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Direito Empresarial Unidade 1 Sociedades e Empresas Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria LIVIA REGINA DE FIGUEIREDO AUTORIA Livia Regina de Figueiredo Sou formada em Direito, pós-graduada em Magistério Superior em Direito, cursei o mestrado em Direito e Desenvolvimento e, atualmente, curso o Doutorado em Direito Privado na Universidade de Salamanca, Espanha. Advogo, desde 1989, e há alguns anos presto serviços para grandes grupos econômicos na área de medicamentos e alimentos. Amo advogar e sou apaixonada pela docência. Também gosto muito de compartilhar minha experiência com aqueles que estão iniciando suas vidas profissionais. Em razão da minha experiência e qualificação, fui convidada pela Editora TeleSapiens para integrar o seu elenco de autores independentes e me sinto muito honrada com esse convite. Estou feliz por ajudá-lo nessa fase de estudo e trabalho. Tenho certeza que o seu esforço e empenho nos estudos lhe trará muito sucesso. ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Personificação das sociedades ............................................................. 10 A união das pessoas com um fim comum ................................................................... 10 Pessoa jurídica................................................................................................................................... 12 Sociedade e empresa .................................................................................................................. 14 Elementos essenciais do contrato ..................................................................................... 14 Registros mercantis ................................................................................... 19 Importância dos registros mercantis ................................................................................ 19 Atos constitutivos ........................................................................................................................... 20 Concretização do registro mercantil ................................................................................ 20 Trâmite dos registros – controle e fiscalização .........................................................23 Sigilo .................................................................................................................29 A dinâmica do sigilo no contexto empresarial ...........................................................29 Nome empresarial ..........................................................................................................................32 Estabelecimento empresarial ................................................................................................35 Microempresas e empresas de pequeno porte .............................36 Entendendo as micros e pequenas empresas ......................................................... 36 Simples Nacional ..........................................................................................................37 Lucro Presumido .......................................................................................................... 41 Sociedades simples e sociedades empresárias .................................................... 41 Sociedades não personificadas ............................................................................................43 7 UNIDADE 01 Direito Empresarial 8 INTRODUÇÃO Você sabia que a área do Direito Empresarial é uma das mais importantes e demandadas na atual realidade brasileira e mundial? O empreendedorismo é cada vez mais incentivado nos países ocidentais e a iniciativa privada não pode prescindir de advogados especializados nesta área. Cada vez mais grandes escritórios e empresas buscam advogados especializados para assessoria no Direito Empresarial, oferecendo também uma boa remuneração a esses especialistas. Diante deste cenário, nesta unidade, vamos estudar sobre a sociedade empresária e os empresários, os atos constitutivos e registro das sociedades, e, por fim, os direitos e obrigações das pessoas jurídicas. Tenho certeza que você amará essa introdução nos meandros do Direito Empresarial. Vamos começar? Direito Empresarial 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1 – Direito Empresarial. Nosso objetivo é auxiliar você a desenvolver as seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Explicar o empresário individual e a sociedade empresária. 2. Identificar os requisitos e as razões legais para o registro mercantil. 3. Interpretar os trâmites para os registros. 4. Explicar a razão dos procedimentos simplificados para micro e pequenos empresários. Então, preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Direito Empresarial 10 Personificação das sociedades OBJETIVO: Olá, seja bem-vindo à disciplina de Direito Empresarial. Ao término deste primeiro capítulo, você será capaz de entender como se formam as sociedades e quais as exigências legais para os registros mercantis. Esse conhecimento será fundamental para desenvolver competências nessa área. E então, motivado para desenvolver seus estudos? Vamos lá, avante! Neste capítulo, você aprenderá sobre como se formam as sociedades e quais as exigências legais para os registros mercantis, lembrando que podem nominar as relações jurídicas empresariais como Direito Empresarial, termo preferido pelos civilistas, ou como Direito Comercial, termo contido na