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Autoras: Profa. Ana Lúcia Machado da Silva Profa. Lilian dal Cin Colaboradores: Profa. Cielo Festino Profa. Joana Ormundo Prof. Adilson Silva Oliveira Morfossintaxe Aplicada da Língua Portuguesa Professora conteudista: Ana Lúcia Machado da Silva Ana Lúcia Machado da Silva Mestre em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e especialista em Língua Portuguesa pela mesma instituição. Foi professora de Língua Portuguesa do ensino básico em rede pública e privada durante quase vinte anos. Ministra aulas de Análise do Discurso, Semântica e Pragmática e Literatura em Língua Portuguesa, entre outras, no curso de graduação em Letras pela Universidade Paulista (UNIP). Também ministra aulas em módulos para cursos de lato sensu pela UNIP e Faculdade Atibaia. Lilian dal Cin Possui graduação em Letras pela Universidade Federal de Ouro Preto (2006), mestrado em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas (2012) e doutorado em Língua Portuguesa na PUC-SP (2018). Atualmente é professora titular da Universidade Paulista. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Linguística, atuando principalmente nos seguintes temas: linguística textual, língua portuguesa, gênero textual e gêneros digitais. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S586 Silva, Ana Lúcia Machado da. Morfossintaxe aplicada da língua portuguesa. / Ana Lúcia Machado da Silva. Lilian dal Cin – São Paulo: Editora Sol, 2020. 184 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Língua portuguesa. 2. Linguística. 3. Morfologia. I. dal Cin, Lilian. II. Título. CDU 801 U508.87 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Lucas Ricardi Cristina Z. Fraracio Giovanna Oliveira Sumário Morfossintaxe Aplicada da Língua Portuguesa APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 ABORDAGEM GRAMATICAL E LINGUÍSTICA DA LÍNGUA ................................................................ 13 1.1 Gramática tradicional e gramatização ........................................................................................ 14 1.2 Gramática tradicional e a NGB ....................................................................................................... 19 1.3 Gramática tradicional: conteúdos e nomenclatura .............................................................. 31 1.4 Gramaticalização: o outro lado da gramática tradicional? ................................................. 44 2 PARADIGMAS DA LINGUÍSTICA ................................................................................................................. 50 2.1 Linguística formal estruturalista .................................................................................................... 52 2.2 Linguística formal gerativista .......................................................................................................... 59 2.3 Linguística funcional norte-americana ....................................................................................... 65 2.4 Linguística sistêmico-funcional ..................................................................................................... 67 3 INTRODUÇÃO À MORFOLOGIA ................................................................................................................. 70 3.1 Concepção de palavra e morfema ............................................................................................... 70 3.2 Tipos de morfema................................................................................................................................. 74 3.3 Categorias e flexões ............................................................................................................................ 78 3.4 Classes abertas e fechadas .............................................................................................................. 92 4 ORGANIZAÇÃO E CONSTITUIÇÃO DA FRASE ........................................................................................ 95 4.1 Sintagma nominal................................................................................................................................ 98 4.2 Sintagma preposicionado ...............................................................................................................102 4.3 Sintagma adjetival .............................................................................................................................105 4.4 Sintagma verbal ..................................................................................................................................106 Unidade II 5 TRANSFORMAÇÕES EM FRASES SIMPLES ...........................................................................................116 5.1 Tipos obrigatórios ...............................................................................................................................117 5.2 Tipos facultativos ...............................................................................................................................122 5.3 Transformações de pronominalização: clítica e oblíqua ....................................................128 5.4 Transformações de pronominalização: reflexiva ...................................................................130 6 TRANSFORMAÇÕES EM FRASES COMPLEXAS ...................................................................................133 6.1 Transformações de encaixamento: completivas ....................................................................133 6.2 Transformações de encaixamento: circunstanciais e relativas ........................................140 6.3 Coordenação de orações .................................................................................................................145 Unidade III 7 ESTUDO DO SUJEITO: USOS E MUDANÇAS EM PORTUGUÊS BRASILEIRO (PB) ...................152 7.1 Apagamento do sujeito ...................................................................................................................154 7.2 Sujeito duplo ........................................................................................................................................159 7.3 Desumanização do sujeito ..............................................................................................................160 8 APLICABILIDADE MORFOSSINTÁTICA EM PRODUÇÃO ESCRITA .................................................164 8.1 Princípio de iconicidade em produção literária ....................................................................164 8.2 SN como formadores de textocurto .........................................................................................168 7 APRESENTAÇÃO Caro aluno, A disciplina Morfossintaxe Aplicada da Língua Portuguesa – MALP aborda a estrutura e funcionamento da língua portuguesa, no que concerne aos processos morfossintáticos na organização da sentença nessa língua e à estrutura do período na organização sintática do texto. Outro aspecto fundamental dessa disciplina é que ela aborda, também, a gramática tradicional e a metodologia de ensino da morfossintaxe, que possibilitam a construção de conhecimentos da estrutura morfossintática do português e sua eficácia na melhoria da análise e da produção de textos escritos. Os objetivos gerais são, portanto, desenvolver e aperfeiçoar a competência linguística do aluno para, assim, melhorar o seu desempenho na intelecção e na produção de textos, observando-lhes melhor sua estrutura morfossintática. Já os objetivos específicos são: • desenvolver a habilidade de observação e de análise das estruturas e dos processos morfossintáticos da língua; • capacitar o aluno na análise, descrição e explicação do funcionamento morfossintático da língua; • desenvolver a capacidade de reflexão crítica sobre conceitos tradicionais e modernos da morfossintaxe e sobre metodologia mais funcional de ensino; • desenvolver estratégias de ensino eficiente da morfossintática aplicadas ao uso efetivo da língua. O conteúdo principal consiste: • na estrutura sintagmática do português: suas bases morfológicas e as funções sintáticas autorizadas pela base morfológica; • na estrutura da oração: estudo do sujeito, transitividade verbal e complementos verbais, termos adjuntos do nome e adjuntos do verbo; • nas relações semânticas que surgem das relações sintáticas; • no período composto: os processos sintáticos de coordenação e de subordinação; emprego dos nexos de subordinação e de coordenação; oração reduzida; oração justaposta; aplicabilidade do conhecimento sintático na produção escrita de textos. Este livro-texto constitui-se de três unidades. A unidade I apresentará: • a abordagem da língua pela gramática normativa e da linguística, fazendo distinção entre elas; 8 • a distinção entre gramatização e gramaticalização, sendo a primeira a produção em massa de gramáticas normativas e a segunda um fenômeno dinâmico de mudança de situação de gramaticalidade; • os paradigmas da linguística: formalismo e funcionalismo; • a descrição da língua portuguesa pelo viés da linguística formal, em especial a estruturalista para a descrição morfológica. Na unidade II, veremos: • a descrição da língua portuguesa pela linguística formal, em especial a gerativa para a descrição sintática; • oração, período simples e composto por coordenação e subordinação. Por fim, na unidade III, estudaremos: • o uso da língua com destaque ao sujeito; • a aplicação de determinados aspectos morfossintáticos em produção textual. INTRODUÇÃO Caro aluno, atente-se à palavra morfossintaxe, componente do nome da disciplina deste livro- texto. Tal palavra é a união de outras duas conhecidíssimas por nós: morfologia + sintaxe, as quais nomeiam duas grandes áreas de estudo da língua. A primeira se preocupa com o vocábulo de uma língua, a estrutura e formação, bem como a flexão desses vocábulos; a segunda, por sua vez, se concentra na estrutura das sentenças e organização dos vocábulos nelas. Daí, o termo morfossintaxe passa a ser aplicado como consciência dessa relação entre vocábulo e sentença. Na verdade, quando se trata da língua, o seu fundamento é a articulação. Vejamos o exemplo da palavra pato (BATISTA, 2011, p. 19), a qual é a união entre duas unidades mínimas de forma e conteúdo: • pat = radical da palavra, elemento significativo de natureza lexical; • o = elemento significativo de natureza gramatical que indica o gênero masculino. Na sentença, a articulação pode ocorrer de várias maneiras, entre elas: • o pato... = duas unidades em concordância em gênero e número: o (masculina e singular) + pato (masculina e singular); • os patos... = duas unidades em concordância em gênero e número: os (masculina e plural) + patos (masculina e plural); 9 • os patos vêm... = duas unidades em concordância em gênero e número: os patos + uma unidade em concordância em pessoa e número: + vêm (3ª pessoa do plural). A língua pode ser comparada, então, ao contato entre dois ossos, a um esqueleto. Na biologia, o conceito de articulação possui um papel fundamental na compreensão do funcionamento dos órgãos anatômicos. A articulação, nesse caso, é o ponto de contato entre dois ossos, permitindo mover as partes do nosso corpo. Figura 1 – Esqueleto humano O cotovelo, por exemplo, é um elemento articulador por excelência, permitindo movimento entre duas partes importantes do corpo sem a perda de contato entre elas. Conforme Toldo (2003), a noção de mobilidade na linguagem não é visível como na anatomia. Ele afirma que existem três formas de articulação de unidade na sentença em língua portuguesa. A primeira forma ocorre por meio de um elemento articulador, como na expressão: (1) Casa de madeira No exemplo (1), a preposição de é o elemento articulador entre as unidades casa e madeira, que são substantivos. A segunda forma de articulação dá-se por meio da alteração em uma das unidades, como em: (2) Eu cantei. (3) Você cantou. As unidades cantei e cantou são duas formas verbais do verbo cantar. Elas sofreram alterações na terminação para articular com as unidades eu e você, que são pronomes correspondentes. 10 O primeiro elemento articulador (preposição de) é uma palavra autônoma; ao contrário, os elementos em (2) e (3) estão presos no corpo de uma das unidades articuladas, como os sufixos -ei (em cantei) e -ou (em cantou). A terceira articulação não oferece, na sentença, um elemento articulador, sendo considerada, por isso, mais complexa, como verificamos no exemplo: (4) Eu amei Maria. (5) Ele amou Maria. O verbo amei relaciona-se com eu, em uma demonstração de articulação, bem como a unidade verbal amou articula-se a ele. No entanto, como ocorre a articulação entre amei e Maria e entre amou e Maria? Podemos dizer que a articulação se dá pela relação de dependência de uma unidade com a outra, uma vez que, se digo eu amei, espera-se que eu diga quem amei, isto é, o objeto do verbo. Contudo, mais do que uma palavra, o termo Maria ocupa um lugar sintático. Mesmo ausente, há projeção do lugar do objeto. Vejamos mais dois casos: (6) A. Pedro gostou muito de Maria. E você? B. Mais do que isso. Eu amei. (7) Quem ama não vê defeitos. Na situação (6), em especial a fala B, o objeto do verbo amar não está presente, mas podemos recuperá-lo quando relacionamos essa fala à sentença do falante A, pois o objeto é o mesmo. Trata-se, no exemplo (6), de uma elipse; o termo Maria não aparece materialmente na sentença B, mas está lá, no lugar do objeto, sendo recuperado na sentença A. O processo de elipse não ocorre na sentença (7), mas o lugar do objeto mantém-se igualmente. Na verdade, o verbo amar acumulou, no decorrer de sua história em uso, uma memória das enunciações de que fez parte, resultando um lugar já preparado para abrigar o objeto. Em (7), o provérbio usa o verbo amar de forma generalizante: o sentimento do amor é projetado a todo aquele que ama. Dessa forma, a articulação na língua é contraída entre uma história das enunciações da língua e uma atualidade do uso. Deixo-lhe, caro aluno, o poema famoso de Vinícius de Moraes para ser analisado conforme as articulações percebidas por você. Lá vem o pato Pata aqui, pata acolá Lá vem o pato Para ver o que é que há 11 O pato pateta Pintou o caneco Surrou a galinha Bateu no marreco Pulou do poleiro No pé do cavalo Levou um coice Criou um galo Comeu um pedaço De jenipapo Ficou engasgado Com dor no papo Caiu no poço Quebrou a tigela Tantas fez o moço Que foi pra panela Fonte: Moraes (1997). Durante a leitura deste livro-texto,na medida em que for se aprofundando em seus conteúdos, sempre retorne ao poema, ampliando sua análise no que diz respeito às articulações mórficas e sintáticas. Boas relações morfossintáticas! 13 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA 1 ABORDAGEM GRAMATICAL E LINGUÍSTICA DA LÍNGUA Como ressalta Fiorin (2001), as línguas e as linguagens inscrevem-se em espaço real e em tempo histórico, assim como são usadas por falantes situados nesse espaço e tempo. No entanto, suas origens se dão em um tempo mítico, em um mundo desaparecido, tendo como protagonistas de seu aparecimento os heróis fundadores. O mito é uma explicação das origens do homem, do mundo, da linguagem. Dá sentido à vida, à morte, à dor, à condição humana – ou seja, dá sentido àquilo que não tem sentido. Essa origem mítica do surgimento das várias línguas fascina o ser humano, os estudiosos da linguagem e, mais especificamente, da língua. Não é apenas o mito que sustenta as ideias sobre a origem das línguas: ao lado dessa visão mítica, desenvolveu-se outra, de caráter filosófico, na qual estão incluídas, por exemplo, as reflexões de filósofos gregos – os quais já na Antiguidade preocuparam-se com linguagem e, em especial, com aquilo em que consistia o centro da língua. Aristóteles e Platão são exemplos de filósofos que criaram muitas reflexões em torno da língua. Os filósofos especularam sobre a própria natureza da linguagem humana, perguntando-se “que coisa é essa?” e “como funciona?”. Entre os debates, surgiu a questão sobre os signos linguísticos serem motivados ou arbitrários, isto é, se o vínculo das palavras com seus referentes era dado por algo intrínseco à natureza das coisas ou por convenção historicamente construída. Os filósofos criaram uma análise de vários aspectos da língua grega como parte da construção da lógica (da teoria de como se organiza o raciocínio válido). Devido ao fato de a lógica incluir uma discussão dos juízos ou proposições – das unidades que entram nos processos racionais de obter conclusões válidas – e de essas proposições serem expressas por meio de sentenças da língua, os filósofos tiveram de elaborar uma análise da estrutura sintática das sentenças. Essa análise das sentenças deu-se a partir das duas grandes funções proposicionais – sujeito e predicado –, bem como das classes de palavras que podem ocupar essas funções – em especial os substantivos e os verbos. Como resultado, o ser (substantivo) e o verbo foram considerados as palavras mais importantes, e a gramática originou-se. Firmou-se um estudo da língua com base nessa gramática, a qual se tornou tradicional e normativa. Com base no pensamento filosófico, foi criada a primeira gramática ocidental, a de Dionísio, da região de Trácia, na Grécia, em II a.C. Essa e outras posteriores (gregas, latinas, modernas da língua portuguesa, alemã etc.) solidificaram um modo de estudar a língua – modo que existe até o momento. Unidade I 14 Unidade I Porém, no início do século XX, uma ciência da língua foi criada: a Linguística. A perspectiva é diferente, com base em metodologia e criação de teoria, mas a palavra continua sendo o princípio das pesquisas. Saussure, em seu Curso de Linguística Geral, estabeleceu alguns princípios, que serviram de base para a constituição da Linguística: • embora possa haver uma Linguística da fala, a Linguística propriamente dita é aquela que tem como único objeto a língua; • a língua é forma, e não substância; • na língua há apenas diferenças; • há um ponto de vista sincrônico e um diacrônico na Linguística: é sincrônico tudo o que se relaciona com o aspecto estático de nossa ciência, e diacrônico tudo o que diz respeito à evolução; • o estudo sincrônico é estrutural; o diacrônico, não (FIORIN, 2001, p. 15-16). Saussure delimita que, embora a língua não seja estática, o estudo sobre ela deve imobilizá-la, para que o linguista possa apreender sua organização sincrônica. O objeto dinâmico transforma-se, então, em um modelo estático, pois busca invariantes que constituem o sistema e relega as variantes ao extrassistêmico. A estabilização do objeto produziu resultados consideráveis para a ciência da linguagem, pois permitiu entender os princípios que regem o sistema. No nosso mundo contemporâneo, concorrem o mito, a gramática e a ciência linguística. Para a nossa área, no entanto, interessam a gramática e a linguística. Nesta primeira unidade, exploramos, então, a gramática tradicional, encerrando sua relação com a linguística, que muito a influencia hoje. Isso porque os estudos linguísticos desenvolveram-se rápida e intensamente no Brasil, desde a década de 1960, e muitas das nossas gramáticas atuais adotaram alguns termos e concepções dessa ciência. Mais adiante, a concepção de língua será unicamente do ponto de vista da linguística. 