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SISTEMAS ORGANIZACIONAIS AULA 1 Profª Dayse Mendes 2 CONVERSA INICIAL Caro aluno, nesta primeira aula de Sistemas Organizacionais, o objetivo geral é fornecer a você o vocabulário inicial necessário para o entendimento do que são as organizações e do modo como elas funcionam. Para tanto, você passará a conhecer os conceitos de organização, funções e atividades de um gestor, bem como suas competências, e ainda as ideias de sistemas, estrutura e cultura organizacionais. Entenda que qualquer tipo de organização necessita de gestores, pois, se há várias pessoas que trabalham para o alcance de um objetivo comum, há a necessidade de gerir os processos e sistemas que compõem a organização. Somente munido desses conceitos iniciais será possível entender melhor a atuação do gestor imerso em um sistema organizacional. Vamos lá! TEMA 1 – AS ORGANIZAÇÕES Para entender as organizações, é necessário compreender como essa estrutura social surgiu ao longo da história da espécie humana. Assim, fica mais fácil compreender o seu papel atual, protagonista, em nossa sociedade. Deve-se imaginar os primeiros seres humanos e sua luta diária para a sobrevivência. Suas necessidades eram básicas: alimento e abrigo. Bernardes (2014, p. 9) explica que é dessas necessidades que surge uma primeira “associação de pessoas com a função de alcançar a meta de obter carne para atender à necessidade básica de alimentação” dos homens e das mulheres que faziam parte desse grupo. Nessa associação, já se podia observar uma primeira divisão do trabalho, com base nas habilidades de caça de alguns elementos do grupo. Essa atribuição de tarefas diferenciando papéis se constitui num primeiro momento do estabelecimento de regras, denominado institucionalização. Para Bernardes (2014, p. 16), esse é um “fenômeno social”, abstrato por natureza, mas que culmina com associações concretas de pessoas denominadas organizações. Uma instituição é criada porque tem a função de suprir alguma necessidade da sociedade. Em virtude de as necessidades sociais serem variadas, é natural que se tenha criado diferentes instituições para satisfazê-las. Não há dúvida de que a primeira que surgiu foi a familiar, com a função de manter 3 a espécie humana por meio de uma estrutura de valores, de comportamentos e de normas. Outra instituição que surgiu cedo na história humana é a religiosa, com a função de mediar os anseios do homem perante a divindade por meio de uma estrutura de doutrinas, rituais e normas de procedimentos existentes em todas as seitas e, naturalmente, variando de uma para outra. Uma terceira instituição é a política, regulando e coordenando ações coletivas, e uma quarta é a educacional, com a função de adaptar melhor as pessoas à sobrevivência (inicialmente na selva e depois na cidade). Finalmente, surgiu uma quinta instituição, a econômica, tendo por finalidade regular a produção de bens, a prestação de serviços e as trocas comerciais, e, conforme novas necessidades surgem, novas instituições são criadas. Como já explicitado, “a instituição é um fenômeno social abstrato e geral, enquanto a organização é sua manifestação concreta e particular” (Bernardes, 1993, p. 14). Com isso, suas características são moldadas pelos aspectos peculiares da instituição a que pertence, e isso se torna óbvio ao compararmos entre si organizações como repartições públicas com fábricas, ou seitas religiosas com escolas, pois cada uma delas decorre de uma instituição básica diferente. Vale ressaltar que um tipo de organização pode pertencer, ao mesmo tempo, a instituições diferentes, ou seja, a mais de uma instituição. As organizações são associações presentes em toda a Terra. Nelas nascemos, vivemos e morremos, pois, se alguém não veio ao mundo em uma delas, o hospital, logo vai estudar em outra, a escola, para depois trabalhar em fábricas ou escritórios, comprar em lojas e supermercados, frequentar clubes e igrejas, assistir a espetáculos em teatros, comer em restaurantes e acabar enterrado em um cemitério público ou particular. No entanto, nem todas as associações de pessoas podem ser entendidas como organizações. Sendo assim, o que caracteriza uma organização? Uma organização é caracterizada pela associação de duas ou mais pessoas trabalhando cooperativamente dentro