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Economia e finanças para gestores

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Prévia do material em texto

Economia e finanças para gestores
Autora 
Neusa Santos de Souza Nunes 
Apresentação
Caro(a) aluno(a),
Esperamos que você encontre neste material um conteúdo que o ajude a compreender e analisar
o papel da política macroeconômica brasileira, e seus impactos no planejamento estratégico das
organizações.
O conteúdo foi elaborado com o propósito de contribuir para a formação de um perfil profissional
esperado de um assessor(a) executivo(a): responsável pelo planejamento estratégico, pela
organização de metas, pela tomada de decisões etc. – com as competências indispensáveis
para o desempenho de funções e procedimentos relativos aos de um administrador financeiro ou
administradora financeira.
Assim, foram priorizados os temas relativos à Introdução à Economia, indispensáveis para se
realizar planejamento e controle financeiro, bem como para se compreender algumas das
relações cotidianas praticadas pelos bancos comerciais, mercado financeiro e outros assuntos
conexos.
Cada parte do material pode ser lida separadamente; no entanto, sugerimos uma sequência para
aqueles(as) que gostam de receber uma indicação de onde se inicia e onde se conclui a leitura.
Na primeira Unidade, apresentamos alguns dos fundamentos básicos da Economia, tanto no
aspecto micro quanto macro. Foi dada uma especial atenção aos aspectos relativos ao
desempenho das unidades de consumo representadas pelas famílias e pelos indivíduos; a
produção e os custos das empresas e a produção e o preço dos serviços, tais como os bens e os
fatores de produção.
Na segunda Unidade, buscamos indicar alguns dos fundamentos macroeconômicos aplicados à
economia brasileira, tomando como foco o conceito de tripé macroeconômico, implementado no
Brasil a partir de 1999; momento a partir do qual passaram a ser elementos centrais da análise
da economia brasileira: o câmbio flutuante, a meta de inflação e a meta fiscal.
Na terceira Unidade, destacamos a análise do Sistema Financeiro Nacional, formado pelo
conjunto de instituições responsáveis pela política monetária do governo, sob a gestão do
Conselho Monetário Nacional (CMN).
E, por fim, na quarta Unidade, procuramos projetar um pouco de luz sobre o Banco Central, que é,
de longe, a principal instituição financeira governamental pelo fato de que, além de estratégico
para a política macroeconômica do governo, funciona de fato como o “banco dos bancos”, e é,
sobretudo, o supervisor do Sistema Financeiro Nacional (SFN), que, além de assegurar a solidez
do SFN, regula o funcionamento das entidades bancárias e não bancárias que operam no Brasil
– contribuindo assim, diretamente, com a eficiência, o desenvolvimento e a saúde do sistema
financeiro brasileiro.
Esperamos que você assista aos vídeos e se aprofunde nos temas abordados por meio dos
quadros denominados Saiba Mais e Dicas da Professora, distribuídos ao longo das seções deste
material e consiga sanar eventuais dúvidas, assim como desejamos que outras questões lhes
sejam suscitadas pelas entrelinhas deste material, que ora lhe entregamos.
Bons estudos!
Que o conjunto desta obra seja para você um instrumento de aprendizado e de novas reflexões.
Grande abraço!
A autora
Videoaula - Economia, uma das Ciências Humanas
Escaneie a imagem ao lado com um app QR code para assistir o vídeo ou acesse o link:
"https://player.vimeo.com/video/756968175".
Economia – Primeiros conceitos1
A expressão “economia” remonta aos tempos da Grécia Antiga, e este termo era utilizado para se
referir à administração do patrimônio particular, enquanto para a administração do Estado
(cidades-estados) se utilizava a denominação de “economia política”. A Economia, no entanto, é
uma das Ciências Humanas, pois seu objeto de estudo está relacionado às atividades produtivas
humanas. Mais especificamente, os humanos organizam sua produção de modo a fazer uso, o
mais eficientemente possível, dos recursos da natureza, que são escassos; tais como os fatores
de produção: terra, capital, trabalho e tecnologias.
Faz parte das preocupações dos economistas a combinação dos fatores de produção, de modo a
maximizar o potencial destes recursos para que estes possam contribuir para a criação e a
distribuição da renda, e que possam satisfazer os interesses de demandantes e ofertantes dos
mais variados mercados e conciliá-los. Para tanto, os economistas recorrem às disciplinas que
lhes dão suportes para medir as atividades econômicas como, por exemplo, os conhecimentos
matemáticos, econométricos e estatísticos.
A abordagem de um estudo econômico tanto pode ser micro como macro. A abordagem micro
busca entender o fenômeno econômico relacionado a uma unidade de produção como, por
exemplo, uma empresa ou unidade de consumo (famílias). Já a abordagem macroeconômica
está relacionada a estudos que buscam entender o conjunto da atividade econômica, como a de
um país, por exemplo.
Economia como Ciências Humanas1.1
Figura 1 – Moedas e cédulas
Fonte: Steve Buissinne/Pixabay.
Também se pode subdividir a Economia em dois campos: a) um mais teórico, denominado
“economia pura”, que trata da formulação conceitual e abstrata da realidade econômica; b) outro
mais “pragmático”, que busca determinar a aplicação de métodos e processos de produção tanto
no campo micro (das empresas, por exemplo) quanto no campo macroeconômico (vinculado às
ações de políticas econômicas de Estado). Portanto, ao ser aplicadas como soluções técnicas
para os problemas econômicos fundamentais as proposituras desta Ciência, esta vai se
convertendo em economia aplicada; ou seja, mais especializada, de modo que acaba por se
ramificar em economia industrial, economia agrícola, economia comercial e em economia
financeira. Sempre com propósito de atingir o seu objetivo enquanto ciência; de apresentar
soluções racionais para os processos sociais de produção, distribuição e consumo (SANDRONI,
1999, p. 189).
ECONOMIA APLICADA:
Emprego pragmático do conhecimento das leis econômicas visando a disciplinar e orientar a
atividade produtiva. Enquanto a chamada “economia pura” cuida da formulação conceitual
abstrata da realidade econômica, a economia aplicada tem a função normativa de determinar
alternativas, métodos e processos de produção tanto no âmbito da empresa quanto no da
sociedade (SANDRONI, 1999, p. 189).
E também se pode subdividir a Economia pelas “Escolas de Pensamento”, que se caracterizam
por determinadas concepções relativas às interpretações do fenômeno econômico. Isso ocorre
porque, diferentemente das ciências exatas, nas ciências humanas se observa com mais clareza
que os pesquisadores (economistas) estão ligados às mais variadas concepções de mundo,
cujos valores e interesses dos mais variados interferem, (conscientemente ou não) em sua
pesquisa científica. Por consequência disso, os economistas acabam abordando o próprio objeto
de trabalho da Economia de forma distinta, a começar pela visão (ideológica) que cada um dos
economistas tem do processo produtivo e da criação do valor.
A Escola Econômica Mercantilista, anterior e diferentemente das concepções desenvolvidas pela
Escola Clássica, de Adam Smith (considerado o fundador da Ciência Econômica Moderna),
defendia que a riqueza de um país viria do acúmulo de metais preciosos pelo Estado, que deveria
praticar um comércio exterior abertamente protecionista (SANDRONI, 1999, p. 383).
MERCANTILISMO:
Doutrina econômica que caracteriza o período histórico da Revolução Comercial (séculos XVI-
XVIII), marcado pela desintegração do feudalismo e pela formação dos Estados Nacionais.
Alguns princípios básicos do mercantilismo são:
1) o Estado deve incrementar o bem-estar nacional, ainda que em detrimento de seus vizinhos e
colônias;
2) a riqueza da economia nacional depende do aumento da população e do incremento do volume
de metais preciosos no país;
3) o comércio exterior deve ser estimulado, pois é por meio de uma balança comercial favorável
que se aumenta o estoque de metais preciosos;4) o comércio e a indústria são mais importantes para a economia nacional que a agricultura.
Essa concepção levava a um intenso protecionismo estatal e a uma ampla intervenção do Estado
na economia (SANDRONI, 1999, p. 383).
Já para os economistas alinhados com os pensamentos da Escola Clássica (Adam Smith; John
Stuart Mill, David Ricardo, Malthus, Stuart Mill, McCulloch, Senior e Jean Baptiste Say), a fonte
original do valor estava no trabalho; ideia sintetizada pela teoria do valor-trabalho.
Filosoficamente falando, esses economistas se identificavam com os preceitos do liberalismo e
do individualismo, o que contribuiu para a defesa dos princípios da livre-concorrência – que
foram decisivos para a expansão da influência do pensamento desta escola de pensamento
econômico desde o processo revolucionário burguês do século XVIII até as ideias neoliberais da
atualidade.
De acordo com Garcia e Vasconcellos (2014, p. 38), a teoria do valor-trabalho se contrapõe à
teoria do valor-utilidade. Enquanto a primeira pressupõe que o valor de um bem se origina do
trabalho, logo, é definido a partir dos custos de produção, a teoria do valor-utilidade pressupõe
que o valor das mercadorias (bens e/ou serviços) será definido do lado da demanda, pois está
diretamente relacionada à utilidade que o bem representa para o consumidor. O valor, sob esta
ótica da teoria do valor-utilidade, seria algo subjetivo. Ainda de acordo com esses autores:
O valor-utilidade permitiu distinguir o valor de uso do valor de troca de um bem. O valor de uso é a
utilidade que ele representa para o consumidor. O valor de troca se forma pelo preço no mercado,
pelo encontro da oferta e da demanda de um bem. (GARCIA; VASCONCELLOS, 2014, p. 38)
Apesar de haver diferentes formas de interpretação do objeto da economia entre as mais
variadas escolas de pensamento, existem alguns pressupostos comuns. Um deles é que, em
todas as sociedades humanas, os fatores de produção são limitados, ao passo que as
necessidades humanas são ilimitadas. Isso porque essas necessidades se renovam a todo
tempo devido ao aumento da população ou em função da elevação do padrão de vida. Prevalece,
assim, em todas as sociedades um problema econômico central, advindo da escassez. Esse
problema obriga a estas sociedades a ter que escolher um modo de encontrar alternativas de
produção (de bens e serviços) e maneiras de distribuir os resultados (alcançados coletivamente)
entre os vários grupos e as classes sociais da sociedade.