1.1 Gramática tradicional e gramatização Caro aluno, nessa altura do curso de Letras você já sabe da existência das várias gramáticas e que aquela ensinada no Ensino Básico é a gramática normativa. A gramática normativa remonta ao século II a.C. Já mais próximos da era cristã, os gregos dedicaram-se ao estudo da produção literária de seus autores consagrados. Tal estudo ocorreu principalmente na cidade de Alexandria – fundada em 323 a.C. por Alexandre Magno, na foz do rio Nilo – e dele se originaram a filologia e a gramática. Os estudiosos dedicaram-se não apenas a catalogar todo o precioso acervo, mas principalmente a estabelecer, com base nos fragmentos disponíveis, o texto que poderia ser considerado como definitivo da obra de cada um dos autores gregos clássicos. Por razões óbvias, os grandes poemas de Homero receberam particular atenção desses estudiosos. 15 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA Esse trabalho criterioso foi necessário porque os manuscritos do mesmo texto variavam entre si ou estavam danificados e rasurados; havia lacunas, trechos obscuros, acréscimos ou cortes indevidos. Segundo Faraco (2008, p. 133), esse estudo dos textos levou os eruditos alexandrinos a descrever e comentar a língua que ali encontravam, do seguinte modo: • aspectos de métrica, ortografia e pronúncia; • a distribuição das palavras por classes (nomes, adjetivos, pronomes, verbos, advérbios, conjunções etc.); • a estrutura sintática da oração simples (sujeito, predicado, complementos, adjuntos) e dos períodos (coordenação e subordinação); • o uso das figuras de linguagem e assim por diante. Com o tempo, esses estudos passaram a constituir um ramo específico do conhecimento: a gramática. Assim, atribuímos ao erudito alexandrino Dionísio, o Trácio (século II a.C.), a autoria da primeira gramática conhecida do mundo ocidental. Ele consolidou as descrições de aspectos da língua grega, tornando sua obra modelo dos estudos gramaticais posteriores. Em sua Tekhné Grammatiké (Arte da gramática), Dionísio Trácio ocupou-se essencialmente da fonética e da morfologia da língua grega, sem abordar a sintaxe. Sua obra lista oito classes gramaticais: • nome; • verbo; • particípio; • pronome; • artigo; • advérbio; • preposição; • conjunção. Dionísio Trácio conceituou a gramática como conhecimento empírico das ditas obras dos poetas e prosadores. A língua escrita exemplar passou a ser, então, o objeto do gramático, que perseguiu dois objetivos: descrever essa língua e, ao fazê-lo, estabelecer um modelo a ser seguido por todos os que escreviam. Foi com base nesse tipo de pesquisa que se constituiu a tradição normativa ocidental do estudo da língua, que é ainda tão forte entre nós. Diante de toda diversidade da língua encontrada pelos gregos 16 Unidade I alexandrinos, eles concentraram seus esforços na direção do estabelecimento e do cultivo de um ideal de língua. A referência para esse ideal foi precisamente a língua como encontraram nos grandes escritores. Como desdobramento desse processo, os gregos alexandrinos vieram a criar a gramática, voltada para o estudo da língua e com o objetivo principal defixar modelos de correção com base nos estudos empíricos dos usos normais dos poetas e prosadores. Essa gramática deu base às outras do mundo ocidental no que concerne: • à base, que é a língua dos autores consagrados; • às regras para falar e escrever corretamente; • à descrição da estrutura das sentenças (sintaxe); • à classificação das palavras com uma apresentação de sua morfologia flexional (conjugação dos verbos e declinação dos substantivos). Depois da incorporação da Grécia aos domínios romanos, no século II a.C., a cultura grega foi fortemente valorizada pela elite romana, a qual se dedicou a aprender a língua e a literatura gregas. Os estudos gramaticais foram, também, absorvidos pelos romanos. Os romanos adotaram a concepção normativa e fixou-se a ideia de um latim modelar – afinal, já estava longe o tempo em que o latim era apenas a língua dos camponeses de Lácio. Os romanos optaram como referência a linguagem dos poetas e prosadores consagrados e dos modelos gregos. O criador da primeira gramática latina foi Varrão, que seguiu seu mestre alexandrino Crates de Malos e definiu seu trabalho como “a arte de escrever e falar corretamente; e de compreender os poetas” (FARACO, 2008, p. 137). Nesse processo, agregou-se o pressuposto de bem falar e bem escrever à concepção de pessoa culta. Isso quer dizer que uma pessoa culta é aquela que cultiva certos modelos de língua, aproximando seu modo de falar em público e de escrever aos usos dos autores consagrados. Imitar a língua dos autores clássicos passou a ser o ideal linguístico dessas pessoas. O ensino de língua possuía um caráter prático, levando o aprendiz a exercitar as habilidades de falar em público e de escrever. O conhecimento gramatical tornou-se, portanto, subordinado a esse objetivo maior, diferente do que ocorre entre nós hoje. Para essa finalidade pedagógica, os romanos produziram, nos primeiros séculos da nossa era, várias gramáticas do latim. Entre elas, ficou famosa a de Prisciano, que viveu em Constantinopla durante o governo do imperador Justiniano, no século VI d.C. Sua gramática é a síntese da tradição greco-romana e foi a última a ser produzida pela cultura romana, tornando-se o grande modelo em termos de gramática escolar – o que persiste até hoje. Os gregos e os romanos produziram um saber sobre a linguagem, resumido por Faraco (2008) em três aspectos: 17 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA • constituição de um vocabulário para falar sobre a língua, equivalente, hoje, à metalinguagem. Apesar das dificuldades criadas pelos conceitos e das insuficiências empíricas, esse vocabulário circula até o momento; • formulação de grandes perguntas sobre a linguagem humana, presentes ainda hoje nas nossas especulações linguísticas e filosóficas modernas; • sistematização de três grandes direções para o estudo da língua caracterizadoras de alguns de nossos modos de investigação. Enfim, o que é chamado hoje de gramática tradicional está estagnado desde Prisciano, tendo se esgotado como instrumento de geração de novos conhecimentos sobre a língua. Por isso, as gramáticas escolares nunca contêm inovação significativa quanto à maneira de apresentar a língua. Voltando à história da gramática, a gramática do latim foi adotada como a grande referência pedagógica durante todo o período medieval da Europa Ocidental, em especial nos mosteiros, em que os estudiosos tentaram preservar um latim clássico cristalizado como língua de erudição. Apenas por volta do século IX d.C. apareceram os primeiros textos escritos nas novas línguas – vernáculas, herdeiras diretas das diferentes variedades do latim popular falado: galego-português, catalão, francês, entre outras. Apesar de o latim continuar a ser usado na escrita, principalmente pela elite, as línguas vernáculas passaram progressivamente a ser adotadas também pelos governos para substituir o latim na redação dos documentos oficiais. O latim, por sua vez, permaneceu na escrita acadêmica até meados do século XVII; nas atividades diplomáticas, até o século XVIII, quando foi substituído pelo francês; nos rituais religiosos da Igreja Romana, até o século XIX e na redação de seus documentos oficiais, como as encíclicas papais, até hoje. No fim do século XV e início do XVI, a situação estava madura para o começo dos estudos gramaticais das línguas vernáculas. Nesse momento, passou a ser necessária a sistematização de uma descrição dessas línguas e o registro de uma referência normativa que atendesse aos objetivos de unificação linguística trazidos pela criação dos novos Estados Centralizados. O português e o castelhano, principalmente, estavam se tornando línguas nacionais, bem como línguas imperiais, obtendo um novo status político ao favorecer movimentos unificadores. Esses movimentos favoreceram o que Auroux (1992) denomina gramatização, fenômeno ocorrido no século XVI: • as primeiras gramáticas das línguas vernáculas foram criadas; • as primeiras propostas com vistas à fixação da ortografia foram feitas; • os primeiros dicionários foram organizados. 18 Unidade I Para a descrição das línguas vernáculas, essas gramáticas seguiram o modelo das antigas gramáticas latinas, em especial a de Prisciano. Saiba mais Para conhecer melhor a gramatização, consulte o livro de Auroux: AUROUX, S. A Revolução Tecnológica da Gramatização. Campinas: Unicamp, 1992. As primeiras gramáticas foram as da Itália, em 1450; da Espanha, em 1492; da França, em 1530; de Portugal, em 1536; da Alemanha, em 1537; e da Inglaterra, em 1586. Dessas, a língua castelhana foi a primeira a ter uma gramática escrita, cujo autor é Antonio de Nebrija, que publicou a gramática em 1492, dedicando-a aos Reis Católicos Fernando e Isabel, os quais, por meio do casamento, uniram os reinos de Aragão e Castela, base da Espanha moderna. A gramática de Nebrija atendeu, segundo o próprio autor, à “necessidade de se fixar uma língua enobrecida” (FARACO, 2008, p. 142) para ser difundida pelo império que começava a ser constituído. Foi em 1492 que a Espanha iniciou seu empreendimento colonial, subvencionando a primeira viagem de Colombo em direção ao Oeste. Quanto à primeira gramática da língua portuguesa, ela passou a existir a partir de 1536, quando Portugal ainda vivia o auge político como a primeira grande potência marítima e mercantil do mundo moderno. A mais famosa dessas gramáticas é a de João de Barros, publicada em 1540. Conforme o autor, gramática é: [...] vocábulo grego: quer dizer ciência de letras. E segundo a definição que lhe deram os gramáticos, é um modo certo e justo de falar e escrever, colhido do uso e da autoridade dos barões doutos (FARACO, 2008, p. 143). João de Barros recuperou a tradição alexandrina sobre “o modo certo e justo de falar e escrever” e, concomitantemente, ampliou o universo de referência da gramática ao não ater apenas ao uso de escritores literários, mas também ao uso dos letrados em geral. De modo geral, o grande objetivo dos primeiros gramáticos foi, então, contribuir para fixar um padrão de língua para os novos Estados Centralizados. Esse modelo medieval de ensino da língua chegou ao Brasil já no século XVI, com as práticas pedagógicas dos jesuítas, consolidando-se no novo país. O resultado é um ensino elitista e artificial da língua materna; a consolidação é, de acordo com Faraco (2008), do normativismo e da gramatiquice. Esse modelo insiste, desde os fins do século XIX, em apontar nossos pretensos erros de língua e em como deveríamos falar e escrever. Um exemplo evidente está no capítulo dos pronomes pessoais, que 19 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA remete a uma situação linguística que só ocorreu de fato até o começo do século XIV. De lá para cá, o sistema pronominal do português alterou-se profundamente sem que os manuais tenham conseguido fazer um registro adequado das mudanças. Para nos determos em poucos exemplos, as formas de segunda pessoa, com a criação do pronome você(s),ou foram abandonadas (como o pronome vós) ou ficaram restritas geográfica e socialmente. 