Constituição Federal. Além disso, o Código Civil de 2002 revogou apenas a parte geral do Código Comercial de 1850, seguindo vigente a parte especial. Vale salientar que conhecer as exigências legais para a formação e o desempenho das sociedades, bem como a importância dos registros e os riscos da sua ausência, é importante para que você entenda, posteriormente, as características de cada uma das espécies de sociedades, e seu papel no nicho de mercado que ocupam. E então, motivado para desenvolver essa competência e vencer? Vamos nessa! A união das pessoas com um fim comum Os interesses sociais têm sua base na assunção de obrigações, cujas fontes estão na Lei, nas declarações unilaterais de vontade, nos contratos e nos atos ilícitos. A lei é classicamente definida como a norma escrita emanada de um poder competente e é base para as relações sociais, por força do art. 5°, inciso II, da Constituição Federal, que reza: ninguém pode ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei. Direito Empresarial 11 As declarações unilaterais de vontade obrigam apenas aqueles que as firmam. Elas estão subdivididas em: unilaterais, quando as obrigações são apenas de quemfirma o documento, a exemplo do doador ou do emitente de um cheque e bilaterais ou plurilaterais, quando as obrigações são mútuas, como no caso dos contratos. Os contratos são negócios jurídicos bilaterais ou plurilaterais que obrigam dois ou mais contratantes, cuja vontade converge para a concretização de interesses comuns. Quanto aos seus efeitos, eles podem ser considerados unilaterais, se obrigam apenas uma das partes; ou bilaterais, se obrigam duas ou mais partes. Atos ilícitos ou antijurídicos são faculdades de agir direcionadas para a infração às leis penais ou civis, que podem ou não resultar em danos e no consequente dever de ressarcir a lesão. Ao longo da história da humanidade, as pessoas uniram esforços para produzir e comercializar mais e melhor, obtendo maiores lucros. Inicialmente, reunidas em pequenos grupos familiares; posteriormente, com a revolução industrial, expandiram essa união e formaram sociedades empresarias, as quais, por sua vez, evoluíram para as atuais pequenas, médias e grandes empresas com atuação em todos os segmentos econômicos. Essa diversidade e quantidade de sociedades comerciais precisam ser regulamentadas para exercerem a função social que lhes é designada pela Constituição Federal. De 1850 a 2003, quando entrou em vigência o Código Civil de 2002, as relações empresariais eram regulamentadas no Brasil pelo Código Comercial. Nos dias atuais, o Direito Empresarial está regulamentado no Código Civil de 2002, que define as regras gerais para a constituição e a gestão das sociedades empresariais e não empresariais. Porém, o Código Comercial não foi integralmente revogado. A parte especial segue vigente e regulamenta o comércio marítimo, as quebras e as falências. Direito Empresarial 12 Figura 1 - Diversos tipos de lojas Fonte: Freepik Pessoa jurídica O termo pessoa jurídica é extremamente amplo e abrange tanto organizações da área pública como da área privada. Ele pode referir-se a órgãos públicos, autarquias, empresas e fundações públicas, e também a empresas privadas de qualquer porte. DEFINIÇÃO: Pessoa jurídica é definida como uma entidade criada nos termos da lei, com finalidade específica, dotada de personalidade jurídica própria e independente dos seus representantes legais, detentora de honra subjetiva (pode sofrer dano moral), que se subdivide em pessoa jurídica de direito público, interno ou externo, e de direito privado (art. 40, CC). Direito Empresarial 13 Observe com atenção as definições a seguir: a. Pessoas jurídicas de direito público externo: são os Estados dotados de soberania, a exemplo dos Estados Unidos, França, China, Argentina, entre outros, bem como os organismos internacionais dotados de personalidade jurídica, regida pelo direito internacional público, a exemplo da Organização das Nações Unidas – ONU, da Organização Mundial do Comércio – OMC, do Fundo Monetário Internacional – FMI, da Organização Internacional do Trabalho – OIT, etc. (art. 42, CC). b. Pessoas jurídicas de direito público interno: são a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios – lembrando que na atual organização estatal não temos territórios –, os municípios, as autarquias (INSS, agências reguladoras, etc.), as associações públicas (consórcios públicos, Lei 11.107/2005), as fundações públicas, e todas aquelas a que a lei conferir este status (art. 41, CC). Todas as pessoas jurídicas de direito público interno são criadas por lei, a qual estabelece que essas pessoas devem submeter-se ao regime público ou ao regime privado do Código Civil. Essas pessoas jurídicas são também civilmente responsáveis pelos atos praticados pelos seus agentes que resultarem em danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano em caso de culpa ou dolo. (art. 43, CC). c. Pessoa jurídica de direito privado: são pessoas jurídicas constituídas com base no princípio da liberdade e da autonomia privada, fundadas em relações e interesses particulares, com objetivo lucrativo ou filantrópico, criadas a partir dos registros dos seus atos constitutivos nas Juntas Comerciais ou nos Cartórios do Registro Civil das Pessoas Jurídicas. As pessoas de direito privado são: as associações, as sociedades, as fundações, as organizações religiosas, os partidos políticos e as empresas individuais de responsabilidade limitada. Com