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Newton Luís Mamede Adaptação Henrique Campos Freitas Kátia Maria Capucci Fabri Língua Portuguesa / Estudos gramaticais Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central Uniube Mamede, Newton Luís. M31l Língua portuguesa / Estudos gramaticais / Newton Luís Mamede. – Uberaba: Universidade de Uberaba, 2020. 148 p. : il. Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. Inclui bibliografia. ISBN 1. Língua portuguesa – Gramática. 2. Língua portuguesa. I. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. II. Título. CDD 469.5 © 2020 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Graduação a Distância Sílvia Denise dos Santos Bisinotto Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Editoração Stela Maria Dias Queiroz Revisão textual Erika Fabiana Mendes Salvador Diagramação Andrezza de Cássia dos Santos Douglas Silva Ribeiro Ilustrações Getty images. Acervo Uniube. Projeto da capa Agência Experimental Portfólio Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Newton Luís Mamede Especialização em Língua Portuguesa, pelo PREPES – Programa Regional de Especialização de Professores do Ensino Superior – da Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). Aprovado em concurso público na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), como professor de Língua Latina. Graduação em Filosofia (licenciatura plena) pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Santo Tomás de Aquino” (Fista). Graduação em Letras com habilitação em Português-Francês (licenciatura plena) pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Santo Tomás de Aquino” (Fista). Professor de Língua Portuguesa na Universidade de Uberaba (Uniube). Professor da Faculdade Presidente Antônio Carlos de Uberaba, nos cursos de graduação em Direito e de licenciatura em Pedagogia. Experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa. Sobre o autor Sumário Apresentação ..................................................................................... VII Capítulo 1 Gramática e estrutura morfossintática .................................1 1.1 Língua padrão e língua coloquial ............................................................................3 1.1.1 Língua padrão ................................................................................................3 1.1.2 Língua coloquial ...................................................................................................5 1.2 Os estudos gramaticais da Língua Portuguesa ......................................................7 1.3 Classes de palavras .................................................................................................8 1.3.1 Palavras variáveis ........................................................................................10 1.3.2 Palavras invariáveis .....................................................................................47 1.4 Conclusão ..............................................................................................................58 Capítulo 2 Aspectos pragmáticos: usos e normas ..............................61 2.1 A estrutura da sentença e a pontuação .................................................................64 2.1.1 Pontuação no período simples ......................................................................67 2.1.2 Pontuação no período composto .................................................................69 2.1.3 Emprego da vírgula com a conjunção e ......................................................73 2.2 Acentuação gráfica ................................................................................................80 2.2.1 Posição da sílaba tônica ..............................................................................84 2.2.2 Casos especiais ...........................................................................................88 2.3 Dificuldades mais frequentes da língua.................................................................91 2.3.1 Por que, por quê, porque, porquê ................................................................91 2.3.2 Crase ............................................................................................................99 2.3.3 Palavras e expressões ............................................................................... 111 2.3.4 Funções do pronome se ............................................................................126 2.3.5 Regência de alguns verbos .......................................................................129 2.3.6 Emprego do pronome relativo que com verbos que regem preposição ........135 2.4 Conclusão ............................................................................................................135 Caro(a) aluno(a), é um prazer tê-lo(a) conosco! Um livro, sozinho, não se basta. Guardado na estante ou escondido na biblioteca, sua finalidade praticamente se anula. Você está diante de um livro que apresenta as estruturas básicas para um estudo sério e seguro do nosso idioma, a bela Língua Portuguesa. Não importa o curso que você faça, para compreender e aprender os fatos fundamentais da língua que você fala, para se comunicar de maneira fluente, elegante e correta, o estudante de nível universitário precisa dominar alguns detalhes do idioma que não se aprendem na simples aquisição da linguagem coloquial, no ambiente familiar, no início da vida. Este livro apresenta-lhe alguns desses detalhes. Não todos, evidentemente, pois o universo do idioma é quase infinito. Mas o conhecimento básico já é um porto seguro para uma boa comunicação em linguagem culta e formal. Alguns assuntos você já estudou na educação básica. Agora, você vai recordar e ampliar seus conhecimentos linguísticos. No primeiro capítulo, “Gramática e estrutura morfossintática”, são expostos alguns conceitos linguísticos de níveis de linguagem e de tipos de gramática, bem como as classes gramaticais das palavras da Língua Portuguesa, como substantivo, adjetivo, verbo, entre outras, e suas situações de emprego e funcionamento, como flexões, ortografia, significado e demais noções gramaticais. Apresentação VIII UNIUBE No segundo capítulo, “Aspectos pragmáticos: usos e normas”, são apresentadas algumas situações da norma padrão ou nível culto da Língua Portuguesa, com o foco na correção, ou, em outros termos, na exposição da forma correta de palavras e de expressões, muitas vezes empregadas de maneira desvirtuada por pessoas de nível escolar elevado. São situações de uso frequente na fala e na escrita, no exercício diário da prática da linguagem, que não podem ser ignoradas por quem deseja expressar-se corretamente. O livro tem finalidade acadêmica. Vazado em linguagem simples e acessível, pretende contribuir para o estudo e a aquisição segura dos fundamentos do idioma pátrio. Bons estudos! Introdução Gramática e estrutura morfossintáticaCapítulo1 Nas instituições de educação no Brasil, o estudo da Língua Portuguesa vem passando, nas duas últimas décadas, por algumas transformações decorrentes dos avanços dos estudos linguísticos, mormente os praticados por novos pesquisadores, ou “pesquisadoresnovos”, em seus trabalhos universitários, monografi as, dissertações de mestrado ou teses de doutorado. As modernidades dos estudos têm fascinado os estudiosos de cursos de pós-graduação e, consequentemente, infl uenciado professores e estudiosos dos cursos de graduação, os quais, numa espécie de “corrente”, transmitem aos alunos suas convicções, tendências e simpatias por teorias e ideias modernas e “avançadas”. Embora tais condutas sejam louváveis e benéfi cas da parte dos estudiosos latinos, o termo gramática não pode deixar de ter ou perder seu sentido ou seu valor. Não é humilhante saber gramática. É importante, sim, conforme afi rmado linhas atrás, conhecer vários aspectos do estudo da língua, e não só a gramática. Mas desprezar a gramática e considerá-la desnecessária torna o estudo da língua incompleto, indefi nido. 2 UNIUBE Neste capítulo, iremos considerar os fatos da língua como objeto de estudo da gramática. Ao término deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • explicar as diversas modalidades de desempenho de uma língua, principalmente a língua ou norma padrão e a língua coloquial; • justificar a necessidade de estudar gramática para um bom conhecimento das estruturas da Língua Portuguesa; • identificar situações morfológicas das classes de palavras e de seu funcionamento para o correto desempenho na modalidade culta da língua; • compreender as regras da gramática e da estrutura morfossintática aplicadas às diversas situações sociocomunicativas. 1.1 Língua padrão e língua coloquial 1.1.1 Língua padrão 1.1.2 Língua coloquial 1.2 Estudos gramaticais da Língua Portuguesa 1.3 Classes de palavras 1.3.1 Palavras variáveis 1.3.2 Palavras invariáveis 1.4 Conclusão Objetivos Esquema UNIUBE 3 Língua padrão e língua coloquial1.1 Nos estudos sobre a língua, são estudadas as variantes linguísticas, entre as quais as mais conhecidas são a variante histórica, a geográfica e a social, cada qual com suas divisões ou subdivisões. Na variante social, a dicotomia que mais se destaca, ou para a qual mais se chama a atenção, é a dupla língua padrão e língua coloquial. Conforme o livro ou o autor, essas denominações podem variar, como norma padrão, norma culta, nível formal, para a língua padrão, e nível coloquial, língua oral, oralidade, para a língua coloquial. 