1.2 Gramática tradicional e a NGB Temos atualmente no Brasil algumas gramáticas de autores renomados e respeitados que ora mantêm a tradição, sem questionamentos, ora trazem uma visão mais crítica de seu estudo e chegam a inovar, levando para suas obras termos da Linguística, por exemplo. Entre essas gramáticas da língua portuguesa, encontram-se: • BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 32. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1988. • CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. • LIMA, Carlos Henrique da Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 42. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002. • LUFT, Celso Pedro. Moderna gramática brasileira. 4. ed. Porto Alegre: Globo, 1981. Esses gramáticos baseiam suas obras na NGB – Nomenclatura Gramatical Brasileira –, criada em 1959 para orientar as gramáticas brasileiras. A ideia de uma nomenclatura oficial, segundo Perini e Fulgêncio (apud VALENTE; PEREIRA, 2011), é a de tentar controlar a proliferação indiscriminada da terminologia gramatical. A diversidade era tanta que dificultava transferências de alunos de uma escola para outra. Um professor chamava “adjunto adnominal”, outro chamava “adjunto limitativo”, outros, “modificador”, “epíteto” e assim por diante. Essas várias denominações não refletiam diferenças de análise, sendo, portanto, redundantes. Sem uma nomenclatura comum não pode haver diálogo profícuo; há necessidade de haver diálogo, discussão e contestação em gramática. No entanto, a NGB não forneceu apenas uma nomenclatura comum, mas impôs uma teoria da oração; libertou o professor da confusão dos termos, mas acabou desobrigando-o da necessidade de justificar a análise adotada, desestimulando a discussão gramatical propriamente dita. Na verdade, a NGB foi apenas “recomendada” pela Portaria nº 36 do MEC, de 28 de janeiro de 1959, mas tem sido interpretada como uma lei de fato. A consequência do estatuto foi funcionar como empecilho para uma teoria satisfatória em gramática descritiva. Além disso, isolou as gramáticas escolares da pesquisa linguística desenvolvida no país. 20 Unidade I Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) Uniformização e simplificação da Nomenclatura Gramatical Brasileira, de acordo com o trabalho aprovado pelo Sr. Ministro Clóvis Salgado, elaborado pela Comissão designada na Portaria Ministerial número 152/57, constituída pelos Professores Antenor Nascentes, Clóvis do Rêgo Monteiro, Cândido Jucá (filho), Carlos Henrique da Rocha Lima e Celso Ferreira da Cunha, e assessorada pelos Professores Antônio José Chediak, Serafim Silva Neto e Sílvio Edmundo Elia. Rio de Janeiro, 1958. Exmo Sr. Ministro de Estado da Educação e Cultura A Comissão, abaixo assinada, tem a honra de passar às mãos de V. Ex.ª o Anteprojeto de Simplificação e Unificação da Nomenclatura Gramatical Brasileira, já em redação final. O presente Anteprojeto é resultante não só de um reexame, pela Comissão, do primitivo, mas ainda do estudo, minucioso e atento, das contribuições remetidas à CADES pela Academia Brasileira de Filologia do País, pela Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul e, individualmente, por numerosos e abalizados professores de Português. Releva salientar que a Comissão, ao considerar as modificações propostas, teve sempre em mira a recomendação de V. Ex.ª constante da Portaria Ministerial nº 152 – “uma terminologia simples, adequada e uniforme” – bem como atender ao tríplice aspecto fixado nas Normas Preliminares de Trabalho: a) a exatidão científica do termo; b) a sua vulgarização internacional; c) a sua tradição na vida escolar brasileira. Agradecendo, mais uma vez, nesta oportunidade, a distinção e a confiança com, que contemplou V. Ex.ª, a Comissão renova a V.Ex.ª os protestos de alto apreço e distinta consideração. Antenor Nascentes Clóvis do Rêgo Monteiro Cândido Jucá (filho) Carlos Henrique da Rocha Lima Celso Ferreira da Cunha 21 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA Assessores: Antônio José Chediak Serafim Silva Neto Sílvio Edmundo Elia. Portaria nº 36, de 28 de janeiro de 1959 O Ministro do Estado da Educação e Cultura, tendo em vista as razões que determinaram a expedição da Portaria nº 152, de 24 de abril de 1957, e considerando que o trabalho proposto pela Comissão resultou de minucioso exame das contribuições apresentadas por filólogos e linguistas, de todo o País, ao Anteprojeto de Simplificação e Unificação da Nomenclatura Gramatical Brasileira, resolve: Art.1º - Recomendar a adoção da Nomenclatura Gramatical Brasileira, que segue anexa à presente Portaria, no ensino programático da Língua Portuguesa e nas atividades que visem à verificação do aprendizado, nos estabelecimentos de ensino. Art.2º - Aconselhar que entre em vigor: a) para o ensino programático e atividades dele decorrentes, a partir do início do primeiro período do ano letivo de 1959; b) para os exames de admissão, adaptação, habilitação, seleção e do art. 91 a, partir dos que se realizarem em primeira época para o período letivo de 1960. Clóvis Salgado Divisão da gramática: Fonética, Morfologia e Sintaxe. Introdução: Tipos de Análise: Fonética, Morfológica e Sintática. Primeira parte Fonética I – A fonética pode ser: Descritiva, Histórica e Sintática. II – Fonemas: vogais, consoantes e semivogais. 22 Unidade I 1. Classificação das vogais – Classificam-se as vogais: a) quanto à zona de articulação, em: anteriores, médias e posteriores; b) quanto ao timbre, em: abertas, fechadas e reduzidas; c) quanto ao papel das cavidades bucal e nasal, em: orais e nasais; d) quanto à intensidade, em: átonas e tônicas. 2. Classificação de consoantes – classificam-se as consoantes: a) quanto ao modo de articulação, em: oclusivas, constritivas: fricativas, laterais e vibrantes; b) quanto ao ponto de articulação, em: bilabiais, labiodentais, linguodentais, alveolares, palatais e velares; c) quanto ao papel das cordas vocais, em: surdas e sonoras; d) quanto ao papel das cavidades bucal e nasal, em: orais e nasais. III – 1. Ditongos – Classificam-se os ditongos em: crescentes e decrescentes; orais e nasais. 2. Tritongos – Classificam-se os tritongos em: orais e nasais. 3. Hiatos. 4. Encontros Consonantais. Nota: os encontros – ia, ie, io, ua, eu, uo finais, átonos, seguidos ou não de s, classificam- se quer como ditongos, quer como hiatos uma vez que ambas as emissões existem no domínio da Língua Portuguesa: histó-ri-a e histó-ria; sé-ri-e e sé-rie; pá-ti-o e pá-tio; ár- du-a e ár-dua; tê-nu-e e tê-nue; vá-cu-o e vá-cuo. IV – Sílaba – Classificam-se os vocábulos, quanto ao número de sílabas, em: monossílabos, dissílabos, trissílabos e polissílabos. V – Tonicidade: 1. Acento: principal e secundário. 2. Sílabas: átonas: pretônicas e postônicas; subtônicas; tônicas. 3. Quanto ao acento tônico, classificam-se os vocábulos em: oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. 23 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA 4. Classificam-se os monossílabos em: átonos e tônicos. 5. Rizotônico; arrizotônico. 6. Ortoepia. 7. Prosódia. Nota: são átonos os vocábulos sem acentuação própria, isto é, os que não têm autonomia fonética, apresentando-se como sílabas átonas do vocábulo seguinte ou do vocábulo anterior. São tônicos os vocábulos com acentuação própria, isto é, os que têm autonomia fonética. Pode ocorrer que, conforme mantenha, ou não, sua autonomia fonética, o mesmo vocábulo seja átono numa frase, porém, tônico em outra. Tal pode acontecer, também, com vocábulos de mais de uma sílaba: serem átonos numa frase, mas tônicos em outra. Segunda parte Morfologia Trata a Morfologia das palavras: 1. Quanto a sua estruturação e formação. 2. Quanto a suas flexões e 3. Quanto a sua classificação. I - Estrutura das palavras: a) Raiz; Radical; Tema; Afixo; prefixo e sufixo; Desinência:nominal e verbal; Vogal temática; Vogal e Consoante de ligação. b) Cognato. II – Formação das palavras: 1 – Processo de formação de palavras: Derivação; Composição; 2 – Hibridismo. III – Flexão das palavras: quanto à sua flexão as palavras podem ser: variáveis ou invariáveis. IV - Classificação das palavras: substantivos, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. 24 Unidade I I – Substantivos 1. Classificam-se os substantivos em: comuns e próprios; concretos e abstratos. 2. Formação do substantivo: primitivo e derivado; simples e composto. 