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Direito Societário UNIDADE 3 - SIMPLES e Revisão Prof. Ms. J Flávio Vasconcelos Alves 3.1 SOCIEDADE SIMPLES 3.2 SOCIEDADE EM COMUM 3.3 SOCIEDADE EM COMANDITA 3.4 COOPERATIVA Assuntos Unidade 3 2 Noções gerais de sociedades Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer o conceito de sociedade e seus elementos. 1 Sociedades no Código Civil Sociedade e seus elementos O contrato de sociedade, conforme o art. 981 do Código Civil, é um acordo entre pessoas que se comprometem a contribuir com bens ou serviços para realizar uma atividade econômica, dividindo os resultados entre elas. O contrato pode ter um propósito específico, restringindo-se à realização de um ou mais negócios determinados. Diferentemente do antigo Código Civil, o atual define a sociedade de forma mais precisa, distinguindo-a de outras formas de associação de pessoas que não possuam fins econômicos. Sendo um contrato, a sociedade deve obedecer aos requisitos para sua validade, bem como a quatro elementos essenciais, três dos quais estão indicados no conceito legal. Sociedade e seus elementos Os elementos comuns Os elementos comuns do contrato de sociedade são aqueles indicados no art. 104 do CC para a validade do negócio jurídico: Agente capaz Objeto lícito, possível, determinado ou determinável Forma prescrita ou não defesa em lei Sociedade e seus elementos Os elementos específicos Da definição legal do art. 981, extraem-se três elementos específicos ao contrato de sociedade: Há ainda um quarto elemento implícito no conceito, embora fique ausente na redação do dispositivo: a affectio societatis. Pluralidade de contratantes (“pessoas”). Contribuição para o exercício de atividade econômica. Coparticipação nos resultados. Aquisição da personalidade jurídica pela sociedade Natureza da sociedade: • Contrato e pessoa jurídica de direito privado; • Pessoa natural tem personalidade independente de registro; • Pessoas jurídicas adquirem personalidade com inscrição dos atos constitutivos em registro próprio (art. 45). Aquisição da personalidade jurídica: • Art. 985 estabelece requisitos; • Exige inscrição do documento de constituição no registro adequado. Sociedade "em comum": • Caso os atos constitutivos não sejam arquivados ou estejam em desacordo com a lei (art. 986); • Sócios respondem ilimitadamente pelas obrigações assumidas em interesse coletivo; • Benefício de ordem (art. 1.024) não se aplica a quem contratou pela sociedade. Aquisição da personalidade jurídica pela sociedade Dualidade de registros: • Competência para inscrição: junta comercial para sociedades empresárias; Registro Civil de Pessoas Jurídicas para sociedades do tipo simples (art. 1.150 pelo art. 985). Arquivamento: • Observar legislação especial aplicável; • Sociedades empresárias e cooperativas: Registro Empresarial (Lei nº 8.934/1994 e Decreto 1.800/1996); • Sociedades do tipo simples: Registro Civil de Pessoas Jurídicas (Lei nº 6.015/1973). Sociedade simples e sociedade empresária Distinção entre sociedade simples e sociedade empresária • O art. 982 do CC define o objeto como elemento distintivo da sociedade; • Sociedade empresária: Exercício profissional de atividade econômica organizada para produção ou circulação de bens/serviços; • Sociedades simples: Atividade não empresarial, como profissionais liberais, artistas, cientistas, etc. • Distinção entre sociedade simples como espécie e tipo societário; • Empresários rurais presumidamente seguem regime das sociedades simples; • Exceções à regra: sociedade de advogados e aeroclubes são sempre consideradas sociedades simples, independentemente da forma de exercício do objeto. Sociedade simples e sociedade empresária Prevalência do tipo sobre o objeto O parágrafo único do art. 982 afasta o critério do objeto para distinguir as sociedades em simples e empresárias. Haverá prevalência do critério do tipo (ou da forma jurídica) adotado(a) em relação ao objeto quando se tratar de cooperativas e sociedades por ações (expressão que engloba os tipos sociedade anônima e sociedade em comandita por ações): Sociedade Cooperativa: • sempre vinculada ao regime das sociedades simples (Lei nº 5.764/1971). • Regime próprio, sem fins lucrativos e não sujeita à falência, mesmo que exerça atividade empresária. Sociedade anônima: • Tradicionalmente considerada empresária independentemente do objeto. • Necessidade de descrição no estatuto de uma ou mais atividades lucrativas não contrárias à lei, ordem pública