de limites identificáveis, para alcançar um objetivo ou uma meta comum. Em outras palavras, pode-se dizer também que as organizações se caracterizam por ter propósito, divisão do trabalho e coordenação. De acordo 4 com Silva (2008), pode-se compreender cada um desses elementos organizacionais da seguinte forma: Propósito: as organizações são orientadas de forma planejada para a realização de objetivos que podem ser classificados em duas categorias principais, a realização de bens e a realização de serviços. As organizações são grupos de pessoas que têm por objetivo alcançar propósitos coletivos, não importa se estes são impostos ou aceitos voluntariamente pelas pessoas que dela fazem parte. Assim, mesmo discordando de determinada decisão ou objetivo do grupo, ao fazer parte dele, o indivíduo deve aceitar esse propósito como seu. Divisão do trabalho: para que uma organização possa cumprir com sua missão, ou seja, com seu objetivo maior, a necessidade da sociedade que a organização pretende suprir, há a necessidade de especificar o que cada pessoa e cada grupo de pessoas deve realizar. Ou seja, assim como as organizações são especializadas em sua determinada missão, as pessoas e os grupos que nelas trabalham também são especializados em determinadas tarefas. “É a divisão do trabalho que permite superar as limitações individuais. Quando se juntam as pequenas contribuições de cada um, de forma estruturada, realizam-se produtos (bens e/ou serviços) que ninguém conseguiria fazer sozinho.” (Silva, 2008, p. 41). Coordenação: ao dividir o trabalho em uma organização, pretende-se obter o melhor de cada componente, já que haverá especialização das tarefas. No entanto, ao dividi-las, cria-se a necessidade de ter um mecanismo de sinergia que faça com que todas essas tarefas específicas convirjam para um mesmo objetivo. Caso não haja esse mecanismo, cada uma das partes componentes da organização pode buscar atingir seu objetivo individual, não cumprindo, então, a missão da organização. O mecanismo que cria essa sinergia é a coordenação, que, conforme Bernardes (2008, p. 12), serve para “integrar a execução das tarefas”. Pode-se observar ainda que há vários tipos de organização, dependendo do tipo de objetivo que esta se propõe a alcançar. Um exemplo são as empresas, cujo objetivo geral é o lucro ao final de um determinado período. Outro exemplo são as ONGs, cujo objetivo é resolver algum problema da sociedade, sem fins lucrativos. 5 Esse é o ambiente em que o gestor estará inserido e onde se espera que ele haja para que a organização possa alcançar seus objetivos, sempre de maneira eficaz. Entende-se por eficácia fazer a coisa certa, ou seja, fazer aquilo que é de sua responsabilidade da melhor forma possível. TEMA 2 – FUNÇÕES E ATIVIDADES DO GESTOR Ao observar um gestor, um leigo pode imaginar que ele não realiza muita coisa, pois, para o senso comum, boa parte de seu tempo é gasta em reuniões e planejamentos. Contrariando essa ideia, Mintzberg (2010, p. 33) observa que “os gerentes trabalham em ritmo implacável, [...] e suas atividades são fortemente orientadas para a ação”. Esse ritmo implacável se deve ao fato de que, para o alcance dos objetivos organizacionais, os gestores devem desempenhar seu papel, executando uma série de funções e atividades. Uma das primeiras descrições das ações que um gestor deve realizar foi apresentada por Henry Fayol, um engenheiro francês, em 1916. Fayol (1989,p. 26) sugere que são cinco os elementos da gestão – previsão, organização, comando, coordenação e controle –, e explica cada um deles: Prever é perscrutar o futuro e traçar o programa de ação. Organizar é constituir o duplo organismo, material e social, da empresa. Comandar é dirigir o pessoal. Coordenar é ligar, unir e harmonizar todos os atos e todos os esforços. Controlar é velar para que tudo corra de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas. A rotina de um gestor é feita das mais variadas tarefas, que, normalmente, não são padronizadas. Algumas delas são realizadas de forma individual, outras, em grupo. Algumas são iniciadas pelo gestor, e, em outras, o gestor reage à situação. Dessa forma, a atuação do gestor é extremamente variável e depende das circunstâncias. Vamos conhecer melhor essas ações, começando pelas funções que um gestor exerce. 