Em síntese, pode-se deduzir que, em função da escassez (dos fatores de produção), originam-se
os principais problemas econômicos, a saber: O que e quanto produzir? Como produzir? Para
quem produzir? Em função do modo como cada uma das sociedades resolve essas questões
implicará formas de organizações econômicas distintas de cada país – ou em outros termos –
do sistema econômico de cada país: capitalista (regido pelas forças de mercado); socialista
(regido pelo Estado, que controla as forças de mercado), a exemplo da Coreia do Norte e Cuba ;
ou um misto entre esses dois modelos, os chamados “socialismo de mercado”, como a China, ou
o “capitalismo de estado”, como a Rússia (GARCIA; VASCONCELLOS, 2014, p. 5).
No limite, toda sociedade humana, independentemente de seu sistema econômico, acaba tendo
que decidir, “o que e quanto”, “como“ e “para quem” produzir, levando em conta, portanto, sua
curva de possibilidade de produção: um conceito teórico que apresenta como os recursos
produtivos podem ser distribuídos para a produção máxima de um país, quando esta sociedade
consegue empregar plenamente seus fatores de produção – quando todos os trabalhadores
estão empregados e todos os demais meios de produção (terra, capitais e tecnologias) são
utilizados em sua capacidade total.
A título de exemplo, suponha que um determinado país – por meio do uso de toda a sua
capacidade produtiva – construa apenas máquinas ou produza alimentos (situação em que este
Os problemas econômicos fundamentais1.2
país tenha de escolher: produzir uma coisa ou outra com seus meios de produção).
Tabela 1 – Possibilidade de produção de um país hipotético
Alternativas de produção Máquinas (milhares) Alimentos (toneladas)
A 30 0
B 25 35
C 20 52
D 5 65
E 0 75
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
Na primeira alternativa de produção (A), todos os fatores de produção seriam investidos na
produção de máquinas, não restando outros recursos (fatores de produção) para a produção de
alimentos. Na alternativa B, no entanto, parte dos fatores de produção seriam investidos em 25
mil máquinas, mas também em 35 toneladas de alimentos. Se o país escolhesse a alternativa C,
produziria um pouco menos de máquinas (apenas 20 mil); em compensação, sobrar-lhe-ia
recursos para produzir mais alimentos (52 toneladas). Idem para a situação E. Porém, se o país
resolvesse alocar todos seus trabalhadores, seus capitais, seus recursos naturais e suas
tecnologias para produzir apenas alimentos, produziria uma quantidade máxima (de 75
toneladas); em compensação não teria recursos para a produção de máquinas. Quando um país
investe os fatores de produção para a produção de um bem (máquinas, por exemplo), ele deixa
de produzir outro bem (alimentos, por exemplo).
Em Economia, aquilo que o país “sacrificou”, ou seja, aquilo que ele deixou de produzir, pode ser
nomeado custo de oportunidade. No exemplo da Figura 1, o país hipotético, ao usar todos os
seus fatores de produção para produzir uma coisa só (30 mil máquinas), ficou sem recursos para
produzir 75 toneladas de alimentos; logo, o custo de oportunidade para se produzir 30 mil
máquinas (no exemplo da Tabela 1) equivale a 75 toneladas de alimentos. E, no caso B, ao se
produzir apenas 25 mil máquinas, o custo de oportunidade foi de apenas 40 toneladas de
alimentos (75-35), uma vez que apenas uma parte dos recursos foram destinados às máquinas
– o que fez com que “sobrasse” outra parte de recursos, que foram investidos para a produção
de 35 toneladas de alimentos.
Assim, ao se estimular os investimentos em equipamentos militares, por exemplo, o governo
deste país hipotético acabaria estimulando menos investimentos em outros setores (educação,
saúde, moradia etc.), uma vez que os fatores de produção deste país (e de todos os outros) são
limitados. Limitados por quem? Pelo total de recursos (fatores de produção existentes no interior
daquele país hipotético).
Para produzir além da sua capacidade produtiva, o país hipotético teria de aumentar sua
quantidade física de fatores de produção (+ trabalho – ou mais qualificação profissional - e/ou +
recursos naturais, e/ou + capitais, e/ou + produtividade via inovações tecnológicas) ou maior
eficiência produtiva organizacional das empresas. Por meio dessas estratégias, dentre outras, é
que a economia do exemplo (conforme Tabela 1) poderia ampliar a produção de seus bens e/ou
serviços.
Videoaula - Sistemas econômicos
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Microeconomia1.3
Conforme define Sandroni (1999, p. 388), a microeconomia caracteriza-se como um ramo da
ciência econômica por estudar o desempenho das unidades de consumo representadas pelas
famílias e pelos indivíduos; a produção e os custos das empresas; a produção e o preço dos
serviços, bens e fatores de produção. Vale lembrar que ambos os ramos da economia (Micro e
Macroeconomia) se inter-relacionam. Por meio de uma análise micro, é possível detectar
variações “microscópicas” de oferta e demanda que às vezes acabam impactando o conjunto da
economia como um todo. Por exemplo: o aumento de preços do trigo (um setor específico da
economia, portanto, micro) poderia acarretar aumentos de preços de uma enorme gama de
produtos da economia – daqueles em que o trigo é utilizado como insumo – gerando inflação; o
que poderia contribuir para o aumento da inflação de uma cesta maior de produtos,bens e/ou
serviços que acabariam por afetar o conjunto da economia como salários, taxas de juros etc. (ou
seja, afetaria a política macroeconômica deste país).
A abordagem microeconômica, portanto, além de oferecer subsídios para uma análise da
procura, da teoria da firma (e das teorias da produção), dos custos e dos rendimentos constitui
ainda o fundamento indispensável para a análise da oferta.
Vale destacar que a abordagem macroeconômica da economia representa uma ferramenta útil
para se estabelecer políticas e estratégias com vistas a se realizar um bom planejamento
empresarial, podendo subsidiar nas seguintes decisões, a saber:
política de preços da empresa;
previsões da demanda e faturamento;
previsões de custo de produção;
decisões ótimas de produção [melhor combinação de fatores de produção];
Figura 2 – Painel numérico
Fonte: Ahmad Ardity/Pixabay.
avaliação e elaboração de projetos de investimentos (análise custo-benefício da compra de
equipamentos; ampliação da empresa);
política de propaganda e publicidade (como a preferência do consumidor pode afetar a procura do
produto);
localização da empresa;
diferenciação de mercados (preços diferenciados em função da oferta em diferentes mercados
consumidores do mesmo produto) (GARCIA; VASCONCELLOS, 2014, p. 32).
Em seu conjunto, a microeconomia pode ser dividida para a realização das seguintes análises, a
saber: da demanda; da oferta e a análise das estruturas de mercado de bens e serviços
(concorrência perfeita; concorrência monopolista; monopólio e oligopólio) ou estruturas de
mercado de fatores de produção (concorrência perfeita; concorrência monopolista; monopsônio
e oligopsônio).
Define-se por demanda (ou procura) a quantidade de bens ou serviços que o conjunto dos
consumidores de um determinado mercado deseja e efetivamente está disposto a adquirir em
determinado espaço de tempo e por um preço determinado.
Esta procura dependerá de algumas variáveis, tais como preço do bem ou serviço, renda do
consumidor, preços dos outros bens, gosto e preferência do consumidor; além de outros fatores
como a sazonalidade, localização dos consumidores.
Para se estudar cada uma dessas variáveis isoladamente, utiliza-se uma hipótese denominada
coeteris paribus, a partir da qual se considera que todas as outras variáveis permanecerão
inalteradas.
Demanda de mercado1.3.1
Coeteris paribus é uma expressão em latim que significa “permanecendo constantes todas as
outras variáveis”. É muito utilizada em economia quando se deseja avaliar as consequências de
uma variável sobre outra, supondo-se que as demais (variáveis) permanecem inalteradas
(SANDRONI, 1999, p. 71).
Pressupõe-se, assim, por meio da lei geral da demanda, que existe uma relação direta entre a
quantidade procurada e o preço do bem.
Tabela 2 – Relação entre oferta e demanda: preço e quantidade demandada
Situação Preços (R$) Quantidade demandada
A 1,0 11.000
B 3,0 9.000
C 6,0 6.000
D 8,0 4.000
E 10,0 2.000
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
Na situação A, por exemplo, considerando-se que o produto seja ofertado a R$ 1,00, sua
quantidade demandada chegaria a uma quantidade máxima neste mercado: 11 mil unidades, o
que parece indicar uma situação de preço favorável ao demandante; no entanto, conforme este
preço sobe, como no caso C, a quantidade demandada acaba por se reduzir, indicando que
menos demandantes reúnem as condições ou desejos de adquirir aquele produto, naquele nível
de preço. No caso extremo apresentado na Tabela 2, se o preço do produto aumentar de R$ 1,00
para R$ 10,00 a quantidade demandada irá se reduzir de 11 mil para apenas 2 mil unidades do
mesmo produto.
Se, do lado da demanda [ou procura] observa-se o ponto de vista do comprador, do ”outro lado”
se verifica o fenômeno oposto: o do vendedor (ou do ofertante). Assim como ocorre com a
demanda, a oferta vai depender de alguns fatores, a saber: a) do preço que os demandantes
estão dispostos a pagar; b) do custo que o ofertante pagou nos fatores de produção; e c) da
meta ou dos objetivos dos ofertantes (vendedores).