1.1.1 Língua padrão Essa é uma variante ou apenas um aspecto sob o qual a língua é considerada. É o nível próprio da linguagem formal, em suas estruturas gramaticais apresentadas ou expostas nos livros de estudo sobre a língua, como as gramáticas, os dicionários, as obras dos escritores de renome ou de elevada qualidade intelectual. Essa, ainda, é o nível que identifica as chamadas pessoas cultas, dotadas de escolaridade elevada, detentoras de cursos universitários ou simples autodidatas de notório saber, quando escrevem ou quando falam. É o nível presente nos textos científicos, literários, didáticos, oficiais, jornalísticos, os quais são elaborados ou redigidos dentro das normas de correção conforme as regras ou normas estabelecidas pela “gramática”. Daí uma das denominações deste nível: norma padrão. O termo primordial que caracteriza a língua padrão é correção. Trata-se de não escrever “errado”, não transgredir a ortografia, o vocabulário, o estilo, as normas ou as famosas regras de concordância verbal e nominal, 4 UNIUBE de regência, de pontuação. E, ainda, de empregar corretamente as flexões de gênero e número das palavras, as corretas flexões verbais, os termos adequados nas construções de frases. O que é necessário é escrever corretamente, isto é, sem erro. É esta variante culta que determina as revisões de linguagem em gráficas, editoras, jornais, secretarias e demais órgãos que utilizam a língua no padrão culto em seus exercícios de trabalho. A língua padrão apresenta as seguintes características: • Escrita e pronúncia corretas, conforme estabelecidas nas gramáticas, nos dicionários e na tradição de emprego pelas pessoas cultas. • Adquirida por meio de estudo. Esta é a grande, a fundamental, a primordial característica deste nível de uso da língua. Não vale aqui o argumento de que “quem faz a língua é o povo”. Não. Neste nível, não se considera o “povo”, em seu sentido puramente de categoria social. A aquisição do nível culto, da norma padrão da língua, é decorrente apenas de estudo. • Aprende-se a norma culta, a língua padrão, estudando. Estudando: e não ouvindo “os outros”, mesmo que esses outros sejam pessoas detentoras de estudo. É muito comum ouvir doutores cometerem desvios da norma culta, em pronúncia, em concordância, em vocabulário e em outros aspectos da língua. • Artificial, formal. Suas expressões não jorram espontaneamente da boca ou da mente do falante, do emissor. É uma linguagem pensada, ensaiada, cuidada, que pode ser alterada, modificada, transformada no decorrer do discurso. O interlocutor, na fala ou na escrita, pensa antes de se expressar. Simplesmente cuida da correção da linguagem. • Vocabulário amplo, refinado, erudito, complexo. É uma característica decorrente das duas anteriores. As palavras ou os termos empregados são adquiridos individualmente, conforme o grau de estudo e de leitura de seu usuário, e não por meio do simples convívio social e doméstico. IMPORTANTE! UNIUBE 5 • Estão presentes nas grandes obras dos grandes escritores. Por isso, socialmente, as palavras são chamadas “palavras difíceis”, ou “palavras bonitas”, pelas pessoas comuns. • De emprego literário, jornalístico, científico didático, jurídico. Conforme visto nas outras características, é o nível empregado e praticado nos setores cultos e formais da sociedade. 1.1.2 Língua coloquial Este é o nível que caracteriza propriamente a língua como produto da racionalidade humana. Antropologicamente, o homem é o animal dotado de linguagem articulada por meio de signos, de símbolos sonoros, produzidos pela voz, que representam o mundo biossocial. É o nível da voz do animal “homem”. Biologicamente, os animais possuem “vozes”, como aprendemos nas séries iniciais de nossa vida escolar. O cão late, o gato mia, o boi berra, e assim por diante. Já o homem fala. Essa é a voz do animal racional, do homem. Mas não é uma voz simplesmente “fisiológica” decorrente do instinto animal. É a voz codificada pela língua, pelo idioma. Portanto, racional. A língua coloquial é a “verdadeira” língua do homem, ser social. É por ela que ele se comunica e se interage na sociedade, ao longo de toda sua vida. É o nível da conversa, independentemente de escolaridade, de grau de instrução. O habitante de cidade, o doutor universitário, o operário, o trabalhador humilde, o habitante rural, o sertanejo, o analfabeto, qualquer pessoa, ou qualquer ser humano é detentor da língua coloquial. É por meio dela, como já o dissemos, que as pessoas se comunicam na sociedade. As pessoas: qualquer pessoa. 6 UNIUBE A língua coloquial apresenta as seguintes características: • Da conversa diária, entre os falantes. Em casa, em família, com os vizinhos e os amigos, na escola, no trabalho, na rua. O termo “coloquial” tem origem latina, com ideia de “conversa”: fala entre pessoas. • Adquirida desde a infância. A criancinha, por volta de um ano de idade, ou antes, já começa a balbuciar os primeiros fonemas que irão constituir as palavras e depois as frases articuladas para a expressão do pensamento. Adquirida desde a infância e ao longo da vida. E não por meio de estudo, como a língua padrão, ou nível culto da língua. • A língua coloquial é aprendida em casa, com os pais, vizinhos, amigos. É chamada muitas vezes de língua materna, por ser, tradicionalmente, a mãe a primeira a ensinar a criancinha a falar. • Natural, espontânea, informal. Se é o nível da conversa diária, a língua é usada automática, simultaneamente ao pensamento. Por isso, não ensaiada, não pensada anteriormente, não planejada. A língua é articulada ou emitidacom a naturalidade própria do falante, com seu linguajar decorrente de sua cultura, antropologicamente falando. • Vocabulário reduzido, simples. A quantidade de palavras é limitada, em comparação com o vocabulário da língua culta ou padrão. São palavras do quotidiano, aprendidas no dia a dia, de domínio de todos os falantes de um grupo ou de uma comunidade. Mas o necessário para a pessoa se comunicar durante toda sua vida. IMPORTANTE! Neste nível da língua coloquial não se considera a ideia de “certo e errado”. É com base nessa característica que os estudiosos da Língua Portuguesa proferiram a famosa afirmação de que “na língua não existe erro”. É claro que isso não deve ser entendido ao pé da letra. Não se considera erro, sim, na língua coloquial. Esta decorre do nível de cultura do falante. O habitante sertanejo e analfabeto, mas não surdo-mudo, fala o idioma pátrio satisfatoriamente. Uma frase como “nóis já armuçô” não pode ser considerada “errada” se proferida por um sertanejo analfabeto. UNIUBE 7 Errada por quê? Esta é a “língua” própria de seu universo, de seu ambiente, de sua vida social. Como, então, ele deveria falar? Ele não estudou para ter aprendido que o “certo” é “nós já almoçamos”. O conceito de correção de linguagem, de corrigir o errado para adotar o certo, é próprio do nível culto da língua, da norma padrão, empregada pelas pessoas instruídas, estudadas, cultas. Aí, sim, devemos cuidar da correção, de “não errar”. Uma concordância indevida, uma grafia errada, uma frase mal construída ou ambígua ou uma palavra mal-empregada são desvios que se devem corrigir no emprego culto da língua, para que a expressão seja adequada ao nível cultural e intelectual de seu usuário. Um desvio constatado num jornal, numa revista, num cartaz afixado em lugar público, num texto de publicidade ou propaganda, num livro; ou proferido oralmente por um palestrante, um pregador religioso, um político, um professor, um advogado, um orador, agora, sim, se trata propriamente do “erro” de linguagem, objeto de crítica ou zombaria das demais pessoas. Os estudos gramaticais da Língua Portuguesa1.2 Os estudos gramaticais de uma língua, geralmente, partem do princípio da compreensão dos fonemas, dos morfemas e das palavras, dos sintagmas e das frases, e das unidades semânticas. Esses estudos compõem as unidades linguísticas de uma determinada área da Língua Portuguesa, ou seja, da fonologia, da morfologia, da sintaxe e da semântica. Fonema Menor unidade linguística destituída de sentido, passível de delimitação na cadeia falada, isto é, uma sequência de sons. Caracteriza-se, normalmente, pela substância sonora, ou seja, por representar os sons de uma língua (SAUTCHUK, 2018, p. 25). 8 UNIUBE Esses, por sua vez, auxiliam na compreensão e no desenvolvimento das competências linguísticas para uma melhor comunicação, seja oral ou escrita, nas diversas situações comunicativas, pois saber aplicar os conteúdos gramaticais com eficiência demonstra não só um nível culto, mas também demonstra nossa capacidade de produzir e construir significados que estão para além do que é materializado nos textos. De acordo com a estudiosa Inez Sautchuk (2018, p. 26), é o conhecimento dessa gramática “que comporta as regras essenciais constitutivas de sua identidade, possibilita que todo falante de uma língua ‘saiba’ construir frases e, com elas, expressar seus pensamentos”. Para o início desse estudo, então, é necessário o conhecimento das classes de palavras, isto é, a divisão elaborada a fim de que as palavras fossem estudadas isoladamente, desconsiderando-se a função que exercem dentro da frase ou da oração, com o objetivo de analisá-las por meio de seus aspectos semânticos (de sentido) e funcionais nas produções textuais e os efeitos de sentido que elas produzem na interação com os interlocutores. Classes de palavras1.3 As classes de palavras de uma língua são apresentadas na parte das gramáticas denominada morfologia. Sendo a gramática dividida, tradicionalmente, em fonética, morfologia e sintaxe, o estudo das classes de palavras pertence ao ramo da morfologia. Esta, por sua vez, estuda a estrutura e formação de palavras e as classes de palavras. UNIUBE 9 As palavras variáveis são as que sofrem flexão ou modificação em seu final como as desinências de gênero (masculino e feminino) e de