2.1 Funções De todas as ações que os gestores precisam realizar, quatro delas são clássicas e realizadas de modo universal, isto é, são realizadas em qualquer lugar do mundo, independentemente do tipo de organização em que estão sendo 6 aplicadas. Essas ações são denominadas de funções do administrador. São elas: planejamento, organização, direção e controle. Como você pode observar, são ações muito parecidas com aquelas definidas por Fayol ainda no início do século passado, por isso as denominamos de clássicas, pois, embora o mundo dos negócios esteja em constante mutação, algumas ações são atemporais e sempre serão exercidas pelos gestores. Para melhor entendê-las, vejamos a definição de cada uma. Planejar significa escolher os objetivos da organização e determinar estratégias e planos para sua consecução. Nesse momento, o gestor estará imaginando o que ele quer para a organização (os objetivos) e como é possível alcançar isso. Denomina-se a ideia que está na mente do gestor como planejamento. Ao formalizar esse planejamento, transportando-o para um meio físico, tem-se um plano. Organizar significa determinar quais serão os recursos (materiais e de pessoal) alocados para a consecução do planejamento e separá-los para o momento da execução. Isso significa que, nesse momento, o gestor verifica se tudo o que ele precisa em termos de recursos estará disponível quando a ação para o alcance dos objetivos começar. Dirigir significa comandar a força de trabalho de modo a alcançar os objetivos estabelecidos no planejamento. Nesse momento, o gestor estimula, pelos mais diferentes métodos, seus subordinados a executar as ações de sua responsabilidade da melhor forma possível. Controlar significa verificar se os objetivos planejados estão sendo alcançados e assegurar que sejam. Assim, é necessário estabelecer padrões, medir o desempenho de acordo com os padrões estabelecidos e agir corretivamente para o alcance do que foi planejado. Note que em nenhuma das funções o gestor está agindo (“pondo a mão na massa”), posto que as ações operacionais são de responsabilidade de seus subordinados. Embora não realize essas ações, ele deve conhecê-las, e, em caso de necessidade (para exemplificar a execução ou numa situação de conflito, entre outras), realizá-las. 2.2 Atividades Além das funções, cabe ao gestor executar muitas tarefas ao longo da sua rotina de trabalho. Estas são denominadas atividades e abrangem uma 7 gama de ações que são da responsabilidade do gestor. De acordo com Megginson (1998), um gestor exerce as seguintes atividades: Atividades pessoais: são as atividades executadas pelo gestor ao longo de sua rotina que dizem respeito a seus próprios interesses pessoais, familiares e de vida social. Exemplos: leitura de jornal, atendimento de telefonemas, verificação de e-mails pessoais, entre outras. Atividades técnicas: são as atividades que exigem do gestor conhecimento especializado. Por exemplo: se ele atua como gerente financeiro, exige-se dele conhecimento de técnicas envolvidas em operações financeiras; se atua como gerente de RH, exige-se dele conhecimentos específicos de gestão de pessoas, legislação, entre outros. Atividades burocráticas: são as atividades relacionadas a normatização, regras, regulamentações, ou seja, dizem respeito ao processamento do papelório organizacional. Como exemplo pode-se citar a implantação de normas International Organization for Standardization (ISO) em uma empresa. Atividades de interação: finalmente, cabe ao gestor em sua rotina interagir com as pessoas (todas as partes interessadas ou stakeholders) das mais diversas formas. São partes interessadas clientes, fornecedores, colaboradores, sócios, governo, sociedade como um todo, enfim, qualquer ente que se relaciona com a organização. Para Mintzberg (1980), essa interação se dá por meio de papéis como o interpessoal, o informacional e o decisório. Cada um desses papéis remete a várias ações diferentes, nas quais o gestor está se relacionando com uma ou mais das partes interessadas. Para Maximiano (2011), os papéis são compostos das seguintes ações: Papel interpessoal a. Chefe (figura de proa): o gestor age como um símbolo da organização, representando-a em situações formais, sem envolver processamento de informação ou tomada de decisão. Como exemplo pode-se citar Steve Jobs x