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INCONSCIENTE E PULSÃO: um mapeamento da sexualidade 
 
Prof. Thúlio Luis Ferreira 
 
A noção de níveis de consciência, de conflitos internos, já tinha sido tematizada por filósofos 
e poetas, como Schopenhauer, Nietzche e Goethe1, em contraste a ênfase da razão moderna submetida 
ao domínio do cogito cartesiano. Freud, em diálogo com essa tradição, de maneira original, demostrou 
o inconsciente e seu funcionamento na vida psíquica. Coloquialmente, entende-se inconsciente como 
uma lembrança que está temporiamente fora da consciência, mas passível a rememoração. O médico 
austríaco, confere um outro significado ao inconsciente que deixa de ser concebido como uma 
“supraconsciência” ou um “subconsciente”, situado acima ou além da consciência, para uma nova 
concepção segundo a qual ele – inconsciente - pertence a uma instância psíquica que autora leis 
próprias de conteúdos que a consciência não acessa, subordinado ao princípio do prazer. 
Sigmund Freud (1856-1939), médico psiquiatra e neurologista, ao trabalhar na França com 
Charcot, no hospital de Salpetriere, constata que os sintomas físicos das chamadas histéricas, como 
cegueiras, movimentos musculares involuntários, perdas de fala, delírios e alucinações, etc, 
ultrapassavam a dimensão bioquímica do cérebro2. Naquele contexto, o tratamento, proposto por 
Breuer e Charcot, era realizado através do método designado como catártico, ou seja, ao se evocar, no 
estado de hipnose, pelo relato do paciente, as lembranças dos eventos traumáticos os sintomas 
desapareciam3, atestando que o corpo está submetido a uma lei inconsciente. Portanto, “as experiências 
hipnóticas, aliás, especialmente a sugestão pós-hipnótica, demonstraram de modo tangível a existência 
e maneira de operar do inconsciente psíquico, antes mesmo da época da psicanálise.” (FREUD, 1996, 
p.100). 
Na literatura freudiana pré-psicanalítica, Freud contesta que a disfunção da comunicação, 
chamada afasia, não se fundamenta em teorias “localizacionistas” no cérebro, mas na estrutura de um 
mecanismo psíquico (cf. Sobre a concepção das Afasias: um estudo crítico. (1891). Já na Carta 52 
(1896), dirigida a Flies, ele argumenta que tal aparelho psíquico se constitui a partir da “inscrição” de 
conteúdos vividos nas várias camadas da memória. Sendo assim, teoriza que o registro das 
experiências ou vivencias na psique se dá de três formas: signo de percepção, inconsciência e pré-
 
1 Cf. A origem e a história da Psicanálise. 
2 Cf. Freud e o início da Psicanálise. 
3 Cf. A histeria entre Freud e Charcot e Os primeiros casos de Freud. 
consciência. A hipótese de que o aparelho psíquico se encontra organizado em camadas, sendo que a 
segunda “corresponderiam talvez a lembranças conceituais e seriam da mesma forma, inacessíveis à 
consciência” (Freud, 1896/2017, p. 36) é precursora do que irá desenvolver em toda o arcabouço na 
psicanálise fundamentado na noção do inconsciente. 
Você sabe que eu trabalho com a suposição de que nosso mecanismo psíquico tenha 
surgido de uma sobreposição de camadas, na qual de tempos em tempos, o material 
apresentado na forma de traços mnêmicos sofre uma reorganização, uma reescrita, a 
partir de novas relações. Portanto, o que há de fundamentalmente novo em minha teoria 
é a afirmação de que a memória não está disposta em apenas uma, mas em várias 
camadas, que é escrita com vários tipos de signos. Postulei a existência de uma 
reorganização semelhante algum tempo atrás (Afasia) para as vias que provêm da 
periferia do corpo até o córtex. Quantos desses tipos de escrita existem eu não sei. Pelo 
menos três, provavelmente mais. (Freud, 1896/2017, pp. 35-36). 
 
