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PARAGANGLIOMAS E FEOCROMOCITOMA • Paraganglioma (PGL) é um tumor neuroendócrino raro com origem no SNA simpático ou parassimpático. Feocromocitoma (FEO) é um subtipo de PGL simpático com origem nas células cromafins da medula adrenal, que corresponde a 80 a 85% dos casos. Histologicamente, são indistintos. Até 90% de PGL do simpático, independentemente da topografia, partilham a capacidade de sintetizar catecolaminas. Em contraste, somente cerca de 5% dos PGL do parassimpático secretam catecolaminas. • Alguns autores usam o termo FEO para se referir a paragangliomas produtores de catecolaminas, independentemente de serem adrenais ou extra-adrenais. • PGL familiares ocorrem de modo isolado ou como parte de distúrbios genéticos, como a síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2, a doença de von Hippel-Lindau, a neurofibromatose tipo 1 e as síndromes familiares de PGL. Os PGL são considerados os tumores em que a predisposição familiar tem maior expressão, com mutações germinativas em pelo menos 20 genes de suscetibilidade sendo descritas em cerca de 40% dos adultos acometidos, elevando-se esse valor para 80% no grupo pediátrico. • Em adultos, cerca de 80 a 85% dos paragangliomas localizam-se nas adrenais (70% em crianças), ao passo que em torno de 15 a 20% encontram-se em tecidos cromafins extra-adrenais. A maioria dos casos é unilateral à direita. Tumores adrenais múltiplos e extra-adrenais são mais comuns em crianças. Lesões bilaterais são também mais frequentes nos FEO familiares de que nos esporádicos. Em pacientes com síndromes familiares, é rara a concomitância de tumores adrenais e extra-adrenais. • Quanto mais jovem o paciente, maior a probabilidade de haver síndrome familiar, presença de tumores múltiplos e extra-adrenais, bem como hipertensão persistente. • Cerca de 75% dos PGL extra-adrenais do simpático são intra-abdominais (retroperitoneais), e 25% intratorácicos. Já os do parassimpático estão quase exclusivamente confinados à cabeça e pescoço. SUBSTÂNCIAS PRODUZIDAS PELOS FEOCROMOCITOMAS • Os pequenos tumores intra-adrenais secretam predominantemente epinefrina, que provoca sintomas de hipermetabolismo e intolerância à glicose. Os tumores maiores, ao contrário, produzem mais norepinefrina. • Tumores produtores apenas de dopamina são muito raros e podem cursar com manifestações atípicas, como hipotensão, taquicardia e poliúria. Esporadicamente, tumores malignos podem secretar, de preferência, dopamina, devido a alterações na síntese de catecolaminas em células malignas do PGL/FEO. • A maioria dos PGL extra-adrenais secreta apenas norepinefrina, porque os gânglios simpáticos não contêm feniletanolamina-N-metiltransferase, enzima que converte norepinefrina em epinefrina. • Além de catecolaminas, os FEO podem secretar uma grande variedade de peptídeos ativos, o que leva a manifestações atípicas, como síndrome de Cushing (por secreção de ACTH ou, mais raramente, CRH, diarreia aquosa, hipertermia, hipercalcemia e hipoglicemia. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • A sintomatologia dos pacientes com PGL/FEO é muito variável, sendo a hipertensão arterial (HA) a manifestação clínica mais frequente da doença, presente em até 90% dos casos. No entanto, os paroxismos (“crises” ou “ataques”) são o achado mais característico, consequente à liberação de catecolaminas pelo tumor e subsequente estimulação dos receptores adrenérgicos. • A constelação de sintomas do PGL/FEO varia consideravelmente entre os pacientes. Uma das razões para as diferenças é a produção hormonal variável de epinefrina e norepinefrina por esses tumores. FEO que produzem epinefrina tendem a causar manifestações adrenérgicas paroxísticas, particularmente ansiedade, tremor, Endocrinologia | Lara Mattar | Medicina UFR