número (singular e plural) para algumas, como neste caso da palavra gato (Figura 1): Gat -o -a -o-s -a-s Figura 1: Gato. Fonte: Getty images. Acervo Uniube. A palavra é uma só, mas possui quatro “finais” ou terminações em suas ocorrências de uso ou funcionamento da língua. Não são, portanto, quatro palavras. As palavras invariáveis são fixas, não apresentam modificações em seu final, como no caso da palavra aqui, que permanece sempre nessa forma. Invariáveis • advérbio, preposição, conjunção, interjeição Variáveis • substantivo, adjetivo, artigo, numeral, pronome, verbo Em português, existem dez classes de palavras, assim distribuídas: 10 UNIUBE 1.3.1 Palavras variáveis 1.3.1.1 Substantivo Tradicionalmente, substantivo é a palavra que designa os seres, entendidos estes como pessoas, animais e coisas, numa concepção concreta, e como ações, sentimentos, qualidades, estados, numa concepção abstrata. A palavra substantivo relaciona-se com substância. Designa, portanto, o ser, entidade dotada de uma substância existencial. O substantivo é, então, o nome de um ser. A importância dos substantivos Os substantivos, como sabemos, são palavras que designam os seres em geral, reais ou imaginários. Eles são responsáveis, na maioria das vezes, por indicar a coerência de um texto, indicando o assunto de que se trata a produção textual. É importante lembrar que, geralmente, os substantivos são os mais importantes em um texto, pois se no texto não tivesse substantivos, ele (o texto) estaria sem sentido ou teria sentido incompleto. Eles, associados a outras classes de palavras, articulam as ideias e as relações entre as formas linguísticas presentes no texto, indicando certo efeito de sentido que o produtor textual quer conferir à sua produção, produzindo, por exemplo, ironia, humor etc. AMPLIANDO O CONHECIMENTO Classificações do substantivo A tradição de estudos gramaticais expõe as seguintes classificações do substantivo: UNIUBE 11 Concreto: designa o ser que tem existência em si mesmo, própria, e não existente em outro ser. O substantivo concreto nomeia pessoas, animais e coisas. Abstrato: designa o ser que não possui existência em si mesmo ou independente, mas situações de concepção da razão (seres de razão). O substantivo abstrato nomeia, principalmente, qualidades, sentimentos, estados e ações. Aqui cabe uma explicação adicional, nem sempre compreendida pelas pessoas, inclusive por alguns estudiosos do idioma. Substantivo concreto não é sinônimo de seres reais. E substantivo abstrato não é sinônimo de seres irreais ou imaginários. Essa confusão é frequente nas escolas. O substantivo amor é abstrato, mas o amor é real, ele existe de fato, não é um ser apenas imaginário. E o substantivo saci é concreto, embora o saci seja apenas uma criação fictícia, um ser que não existe de fato. PESSOAS ANIMAIS COISAS homem, menino, criança, mulher, moço, José, Maria, Paulo. cão, gato, macaco, urso, boi, leão, gafanhoto. copo, cadeira, chave, livro, martelo, alçapão, garfo. QUALIDADES ESTADOS bondade, beleza, honestidade. Sentimentos: amor, ódio, alegria, tristeza. cansaço, magreza, pressa. Ações: corrida, soco, chute, beijo. 12 UNIUBE Comum: designa todos os seres de uma mesma espécie, ou uma abstração. Próprio: designa o indivíduo, um ser de uma espécie. Coletivo: é o substantivo comum que, morfologicamente palavra do singular, designa conjunto de seres de uma espécie. O substantivo coletivo, todavia, pode ter flexão de plural, quando designa mais de um coletivo, como arquipélagos,as constelações, as turmas. Alguns exemplos de substantivos coletivos: Arquipélago: ilhas. Banda: músicos. Cardume: peixes. Constelação: estrelas. Corja: velhacos, vadios, desordeiros. Esquadrilha: aviões. Fauna: animais de uma região ou país. Flora: vegetais de uma região ou país. Junta: bois, médicos, examinadores. Matilha: cães caçadores. Nuvem: gafanhotos. Prole: filhos. Quadrilha: ladrões. Turma: pessoas, alunos. Vara: porcos. AMPLIANDO O CONHECIMENTO COMUM menino, laranja, laranjeira, árvore, país, cidade, clima, aluno, alma, anjo, jornal, mão. COMUM Carlos, Rio de Janeiro, Brasil, Jornal do Comércio.PRÓPRIO UNIUBE 13 Flexão do substantivo O substantivo apresenta as flexões de gênero e de número. • Gênero Os gêneros são o masculino e o feminino. Em português não ocorrem substantivos do gênero neutro, como em algumas línguas, geralmente o latim e o grego. Particularidades genéricas Além das situações regulares de formação do gênero feminino, com a desinência -a, o substantivo possui as seguintes particularidades: a) Substantivo comum de dois – Possui uma só forma, sem flexão para o gênero masculino e para o feminino. A distinção entre os gêneros se faz pelos termos determinantes do substantivo, como o artigo, o adjetivo, o numeral. Exemplos: o colega estudioso / a colega estudiosa o pianista famoso / a pianista famosa o personagem estranho / a personagem estranha dois jovens bonitos / duas jovens bonitas Observação! O substantivo personagem é comum de dois, isto é, pode ser masculino ou feminino, conforme se refira a homem ou a mulher. “O personagem famoso” designa um homem. “A personagem famosa” designa uma mulher. 14 UNIUBE É comum vermos esse substantivo empregado sempre como sobrecomum, isto é, só no gênero feminino para se referir aos dois sexos. Errado. Até obras de estudos linguísticos ou literários adotam essa forma errada do feminino para designar homem ou mulher. Uma frase de uma questão de prova, por exemplo, como “qual é a personagem principal do romance?” significa que o professor elaborador da questão deseja que o aluno informe a personagem “mulher”, e não um personagem “homem”. A afirmação de que esse substantivo é só feminino é falsa, enganosa, pode até induzir o aluno a erro em questões de avaliações escolares. b) Substantivo sobrecomum – Possui um só gênero para os dois sexos. Atenção: o gênero é um só. Há substantivo só masculino e substantivo só feminino. Exemplos: • a criança (feminino): designa o ser do sexo masculino e o do feminino. • a testemunha (feminino): designa um homem ou uma mulher. • o cônjuge (masculino): designa o homem ou a mulher, no casamento. • o monstro (masculino): designa tanto um ser do sexo ou do gênero masculino quanto do feminino. Veja que não existe a forma feminina “monstra”!! c) Substantivo epiceno – É como o sobrecomum, mas designa apenas animais. Possui, portanto, um só gênero para os dois sexos. UNIUBE 15 Exemplos: • a onça (feminino): designa o macho e a fêmea. • a águia (feminino): designa o macho e a fêmea. • a cobra (feminino): designa o macho e a fêmea. • o jacaré (masculino): designa o macho e a fêmea. • o crocodilo (masculino): designa o macho e a fêmea. • o tatu (masculino): designa o macho e a fêmea. O gênero desses substantivos é determinado pelas palavras “macho” ou “fêmea”: o jacaré macho/o jacaré fêmea; a cobra macho/a cobra fêmea. d) Substantivo heterônimo – É um substantivo de um só gênero para designar o sexo masculino, e “outro” substantivo para designar o sexo feminino. Exemplos: • o homem /a mulher • o bode / a cabra • o cavalo / a égua • o carneiro / a ovelha • o boi / a vaca • o burro / a mula Outras particularidades Além das particularidades apresentadas, ocorrem outras situações de feminino dos substantivos, consideradas irregulares ou extravagantes. Exemplos: AMPLIANDO O CONHECIMENTO 16 UNIUBE • o poeta / a poetisa • o maestro / a maestrina • o imperador / a imperatriz • o embaixador / a embaixatriz (mulher do embaixador), a embaixadora (a titular da função) • o perdigão / a perdiz • o sacerdote / a sacerdotisa • o profeta / a profetisa • o bispo / a episcopisa • o papa / a papisa • o frade / a freira • o frei / a sóror • o marajá / a marani • o judeu / a judia Note que é errada a flexão do feminino “bispa”, muito frequente nos dias atuais devido à existência de mulheres que detêm esse título em certas religiões. • Número Os números são o singular e o plural. Além das situações regulares de formação do plural com a desinência -s, como em livro / livros, casa / casas, merece destaque a flexão de plural dos substantivos compostos, de largo emprego na língua oral e na escrita. a) Plural de substantivos compostos 1 – Substantivos compostos constituídos de dois substantivos, de um substantivo e de um adjetivo, de um adjetivo e de um substantivo, ligados por hífen: ambos os elementos flexionam-se no plural. UNIUBE 17 • couves-flores (substantivo + substantivo) • cirurgiões-dentistas (substantivo + substantivo) • amores-perfeitos (substantivo + adjetivo) • guardas-noturnos (substantivo + adjetivo) • guardas-civis (substantivo + adjetivo) • altos-relevos (adjetivo + substantivo) • terças-feiras (numeral adjetivo + substantivo) No caso de substantivo composto de dois substantivos em que o segundo determina o primeiro com ideia de finalidade ou semelhança, a tradição gramatical determina que somente o primeiro flexione-se no plural, embora livros didáticos e certas gramáticas permitam a flexão de ambos. Mas a flexão só do primeiro é a mais ortodoxa, sendo, portanto, a preferível. bananas-maçã escolas-modelo mangas-espada navios-escola palavras-chave pombos-correio 2 – Substantivos constituídos de elementos não ligados por hífen: só o segundo flexiona no plural. claraboias girassóis pontapés vaivéns 3 – Substantivos constituídos de verbo e substantivo: só o segundo elemento flexiona no plural. beija-flores furta-cores guarda-chuvas guarda-roupas pega-ladrões 18 UNIUBE 4 – Substantivos constituídos de dois substantivos ligados por preposição: só o primeiro flexiona no plural. pés de moleque pães de ló fogões a gás mulas sem cabeça Observação! Às vezes, a preposição é subentendida, ou ausente: horas-aula (de aula) mestres-escola (de escola) 5 – Substantivos constituídos de dois verbos antônimos, ou de verbo e advérbio, ligados por hífen: ambos permanecem invariáveis, ficando a noção de plural a cargo dos elementos determinantes desses substantivos. os bota-fora os leva-e-traz os perde-ganha os pisa-mansinho 6 – Substantivos constituídos de palavras onomatopaicas: só o último elemento flexiona no plural. reco-recos tico-ticos tique-taques bem-te-vis 7 – Substantivos compostos cujo primeiro elemento é constituído de palavra invariável: só o segundo elemento flexiona no plural. ex-diretores sempre-vivas vice-presidentes alto-falantes (note que “alto”, neste caso, é advérbio, palavra invariável) abaixo-assinados UNIUBE 19 b) Plural dos diminutivos Os substantivos no grau diminutivo sofrem flexão de plural de modo peculiar. A flexão apresenta as seguintes situações: • Ocorre apenas no final da palavra, como nas formas primitivas. Exemplos: ÁRVORE: árvore-s > arvore-zinha-s PÉ: pé-s > pe-zinho-s • Ocorre em duas posições da palavra: no meio e no final. Para os substantivos terminados em -r, a letra -e da desinência -es fica após a palavra primitiva, antes do sufixo, e a letra -s vai para o final da palavra, depois do sufixo. TRATOR: trator-es > trator-e-zinho-s MOTOR: motor-es > motor-e-zinho-s MULHER: mulher-es > mulher-e-zinha-s BAR: bar-es > bar-e-zinho-s Prefixo e sufixo são morfemas que se juntam às palavras a fim de formar novas palavras. Ambos são, na verdade, afixos. O nome prefixo ou sufixo é dado dependendo do lugar que ocupam na palavra. Ou seja, se estiver antes do radical, é prefixo, mas se estiverdepois do radical, é sufixo. Morfema: menor unidade de uma palavra que possui significado. EXPLICANDO MELHOR 20 UNIUBE Se a letra S for parte da palavra primitiva no singular, e não a desinência de plural, permanece essa letra S no seu lugar próprio do radical primitivo, e não é substituída pela letra Z, consoante de ligação. Exemplos: pires > pires-inho, pires-inho-s lápis > lapis-inho, lapis-inho-s Note que, aqui, não ocorre a consoante de ligação -z- antes do sufixo -inho. A letra S de “pires” e de “lápis” é parte da palavra primitiva, e não desinência de plural. Para os substantivos terminados em -ão, o processo é o mesmo: apenas a letra -s vai para o final da palavra, depois do sufixo. As letras dos ditongos -ão, -ãe, -õe permanecem na ou após a palavra primitiva, antes do sufixo. Irmão: irmão-s > irmão-zinho-s pão: pã-es > pã-e-zinho-s coração: coraç-ões > coraç-õe-zinho-s limão: lim-ões > lim-õe-zinho-s Para os substantivos terminados em -L, a letra -i da desinência -is fica após a palavra primitiva, antes do sufixo, e a letra -s vai para o final da palavra, depois do sufixo. jornal: jorna-is > jorna-i-zinho-s móvel: móve-is > move-i-zinho-s papel: papé-is > pape-i-zinho-s UNIUBE 21 1.3.1.2 Adjetivo Adjetivo é a palavra que indica qualidade, estado, característica, aspecto, modo de ser do substantivo. Sua acepção primordial é de modificação do substantivo. Exemplos: livro novo casa nova cidade grande menina bonita carro branco rua estreita conta errada Sintaticamente, o adjetivo é o determinante do substantivo e com ele concorda, podendo, portanto, palavras de outras classes gramaticais funcionarem como adjetivo. Exemplos: dois livros (numeral) duas revistas (numeral) uns livros (artigo indefinido) umas revistas (artigo indefinido) estes livros (pronome) meus filhos (pronome) 22 UNIUBE Classificação do adjetivo O adjetivo pode ser restritivo ou explicativo. Um caso de uso necessário do adjetivo explicativo pode ser notado no conhecido provérbio água mole em pedra dura tanto bate até que fura. ADJETIVO Restritivo Explicativo RESTRITIVO EXPLICATIVO • indica aspecto acidental do substantivo. É o adjetivo propriamente dito, no uso diário da linguagem, como nos exemplos citados no conceito de adjetivo. • Ex.: livro novo, casa nova, cidade grande, menina bonita, carro branco. • indica aspecto essencial ou inerente ao substantivo. Seu uso é restrito, portanto, aos casos de necessidade de clareza na comunicação, constituindo uma forma de pleonasmo: • Ex.: gelo frio, fogo quente, água mole, pedra dura. UNIUBE 23 Flexão do adjetivo O adjetivo, assim como o substantivo, apresenta flexão em gênero e número. • Gênero Na situação de noção de gênero, o adjetivo pode ser biforme e uniforme. Biforme: o feminino é formado pelo acréscimo de desinências, especialmente e com maior índice de ocorrência a desinência -a. novo(a) / casa nova bonito(a) / menina bonita limpo(a) / roupa limpa hospitaleiro(a) / cidade hospitaleira Uniforme: o adjetivo permanece invariável em gênero. menina inteligente mulher elegante pessoa feliz atitude louvável • Número Nas situações de flexão de número, merece destaque o plural dos adjetivos compostos nos seguintes principais casos: 1 – Adjetivos compostos formados de dois ou mais adjetivos: só o último elemento flexiona no plural. camisas amarelo-claras clínicas médico-cirúrgicas 24 UNIUBE nações latino-americanas conferências luso-brasileiras conferências luso-franco-brasileiras reações físico-químicas Note que, neste caso, a flexão só do último elemento é dupla, isto é, flexão de número e de gênero. Em “conferências luso-franco-brasileiras”, só o elemento “brasileiras” é que se flexiona no plural e no feminino, ficando os anteriores na forma invariável masculina. 2 – Adjetivos compostos constituídos de adjetivo e substantivo: ambos os elementos permanecem invariáveis. camisas verde-água saias vermelho-sangue blusas amarelo-limão paredes azul-piscina Graus do adjetivo Um aspecto das noções gramaticais do adjetivo são os graus, conhecidos como comparativo e superlativo, merecendo destaque, neste estudo, o grau superlativo e suas subdivisões. a) Superlativo relativo De superioridade: o mais...de. Ex.: João é o mais estudioso dos alunos. De inferioridade: o menos...de. Ex.: João é o menos estudioso dos alunos. UNIUBE 25 b) Superlativo absoluto Analítico: forma-se com o acréscimo de palavras com o sentido de intensidade: muito, excessivamente. Aquele prédio é muito alto. O aluno foi excessivamente elogiado. Aquele homem é muito pobre. O exercício é muito fácil. Suas palavras foram muito doces. Sintético: forma-se com o acréscimo dos sufixos -íssimo, -rimo, -imo. Aquele prédio é altíssimo. O aluno foi elogiadíssimo. Aquele homem é paupérrimo. O exercício é facílimo. Suas palavras foram dulcíssimas. O grau superlativo absoluto sintético constitui um dos aspectos de domínio da língua culta ou da norma padrão em português, pois grande parte dos adjetivos nesse grau são formados a partir do radical em latim, e não em português. São os chamados superlativos absolutos sintéticos eruditos. Essa situação é traço apenas da variante culta da língua. Sua modificação ou adulteração decorre de ignorância do usuário da língua quanto à norma padrão de uso do idioma. É o que ocorre com alguns adjetivos, especialmente com o superlativo do adjetivo magro: macérrimo. Na sociedade, é comum ouvir-se a palavra “magérrimo”, pronunciada por pessoas cultas, como apresentadores e locutores de televisão, atores, professores universitários, palestrantes. Pessoas mais simples, por sua vez, ouvem os doutoress pronunciarem essa forma errada e a adotam como correta. 26 UNIUBE A forma erudita provém do adjetivo magro em latim: macer. Com o acréscimo do sufixo formador do grau superlativo -rimo, formou-se o adjetivo macérrimo. A pronúncia “magérrimo” não se justifica por se tratar de palavra erudita, e não vulgar. Portanto, se se pretende usar o superlativo absoluto sintético do adjetivo “magro” na forma vulgar, deve-se falar magríssimo, forma correta, e não a forma ridícula e errada “magérrimo”. São, portanto, dois superlativos, um vulgar, magríssimo, e outro erudito, macérrimo. A forma “magérrimo” simplesmente não existe, pois não deriva nem do adjetivo “magro”, em português, nem do adjetivo “macer”, em latim. Então, “magérrimo” não provém de radical primitivo nenhum, nem do português, nem do latim. A título de informação, mencionamos os seguintes adjetivos no grau superlativo absoluto sintético erudito: agudo: acutíssimo amargo: amaríssimo áspero: aspérrimo benéfico: beneficentíssimo benévolo: benevolentíssimo célebre: celebérrimo comum: comuníssimo cristão: cristianíssimo cruel: crudelíssimo doce: dulcíssimo fácil: facílimo fiel: fidelíssimo humilde: humílimo incrível: incredibilíssimo íntegro: integérrimo UNIUBE 27 livre: libérrimo magro: macérrimo magnífico: magnificentíssimo maléfico: maleficentíssimo malévolo: malevolentíssimo negro: nigérrimo nobre: nobilíssimo pessoal: personalíssimo pobre: paupérrimo sábio: sapientíssimo sagrado: sacratíssimo 1.3.1.3 Artigo Esta classe é mencionada neste estudo apenas como informação, pois seu emprego é natural e espontâneo na sociedade falante, restando raros casos de emprego estilístico ou regional. Sua característica principal é a de acompanhar e preceder o substantivo: AR TI G O S DEFINIDOS INDEFINIDOS O, A, OS, AS. UM, UMA, UNS, UMAS. o livro, um livro, a casa, uma casa, os livros, umas casas O artigo classifica-se em: 28 UNIUBE 1.3.1.4 Numeral Numeral é a palavra da língua que exprime a ideia ou noção de número. Não se trata dos símbolos aritméticos ou matemáticos. Trata-se da palavra que nomeia os números. O numeral classifica-se em: cardinal, ordinal, multiplicativo e fracionário. No emprego dos numerais na língua falada, requer maioratenção a denominação dos numerais ordinais, bastante “judiados” pelas pessoas que falam em público, tais como locutores de jornais e de telejornais, apresentadores de programas de televisão, palestrantes, oradores. A seguir, apresentaremos apenas os numerais