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Economia Teoria e Política F r a n c i s c o M O C H Ó N Revisão Técnica e Adaptação CARLOS ROBERTO MARTINS PASSOS Tradução da 5a edição Visite nosso site: www.mcgraw-hill.com.br Economia: Teoria e Política colabora com o professor na tarefa de apresentar ao aluno a forma de raciocinar própria da Economia ao oferecer uma introdução clara e rigorosa dos princípios da Economia moderna. Para despertar o interesse desse aluno que entra em contato pela primeira vez com a Economia e abordar de forma intuitiva os conceitos econômicos, o autor recorre a exemplos e aplicações, evitando, na medida do possível, os argumentos baseados na teoria econômica formal. Revisada e adaptada pelo Professor e Economista Carlos Roberto Martins Passos, a obra de Francisco Mochón destaca-se pelas seguintes características: Inserções ao longo do texto e novos apêndices no final dos capítulos tornam o livro mais próximo da realidade brasileira. Texto agradável, de fácil leitura e compreensão, faz uma abordagem de todos os conceitos que um estudante de Economia deve conhecer, mas de uma forma relativamente concisa. Problemas de caráter econômico são apresentados tanto no nível do Estado, como no das atividades profissionais e empresariais, e até mesmo na vida cotidiana. Gráficos, quadros, figuras e notas complementares ilustram e enriquecem o conteúdo estudado. Aplicações Livro-texto para as disciplinas Introdução à Economia e Teoria Econômica dos cursos de graduação em Economia e Administração. Recomendado também para economistas e administradores que desejem atualizar seus conhecimentos na área. � � � � Economia: Teoria e Política MOCHÓN 5 a edição Francisco MOCHÓN MORCILLO Catedrático de Teoria Econômica Facultad de Ciencias Económicas Universidad Nacional de Educación a Distancia Tradução Fátima Conceição Murad Leila de Barros Sheila Clara Dystyler Ladeira Revisão Técnica e Adaptação Carlos Roberto Martins Passos Economista com graduação e pós-graduação pela Universidade de São Paulo – USP Lecionou nos cursos de graduação da PUC/SP, FMU e UNIP, na pós-graduação da FASP e da Faculdade São Luís, e no MBA em Finanças do Ibmec e no IbmesLaw, do Ibmec Educacional Bangcoc Beijing Bogotá Caracas Cidade do México Cingapura Londres Madri Milão Montreal Nova Delhi Nova York Santiago São Paulo Seul Sydney Taipé Toronto ECONOMIA TEORIA E POLÍTICA Tradução da 5a Edição Espanhola 472 - CAPÍTULO 20 - AS POLÍTICAS MACROECONÔMICAS NOS MODELOS CLÁSSICO, KEYNESIANO E DA SÍNTESE Alguns esclarecimentos à explicação monetarista Embora a quase totalidade dos economistas aceite a re- lação entre infl ação e quantidade de moeda e tome como referência a teoria quantitativa para explicar os determi- nantes no longo prazo do nível de preços e da taxa de infl ação, vale assinalar que não é apenas para fazer fren- te às transações que se demanda moeda, mas a moeda é demandada também como ativo (ver Capítulos 15 e 16). Nesse caso, a demanda de moeda, em certas circunstân- cias, pode absorver os aumentos da oferta monetária sem que se produzam necessariamente alterações de preços. Considere-se também que a velocidade de circulação da moeda não é constante (ver Capítulo 16), de forma que a relação entre oferta monetária e nível de preços no curto prazo não é tão direta como defendem os monetaristas, rechaçando, portanto, a neutralidade clássica do dinhei- ro. A validade da hipótese monetarista limita-se ao longo prazo e somente sob certas suposições. 