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DPOC – GOLD 2023 DEFINIÇÃO • Condição pulmonar heterogênea caracterizada por sintomas respiratórios crônicos e persistentes (tosse, dispneia, produção de escarro e/ou exacerbações), devido alterações das vias aéreas (bronquite e/ou bronquiolite) e alvéolos (enfisema), resultantes da exposição significativa a partículas e gases nocivos, que causam persistente limitação do fluxo aéreo. • Fatores de risco ambientais: fumaça de cigarro, químicos e poeira ocupacional, poluição aérea, infecções, condição socioeconômica e envelhecimento pulmonar. • Fator de risco genético: mutações no gene SERPINA1 que levam à deficiência de a-1 antitripsina, tipicamente em jovem (<45), com enfisema atípico (basal panlobular), diferente do típico (apical centrolobular) e hepatopatia. TIPOS DE DPOC • Pré-DPOC: paciente que tenha sintomas e/ou alteração estrutural (ex. enfisema) e/ou anormalidades fisiológicas (ex. VEF1 normal baixo, hiperinsuflação), mas PFP sem obstrução do fluxo, ou seja, VEF1/CVF ≥ 0,7 pós BD. • PRISm: relação preservada (VEF1/CVF≥0,7 pós BD), mas espirometria prejudicada (VEF1<80% da ref. pós BD). • DPOC precoce: próximo do início do processo, ou seja, percepção inicial dos sintomas, limitação de função. • DPOC leve: menor gravidade da obstrução brônquica na espirometria. VEF1/CVF<0,7 pós BD, mas VEF1>80%. • DPOC no jovem: pacientes entre 20 e 50 anos com platô curto: desenv. anormal e declínio precoce da função. FISIOPATOLOGIA • A DPOC resulta de interações do gene e do ambiente ao longo da vida, que podem lesar os pulmões e/ou alterar seu desenvolvimento normal ou o processo de envelhecimento. Incluem: → Processo inflamatório crônico → hipersecreção mucosa → tosse produtiva. → Obstrução do fluxo de ar e retenção gasosa devido aumento de resistência das vias + destruição do parênquima + redução da retração elástica → dispneia. → Anormalidades das trocas gasosas → V/P anormal, causando hipoxemia arterial, com ou sem hipercapnia. → Hipertensão pulmonar devido hiperplasia e hipertrofia da musculatura lisa vascular pulmonar. Quando progressiva, a hipertensão pode levar à hipertrofia VD, causando ICD (cor pulmonale). → Exacerbações: desencadeadas por infecções respiratórias (haemophylus influenzae, poluentes ou outros. Durante as exacerbações, há aumento das vias aéreas e inflamação sistêmica, aumento do aprisionamento e hiperinsuflação. Condições como PNM, IC podem mimetizar ou agravar uma exacerbação. • Bronquite crônica: tosse crônica produtiva por pelo menos 3 meses/ano em 2 anos consecutivos, na ausência de outras condições que possam explicar esses sintomas. • Enfisema: aumento do espaço histológico alveolar por destruição arquitetônica, prejudicando a troca gasosa. QUADRO CLÍNICO • Tosse produtiva • Desconforto torácico • Dispneia progressiva • Sibilância (chiado) • Fadiga • Infecção respiratória de repetição • Ausculta pulmonar inespecífica • Hemoptise (bronquite crôn., bronquiectasia, TB, CA) • Intolerância ao exercício • Hipoxemia e hipercapnia • Tórax em barril • Taquicardia e palpitação • Cor pulmonale: ICD secundária → congestão • Maior esforço inspiratório (PFP: pior na expiração) Pneumologia | Lara Mattar | Medicina UFR • Características adicionais de DPOC grave: perda de peso e massa muscular, inchaço no tornozelo (cor pulmonale). Obs: principais causas de tosse crônica → asma, câncer de pulmão, TB, bronquiectasia, ICE, doença intersticial e fibrose cística (intratorácicas) e rinite crônica, doença de VAS, DRGE, medicações como IECA (extratorácicas). o Arquétipo Pink Puffer: compensa com hiperventilação. Enfisematoso, massa muscular escassa, baixa hipoxemia e disfunção de VD. Fazem eritrocitose secundária para compensar. o Arquétipo Blue Bloater: não consegue hiperventilar. Maior hipoxemia e disfunção VD → cianose e congestão. AVALIAÇÃO • Exposição a fatores de risco (tabagismo, exposições ambientais) • Histórico médico, incluindo tabagismo materno ou exposição precoce, asma, alergia, sinusite, pólipos nasais, HIV, TB, infecções respiratórias na infância • História familiar de DPOC • Padrão do desenvolvimento dos sintomas e do padrão de exacerbações • Presença de comorbidades • Impacto na vida do paciente e apoio social e familiar, incluindo possibilidades de redução dos fatores de risco DIAGNÓSTICO • Confirmação diagnóstica: exposição + sintomas + VEF1/CVF pós BD < 0,7. Após confirmação, determinar: → Gravidade da limitação do fluxo a partir do VEF1 pós BD: marcador de mortalidade, relação c/ sintomas ▪ GOLD 1 (leve): ≥ 80 ▪ GOLD 2 (moderado): 50 – 79 ▪ GOLD 3 (severo): 30 – 49 ▪ GOLD 4 (muito severo): < 30 → Natureza e magnitude dos sintomas atuais ▪ mMRC 0: aos esforços extremos ▪ mMRC 1: ao andar rápido