social.
 Tomados ao pé da letra, ao nos depararmos com a
expressão “negros da terra”, poderíamos assumir
uma referência à cor da pele. Contudo, era uma
categoria, entre muitas, mobilizadas pelos
portugueses para classificação social e política.
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 Nas distinções que aplicaram às populações que
nasceram e se desenvolveram nas Américas, são
conhecidas aquelas compiladas pelos espanhóis
(chapetones), com uma hierarquia bem definida
entre espanhóis, seus descendentes na América
(criollos), brancos pobres, povos nativos (índios) e
negros (sejam eles escravos ou libertos).
 No Brasil, a distinção assumia também
qualificações econômicas e profissionais, pois em
primeiro lugar estavam portugueses, senhores de
engenho (fossem eles nascidos ou não na terra),
militares e membros da burocracia, oficiais
mecânicos, pobres, indígenas e negros.
 Essas concepções teóricas acerca da raça e da
condição social importam, pois refletem as
maneiras de uma sociedade interpretar a si mesma,
além de expressarem quais setores dominantes
realizam tal interpretação.
 No caso dos “negros da terra”, era relativamente
disseminada a concepção – ao longo dos séculos
XVI e XVII – da possibilidade de sua escravidão,
adaptada, depois, aos critérios da guerra justa,
compra legítima ou salvamento da escravidão de
outros grupos indígenas.
 Em uma sociedade colonial baseada na escravidão,
moldada pela mentalidade escravista em todos os
seus aspectos, a legislação limitadora da Coroa
para a redução do indígena ao cativeiro não era
suficiente para barrar o apetite por mão de obra
mostrado pelos sertanistas que varreram o sertão
atrás de nativos.
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Guerra justa
Veja agora uma apresentação sobre o que foi e a noção de guerra justa.
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Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Missões jesuíticas
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Apresamento e comércio de indígenas
Módulo 2 - Vem que eu te explico!
Entradas e bandeiras: papel dos indígenas
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Questão 1
Assinale a opção que contém as três as justificativas aceitas pela
intelectualidade ibérica para a escravização indígena:

Vamos praticar alguns
conceitos?
Falta pouco
para atingir
seus objetivos.
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Questão 2
O bandeirantismo recebeu atenção de muitos historiadores ao
longo da nossa história. Entre muitas de suas características.
Assinale a única opção a seguir que contém uma das muitas
características desse movimento:
A
Guerra justa; profanação de igrejas; roubo de
fazendas.
B
Heresias; compra legítima; salvamento de rituais
canibais.
C
Guerra justa; compra legítima; salvamento de rituais
canibais.
D
Profanação de igrejas; concubinato; saída dos
aldeamentos.
E
Compra legítima; ataques a fazendas e cidades;
heresias.
Responder
A
Os bandeirantes eram homens com títulos de nobreza
concedidos pela Coroa portuguesa para ocupar o
território brasileiro.
B
Os sertanistas, ou bandeirantes paulistas, eram um
grupo difuso que servia às autoridades coloniais por
todo o território em diversas ocupações, como na
caça a índios bravos e na destruiçãode quilombos.
C
Os bandeirantes eram conhecidos pela adaptação aos
costumes ameríndios, pois viviam entre eles e
construíam relações de parentesco que consolidaram
a defesa que realizavam para a liberdade dos índios.
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3
Guerras contra a conquista
Ao final deste módulo, você será capaz de analisar a configuração e as consequências das resistências indígenas e as mudanças nas ações coloniais
para com os povos nativos.
D
Os bandeirantes estiveram concentrados, ao longo do
século XVI, nas capitanias do sul, raramente saindo de
suas imediações.
E
As entradas que os bandeirantes realizavam ao sertão
estavam sempre alinhadas às diretrizes da monarquia
portuguesa, uma vez que buscavam se afastar das
autoridades locais.
Responder
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Resistência indígena no
nordeste seiscentista
Neste conteúdo, abordaremos um pouco do que foi a resistência
indígena em dois momentos específicos e a mudança de mentalidade
que o Estado português executa na segunda metade do século XVII e na
segunda metade do século XVIII com relação aos nativos. Desses
episódios, destacamos a Guerra dos Bárbaros e a Guerra Guaranítica.