3. Flexão do substantivo: a) em gênero: masculino; feminino, epiceno; comum de dois gêneros; sobrecomum. b) em número: singular e plural; c) em grau: aumentativo; diminutivo. II – Artigo 1. Classificação do artigo: definido, indefinido. 2. Flexão do artigo: a) gênero: masculino e feminino; b) número: singular e plural. III – Adjetivo: 1. Formação do adjetivo: primitivo e derivado; simples e composto. 2. Flexão do adjetivo: a) em gênero: masculino e feminino; b) em número: singular e plural; c) em grau: comparativo de igualdade; de superioridade (analítico e sintético); de inferioridade. Superlativo: relativo (de superioridade de inferioridade); absoluto (sintético e analítico). 3. Locução adjetiva. IV – Numeral: 1. Classificação do numeral: cardinal, ordinal, multiplicativo e fracionário. 2. Flexão do numeral: em gênero: masculino e feminino; em número: singular e plural. 25 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA V – Pronome 1. Classificação do pronome: pessoal: reto, oblíquo (reflexivo, não reflexivo); de tratamento; possessivo; demonstrativo; indefinido; interrogativo; relativo. Nota: os que fazem as vezes de substantivos chamam-se pronomes substantivos; os que acompanham os substantivo, pronomes adjetivos. 2. Flexão do pronome: a) em gênero: masculino e feminino. b) em número: singular e plural. c) em pessoa: primeira, segunda e terceira. 3. Locução pronominal. VI – Verbo 1. Classificação do verbo: regular, irregular, anômalo, defectivo, abundante, auxiliar. 2. Conjugações: três são as conjunções: a primeira com o tema terminado em “A”; a segunda com o tema terminado em “E”; a terceira com o tema terminado em “I”. Nota: o verbo “pôr” (e os dele formados) constitui anomalia da 2ª conjugação. 3. Formação do verbo: primitivo e derivado; simples e composto. 4. Flexão do verbo: a) de modo: indicativo, subjuntivo e imperativo; b) formas nominais do verbo: infinitivo: pessoal (flexionado e não flexionado), impessoal; gerúndio; particípio; c) de tempo: presente; pretérito: imperfeito (simples e composto); perfeito (simples e composto); mais que perfeito (simples e composto); futuro do presente (simples e composto) e do pretérito (simples e composto). Nota: a denominação futuro do pretérito (simples e composto) substitui a de condicional (simples e composto); 26 Unidade I d) de número: singular e plural; e) de pessoa: três são as pessoas do verbo: 1ª, 2ª e 3ª; f) de voz: ativa; passiva (com auxiliar, com pronome apassivador); reflexiva. 5. Locução verbal. VII – Advérbio: 1. Classificação do advérbio: a) de lugar; de tempo; de modo; de negação; de dúvida; de intensidade; de afirmação; b) advérbios interrogativos: de lugar, de tempo, de modo, de causa. 2. Flexão do advérbio: de grau: comparativo; de igualdade, de superioridade e de inferioridade; superlativo absoluto (sintético e analítico); diminutivo. 3. Locução adverbial. Notas: a) Podem alguns advérbios estar modificando toda a oração. b) Certas palavras, por não se poderem enquadrar entre os advérbios terão classificação à parte. São palavras que denotam exclusão, inclusão, situação, designação retificação, afetividade, realce etc. VIII – Preposição: 1. Classificação das preposições: essenciais, acidentais. 2. Combinação. 3. Contração. 4. Locução prepositiva. IX – Conjunção: 1. Classificação das conjunções: coordenativas: aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas, explicativas; subordinativas: integrantes, causais, comparativas, concessivas, condicionais, consecutivas, finais, temporais, proporcionais e conformativas. Nota: as conjunções que, porque, porquanto etc., ora têm valor coordenativo, ora subordinativo; no primeiro caso, chamam-se explicativas, no segundo, causais. 27 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA 2. Locução conjuntiva X - Interjeição Locução interjectiva. XI – 1. Palavra. 2. Vocábulo. 3. Sincretismo. Sincrético. 4. Forma variante. 5. Conetivo. Terceira parte Sintaxe A – Divisão da sintaxe: a) Concordância: nominal e verbal. b) Regência: verbal e nominal c) Colocação. Nota: na colocação dos pronomes oblíquos, adotem-se as denominações de próclise, mesóclise e ênclise. B – Análise sintática: I – Da oração: 1. Termos essenciais da oração: sujeito e predicado. a) Sujeito: simples, composto, indeterminado; oração sem sujeito. b) Predicado: nominal, verbal, verbo-nominal. c) Predicativo: do sujeito e do objeto. d) Predicação verbal: verbo de ligação; verbo transitivo (direto e indireto); verbo intransitivo. 28 Unidade I 2. Termos integrantes da oração: a) complemento nominal; b) complemento verbal: objeto (direto e indireto); c) agente da passiva. 3. Termos acessórios da oração: a) adjunto adnominal; b) adjunto adverbial; c) aposto. 4. Vocativo II – Do período: 1. Tipos de período: simples e composto. 2. Composição do período: coordenação e subordinação. 3. Classificação das orações: a) absoluta; b) principal; c) coordenada: assindética; sindética: aditiva, adversativa, alternativa, conclusiva, explicativa; d) subordinada; substantiva: subjetiva, objetiva (direta e indireta), completiva-nominal, apositiva, predicativa; consecutiva, concessiva, condicional, conformativa, final, proporcional e temporal. As orações subordinadas podem apresentar-se, também, com os verbos numa de suas formas nominais; chamam-se, neste caso, reduzidas: de infinitivo, de gerúndio, de particípio, as quais se classificam como as desenvolvidas: substantivas (subjetiva etc.), adjetivas adverbiais (temporais etc.). Notas: 1. Coordenadas entre si podem estar quer principais, quer independentes quer subordinadas (desenvolvidas ou reduzidas). 29 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA 2. Devem ser abandonadas as classificações: a) de lógico e gramatical, ampliado e inampliado, completo e incompleto, total, parcial, para qualquer elemento oracional; b) de oração quanto à forma (plena, elítica etc.), quanto ao conetivo (conjuncional, não conjuncional, relativa). 3. Na classificação da oração subordinada bastará dizer-se: oração subordinada substantiva (subjetiva etc.); oração subordinada adjetiva (restritiva, explicativa); oração subordinada adverbial (causal etc.). Apêndice I – Figuras de sintaxe – anacoluto, elipse, pleonasmo e silepse. II – Gramática histórica – aférese, altura (som), analogia, apócope, assimilação (total, parcial, progressiva, regressiva), consonantismo, dissimilação (total, parcial, progressiva, regressiva), ditongação, divergente, elisão, empréstimo, epêntese, etimologia, haplologia, hiperbibasmo, intensidade (som), metáfase, mesalização, neologismo, palatalização, paragoge, patronímico, prótese, síncope, sonorização, substrato, superstato, vocalismo, vocalização. III – Ortografia – abreviatura, alfabeto, dígrafo (grupo de letras que representam um só fonema. Ex.: ch (chave), gu (guerra), qu (quero), rr (carro), lh (palha), ss (passo), nh (manhã); homógrafo, homônimo, letra (maiúscula e minúscula). Notações léxicas: acento agudo, grave, circunflexo, apóstrofo, cedilha, hífen, til e trema, sigla. IV – Pontuação – aspas, asteriscos, colchete, dois-pontos, parágrafo(§), parênteses, ponto de exclamação, ponto de interrogação, ponto e vírgula, ponto final, reticências, cedilha, travessão, vírgula. V – Significação das palavras – antônimo, homônimo, sentido figurado. VI –Vícios de linguagem – barbarismo, cacofonia, preciosismo, solecismo. Fonte: Brasil (1959). Um exame completo da NGB daria um livro, como bem dizem Perini e Fulgêncio (apud VALENTE; PEREIRA, 2011), mas esses estudiosos selecionam apenas algumas deficiências importantes. Em relação à primeira parte da NGB, Fonética, cujo estudo pode ser descritivo, histórico ou sintático, o problema está na falta da distinção entre fonética e fonologia. Essa distinção, além de ser fundamental na análise da língua, já era plenamente desenvolvida desde os anos 1930. Sem tal distinção, teríamos, 30 Unidade I por exemplo, de reconhecer algumas dezenas de sons representados pela letra s, ao passo que essa letra só representa dois fonemas: sala, casa. Sobre os ditongos, não são mencionados aqueles representados por -el (papel), -al (canal), -ol aberto (futebol) ou fechado (gol) etc., em que -l representa o fonema /w/, tão normal no português culto da maior parte do país. Nesse ponto, interfere a concepção de vogal e consoante como tipos de letras, e não tipos de fonemas, como seria o correto. Como papel termina com a letra l, não se vê aí o ditongo que na verdade está presente. Em relação à segunda parte, Morfologia, a classificação é heterogênea quanto aos critérios adotados. Para diferenciar um substantivo de um adjetivo é preciso abranger traços morfossintáticos e/ou semânticos relevantes para o funcionamento da língua. Contudo, para diferenciar palavras híbridas de não híbridas só é relevante a formação histórica. Nenhum processo gramatical reflete a distinção entre híbridos e não híbridos e, portanto, essa distinção não tem valor sincrônico. Além disso, não há explicação para colocação da classificação das palavras em morfologia. As dez classes tradicionais – substantivo, artigo, pronome, numeral, adjetivo, verbo, preposição, conjunção, advérbio, interjeição – formam uma lista arbitrária, em especial no caso dos advérbios e pronomes, e insuficientes para a descrição da estrutura da língua. Os substantivos são classificados em comuns/próprios e concretos/abstratos. Essa dicotomia não é importante, porque a oposição comum/próprio só tem alguma relevância para a descrição do uso dos artigos – afinal, só os comuns podem ser usados sem artigo com valor genérico – por exemplo, na frase cachorro dá muito trabalho, em que cachorro é genérico. Mas na frase Pedrinho dá muito