ou subir ▪ mMRC 2: ao caminhar no plano, limitação maior que pessoas da mesma idade ▪ mMRC 3: ao andar menos de 100 metros ▪ mMRC 4: dificuldade de realizar atividades em casa ▪ CAT: relevante > 10 ▪ SGRQ: relevante > 25 → História de exacerbações: piora da tosse, mudança da cor do escarro e piora da dispneia basal. → Presença de multimorbidade: doenças cardiovasculares, SM, osteoporose, depressão e ansiedade. MANEJO: Diagnóstico confirmado espirometria → Avaliação obstrução fluxo → Avaliação sintomas/exacerbações • Triagem: recomendada apenas para pacientes assintomáticos com história de exposição, sintomas ou fatores de risco (> 20 maços-ano, infecções pulmonares recorrentes, eventos precoces da vida), geralmente > 40 anos. EXAMES COMPLEMENTARES • RX: aumento do espaço intercostal, hipertransparência, retificação costelas, aumento diâmetro A-P (perfil), cefalização de trama, coração em formato ovalado de gota. • TC: enfisema centrolobular = centroacinar. Útil para detectar comorbidades (calcificação a. coronária, aumento a. pulmonar, densidade óssea, massa muscular). • Gasometria arterial: deve ser realizada para confirmar resultado da oximetria de pulso. Apenas a gasometria pode ser utilizada como parâmetro para indicação de VPNI (≤ 88% → meta: 92%). • Hemograma: Avaliar eosinofilia e anemia (pode descompensar DPOC em pacientes com eritrocitose) TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO • Cessação da exposição (tabagismo: reposição de nicotina ou bupropiona se demonstrar interesse na pausa) • Vacinação: influenza, covid, dTp, pneumocócica 23 (repetir em 5 anos) e herpes zoster. • Reabilitação pulmonar: treinamento físico, melhora da capacidade de exercício e diminuição dos sintomas. • Oxigenioterapia de longa duração (> 16h/dia, obrigatória durante sono): única medida capaz de reduzir mortalidade, quando indicada (SatO2 ≤ 88% na GA ou PaO2 ≤ 55 mmHg em repouso) • Suporte nutricional: indicado para pacientes com baixo IMC e massa livre de gordura baixa. • Tratamentos cirúrgicos: bulectomia (ressecção de bolhas que comprimem tecido viável), cirurgia de redução de volume pulmonar (LVRS), transplante de pulmão • Intervenção broncoscópica para reduzir hiperinsuflação no enfisema grave: válvula endobrônquica unidirecional • Acompanhamento a cada 3 meses. • Screening anual CA pulmão: TC de tórax com baixa radiação se > 40 anos, CT>20, não cessou últimos 15 anos. FARMACOLÓGICO • Broncodilatadores: os B2 agonistas aumentam VEF1, alteram o tônus da musculatura lisa e melhoram o fluxo por alargamento da via aérea, tendem a reduzir a hiperinsuflação dinâmica em repouso e durante o exercício. → SABA: duram 4-6 horas → salbutamol → LABA: duram 12-24 horas → formoterol, salmeterol, indacaterol → Efeitos adversos: taquicardia sinusal em repouso, tremor somático exagerado, hipotensão momentânea • Antimuscarínicos: bloqueiam os efeitos broncoconstritores da acetilcolina nos receptores M3 do músculo liso. → SAMA: duram 6-9 horas → ipratrópio, oxitrópio → LAMA: duram 12-24 horas → tiotrópio, umeclidínio, aclidínio, glicog. brometo de pirrônio (glicopirrolato) → Efeitos adversos:boca seca, gosto amargo • Metilxantinas (teofilina): inibidores não seletivos da fosfodiesterase. Alta toxicidade e baixo efeito terapêutico. • Corticoides inalatórios: tem baixo efeito na inflamação (sintomas), mas é importante para evitar exacerbação, sobretudo se eosinofilia > 300 em pacientes em início de tratamento ou > 100 se já estiver em dupla terapia. → Efeitos adversos: modificação microbioma das vias aéreas, candidíase oral, voz rouca, hematomas, PNM. → Sempre orientar enxaguar boca após administração. • Glicocorticoides orais: possuem inúmeros efeitos colaterais sistêmicos a longo prazo, sendo úteis apenas para o manejo agudo das exacerbações. 40 mg prednisona 5 a 7 dias. • Inibidores da fosfodiesterase 4 (PDE4): roflumilaste reduz exacerbações moderadas a graves. → Efeitos adversos: gastrointestinais, dor abdominal, distúrbios do sono e cefaleia. • Antibióticos: azitromicina 3x/semana em uso regular diminui risco de exacerbação. • Mucolíticos e antioxidantes: N-acetilcisteína reduz exacerbação apenas em pacientes que não usam CI. • Farmácia popular: → Alenia: CI + LABA (budesonida + formoterol) → Vanisto: LAMA (umeclidínio) • Alto custo: → Clenil: CI (beclometazona) → Aerolin: SABA (salbutamol) → Anoro: LABA + LAMA (vilanterol + umeclidínio) Particular: • LABA + LAMA + CI: Trelegy, Trimbow • LABA + CI: Relvar, Seretide • LABA: Formocaps • LAMA: Spiriva, Vanisto, Sibre • CI: Budesonid, Flixotide definição tipos de dpoc fisiopatologia quadro clínico AVALIAÇÃO diagnóstico Exames complementares Tratamento Não farmacológico farmacológico
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