20.4 Os efeitos da infl ação A infl ação tem custos reais que dependem de dois fato- res: de que a infl ação seja esperada ou não, e de que a economia tenha ajustado suas instituições para enfren- 19 Na realidade, a velocidade de circulação da moeda não é constante. A rela- ção PIB/moeda depende, em primeiro lugar, das taxas de juros e da dispo- nibilidade de alternativas à manutenção de moeda. Assim, quando as taxas de juros são elevadas e as economias domésticas podem ter bons substitutos da moeda, a velocidade tenderá a ser maior que em uma economia em que não há substitutos próximos da moeda. A velocidade de circulação também depende do nível de preços. Dessa forma, a velocidade de circulação é alta nas situações em que o público tem pouca moeda em relação à sua renda. Isso ocorre quando o custo de oportunidade de ter moeda é elevado, como ocorre em um país com alta taxa de infl ação. Um terceiro fator que infl ui na velocidade de circulação da moeda é a renda real. Quando aumenta a renda real, a velocidade de circulação tende a subir. esaito Retângulo ECONOMIA: TEORIA E POLÍTICA - 473 tá-la (incorporando a infl ação aos contratos de trabalho e arrendamento de capital e revendo os efeitos do sistema fi scal diante de uma situação infl acionária). 20.4.1 A infl ação esperada No contexto de uma economia fechada, quando a infl a- ção é esperada e as instituições passaram por adaptações para compensar seus efeitos, os custos da infl ação são de apenas dois tipos. Os primeiros, denominados custos de “sola de sapatos”, decorrem do incômodo de precisar ir com muita freqüência às instituições fi nanceiras para sacar dinheiro e poder ajustar os saldos reais desejados à per- da de poder aquisitivo da moeda provocada pela alta de preços. O outro tipo de custos decorre da necessidade de mudar os preços constantemente, o que implica alterar as listas de preços e os menus e, por isso, são conhecidos ge- nericamente como custos de “menu”. Os custos de sola de sapatos são os recursos desperdiçados quando a infl ação estimula os indivíduos a reduzir a manutenção em mãos de moeda. Os custos de menu são os custos de modifi car os preços. Quando as instituições não conseguem ajustar seu com- portamento à infl ação, surgem custos adicionais, mesmo que a infl ação seja esperada, e eles decorrem fundamental- mente das distorções fi scais. A infl ação esperada e os impostos Com a infl ação, há uma mudança das faixas tributárias na medida em que aumenta a proporção de impostos que se pa- gam por uma quantia dada de renda real. Essa mudança não afetaria os contribuintes se os impostos representassem uma proporção constante da renda nominal, pois, nesse caso, eles pagariam em impostos a mesma proporção de sua renda. Porém, visto que a proporção dos impostos tende a aumentar com o nível de renda nominal, a infl ação, ao elevar a renda nominal, mas não a renda real, faz que os impostos aumen- tem. É o que se conhece como o imposto da infl ação. O imposto da infl ação é como um imposto sobre todas as pessoas que têm dinheiro. Os impostos sobre a renda procedente do capital tam- bém são uma fonte de problemas, já que parte dos ganhos de capital — isto é, a apreciação dos ativos — se deve à infl ação e não são realmente ganhos de capital. A infl ação esperada e as taxas de juros Durante os períodos infl acionários, os prestamistas exi- gem uma compensação pela depreciação do poder aqui- sitivo da moeda que emprestam. Portanto, a taxa de juros nominal ou taxa de mercado tende a levar consigo uma quantidade extra de moeda de modo a compensar a perda de poder aquisitivo da quantia emprestada. Essa quantia N o t a C o m p l e m e n t a r 2 0 . 3 - O p a p e l d a m o e d a n a e c o n o m i a s e g u n d o o s m o n e t a r i s t a s e o s k e y n e s i a n o s Monetaristas 1. A função demanda de moeda é muito estável. As mudanças na quantidade de moeda são o fator-chave para explicar a evolu- ção da demanda agregada. 2. No longo prazo, o produto nacional tende ao nível potencial, de forma que uma alteração na quantidade de moeda recairá sobre os preços e não sobre o produto real. O crescimento da quantidade de moeda determina a taxa de infl ação no longo prazo. 3. A dicotomia entre as variáveis reais e nominais é algo cer- to, pois mudanças na quantidade de moeda não afetam as variáveis reais. A moeda é neutra. 4. A oferta de moedaé exógena: as mudanças na quantidade de moeda infl uem principalmente nos preços e estes são pouco infl uenciados por outras variáveis. 