Aquilo que podemos encontrar, especialmente em
livros tradicionais de História do Brasil – pouco se vê
sobre o tema nos livros didáticos –, com o título de
“Guerra dos Bárbaros”, em verdade se trata de um
conjunto bastante longevo de conflitos entre colonos,
militares, sertanistas e indígenas.
Segundo Pedro Puntoni, é preciso desmembrar esses episódios, pois,
em uma abordagem generalista, perdemos a agência dos grupos
indígenas e dos próprios colonos, bem como seus interesses na
repressão aos nativos. O momento de maior destaque, e que pode ser
lembrado, denomina-se Guerra do Açu (1687-1704), ocorrida na capital
do Rio Grande do Norte.
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Cena da Expedição do Tenente-Coronel Affonso Botelho. Aquarela de Joaquim José de Miranda (Séc.
XVIII).
Porém, Puntoni destaca que o mesmo ciclo de conflitos se estende
desde o que denomina de Guerras do Recôncavo da Bahia (1651-1679)
até o princípio do século XVIII (PUNTONI, 2002, p. 13). Assim, de partida,
observamos que não faz parte de um processo único e direcionado de
colonos contra grupos indígenas específicos.
Nesse sentido, devemos ter em mente algumas categorias:
Relembrando
“Bárbaros” eram aqueles que não
comungavam dos mesmos valores e, de
maneira mais direta, da mesma língua e
costumes praticados por aqueles que se
consideravam civilizados. Em outros termos,
portugueses e seus descendentes
consideravam bárbaros todos aqueles índios
que não se curvavam facilmente à conversão
e à assimilação. No caso desses índios
bravos, a teologia cristã vigente na época
moderna – e amplamente discutida por
grandes intelectuais ibéricos – previa a
possibilidade da “guerra justa”. Ainda a partir
da guerra justa, era legítima, inclusive, a
escravização do indígena capturado, o que
se plasmou na legislação portuguesa sobre
o tema. Note-se que essa forma de encarar a
resistência indígena e assumir
possibilidades de resposta era bastante
vaga, abria margens para interpretações e
não previa uma verdadeira fiscalização das
ações no sertão.

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A Guerra dos Bárbaros opera com a mesma “inconsistência”. Foi
motivada e realizada a partir de noções muito gerais sobre as
populações indígenas. Assim, o título “bárbaros” se torna apropriado, já
que muitas vezes não havia o trabalho de registrar quem se estava
dizimando. Portugueses e seus descendentes na colônia tomaram, por
exemplo, a denominação tapuias para descrever povos que não eram
tupis, assumindo as concepções desses últimos sobre uma diversidade
de povos. “Os tapuias eram tomados por ampla e duradoura muralha
que se erguia no sertão, obstando a expansão do Império e a
propagação da “verdadeira” fé, como empecilho ao desenvolvimento da
economia pastoril e à exploração dos minérios” (PUNTONI, 2002, p. 17).
Em um sentido mais geral, então, a Guerra dos Bárbaros assume a
função de libertar territórios dos índios bravios e torná-los passíveis da
expansão colonial.
Sobre o tema central da guerra, é preciso elucidar que os índios não
chegaram às guerras coloniais somente como foco de ataque.
Felipe Camarão, foi indígena brasileiro que lutou junto aos portugueses contra a dominação
holandesa.
Os nativos estiveram integrados nos contingentes militares em diversos
momentos. Tomemos o período de dominação holandesa sobre o
Nordeste brasileiro, rigidamente entre 1630 e 1654, quando são
profícuas as descrições sobre a presença de índios nas batalhas entre
portugueses e batavos, em ambos os lados (MIRANDA, 2011; LENK,
2013). Outro episódio conhecido da intimidade dos indígenas nas
guerras em que colonos se envolviam, ainda na luta contra os
holandeses, foi a chegada de Salvador Correia de Sá e Benevides, em
1649, para libertar Angola dos batavos na companhia de centenas de
índios flecheiros.
O capitão-mor do Rio de Janeiro atravessou o Atlântico com indígenas
para rechaçar os inimigos e, assim, conseguir retomar para Portugal o
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controle sobre o comércio de escravos (BOXER, 1973).