cardinais seguidos das respectivas denominações como numerais ordinais, nas dezenas e nas centenas. Cardinais Ordinais Dezenas dez décimo vinte vigésimo trinta trigésimo quarenta quadragésimo cinquenta quinquagésimo sessenta sexagésimo setenta setuagésimo ou septuagésimo oitenta octogésimo (Atenção: octogésimo, e não “octagésimo”) noventa nonagésimo CARDINAIS exprimem os números básicos. exprimem ideia de ordem em série. exprimem ideia de número multiplicado. exprimem ideia de número dividido um, dois, doze, oitenta, duzentos, quatrocentos. primeiro, segundo, décimo segundo, octogésimo. dobro, triplo, quádruplo, quíntuplo. meio, um terço, um quinto, um oitavo. ORDINAIS MULTIPLICATIVOS FRACIONÁRIOS UNIUBE 29 Centenas cem centésimo duzentos ducentésimo (e não “duocentésimo”) trezentos trecentésimo quatrocentos quadringentésimo quinhentos quingentésimo seiscentos sexcentésimo ou seiscentésimo setecentos septingentésimo oitocentos octingentésimo novecentos nongentésimo ou noningentésimo 1.3.1.5 Pronome Você já estudou as situações morfológicas e sintáticas do adjetivo, nas quais consta a classe gramatical do pronome. A menção do pronome na classe do adjetivo deve-se a uma de suas funções sintáticas análoga à do adjetivo, que é a de modificador do nome substantivo. No presente capítulo, apresenta-se a classe do pronome em sua estrutura mórfica com as respectivas classificações e subdivisões, bem como algumas situações sintáticas de funcionamento do pronome. Etimologicamente, pronome é uma palavra que ocorre “em lugar do nome”. Por extensão, pronome é a palavra que substitui o nome substantivo ou a ele se refere como determinante na estrutura sintática da frase. Essa dupla função na frase determina o conceito de pronomes substantivos e pronomes adjetivos para todos os tipos de pronomes. Assim, temos: Pronomes substantivos: substituem o nome substantivo, funcionando como núcleo de um termo sintático. 30 UNIUBE Eu cheguei. (Pronome pessoal sujeito da oração) Vou comprá-lo. (Pronome pessoal objeto direto da oração) Não lhe direi a verdade. (Pronome pessoal objeto indireto) Isto é muito bom. (Pronome demonstrativo sujeito) Tudo está consumado. (Pronome indefinido sujeito) Ninguém me viu. (Pronome indefinido sujeito – ninguém; pronome pessoal objeto direto – me) Pronomes adjetivos: determinam o nome substantivo, exercendo a função sintática própria do adjetivo, como adjunto adnominal. Meu filho viajou. (Pronome possessivo adjunto adnominal do sujeito) Quero ver minha filha. (Pronome possessivo adjunto adnominal do objeto direto) Esse livro é meu. (Pronome demonstrativo adjunto adnominal do sujeito) Quero ler essa revista. (Pronome demonstrativo adjunto adnominal do objeto direto) Comprei outro carro. (Pronome indefinido adjunto adnominal do objeto direto) Outras denúncias foram apresentadas. (Pronome indefinido adjunto adnominal do sujeito) Classificações do pronome Morfologicamente, o pronome apresenta as seguintes classificações: pessoal, possessivo, demonstrativo, indefinido e relativo. Num caso à parte, cita-se também o pronome interrogativo. a) Pronomes pessoais Como o nome sugere, designam as pessoas do discurso. Subdividem-se em pronomes pessoais do caso reto e do caso oblíquo. UNIUBE 31 • Caso reto: exercem a função sintática de sujeito da oração. Singular Plural 1.ª pessoa: eu nós 2.ª pessoa: tu vós 3.ª pessoa: ele / ela eles / elas • Caso oblíquo: exercem a função sintática de complementos da oração, distribuídos em objeto direto, objeto indireto e complemento nominal. Alguns são de intensidade átona, presos ao verbo, e outros possuem intensidade tônica, ocorrendo precedidos de preposição. Singular Plural 1a pessoa: me, mim, comigo nos; conosco 2a pessoa: te, ti; contigo vos; convosco 3a pessoa: se, si; consigo; o, a; lhe se, si; consigo; os, as; lhes • Caso oblíquo: exercem a função sintática de complementos da oração, distribuídos em objeto direto, objeto indireto e complemento nominal. Alguns são de intensidade átona, presos ao verbo, e outros possuem intensidade tônica, ocorrendo precedidos de preposição. Singular Plural 1.ª pessoa: me, mim, comigo nos; conosco 2.ª pessoa: te, ti; contigo vos; convosco 3.ª pessoa: se, si; consigo; o, a; lhe se, si; consigo; os, as; lhes Particularidades de alguns pronomes Os pronomes pessoais oblíquos de terceira pessoa O, A, OS, AS, que exercem apenas a função sintática de objeto direto, sofrem as seguintes transformações, com a mesma função sintática de objeto direto: 32 UNIUBE • LO, LA, LOS, LAS: depois de formas verbais terminadas nas letras R, S ou Z, letras que se eliminam. Quero comprá-lo (compraR-O). Compramo-lo (compramoS-O). Fê-lo (feZ-O). Fê-las (feZ-AS) • NO, NA, NOS, NAS: depois de formas verbais terminadas em M ou em ditongo nasal ÃO, ÕE, letras que permanecem. Fizeram-no (fizeraM-O) Fizeram-nas (fizeraM-AS) Dão-no (dÃO-O). Propõe-na (propÕE-A). Quanto à relação com o sujeito e com o objeto direto e objeto indireto, os pronomes oblíquos classificam-se em reflexivos e não reflexivos. • Pronomes reflexivos: o complemento é da mesma pessoa do sujeito. Este pratica a ação em si mesmo. Exemplos: Eu me feri. Tu te feriste. Ele se feriu. Nós nos ferimos. Vós vos feristes. Eles se feriram. • Pronomes não reflexivos: O complemento é de pessoa diferente da pessoa do sujeito. Este pratica a ação em outro ser, e não nele mesmo. UNIUBE 33 Exemplos: Ele me feriu. Eu te feri. Ele nos feriu. Eu os feri. Nós o ferimos. Eu vos feri. Alguns pronomes pessoais do caso oblíquo são só reflexivos. Ele se feriu. Ele ficou fora de si. Ele fala consigo mesmo. Outros são só não reflexivos. Eu o feri. Eu a conheço. Eu falo com ele. Sintaticamente, alguns pronomes funcionam como objeto direto e como objeto indireto: Ele me viu. (objeto direto) Ele me entregou o dinheiro. (objeto indireto) Eu te conheço. (objeto direto) Eu te entreguei o dinheiro. (objeto indireto) Outros funcionam ou só como objeto direto, ou só como objeto indireto. 34 UNIUBE a) Só objeto direto: o, a, os, as e suas transformações. Eu o conheço. Há tempo não a vejo. Quero encontrá-lo. Encontraram-no. b) Só objeto indireto: Vou entregar-lhe o dinheiro. Eu lhe mostrei o erro. Não lhes devo explicação. Vou dizer-lhes a verdade. Constitui erro, desvio da norma culta, dizer “Eu lhe conheço”, “Há tempo não lhe vejo”, pois o pronome lhe não funciona como objeto direto, e os verbos “conhecer” e “ver” são transitivos diretos. b) Pronomes possessivos Indicam as pessoas do discurso a quem uma coisa pertence, isto é, ideia de posse. Daí o nome “possessivo”. Esse conceito determina as seguintes situações para as noções de posse: Um só possuidor e uma só coisa possuída, ou singular do possuidor e singular da coisa possuída: 1a pessoa: meu / minha 2a pessoa: teu / tua 3a pessoa: seu / sua UNIUBE 35 Exemplo: Meu livro sumiu (um só livro pertencente a um só possuidor). Um só possuidor e mais de uma coisa possuída, ou singular do possuidor e plural da coisa possuída: 1a pessoa: meus / minhas 2a pessoa: teus / tuas 3a pessoa: seus / suas Exemplo: Meus livros sumiram (mais de um livro pertencente a um só possuidor). Mais de um possuidor e uma só coisa possuída, ou plural do possuidor e singular da coisa possuída: 1a pessoa: nosso / nossa 2a pessoa: vosso / vossa 3a pessoa: seu / sua Exemplo: Nosso livro sumiu (um só livro pertencente a mais de um possuidor). Mais de um possuidor e mais de uma coisa possuída, ou plural do possuidor e plural da coisa possuída: 1a pessoa: nossos / nossas 2a pessoa: vossos / vossas 3a pessoa:seus / suas Exemplo: Nossos livros sumiram (mais de um livro pertencente a mais de um possuidor). 36 UNIUBE c) Pronomes demonstrativos Indicam o lugar em que uma pessoa ou coisa se encontra ou o tempo em que um fato ocorre, em relação às pessoas do discurso. Perto da 1a pessoa: este, estes / esta, estas / isto Perto da 2a pessoa: esse, esses / essa, essas / isso Afastado da 1a e da 2a pessoa: aquele, aqueles / aquela, aquelas / aquilo Os pronomes isto, isso e aquilo não possuem flexão de gênero nem de número. Alguns exemplos: Este relógio que está comigo é novo (relógio perto da 1a pessoa – a que fala). Esse relógio é novo? (relógio perto da 2a pessoa – com quem se fala). Aquele relógio é novo (relógio distante da pessoa que fala e da pessoa com quem se fala). Nas indicações de tempo, as relações são: Tempo simultâneo ao momento da fala: este, estes / esta, estas. Tempo não simultâneo ao momento da fala: esse, esses / essa, essas; ou: aquele, aqueles / aquela, aquelas. Alguns exemplos: Neste ano choveu muito. (no ano em que ocorreu a fala). Esta semana passou muito depressa. (a semana em que ocorreu a fala). Em 1960, completei dez anos. Nesse ano, a cidade de Brasília foi inaugurada. (a fala não ocorreu em 1960). UNIUBE 37 No enunciado acima, pode ser, também, “naquele ano”. Note que os pronomes demonstrativos podem ter a combinação com algumas preposições: DE: deste, desta, dessa, daquele, daquelas. EM: neste, nesta, nessa, naquele, naquelas. d) Pronomes indefinidos Referem-se a pessoas ou coisas de modo vago, impreciso. Morfossintaticamente, são todos da 3.