Apple, Silvio Santos x SBT, entre outros. b. Líder: ao desempenhar este papel, o gestor se relaciona com os membros de sua equipe, incentivando-os e encorajando-os para o alcance dos 8 objetivos organizacionais. Também se acham envolvidas avaliações e julgamentos de desempenho da força de trabalho. c. Contato (elemento de ligação): os gestores exercem este papel quando servem de conexão entre seus departamentos e outros da organização, ou entre sua empresa e outras, proporcionando-lhes informação. Papel informacional a. Monitor: compreende as atividades de recebimento ou busca de informações pelo gestor. Com a disseminação das informações por meio eletrônico, este papel deve ser executado de forma mais seletiva, garantindo a confiabilidade das informações, pois estas serão utilizadas nas tomadas de decisão. b. Disseminador: como disseminador, o gestor é responsável pela circulação interna das informações, de forma adequada, para transmitir somente as informações necessárias a aqueles que precisam delas. c. Porta-voz: o gestor tem o papel de manter a adequada transmissão de informações de dentro para fora da empresa. Neste papel, ele fala oficialmente em nome da organização para públicos externos. Papel decisório a. Empreendedor: neste papel, o gestor atua como iniciador e planejador das mudanças necessárias à sua organização de forma a gerar melhor desempenho. Inclui-se, entre outras iniciativas, a identificação de novas possibilidades de negócio. b. Controlador de conflitos: nesta situação, o gestor promove a negociação quando do surgimento de distúrbios ou crises, mas também pode ser o fomentador de conflitos positivos (como competição entre colaboradores) de forma a melhorar o desempenho individual e organizacional. c. Administrador de recursos: ao exercerem este papel, os gestores decidem por que, quando, como, com que finalidade e a quem os recursos organizacionais (normalmente escassos) devem ser alocados, de acordo com o desdobramento das estratégias da empresa. d. Negociador: neste papel, cabe ao gestor mediar situações com outras organizações ou indivíduos externos à sua empresa de forma a alcançar uma situação ganha-ganha para ambas as partes. Ao analisar cada uma das ações realizadas por um gestor em uma organização, é possível perceber que a atuação dele define o que as pessoas 9 devem realizar na sua rotina de trabalho, uma vez que ele tem o poder de decidir sobre o trabalho de todos os componentes da organização. Cabe ao gestor conhecer todos os sistemas que compõem a organizaçãopara que tome as melhores decisões, aquelas que contribuam para o alcance dos objetivos organizacionais Para mais esclarecimentos sobre o assunto, acesse o material disponível on-line! TEMA 3 – SISTEMAS ORGANIZACIONAIS Para compreender com maior consistência como funciona uma organização e como o gestor deve atuar, também se faz necessário entender o conceito de sistema. A ideia de sistema auxilia no entendimento de uma série de contextos e na resolução de uma série de problemas, pois, segundo Maximiano (2015, p. 67), “sua utilidade para designar conjuntos complexos é notável e onipresente”. Um sistema pode ser representado por uma série de elementos, que, interligados, constituem um todo, como se pode observar na Figura 1. Esses elementos podem ser descritos em termos de entrada, saída e processamento, e todos eles estão imersos em um ambiente externo. Para sua melhoria contínua, o sistema recebe feedback de forma a ajustar o processamento toda vez que se fizer necessário. Figura 1 – Elementos de um sistema Uma organização pode ser analisada e entendida como um sistema na medida em que tem entrada, ou seja, todos os recursos que vêm do ambiente 10 externo e que seriam utilizados em seus processos, como matéria-prima, máquinas e equipamentos, trabalhadores, informação, entre outros recursos. Também é composta de uma saída, ou seja, o produto (bem ou serviço) que se dispôs a colocar no mercado. Para transformar as entradas em saídas, a organização precisa de um elemento que faça essa transformação, e esse elemento é o processamento. A organização também precisa saber se suas saídas estão corretas. Caso não estejam, é necessário um feedback para ajustar ou modificar os processos. Finalmente, qualquer organização está imersa em um ambiente que tem