base nos recursos utilizados para a sua constituição, as empresas privadas podem ter caráter público, se o capital em sua maior parte vier do Poder Público, ou privado, se o capital em sua maior parte vier de fonte privada. (art. 44, CC). Direito Empresarial 14 Sociedade e empresa Sociedade e empresa não são institutos sinônimos. Sociedade é forma jurídica resultante da união de uma ou mais pessoas que objetivam alcançar um fim comum. Em uma sociedade, prevalece os interesses dos sócios, mas é a lei que regulamenta as suas obrigações, a sua estrutura interna e a responsabilidade civil perante terceiros. O Código Civil divide as sociedades entre empresárias e não empresárias ou simples. Empresa, por sua vez, é atividade econômica. Para a caracterização da empresa, o importante é a forma “como” a atividade econômica é desenvolvida. Por esta razão, ela é mais abrangente que a sociedade, pois envolve interesses dos sócios e de terceiros, como empregados, consumidores, fornecedores, fisco etc. A sociedade pode existir sem que haja uma empresa, da mesma forma que uma empresa pode existir sem que haja uma sociedade. Exemplos são o MEI, o Empresário Individual e a EIRELI, nos quais não há sócios e centram na pessoa de um único indivíduo os direitos e obrigações empresariais; e as sociedades simples, ou não empresariais, que exercem atividades voltadas para a produção de bens e serviços. IMPORTANTE: As empresas não são sujeitos de direito e obrigações, mas objeto de direitos, conforme decisão do STJ em Recurso Repetitivo: Resp 1355812/RS, Tema Repetitivo 164. Primeira Seção, relator Min. Mauro Campbell Marques, publ. DJe em 31/05/2013, Você pode ler a decisão completa, Clique aqui. Elementos essenciais do contrato Os contratos podem ser definidos como um acordo entre duas ou mais pessoas, de caráter patrimonial, fundado na boa-fé e na função social, que tem por finalidade regulamentar e delimitar interesses comuns, de acordo com o estabelecido na ordem jurídica brasileira, e por objetivo a aquisição, alteração e extinção de direitos em proveito econômico das partes. Direito Empresarial https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201202490963&dt_publicacao=31/05/2013 15 São princípios formadores do contrato: a. Autonomia da vontade: é a exteriorização de vontade das pessoas físicas e jurídicas na prática de atos jurídicos, para determinar a sua forma, efeitos e conteúdo sempre que não contrariem as leis, a ordem pública e os bons costumes. Abrange todos os aspectos dos negócios jurídicos, inclusive as opções de contratar, distratar ou não contratar. b. Consensualismo: é a essência do contrato, o acordo mútuo acerca do seu objeto. Ele pode ser manifestado de forma verbal ou escrita, expressa ou tácita e subdivide-se em: consensualismo puro quando se trata de acordo de vontades, ex.: o contrato de compra e venda (art. 482, CC); e consensualismo real, quando, além do acordo de vontades, ocorre a tradição da coisa, como por exemplo, o comodato (art. 579, CC) e o contrato de depósito (art. 627, CC). c. Obrigatoriedade ou Força obrigatória: Esse princípio é expresso no direito pelo brocardo latino pacta sunt servanda, ou seja, o que foi pactuado em contrato deve ser respeitado e cumprido pelas partes. É um princípio do liberalismo de que o contrato faz lei entre as partes. Esse princípio é relativizado pela cláusula rebus sic stantibus, ou seja, enquanto as condições contratadas não se alterarem criando ônus que tornedifícil para qualquer das partes cumprir o acordado. É a chamada Teoria da Imprevisão. d. Relatividade dos efeitos: Segundo esse princípio, os efeitos dos contratos só obrigam as partes contratante e contratada, vincula-se ao objeto do contrato e não atingem terceiros ou o seu patrimônio. e. Boa-fé: Se traduz pela boa intenção, lealdade e confiança que deve nortear as partes contratantes desde a formação até a execução do contrato (arts. 113 e 422 do CC). A boa-fé contratual se subdivide em: objetiva, é um dever de conduta, de honestidade mútua que traduz pelo respeito de uma parte com relação à outra; e subjetiva, Direito Empresarial 16 é um valor interno, uma qualidade das partes de dizer aquilo em que acreditam e ter convicção no que dizem. f. Probidade: É o dever de honestidade, decoro, eticidade, lealdade contratual que deve nortear os atos das partes contratante e contratada durante toda a relação contratual. g. Equilíbrio econômico: O princípio do equilíbrio econômico decorre do princípio constitucional da igualdade substancial (art. 3°, III, CF) e se traduz por paridade, simetria nas prestações recíprocas contratadas, de forma a evitar que, diante de fatos concretos, uma das partes seja excessivamente onerada pelas obrigações contratadas, em detrimento do benefício ou lucro monetário muito superior da outra parte. Vantagens e encargos devem estar sempre em equilíbrio e em harmonia para as partes contratante e contratada. h. Função social: O princípio da função social do contrato decorre do princípio da solidariedade e está ligado não só à proteção dos interesses privados em favor do ser humano, mas à própria dignidade da pessoa humana (art. 421 e parágrafo único do art. 2.035, CC). Esse é um conceito aberto, que extrapola os interesses unicamente privados para abranger toda a sociedade e o seu bem-estar. Isso significa dizer que o contrato deve ser instrumento de progresso e pacificação social. A lei relativiza a pacta sunt cervanda em prol da igualdade e da