5. Toda política fi scal que não seja acompanhada de uma mu- dança na quantidade de moeda somente deslocará a iniciativa privada, mas não terá efeitos apreciáveis sobre a atividade econômica real. Keynesianos 1. A demanda de moeda não é muito estável (pelo motivo espe- culação). Por essa razão, a velocidade de circulação não pode ser considerada constante, e a incidência da quantidade de moeda sobre a demanda não é direta. 2. A economia no curto prazo normalmente não tende a situar- se em uma posição próxima ao pleno emprego. Isso justifi ca apelar à política fi scal para intervir na atividade econômica. 3. A dicotomia clássica entre variáveis reais e variáveis nomi- nais nem sempre se cumpre. A moeda não é neutra no curto prazo. 4. A quantidade de moeda é endógena: depende do comporta- mento das demais variáveis econômicas, e as autoridades aco- modam seu crescimento à atividade econômica. A quantidade de moeda infl ui em outras variáveis e estas, por sua vez, na quantidade de moeda. Por isso, a moeda não é neutra. 5. Dada a instabilidade da velocidade de circulação da moeda, a política monetária não é um instrumentos útil, sobretudo quando se pretende tirar a economia de uma depressão. Já a política fi scal terá um efeito líquido sobre a atividade, pois o efeito-deslocamento não é apreciável. 474 - CAPÍTULO 20 - AS POLÍTICAS MACROECONÔMICAS NOS MODELOS CLÁSSICO, KEYNESIANO E DA SÍNTESE extra é igual à taxa de infl ação esperada. Esta é a chamada equação de Fisher. Taxa de juros nominal = Taxa de juros real – Taxa de infl ação [20.2] A equação de Fisher estabelece que um aumento da infl ação se refl ete de forma total nas taxas de juros nominais. Com a renda gerada pelos juros ocorre o mesmo pro- blema já apontado para a renda procedente do capital. Assim, suponhamos que, ao longo de um ano, os preços aumentem 10% e que a taxa de juros nominal se eleve na mesma porcentagem, de modo que a taxa de juros real (taxa de juros real = taxa de juros nominal – taxa de in- fl ação) não varia. Se o governo tribute a renda procedente dos juros nominais, digamos, por exemplo, com um taxa de 30%, leva-se em impostos 3% (0,30 . 10%) da prime de infl ação. Em outras palavras, a taxa de juros real rece- bida pelas prestamistas, depois de deduzidos os impostos, se reduz em 3%, e com isso, mais uma vez, as receitas do Estado aumentam graças à infl ação, nesse caso, à custa dos prestamistas. 20.4.2 A infl ação não-esperada Os efeitos da infl ação não-esperada sobre o sistema eco- nômico podem ser classifi cados em dois grandes grupos: efeitos sobre a distribuição da renda e sobre a riqueza e efeitos sobre a alocação dos recursos produtivos. Além disso, vamos tratar dos efeitos da infl ação sobre a produ- ção e o emprego. Efeitos sobre a distribuição da renda Os efeitos da infl ação sobre a distribuição da renda e sobre a riqueza são os mais visíveis e os que mais se destacam. A infl ação prejudica os indivíduos que recebem ren- das fi xas em termos nominais e, em geral, os que recebem rendas que crescem menos que a infl ação. Um exemplo típico desses grupos costumam ser os aposentados e os pensionistas. É comum também se afi rmar que a infl ação favore- ce os devedores nominais e prejudica os credores em termos monetários. Os credores acertam empréstimos em termos monetários, no sentido de que o devedor se compromete a devolver uma quantidade fi xa de moe- da por período. Se o pagamento é feito mediante uma quantidade fi xa em termos monetários em uma situação infl acionária, o valor dessa soma decresce. Dado que os contratos de empréstimos costumam ser negociados para um período de vários anos, se o credor não conse- guir elevar a taxa de juros monetária, seu rendimento real se reduzirá. Além disso, como já salientamos, a infl ação benefi cia o Estado, de um lado, porque as distorções fi scais fazem que aumentem os impostos e, de outro, porque