e bons costumes (Lei nº 6.404/1976). Sociedade simples e sociedade empresária Tratamento diferenciado para sociedade que explora empresa rural • Sociedade que explora empresa rural é considerada sociedade simples, excluída do regime das sociedades empresárias; • Registro próprio: Registro Civil de Pessoas Jurídicas; • Faculdade de inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis para equiparação à sociedade empresária; • Consequências da equiparação: sujeição à legislação aplicável aos empresários e sociedades empresárias, incluindo a Lei de Falência e Recuperação de Empresas (Lei nº 11.101/2005); • Condições para a equiparação: adoção de um dos tipos próprios das sociedades empresárias, excluindo os tipos companhia e em comandita por ações. Tipos societários A escolha do tipo societário pode ou não influenciar o regime jurídico da sociedade. Apenas nos casos de cooperativas e sociedades por ações não existe impacto, já que o objeto não determina o regime. O art. 983 prevê cinco tipos societários para a sociedade empresária, cada um com regras próprias: • Em nome coletivo; • Em comandita simples; • Limitada; • Anônima (ou companhia); • Comandita por ações. Tipos societários Esse rol se considera exaustivo. O CC trata dos dois últimos de maneira genérica, cabendo à lei especial (Lei nº 6.404/1976) primazia sobre suas disposições (arts. 1.089 e 1.090). A sociedade simples pode adotar qualquer um dos tipos de sociedade empresária ou um tipo próprio (também denominado simples): Será o regime simples, pois, apesar de o art. 983 permitir a constituição de sociedade simples por meio de qualquer um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092, tal escolha implicaria a atribuição do regime empresarial, porque o ordenamento brasileiro considera as companhias e as sociedades em comandita por ações sociedades empresárias independentemente de seu objeto. Segundo caso O regime jurídico está atrelado ao objeto (exceto se o tipo for companhia ou comandita por ações). Primeiro caso Sociedades simples, em nome coletivo e em comandita simples Ao final deste módulo, você será capaz de distinguir os tipos societários simples, em nome coletivo e em comandita simples. 2 Sociedades no Código Civil Sociedade simples Caracterização da sociedade simples O termo "simples" no Livro II do Código Civil (CC) para sociedades tem três sentidos distintos: Primeiro sentido Refere-se ao objeto desenvolvido pela sociedade, oposto ao termo "empresária" (art. 982). Segundo sentido Relaciona-se ao regime imposto a certas sociedades, como cooperativas (art. 982, parágrafo único). Terceiro sentido Sociedade simples como um tipo societário não empresarial com regras próprias (art. 983). Sociedade simples Vamos nos concentrar agora sobre esse terceiro sentido: • A Sociedade simples tem origem no direito suíço (Código de Obrigações de 1911, art. 530); • As Normas das sociedades simples (arts. 997 a 1.038) também servem como disciplina supletiva para outros tipos societários (arts. 986, 996, 1.040, 1.046, 1.053, 1.089 e 1.096); • Técnica inovadora do Código Civil atual: regulamentação mínima para sociedades empresárias a partir do tipo simples; • A Sociedade simples representa o núcleo mínimo do direito societário, embrião de outras formas de estruturação societária; • Sociedade simples destinada ao exercício de atividades econômicas não organizadas ou excluídas do conceito de empresa. Exemplos:cooperativas, sociedades de advogados e pequenas atividades negociais sem organização. Sociedade simples A sociedade simples apresenta características próprias das sociedades de pessoas, tais como: • Simplicidade do contrato social (apenas poucas cláusulas além das obrigatórias, em geral); • Administração exclusiva por sócios pessoas naturais; • Inexistência de órgãos sociais em caráter obrigatório; • Impossibilidade de cessão da quota-parte do sócio a quem não faça parte da sociedade e, quando possível, restrições à realização desse negócio jurídico; • Possibilidade de resolução da sociedade em relação ao sócio por questões particulares dele (falência, insolvência, interdição, falecimento, desentendimentos com os demais sócios etc.); • Impossibilidade de restrição ou eliminação do direito a voto nas deliberações; • Possibilidade de previsão de solidariedade entre os sócios pelas obrigações sociais de forma subsidiária. • Vedação de funcionamento permanente com um único sócio; • Quórum de maioria absoluta, no mínimo, ou unanimidade para alterações das cláusulas