clientes, fornecedores, concorrentes, entre outros, que interagem com a organização. Essa ideia de que a organização sofre influências de uma série de elementos externos confirma ainda mais o uso do conceito de sistema, um conceito específico, que é o de sistema aberto, ou seja, de um sistema permeável ao ambiente externo. Não se pode pensar hoje em uma organização que não influencie ou seja influenciada por aquilo que está ao seu redor, sejam fatores econômicos, sociais, tecnológicos, políticos ou de sustentabilidade. Mais uma vez o conceito de sistema auxilia na melhor análise organizacional. Além dessa visão geral, também se pode dizer que uma organização é composta de uma série de subsistemas. Estes, conforme Oliveira (2014, p. 7), são “a consolidação de partes integrantes e interdependentes que, conjuntamente, formam um todo unitário com determinado objetivo e efetuam determinada função na empresa”. Tais subsistemas exercem funções específicas para o funcionamento geral da organização, e, de um modo geral, consistem em: subsistema de operações e produção, subsistema de marketing, subsistema de recursos humanos, subsistema de finanças, e subsistema de informações. Esses e outros pontos são discutidos no material on-line. TEMA 4 – ESTRUTURA ORGANIZACIONAL Você já sabe que há uma série de ações a serem realizadas em uma organização e que essas ações (funções e atividades) são realizadas por um gestor. Mas, para que os objetivos organizacionais sejam alcançados, há 11 também uma série de ações operacionais a serem realizadas por subordinados desse gestor. Assim, percebe-se que existe interação entre o gestor e seus subordinados. Também há interação entre os vários gestores de mesmo nível existentes numa mesma organização. Nesse sentido, é importante entender como se dão essas interações. Uma forma de compreender melhor esses relacionamentos se dá por meio do conceito de estrutura organizacional. Pode-se dizer que a estrutura é a distribuição das pessoas na organização que influencia as relações entre estas, das mais diversas formas. Uma estrutura organizacional tem por funções básicas: realizar produtos organizacionais e atingir metas organizacionais; minimizar ou, pelo menos, regulamentar a influência das variações individuais sobre a organização; estabelecer quais posições têm poder sobre outras, onde as decisões são tomadas e onde são executadas as atividades da organização. Assim, pode-se dizer que a estrutura de uma organização é um instrumento que auxilia na ordenação das atividades e na estruturação dos processos decisórios de modo a distribuir atribuições a todos os envolvidos com aquela organização e a distinguir suas interações. Ao projetar uma estrutura, verificam-se as necessidades de pessoal e o modo como este pessoal será conduzido, atribuindo a cada pessoa que compõe a organização uma função específica. Vale ressaltar que não se deve confundir o conceito de estrutura organizacional com o de organograma, visto que, enquanto a estrutura é dinâmica em relação aos ambientes internos e externos à organização, o organograma é estático, ou seja, representa um determinado momento da estrutura organizacional da empresa. Conforme a estrutura muda, é necessário refazer o organograma. Utilizando uma metáfora, pode-se dizer que, enquanto o organograma é uma foto, a estrutura é um vídeo da organização. Mas o conceito de organograma também é relevante nesta discussão, posto que nos auxilia a enxergar, em um determinado momento, como estão os relacionamentos da organização. Um organograma pode ser descrito como uma representação gráfica da estrutura formal de uma organização. Entende-se 12 como estrutura formal aquela que foi planejada levando em consideração itens como: especialização, ou seja, em que medida as tarefas são subdivididas em cargos distintos; departamentalização, que demonstra o agrupamento dos trabalhos de acordo com a semelhança das tarefas a serem realizadas; cadeia de comando, em que se especifica a quem se reportam indivíduos e grupos; margem de controle, que é um indicador de quantos indivíduos um gestor pode comandar com eficácia; centralização, na qual se observa o quanto o poder de decisão é restrito a um determinado grupo; formalização, em que se observa a quantidade de regras que existirão para delimitar o trabalho na organização. O modo