De acordo com a lei geral da oferta, existe uma relação direta entre a quantidade que os
vendedores vão ofertar e o nível de preços que os compradores estão se mostrando dispostos a
pagar, ceteris paribus.
Oferta de mercado1.3.2
Observe, na Figura 3, a coluna que indica os preços que os compradores estão dispostos a pagar
pelo mesmo produto. Se os compradores estiverem dispostos a pagar até R$ 10,00 pelo produto,
o vendedor se animará a ofertar mais, pois será estimulado pelo preço alto; assim, buscará
vender o máximo de produtos para aqueles consumidores cheios de vontade de gastar. Ainda de
acordo com a Figura 3, ao preço de R$ 10,00 serão ofertadas 11 mil unidades de produtos –
diante de preços máximos, a oferta atingirá o seu ponto mais alto. Se os compradores
resolverem pagar um pouco menos pelo produto, por exemplo R$ 8,00, o vendedor se animará
menos e por isso vai ofertar menos mercadorias neste mercado; ou seja, vai se produzir menos!
No caso em que os compradores demonstrem que estão dispostos a pagar apenas R$ 1,00 pelo
produto, o vendedor desanimará de vez! Neste caso, do exemplo mostrado no gráfico, o ofertante
passará a ofertar apenas 2 mil unidades do produto. Mas, se ninguém estiver interessado em
pagar pelo produto – ou seja, se o demandante estiver disposto a pagar R$ 0,00 (zero reais), não
haverá nenhum estímulo para que apareça oferta para este produto.
Conforme visto no gráfico (Figura 3), caso haja excesso de procura, o preço tenderá a subir,
beneficiando mais o vendedor (ofertante); caso haja excesso de oferta, o preço tenderá a cair,
beneficiando o comprador (demandante).
Haverá, no entanto, uma situação de equilíbrio entre demanda e oferta; aquela em que a
quantidade demandada é atendida plenamente pelo ofertante – nem a mais, nem a menos;
situação em que a quantidade ofertada seria de tal modo equilibrada que seria absorvida
plenamente pelos clientes (demandantes).
Tabela 3 – Situação de equilíbrio entre a demanda e a oferta
Situação Preço Demanda (unidades) Oferta (unidades) Situação do mercado
Figura 3 – Relação da oferta em função da demanda
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
Tendência ao equilíbrio entre a oferta e a demanda1.3.3
Situação Preço Demanda (unidades) Oferta (unidades) Situação do mercado
A 1,0 11.000 1.000 Escassez de oferta
B 3,0 9.000 3.000 Escassez de oferta
C 6,0 6.000 6.000 Equilíbrio
D 8,0 4.000 8.000 Escassez de demanda
E 10,0 2.000 10.000 Escassez de demanda
Fonte: Elaborado pela autora (2022).
De acordo com a Tabela 3, ao preço de R$ 6,00 (seis reais/unidade) o ofertante se animaria a
ofertar até 6 mil unidades de seu produto, e esta seria a melhor situação para ele, uma vez que
faturaria o equivalente a R$ 36.000,00. Este faturamento é muito superior ao que seria alcançado
se ele vendesse mais unidades, 11 mil delas ao preço de apenas R$ 1,00 cada; ou se vendesse
apenas 2 mil unidades ao preço de R$ 10,00, situação em que faturaria R$ 20.000,00.
Do mesmo modo em que a Situação C de equilíbrio beneficiaria o comprador (demandante). Ao
preço de apenas R$ 1,00 por unidade, o consumidor teria de disputar os apenas 1.000 produtos
ofertados com outros 10.999 clientes. E, neste caso, 10.000 clientes não encontrariam o produto
no mercado. Ao preço de R$ 10,00 por unidade (situação E), grande parte dos consumidores
(8.000 deles) ficaria sem o produto, pois a mercadoria ficaria muito cara e seria adquirida apenas
pelos 2.000 consumidores com maior poder aquisitivo. Neste caso extremo, sobrariam produtos
no mercado por falta de clientes com condições de comprar.
Assim, se para a maioria dos demandantes não é negócio pagar preços máximos de R$ 8,00 a R$
10,00 pelo produto, também não é o melhor negócio para o ofertante vender seu produto a
preços mínimos, a R$ 3,00 ou a apenas R$ 1,00 por unidade. Este é o motivo pelo qual R$ 6,00
parece ser o preço que beneficia tanto ocomprador (demandante) quanto o vendedor (ofertante).
No entanto, o que acontece se o ofertante, neste mercado equilibrado, que vende 6.000 unidades
a R$ 6,00, resolver dar um desconto de 25% no preço, passando-o a R$ 4,50 e perceber que a
quantidade demandada se ampliou para 7.000 unidades? Em quantos por cento serão
aumentadas suas vendas?
Cada produto possui uma sensibilidade às variações dos preços por eles cobrados ou a variação
da renda dos consumidores. Nem sempre o desconto de 25% em um produto resultará em um
aumento de 25% em suas vendas. O fato de se reduzir o preço do sal não significa que as
pessoas passarão a consumir mais deste produto, apenas para “aproveitar” o preço.
Conceito da Elasticidade-preço da demanda1.3.4
O conceito de elasticidade torna-se, portanto, uma ferramenta para empresas, pois permite
estimar a reação dos consumidores diante da variação de preços ou diante da redução da renda
desses mesmos consumidores.
Com base em Garcia e Vasconcellos (2014, p. 53), pode-se expressar o conceito de Elasticidade-
preço da demanda (EpD) da seguinte forma:
Consideremos:
P0 (preço inicial) = R$ 6,00 
P1 (preço final) = R$ 4,50 
Q0 (quantidade demandada), ao preço (P0) de R$ 6,00 = 6.000 unidades. 
Q1 (quantidade demandada), ao preço (P1) de R$ 4,50 = 7.000 unidades.
ELASTICIDADE
Relação entre as diferentes quantidades de oferta e procura de certas mercadorias, em função
das alterações verificadas em seus respectivos preços. De acordo com esse conceito, as
mercadorias podem ser classificadas em bens de demanda inelástica ou fracamente elásticas, e
bens de demanda fortemente elástica. Os primeiros englobam os bens de primeira necessidade,
indispensáveis à subsistência diária da população. O sal é o mais característico entre os bens de
demanda inelástica. Por ser consumido em pequenas quantidades, mesmo sendo um ingrediente
indispensável à alimentação cotidiana, as alterações no preço do sal não afetam praticamente
nada sua procura. (SANDRONI, 1999, p. 199)
ATENÇÃO às fórmulas!
Como calcular:
1. Variação percentual da Quantidade demandada:
2. Variação percentual do preço:
Voltemos à fórmula geral:
O que significa dizer que uma redução de 25% no preço do produto implicou que a quantidade
demandada aumentou bem menos de 25%.
Desse modo, tal qual se poderia verificar em produtos como o sal, um produto de demanda
sabidamente inelástica se pode deduzir que o produto (da fórmula geral apresentada) também é
um produto de demanda inelástica. De onde se pode concluir, também, que serão considerados
produtos de demandas elásticas aqueles cuja variação da quantidade demandada for superior à
variação percentual do preço (coeteris paribus) (GARCIA; VASCONCELLOS, 2014, p. 53).
Videoaula - Estruturas de mercado de fatores de produção
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"https://player.vimeo.com/video/756968395".
Videoaula - Explicando o conceito e sua aplicabilidade- Oferta e
Demanda
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"https://player.vimeo.com/video/756968543".
Videoaula - Explicando o conceito e sua aplicabilidade: Elasticidade
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"https://player.vimeo.com/video/756968675".
De acordo com Sandroni (1999, p. 359), a macroeconomia consiste em uma parte da Economia
que estuda o comportamento agregado do sistema econômico. Trata, portanto, das relações
entre a renda nacional, o nível de emprego e dos preços, o consumo, a poupança e o investimento
totalizados. Busca explicar a operação macro da economia sem que seja necessário analisar
individualmente cada um dos agentes econômicos, isoladamente.
Macroeconomia1.4
Figura 4 – Notebook
Fonte: Carlos Muza/Unsplash.
Por meio dessa estratégia, a teoria econômica oferece parâmetros que possibilitam a medição da
atividade econômica em seu conjunto tomando-se por base algumas variáveis fundamentais –
que impactam a economia de modo global, tais como PIB, inflação, taxa de juros (Selic), nível de
emprego, taxa de câmbio, balanço de pagamentos etc.
São objetivos centrais da política macroeconômica, implementadas pelos governos:
a. geração de empregos;
b. distribuição da renda de modo socialmente justo;
c. atingir e manter a estabilidade dos preços;
d. promover o crescimento (e o desenvolvimento) econômico.
Estes objetivos são atendidos por meio de instrumentos da política macroeconômica – Política
fiscal; monetária; cambial; comercial; de rendas.
Trata-se dos instrumentos legais que o governo utiliza para arrecadar tributos e controlar seus
custos (política de gastos). Ao manipular as alíquotas de impostos de um ou outro produto, o
governo poderá estimular ou inibir investimentos do setor privado naquele produto. Por exemplo:
ao reduzir a taxa de IPI dos automóveis, o governo estimula a produção de veículos, o que
contribui para se atingir os objetivos da política macroeconômica, gerando empregos. Se o
objetivo for reduzir a inflação, utilizando-se de política fiscal, o governo poderá ampliar a taxa de
impostos de determinados produtos que estão sendo vendidos em excesso para que este
aumento de preços (devido ao aumento da demanda deste produto) não estimule o aumento da
inflação. Se o objetivo for promover o crescimento econômico de uma determinada região, como
a Zona Franca de Manaus, por exemplo, o governo poderá adotar uma política de taxas de
impostos menores para algumas das mercadorias produzidas naquela região.