harmonia social, ordenando que o contrato seja um instrumento de progresso em favor da sociedade. Por isso, as cláusulas contratuais que ofendem a ordem pública e a dignidade da pessoa humana são nulas de pleno direito. Além do respeito e obediência aos princípios, a norma civil exige, para a validade dos negócios jurídicos, que os agentes sejam capazes, e ainda que o objeto do contrato seja lícito, possível, determinado ou determinável, e que obedeça à forma prescrita ou não defesa em lei. Direito Empresarial 17 A capacidade é uma qualidade mental do contratante para exercer os atos da vida civil. Ela está ligada à consciência do sujeito quanto ao ato em si e às consequências e responsabilidades que advêm das suas escolhas (art. 972, CC). Isso não significa que os incapazes ou os relativamente capazes não possam contratar. Os interditos (incapazes) ou curatelados (relativamente capazes) podem fazê-lo por meio de pessoas que os representem legalmente (art. 974, III). A Lei 13.146/2015, chamada Estatuto da Pessoa com Deficiência, por sua vez, tem por norte a plena integração na sociedade das pessoas com deficiência, estimulando a sua participação na economia nacional, na medida da sua capacidade física e mental, seja através de empregos públicos ou privados, seja participando como sócios ou cotistas em empresas, independente do seu porte. O objeto lícito, possível, determinado ou determinável: a. Licitude: Se traduz por objeto que não esteja em desacordo com as leis. b. Possível: É sinônimo de viável, de objeto que possa ser concretizado. Ninguém pode contratar uma viagem de turismo para o sol, pois, por impossibilidade absoluta, é impossível concretizar o traslado e a estadia no sol. Porém, alguém pode contratar uma viagem para a lua, pois existe tecnologia para isso, o que torna a impossibilidade relativa, dependente de condições externas para a concretização do objeto. Como exemplo, tem-se as condições físicas do viajante, que, durante os meses de preparação para a viagem, passa de 70 Kg a 150 kg de massa corporal. O peso excessivo inviabiliza uma viagem ao espaço, mas, como a impossibilidade relativa está no plano das eficácias, isso pode ser revertido se o contratante emagrecer e voltar aos 70 Kg. c. Determinado ou determinável: Determinado é o objeto que pode ser perfeitamente identificado e delimitado, como, por exemplo, uma casa e os limites do seu terreno; determinável é um objeto que pode ser identificado no momento da assinatura do contrato em seus elementos mínimos, mas que será delimitado e melhor Direito Empresarial 18 especificado no futuro. Exemplo desse tipo de contrato é a compra de uma unidade habitacional em regime de cooperativa, cujas unidades serão sorteadas entre os compradores depois do prédio pronto. Em resumo, são três os elementos essenciais do contrato: a res, o pretium e o consensum, ou seja, a coisa objeto do contrato, o preço e a livre vontade de contratar. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter aprendido o que é a personificação das sociedades, a união das pessoas com um fim comum, o que é a pessoa jurídica, o que é sociedade e empresa e os elementos essenciais do contrato. Direito Empresarial 19 Registros mercantis OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender como funcionam os registros mercantis, sua importância, os atos constitutivos, a concretização do registro comercial e os trâmites dos registros (controle e fiscalização. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Então vamos lá. Avante! Importância dos registros mercantis A partir da Revolução Industrial os atos negociais se diversificaram de tal modo que se tornou imprescindível para os Estados estabelecer uma forma de controle sobre as empresas responsáveis pela produção e circulação de bens e serviços; inicialmente, para o recolhimento dos impostos e, no decorrer dos anos, na medida em que a dignidade da pessoa humana passou a ser mais e mais valorizada, também para facilitar a fiscalização das atividades, a segurança dos trabalhadores, o acatamento das leis trabalhistas etc. Hoje, os registros públicos mercantis são serviços públicos prestados por órgãos federais e estaduais para dar vida às pessoas jurídicas, guardar o histórico dos seus atos - do registro inicial à extinção -, e publicitar esses atos para conhecimento de toda a sociedade. Os registros mercantis e as atividades afins estão regulamentados em Lei Especial, Lei 8.934/94, são obrigatórios em todo território nacional e devem ser feitos de forma sistêmica por órgãos federais, estaduais e distritaisl, com as seguintes finalidades: Art. 1°. I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos a registro na forma desta lei; II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter atualizadas as informações pertinentes; Direito Empresarial 20 III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu cancelamento. (BRASIL, 1994) O registro confere credibilidade aos atos empresariais, criando presunção relativa de verdade aos negócios jurídicos e aos atos negociais, protege o nome empresarial e os direitos da empresa frente à concorrência desleal, garante externalidades positivas para a sociedade ao reduzir riscos para quem negocia com as empresas e possibilita ao Estado administrar a tributação do sistema econômico. A única exceção à imposição legal do registro diz respeito à atividade rural. Porém, em que pese facultativo, uma vez efetuado o registro, o empresário rural equipara-se aos