ª pessoa, do singular ou do plural. Alguns se referem a pessoas e a coisas, outros só a pessoas, outros só a coisas. Os principais são: algum, alguns / alguma, algumas / algo nenhum / nenhuma / nada alguém ninguém todo, todos / toda, todas / tudo outro, outros / outra, outras / outrem certo, certa / certos, certas muito, muitos / muita, muitas bastante, bastantes pouco, poucos / pouca, poucas cada / vários qualquer, quaisquer 38 UNIUBE Alguns exemplos: Alguns livros foram destruídos. Tenho muitos amigos e muitas amigas. Tenho bastantes amigos. Certas coisas não devem ser ditas. Os pronomes nada, alguém, ninguém, tudo e cada não possuem fl exão de gênero nem de número. Exemplos: Alguém me chamou? Ninguém me viu. Nada se perde. Tudo lhe agrada. Cada coisa em seu lugar. e) Pronomes relativos Referem-se a termos citados anteriormente. Os principais são: Alguns exemplos: O livro que comprei é bom. O pronome “que” retoma o substantivo “livro”. As pessoas que chegaram estão com fome. O pronome “que” retoma o substantivo “pessoas”. Esse é o autor cujas obras foram premiadas. O pronome “cujas” retoma o substantivo “autor” e indica ideia de posse (obras do autor). QUE QUEM O QUAL A QUAL OS QUAIS AS QUAIS CUJO CUJA CUJOS CUJAS ONDE AONDE QUANTO QUANTA QUANTOS QUANTAS UNIUBE 39 1.3.1.6 Verbo Neste item, é apresentada a estrutura do verbo com os detalhes necessários ao seu estudo e à sua compreensão. Detalhes da estrutura mórfica expõem os elementos constitutivos do verbo, como radical, vogal temática, desinência modo-temporal e desinência número-pessoal. Tais morfemas são expostos na formação dos tempos e modos de verbos regulares e irregulares. Acresce, ainda, a apresentação de quadros de conjugação e formação dos tempos, com as formas primitivas e as derivadas. Classificação dos verbos Quanto à conjugação, os verbos classificam-se em: Regulares são os verbos que não sofrem modificação ou alteração em seu radical ou nas desinências dos verbos considerados modelos ou paradigmas para os demais verbos da mesma conjugação, tradicionalmente assim expostos: 1a conjugação: mand-ar 2a conjugação: vend-er 3a conjugação: part-ir Como exemplo, o radical mand- do verbo “mand-ar” é o mesmo em todas as pessoas de todos os tempos e modos. Assim também as desinências de cada tempo e modo são as mesmas para todos os verbos da mesma classe. REGULARES IRREGULARES ANÔMALOS DEFECTIVOS ABUNDANTES AUXILIARES 40 UNIUBE As desinências e a vogal temática, para o tempo presente do modo indicativo dos verbos da 1a conjugação, regulares, são: -o -as -a -amos -ais -am Isso significa que qualquer verbo da 1.ª conjugação se forma, no tempo presente do modo indicativo, com o acréscimo dessas terminações (vogal temática e desinências) aos respectivos radicais. Exemplos: Eu mand- / fal- / cant- / estud- o Tu mand- / fal- / cant- / estud- as Ele mand- / fal- / cant- / estud- a Nós mand- / fal- / cant- / estud- amos Vós mand- / fal- / cant- / estud- ais Eles mand- / fal- / cant- / estud- am Irregulares são os verbos que sofrem alteração em seu radical ou nas desinências dos verbos considerados modelos ou paradigmas da respectiva conjugação a que pertencem. Assim, por exemplo, o verbo faz-er, cujo radical original é faz-, possui, nas flexões de pessoas, números, tempos e modos, as seguintes alterações do radical, constituindo, portanto, mais de um radical: faz-: faz-emos, faz-em faç-: faç-o, faç-am UNIUBE 41 fiz- :fiz, fiz-emos fez-: fez far-: far-ei, far-ia feit-: feito A ocorrência de verbos irregulares é vasta em português. O conheci- mento de cada um deles, com as devidas variações de radical e de desinências, é necessário e importante para o bom desempenho da língua no nível culto ou norma padrão. Alguns exemplos de verbos irregulares, apresentados com a separa- ção dos diferentes radicais: diz-er / dig-o / diss-e traz-er / trag-o / troux-e da-r / de-r te-r / tenh-o / tiv-e ve-r / vi-ram vi-r / vie-ram pô-r / ponh-o / pus-eram cab-er / caib-o / coub-e sab-er / saib-a / soub-e • Anômalos são os verbos irregulares que se formaram com radicais de verbos diferentes na sua etimologia latina. São apenas os verbos ser e ir. se-r / se-rei; e-ra / e-ram; fo-r / fo-ram i-r / i-rei; va-mos / va-is; fo-r / fo-ram • Defectivos são os verbos que não possuem todas as formas ou não se conjugam completamente. Subdividem-se em defectivos impessoais e defectivos pessoais. 42 UNIUBE • Defectivos impessoais: designam fenômenos da natureza, como chover, ventar, trovejar. Tais verbos empregam-se apenas na 3a pessoa do singular dos tempos e modos ou nas formas nominais. São denominados impessoais porque não possuem sujeito, sendo as orações constituídas por eles analisadas como orações sem sujeito. São também impessoais, em português, o verbo haver, no sentido de “existir” ou de tempo decorrido, e o verbo fazer, no sentido de tempo decorrido. Assim, pois, são empregados apenas na 3a pessoa do singular. Exemplos: Houve reclamações. (e não “houveram”) Havia crianças na rua. (e não “haviam”) Caso haja vagas,... (e não “hajam”) Se houver dúvidas,... (e não “houverem”) Faz dez anos que ele se formou. (e não “Fazem”) Ele se formou faz dez anos. (e não “fazem”) Em locuções verbais com verbo impessoal, os verbos auxiliares também se tornam impessoais, não sofrendo, portanto, flexão de plural. Exemplos: Vai haver reclamações. (e não “Vão”) Pode haver muitos candidatos. (e não “Podem”) Deve haver vagas. (e não “Devem”) Vai fazer dez anos que ele se formou. (e não “Vão”) Está fazendo dois meses que ele morreu. (e não “Estão”) AMPLIANDO O CONHECIMENTO UNIUBE 43 • Defectivos pessoais: são verbos que possuem sujeito, mas não se conjugam em todas as formas, faltando algumas pessoas em alguns tempos. Exemplo: a) abolir – No presente do indicativo não possui a 1a pessoa do singular, ficando assim sua conjugação nesse tempo e modo: Eu .............. Tu aboles Ele abole Nós abolimos Vós abolis Eles abolem Por não possuir a 1a pessoa do singular, não possui, também, nenhuma das seis pessoas do tempo presente do modo subjuntivo, que é uma forma derivada daquela pessoa do presente do indicativo. Não existe, portanto, uma forma do verbo “abolir” para uma frase como esta, por exemplo:Ex.: O reitor quer que eu .................. este artigo do regimento. Quando ocorre semelhante situação, supre-se a defectibilidade do verbo empregando-se um verbo sinônimo ou de significado análogo ou equivalente. Exemplo: O reitor quer que eu [elimine, retire] este artigo do regimento. São também defectivos, entre outros, os verbos reaver, precaver-se, colorir, falir, adequar. 44 UNIUBE Abundantes são os verbos que possuem mais de uma forma para a mesma estrutura número-pessoal ou modo-temporal, ou de forma nominal, geralmente do particípio. Neste caso específico do particípio, ocorre dupla denominação: particípio regular e particípio irregular. a) Particípio regular: formado com as vogais temáticas -a, para os verbos da 1a conjugação, e -i, para os verbos da 2a e da 3a conjugação, e da desinência -do, acrescidas ao radical do respectivo verbo, sempre regular. b) Particípio irregular: formado por um radical regular ou irregular de um verbo, sem a vogal temática e com a desinência -o. Alguns exemplos de particípio abundante: REGULAR IRREGULAR matar matado morto aceitar aceitado aceito imprimir imprimido impresso pagar pagado pago ganhar ganhado ganho gastar gastado gasto eleger elegido eleito entregar entregado entregue O emprego de uma ou de outra forma dos particípios abundantes se faz da seguinte maneira: Particípio regular: com os verbos auxiliares ter e haver. Exemplos: Eu tinha aceitado o convite. Eu havia aceitado o convite. Ele tinha imprimido o texto. UNIUBE 45 Ele havia imprimido o texto. O povo tinha elegido o deputado. O povo havia elegido o deputado. Particípio irregular: com os demais verbos auxiliares, como ser, estar, ficar, continuar, parecer. Exemplos: O convite foi aceito. O convite está aceito. O convite ficou aceito. O convite continua aceito. O convite parece aceito. O texto foi impresso. O texto está impresso. O texto ficou impresso. O deputado foi eleito. O deputado está eleito. O deputado ficou eleito. Note que existem verbos que não são abundantes no particípio, sendo alguns só regulares, e outros só irregulares. Alguns verbos de particípio só regular: chegado (chegar) – não existe o particípio “chego”. falado (falar) – não existe o particípio “falo”. trazido (trazer) – não existe o particípio “trago”. As formas irregulares desses verbos são largamente empregadas por pessoas cultas, instruídas, como se fossem corretas, havendo pessoas que até “corrigem” as que falam corretamente. São, portanto, erradas as seguintes expressões: 46 UNIUBE Fui à casa do Alfredo, mas ele ainda não tinha chego. (correto: chegado) O deputado tinha falo a verdade. (correto: falado) O funcionário não tinha trago o dinheiro. (correto: trazido) Alguns verbos de particípio só irregular: coberto, descoberto (cobrir, descobrir) dito (dizer) escrito (escrever) feito (fazer) visto (ver) • Auxiliares são os verbos que servem para a formação e conjugação de tempos compostos ou locuções verbais. Os principais verbos auxiliares são: ser, estar, ter, haver. Como exemplos de emprego de verbos auxiliares, citam-se os mencionados no emprego dos particípios regulares e irregulares dos verbos abundantes, no item anterior. Conjugações Em português, conforme exposto no item da classificação dos verbos, existem três conjugações, identificadas pela vogal temática que, geralmente, antecede a desinência -r do infinitivo. As denominações são feitas pelos numerais ordinais primeira, segunda e terceira. Primeira conjugação: -ar (mandar, falar, cantar) Segunda conjugação: -er (vender, receber, escrever) Terceira conjugação: -ir (partir, dividir, repetir) UNIUBE 47 O verbo pôr não constitui conjugação à parte. Pertence à segunda conjugação, conforme se aduz das pessoas em que a vogal temática -E está presente: pus-E-r pus-E-sse 1.3.2 Palavras invariáveis 1.3.2.1 Advérbio Advérbio é a palavra invariável que modifica o verbo, o adjetivo e outro advérbio, indicando-lhes uma circunstância. Sintaticamente, o advérbio é o termo que determina uma dessas três classes de palavras. Classificação do advérbio Morfologicamente, o advérbio classifica-se nas seguintes circunstâncias: De lugar: aqui, ali, lá, longe. De tempo: agora, já, cedo, tarde, ontem, hoje, nunca. De modo: bem, mal, melhor, pior, claramente, calmamente. Advérbio modifica verbo: Ele estuda muito. Elas estudam muito. Advérbio modifica adjetivo: Ele é muito alto. Elas são muito altas. Advérbio modifica outro advérbio: Ele mora muito longe. Elas moram muito longe. 