Política Fiscal1.4.1
ZONA FRANCA
Área delimitada no interior de um país e beneficiada com incentivos fiscais e tarifas alfandegárias
reduzidas ou ausentes. Seu objetivo é estimular o comércio e, às vezes, acelerar o
desenvolvimento industrial de uma região. A Zona Franca de Manaus, criada em 1967 e
fiscalizada pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), atraiu para aquela área
amazônica cerca de 600 indústrias, sobretudo do ramo eletrônico avançado, que se beneficiam
das facilidades de importação de peças e componentes de aparelhos eletroeletrônicos.
Trata das estratégias do governo, por meio do Banco Central [BC], que visam controlar a evolução
dos meios de pagamento e o processo de criação da moeda e do crédito, por meio dos seguintes
instrumentos:
Política Monetária1.4.2
Encaixe legal (recolhimentos compulsórios)
Por meio do qual o BC define uma fração dos depósitos bancários que deverão ser mantidos
“presos” pelos bancos comerciais junto ao Banco Central, com vistas a controlar tanto a
expansão do crédito quanto a oferta de dinheiro em circulação. Isso porque, ao decidir pelas
alíquotas de recolhimentos compulsórios (mais altas ou mais baixas, dependendo do objetivo), o
BC impõe aos bancos comerciais uma menor (ou maior, se for o caso) capacidade conceder
crédito e multiplicar a moeda por meio de empréstimos ou investimentos. Dessa forma, se for
objetivo do BC combater a inflação, ele poderá determinar o aumento do requisito de encaixe,
reduzindo, deste modo, a capacidade dos bancos comerciais de expandir o crédito aos seus
clientes.
Redesconto
Operação bancária em que uma instituição financeira desconta títulos (duplicatas, promissórias
etc.); meio pelo qual o BC realiza empréstimos aos bancos comerciais.
Operações de mercado aberto
Em síntese, pode-se deduzir que, se o objetivo do BC for controlar a inflação, este passará a
adotar medidas – passíveis de serem aplicadas por seus instrumentos acima elencados – que
reduzam o estoque monetário da economia; no entanto, se o objetivo for estimular o crescimento
econômico a política adotada será a inversa: redução das taxas de juros, diminuição da alíquota
da taxa de compulsório e compra de “papéis do governo” (títulos de dívida pública, por exemplo),
de modo a “irrigar” a economia, ampliando assim a maior circulação de dinheiro (liquidez).
Conforme se pôde ver, tanto a política fiscal quantoa monetária podem ser utilizadas para
“enxugar” ou ampliar a liquidez na economia – a depender dos objetivos. Lembrando que a
política fiscal é mais utilizada se o objetivo for interferir na distribuição de rendas e seu resultado
aparecerá em um prazo mais longo que o da política monetária, uma vez que a política fiscal –
para entrar em vigor – depende de aprovação do Congresso e só passa a valer no ano seguinte à
sua aprovação, enquanto a política monetária pode ser implementada de imediato, logo após sua
aprovação.
No qual o BC regula o fluxo da moeda comprando e vendendo seus títulos (títulos de dívida
pública) por intermédio de instituições financeiras. Quando há muito dinheiro em circulação, o
BC “enxuga” o mercado vendendo letras do Tesouro Nacional; quando ocorre o contrário, ele
compra esses títulos (BRASIL, 2016, p. 6).
Figura 5 – Moedas
Fonte: Dilok Klaisataporn/iStock.
Política cambial1.4.3
Instrumento da política de relações comerciais e financeiras entre os países por meio do qual as
autoridades monetárias organizam o sistema de câmbio: operação financeira que consiste na
venda, troca ou compra de moedas de outros países, ou títulos que representem as moedas de
outros países. Por meio da política cambial um país pode lançar mão de mecanismos para se
evitar a evasão de divisas ou mesmo utilizar a fixação de taxas de câmbio para estimular
"artificialmente" o seu comércio externo ao manter a moeda nacional artificialmente
desvalorizada; isso se o objetivo for estimular as exportações.
No Brasil, desde 1999, se adota o regime de câmbio flutuante, o que significa dizer (ainda que
redundantemente) que o valor das moedas estrangeiras (dólar e outras) vai oscilar em função da
oferta e demanda destas moedas. Não se adota desde aquela data, portanto, no Brasil, a opção
de câmbio fixo, situação em que o governo (por meio do Banco Central) determina para o
mercado o preço da moeda estrangeira que será comercializada em território nacional.
Também denominada política de comércio ou política de comércio internacional, a política
comercial é uma atribuição governamental, com vias a estabelecer normas e regras de comércio
com países terceiros, por meio do tratado de tarifas, subsídios ao comércio, quotas de
importação, restrições voluntárias à exportação, restrições à criação de empresas de capital
estrangeiro, regulamentação do comércio de serviços ou outras questões (como, por exemplo,
barreiras ao comércio internacional).
No Brasil, a política comercial é conduzida pelas pastas de Planejamento, Indústria e Comércio e
Agricultura, que contam com o suporte do Ministério das Relações Exteriores. Tal qual ocorre
com as demais políticas econômicas, a comercial possui interface direta com o desenvolvimento
econômico do país, uma vez que o comércio internacional (exportações e importações) estimula
o aumento da escala de produção, a aquisição de conhecimento e o aumento de ganhos com
especialização das cadeias globais de valor, o que contribui diretamente para os objetivos de
política macroeconômica; sobretudo, aquele relativo ao crescimento econômico.
Considera-se como política de rendas o conjunto de medidas adotadas pelo governo que tem por
objetivo redistribuição de renda e maior justiça social. A execução da política de renda pelo poder
público busca controlar a remuneração dos fatores diretos de produção na economia, tais como
salários, depreciações, lucros, dividendos e preços dos produtos (intermediários e finais). No
Brasil, essas políticas são implementadas para combater problemas estruturais como a fome, a
Política comercial1.4.4
Política de rendas1.4.5
miséria e as desigualdades sociais e regionais brasileiras, assim como para enfrentar problemas
conjunturais como secas sazonais, catástrofes climáticas ou pandêmicas.
Considera-se, assim, que o conjunto de ações implementadas pelo governo, por meio de suas
políticas anteriormente descritas (Fiscal, Monetária, Cambial, Comercial e de Rendas), tem como
propósito atingir simultaneamente os objetivos de política macroeconômica: maior nível de
emprego; distribuição de renda; estabilidade de preços e crescimento econômico.
Na prática, por meio dessas políticas macroeconômicas, o governo buscará estimular os
principais mercados que dinamizam a estrutura macroeconômica do governo, a saber: a)
mercado de bens e serviços; b) mercado de trabalho; c) mercado monetário; d) mercado de
títulos; e) mercado de divisas.
Uma das formas de se medir o resultado dessas políticas poderá ser por meio da contabilidade
social – ou sistema de contas nacionais. Por meio desta contabilidade social, é possível medir as
transações referentes a valores correntes trimestralmente do Produto Interno Bruto [PIB] a
preços de mercado, impostos sobre produtos, valor adicionado a preços básicos, consumo
pessoal, consumo do governo, formação bruta de capital fixo, variação de estoques, exportações
e importações de bens e serviços.
Sistema de Contas Nacionais [SCN]
O Sistema de Contas Nacionais apresenta informações sobre a geração, a distribuição e o uso da
renda no País. Há também dados sobre a acumulação de ativos não financeiros, patrimônio
financeiro e sobre as relações entre a economia nacional e o resto do mundo.
Disponível em: www.ibge.gov.br [https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/contas-
nacionais/9052-sistema-de-contas-nacionais-brasil.html] .
ipe3191_11 - Inflação: o que é? De onde vem?
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Videoaula - Política de rendas e o efeito multiplicador
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Recapitulando a Unidade 1
Espero que você tenha entendido, sem grandes dificuldades, os temas tratados até aqui. O
objetivo central foi contextualizar alguns aspectos da ciência econômica que são
reconhecidamente estratégicos para se compreender o funcionamento da economia, na prática,
no dia a dia dos acontecimentos; sobretudo aqueles relacionados às práticas do mercado e às
ações promovidas pelo governo. É importante ter em mente que a Economia é uma das ciências
humanas – logo, não é exata, pois suas análises levam em consideração a possibilidade de que
culturas, ideologias, costumes, enfim, comportamentos humanos interfiram nas suas análises e
nos seus procedimentos.
No entanto, é importante compreender que a Economia parte do pressuposto de que os
problemas fundamentais de uma sociedade humana estão relacionados à escassez daquilo que
é fundamental para a produção da riqueza em uma coletividade humana.
A produção desta riqueza, socialmente coletiva, depende da utilização de fatores de produção –
terra (recursos naturais), trabalho (mão de obra), capitais (recursos financeiros) e tecnologia –
que são finitos; daí a necessidade constante de se otimizar o uso (aplicação) desses recursos, de
modo a maximizar os resultados desses fatores. De certo modo, é aí que entra a Economia – é
neste ponto que a Ciência Econômica efetivamente consegue – por meio do conhecimento
acumulado pelos economistas – dar a sua contribuição para o desenvolvimento e o crescimento
da riqueza das sociedades humanas.
A estrutura da disciplina está organizada com base em dois enfoques instrumentais: micro e
macroeconomia, que são campos de estudos que analisam, respectivamente, os efeitos
econômicos de forma individualizada (no campo da firma) e os grandes agregados econômicos.
O entendimento microeconômico contribui, principalmente, para a tomada de decisões no
interior dos negócios e no dia a dia destes. Já a compreensão da macroeconomia permite
entender cenários estratégicos de longo prazo. Isso porque é por meio da macroeconomia que
os governos implementam suas ações estratégicas que visam gerar e manter empregos,
distribuir rendas e promover o crescimento e o desenvolvimento econômico pormeio de
instrumentos que moldam a estrutura econômica de um país, a saber: política fiscal; monetária;
cambial; comercial e de rendas.