como as estruturas se formam está associado ao contexto no qual a organização está inserida. Dessa forma, de acordo com Hall (2004, p. 80), elementos como o “tamanho organizacional, a tecnologia, a cultura interna, o ambiente e os fatores culturais nacionais” afetam a forma como a estrutura se apresenta num determinado momento. Como cada organização é única e sofre influências diversas de outras, é possível observar arranjos estruturais diversos para cada organização. Essas diferenças levam a classificações organizacionais de acordo com o tipo de arranjo, podendo apresentar, conforme Morgan (1996), estruturas burocrático- mecanicistas, orgânicas, matriciais ou departamentalizadas, conforme as bases de autoridade, tamanho e resultados em diferentes escalas de medida. 4.1 Estruturas departamentalizadas A forma mais comum e tradicional de alocar as pessoas em uma organização se dá por meio da departamentalização. Esta tem como base unir em um mesmo ambiente as atividades que estejam relacionadas entre si, buscando, assim, um meio mais eficiente de agrupar as pessoas. Pode-se departamentalizar por meio de estrutura funcional, divisional (por produto, por cliente, por área geográfica), por projeto (estrutura matricial), ou por uma combinação dessas várias possibilidades. 13 Uma estrutura funcional (Figura 2) terá como critério de departamentalização, como o próprio nome evidencia, cada função necessária para o funcionamento da organização, como produção, marketing, finanças, recursos humanos, entre outras. Nesse tipo de organização, o organograma será representado por uma linha de autoridadeem que há um gestor geral e abaixo dele estarão todas as funções organizacionais. Figura 2 – Estrutura funcional Fonte: Montana; Charnov, 2010, p. 177. Em uma organização com estrutura geográfica (Figura 3), a divisão do trabalho se dará pela conveniência territorial, ou seja, as unidades de trabalho são divididas por regiões, estados, cidades, agrupando-as de acordo com sua proximidade geográfica. Nessa situação, o organograma será representado por uma linha de autoridade em que há um gestor geral e abaixo dele estarão as unidades geográficas, por exemplo, Unidade São Paulo, Unidade Paraná, Unidade Santa Catarina. Figura 3 – Estrutura geográfica Fonte: Montana; Charnov, 2010, p. 179. No caso de uma estrutura por produto (Figura 4), a organização normalmente trabalha com produtos distintos (bens ou serviços), que serão melhor gerenciados se separados em unidades distintas. Assim, cada produto será tratado de acordo com sua especificidade: uma empresa alimentícia, por 14 exemplo, pode apresentar um organograma em que se tenha uma unidade de chocolates, outra de cereais matinais e uma terceira de café solúvel. Ainda haverá um gestor geral hierarquicamente acima dessas unidades. Figura 4 – Estrutura por produto Fonte: Montana; Charnov, 2010, p. 178. Uma estrutura por cliente (Figura 5) será utilizada quando se pretende garantir que clientes com necessidades distintas sejam atendidos de maneira igualmente satisfatória. Esse tipo de situação pode ser observado em bancos, por exemplo, em que se departamentaliza o atendimento por cliente pessoa física e cliente pessoa jurídica. Nesse tipo de departamentalização, o organograma continua com uma linha bem definida de autoridade, com um gestor geral acima das unidades específicas por cliente. Figura 5 – Estrutura por cliente Fonte: Montana; Charnov, 2010, p. 179. Uma estrutura por projeto (Figura 6) terá um desenho de organograma um pouco distinto das estruturas anteriores, pois combina elementos de estrutura funcional com estrutura divisional em que se dá destaque a equipes de projetos distintos. Empresas que trabalham com vários projetos paralelos costumam adotar esse tipo de estrutura, pois, assim, não precisam criar para cada novo projeto estruturas para funções que são constantes na organização, como finanças ou 15 RH. Esse tipo de estrutura também é denominado matricial por conta do desenho de seu organograma, que fica semelhante a uma matriz. Figura 6 – Estrutura matricial Fonte: Schermerhorn Junior, 2011, p. 223. 