48 UNIUBE De intensidade: muito, bastante, pouco, mais, menos, tão. De dúvida: talvez, porventura, acaso, quiçá, provavelmente. De afirmação: sim, realmente, perfeitamente, deveras. De negação: não. Locuções adverbiais Denomina-se locução adverbial o conjunto de duas ou mais palavras que equivalem a um advérbio. Neste caso, classifica-se e analisa-se a expressão toda, e não cada uma das palavras que constituem a locução. Algumas locuções adverbiais: Algumas locuções adverbiais podem ter os advérbios delas derivados e a elas equivalentes: em breve: brevemente às pressas: apressadamente às claras: claramente de propósito: propositalmente 1.3.2.2 Preposição Preposição é a palavra invariável que liga dois termos entre si, dentro da oração, estabelecendo entre esses termos uma relação de complemento ou de subordinação sintática e semântica. às vezes de cor às claras de vez em quando às ocultas pouco a pouco às mil maravilhas em breve às pressas de propósito UNIUBE 49 Exemplos: Eu gosto de doce (relação de complemento do verbo). Ele confia em Deus (relação de complemento do verbo). Comprei um anel de ouro (noção de matéria, determinante do substantivo “anel”). Trabalhamos para viver (relação de finalidade ligada ao verbo). Principais preposições: de, em, para, por, com, sem, contra, sobre, sob, entre, desde, ante, antes, após. Combinação Morfologicamente, algumas preposições podem combinar-se com palavras de outra classe gramatical, como os artigos e alguns pronomes, situação denominada combinação. Exemplos: de: do, da, dos, das (combinação com os artigos definidos), deste, desta, destes, destas (combinação com os pronomes demonstrativos), dele, dela, deles, delas (combinação com pronomes pessoais), em: no, na, nos nas (combinação com os artigos definidos), num, numa, nuns, numas (combinação com os artigos indefinidos), neste, nesta, nestes, nestas (combinação com pronomes demonstrativos), nele, nela, neles, nelas (combinação com pronomes pessoais), noutro, noutra, noutros, noutras (combinação com pronomes indefinidos). por: pelo, pela, pelos, pelas (combinação com os artigos definidos). 50 UNIUBE Locuções prepositivas Denomina-se locução prepositiva o conjunto de duas ou mais palavras que equivalem a uma preposição. Algumas locuções prepositivas: abaixo de, acima de, acerca de, a fim de, além de, a respeito de, na conta de, ao redor de, a par de, apesar de, depois de, diante de, em torno de, em vez de, por causa de, através de, junto a, por detrás de, para com. Nota: as locuções prepositivas terminam sempre por uma preposição. 1.3.2.3 Conjunção Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações entre si, dentro do período, estabelecendo entre essas orações relações de coordenação e de subordinação. Daí sua divisão em conjunções coordenativas e conjunções subordinativas. As conjunções são palavras da língua que têm como função ligar orações ou termos de mesmo valor gramatical, por exemplo: • Concluiu o relatório, mas não o enviou ao diretor. (conjunção adversativa). • Fez a entrevista e entregou o currículo. (conjunção aditiva). • Deixou de comparecer à reunião, pois estava adoentado. (conjunção explicativa). • Conseguiu vencer as metas da empresa, portanto foi promovido à coordenador. (conjunção conclusiva). • Durante a assembleia, ficou estabelecido aos presentes que, ao final, cada membro vota na primeira opçãoou na segunda, não sendo permitido o voto nulo. (conjunção alternativa). EXEMPLIFICANDO! UNIUBE 51 Conjunções coordenativas Ligam orações coordenadas, isto é, orações que não exercem função sintática em outra oração. Semântica e sintaticamente, possuem as seguintes classificações: a) Aditivas: ligam simplesmente duas orações sem qualquer ideia subsidiária ou secundária. São elas: e, nem. Exemplos: João estuda e trabalha. João não estuda nem trabalha. Constitui desvio da norma culta o emprego do conjunto “e nem” quando empregado como simples adição de orações ou de termos da oração. Exemplos: Não estuda e nem trabalha. (forma errada) Corrija-se: Não estuda nem trabalha. (forma correta) Ele não leu o livro e nem o jornal. (forma errada) Corrija-se: Ele não leu o livro nem o jornal. (forma correta) b) Adversativas: ligam orações com ideia de oposição, advertência, ressalva, entre outras. As principais são: mas, contudo, porém, todavia, no entanto. ALTERNATIVASEXPLICATIVASCONCLUSIVASADVERSATIVASADITIVAS 52 UNIUBE Exemplos: Esse aluno estudou, mas foi reprovado. Você pode sair. Leve, porém, o paletó. Os negócios foram bons, todavia houve alguns prejuízos. Ele recebeu o dinheiro, no entanto as notas eram falsas. Algumas conjunções adversativas podem ocorrer no início, no meio ou no final da oração. Exemplos: No início da oração: Ele estudou, porém foi reprovado. No meio da oração: Ele estudou, foi, porém, reprovado. No final da oração: Ele estudou, foi reprovado, porém. Constitui desvio da norma culta o emprego de mais de uma conjunção adversativa na ligação de duas orações, como em: “Ele estudou, mas porém foi reprovado”. c) Conclusivas: ligam orações com ideia de conclusão. As principais são: logo, portanto, pois (no meio ou no final da oração), por conseguinte, por isso. Exemplos: Esse aluno estudou, portanto será aprovado. Ele não estudou, por isso foi reprovado. Ele foi aprovado em primeiro lugar, é, pois, muito estudioso. UNIUBE 53 d) Explicativas: ligam duas orações de modo que a segunda explique a primeira. As principais são: que, porque, pois (no início da oração), porquanto. Exemplos: Corra, que a polícia está chegando. Ande depressa, meu filho, pois vai chover. Choveu esta noite, porque o chão está molhado. e) Alternativas: ligam dois pensamentos de ocorrência alternada. As principais são: ou (repetida ou não), já...já, ora...ora, quer...quer. Exemplos: (Ou) Você estuda ou vê televisão. Naquela cidade, ora faz frio, ora faz calor. Conjunções subordinativas Ligam orações subordinadas, isto é, orações que exercem função sintática em outra oração, denominada oração principal. Classificam-se em: CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS ADVERBIAIS INTEGRANTES 54 UNIUBE a) Integrantes: ligam orações subordinadas substantivas à oração principal. São elas: que, se. Exemplos: Quero que você viaje hoje mesmo. Não sei se ele vai viajar hoje. b) Adverbiais: ligam orações subordinadas adverbiais à oração principal. Subdividem-se em: • Causais: porque, pois, já que, desde que (com verbo no indicativo), uma vez que (com verbo no indicativo), como (no início do período ou antes da oração principal). Exemplos: Ele não foi pescar porque estava chovendo. Como estava chovendo, ele não foi pescar. Esse menino não vai passear, uma vez que obteve notas muito baixas. Já que você atrasou o pagamento das parcelas, seu contrato foi cancelado. • Condicionais: se, caso, contanto que, desde que (com verbo no subjuntivo e infinitivo), uma vez que (com verbo no subjuntivo). Exemplos: Ela vai pescar se não chover. Caso chova, ela não vai pescar. Uma vez que você obtenha boas notas, eu deixo você passear. Constitui desvio da norma culta o emprego de mais de uma conjunção condicional na ligação de duas orações, como em “Se caso” você vier, traga o dinheiro. UNIUBE 55 Corrija-se: Caso você venha, ... Ou: Se você vier, ... • Concessivas: embora, ainda que, por mais que, conquanto. Exemplos: Embora esteja chovendo, ele vai pescar. Ele não consegue vencer o jogo, por mais que se esforce. Ainda que você implore de joelhos, não lhe perdoarei. • Comparativas: que, do que, como, quanto, assim como. Exemplos: Ele chorou como uma criança. Jorge estuda mais que seu irmão. Jorge estuda tanto quanto seu irmão. • Conformativas: como, conforme, consoante, segundo. Exemplos: Ele agiu como seu pai recomendou. O mecânico trabalhou conforme recomendei. Segundo consta no regimento, a matrícula pode ser cancelada. • Consecutiva: apenas a conjunção que, precedida de palavras de valor intensivo como tão, tal, tamanho, tanto, na oração principal. Exemplos: O orador falou de tal maneira, que comoveu os ouvintes. A moça chorou tanto, que seus olhos ficaram inchados. Ele é tão rico, que comprou uma ilha e um avião. • Temporais: quando, enquanto, antes que, depois que, até que, desde que, sempre que, logo que, assim que. Exemplos: Enquanto o orador falava, muitas pessoas dedilhavam o aparelho celular. Ainda chovia muito quando o avião pousou. Ficarei na sala até que todos os alunos terminem a prova. 56 UNIUBE Desde que ele se casou, nunca mais foi pescar. Depois que os pais saíram, as crianças começaram a algazarra. Assim que os pais saíram, as crianças começaram a algazarra. • Finais: para que, a fim de que, porque. Exemplos: Venha cedo, para que você não fique em pé durante a cerimônia. Estude bastante, a fim de que seja aprovado. • Proporcionais: à proporção que, à medida que, quanto mais... tanto mais, quanto mais...tanto menos, quanto menos...tanto menos, quanto menos...tanto mais. Exemplos: O funcionário ia salvando o texto à medida que o digitava. Quanto mais eu estudo, (tanto) mais aprimoro meus conhecimentos. Locuções conjuntivas Denomina-se locução conjuntiva o conjunto de duas ou mais palavras que equivalem a uma conjunção. Algumas locuções conjuntivas: já que, visto que, desde que, uma vez que, ainda que, por mais que, a menos que, contanto que, à medida que, à proporção que, antes que. Note que algumas conjunções são homônimas, isto é, pertencem a mais de uma classificação. O que as diferencia e identifica é o sentido em cada contexto. UNIUBE 57 Exemplo: desde que: 1 – causal; 2 – condicional; 3 – temporal. como: 1 – causal; 2 – comparativa; 3 – conformativa. 