Entender como essas ações micro e macro se combinam e se influenciam passa a ser
fundamental para aqueles profissionais envolvidos com planejamento estratégico, organização
de metas, tomada de decisões etc., visto que o entendimento deste cenário permite analisar as
mais variadas conjunturas, de modo a se entender o presente e, de algum modo, antever o futuro
e se antecipar, preparando-se para os possíveis acontecimentos econômicos vindouros.
Economia brasileira2
Considera-se macroeconomia uma parte da Ciência Econômica especializada em entender o
comportamento do sistema econômico, de modo agregado, por meio de estudos relativos a
renda, emprego, preços, consumo, inflação, câmbio, poupança e investimentos, nacionais, dentre
outros. Conforme explica Sandroni (1999, p. 359), a teoria macroeconômica oferece parâmetros
que possibilitam uma mensuração da atividade econômica geral de determinado sistema por
meio da utilização de um número pequeno de variáveis fundamentais. Pressupõe-se, por meio da
análise macroeconômica, que é possível entender o comportamento da economia em seu
conjunto sem que seja necessário analisar todas as suas micropartes, individualmente.
Espera-se, nesta Unidade, que o aluno perceba como os fundamentos macroeconômicos vêm
sendo operados pelos governantes nos últimos anos, no Brasil Este entendimento deve ter o
propósito de compreender como esses governos vêm buscando atingir seus objetivos
macroeconômicos centrais, a saber: 1) Geração de empregos; 2) Distribuição da renda de modo
socialmente justo; 3) Estabelecimento e manutenção da estabilidade dos preços; e 4) Promoção
do crescimento (e do desenvolvimento) econômico.
Desde a década de 1990, a macroeconomia brasileira vem passando por mudanças de
paradigmas inspiradas em princípios neoliberais (iniciadas com o governo de Fernando Collor de
Mello – 1990-1992), que acabaram por desenvolver um conjunto de medidas classificáveis como
Sistema econômico2.1
Figura 6 – Cédulas de dinheiro
Fonte: PublicDomainPictures/Pixabay.
uma nova síntese, de inspiração econômica neoclássica, cujas características são a valorização
do princípio de que a formação dos preços, a produção e a distribuição da renda devem ocorrer,
sobretudo, por meio de mecanismos de oferta e demanda dos mercados. Por meio desta
concepção central, diversos são os economistas que defendem, assim, a maior redução possível
do Estado na economia – por meio das privatizações e da maior integração da economia
nacional aos fluxos financeiros internacionais.
Ao final da década de 1990, esses fundamentos da política macroeconômica brasileira já estão
bastante consolidados, ideológica e politicamente, e ancorados em três pilares fundamentais:
câmbio flutuante, meta de inflação e meta fiscal.
NEOLIBERALISMO
Doutrina político-econômica que representa uma tentativa de adaptar os princípios do liberalismo
econômico às condições do capitalismo moderno. Como a escola liberal clássica, os neoliberais
acreditam que a vida econômica é regida por uma ordem natural formada a partir das livres
decisões individuais e cuja mola mestra é o mecanismo dos preços. Entretanto, defendem o
disciplinamento da economia de mercado, não para asfixiá-la, mas para lhe garantir
sobrevivência, pois, ao contrário dos antigos liberais, não acreditam na autodisciplina espontânea
do sistema (SANDRONI, 1999, 421).
Videoaula - Plano Real
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As concepções relativas à implementação dos atuais fundamentos da política macroeconômica
começaram a se consolidar no Brasil a partir do Plano Real, quando a ideia de câmbio fixo foi
sendo substituída por uma política de câmbio mais flexível: primeiro por meio do
estabelecimento das bandas cambiais e, posteriormente, a partir do câmbio livre (ou flutuante).
Desde a formulação dos primeiros planos de combate à inflação, que havia atingido patamares
altíssimos entre o final da década de 1980 e o início da década de 1990, vinha se formando certo
consenso de que a moeda nacional deveria ser fortalecida para evitar que fosse corroída pelos
aumentos generalizados de preços. No Plano Real, consolidou-se entre os economistas do
governo a tese de que o combate à inflação deveria estar “ancorado” em uma política cambial
que favorecesse a valorização da moeda nacional.
Conforme dados da taxa de câmbio efetiva real, que representa a média aritmética ponderada
das taxas de câmbio reais bilaterais do país em relação a 23 parceiros comerciais selecionados,
as moedas estrangeiras passaram a ficar mais baratas para os brasileiros dada a valorização da
moeda nacional, sobretudo a partir do processo de implantação do Plano Real (iniciado em 27 de
fevereiro de 1994 e que se estendeu até início de 1999; quando se retomou a política de
desvalorização aos níveis praticados antes de 1994 (IPEADATA). Tamanha foi a valorização
artificial do Real que o Dólar (comercial) dos Estados Unidos chegou a ser cotado a R$ 0,84 (84
centavos de Real) em janeiro de 1995 (BRASIL, 2022). No entanto, esta supervalorização da
O tripé macroeconômico2.2
moeda nacional, por anos (que tinha como objetivo principal combater a inflação), acabou
provocando uma verdadeira febre de importados e estimulando as viagens de brasileiros ao
exterior; o que, por consequência, acentuou o desemprego no Brasil, conforme bem ilustra a
queda do nível de emprego da indústria paulista.
Ainda como consequência desta excessiva política de valorização da moeda nacional por meio
de altas taxas de juros, o país passou a enfrentar crescentes déficits na balança comercial. Ao
estímulo às importações, que já vinha ocorrendo como resultado da radical abertura promovida
pelo governo Collor, acrescentou-se, desde o início do governo de FHC, a política de valorização
do Real, com vistas no combate à inflação.
O déficit na balança comercial, de cerca de 3,5 bilhões de dólares em 1995, subiu a mais de 6,7
bilhões de dólares, em 1997. O que implica dizer que a moeda valorizada (devido às taxas de
juros elevadas), ao mesmo tempo em que combatia a inflação, facilitava a compra de produtos
estrangeiros que substituía a produção dessas mercadorias importadas, no Brasil; o que gerava
um enorme desemprego – tal qual o observado na Figura 7, na indústria paulista, por exemplo.
Em síntese, os juros altos cumpriam uma dupla função no modelo de estabilização econômica
promovido pelo Plano Real – ajudava a estimular o fluxo de capitais estrangeiros para o Brasil –
Figura 7 – Gráfico do nível de emprego da indústria
Fonte: elaborado pela autora (2022) com base em www.ipeadata.gov.br
[http://www.ipeadata.gov.br/] .
Figura 8 – Gráfico da balança comercial de 1989-2002
Fonte: elaborado pela autora (2022) com base em www.ipeadata.gov.br
[http://www.ipeadata.gov.br/] .
recursos que eram indispensáveis e necessários para equilibrar o balanço de pagamentos – ao
mesmo tempo em que contribuía para controlar a inflação por meio da redução do consumo.
Porém, como “efeito colateral”, essa redução do consumo aumentava o endividamento privado e
o crescimento do nível de desemprego; sobretudo o emprego de qualidade oferecido pela
indústria nacional.
O déficit na balança comercial, conforme se pode observar na Figura 8, começou a ser revertido a
partir de 1999, voltando a apresentar saldo positivo (de 2,6 bilhões de dólares) a partir de 2001.
Na prática, no entanto, esta guinada da política macroeconômica rumo à desvalorização do Real
começou a ganhar destaque após as crises asiáticas de 1997 e da crise russa de 1998,
combinadas com a aproximação das eleições presidenciais (da reeleição presidencial). As crises
provocaram queda no preço das commodities exportadas pelo Brasil e diminuíram o crédito
externo, dificultandoa captação de investimentos estrangeiros – fatores que, somados,
passaram a inviabilizar a manutenção do câmbio sobrevalorizado pela política macroeconômica
brasileira. Após a reeleição do presidente, em 1998, o governo deu início aos preparativos para a
desvalorização do Real, que veio a acontecer na segunda quinzena de janeiro do ano seguinte.
ipe3191_12 - Por que o real é a moeda que mais se desvalorizou em
2020
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O tripé macroeconômico2.2
Câmbio flutuante2.2.1
Antes do Real, o País adotava um regime de câmbio fixo, em que o governo definia para o
mercado qual seria o preço que o Banco Central (BC) estava disposto a pagar pelas moedas
estrangeiras no país. Na prática, era como se o BC tabelasse o valor da taxa de câmbio com o
propósito de conter a inflação e evitar o déficit no balanço de pagamentos. No entanto, com certa
frequência, o BC acabava intervindo neste “tabelamento de preços” das moedas estrangeiras – o
que despertava a desconfiança dos investidores e parceiros comerciais do Brasil – uma vez que
o valor da moeda nacional (que o governo se esforçava em manter valorizada, às vezes
artificialmente, para controlar a inflação) estava a serviço da política monetária brasileira; o que
nem sempre coincidia com o valor de face da moeda brasileira.
Para fugir deste preço forçado – instituído pelo governo – era comum que os demandantes de
moedas estrangeiras recorressem ao mercado paralelo de câmbio, onde se operavam a compra e
a venda de moedas estrangeiras de forma ilegal, com taxas acima das estabelecidas
oficialmente. De acordo com Sandroni, essas transações de moedas estrangeiras, no paralelo,
incluíam desde a simples compra e venda de divisas entre particulares (turistas, em sua maior
parte) até complexas operações de transferência irregular de grande quantidade de recursos
para o exterior, o que supunha grandes redes de especuladores que atuavam em vários países,
“tendo às vezes a conivência de funcionários de instituições monetárias e financeiras”.
(SANDRONI, 1999, p. 75)
As RESERVAS INTERNACIONAIS podem ser consideradas: 1) créditos a ser recebidos por um país
em um futuro imediato; 2) recursos imediatamente disponíveis. Originam-se de superávits no
balanço de pagamento e destinam-se a cobrir eventuais déficits das contas internacionais e/ou
lastrear a estabilidade cambial, evitando ataques especulativos contra a moeda nacional
(SANDRONI, 1999, p. 527).