diaforese, taquicardia, palpitações e hiperglicemia. A secreção predominante ou exclusiva de norepinefrina tende a causar hipertensão mantida, em vez de paroxística. PGL extra-adrenais não secretam epinefrina por não disporem da enzima feniletanolamina N-metiltransferase, que converte norepinefrina em epinefrina. • As manifestações e sua incidência aproximada incluem hipertensão (90%), cefaleia (80%), diaforese (70%) e palpitações ou taquicardia (60%). Outros sintomas comuns incluem ansiedade episódica (60%), tremor (40%), dor abdominal ou no peito (35%), palidez (30%) e náuseas ou vômitos (30%). Hiperglicemia ocorre em cerca de 30% dos casos, mas geralmente é assintomática. Cetoacidose diabética já foi relatada, mas é muito rara. Os pacientes também podem apresentar febre (28%), fadiga (25%), flushing (18%) e dispneia (15%). Mudança nos hábitos intestinais ocorre frequentemente, com qualquer constipação intestinal (13%) ou diarreia (6%). Mudanças visuais ocorrem em 1,2%, com desfoque transitório ou perda de campo visual durante os ataques. • HIPERTENSÃO: pode manifestar-se de modo paroxístico ou, o que é mais comum, ser persistente (em 60% dos casos). Tende a ser grave e/ou refratária aos medicamentos anti-hipertensivos e a apresentar grandes oscilações, podendo evoluir com crises hipertensivas. Tumores secretores de norepinefrina são, em geral, associados à HA mantida, ao passo que aqueles que secretam quantidades relativamente grandes de norepinefrina e epinefrina são acompanhados de HA episódica. Em contrapartida, FEO produtores apenas de epinefrina podem cursar com hipotensão e, até mesmo, choque cardiogênico, refletindo o excesso de estimulação dos receptores beta-2-adrenérgicos pela epinefrina, com consequente vasodilatação. • FATORES PRECIPITANTES: Exercícios, curvar-se para a frente, pressão sobre o abdome, palpação do tumor, micção, defecação, ato de fumar, fármacos (betabloqueadores; anestésicos; contrastes; metoclopramida; glucagon; tricíclicos; fenotiazinas; histamina; tiramina; guanetidina; naloxona; droperidol; ACTH; GC). • É importante lembrar que cerca de 10% dos pacientes com FEO podem ser completamente assintomáticos, sobretudo aqueles com doença familiar ou tumores císticos grandes (> 50 g). Nesta última situação, as catecolaminas produzidas são metabolizadas dentro do tumor, e pouca ou nenhuma catecolamina livre é liberada para a circulação. Pacientes com neoplasia endócrina múltipla tipo 2 (MEN-2B) ou doença de von Hippel-Lindau (VHL) são particularmente propensos a serem assintomáticos. DIAGNÓSTICO • Perante a suspeita clínica de PGL simpático ou FEO, é preciso demonstrar a hipersecreção de catecolaminas (epinefrina, norepinefrina, dopamina) ou dos seus metabólitos (metanefrina, normetanefrina, metoxitiramina). Isso pode ser feito a partir da dosagem desses hormônios no plasma ou na urina (24 horas). • Como as catecolaminas são secretadas intermitentemente e os seus metabólitos (globalmente designados por metanefrinas) são produzidos continuamente e têm meia-vida maior, a dosagem das metanefrinas livres plasmáticas (MLP) e/ou das metanefrinas fracionadas urinárias (MFU) é considerada o teste de eleição para o rastreio, com sensibilidade > 96%. • Testes de supressão: O teste mais utilizado é o da clonidina. Está indicado quando as MLP basais estiverem discreta a moderadamente elevadas (< 3 a 4 vezes além do LSN). Os medicamentos simpaticolíticos, como betabloqueadores, devem ser suspensos por pelo menos 48 horas antes do exame, pelo risco de hipotensão. O teste é realizado em posição supina e deve ser evitado com pressão arterial inferior a 110 × 60 mmHg ou em situações de hipovolemia. Em caso de PGL/FEO, observa-se uma redução < 40% do valor basal das MLP 3 horas após a clonidina, enquanto uma resposta normal é uma diminuição > 40% ou a normalização das