empresários para todos os efeitos legais(art. 971, CC). Atos constitutivos O Ato constitutivo é o documento inicial para registro da vontade do empresário de constituir empresa. A Regra geral é um Contrato Social ou, no caso da empresa individual, uma Declaração de Empresário, nos quais constará o tipo jurídico da empresa, o objetivo social, as regras para o funcionamento e a administração, os bens que integrarão o patrimônio da empresa, os direitos e as obrigações dos sócios, a forma como se dará a dissolução da sociedade e a destinação final dos bens etc. Os atos constitutivos são elaborados pelo próprio interessado ou pelos seus contadores e, posteriormente, levados a registro nos termos do Código Civil, Lei Complementar 123/2006, Lei 11.107/2005, Lei 8.934/1994, Lei 6.404/1976, entre outros diplomas legais, dependendo da exigência legal para cada tipo empresarial. Concretização do registro mercantil Para o exercício do registro público, a Lei 8.934/94 criou o Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis - SINREM, integrado pelo Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração, gestor central técnico, normativo e administrativo e pelas Juntas Comerciais, órgãos locais que executam e administram os serviços registrais. Direito Empresarial 21 O Código Civil também estabelece regras para os registros públicos de empresas mercantis, mas, em que pese exigir o registro de empresário antes do início da atividade empresarial (art. 967, CC), esse ato é meramente declaratório frente à exigência legal do exercício profissional e habitual de atividades efetivamente empresariais para a constituição de empresário (art. 966, CC). Em outras palavras, mesmo que o empresário ou a sociedade não estejam registrados na Junta Comercial antes do início das suas atividades, ainda assim serão considerados empresário individual ou sociedade empresária, nos termos do Enunciado 198, do Conselho da Justiça Federal, muito embora sofram as consequências limitativas da falta do registro, como a impossibilidade de requerer recuperação judicial (art. 48, Lei 11.101/2005). ACESSE: A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal providência. O empresário irregular reúne os requisitos do art. 966, sujeitando-se às normas do Código Civil e da legislação comercial, salvo naquilo em que forem incompatíveis com a sua condição ou diante de expressa disposição em contrário. (CJF. Enunciado 198. Coordenador-Geral Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Referência Legislativa: Código Civil de 2002, Lei n. 10.406/2002, Art 967. Disponível aqui. Cada estado-membro da federação tem uma Junta Comercial responsável por executar e administrar os registros empresariais. Para efetivar a inscrição, o empresário deve atender também as formalidades legais do art. 968, do Código Civil, e protocolar um requerimento na Junta Comercial do estado onde exercerá suas atividades, no qual conste a sua qualificação completa (nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de bens), assinatura autógrafa ou digital, o capital da empresa, seu objeto e sede, e esteja visado por advogado, exigência da Lei 8.906/94, art. 1°, parágrafo 2°. Direito Empresarial https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/382 22 Pelo fato das Juntas Comerciais integrarem a estrutura administrativa dos estados-membros, elas se submetem tecnicamente ao Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração, órgão central do Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis – SINREM, que é federal, mas, administrativamente, seguem as regras administrativas estatais. Por isso, não são raras variantes protocolares e de prazos administrativos nas Juntas Comerciais dos diferentes estados-membros. Esse caráter híbrido interfere também na competência jurisdicional. A análise judicial dos atos técnicos do registro de empresa no Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração, órgão do SIREM, é de competência da Justiça Federal; já a dos atos administrativos de competência exclusivamente das Juntas Comerciais são de competência da Justiça Estadual (art. 8°, da Lei 8.934/1994). Filiais, sucursais ou agências abertas em estado diferente daquele no qual foi feito o registro da matriz devem ser registrados na Junta Comercial estadual mediante apresentação da inscrição originária. Estabelecimentos secundários, ainda que na mesma sede da matriz, também devem ser registrados (art. 969 e parágrafo único, CC). Para efeitos jurídicos: Filial é um estabelecimento subordinado à matriz, mas que tem gestão própria; Sucursal é um ponto de negócio acessório, subordinado à matriz administrativamente; Agência é um estabelecimento que atua de forma intermediária em prestação de serviços. Para efeitos de competência jurisdicional territorial, a súmula 363 do Supremo Tribunal Federal estabelece que “a pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato”. Nesse sentido, o art. 75, parágrafo 1°, do Código Civil prevê: “Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados”. Porém, se no local da prática do ato ou do evento danoso não houver agência ou estabelecimento, a competência é do juízo da sede da empresa. A exceção à exigência do registro na Junta Comercial é o processo de abertura, registro, alteração e baixa das microempresas e empresas de pequeno porte, cujo trâmite é especial, simplificado e eletrônico, sendo possível a dispensa das informações relativas a estado civil e regime de Direito Empresarial 23 bens, remessa