1.3.2.4 Interjeição Interjeição é a palavra invariável que exprime emoção ou sentimento súbito, como alegria, dor, espanto, saudação, chamamento ou vocativo, medo, indignação, advertência, desagrado. Exemplos: admiração ou alegria: ah! oh! oba! viva! animação: eia! avante! dor: ai! ui! espanto ou exclamação: oh! puxa! saudação: oi, olá! salve! viva! chamamento ou vocativo: ó, ô, alô. medo: uh! ui! credo! indignação: fora! morra! abaixo! advertência: cuidado! devagar! desagrado: oh! ora bolas! desejo: oxalá! tomara! silêncio: psiu! silêncio! Locuções interjetivas Denomina-se locução interjetiva o conjunto de duas ou mais palavras que equivalem a uma interjeição. Algumas locuções interjetivas ai de mim! quem me dera! ó de casa, bem feito! muito bem! valha-me Deus! 58 UNIUBE Conclusão1.4 A gramática é um dos pilares de uma língua, pois não existe língua sem gramática. A simples fala de um sertanejo analfabeto possui gramática. Quando um caminhante encontra outro e pergunta “Cê tá bão?”, existe, nessa fala, uma estrutura gramatical: “cê”, para a 3.ª pessoa do singular; “tá”, forma verbal na mesma pessoa para concordar com o sujeito “cê”; “bão”, masculino, para se referir ao sexo masculino do interlocutor. E, na resposta do outro, “tô”, há também uma estrutura gramatical: “tô”, na 1.ª pessoa do singular, para concordar com o sujeito “eu”. Os interlocutores não disseram “cê tô” e “eu tá”. Essas relações entre as palavras constituem a gramática da língua, em qualquer de suas modalidades ou níveis, tanto culta, elevada, quanto coloquial. Estudar gramática é apreender e aprender os elementos constitutivosdo idioma para o bom domínio desse maravilhoso objeto de estudo no campo do conhecimento científico da língua que falamos. Resumo Neste capítulo, você viu alguns tópicos da estrutura da Língua Portuguesa que constituem elementos da gramática descritiva e da gramática normativa. São situações que tornam possível o bom desempenho da língua na modalidade culta, ou na língua padrão. Foram apresentados aspectos ortográficos, morfológicos, sintáticos e semânticos, entre outros, com destaque para o tópico referente às classes de palavras, pois esse conteúdo constitui o seguro alicerce para o bom domínio do idioma. UNIUBE 59 Referências ANDRÉ, Hildebrando Afonso de. Gramática ilustrada da língua portuguesa. São Paulo: Moderna, 1979. AULETE, Caldas. Dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Delta, 1964. BARRETO, Mário. Novos estudos da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Presença, 1980. BECHARA, Evanildo Cavalcante. Moderna gramática portuguesa. São Paulo: Nacional, 1982. . Lições de português pela análise sintática. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1970. . Novo acordo ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. BUENO, Francisco da Silveira. Grande dicionário etimológico-prosódico da língua portuguesa. Santos: Editora Brasília, 1974. COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1976. CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. DUBOIS, Jean et al. Dicionário de linguística. São Paulo: Cultrix, 1978. FERNANDES, Francisco. Dicionário de verbos e regimes. Porto Alegre: Globo,1953. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975. HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 60 UNIUBE LUFT, Celso Pedro. Novo guia ortográfico. Porto Alegre: Globo, 1976. . Moderna gramática brasileira. Porto Alegre: Globo, 1986. SARAIVA, F. R. dos Santos. Novíssimo dicionário latino- português. Rio de Janeiro: Garnier, 2000. SAUTCHUK, Inez. Prática de morfossintaxe: como e por que aprender análise (morfo) sintática. 3. ed. Barueri: Manole, 2018. TORRES, Artur de Almeida. Moderna gramática expositiva da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1973. VOCABULÁRIO Ortográfico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Global, 2009. Introdução Aspectos pragmáticos: usos e normasCapítulo2 A correta expressão do pensamento por meio de linguagem verbal é peculiaridade de uma língua, ou idioma. No nível culto, ou norma padrão, existem estruturas próprias e distintas da simples comunicação coloquial diária. São situações de pronúncia, de escrita ou ortografi a, de fl exão de palavras e, acima de tudo, de signifi cado. A palavra certa para o lugar certo é uma questão de respeito com a identidade daquilo que desejamos expressar. Essa identidade tem a mesma natureza da identidade de uma pessoa, por exemplo, em todas as suas marcas. Se a palavra possui tantas letras, e eu elimino, acrescento ou troco uma letra, eu adulterei a identidade dessa palavra. Ela passa a ser outra palavra, como no caso de um nome próprio de pessoa: se o nome é, por exemplo, Eliana, e eu escrevo ou falo Eliane, deixou de ser a pessoa a quem desejo referir-me. Eu falei ou escrevi o nome errado. É outra pessoa. O mesmo ocorre com a estrutura de uma língua. Se, na escrita, a palavra tem a letra “S”, e eu grafo “Z”, deixou de ser o termo que eu desejava expressar. Se a forma verbal se refere a um sujeito de determinada pessoa e número, e eu expresso essa 62 UNIUBE Neste capítulo, serão apresentadas situações práticas de emprego correto de diversos aspectos da língua, tanto no campo da ortografia quanto da morfologia, da sintaxe e da semântica, entre outros. O leme deste tópico é a norma padrão, ou nível culto da Língua Portuguesa. Isto é: a forma correta da palavra, da expressão, da frase, dos termos estruturais da língua. A falta de estudo ou o “esquecimento” do que foi aprendido no passado são os principais culpados dos desvios ou erros praticados por pessoas de certa cultura intelectual em suas falas ou em seus escritos. Muitas e muitas vezes são erros cometidos por professores, escritores, palestrantes, ou por qualquer pessoa que, por ofício, fala em público ou ao público. O descuido e o hábito sedimentado para a expressão errada fazem a pessoa pensar que o errado é certo, e esse erro se alastra e se torna uma espécie de paradigma para outras pessoas menos instruídas ou menos escolarizadas. A quantidade desses erros ou desvios é enorme. Aqui serão expostos apenas alguns fatos dos mais frequentes e geralmente apresentados em gramáticas, livros didáticos ou simples manuais de boa linguagem, para estudiosos ou autodidatas. forma em outra pessoa ou em outro número, deixou de ser a expressão pretendida por mim, o que “autoriza”, de certa forma, o interlocutor a entender de maneira diferente a minha ideia ou o meu pensamento. UNIUBE 63 Ao término deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: • explicar algumas normas de pontuação, acentuação gráfica e ortografia; • realizar a forma correta da pronúncia e da escrita de palavras e expressões; • mostrar a relação entre morfologia e sintaxe; • explicar as variantes ortográficas e semânticas presentes nas palavras. Objetivos 2.1 A estrutura da sentença e a pontuação 2.1.1 Pontuação no período simples 2.1.2 Pontuação no período composto 2.1.3 Emprego da vírgula com a conjunção e 2.2 Acentuação gráfica 2.2.1 Posição da sílaba tônica 2.2.2 Casos especiais 2.3 Dificuldades mais frequentes da Língua Portuguesa 2.3.1 Por que, por quê, porque, porquê 2.3.2 Crase 2.3.3 Palavras e expressões 2.3.4 Funções do pronome se 2.3.5 Regência de alguns verbos 2.3.6 Emprego do pronome relativo que com verbos que regem preposição 2.4 Conclusão Esquema 64 UNIUBE A estrutura da sentença e a pontuação2.1 Em outra obra e/ou gramáticas são expostos os elementos constituintes da oração e do período, ou, por extensão, constituintes da frase ou sentença. O conhecimento das estruturas oracionais ou frasais conduz ao conhecimento das situações e normas de pontuação, para a correta expressão do pensamento. Neste item, serão retomadas essas estruturas para o estabelecimento do emprego dos sinais de pontuação ocorrentes no uso diário do idioma, nos textos escritos. Sim, os sinais de pontuação constituem recursos da língua escrita, e não da língua falada. Nesta, os recursos de compreensão da mensagem são as inflexões de voz, a entonação e outras situações de expressão oral. Na escrita, os sinais de pontuação determinam significados e orientam o leitor às inflexões de voz e de entonação, no caso da leitura dos textos escritos. Esses sinais possuem, portanto, dupla finalidade semântica e de orientação de leitura. Frase mal pontuada pode gerar confusões, ambiguidades e mal-entendidos. O mau emprego dos sinais de pontuação constitui erro não só sob o aspecto gramatical ou ortográfico, mas de entendimento real daquilo que se deseja comunicar. Isto é, o emissor deseja comunicar ou informar uma coisa, mas diz outra. Nesse caso, a “culpa” do mal-entendido não é do leitor, mas de quem produziu e redigiu o texto. Como ocorre no seguinte diálogo (Figura 1) de um texto mal pontuado: UNIUBE 65 Figura 1: Visualizando a barata. Fonte: Getty images. Acervo Uniube. – Você matou a barata? – Matei Maria. Coitada da Maria!... Com a falta da vírgula na fala do segundo personagem, quem morreu assassinada foi a Maria, e não a barata! Agora chegou a vez de conhecer a estrutura sintática da frase constituída de um período simples. O conhecimento dos termos da oração é indispensável para a aprendizagem o correto desempenho no emprego dos sinais de pontuação. A frase com o “desvio” na fala do segundo personagem do diálogo citado possui a
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