 Na obra A interpretação dos sonhos, publicada na virada do século XIX, inaugura-se a 
psicanálise como um campo epistemológico próprio, um saber e um método4, para o tratamento do 
sofrimento psíquico. Depois de apresentar uma revisão bibliográfica sobre a temática, Freud propõe 
que os sonhos se constituem de um “conglomerado de formações psíquicas” (Freud,1900/2019, p. 135) 
passíveis de serem interpretados, o que “significa informar o seu sentido, substituí-lo por algo que se 
insere como ele equivalente no encadeamento das noções psíquicas” (Freud, 1900/2019, p. 127). O 
trabalho do sonho é dissimular, enquanto busca realizar o desejo reprimido e ausente da consciência. 
Destarte, no capítulo VII, Freud apresenta três instâncias do aparelho psíquico: o inconsciente (Ics), 
pré-consciente (Pcs) e consciente (Cs). 
 A partir de então o codificador da psicanálise desenvolverá ao longo da vida sua 
metapsicologia5, isto é a descrição do funcionamento do aparelho psíquico, sistematizada pelas 
perspectivas: dinâmica, econômica e sistemática. A primeira, corresponde ao conflito das forças 
pulsionais em decorrência da resistência dos conteúdos recaldeados no inconsciente. A segunda, trata 
da gestão da energia psíquica provenientes das excitações. Na terceira, se verifica o funcionamento 
das instâncias psíquicas: inconsciente, pré-consciente e consciente na versão da primeira tópica e Id, 
Ego e superego na interpretação da segunda tópica. 
 O aparelho psíquico sofre uma pressão, tanto de estímulos externos, quanto internos. O nome 
dado a esse quanto de energia psíquica é pulsão ”um conceito fronteiriço entre o anímico e o somático, 
como representante psíquico dos estímulos oriundos do interior do corpo que alcançam a alma, como 
uma medida da exigência de trabalho imposta ao anímico em decorrência de sua relação com o 
corporal. (FREUD, 2017, p.32). Enquanto o instinto se caracteriza de modo hereditário e biológico, 
inato e universal, fixo e inalterado, portanto, por comportamentos de todos os indivíduos de uma 
 
4 Cf . O método em Freud e O que é a psicanálise? (parte 2). 
5 Cf. Freud, a Metapsicologia e a Clínica Atual. 
mesma espécie, a pulsão se caracteriza de modo cultural e circunstancial, contingente e individual, 
dinâmico e parcial. São 4 seus elementos: a pressão ou “seu fator motor, a soma de força ou a medida 
da exigência de trabalho que ela representa.” (FREUD, 2017, p.32); a fonte que corresponde às 
excitações oriundas das zonas erógenas, diz ele: “por fonte da pulsão entende-se o processo somático 
em um órgão ou parte do corpo, cujo estímulo é representado na vida anímica pela pulsão. (FREUD, 
2017, p.33); o objetivo ou “ a meta de uma pulsão é sempre a satisfação” (FREUD, 2017, p.33) 
definida como a redução da tensão provocada pela pressão, ou seja, a satisfação ou princípio de prazer 
se destina a redução do desprazer; e o objeto que “é aquele junto ao qual, ou através do qual, a pulsão 
pode alcançar sua meta. É o que há de mais variável na pulsão, não estando originariamente a ela 
vinculado, sendo apenas a ela atribuído por sua capacidade de tornar possível a satisfação.” (FREUD, 
2017, p.33). Em suma, enquanto o instinto tem um objeto universal de prazer (ex.: comer), a pulsão – 
fundamento e funcionamento do aparelho psíquico entre o somático (hormônios, ex.) e o psíquico 
(afetos, ex.) - se manifesta é uma tensão no interior do organismo que busca parcialmente esgotar em 
objetos contingenciais de satisfação. (ex.: comer muito junto a alguém e não sentir fome em outra 
situação)6. 
 Em meados de 1890, Freud postulou a noção de defesa do ego frente as representações 
associadas à vida sexual da pessoa. Já na teoria do recalque, ele recorre, inicialmente, à teoria da 
sedução argumentando sobre o recalque de lembranças traumáticas ligadas a sensações e experiências 
sexuais sofridas passivamente na infância pela criança, que não tem sexualidade, seduzida por alguém 
mais velho. O fundador da psicanálise abandonou essa interpretação e elaborou uma nova teoria 
reconhecendo a sexualidade infantil. Ao asseverar que a criança, mesmo imatura biologicamente, é 
capaz de construir, no plano inconsciente, fantasias sexuais, Freud viabiliza a formulação da teoria da 
sexualidade7.Disruptivo com a noção comum que define a sexualidade como sinônimo das atividades 
prazerosas dependentes de genitalidade e reprodução, o pensador-clínico confere à sexualidade um 
sentido amplo, ultrapassando a fronteira do genital compreende uma gama de excitações e desejos 
presentes no indivíduo desde sua infância, portanto, não se limita ao corpo biológico, pois é, produzida 
por experiências psíquicas inconscientes em busca da satisfação ou redução da tensão8, em que se 
verifica, portanto, a noção de pulsão sexual. 
O elemento central da concepção freudiana da pulsão é seu caráter eminentemente 
parcial, especificado por uma fonte pulsional (oral, anal, etc.) e por um alvo (a resolução 
de uma tensão interna). Através da formulação da parcialidade da pulsão, Freud indica 
o erro inerente ao fato de se restringir a sexualidade humana ao aspecto da reprodução. 
[...] nos mecanismos institucionais do animal, pela circunscrição da atividade sexual 
 