4.2 Estruturas orgânicas A necessidade das organizações modela a sua estrutura. Organizações que necessitem de maior rapidez, flexibilidade e fluidez em sua tomada de decisão devem adotar formas menos tradicionais ou burocratizadas de relacionamento entre seus colaboradores. Há uma tendência das organizações, em especial as menos tradicionais, de atender a essas necessidades trabalhando cada vez mais com equipes multifuncionais, com maior descentralização e amplitude mais ampla. Exemplos práticos desse tipo de estrutura organizacional são os squads, equipes de trabalho autônomas e autogeridas do Spotify, compostas de três a dez membros no máximo. A ideia é que o squad tenha liberdade para desenvolver todos os aspectos do produto em que esteja trabalhando no momento. Outro exemplo de estrutura orgânica é o utilizado pela Google. Embora alguns aspectos de sua estrutura sejam tradicionais, há o cuidado em manter margens de controle adequadas, 16 com no máximo sete subordinados por gestor para que ele possa conhecer com profundidade todas as atividades desenvolvidas por seus subordinados. O ambiente físico de trabalho também é pensado para garantir uma estrutura mais orgânica, na medida em que todos, independentemente de hierarquia, trabalham em um mesmo espaço. TEMA 5 – CULTURA ORGANIZACIONAL A cultura organizacional é mais um tema importante para entender o funcionamento das organizações. Observe que duas organizações que atuam exatamente no mesmo setor econômico, oferecendo exatamente o mesmo tipo de produto, com o mesmo tipo de cliente, podem se apresentar ao mercado de forma totalmente distinta. Essa diferença entre organizações se dá em especial por conta de sua cultura: é a cultura de uma empresa que a faz ser diferente, única. A cultura de uma organização pode ser entendida como o conjunto de comportamentos de um grupo de pessoas – como a maneira certa de pensar, agir e sentir – que foram adequados ao longo da história do grupo e que por isso vão sendo transmitidos às gerações futuras. Principalmente em seu surgimento, a cultura é fortemente influenciada pelo que é denominado na literatura de líder fundador, aquele que, por conta de seu poder de decisão, orienta as ações que vão sendo estabelecidas como a forma certa de agir à medida que vão dando certo naquele contexto. Fleury (1996, p. 22) conceitua cultura como: um conjunto de valores e pressupostos básicos expressos em elementos simbólicos, que, em sua capacidade de ordenar, atribuir significações, construir a identidade organizacional, tanto agem como elemento de comunicação e consenso [...] como ocultam e instrumentalizam as relações de dominação. Dessa forma, a cultura serve tanto para dar identidade a uma organização como para moldar as pessoas que a ela se integram. Se um indivíduo não aceita a cultura de uma organização, dificilmente ele terá condições de se manter associado a ela. De acordo com Schein (2009, p. 23), a cultura de uma organização se manifesta em três níveis: “esses níveis variam de manifestações abertas muito tangíveis que se pode ver e sentir às suposições básicas, inconscientes e 17 profundamente inseridas” na organização. São eles o nível dos artefatos, o nível dos valores e o nível de pressupostos básicos. Artefatos: nível mais superficial, relacionado aos elementos visíveis e possíveis de serem observados. Valores: aquilo que os integrantes da organização acreditam intuitivamente e que, junto com os artefatos, são as manifestações da cultura. Suposições Básicas: são ideias assumidas como verdadeiras e, portanto, inquestionáveis. Este grau de consenso resulta do sucesso repetido em implementar certas crenças e valores [...]. As suposições básicas [...] tendem a não ser confrontadas ou debatidas e por isso são extremamente difíceis de mudar. (Schein, 2009, p. 24-29) A cultura organizacional de uma organização é criada ao longo do tempo com base em uma série de passos distintos. Num primeiro momento, os fundadores buscam contratar somente funcionários que pensem e sintam as coisas da mesma forma que eles. Esses funcionários são mantidos na organização. Num segundo momento, os fundadores doutrinam e socializam esses funcionários de acordo com sua forma de pensar e sentir. Finalmente, num terceiro momento, o comportamento dos fundadores age como um modelo, encorajando os funcionários a se identificarem com ele e, dessa forma, a mostrarem seus valores, convicções e premissas. Assim, mesmo com a ausência dos fundadores, já se criou um modo de se comportar aceito por todos na