de documentos e firma (art. 4°, parágrafo 1°, inciso I, Lei Complementar 123/2006, c/c o art. 468, parágrafo 4°, do CC). Trâmite dos registros – controle e fiscalização Nos termos do art. 8°, da Lei 8.934/1994, a competência das Juntas Comerciais é executiva e todos os seus atos devem ser publicizados através de publicação no Diário Oficial dos Estados ou do Distrito Federal, conforme o caso. Ou seja, cabe a ela executar os atos de registro dos empresários que se dividem em matrícula, cancelamento, arquivamento e autenticação (art. 32, Lei 8.934/1994). a. Matrícula: É o ato de registro nas Juntas Comerciais de profissionais específicos: leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-gerais; b. Cancelamento: É o ato de revogação do registro de matrícula. A inscrição do nome empresarial, a requerimento do interessado, será cancelada quando cessar o exercício da atividade empresária ou quando a sociedade for liquidada (art. 1.168, CC); c. Arquivamento: É o ato de registro nas Juntas Comerciais dos atos constitutivos do empresário individual e das sociedades empresárias. São arquivados: os documentos de constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas; os atos relativos a consórcio e grupo de sociedades anônimas (Lei nº 6.404/1976); os atos de empresas mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil; as declarações de microempresa; os atos ou documentos legalmente atribuídos ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, ou que interessem ao empresário e às empresas mercantis; d. Autenticação: É o ato de registro dos livros empresariais obrigatórios, destinados à escrituração contábil das empresas mercantis registradas e dos agentes auxiliares do comércio. Esse é um pré-requisito de regularidade contábil e está previsto também no art. 1.181, do Código Civil. Direito Empresarial 24 Como o objetivo primeiro do ato registral é a publicidade, antes de formalizado ele não pode ser oposto a terceiros, exceto quando provado que este o conhecia. Porém, concretizado o registro, é vedado ao terceiroalegar desconhecimento (art. 1.154 e parágrafo único, CC). IMPORTANTE: A proteção do nome empresarial é consequência automática dos atos de registro (art. 33, Lei 8.934/1994). Os seguintes órgãos integram as juntas comerciais: A Presidência, como órgão diretivo e representativo; o Plenário, como órgão deliberativo superior; as Turmas, como órgãos deliberativos inferiores; a Secretaria Geral, como órgão administrativo; a Procuradoria, como órgão de fiscalização e de consulta jurídica” e, a critério de cada uma, assessoria técnica constituída por advogados, economistas, contadores ou administradores de empresa (art. 9°, Lei 8.934/1994). (BRASIL, 1994) O plenário é composto por vogais e suplentes, formado por brasileiros natos ou naturalizados de conduta ilibada, em gozo dos direitos civis e políticos, quites com o serviço militar e com as obrigações eleitorais, nomeados pelos governos dos Estados e do Distrito Federal para mandatos de 04 anos, permitida uma recondução (art. 11 e 16, Lei 8.934/1994). Às Turmas, compostas por três vogais, cabe julgar originariamente os pedidos de registro, à Secretaria Geral cabe executar os serviços de registro e administração das Juntas Comerciais, e à Procuradoria cabe fiscalizar e promover o cumprimento das normas legais e executivas, oficiando interna e externamente em atos e feitos de natureza jurídica, inclusive judiciais (arts. 23 a 28, Lei 8.934/1994). Os interessados têm prazo de 30 dias corridos da assinatura dos documentos descritos no inciso II, do art. 32, da Lei 8.934/1994, para protocolar os documentos para arquivo na Junta Comercial, que serão decididos pelos vogais de forma singular em dois dias úteis, com efeitos ex tunc, ou seja, retroagindo à data da assinatura pelos sócios. Protocolado Direito Empresarial 25 extemporaneamente, o efeito é ex nunc, ou seja, o arquivamento será decidido no mesmo prazo de dois dias úteis, mas a eficácia se dará a partir da data do despacho que o deferir (art. 36, Lei 8.934/1994). O Código Civil praticamente replica o art. 36, da Lei 8.934/1994, no art. 1.151, mas acrescenta no inciso 3°, norma de responsabilidade civil pela demora ou omissão do responsável por providenciar os registros: Art. 1.151. O registro dos atos sujeitos à formalidade exigida no artigo antecedente será requerido pela pessoa obrigada em lei, e, no caso de omissão ou demora, pelo sócio ou qualquer interessado. § 1° Os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados no prazo de trinta dias, contado da lavratura dos atos respectivos. § 2 Requerido além do prazo previsto neste artigo, o registro somente produzirá efeito a partir da data de sua concessão. § 3 As pessoas obrigadas a requerer o registro responderão por perdas e danos, em caso de omissão ou demora. (BRASIL, 1994) Alguns atos, pelo nível de complexidade envolvido no exame dos documentos e consequências advindas dos registros, são julgados de forma colegiada, no prazo de cinco dias úteis, o arquivamento dos atos de constituição das sociedades anônimas, atas de assembleias gerais, entre outros atos sujeitos ao Registro Público, os atos de transformação, incorporação, fusão e cisão de empresas mercantis, e os atos de constituição e alterações de consórcio e de grupo de sociedades nos termos da Lei 6.404/1976, que dispõe sobre as Sociedades por Ações, e, finalmente, o julgamento dos recursos interpostos contra decisões singulares dos vogais. Os