trabalho, Pedrinho é específico. Já a oposição concreto/abstrato é praticamente inútil em gramática. A oposição dos substantivos femininos e masculinos, sem a qual não dá para usar a língua portuguesa, simplesmente não figura na NGB. Quanto à terceira parte, Sintaxe, em especial a parte BI – Da oração, trata-se de uma seção muito esquemática, admitindo várias interpretações. Como exemplo, a NGB oferece cinco subclasses de verbos, sendo elas: verbo de ligação; verbo transitivo direto; verbo transitivo indireto; verbo transitivo direto e indireto; e verbo intransitivo. No entanto, em um exame menos superficial dos verbos, verificamos que as subclasses ultrapassam esse número cinco, chegando a dezenas ou até mesmo centenas de subclasses. Outro exemplo é o caso do objeto indireto, que causa dificuldade na sua identificação devido ao fato de a NGB não dar conta de explicar o que é objeto indireto, adjunto adverbial ou objeto direto preposicionado. Esses e outros aspectos forçam as pessoas a aprender uma disciplina científica por meio da memorização de princípios e soluções, pois a própria NGB e as gramáticas dela derivadas não dão condição à participação do raciocínio que conecta seus princípios. Façamos nossas as indagações estupefatas de Perini e Fulgêncio (apud VALENTE; PEREIRA, 2011). Na NGB e nas gramáticas derivadas, onde estão a maravilhosa complexidade da nossa língua, 31 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA a imensa complicação das valências verbais, as condições temáticas de atribuição dos papéis aos diferentes complementos, as condições de ocorrência do sujeito explícito, as complicadas regras de uso do artigo definido e tantas outras perguntas ignoradas pela tradição gramatical? É preciso ver a gramática como uma disciplina científica, tal como a química e a biologia. Assim como a biologia estuda os seres vivos, sua forma, fisiologia, hábitos etc. e a química examina os elementos e suas combinações, a gramática estuda um aspecto da linguagem (não o todo da linguagem), um fenômeno tão presente em nossas vidas quanto os seres vivos ou os elementos químicos. Os resultados de uma pesquisa gramatical precisam sempre estar abertos a questionamentos e reformulações. Chegar a soluções definitivas – tais como as estabelecidas pela NGB e gramáticas dela derivadas – é violar os princípios do trabalho científico. A gramática, enfim, tem por finalidade o estudo, a descrição e a explicação dos fenômenos do mundo real. Ela não tem a ver com a formação profissional, mas faz parte da alfabetização científica que é fundamental na educação do homem do século XXI. 1.3 Gramática tradicional: conteúdos e nomenclatura A gramática tradicional, seguindo a NGB, estuda a qual classe gramatical pertencem as palavras de determinada frase, realizando uma análise morfológica. A morfologia é parte da gramática que estuda a classificação, a estrutura, a formação e a flexão das palavras, observando-as isoladamente. Portanto, quando estudamos as classes de palavras, em uma oração, estamos fazendo uma análise morfológica. Já, quando dividimos uma oração em partes para estudar as diferentes funções que as palavras podem desempenhar na oração e entre as orações de um texto, estamos realizando uma análise sintática. A parte da gramática que estuda as relações e combinações existentes entre as palavras de um enunciado, formando sintagmas, frases e orações, recebe o nome de sintaxe. São estudos sintáticos: colocação, concordância, regência, coordenação ou subordinação. Sobre as classes de palavras, podemos apresentar um resumo das classes de palavras em português: • Substantivo: palavra que funciona como núcleo de uma expressão ou como termo determinado; designa os seres ou objetos reais ou imaginários. • Adjetivo: palavra que funciona como especificador do núcleo de uma expressão (ao qual atribui um estado ou qualidade); especifica e caracteriza seres animados ou inanimados reais ou imaginários, atribuindo-lhes estados ou qualidades. • Pronome: palavra que substitui o núcleo ou funciona como termo determinante do núcleo de uma expressão; serve para designar as pessoas ou coisas, indicando-as (não nomeia as pessoas ou coisas nem as qualidades, ações, estados, quantidades etc.). Os pronomes podem ser pessoais, possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos e relativos. • Artigo: palavra que funciona como termo determinante do núcleo de uma expressão ou palavra variável em gênero e número, que define ou indefine o substantivo a que se refere (definido, indefinido). 32 Unidade I • Numeral: palavra que funciona como especificador do núcleo de uma expressão, ou como substituto desse mesmo núcleo (numeral: substantivo, adjetivo); palavra que indica a quantidade dos seres, sua ordenação ou proporção (cardinal, ordinal, múltiplo, fracionário, coletivo). • Verbo: palavra que funciona como núcleo de uma expressão ou como termo determinado; indica um processo (ações, estados, passagem de um estado a outro). Processo verbal significa fenômeno em desenvolvimento, com indicação temporal. • Advérbio: palavra que funciona basicamente como determinante de um processo verbal; palavra que especifica a significação de um processo verbal. • Conjunção: palavra que funciona como elemento de ligação entre orações, sendo classificada como coordenativa (e, nem, mas, ou etc.), constituída por um morfema apenas; como subordinativa integrante (que, se) ou adverbial (porque, pois, porquanto, como, embora etc.). • Preposição: palavra que funciona como elemento de ligação entre palavras e é classificadacomo acidental, pois é oriunda de outra classe (afora, conforme, durante etc.), e como essencial (a, até, após, com, de, em, sobre, sob etc.). • Interjeição: palavra que funciona como decorrência de manifestação emotiva ou expressiva da primeira pessoa do discurso. Não pode ser enquadrada em modelos formais, sendo representada sob a forma de um vocábulo (ui, oh, epa etc.) e de uma locução (meu Deus, ai de mim etc.) ou de um grupo fraseológico (Cai fora, vá lamber sabão etc.). Em relação às funções sintáticas das classes gramaticais, temos: • Artigo: sempre desempenhará a função sintática de adjunto adnominal. Exemplo: A escola é um espaço para se fazer uma festa? • Substantivo: exerce qualquer função sintática. — Sujeito: Os animais são dignos de amor. — Objeto direto: Ana adora seus animais. — Objeto indireto: Júlia gosta dos animais. — Predicativo: Eles são meus animais. — Complemento nominal: As pessoas sentem saudades dos animais. — Agente da passiva: Os filhotes são amados pelos animais. — Adjunto adverbial: Falou-se muito a respeito dos animais. 33 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA — Adjunto adnominal: A menina visitou o habitat dos animais. — Aposto: Lia e Spike, animais de raça, fugiram. — Vocativo: A asa de uma ave, animais, é um órgão de propulsão e não de manipulação. • Adjetivo: o adjetivo funciona como adjunto adnominal ou predicativo. Exemplos: O professor entusiasmado chegou. O professor é entusiasmado. • Pronome: o pronome adjetivo é adjunto de um substantivo, por isso funciona como adjunto adnominal. O pronome substantivo exerce praticamente as mesmas funções do substantivo. Sobre os termos da oração comumente presentes nas gramáticas, podemos afirmar que eles são elementos funcionais da oração. É a palavra ou grupo de palavras que participam da estrutura de uma oração como um de seus constituintes. Assim, temos: • Termos essenciais: — sujeito; — predicado; — predicativo. • Termos integrantes: — complementos verbais + objeto direto e indireto; — complemento nominal + predicativo do sujeito e do objeto; — agente da passiva. • Termos acessórios: — adjunto adnominal; — adjunto adverbial; — aposto. • Termo independente: — vocativo. 34 Unidade I Os termos essenciais de uma oração são: • Sujeito: pode ser o termo sobre o qual se declara alguma coisa; o agente ou paciente da ação verbal com o qual, invariavelmente, o verbo concorda. • Predicado: é tudo o que é declarado a respeito do sujeito ou que se torna a expressão absoluta de um fato. • Predicativo: qualidade ou condição atribuída ao sujeito ou ao objeto por meio de um verbo qualquer, especialmente um verbo de ligação. Classifica-se em: — Predicativo do sujeito: atribui qualidade ou condição ao sujeito. Exemplo: Ela ficou triste. — Predicativo do objeto: atribui qualidade ou condição ao objeto. Exemplo: Denise comprou um carro caríssimo. Julgaram-no inocente. Acho sua proposta indecente. Os termos integrantes, por sua vez, são constituídos por: • Complementos verbais: são os termos que complementam um verbo transitivo. Dependendo do tipo de verbo, o complemento verbal é chamado objeto direto ou objeto indireto. — Objeto direto: completa o sentido de um verbo transitivo, normalmente sem preposição, havendo casos especiais em que ele aparece preposicionado. Indica o ser para o qual se dirige a ação verbal. Exemplo: Ana atravessou o tempo. O objeto direto pode vir representado também pelos pronomes: o, a, me, te, se, nos, vos. Exemplo: Doei o dinheiro à instituição de caridade. Doei-o à instituição de caridade. — Objeto direto pleonástico: é quando há uma repetição do objeto direto na mesma oração. Uma das formas é sempre um pronome pessoal átono. Exemplo: As uvas, lavei-as com cuidado. — Objeto indireto: é o termo que completa o verbo transitivo indireto, com auxílio de preposição. Indica o destinatário ou o beneficiário da ação, nos verbos transitivos diretos e indiretos. Nos transitivos indiretos, pode ser substituído por “lhe”. Exemplos: Sonhei com você esta noite. Solicitaram-me outras provas. — Objeto indireto pleonástico: repetição da função sintática dando ênfase a um determinado significado dentro da oração. Exemplo: A ela falou-lhe do seu amor. Objeto direto e objeto indireto podem aparecer concomitantemente nas orações, dependendo do verbo. 