organização. Após sua criação, cabe à organização manter a sua cultura, de modo a manter sua identidade. De acordo com Robbins (2002), a manutenção da cultura de uma organização pode ser conquistada de várias formas, como, por exemplo, por meio da seleção, uma vez que, neste momento, ao identificar e contratar indivíduos que tenham o conhecimento, as habilidades e as capacidades necessárias para o desempenho bem-sucedido das atividades, geralmente existirá mais de um candidato que preencha os requisitos. A decisão final sobre quem será contratado será significativamente influenciada pelo julgamento de quem parece mais bem ajustado à organização. Isso também é possível por meio das ações dos dirigentes,que têm um grande impacto sobre a cultura organizacional. Pela sua maneira de se comportar, os altos executivos estabelecem normas que se espalham pela organização, sobre aspectos como quais riscos devem ser assumidos, quanta 18 liberdade deve ser concedida aos funcionários, qual a forma correta de se vestir, quais ações podem reverter em recompensas, entre outros. A socialização também é um caminho, pois, independentemente de como se deu o processo de recrutamento e seleção, os novos funcionários ainda não estão totalmente instruídos sobre a cultura da empresa assim que começam. Assim, por ainda não conhecerem os artefatos e valores, esses novos funcionários podem criar problemas em relação à cultura preexistente na empresa, cabendo, portanto, à organização ajudá-los a se adaptar à essa cultura. Uma maneira prática de aplicar a socialização aos novos funcionários consiste nos programas de integração, pelos quais o novo colaborador conhece toda a organização, seus pares de trabalho, é informado sobre seus direitos e deveres, recebe informações sobre seu modo de conduta, de modo que essas informações podem ser formalizadas em um manual sobre os comportamentos esperados pela organização, conforme sua cultura. Assim, é possível entender que a cultura de uma organização é algo perene, mas não necessariamente imutável ao longo do tempo. Schein (2009, p. 1) afirma que “cultura é um fenômeno dinâmico”, e que, portanto, pode ser gerenciada. Para o autor, líderes que conhecem suas funções e agem como influenciadores e controladores de manifestações e juízos culturais podem transformar a cultura de uma empresa. Esses entendimentos seriam comunicados pelas pessoas do grupo, que “geram ícones, lendas, mitos e valores para o ato, convertendo-os em ideias inconscientes que vão, ao longo do tempo, formulando e reformulando a cultura organizacional” (Schein, 2009, p. 2). FINALIZANDO Nesta aula, você pôde conhecer uma série de conceitos introdutórios que o capacitaram de um vocabulário mais técnico sobre assuntos relacionados à gestão de sistemas organizacionais. Esse entendimento veio do conhecimento do que é uma organização, qual sua origem e como ela funciona, bem como quais as atribuições de um gestor para fazer com que a organização em que ele atua seja eficaz na busca e no alcance de seus objetivos. Pôde, ainda, entender como o conceito de sistema auxilia na compreensão do funcionamento das organizações, que podem ser 19 representadas por meio de sua estrutura e de sua cultura. Para tanto, conheceu os vários tipos de estrutura organizacional existentes e a diferença entre estrutura e organograma. Também conheceu a ideia de que cultura organizacional está relacionada ao comportamento esperado das pessoas que compõem uma organização, e o modo como esse comportamento está associado à identidade diversa de cada organização. Compreendidos esses conceitos, você está preparado para entender como funcionam os sistemas organizacionais! 20 REFERÊNCIAS BERNARDES, C. Teoria geral da administração. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1993. _____. Teoria geral da administração: gerenciando empresas brasileiras. São Paulo: Saraiva, 2014. CHIAVENATO, I. Administração para administradores e não administradores. São Paulo: Saraiva, 2008. DAVENPORT, T. H.; PRUSAK, L. Conhecimento empresarial. Rio de Janeiro: Campus, 1999. FAYOL, H. Administração industrial e geral. 10. ed. São Paulo: Atlas, 1989. FLEURY, M. T. L. Cultura e poder nas organizações. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1996. HALL, R. 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