A ideia de câmbio flutuante, implementada em 1999, deu-se em meio a uma conjuntura
internacional adversa, em que o Banco Central, diante do risco de fuga de dólares e temendo a
redução das reservas internacionais, decidiu deixar de intervir no câmbio, permitindo a sua
flutuação. No entanto, a medida acabou por ampliar a sensação de transparência e credibilidade
relacionada aos critérios de formação de preço da moeda nacional, uma vez que o governo
brasileiro passou a aceitar, por lei, que o valor de face da moeda estrangeira, em território
nacional, obedecesse àquele definido a partir da oferta e da demanda por essas moedas
estrangeiras; sem a intervenção direta do governo nesta cotação. Esta medida vinha ao encontro
do que era defendido pelos economistas de perfil mais neoliberais, que passaram a defender não
apenas a flexibilidade do câmbio, mas também a instituição de metas para a inflação e definição
de metas fiscais – para permitir que investidores estrangeiros pudessem conhecer, por meio
dessas políticas macroeconômicas embasadas neste “tripé”, as efetivas condições das
economias nacionais; ao mesmo tempo em que se buscava reduzir os ataques especulativos
contra a moeda nacional: situação em que grandes investidores em uma determinada moeda
nacional, com medo da desvalorização desta moeda, passam a vender suas posições no
mercado sob suspeita de quebrar.
Ao se estabelecer uma situação de fuga de capitais, o governo nacional precisa utilizar-se de
suas reservas para “devolver”, em moeda internacional (dólar), os recursos que os investidores
internacionais, em debandada, estão tentando retirar do país. Caso o país atacado – por esta
debandada de investidores – não possua reservas suficientes para honrar esses pagamentos,
ficará em situação insolvente (em que não consegue honrar suas obrigações); deste modo, este
país terá cada vez maiores dificuldades em atrair investidores internacionais, no futuro; exceto se
aumentar exorbitantemente a sua taxa de juros para compensar o risco que este país “atacado”
passou a representar para os investidores internacionais.
No Brasil, esta concepção de política macroeconômica amparada por este tripé foi consolidada
pelo então presidente do Banco Central, Armínio Fraga (de março de 1999 a dezembro de 2002),
durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), com o argumento de se
combater a crise fiscal e a redução das reservas internacionais. A partir da implantação deste
modelo, o BC passou a realizar intervenções apenas pontuais no mercado de câmbio, por meio
de leilões que visavam controlar a oferta de moeda estrangeira (dólar, principalmente), porém,
apenas em momentos de riscos de uma desvalorização repentina e desproporcional do real.
Por consequência, a principal moeda estrangeira, o dólar, voltou a variar dentro de parâmetros
mais alinhados com a dinâmica real da economia, pela lógica da oferta e da demanda por
moedas estrangeiras.
O Real, que em 1995 chegou a valer mais que o dólar (R$0,92), passou por um processo de
desvalorização substancial a partir de 1999 (de cerca de 93%), quando 1 dólar passou a ser
comprado por R$ 1,81; e seguiu subindo, aproximando-se de R$ 3,00 no ano eleitoral de 2002 –
em eleição vencida por Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010).
Figura 9 – Gráfico da taxa de câmbio
Fonte: elaborado pela autora (2022) com base em www.ipeadata.gov.br
[http://www.ipeadata.gov.br/] .
A meta de inflação serve como parâmetro para o aumento “tolerado” de preços pelas autoridades
monetárias do Brasil e é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), também conhecido por
Copom. O Conselho Monetário Nacional é um órgão composto pelo ministro da Economia, pelo
presidente do BC e pelo secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, que define, a
cada ano, a respectiva meta de inflação e a faixa de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais
ou para menos – os chamados teto e piso da meta. A partir desses parâmetros o Copom, em
reuniões ordinárias, adota resoluções para trazer a inflação de volta ao centro da meta. Nos
últimos anos, tem sido comum o Copom aumentar ou reduzir a taxa Selic, de acordo com o
propósito desejado pela política monetária conduzida pelo Banco Central, que é influenciada pela
conjuntura econômica.
Meta de inflação2.2.2
Figura 10 – Gráfico da Taxa de juros (Selic)
Fonte: elaborado pela autora (2022) com base em www.ipeadata.gov.br
[http://www.ipeadata.gov.br/] .
Se o cenário é de crise econômica (2008; 2009; 2016; 2020) ou expansão da inflação (2013;
2021), o Copom tenderá a aumentar a taxa de juros com o objetivo de reduzir o consumo e, por
meio deste mecanismo, reduzir o preço dos produtos. Se o objetivo for a expansão da base
monetária, visando a expansão do consumo de bens e serviços – e, por consequência, do
emprego – o Copom tenderá a reduzir a taxa de juros, para estimular os gastos. Assim, ao se
elevar a taxa Selic, espera-se que as taxas de juros reais venham a subir, o que implica
diminuição de investimentos pelas empresas e redução do consumo por parte das famílias –
levando a uma redução da demanda por bens e serviços, contribuindo por meio deste “remédio
amargo” para a redução da inflação.
A taxa de juros, vale lembrar, estimula também o comportamento dos investidores estrangeiros.
Os aumentos das taxas de juros tendem a atrair mais os investidores estrangeiros, aumentando
o fluxo de moedas estrangeiras noBrasil, atraídos por remuneração mais alta que as recebidas
em seus países de origem; assim como, as reduções dessas taxas tendem a atrair menos os
investimentos externos para o Brasil.
Dada a importância das decisões do Copom, para que a política monetária alcance seus
objetivos desejados, o BC busca se comunicar de forma clara e transparente. Assim, o Copom
expressa os critérios de suas decisões à sociedade (leia-se, mercado) da forma mais pública
possível – por meio de comunicado na internet. Em geral, as reuniões do Copom acontecem às
terças e quartas-feiras, e a ata é divulgada na terça-feira da semana seguinte, às 8h00.
Além do comunicado e da ata da reunião, o Banco Central publica, a cada trimestre, o Relatório
de Inflação, no qual se avalia a evolução recente e as perspectivas da economia, com ênfase nas
perspectivas para a inflação. Sem contar os vários fundamentos sobre a Política Monetária
disponibilizados na página do Banco Central sobre: O que é inflação; Metas para a inflação;
Comitê de Política Monetária (Copom); Comunicados do Copom; Atas do Copom; Relatório de
Inflação; Expectativas de mercado, entre outros.
Exemplo de informes publicados pela Ata do Copom (22/03/2022)
1. No cenário externo, o ambiente deteriorou-se substancialmente. O conflito entre Rússia e
Ucrânia levou a um aperto significativo das condições financeiras e aumento da incerteza em
torno do cenário econômico mundial. Em particular, o choque de oferta decorrente do conflito tem
o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias (...). Desde a última reunião, a maioria das
commodities apresentou avanços relevantes em seus preços, em particular as energéticas.
2. A reorganização das cadeias de produção globais, com a criação de redundâncias na produção
e no suprimento de insumos e mudança no tratamento dos estoques de bens (no sentido de se
deter maiores estoques), ganhou novo impulso com o conflito na Europa (...) esses
desenvolvimentos podem ter consequências de longo prazo e se traduzir em pressões
inflacionárias mais prolongadas na produção global de bens.
3. Em relação à atividade econômica brasileira, a divulgação do PIB do quarto trimestre de 2021
apontou um ritmo de atividade acima do esperado, (...) Indicadores relativos ao comércio e aos
serviços mostraram evolução ligeiramente melhor que a esperada em janeiro, enquanto a
indústria contraiu no mesmo mês. Indicadores do mercado de trabalho seguiram mostrando
recuperação consistente de empregos no último trimestre de 2021 e em janeiro de 2022.
4. Para 2022, (...) o Copom segue avaliando que o crescimento tende a ser beneficiado pelo
desempenho da agropecuária, ainda que em volume menor que o projetado na última reunião, e
pelo processo remanescente de normalização da economia – particularmente no setor de
serviços e no mercado de trabalho.
5. A inflação ao consumidor segue elevada, com alta disseminada entre vários componentes, e
mais persistente que o antecipado. A alta nos preços dos bens industriais não arrefeceu e deve
persistir no curto prazo, enquanto a inflação de serviços acelerou ainda mais. (...).
6. As diversas medidas de inflação (...) apresentam-se acima do intervalo compatível com o
cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2022 e 2023 (...)
encontram-se em torno de 6,4% e 3,7%, respectivamente.
7. (...) Esse cenário supõe trajetória de juros que se eleva para 12,75% a.a. em 2022 e reduz-se
para 8,75% a.a. em 2023. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados
são de 9,5% para 2022 e 5,9% para 2023. (...).
8. (...) Nesse cenário, considerado de maior probabilidade, adota-se a premissa na qual o preço do
petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado até o fim de 2022, terminando o ano
em USD100/barril e passando a aumentar 2% ao ano a partir de janeiro de 2023. Nesse cenário,
as projeções de inflação do Copom situam-se em 6,3% para 2022 e 3,1% para 2023.
Disponível em: www.bcb.gov.br [https://www.bcb.gov.br/publicacoes/atascopom] .
Videoaula - Superávit primário
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A terceira perna desse tripé, a meta fiscal, começou a ser construída pela Lei nº 9.496/97, que
instituiu o Programa de Apoio à Reestruturação e ao Ajuste Fiscal dos Estados, com o objetivo de
impor disciplina às finanças dos governos estaduais e municipais por meio de refinanciamentos
de dívidas municipais e estaduais junto à União. A Lei autorizou a União a assumir dívida pública
mobiliária e outras obrigações de operações de crédito interno e externo, ou empréstimos junto à
Caixa Econômica Federal e dívida pública mobiliária para pagamento de precatórios judiciais, dos
Estados e do Distrito Federal. Os contratos de refinanciamento deveriam ser pagos em até 360
meses, com juros variando de 6% a 9% a.a., mais atualização monetária calculada mensalmente
com base no IGP-DI/FGV.