obrigatórias. Sociedade simples Contrato social: cláusulas obrigatórias e arquivamento • O contrato da sociedade simples é escrito por ser personificada; • Pode ser instrumento público ou particular, contendo indicações do art. 997; • A ausência de contrato escrito implica aplicação das normas da sociedade em comum até regularização nos termos do art. 985; • Cláusulas obrigatórias: indicadas no art. 997; • Permissão para estabelecer outras cláusulas necessárias ao funcionamento da sociedade e relações internas; • Disposições em instrumento separado ou verbais não têm efeitos em relação a terceiros pela falta de publicidade (art. 997, parágrafo único). Sociedade simples Devem constar do contrato social: • Qualificação dos sócios (pessoas naturais ou jurídicas); • Objeto da sociedade, em conformidade com arts. 104 e 982; • Denominação social, protegida pelo art. 1.155, parágrafo único, do CC; • Sede da sociedade, com possibilidade de instituir filiais; • Prazo de duração, determinado ou indeterminado; • Indicação do valor do capital, em qualquer espécie de bem; • Valor da quota do sócio, podendo ser representado fisicamente; • Possibilidade de prestação de serviços como contribuição, restrita à sociedade simples; • Administração da sociedade, poderes, atribuições e responsabilidade dos administradores; • Regras de participação nos lucros e nas perdas, vedada a exclusão de sócios da participação nos resultados; • Responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais, podendo ser subsidiária ou até o valor das quotas. Obrigações e direitos dos sócios • Sócio admitido é responsável pelas dívidas sociais anteriores à admissão (art. 1.001); • Substituição de sócio no exercício das funções requer consentimento dos demais (art. 1.002); • Sócios obrigados a contribuições estabelecidas no contrato; remisso responde por dano emergente da mora (art. 1.004); • Sócio que integraliza a quota com transferência de bens responde por evicção (art. 1.005); • Sócio que transferir crédito responde pela solvência do devedor (art. 1.005); • Sócio de serviços não pode empregar-se em atividade estranha à sociedade (art. 1.006); • Sócios participam das perdas na proporção das quotas, exceto por estipulação diversa (art. 1.007); • Sócios respondem solidariamente por lucros ilícitos ou fictícios (art. 1.009); • Ex-sócios ou herdeiros respondem por obrigações sociais após resolução da sociedade, por até dois anos, mesmo após a extinção do vínculo (art. 1.032). Obrigações dos sócios Obrigações e direitos dos sócios • Participar dos lucros na proporção das quotas, exceto sócio de serviços (art. 1.007); • Votar nas deliberações sociais por maioria de votos, exceto modificações contratuais que exigem unanimidade (art. 1.010 e 999); • Direito a receber contas justificadas dos administradores e apresentar inventário anualmente (art. 1.020); • Direito de examinar livros e documentos da sociedade (art. 1.021); • Sócio pode retirar-se da sociedade motivada ou imotivadamente (art. 1.029); • Direito de receber valor das quotas na saída da sociedade, considerando situação patrimonial na data da resolução (art. 1.031). Direitos dos sócios Administração, resolução e dissolução da sociedade simples Administração da sociedade simples • A sociedade se relaciona com terceiros através da sua administração, que é o órgão de gestão; • O administrador não é um mandatário, sua função é atribuída por lei (art. 1.022); • A nomeação do administrador deve constar no contrato ou pode ser feita em instrumento separado após o arquivamento do contrato (art. 1.012); • A aprovação unânime é necessária para eleger o administrador (art. 999); • Os administradores têm amplos poderes para gerir a sociedade, a menos que o contrato restrinja esses poderes (art. 1.015); • O administrador deve ser uma pessoa natural e agir com diligência, de acordo com o padrão aplicado à administração de seus próprios negócios (art. 1.011, §1º); • O administrador deve cumprir seus deveres com lealdade, sigilo e probidade; caso contrário, pode ser responsabilizado por danos causados à sociedade e a terceiros (art. 1.016). Administração, resolução e dissolução da sociedade simples Resolução e dissolução da sociedade simples O sócio pode ser excluído da sociedade nas seguintes situações: Por morte do sócio Exceto se o contrato permitir a entrada de sucessor ou houver acordo com os herdeiros (art. 1.028). Por vontade do próprio sócio Com ou sem justa causa, desde que notifique os demais com 60 dias de