A denominação Guerra dos Bárbaros, assume, então, uma entonação
planificadora, ou seja, deu sentido único a uma multiplicidade de
conflitos ocorridos no interior por distintos grupos indígenas contra a
expansão colonial. Puntoni compara a confecção de tal conjunto com a
sonhada Confederação dos Tamoios no poema romântico de Gonçalves
de Magalhães no século XIX, uma vez que também em contexto de
guerra se supõe uma união em que, na verdade, há diversidade. Na
esteira dessa estratégia discursiva, historiadores do século XIX e do
início do século XX denominaram a resistência dos índios do semiárido
nordestino como “Confederação do Cariri”, supondo que se tratavam
todos da mesma etnia (PUNTONI, 2002, p. 77). Estamos, dessa forma,
diante de uma generalização tão dissonante com a realidade diversa
dos indígenas quanto chamá-los de tapuias ou bárbaros.
Em meados dos anos 1650 inicia-se um longo processo de contenção
das “descidas” dos gentios em direção a Salvador.
O foco dos nativos hostis à presença portuguesa, contudo, não era a
capital do estado do Brasil, e sim as cidades, vilas e fazendas mais para
o interior do Recôncavo, como Jaguaripe, Cachoeira e, mais ao sul,
Boipeba e Camamu. Interessante notar que essas vilas eram
responsáveis pelo fornecimento de alimentos a Salvador, especialmente
a farinha de mandioca, base alimentar da colônia (LENK, 2013; KRAUSE,
2015, p. 29).
Dança dos Tapuias.
As chamadas “jornadas do sertão” eram organizadas de maneira
esparsa ao longo do século XVII; porém, foi a partir dos anos 1650 que
assumiram um papel integrador da política centralizadora do Governo-
Geral – sob comando de diferentes governadores – e da utilização de
sertanistas provenientes de São Vicente ou que lá haviam adquirido
alguma experiência. Às campanhas amparadas em sistemas de
“jornadas” sucederam-se períodos de guerra e de paz no Recôncavo da
Bahia, compiladas por Pedro Puntoni (2002, p. 91-120) da seguinte
forma:
1651-1656 1657-1659
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Longe de estabelecer uma periodização fixa e estável, essa demarcação
é importante para compreendermos que, assim como as populações
nativas se adaptavam aos avanços portugueses no território,
mobilizavam de maneira dispersa ataques e empreendiam guerras aos
colonos pela sua sobrevivência. Não se tratava, assim, de uma guerra
única.
Ao abordarmos esse extenso tema das Guerras dos Bárbaros, o
principal episódio com o qual nos deparamos é a destruição da
resistência nativa à expansão agrária e pecuária no sertão das
Capitanias do Norte. Em termos da geografia atual, estamos falando
sobretudo dos atuais estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Essas regiões foram dominadas pelos
holandeses em meados do século XVII, onde também estabeleceram
contatos com os indígenas que, segundo as descrições portuguesas,
estiveram sempre abertos às alianças com os neerlandeses. O parco
domínio dos lusitanos sobre a região, mesmo após a expulsão dos
holandeses, levantava a preocupação dos moradores que se dedicavam
sobretudo à pecuária.
Os tapuias nativos, na grande
maioria pertencentes à nação dos
janduís, reagiram à presença e aos
abusos dos moradores desde os
primeiros anos da década de 1670.
Alguns levantes isolados de grupos
indígenas precederam o movimento
que tomaria maiores dimensões e
seria denominado, à época, de
‘levante geral dos tapuias’ ou de a
‘Guerra do Açu’.
(PUNTONI, 2002, p. 124)
Para tal levante, outro nome tornou-se corrente entre os colonos das
Capitanias do Norte: Muro do Demônio, em clara referência à concepção
religiosa que assumia a oposição nativa à presença portuguesa.