boa parte de seus gastos em termos reais costuma decrescer. Isso se deve a que uma parte dos juros e a amortização dos títulos da dívida pública vêm especifi cadas em termos monetá- rios, e o resultado é que o custo da dívida em termos reais se reduz à custa das receitas reais dos detentores desses títulos. Desse modo, o setor público é claramente benefi - ciado pela infl ação. Vale ainda comentar os efeitos da infl ação sobre a ri- queza e sua distribuição. Dado que a infl ação supõe uma redução no valor da moeda, isso signifi cará uma redução do valor real das poupanças e afetará os agentes econômi- cos em função da proporção da riqueza que estes mante- nham em moeda e em ativos de valor nominal fi xo. Efeitos sobre a atividade econômica A infl ação também terá efeitos perturbadores sobre a atividade econômica ao alterar a estrutura de preços re- lativos, pois, como é lógico, nem todos os preços abso- lutos aumentam por igual. Dado que os preços relativos são os sinais que orientam o funcionamento do mercado, uma alteração de sua estrutura implica uma perturbação na alocação de recursos na medida em que a informação é difi cultada. A infl ação, ao alterar a estrutura dos preços relativos, tem efeitos perturbadores sobre a atividade econômica. A origem do problema costuma residir em que certos responsáveis por atividades que não encontram demanda sufi ciente para seus produtos pressionam para que os pre- ços sejam superiores aos custos de produção, pois só as- sim poderão cobrir seus custos reais e continuar produzin- do. Essa pressão ocorrerá independentemente das pressões infl acionárias. É comum que, no contexto de um processo infl acionário, os preços de certos bens e serviços tenham aumentos que não respondem a tensões pelo lado da de- manda, mas sim à capacidade de determinadas empresas para fi xar os preços, em razão da existência de situações não competitivas. Nesses casos, a infl ação será, na verda- de, a desculpa que permite ao empresário encobrir sua ine- fi ciência ou a falta de demanda para seu produto. ECONOMIA: TEORIA E POLÍTICA - 475 A validação desses pedidos, por meio de políticas artifi - ciais de demanda e preços “administrados”, contribuiu para causar sérias distorções no sistema produtivo, pois se pro- duziram bens e serviços que não teriam sido viáveis econo- micamente sem essa determinada porcentagem acima do custo marginal. Ao contrário, outros bens e serviços, talvez até mais necessários socialmente, não foram elaborados porque os fatores produtivos não tiveram motivação para buscar novas colocações, fazendo que as defasagens entre a oferta e a demanda sejam cada vez mais profundas. De todo modo, os efeitos mais signifi cativos da infl a- ção em termos da atividade econômica, isto é, a produção e o emprego, fi cam evidentes quando se adota uma pers- pectiva internacional. Os países que apresentam taxas de infl ação maiores verão seus produtos perderem competitividade, o que in- cidirá negativamente sobre suas exportações. A incerteza A incerteza gerada pelos processos infl acionários foi des- tacada como um elemento negativo que afeta a produção. Em particular, tem-se assinalado que a incerteza decorrente da infl ação difi culta os controles e os cálculos de retornos dos investimentos. Dessa maneira, o investimento se res- sente, o que faz que a acumulação de capital e, paralela- mente, a produtividade sejam seriamente afetadas. A incerteza se manifesta nos cálculos de investimentos em termos de uma quantia extra de moeda para compensar riscos mais altos, e impede que um pacote normal de proje- tos de capital satisfaça os critérios fi nanceiros aceitáveis. O défi cit em investimentos se concentrará em investimentos no longo prazo, já que esse tipo de investimento é mais sensível à incerteza e à instabilidade associada à infl ação. A incerteza ligada aos processos infl acionários incide negativamentesobre a produção e sobre o crescimento ao elevar a quantia adicional de moeda para compensar o risco. 