antecedência (art. 1.029). Por decisão judicial em caso de justa causa Se a sociedade tiver prazo determinado (art. 1.029). Administração, resolução e dissolução da sociedade simples Por exclusão extrajudicial deliberada pela maioria dos demais sócios No caso de sócio remisso (art. 1.004, parágrafo único). Por exclusão judicial por falta grave ou incapacidade superveniente (art. 1.030, caput). Automaticamente Em caso de falência ou liquidação integral da quota para pagamento a credor particular do sócio (art. 1.030, parágrafo único). Administração, resolução e dissolução da sociedade simples Resolução e dissolução da sociedade simples As causas de dissolução de pleno direito da sociedade são as seguintes: • Término do prazo de duração, exceto se os sócios não tomarem nenhuma providência após o prazo, e a sociedade continuar em atividade, sendo considerada prorrogada por prazo indeterminado. • Consenso dos sócios em sociedade com prazo determinado. • Deliberação dos sócios por maioria absoluta do capital em sociedade com prazo indeterminado. • Extinção da autorização para funcionamento, se a sociedade depende dessa autorização. Administração, resolução e dissolução da sociedade simples Resolução e dissolução da sociedade simples As causas de dissolução de pleno direito da sociedade são as seguintes: Término do prazo de duração Exceto se os sócios não tomarem nenhuma providência após o prazo, e a sociedade continuar em atividade, sendo considerada prorrogada por prazo indeterminado. Consenso dos sócios em sociedade Com prazo determinado. Administração, resolução e dissolução da sociedade simples Deliberação dos sócios Por maioria absoluta do capital em sociedade com prazo indeterminado. Extinção da autorização para funcionamento Se a sociedade depende dessa autorização. Sociedade em nome coletivo Atualmente, a sociedade em nome coletivo é regulada no CC entre os arts. 1.039 a 1.044. • Devido à regra específica de responsabilidade prevista no art. 1.039, o inciso VIII é inaplicável na sociedade em nome coletivo. Portanto, os sócios não podem afastar a responsabilidade subsidiária no contrato. • O art. 1.040 determina a aplicação supletiva das disposições referentes à sociedade simples ao tipo em nome coletivo, reafirmando sua natureza intuitu personae. No entanto, o tipo emnome coletivo não é automaticamente submetido ao regime das sociedades simples, pois o critério do objeto do art. 982 também se aplica a ele. Isso permite que a sociedade em nome coletivo possa ser classificada como simples ou empresária, dependendo de exercer ou não atividade empresarial. • O contrato da sociedade em nome coletivo deve seguir as cláusulas previstas para a sociedade simples, conforme estabelecido pelo art. 1.041. Nesse tipo de sociedade, os sócios são necessariamente pessoas físicas, a "denominação" corresponde à firma social e as contribuições em prestação de serviços são adicionais à contribuição ao capital, caso existam. Sociedade em nome coletivo • Um aspecto nitidamente personalista da sociedade é o fato de que apenas os sócios podem ser administradores (art. 1.042). • A sociedade em nome coletivo possui um traço distintivo da sociedade simples, conforme estabelecido pelo art. 1.043. Nesse tipo de sociedade, o credor particular de um sócio pode liquidar sua quota para realizar o crédito, aplicando-se essa regra apenas para a sociedade em nome coletivo constituída por prazo indeterminado. Porém, na constituição por prazo determinado, o credor particular de um sócio não pode liquidar a quota do devedor antes da dissolução da sociedade, mas pode requerer a penhora de lucros ainda não distribuídos. • O art. 1.044 estabelece que as causas de dissolução de pleno direito da sociedade em nome coletivo são as mesmas da sociedade simples (art. 1.033), acrescidas da possibilidade de declaração de falência caso a sociedade seja empresária. Caso não seja empresária, a dissolução ocorrerá pela declaração de insolvência (art. 1.052 do CPC/2015 em conjunto com o art. 786 do CPC/1973). Sociedade em comandita simples A sociedade em comandita simples é regulada nos arts. 1.045 a 1.051 do CC. A sociedade em comandita é caracterizada pela presença simultânea de dois tipos de sócios: Sócio comanditário (pessoa natural ou jurídica) Tem responsabilidade limitada ao valor de sua quota. Comanditado (apenas pessoa natural) Tem responsabilidade ilimitada e responde subsidiariamente pelas dívidas sociais, assim como os sócios em nome coletivo. Sociedade em comandita