Em termos objetivos, essa Guerra do Açu se estendeu até 1713, porém
foi na década de 1680 que seus desdobramentos mais sangrentos se
deram. Com tropas comandadas por Manoel de Abreu Soares, Antônio
Jornadas do Sertão Guerra do Orobó
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de Albuquerque Câmara, Domingos Jorge Velho e Matias da Cunha,
foram reunidos homens, entre brancos, índios e negros. Os esforços não
surtiram o efeito esperado em reprimir os nativos do Açu e decorreram
na devastação de fazendas e em mortes tanto de portugueses alocados
no Norte quanto de indígenas “domesticados”. O encaminhamento do
fim da Guerra foi fruto, inclusive, de acordos costurados por Canindé,
principal das aldeias dos janduís, que comandava por volta de vinte e
duas aldeias, com o governador-geral Antônio Luís da Câmara Coutinho.
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Guerras guaraníticas e as
disputas entre Portugal e
Espanha
Entre 1785 e 1789, o astrônomo e matemático português José de
Saldanha realizou uma, entre muitas, das campanhas de demarcação de
limites no extremo sul do Brasil. Percorreu, fundamentalmente, o rio
Jacuí e foi mais abaixo, chegando aos limites da Capitania do Rio
Grande de São Pedro, realizando medições das posições longitudinais e
latitudinais do território, de maneira a delimitar as fronteiras entre os
domínios de Portugal e Espanha. No tempo que Saldanha examinou
essas terras, as principais questões já haviam se resolvido. A realidade,
trinta anos antes, era completamente outra.
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Mapa geográfico da América do Sul onde foi traçada a linha divisória que dividiu os domínios de
Espanha e Portugal.
Em 1750, foi assinado o Tratado de Madrid, na esteira de negociações
entre Portugal e Espanha sobre disputas territoriais na região da
Amazônia e do sul, mais especificamente entre a Colônia de
Sacramento e os Sete Povos das Missões. No norte, com uma ocupação
bastante restrita da floresta por portugueses e seus descendentes, o
mesmo ocorrendo do lado espanhol, as tensões não eram tão altas. Ao
sul, contudo, a assinatura do tratado implicou revolta dos índios
guaranis. Antes de nos determos na revolta, passemos a lidar com as
tensões que envolvem a assinatura do Tratado de Madri.
À semelhança dos demais conflitos estabelecidos entre colonos e
indígenas, esse foi um documento negociado e assinado na Europa e
que apresentava reverberações e interesses na América. Seu conteúdo
versava sobre o argumento já antigo de Portugal quanto à titularidade
da Colônia de Sacramento, localizada na embocadura do rio da Prata,
região de interesse dos portugueses pelo escoamento de mercadorias e
metais vindos do Potosí. Em contrapartida, os chamados Sete Povos
das Missões foram fundados por jesuítas com índios aldeados na
porção portuguesa de uma área em disputa entre Portugal e Espanha
nas regiões em que hoje encontram-se os limites de Brasil, Argentina e
Paraguai.
Com a assinatura do tratado em 1750, as coroas ibéricas buscaram
resolver o impasse trocando a posse das regiões. Portugal abandonaria
sua reivindicação da Colônia de Sacramento, prometendo deslocar os
portugueses de lá para o Brasil; e a Espanha defendia a ocupação das
Missões no “continente” do Rio Grande – como era então conhecida a
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região da América portuguesa –, fazendo com que índios e jesuítas
abandonassem seus povoados (QUEVEDO, 1996, p. 12-13).
Ruínas do povoado de São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul.
Porém, as autoridades reinóis, de ambas as cortes, depararam-se com
uma realidade distinta na América. Os portugueses que lidavam com o
comércio da Bacia do Prata não tinham interesse em abandonar seus
negócios e trocar de posto. Já no interior do Rio Grande, guaranis e
jesuítas rejeitaram abandonar suas povoações. Os Sete Povos, na
verdade, faziam parte de um conjunto de quase trinta povoados
fundados pelos jesuítas no processo de aldeamento e reorganização
diante do avanço de bandeirantes sobre as populações ameríndias
desde o século XVII (ALMEIDA, 1997, p. 42-43).
O domínio da Companhia de Jesus sobre diferentes aspectos da
sociedade colonial encontrou amparo, desde o século XVI, no
financiamento e apoio legal dos monarcas ibéricos.
Na Cabana de Pindobuçu, 1920
Benedito Calixto
Óleo sobre tela, c.i.d.