MPL. FENÓTIPOS SECRETÓRIOS • Fenótipo adrenérgico. Caracteriza-se pela elevação isolada de epinefrina/metanefrina ou de ambos: epinefrina/metanefrina e norepinefrina/normetanefrina. Em geral, indica um tumor bem diferenciado que costuma estar localizado na adrenal. Pode ser comuma presença de paroxismos, e tem sido descrita associação frequente com hiperglicemia. • Fenótipo noradrenérgico. Caracteriza-se por elevação isolada de norepinefrina/normetanefrina. Os tumores, em geral, localizam-se fora da adrenal, e é comum a presença de hipertensão sustentada e taquicardia. • Fenótipo dopaminérgico. Caracteriza-se pela elevação isolada de dopamina/metoxitiramina. Os tumores são caracteristicamente extra-adrenais e tipicamente localizados na cabeça e no pescoço. A apresentação clínica pode ser assintomática ou envolver a presença de sintomas atípicos (diarreia, vômitos, hipotensão). TRATAMENTO • A cirurgia é o tratamento de eleição para FEO ativos. • Preparo pré-cirúrgico: bloqueio alfa e dieta rica em sal, com inicio 3 dias após o bloqueio alfa, que inicia 7-14 dias antes da cirurgia. A taquiarritmia pode ser efeito da secreção de epinefrina/dopamina ou ser reflexo do bloqueio alfa. O bloqueio beta deve ser realizado apenas depois do alfa. HIPERCORTISOLISMO • As causas da SC dividem-se em duas categorias, de acordo com os níveis circulantes de ACTH, também chamado corticotrofina: ACTH-dependentes (80% dos casos) e ACTH-independentes (20 dos casos). A doença de Cushing (DC) é a etiologia mais comum (causada por tumor hipofisário), seguida dos distúrbios adrenais e da síndrome do ACTH ectópico (SAE). • Corticoides para choque hipovolêmico: hidrocortisona e fludrocortisona (ação mineralocorticoide, aumenta Na e diminui K). • A DC resulta, na maioria dos casos, de um microadenoma (diâmetro < 10 mm) hipofisário secretor de ACTH. Apenas 10 a 20% dos casos são associados a um macroadenoma, e os carcinomas são extremamente raros. A DC tem predomínio no sexo feminino (M:H = 8:1), início, em geral, entre 20 e 40 anos de idade e progressão lenta (vários anos de sintomas). • Síndrome do ACTH ectópico: Também chamada de secreção ectópica de ACTH, a SAE integra 5 a 10% dos casos de SC e cerca de 20% dos casos de SC ACTH-dependente. A SAE pode originar-se de diversos tumores, porém, provavelmente, a causa mais comum é o carcinoma pulmonar de células pequenas. DIAGNÓSTICO • Cortisol basal não serve, uma vez que sofre muitas variações, sobretudo se uso de anticoncepcional oral. • Pode-se utilizar cortisol sérico pós 1mg de dexametasona (8h da manhã). • Diagnóstico de causa: Liddle 1 e Liddle 2. Diferenciam em pacientes com obesidade grave. TRATAMENTO ACTH DEPENDENTE • Cirurgia transfenoidal (1ª escolha) • Bloqueio da liberação de ACTH: agonistas dopaminérgicos, análogos de somatostatina • Radioterapia • Adrenalectomia (mas ACTH continua aumentada) ACTH INDEPENDENTE • Adrenalectomia (1ª escolha) • Bloqueadores de esteroidogênese (cetoconazol, metirapona, mitotano) HIPERALDOSTERONISMO • Produção excessiva de aldosterona independente do SRAA. • A maioria dos pacientes chega ao endocrinologista por conta da hipocalemia. • A causa mais comum é aldosteronoma (tumor produtor de aldosterona), tratada com cirurgia. A segunda causa mais comum é hiperplasia adrenocortical bilateral, tratada com espironolactona. INCIDÊNCIA • Aldosteronomas: M/H = 3/1, 30-50 anos • HAI: M/H = 1/1, idade mais avançada ADENOMA PRODUTOR DE ALDOSTERONA • Unilateral (98%), < 3 cm, constitui 9-50% dos casos de HAP. • Maioria não responde a manobras que intervém no SRAA. • Altos níveis de aldosterona. • APA responsivo à angiotensina (APA=RA: 10-15% dos casos). HIPERALDOSTERONISMO IDIOPÁTICO • Hiperplasia bilateral da zona glomerulosa. • 50-89% dos casos. • Resposta aumentada da aldosterona à angiotensina II. • Menores níveis de