35 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA Exemplo: Doei o dinheiro à instituição de caridade. O.D. O.I. • Complemento nominal: é um termo regido de preposição, servindo de complemento a nomes. Completa um nome (substantivo, adjetivo e advérbio) no que se refere a sua significação ou sentido, indicando o alvo do processo expresso por eles. — Complemento nominal de um substantivo. Exemplo: Dê notícias de você. — Complemento nominal de um adjetivo. Exemplo: Sou tão dependente de você. — Complemento nominal de um advérbio. Exemplo: Vem para perto do meu peito. • Agente da passiva: é o termo que permite a transformação do agente da passiva em sujeito da voz ativa. — Voz passiva analítica. Exemplos: Joana colheu as flores. Sujeito Voz ativa O.D. As flores foram colhidas por Joana. Sujeito Voz passiva Agente da passiva — Passiva sintética ou pronominal. Exemplo: Vendem- se carros. V.T.D. PA Suj. Ag. da passiva Os termos essenciais e integrantes são termos que não podem ser retirados de uma oração sem prejudicar-lhe o sentido. Você pode pensar neles como peças de roupa. Se você aparecer para um encontro sem calça, por exemplo, certamente seu par pensará que há algo de errado com você... O mesmo acontece se você retirar um desses termos de uma oração: o leitor imediamente se dará conta de que há algo muito importante faltando. Já os termos acessórios auxiliam na construção do sentido de uma oração, mas não são imprescindíveis a ele. Pense neles como uma bijuteria ou óculos: eles complementam o visual, mas, se você não usá-los, ninguém pensará que você perdeu o juízo... 36 Unidade I Os termos acessórios são formados por: • Adjunto adnominal: é o termo que pode ser expresso por artigos, adjetivos, numerais, pronomes possessivos, demonstrativos, indefinidos, locuções adjetivas que acompanham o núcleo do substantivo, delimitando ou especificando o significado desse substantivo. Exemplo: Hoje é noite de luar. • Adjunto adverbial: é o termo que determina ou modifica o sentido e as circunstâncias relacionadas ao verbo, podendo variar em locuções adverbiais, adjetivas ou advérbios. Situa a ação do predicado, dando ideia de lugar, modo, intensidade etc. Exemplos: Estamos no escritório. Cheguei às quatro da tarde. Ele me olhou indiferentemente. • Aposto: palavra ou expressão que explica outro termo, vindo, na frase, geralmente, depois desse termo que procura explicar e que pode ser substantivo, pronome ou verbo. Normalmente aparece separado ou entre vírgulas. Exemplo: Edwiges, coruja de Harry Potter, é branca como a neve. É distinguido, por fim, um termo independente, que é o vocativo. • Vocativo: é o termo que não tem importância na estrutura da ação. Elemento à parte, pode vir acompanhado da interjeição vocativa. Difere do aposto justamente por não manter ligação necessária com a frase. Exemplo: “A asa de uma ave, camaradas, é um órgão de propulsão, e não de manipulação” (George Orwell). A gramática tradicional lida, também, com o período composto, distinto em coordenação e subordinação. O período composto por coordenação é aquele que, constituído de duas ou mais orações, apresenta orações coordenadas entre si. Cada oração coordenada possui autonomia de sentido em relação às outras, não estabelecendo, entre si, funções sintáticas. As orações coordenadas, apesar de sua autonomia em relação às outras, complementam mutuamente seus sentidos, como já ressaltado. A conexão entre as orações coordenadas pode ou não ser realizada por meio de conjunçõescoordenativas. Quando vinculadas por conectivos ou conjunções coordenativas, recebem o nome de orações coordenadas sindéticas. Não apresentando conjunções coordenativas, as orações são chamadas coordenadas assindéticas. Exemplo: Vim, vi e venci. A relação entre a primeira oração (Vim) e a segunda (vi) se dá sem a presença de conjunção (orações assindéticas); já a terceira oração (e venci) inicia-se com a conjunção aditiva e (oração sindética). As orações coordenadas sindéticas são classificadas em cinco tipos, iniciadas por uma conjunção coordenativa. Veja o quadro a seguir: 37 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA Quadro 1 Classificação Conceito Conjunções coordenativas Aditiva Exprime uma relação de soma, de adição. e, nem, e não, mas também, mas ainda Adversativa Exprime uma ideia contrária à da outra oração, uma oposição. mas, porém, todavia, no entanto, entretanto, contudo Alternativa Exprime ideia de opção, de escolha, de alternância. ou, ou... ou, ora... ora, quer... quer Conclusiva Exprime uma conclusão da ideia contida na outra oração. logo, portanto, por isso, por conseguinte, pois (após o verbo ou entre vírgulas) Explicativa Expressa uma justificativa, explicação, contida na outra oração coordenada. porque, que, pois (antes do verbo) Período composto por subordinação é aquele que, sendo constituído de duas ou mais orações, possui uma oração principal e pelo menos uma oração subordinada a ela. A oração subordinada está sintaticamente vinculada à oração principal, podendo funcionar como termo essencial, integrante ou acessório a essa oração. As orações subordinadas que se conectam à oração principal por meio de conjunções subordinativas são chamadas orações subordinadas sindéticas. As orações que não apresentam conjunções subordinativas geralmente apresentam seus verbos nas formas nominais – infinitivo, gerúndio ou particípio –, sendo chamadas orações reduzidas. As orações subordinadas classificam-se, de acordo com seu valor ou função, em adjetivas, adverbiais e substantivas. A oração subordinada adjetiva é aquela que modifica um substantivo de outra oração. Em geral, tais orações são introduzidas por pronome relativo. Exemplo: A criança que era espontânea tornou-se introspectiva. De acordo com a nomenclatura gramatical brasileira, as orações subordinadas adjetivas exercem a função sintática de adjunto adnominal de um termo chamado antecedente (substantivo ou pronome), posto na oração a que se prende, conforme Bechara (2001). As orações subordinadas adjetivas são classificadas em: Quadro 2 Explicativas Restritivas indicam qualidade inerente ao substantivo (a que se referem); delimitam o sentido do substantivo antecedente; justapõem-se a um substantivo já definido pelo contexto; indispensáveis ao sentido total da oração; podem ser eliminadas sem prejuízo de sentido à oração; não são precedidas por vírgula. são introduzidas por vírgula; têm função estilística. 38 Unidade I Observe os exemplos retirados de Bechara (2001): • Afonso, que está aqui, ficará conosco por algum tempo. (Adjetiva explicativa). • Os velhos que seguem as modas presumem recomeçar com elas (Marquês de Marica). (Adjetiva restritiva). Identificar uma oração adjetiva como explicativa ou restritiva é uma tarefa fácil, uma vez que a primeira, invariavelmente, vem introduzida por vírgula, enquanto a segunda não. Logo, quando se estuda essas orações, faz-se necessário focar no efeito de sentido que elas produzem. Vejamos os seguintes exemplos: • Meu pai que mora na Itália veio me visitar. • Meu pai, que mora na Itália, veio me visitar. Qual a principal diferença de sentido entre esses dois períodos? No primeiro, uma vez que temos, em destaque, uma oração adjetiva restritiva, pressupõe-se que eu tenho mais de um pai e apenas aquele que vive na Itália veio me visitar. No segundo, a oração adjetiva explicativa introduz uma explicação, uma informação adicional sobre o lugar onde meu pai vive. Tendo em vista que temos apenas um pai e, portanto, não há necessidade de se delimitar seu sentido, apenas o segundo período está correto do ponto de vista sintático. Exemplo de aplicação Em um ônibus, pode-se ler a seguinte instrução de segurança: “Em caso de emergência, puxe a alavanca e empurre a porta que se abrirá em seguida.” É possível encontrar uma oração adjetiva restritiva nesse período. Qual sentido ela dá a ele? Seu emprego está correto, do ponto de vista sintático? As orações subordinadas adverbiais funcionam como adjunto adverbial da oração principal. Os adjuntos adverbiais são termos acessórios das orações; são determinantes e acrescentam ao predicado o esclarecimento de lugar, tempo, modo, entre outros. As subordinadas adverbiais iniciam-se pelas conjunções subordinativas adverbiais, que são: causais, comparativas, consecutivas, concessivas, condicionais, conformativas, finais, proporcionais e temporais. 39 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA Veja o quadro: Quadro 3 Tipo Conceito Conjunções Causais São aquelas que modificam a oração principal e exprimem a causa, o motivo, a razão do pensamento expresso na oração principal. porque, que, porquanto, visto que, por isso que, como, visto como, uma vez que, já que, pois que Comparativas São aquelas que correspondem ao segundo termo de uma comparação, isto é, a subordinada exprime o ser com que se compara outro ser da oração principal. como, mais do que, assim como, bem como, que nem (como), tanto quanto Consecutivas São aquelas introduzidas por um termo intensivo que vem em seguida à oração principal, acrescentando-lhe ideias e explicações, ou completando-a, ou tirando uma conclusão. (tanto) que, (tão) que, (de tal forma) que Concessivas São aquelas que se caracterizam pela ideia de concessão que transmitem à oração principal. embora, posto que, se bem que, ainda que, sempre que, desde que, conquanto, mesmo que, por pouco que, por muito que Condicionais São aquelas que se caracterizam por transmitir ideias de condição à oração principal. se, salvo se, senão, caso, desde que, exceto se, contanto que, a menos que, sem que, uma vez que, sempre que Conformativas São aquelas que indicam o modo como ocorreu a ação expressa na oração principal. de modo que, assim como, bem como, de maneira que, de sorte que, de forma que, do mesmo modo que, segundo, conforme Finais São aquelas que indicam o fim ou finalidade à oração principal. para que, a fim de que Proporcionais São aquelas que transmitem ideia de proporcionalidade à ideia principal. à medida que, à proporção que, ao passo que Temporais São aquelas que indicam relação de tempo naquilo que se refere à ação expressa pela oração principal. quando, enquanto, agora que, logo que, desde que, assim que, tanto que, apenas, antes que, até que, sempre que, depois que, cada vez que Observe exemplos retirados de Bechara (2001): • Alongou-se tanto no passeio, que chegou tarde. (Subordinada adverbial consecutiva). • Saiu cedo porque precisou ir à cidade. (Subordinada adverbial causal). • Embora chova, sairei. (Subordinada adverbial concessiva). 