42,00 cm x 65,50 cm
Tais concessões, seja em matéria de ensino, de gestão de um vasto
patrimônio subordinado aos Colégios Jesuíticos (LEITE, 1938, p. 530-
544), ou na catequese e aldeamento indígenas, concederam grande
poder aos jesuítas na Europa, mas principalmente nas conquistas, em
especial na América. Na prodigalidade real, os jesuítas construíram
hegemonia na admoestação dos nativos na região do Rio Grande.
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O que parecia ser um benefício para a Coroa hispânica ao conseguir
articular os povos missioneiros-guaraníticos, em meados do século
XVIII tornou-se empecilho para efetivação de seus acordos com
Portugal.
Buscando orientar a fixação dos limites na América meridional, as
monarquias ibéricas enviam para as fronteiras comissões que estariam
responsáveis pela demarcação a partir de 1752. Do lado português, o
enviado foi o governador do Rio de Janeiro e das Minas, Gomes Freire
de Andrada, e do lado espanhol, Gaspar de Munive León Tello y
Espinosa, marquês de Valdelírios (GOLIN, 2014, p. 61).
O trabalho de demarcação, no entanto, encontra o
empecilho da revolta guaranítica, parcialmente apoiada
pelos jesuítas nos povoamentos do Rio Grande, após
serem impedidos de adentrarem as áreas das missões
em 1753.
Mais do que cobrir cada detalhe da guerra, importa atentarmos para a
capacidade de articulação dos missioneiros guaranis, àquela altura
convertidos e instalados em vilas de tradição hispânica em território
reivindicado por Portugal.
Ou seja, é relevanteconsiderar que, apesar da influência e autonomia
que os jesuítas exerciam sobre as populações indígenas, os índios
guaranis tiveram capacidade de construir uma oposição generalizada
aos esforços da demarcação. Em 1756 as resistências à aliança luso-
espanhola são definitivamente dizimadas, com a morte de um grande
contingente de indígenas até aquela data (QUEVEDO, 1996, p. 28).
Apesar de possíveis semelhanças com outros esforços de oposição dos
indígenas à intervenção das autoridades coloniais nas suas formas de
organização, a Guerra Guaranítica apresenta algumas características
que a distinguem nos processos de resistência.
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Represetanção do índio missioneiro Sepé Tiarajú.
Esteve em jogo a sobrevivência de uma forma de organização já
mudada, ou seja, não se tratava de um povoamento sem interferências
da cultura europeia. Eram povos já bastante cristianizados, com títulos,
interesses e cultura completamente integrados.
A expulsão dos jesuítas dos países ibéricos na década seguinte, assim
como a dissolução do Tratado de Madrid pelo Tratado de El Pardo
(1761) – em referência a um dos rios relevantes para os conflitos –,
demonstram uma mudança de mentalidade das coroas para com os
indígenas. O indígena passava, assim, a ser assunto do Estado; sua
administração e seu futuro não poderiam mais estar na mão de uma
ordem religiosa que havia construído quase que um governo autônomo
dos trópicos.
Além da reviravolta intelectual que o século XVIII
representou para os países europeus, representou
também uma reviravolta nas políticas indigenistas. O
Diretório dos Índios tornou as relações das autoridades
coloniais mais complexas com relação às populações
indígenas, visto que transferia para o Estado português
a responsabilidade de garantir uma correta aplicação
da legislação, que, antes, fazia vista grossa para a não
aplicabilidade.

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Confederação dos Tamoios
Assista agora um estudo de caso sobre a Confederação dos Tamoios.
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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo
que você acabou de estudar.
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
Guerra dos Bárbaros
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
Guerras guaraníticas
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
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Questão 1
Considere as afirmativas a seguir:
I. As elites coloniais buscavam formas de expulsão e redução dos
chamados “índios bravios” para expandir a fronteira agrícola e
pecuária.

Vamos praticar alguns
conceitos?
Falta pouco
para atingir
seus objetivos.
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II. As “Guerras dos Bárbaros” foram conflitos entre diferentes povos
nativos no sertão nordestino, especialmente nas “Capitanias do
Norte”.