O tripé macroeconômico2.2
Meta fiscal2.2.3
Em consequência, em seu artigo segundo, estabelece objetivos específicos para cada unidade da
Federação, de modo que cada uma delas cumprisse, obrigatoriamente, metas ou compromissos,
quanto a: dívida financeira em relação à receita líquida real; resultado primário (entendido como
a diferença entre as receitas e as despesas não financeiras); despesas com funcionalismo
público; despesa com pessoal; privatização, permissão ou concessão de serviços públicos,
reforma administrativa e patrimonial; dentre outras.
Em âmbito federal, as mudanças na área fiscal foram introduzidas pelo Plano de Estabilidade
Fiscal, publicado em outubro de 1998, que tinha por objetivo principal atingir o equilíbrio das
contas públicas por meio da introdução de mudanças estruturantes no regime fiscal do país,
atreladas a pelo menos três objetivos básicos do Plano Real: estabilidade da moeda, crescimento
sustentado com mudança estrutural e ganhos de produtividade. O Plano defendia um conjunto
de ações a ser colocadas em prática entre 1999 e 2001, que visavam instituir nova ordem às
contas públicas do conjunto dos diversos poderes e níveis de governo, por meio dos ataques, ao
ver do governo de FHC, das raízes e das causas estruturais dos desequilíbrios das contas
públicas brasileiras. Tais ações novas viriam a se juntar às ações, em andamento, da Reforma
Administrativa, já aprovada nesta ocasião, pelo Congresso Nacional, a saber: Reforma da
Previdência Social e a instituição da Lei Geral da Previdência Pública; reformas tributária e
trabalhista, para a promoção da competitividade do setor produtivo e com vistas a estimular
maior crescimento econômico e a geração de empregos; e, por fim, a Lei de Responsabilidade
Fiscal. Tais reformas, ao ver do governo, garantiriam a obtenção de superávits primários
crescentes e suficientes para estabilizar a dívida líquida consolidada do setor público e garantir a
expansão do Produto Interno Bruto.
Este movimento em direção à consolidação de um ajuste fiscal no País ganhou novos contornos
a partir da Lei Complementar nº 101, de 04/05/2000, que estabeleceu normas de finanças
públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. De acordo com a Lei (art. 4º,
parágrafo 1º),“Integrará o projeto de lei de diretrizes orçamentárias o Anexo de Metas Fiscais, em
que serão estabelecidas metas anuais, em valores correntes e constantes, relativas a receitas,
despesas, resultados nominal e primário e montante da dívida pública, para o exercício a que se
referirem e para os dois seguintes”.
Em relação às despesas total com pessoal, impõe-se limites de gastos, não podendo os entes da
Federação exceder os percentuais da receita corrente líquida a seguir discriminados: União: 50%;
Estados: 60%; Municípios: 60% (BRASIL, 2000).
O Programa de Estabilidade Fiscal, no entanto, acabou sendo implantado por meio de aumento
de arrecadação federal, enquanto as despesas continuaram crescendo. Em consequência,a
carga tributária cresceu durante o período, sobretudo, dada a dificuldade de se cortar custos,
sobretudo os sociais, em um país marcado pela exclusão e pela desigualdade.
O aumento da arrecadação federal foi proporcionalmente maior que a expansão do PIB,
sobretudo no primeiro ano do Real. A partir daí, no entanto (à exceção de março de 1996),
observa-se certo equilíbrio na evolução desses dois indicativos até o mês de outubro de 1988 –
ano da eleição presidencial. A partir de dezembro de 1998, no entanto, a expansão da
arrecadação passou a subir em um ritmo bem superior ao alcançado pelo crescimento do PIB.
Tomando-se o mês de outubro de 1998 como base e o de dezembro de 2002 como teto, verifica-
se que, enquanto a receita bruta federal cresceu pouco mais de 136%, a expansão do PIB cresceu
bem menos, algo em torno de 49%, no mesmo período.
Figura 11 – Gráfico da receita bruta federal
Fonte: elaborado pela autora (2022) com base em www.ipeadata.gov.br
[http://www.ipeadata.gov.br/] .
Figura 12 – Gráfico da evolução da carga tributária brasileira, 1990-2020
Fonte: elaborado pela autora (2022) com base em seriesestatisticas.ibge.gov.br
[https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=SCN49] ;
sisweb.tesouro.gov.br [https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?
p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:3823] .
Há que se levar em conta que a carga tributária brasileira vinha crescendo desde antes do
processo de redemocratização, concluído com a Constituição Cidadã, de 1988. A Carga Tributária
Bruta, que em 1950 representava 14,4% do PIB, chegou ao final do governo de JK, em 1960, em
17,4%. Ao longo do Regime Militar saltou de 17% (em 1964) para 23,8% do PIB; em 1985 (em
1983, no entanto, já havia atingido o índice de 26,8%) (IBGE). Em 1990, já beirava os 30% (29,6%).
Após uma redução desta tendência por meio de ações do governo neoliberal, de Fernando Collor
de Mello, observa-se, a partir do Plano Real, uma oscilação para cima deste índice. Esta
tendência voltou a ocorrer a partir do segundo mandato de FHC (Reforma do Estado) e
prosseguiu ao longo do governo de Lula (2002-2010), chegando-se ao recorde de 34%, em 2007
– em função, sobretudo, dos programas sociais que visavam à distribuição de renda, que voltou
a crescer, após a Constituição de 1988, sobretudo após o Plano Real.
Tabela 4 – BRASIL. Rendimento familiar per capita, 1992-2009
Período
Até 1/2
salário
mínimo
Mais de 1 a 2
salários mínimos
Mais de 2 a 3
salários mínimos
Mais de 3 a 5
salários mínimos
Mais de 5
salários
mínimos
1992 42,4 15,3 4,8 3,6 2,7
1993 42,3 14,8 4,9 3,9 3,3
1995 33,0 18,0 6,6 5,8 5,3
1996 31,8 18,9 7,0 5,5 5,4
1997 31,7 19,3 7,1 5,5 5,4
1998 32,1 18,7 6,8 5,6 5,2
Período
Até 1/2
salário
mínimo
Mais de 1 a 2
salários mínimos
Mais de 2 a 3
salários mínimos
Mais de 3 a 5
salários mínimos
Mais de 5
salários
mínimos
1999 32,7 18,5 6,6 5,3 4,9
2001 31,7 19,1 7,0 5,4 5,0
2002 31,9 19,6 7,0 5,1 5,0
2003 32,1 19,3 6,5 5,0 4,4
2004 31,0 20,1 7,0 4,8 4,4
2005 29,1 21,5 7,2 5,3 4,8
2006 25,7 22,9 8,2 5,9 5,4
2007 23,5 24,3 8,2 6,2 5,5
2008 22,8 24,9 8,7 6,4 5,5
2009 23,3 24,8 8,3 6,0 5,1
Fonte: elaborado pela autora (2022) com base em seriesestatisticas.ibge.gov.br
[https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=SCN49] .
Em 1992, o rendimento familiar per capita de cerca de 42% dos brasileiros estava em torno de
meio salário mínimo; em 2009, menos de 1/4 dos brasileiros recebiam ainda este valor. Ao
mesmo tempo, a quantidade de brasileiros com renda per capita entre mais de um e dois salários
mínimos cresceu, passando de 15,3% para quase um quarto dessas famílias. Crescimento
expressivo também se observa nas demais famílias com rendimento per capita equivalente a
mais de dois e até cinco salários mínimos; isso em um período de valorização do salário mínimo
nacional, tal qual se pode observar a seguir, entre 1994 e 2019.
Figura 13 – Gráfico PIB
Fonte: elaborado pela autora (2022) com base em www.ipeadata.gov.br
[http://www.ipeadata.gov.br/] .
Se tomado isoladamente o período de FHC, verifica-se um aumento real do salário mínimo em
mais de 50%, enquanto a renda per capita subiu cerca de 26% – em um período em que a
população aumentou apenas 16%. Se tomado todo o período (2004 como piso e 2019 como teto),
a variação é ainda maior: enquanto a população aumentou 35% o PIB per capita, medido em
dólares, quase dobrou, ao mesmo tempo em que o valor real do salário mínimo aumentou quase
170%. Não por acaso, o percentual da população que vive abaixo da linha da pobreza no Brasil foi
reduzido de 35,16% em 1992 para 26,72% em 2002, chegando a 2009 a 15,54% (IBGE).
O país alcançou, assim, um patamar de distribuição de rendas com efetiva estabilidade de
preços, uma vez que, após várias tentativas com diferentes planos de estabilização, desde o
Plano Cruzado, de 1986, logrou-se, com o Plano Real – debelar a hiperinflação inercial, que havia
atingido índices de 1.700% ao ano em 1990; 1.174% em 1992 e 2.567%, em 1993.
E, vale lembrar que, mesmo no ano de implantação do Real, 1994, os preços chegaram a
aumentar mais de 1.246% ao ano; recuando, enfim, para níveis economicamente aceitáveis após
1995.
Em que pese picos inflacionários observados em anos específicos como 1999, 2002 e 2020, na
maior parte dos anos a inflação (IGP-M) se manteve em patamares abaixo de 10% ao ano.
Portanto, nada comparável à hiperinflação anterior a 1994.
Vale destacar, no entanto, que o crescimento do PIB brasileiro, pós-Real, se mostrou bastante
modesto; ficando abaixo ao alcançado na década de 1980, considerada pelos economistas como
sendo a década perdida.
Figura 14 – Gráfico do Índice geral de preços do mercado (IGP-M), 1990-
1995 (em %)
Fonte: elaborado pela autora (2022) com base em www.ipeadata.gov.br
[http://www.ipeadata.gov.br/] .