40 Unidade I As orações subordinadas exercem funções sintáticas da oração principal. As substantivas exercerão todas as funções sintáticas que pode desempenhar um substantivo. São elas: sujeito, objeto direto, objeto indireto, complemento nominal, predicativo e aposto. Veja o exemplo: Os amigos querem que você volte. 1ª oração: Os amigos querem 2ª oração: que você volte. No exemplo, a 1ª oração apresenta o sujeito os amigos e o verbo transitivo direto querem, mas não apresenta o objeto direto do verbo. Por isso, a 2ª oração é que tem de funcionar como objeto direto do verbo da 1ª oração. Quadro 4 Classificação Função sintática Exemplo Subjetiva Aquela que exerce a função de sujeito em relação à oração principal. É bom que estudes. Objetiva direta Aquela que exerce a função de objeto direto da oraçãoprincipal. Desconheço como se chama. Objetiva indireta Aquela que exerce a função de objeto indireto da oração principal, ligando-se por meio de uma preposição. Ela precisava de que a ajudássemos. Completiva nominal Aquela que completa o sentido de um substantivo, adjetivo ou advérbio. Todos tínhamos necessidade de que nos auxiliasse. Predicativa Aquela que funciona como predicativo do sujeito. A verdade é que tinham saído. Apositiva Aquela que funciona como aposto. Digo-lhe apenas isto: você perdeu minha confiança. As orações subordinadas substantivas, de acordo com Bechara (2001), podem ser conectivas (ligadas por conjunção) e justapostas. A conjunção que liga a substância à oração principal chama-se integrante – que e se. A primeira é usada nas declarações de certeza, e a segunda, nas declarações de incerteza: • Sei que virá hoje. • Não sei se virá hoje. 41 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA A conjunção integrante pode vir ou não precedida de preposição necessária, a qual pode aparecer, esporadicamente, em lugares que não a exigem, como se omitir onde seria esperada. O quadro a seguir reproduz exemplo de Bechara (2001, p. 123): Quadro 5 Subordinadas substantivas a) sem preposição necessária. Serão: • subjetiva; • objetiva direta; • predicativa; • apositiva. b) com preposição necessária. Serão: • objetiva indireta (complemento de verbo); • completiva nominal (complemento de substantivo, adjetivo ou advérbio). Algumas estruturas sintáticas presentes na oração principal indicam que a oração subordinada a ela desempenhará a função de sujeito e será, portanto, uma oração subordinada subjetiva. Observe. • Presença, na oração principal, de verbos unipessoais (acontecer, constar, convir, importar, parecer, urgir, suceder). • Verbo de ligação, seguido de predicativo do sujeito. • Verbo transitivo direto na voz passiva sintética, na 3ª pessoa do singular (com o pronome se na função de partícula apassivadora). • Verbo transitivo direto na voz passiva analítica (verbo ser + particípio). Os exemplos a seguir ilustram tais características (BECHARA, 2001): • Verbos como parece, consta, ocorre, corre, urge, importa, convém, dói, punge, acontece. Exemplos: Parece que vai chover. Urge que estudem. Cumpre que façamos com cuidado todos os exercícios. Acontece que todos já foram punidos. • Verbos ser, estar, ficar, seguidos de substantivo ou adjetivo. Exemplos: É verdade que sairemos cedo. Foi bom que fugissem. Está claro que consentirei. Ficou certo que me telefonariam. • Voz passiva: — Pronominal: verbo com pronome se. Exemplo: Sabe-se que tudo vai bem. — Analítica: verbos ser, estar e ficar seguidos de particípio. Exemplo: Ficou provado que estava inocente. 42 Unidade I A oração substantiva predicativa iniciada pela conjunção integrante completa, quase sempre, o verbo ser, conforme exemplo de Bechara (2001): A verdade é que não ficaremos aqui. A oração subordinada substantiva justaposta (sem a conjunção) ocorre quando: • funciona como aposto. Exemplos: Papai deu-nos um belo presente – levou-nos à fazenda da titia Vera. • encerra palavras de cunho pronominal ou adverbial, relacionadas com os relativos, sem a presença de antecedentes: quem, quanto, por que, como, quando, onde, que, qual. Não sabemos quanto quem por que como quando onde que qual comprou. Por fim, outro aspecto tratado pelas gramáticas é a oração reduzida. As orações reduzidas são aquelas que apresentam o verbo numa das formas nominais, a saber: infinitivo, gerúndio e particípio. Podem, em geral, ser desenvolvidas em orações subordinadas, classificando-se como as desenvolvidas correspondentes. As orações reduzidas não são introduzidas por conectivo. Os exemplos retirados de Bechara (2001) servem para perceber as orações desenvolvidas e as orações reduzidas: • Estuda agora, porque,/quando o verão chegar,/entraremos de férias. As três orações são consideradas desenvolvidas porque os verbos estão, respectivamente, no imperativo (estuda), no subjuntivo (chegar) e no indicativo (entraremos). Passa a ser uma oração reduzida, alterando-se a maneira de expressar a subordinada “quando o verão chegar”: • quando o verão chegar = ao chegar o verão; • quando o verão chegar = chegando o verão; • quando o verão chegar = chegado o verão. As subordinadas ao chegar o verão, chegando o verão e chegado o verão são orações reduzidas porque apresentam o seu verbo (principal ou auxiliar) nas formas nominais: infinitivo, gerúndio e particípio (reduzidas infinitivas, gerundiais e participiais). 43 MORFOSSINTAXE APLICADA DA LÍNGUA PORTUGUESA Lembrete O verbo em forma nominal quer dizer que ele não está conjugado. A terminação indicadora de que cada forma nominal é: • -r: terminação que indica infinitivo. Exemplos: analisar, vencer. • -ndo: terminação que indica gerúndio. Exemplos: analisando, vencendo. • -ido: terminação que indica infinitivo. Exemplos: analisado, vencido. A conceituação de oração reduzida pode atender a duas maneiras que divergem completamente. A primeira, amplamente defendida pelos estudiosos da língua, considera oração reduzida toda aquela que tenha infinitivo, gerúndio e particípio, independentes de uma locução verbal ou no infinitivo, em construções substantivas ou qualificativas, como recordar é viver e sala de jantar. A segunda, com base no plano histórico, considera dois empregos das formas nominais: um como nome e outro como verbo. Dessa forma, não há as chamadas orações adjetivas reduzidas de particípio, nem oração de gerúndio com ideia de modo, meio e instrumento, posto que ambas assumiriam valor nominal. As orações reduzidas podem ser coordenadas ou subordinadas. Na primeira classificação, o verbo é apresentado na forma nominal gerundial ou infinitiva. Esta exprime uma adição enfática, precedida da preposição sobre e da locução prepositiva além de; aquela, por sua vez, exprime um fato imediato e equivale a uma oração coordenada iniciada pela conjunção e, conforme exemplos (BECHARA, 2001): • Compreendeu bem a lição, fazendo depois corretamente os exercícios (= e fez depois...) – gerundial. • “Além de que a fumarada do charuto, sobre ser purificante ou antipútrida, dava aos alvéolos solidez, e consistência aos dentes” – Camilo Castelo Branco (apud BECHARA, 2001, p. 402) (= sobre ser = além de ser; a fumarada de charuto dava solidez e era purificante) – infinitiva. Na segunda classificação, as orações reduzidas denominam-se substantivas, adjetivas e adverbiais. Podem, quase sempre, desdobrar-se em orações desenvolvidas, como nos exemplos: • Declarei estar ocupado (oração reduzida). • Declarei que estava ocupado (oração desenvolvida). 44 Unidade I Quadro 6 Orações reduzidas Característica Exemplos Substantivas Têm o verbo, principal ou auxiliar, no infinitivo. Exercem função de um substantivo. “Tudo, pois, aconselhava o rei de Portugal a tentar uma expedição para aquele lado” – Alexandre Herculano (apud BECHARA, 2001, p. 402). Adjetivas Têm o verbo, principal ou auxiliar, no infinitivo, gerúndio ou particípio. Exercem função de um adjetivo. “Foi banhado em azeite e pez fervendo” – Manuel Bernardes (apud BECHARA, 2001, p. 402). Adverbiais Têm o verbo, principal ou auxiliar, no infinitivo, gerúndio ou particípio. Exercem função de um adjunto adverbial. “Porém, deixando o coração cativo, Com fazer-te a meus rogos sempre humano, Fugiste-me traidor...” – Santa Rita Durão (apud BECHARA, 2001, p. 402). 1.4 Gramaticalização: o outro lado da gramática tradicional? Caro aluno, é isso mesmo: existem dois termos – gramatização e gramaticalização! Cada termo tem um significado dentro da área da linguística. Como bem lembram os autores Casseb-Galvão e Lima-Hernandes (apud GONÇALVES; LIMA-HERNANDES; CASSEB-GALVÃO, 2007), o termo gramática é polissêmico: gramática da comunidade, compêndio gramatical, gramática interna etc. De qualquer forma, gramaticalização por si só denuncia
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