Assinale a alternativa que apresenta exatidão a respeito das
afirmativas acima:
Questão 2
Assinale a alternativa que relaciona de forma correta o contexto de
atuação da Companhia de Jesus e as Guerras Guaraníticas na
segunda metade do século XVIII:
A Ambas as afirmativas estão equivocadas.
B A afirmativa I está correta e a II, errada.
C A afirmativa II está correta e a I, errada.
D
As afirmativas I e II estão corretas e se
complementam, e a II se destaca por ser a motivação
para o que se afirma na I.
E
As afirmativas I e II estão corretas e se
complementam, sendo a I motivo para o que se afirma
na II.
Responder
A
As Missões constituídas pelos jesuítas nos
indefinidos limites da América portuguesa e da
América hispânica, no que ficou conhecido como Sete
Povos das Missões, tiveram papel central na
resistência aos deslocamentos propostos pelo
Tratado de Madrid de 1750 e nas Guerras Guaraníticas
que se seguiram.
B
Aquilo que chamamos de Guerra Guaranítica foi uma
resistência das populações nativas guaranis ao abuso
de poder político e religioso dos jesuítas na região.
05/11/2023, 04:32 Negros da terra: formas de escravismo indígena
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Considerações �nais
Chegamos ao fim de nosso estudo sobre as populações indígenas e sua
intricada relação com o processo de colonização do Brasil. Como vimos,
os povos nativos do nosso passado colonial devem ser encarados pela
sua diversidade no longo processo de conquista, pelos portugueses, do
território da América portuguesa. Nesse sentido, a arqueologia e a
antropologia têm se apresentado como disciplinas fundamentais para o
conhecimento desses povos e de suas práticas culturais, políticas e
sociais.
Durante a conquista, entre os séculos XVI e XVII, observamos o avanço
da mentalidade escravista ibérica sobre as populações nativas,
deslindando o mito de proteção da liberdade do indígena que vigorava
C
Apesar do esforço de resistência dos jesuítas, os
guaranis buscaram se integrar aos povoados
portugueses na capitania do Rio Grande, o que gerou
uma revolta dos padres da Companhia, que ficou
conhecida como Guerra Guaranítica.
D
As Guerras Guaraníticas se deram pela tentativa dos
portugueses e espanhóis em tirar da zona de
influência os povos guaranis aldeados pelos jesuítas.
Para tal, invadiram as principais igrejas e colégios da
Companhia por todo o território da América
portuguesa.
E
As estratégias para missionar os jesuítas na
Amazônia desempenharam papel fundamental nos
conflitos entre colonos e autoridades reais de Portugal
e Espanha com os indígenas alocados nas Missões
nos afluentes do rio Amazonas.
Responder
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na legislação e que tinha pouca relação com a realidade dos ameríndios
em face dos avanços dos bandeirantes sobre o sertão.
O uso de categorias teóricas como “bárbaros” e “guerra justa” permitiu o
desenvolvimento de estratégias para manutenção da escravização
indígena. Outras categorias foram fundamentais para a expansão desse
modelo, como as hierarquias sociais impostas aos nativos,
considerados os “negros da terra”.
Por fim, descortinamos as formas de resistência dos nativos, seja pelas
conhecidas “Guerra dos Bárbaros”, conjunto diverso de conflitos
violentos no sertão e nordeste do Brasil no século XVII, ou pela
articulação dos guaranis aldeados nas “Guerras Guaraníticas” no século
XVIII, na região dos Sete Povos das Missões.
Podcast
Escute agora uma revisão sobre o escravismo dos povos
indígenas no Brasil.
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dedicado à Guerra dos Bárbaros.
Assista ao filme A Missão, de 1986, que trata sobre os Sete Povos das
Missões e a Guerra Guaranítica.
Assista ao documentário Guerras do Brasil.doc, especialmente aos
episódios 1 – As Guerras da Conquista – e 2 – As Guerras de Palmares.
Referências
ALMEIDA, M. R. C. de. Metamorfoses indígenas. Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 2003
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04602/index.html
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/04602/index.html
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AMADO, J. Diogo Álvares, o Caramuru, e a fundação mítica do Brasil. In:
Estudos históricos: heróis nacionais, n. 25, p.3-40, 2000
BOXER, C. Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola, 1602-1686.

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