simples • A sociedade em comandita é regulada pelas normas da sociedade em nome coletivo e da sociedade simples, seguindo a ordem de aplicação estabelecida pelo art. 1.046. O contrato social deve conter as cláusulas do art. 997, no que couber, e identificar cada sócio, tornando pública a extensão da responsabilidade de cada um. A sociedade em comandita pode ser classificada como simples (não empresária) ou empresária, dependendo da atividade exercida. • A administração da sociedade é privativa do sócio comanditado (art. 1.047). • A norma da sociedade simples que trata da resolução da sociedade por morte de sócio (art. 1.028) deve ser aplicada subsidiariamente, permitindo a liquidação da quota em favor dos sucessores, com possibilidade de disposição contratual diferente. No caso de morte de sócio comanditário, a sociedade continuará com seus sucessores, que indicarão um representante, salvo previsão contratual em contrário (art. 1.050). Sociedade em comandita simples • O art. 1.051 estabelece que as causas de dissolução de pleno direito da sociedade em comandita simples são as mesmas da sociedade em nome coletivo (art. 1.044). No entanto, acrescenta-se uma nova hipótese de dissolução, que ocorre caso não haja recomposição da sociedade após o decurso de mais de 180 dias de ausência de uma das categorias de sócio. Nesse cenário, é necessário analisar detalhadamente essa situação para compreender suas implicações na dissolução da sociedade em comandita simples. Sociedades cooperativas Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as características da sociedade cooperativa. 3 Sociedades no Código Civil Origem das cooperativas e princípios do cooperativismo A sociedade cooperativa regula-se pelos arts. 1.093 a 1.096 do Código Civil (CC) em conjunto com a Lei nº 5.764/1971, que disciplina a constituição, o funcionamento e a dissolução dela. Em relação às cooperativas, o Código Civil (CC) afasta a característica de "sociedade sem fins lucrativos" prevista na Lei de Cooperativas. Portanto, a cooperativa é considerada uma sociedade, e seus sócios almejam lucro proveniente da atividade econômica explorada, com partilha dos resultados entre eles (art. 981). A ressalva do art. 1.093 do CC à legislação especial não torna incompatíveis os dispositivos do CC com a legislação específica das cooperativas. Entre as características das cooperativas (art. 1.094), está a distribuição dos resultados entre os cooperados proporcionalmente ao valor das operações que eles realizaram com a sociedade. Assim, a cooperativa é uma pessoa jurídica de direito privado da espécie sociedade, e não da espécie associação. As cooperativas e a legislação brasileira Resolução e dissolução da sociedade simples Os arts. 1.093 e 1.096 apontam uma hierarquia entre as disposições do Capítulo VII do Subtítulo II, dedicado à sociedade cooperativa em relação à lei especial, e as disposições situadas em outros Capítulos, Títulos ou Livros do Código Civil (CC). O primeiro determina que a sociedade cooperativa se rege pelo capítulo próprio, mas resguarda a legislação especial quando o CC é omisso no mesmo capítulo. Desse modo, o CC não revoga a legislação especial, mas a complementa, já que a sociedade “reger-se-á pelo disposto no presente Capítulo” (LEI nº 10.406, 2002). Em aditamento, o art. 1.096 determina a aplicação das disposições da sociedade do tipo simples às cooperativas apenas em caso de omissão da Lei nº 5.764/1971, ou seja, supletivamente. As características do art. 1.094, com isso, ficam preservadas. As cooperativas e a legislação brasileira São características trazidas pelo art. 1094: I - Variabilidade ou dispensa do capital social II - Concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração da sociedade, sem limitação de número máximo III - Limitação do valor da soma de quotas do capital social que cada sócio poderá tomar IV - Intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à sociedade, ainda que por herança V - Quórum para a assembleia geral funcionar e deliberar fundado no número de sócios presentes à reunião, e não no capital social representado VI - Direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de sua participação VII - Distribuição dos resultados proporcionalmente ao valor das operações efetuadas pelo sócio com a sociedade, podendo ser atribuído um juro fixo ao capital realizado VIII - Indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em caso de dissolução da sociedade
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