20.4.3 Os agentes econômicos e a luta contra a infl ação A persistência da infl ação faz que esta seja prevista com maior ou menor acerto pelos agentes econômicos, fazen- do que estes a incorporem ao seu comportamento para defender-se de seus efeitos adversos. A infl ação e o mercado de trabalho Comecemos pelos trabalhadores. O trabalhador, ao aceitar determinado salário, não pensa unicamente em termos de salário nominal, mas também no salário real que espera obter, o qual, logicamente, dependerá da taxa de infl ação prevista. Se os trabalhadores aceitam determinado salário nominal e os preços aumentam, o poder aquisitivo se re- duzirá. Porém, se os trabalhadores não padecem de ilusão monetária e prevêem que os preços vão subir, pressiona- rão para elevar seu salário nominal, de modo que o poder aquisitivo deste não se reduza. Nesse sentido, os aumentos salariais em termos nomi- nais são uma tentativa de defesa por parte dos trabalha- dores diante da perda de poder aquisitivo provocada pela infl ação, e essa atitude defensiva constitui a base da espiral preço-salários analisada anteriormente. Do mesmo modo, se as empresas souberem que os custos de produção se ele- varão em decorrência dos aumentos salariais, vão procurar se defender, elevando novamente os preços. A infl ação e o mercado fi nanceiro Não só no mercado de trabalho se prevê a infl ação e se adotam medidas defensivas, como também no mercado fi nanceiro. Assim, como já dissemos (Equação [20.2]), os prestamistas não se preocupam apenas com a devolução do principal acrescido dos juros, mas igualmente com o valor real das quantidades a receber. Por isso, tratarão de impor uma taxa de juros real que seja igual à taxa de juros nominal, menos a taxa de infl ação esperada. Do mesmo modo, a infl ação prevista induz o público a alterar a composição de sua disponibilidade tanto de moeda, quanto de títulos, obrigações e outros bens. Alguns des- ses ativos protegem seus proprietários contra a infl ação e outros não. Por esse motivo, quando se esperam fortes tensões infl acionárias, aumenta a demanda de ativos imu- nes à infl ação e diminui a demanda dos que podem ser afetados negativamente por ela. Em termos mais gerais, devemos assinalar que em países com fortes e longos períodos de infl ação, costuma haver um deslocamento de ativos fi nanceiros para ativos físi- cos. Os ativos físicos geralmente mantêm seu valor com relação a outros bens. Por essa razão, é comum que em épocas de infl ação as poupanças sejam investidas em ati- vos, tais como casas, terrenos ou metais preciosos, o que faz que a demanda desse tipo de ativos se eleve e, conse- qüentemente, seu preço aumente. Além disso, é comum ter parte da liquidez em divisas de países com moedas estáveis. Nesse sentido, o dólar, o euro e o iene costumam atuar como moedas-refúgio. As políticas de estabilização À luz da análise das teorias explicativas da infl ação e da própria evidência empírica, a fórmula comumente ado- 476 - CAPÍTULO 20 - AS POLÍTICAS MACROECONÔMICAS NOS MODELOS CLÁSSICO, KEYNESIANO E DA SÍNTESE tada para combater as tensões infl acionárias consiste em executar políticas contracionistas de demanda e de custo, tanto monetaristas quanto fi scais. De todo modo, no lon- go prazo, a chave para combater a infl ação está em con- trolar o crescimento da quantidade de moeda e vinculá-la às necessidades da atividade produtiva da economia. Por sua vez, para tentar combater a infl ação, os gover- nos às vezes utilizam políticas de rendas a fi m de infl uir diretamente nos salários e nos preços. Assim, o governo pode facilitar acordos com os sindicatos e com os em- presários para moderar o crescimento dos salários e dos preços. Às vezes, os governos aprovam medidas legislativas que procuram controlar os salários e os preços. Essas leis são chamadas controles de preços e salários; seu obje- tivo é regular e limitar os preços e os salários que as em- presas podem pagar. A