Ao adentrar a década de 1990, tomando como base uma taxa de crescimento econômico
histórica – de 5,4% ao ano desde o início do século – os economistas passaram a apontar o
crescimento do PIB da década de 1980 como sendo o de uma “década perdida”. Segundo
Modiano:
A década de 1990, comparativamente à de 1980, conforme se pode observar em relação ao
crescimento do PIB, não havia começado bem: no ano de 1990, o PIB havia se reduzido em 3,1%;
em 1992, o PIB cresceu negativamente, novamente. A inflação chegou a atingir mais de 80% ao
mês. Na média, ao longo da década (de 1990), o crescimento do PIB ficou abaixo de 2% ao ano.
No entanto, o governo de Fernando Collor, instituído em 15 de março de 1990, deu início a um
conjunto de novas estratégias – atreladas ao processo de globalização – que o distinguiu dos
governos anteriores aos da década de 1980 pela propositura das reformas estruturais
desencadeadas: a) pela abertura comercial; b) pelo processo de privatizações; c) pela reforma do
Estado: focada na redução do papel do Estado como produtor de bens e serviços e na
reorganização da administração pública federal.
De acordo com Modiano in Abreu (2014, p. 1), embora a década de 1990 tenha apresentado
crescimento econômico ainda mais modesto que o da década de 1980, aquela foi marcada por
O produto real da economia brasileira se expandiu à taxa média de 4,4% ao ano entre 1985 e 1989. A
análise dos índices trimestrais do PIB real revela que a estagnação da produção se iniciou no final
de 1986, após dois anos consecutivos de crescimento superior a 7% ao ano. Entre 1980 e 1989 o PIB
cresceu apenas 2,9% ao ano em contraste com mais de 8% ao ano na década de 1970. Levando em
conta o crescimento populacional de 2% ao ano, a renda per capita da economia brasileira avançou
apenas 0,9% ao ano na década de 1980. (MODIANO, 2014, p. 311)
Figura 15 – Gráfico da Variação anual do PIB (em percentual), 1980-2020
Fonte: elaborado pela autora (2022) com base em
seriesestatisticas.ibge.gov.br
[https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?vcodigo=SCN49] .
reformas, não apenas relativas à abertura comercial e à privatização, mas pelosucesso no
controle da inflação e pelas reformas modernizadoras que teriam inaugurado uma nova etapa da
história econômica do país, mais em conformidade com os padrões internacionais esperados
pelos investidores, sobretudo aqueles relativos ao risco-Brasil, medidos por meio do índice
EMBI+ (Emerging Markets Bond Index Plus), que estima o desempenho diário dos títulos da
dívida dos países emergentes – que passaram a ser estratégicos para o financiamento das
economias emergentes, como o Brasil, a partir da década de 1990.
Do ponto de vista externo, tomando-se por base o risco-país, por exemplo, parece que a
economia brasileira, neste novo formato, passou no teste da credibilidade do mercado
internacional. No dia do lançamento do Plano Real, o risco-Brasil havia atingido o patamar de
1.179 pontos; e acima de mil pontos se manteve até o ano seguinte. A partir daí, exceto no tenso
ano eleitoral de 2002 em que o índice bateu seu recorde, passou a cair a patamares iguais ou
inferiores a 400 pontos; em 2011, chegou à marca de 147 pontos, indicando alta credibilidade da
política macroeconômica brasileira.
Desse modo, pode-se observar que ao longo da década de 1990 não se introduziu “apenas” a
estabilização da moeda, mas também toda uma nova ideia-síntese de condução da política
macroeconômica do país, embasada no conceito de tripé macroeconômico (câmbio flutuante,
meta de inflação e meta fiscal); o que, segundo seus defensores, passou a reger a não apenas a
política econômica no Brasil, mas também a da maioria dos países desenvolvidos.
Figura 16 – Gráfico comparativo anual do risco-país
Fonte: elaborado pela autora (2022) com base em www.ipeadata.gov.br
[http://www.ipeadata.gov.br/] .
Recapitulando a Unidade 2
Ao longo da década de 1990, a política macroeconômica brasileira passou por uma mudança de
paradigma ao adotar três pilares fundamentais em sua condução: câmbio flutuante, meta de
inflação e meta fiscal – o denominado tripé macroeconômico – modelo este que vem sendo
adotado pela maioria dos países desenvolvidos.
Por meio desses fundamentos é que foram estabelecendo uma série de ações que vêm pautando
o funcionamento da economia brasileira nas últimas décadas. Tais ações buscam demonstrar
transparência às políticas macroeconômicas, de modo a permitir que os agentes econômicos –
sobretudo investidores estrangeiros – se animem em participar do mercado brasileiro;
lembrando que estes serão atraídos não apenas em função dos juros pagos pelo Brasil, mas
também dos riscos de calote que este País oferece.
Os dados relativos ao risco-Brasil, no entanto, parecem atestar que o Brasil oferece bem menos
riscos aos investidores que os da década de 1990 (e início de 2000; leia-se 2002), quando esses
índices alcançaram patamares bastante superior a mil pontos; algo bem distinto do que vem
ocorrendo no início da década de 2020, quando esse índice, apesar da crise econômica
desencadeada pela pandemia da covid 19 (2020-2022), alcançou uma média de 329 pontos.
Sistema Financeiro Nacional3
De acordo com Sandroni (1999), o Sistema Financeiro Nacional é formado por um conjunto
amplo de instituições responsáveis pela política monetária do governo sob a gestão do Conselho
Monetário Nacional (CMN), a saber: Banco Central do Brasil, que tem por função principal
executar as normas estabelecidas pelo CMN, Banco do Brasil, Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social e bancos regionais de desenvolvimento, Banco Nacional da
Habitação, sociedades de crédito imobiliário, associações de poupança e empréstimo,
cooperativas habitacionais, Caixa Econômica Federal e as estaduais, Bolsas de Valores, fundos
de investimentos, sociedades financeiras de crédito e financiamento, distribuidoras de valores e
corretoras (SANDRONI, 1999, p. 562). O Sistema funciona a partir de sua missão definida nos
termos do art. 192 da Constituição Federal, segundo o qual:
A partir desta incumbência é que o Sistema Financeiro Nacional contribuiu para a realização dos
objetivos da política macroeconômica; mais especificamente por meio da manutenção do
desenvolvimento; da fiscalização de atividades de crédito; e da fiscalização de atividades de
circulação de moeda. Funciona, portanto, por meios de seus agentes normativos, supervisores e
operadores, que são os responsáveis, respectivamente, pela determinação das regras gerais, pelo
funcionamento do sistema e por fazer cumprir as regras, no ato das ações realizadas pelos
operadores do sistema financeiro.
São operadores do Sistema Financeiro Nacional as bolsas de valores, a Caixa Econômica Federal
e os demais bancos, os administradores de consórcios, as corretoras e distribuidoras, as
cooperativas de crédito, as instituições de pagamento e demais instituições não bancárias, a
bolsa de mercadorias e futuros, as entidades abertas de previdência, as entidades fechadas de
previdência complementar, os seguradores e resseguradores, e as sociedades de capitalização.
Instituições do Sistema Financeiro Nacional3.1
O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do
País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as
cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a
participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram. (BRASIL, 2016, p. 114).
Principais operadores do sistema financeiro3.2
Bolsa de Valores3.2.1
A Bolsa de Valores é um local – um mercado – em que investidores compram ou vendem os
denominados valores mobiliários.
TÍTULO (Valor mobiliário)
Documento que certifica a propriedade de um bem ou de um valor. O termo aplica-se
genericamente a todos os valores mobiliários.
Distinguem-se dois tipos de títulos: os títulos comerciais (letra de câmbio, nota promissória,
duplicata), que se caracterizam pelo prazo de vencimento relativamente curto e pelo direito que
têm seus portadores de receber em moeda corrente as importâncias por eles representadas; e os
títulos de renda (ações, debêntures, títulos de dívida pública), de vencimento a prazo longo e cujos
portadores têm direito a receber rendimentos por eles produzidos. Quando contêm o nome e o
domicílio do proprietário, chamam-se títulos nominativos; quando o proprietário não é designado,
chamam-se títulos ao portador e podem ser livremente negociados, independentemente de
qualquer ato escrito ou endosso (SANDRONI, 1999, p. 604).
Do ponto de vista dos agentes econômicos que negociam na bolsa, o objetivo das operações é,
sobretudo, a obtenção de ganhos, a partir de seus investimentos. Na perspectiva de uma
empresa, por exemplo, a venda de suas ações na bolsa de valores pode ser um excelente meio
para a captação de recursos, desde que a companhia se submeta a se transformar em uma
sociedade anônima de capital aberto.
As empresas em bolsa podem negociar diretamente com investidores interessados em suas
ações – por meio do mercado denominado primário. Em geral, as empresas realizam operações
no mercado primário durante a fase de estreia na bolsa (na abertura de capital na bolsa de
valores), processo denominado pelo mercado IPO (Initial Public Offering). Neste caso, ao vender
suas ações, os capitais arrecadados são direcionados diretamente para o caixa da empresa em
questão.
Outra forma de a empresa ser negociada na bolsa é por meio do mercado secundário. Neste
caso, os investidores compram e vendem ações “de segunda mão”; aquelas já disponibilizadas
anteriormente no mercado, pelas empresas, e que estão disponíveis para serem compradas (por
interessados) ou vendidas pelos investidores, que são os portadores dessas ações. Neste caso,
os papéis (os títulos) apenas mudam de propriedade e o resultado desta compra (se positivo) irá
para o “caixa” do antigo portador dessas ações – e não para a empresa, uma vez que a ação,
neste caso, indica apenas que seu possuidor é o proprietário de certa parte (fração) de uma
determinada

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