aldosterona se comparado ao APA. • Menor supressão da atividade plasmática de renina. ASPECTOS CLÍNICOS • Maioria assintomática • Hipertensão: cefaleia, palpitações • Hipocalemia: câimbras, tetania, parestesia, poliúria, polidipsia • Alcalose metabólica: sinais de Trousseau e Chvostek • Geralmente sem edemas: aumento do hormônio atrial natriurético • Refratariedade à hipotensores • HAS em jovens • Manifestações da síndrome metabólica ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS • Hipocalemia: 2-3,2 (50% dos casos) • Sódio, faixa normal alta: 142-145 • Resistência insulínica • Diabetes: 7-59% dos casos • Síndrome metabólica mais frequente que na população geral DIAGNÓSTICO • Rastreamento 1. Pacientes com HAS estágios 2 (PA 160 a 179 / 100 a 109) ou 3 (PA>180/110) 2. Hipertensão + hipocalemia espontânea ou induzida por diurético 3. Hipertensão resistente ao tratamento habitual 4. Hipertensão com HF de hipertensão de início precoce ou AVC < 40 anos 5. Hipertensão com incidentaloma adrenal • Potássio sérico: valores > 4,5 demonstra diagnóstico improvável. Uso de sal de cozinha liberado para exame. Cuidado com pseudohipercalemia (traumatismo na coleta, hemólise na amostra) • Relação da concentração da aldosterona plasmática/atividade plasmática de renina Melhor parâmetro para rastreamento Padrão HAP: APR baixa e CAP alta: RAR>20-25 Suspender anti-hipertensivos (pode ser hospitalar) Medicações que interferem: espironolactona, eplerenona, amilorida, espoliadores de K. Substituir por: verapamil, hidralazina, prazosina, doxazosina, terazosina o Falso +: idade, IRC avançada, beta-bloqueadores o Falso -: diuréticos, antagonista canal de Ca di-hidropiridínicos, IECA, hipocalemia • Dosagem de renina direta Exame novo • Confirmação diagnóstica: testes de supressão da aldosterona – situações de bloqueio do SRAA. Feitos se rastreio duvidoso e para descobrir etiologia. Se a secreção passou de 30% ao bloqueio, é um nódulo autônomo. Diferente da hiperplasia ou idiopático, que aumenta menos. Se não aumenta nada, não é hiperaldosteronismo. Teste da sobrecarga oral de sódio: em paciente normal, espera-se redução de aldosterona Teste da infusão de solução salina Teste de supressão com fluidrocortisona Teste do captopril • Diferenciação entre os subtipos Teste da postura ereta e dieta hipossódica (menor resposta no APA). Espera-se aumento após ortostatismo. Se aumentar menor de 30% com relação ao basal, provável adenoma. Se mais de 30%, é provável hiperplasia (mudança de posição ativa SRAA). Dosagem dos precursores da aldosterona 18-hidrocortisol e 18-oxocortisol (> no APA). Teste terapêutico com a espironolactona (não fazer antes dos outros exames pois falseia resultado). CAP > 25 no APA. • Localização do adenoma ou fonte produtora de aldosterona TC de abdome com contraste: exame de escolha o Microadenomas (<0,5cm) podem não aparecer o Após diagnóstico bioquímico de HAP RNM o Sensibilidade muito próxima a da TC Cintilografia adrenal o Diferenciar APA x HAI: lateralização da captação ocorre apenas no APA. Achado pouco específico e útil. Cateterismo das veias adrenais o Tecnicamente muito difícil. TRATAMENTO • Escolha: adrenalectomia unilateral VLP • Cuidados pré-operatórios: corrigir hipertensão e hipocalemia com espironolactona (100-200 mg/dia) • Eficácia: reversão da hipertensão a longo prazo • Tratamento farmacológico: espironolactona se contraindicação cirúrgica. 100-300mg/dia ataque e 50- 100mg/dia manutenção. Associação a outros fármacos: BCC, IECA, BRA. Ação anti-androgênica. Substâncias produzidas pelos feocromocitomas Manifestações clínicas DIAGNÓSTICO fenótipos secretórios Tratamento Diagnóstico Tratamento ACTH DEPENDENTE Acth independente INCIDÊNCIA Adenoma produtor de aldosterona Hiperaldosteronismo idiopático Aspectos clínicos Alterações bioquímicas Diagnóstico Tratamento