6 Cf. Primeira Tópica e a Pulsão de vida. 
7 Cf. O que é a psicanalise? (parte 1). 
8 Cf. Sexualidade e o Complexo de Édipo. 
https://espe.app.toolzz.com.br/posgraduacao/play/curso/22021085?institution=espe#divCollapseAula4
aos ciclos periódicos de cio. Enquanto a sexualidade humana é pulsional e obedece a 
uma força constante da libido, o sexo no animal é cíclico e biologicamente teleológico, 
visando exclusivamente a reprodução. (JORGE, 2000, p. 47-48) 
 
 Inicialmente, considerando o conflito entre sexualidade inconsciente e o Ego, Freud propôs a 
diferença entre pulsão sexual, que capaz de desestabilizar o ego solicita a defesa psíquica do recalque, 
e a pulsão de autoconservação concernente as funções de preservação, como a alimentação9. 
Posteriormente, sobretudo, a partir da sua clínica com a esquizofrenia e a paranoia, conclui que o ego 
também recebe investimento libidinal, donde ele avança no estudo sobre o narcisismo. Bem, com isso, 
se antes a pulsão sexual se apresentava como ameaça ao ego, agora ela é própria condição para sua 
constituição. No artigo Além do Princípio do prazer (1920), Freud reforma sua metapsicologia através 
da constatação de um movente anterior e independe ao princípio do prazer que orientava o 
funcionamento do inconsciente, até então. Ele verifica na sua prática a compulsão à repetição atribuída 
ao inconsciente que repercute na consideração da pulsão ao inanimado, a chamada de pulsão de 
morte10. O retorno ao trauma, por exemplo, denuncia o principio além do prazer rumo ao zero, ao 
inorgânico, a eliminação da tensão pulsional, logo, à morte. Ex.: a com-pulsão de trabalhar mesmo 
doente e com a advertência que isso trata consequências vitais11. 
 Em síntese, a teoria psicanálítica de Sigmund Freud destaca a profunda inter-relação entre 
sexualidade, pulsão e inconsciente na formação da psique humana. Para ele, a sexualidade não se 
restringe apenas ao aspecto genital, mas ao domínio do prazer/satisfação. As pulsões sexuais, parte 
integrante do Eros, estão intrinsecamente ligadas ao inconsciente, onde se manifestam de forma velada 
e simbólica. O inconsciente pode ser tratado como mecanismo/funcionamento representante da pulsão. 
Freud, apresenta duas versões, como comenta o professor Fernando Zaparoli: “a pulsão de vida é uma 
energia capaz de produzir e conduzir a vida, embora inconscientes dos reais desejos. Diferente da 
pulsão de morte que é a tendência a voltar ao estado primitivo da inercia”12. Ao compreender a 
dinâmica entre sexualidade, pulsão e inconsciente, a psicanálise busca desvendar os processos 
psíquicos subjacentes e as motivações ocultas à consciência que repetem como sintomas, causas de 
sofrimento, na vida dos indivíduos. 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
9 Cf. Primeira tópica e a Pulsão de vida (Miniaula). 
10 Cf. Segunda Tópica e a Pulsão de Morte. 
11 Cf. Compulsão e Repetição na Psicanálise. 
12 Cf. Primeira Tópica e a Pulsão de vida 
https://espe.app.toolzz.com.br/play/player/22021085?escola_id=posgraduacao&aula=55589&conteudo=40687291&institution=espe&school=posgraduacao
 
COUTINHO JORGE, Marco Antônio. Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan, v.1: as bases 
conceituais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000. 
 
FREUD, S. “As pulsões e seus destinos”. Obras incompletas de Sigmund Freud. Belo Horizonte: 
Autêntica, 2017. (Trabalho original publicado 1915). 
 
__________ Carta 112 [52], de 06 de novembro de 1896. In M. R. S. Moraes (Trad.) Obras 
Incompletas de Sigmund Freud: Neurose, Psicose, Perversão. Belo Horizonte: Editora Autêntica. 2017. 
(Trabalho original publicado em 1896). 
 
__________ Obras completas - A interpretação dos sonhos (P. C. de Souza, Trad.). São Paulo: 
Companhia das letras, 2019. (Trabalho original publicado em 1900). 
 
___________ Obras Incompletas de Sigmund Freud: Além do princípio do prazer. Belo Horizonte: 
Editora autêntica, 2020. (Trabalho original publicado em 1920). 
 
___________ O inconsciente. In Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, 
vol.XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996 (Trabalho original publicado 1915). 
 
___________ Sobre a concepção das afasias: um estudo crítico, tradução de Emiliano de Brito Rossi. 
Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013. 172 p.

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