incerteza ligada aos processos infl acionários incide negativamente sobre a produção e sobre o crescimento ao elevar a quantia adicional de moeda para compensar o risco. A indexação A alternativa para enfrentar a infl ação consiste em tentar aprender a conviver com ela, em particular, procurando ajustar totalmente as instituições da economia à infl ação. Nesse sentido, conviver com a infl ação signifi ca introdu- zir a indexação de forma generalizada, tanto nos contra- tos como na fi xação dos preços. Mediante a indexação, todos os pagamentos seriam ajustados automaticamente aos efeitos da infl ação. Na prática, a indexação traz problemas, pois há defa- sagens entre o momento em que os preços variam e o mo- mento em que todos os pagamentos podem ser ajustados. Além disso, os desajustes fi scais, como já dissemos, são difíceis de evitar. A indexação também apresenta o inconveniente de que quando os agentes se habituam a conviver com a in- fl ação, sofre-se um viés infl acionário e se começa a acre- ditar que a taxa de infl ação pode aumentar sem que isso traga maiores conseqüências. Contudo, dados os “custos de sola de sapatos” e os “custos de menu”, e considerando que os ajustes da indexação são sempre imperfeitos, os custos de uma infl ação alta seriam elevados. Basta pensar nos processos infl acionários experimentados no Brasil, Argentina ou Israel. Além disso, há o perigo de se gerar um processo de infl ação progressiva que conduza a um período de hiperinfl ação (ver Nota Complementar 20.4). Conseqüentemente, em algum momento será preciso lutar contra a infl ação e, dessa perspectiva, argumenta-se que vale mais lutar hoje que no futuro, quando a taxa de infl ação e os custos que isso acarreta forem maiores. Quando adotamos uma perspectiva internacional, a con- veniência de combater a infl ação para evitar as perdas de competitividade (ou a necessidade de recorrer sistema- ticamente à desvalorização da moeda nacional) torna-se ainda mais evidente. Nesse sentido, a luta contra a in- fl ação deve contemplar uma política monetária restritiva, que contribua para quebrar as expectativas infl acionárias, acompanhada de uma política fi scal austera que reduza o défi cit público. N o t a C o m p l e m e n t a r 2 0 . 4 - A h i p e r i n f l a ç ã o e a d e f l a ç ã o A hiperinfl ação Uma economia é afetada por um período de hiperinfl ação quan- do os preços crescem a taxas superiores a 50% ao mês. Quando isso ocorre, os indivíduos tratam de se livrar da moeda líquida de que dispõem antes que os preços cresçam mais e façam que o di- nheiro perca mais valor ainda. Esse fenômeno é conhecido como fuga da moeda, e consiste na redução dos saldos reais que os indivíduos possuem, pois a infl ação encarece a posse de moeda. As hiperinfl ações são excepcionais e extremas. Comumente, aparecem associadas a confl itos políticos, a guerras e suas seqüe- las ou a revoluções sociais. Ao longo da história, surgiram diversos períodos de hiperin- fl ação, e o caso mais conhecido é o da Alemanha no período posterior à Primeira Guerra Mundial (1922–1923). Basta um único dado para indicar a intensidade da hiperinfl ação: no mês de outubro de 1923, os preços cresceram 29.720%. Uma hiperinfl ação desse tipo desorganiza a produção e os mer- cados, e redistribui de forma considerável a renda e a riqueza. A defl ação A defl ação ocorre quando a taxa de infl ação é negativa. Nesse sentido, o contrário da infl ação é a defl ação e ela ocorre quando o nível geral de preços está caindo. Trata-se de um fenômeno relativamente pouco freqüente. As defl ações prolongadas, nas quais os preços se reduzem de forma ininterrupta durante vários anos, estão associadas a pe- ríodos de depressão, como a década de 1930 ou a de 1890. Mais recentemente, o Japão iniciou uma defl ação em fi nais da década de 1990, período em que sua economia sofreuuma recessão pro- longada, da qual ainda não saiu totalmente.
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