prazos para recursos ao Plenário, sem efeito suspensivo, são de 10 dias úteis para o interessado. A Procuradoria, se não interpôs o recurso, é ouvida no mesmo prazo e, posteriormente, o feito é julgado no prazo de 30 dias. Da decisão do Plenário cabe recurso ao Ministro da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços em última instância administrativa. Direito Empresarial 26 IMPORTANTE: É importante ressalvar que, na análise dos documentos levados ao registro, as juntas comerciais analisam tão somente os aspectos formais exigidos nas leis. O exame de mérito do contido nos documentos, acordado entre sócios ou decidido em reuniões de acionistas, não é competência das Juntas Comerciais. Algumas empresas, além do registro nas juntas comerciais, precisam ter registros em outros órgãos. Exemplo são as empresas de auditoria, que devem se registrar também na Comissão de Valores Mobiliários – CVM. Como os assentamentos nas juntas comerciais são públicos, qualquer pessoa, sem necessidade de justificar razões, pode consultar os atos registrados e pedir certidões, pagando taxas administrativas (art. 29, Lei 8.934/1994). Para desburocratizar os registros das empresas, a Lei Complementar 123/2006, criou a Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios – REDESIM, regulamentada pela Lei 11.598/2007, que na atual estrutura administrativa federal está sob gestão do Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços, e simplificou os atos de registro, que hoje podem, em grande parte, tramitar pela internet, e diminuir prazos nos processos administrativos. ACESSE: Veja aqui a REDESIM, para conferir como as atividades de registro foram desburocratizadas pelo uso da internet. Os empresários individuais ou sociedades empresárias devem manter um sistema de escrituração contábil que varia de acordo com a complexidade das atividades produtivas e negociais. O Código Civil assegura que: Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação Direito Empresarial http://www.redesim.gov.br/ 27 respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. § 1 Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a critério dos interessados. § 2 É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o art. 970. Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica. Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico. (BRASIL, 1994) A escrituração é tão importante que a lei que regulamenta a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, tipifica como crime a falta de elaboração, escrituração ou autenticação do livro contábil diário, antes ou após a decretação judicial da falência, concessão da recuperação judicial ou homologação do plano de recuperação extrajudicial, com pena de detenção de um a dois anos e multa, se o fato não constituir crime mais grave (art. 178 e 180, Lei 11.101). O livro diário pode ser substituído por um sistema de lançamento de fichas e pelo livro Balancetes Diários e Balanços (art. 1.185 e 1.186, CC). Pelo Código Civil, afora o Livro Diário, balanço patrimonial e de resultado econômico, os demais livros “em tese” seriam opcionais e para controle interno das empresas, como livro-caixa, razão, estoque, etc. Porém, os dados inseridos no livro diário precisam ser comprovados, por meio de informações contidas nos livros auxiliares, tornando-os obrigatórios por conexão. As leis trabalhistas, previdenciárias e fiscais, por sua vez, também exigem escrituração em livros específicos que, entretanto, não são considerados legalmente livros empresariais. Tem-se alguns exemplos: os leiloeiros, que devem ter os Livros de Registro Diário de Entradas, Diário de Saída, Contas Correntes, Protocolo, Diário de Leilões e Livro Talão, por forma de comando legal contido nos arts. 31 e 32 do Decreto 21.981/1932 e as Sociedades Anônimas, que devem ter os Livros de Registro de Ações Direito Empresarial 28 Nominativas, Transferênciade Ações Nominativas, Registro de Partes Beneficiárias Nominativas, Atas das Assembleias Gerais, Presença dos Acionistas, Atas das Reuniões do Conselho de Administração e Atas e Pareceres do Conselho Fiscal, nos termos do art. 100, da Lei 6.404/1976. Para fins penais, os livros mercantis são equiparados a documentos públicos e sua falsificação, no todo ou em parte, também é tipificada como crime de falsificação de documento público, com pena de reclusão de dois a seis anos e multa (art. 297, § 2.º, do Código Penal). SAIBA MAIS: Para saber mais sobre a Junta Comercial do seu estado, pesquise os serviços de registro disponíveis, os preços, como pedir certidões etc., Clique aqui. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido como funcionam os registros mercantis, sua importância, os atos constitutivos, a concretização do registro comercial e os trâmites dos registros (controle e fiscalização). Direito Empresarial http://www.institucional.jucesp.sp.gov.br/ 29 Sigilo OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender o sigilo, o nome e o estabelecimento empresarial. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! A dinâmica do sigilo no contexto empresarial Muitas empresas, especialmente as de grande porte, investem em pesquisas, têm produtos protegidos por regras de patentes, investem dinheiro de pessoas que não querem, até por segurança, ter os seus nomes divulgados, entre muitas outras situações que não devem ser tornadas públicas. Pensando nisso, o legislador estabeleceu, no art. 1.190, do Código Civil, que ressalvados os casos previstos em lei, para exibição e/ou publicidade obrigatórios, “nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei”. À primeira vista, esse artigo passa a impressão de que as empresas estão blindadas contra as ordens judiciais para a exibição dos seus livros e análise por juízes, peritos, fiscais, procuradores e outros operadores do direito, mas não é bem assim. Afinal, nos termos do entendimento consagrado pelo Supremo Tribunal Federal, nenhuma norma é absoluta e nem deve ser interpretada de forma isolada do restante do ordenamento jurídico. O que a lei veda neste artigo é a arbitrariedade. A solicitação e a exibição dos livros sem uma razão respaldada na lei, protegendo-os da mera curiosidade alheia. Sempre que houver previsão legal os livros devem ser apresentados e podem ser examinados. E o próprio Código Civil elenca algumas exceções, como no art. 1.191 e 1.193, o qual assevera que: Direito Empresarial 30 Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis de escrituração quando necessária para resolver questões relativas à sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de falência. Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da escrituração, em parte ou por inteiro, não se aplicam às autoridades fazendárias, no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das respectivas leis especiais. (BRASIL, 2002) Porém, a Lei também teve o cuidado de restringir o exame dos livros àqueles que interessam para o esclarecimento do problema levado ao exame judicial (art. 1.191, parágrafo 1°, CC). Há uma exceção importante também no art. 195 e parágrafo único, da Lei 5.172/1966, Código Tributário Nacional, que torna sem aplicação quaisquer normas que excluam ou limitem os exames de mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais de todos os empresários, até à prescrição, determinando ainda a obrigatoriedade da guarda de todos os livros e documentos até a sua ocorrência. A Súmula 439 do Supremo Tribunal Federal, por sua vez, reconhece o direito fiscalizador do Estado e a obrigação de exibição dos livros com limites: “Estão sujeitos à fiscalização tributária ou previdenciária quaisquer livros comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da investigação”. O Código de Processo Civil autoriza o juiz a ordenar, a pedido da parte, a exibição integral ou parcial dos livros empresariais e dos documentos de arquivo nos casos de liquidação de sociedade, sucessão por morte de sócio ou quando e como determinarem as leis, extraindo deles o que interessar ao litígio, inclusive reproduções autenticadas (arts. 420 e 421, Lei 13.105/2015). A mesma norma estabelece que a recusa de exibição de documentos não será admitida quando a parte tiver o dever legal de exibi-lo, quando o objetivo da exibição é constituir prova e quando o documento, pelo seu conteúdo, for comum às partes, podendo o juiz penalizar a recusa na apresentação com a pena de confissão ou adotar medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias para obrigar a exibição do Direito Empresarial 31 documento. A Lei das Sociedades Anônimas, Lei 6.404/1976, prevê a exibição dos livros: Art. 105. A exibição por inteiro dos livros da companhia pode ser ordenada judicialmente sempre que, a requerimento de acionistas que representem, pelo menos, 5% (cinco por cento) do capital social, sejam apontados atos violadores da lei ou do estatuto, ou haja fundada suspeita de graves irregularidades praticadas por qualquer dos órgãos da companhia. (BRASIL, 1976) Existem outras normas no mesmo sentido. Assim, a vedação de exibição prevista no Código Civil é relativa ante a previsão em várias normas legais de exibição dos livros mercantis, especialmente, para fins de fiscalização e prova judicial. Um questionamento doutrinário é se os livros auxiliares, não obrigatórios, também precisam ser exibidos. A resposta é sim. Desde que haja previsão legal para a exibição de documentos, ordem judicial ou requisição justificada do fisco, os livros auxiliares devem ser exibidos. Além disso, a escrituração contábil é indivisível, não fazendo diferença como valor probante se os livros são obrigatórios ou auxiliares (art. 419, CPC). Esse entendimento encontra respaldo também no art. 1.194 do Código Civil, que ordena ao empresário e à sociedade empresária a guarda adequada de toda a escrituração, correspondência e demais papéis concernentes à sua atividade até a ocorrência da prescrição ou da decadência. Os micros e pequenos empresários, inclusive rurais, são desobrigados de manter escrituração mercantil, mas não são desobrigados da guarda dos documentos comprobatórios de renda e despesas (Decreto-Lei 486/69, Lei Complementar 123/2006, Lei Complementar 48/84, Decreto 3.474/2000, Decreto 9.580/2018). Por fim, cabe ressaltar o valor probante dos documentos empresariais, reconhecidos expressamente nos arts. 417 e 419 do Código de Processo Civil: Direito Empresarial 32 Art. 417. Os livros empresariais provam contra seu autor, sendo lícito ao empresário, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos. Art. 418. Os livros empresariais que preencham os requisitos exigidos por lei provam a favor de seu autor no litígio entre empresários. (BRASIL, 2002) Nome empresarial O nome empresarial, ainda denominado popularmente “razão social”, recebe proteção especial da lei, tanto por ter conteúdo econômico, como pela sua importância subjetiva, enquanto designação e individuação do exercício de empresa pelo empresário individual ou da sociedade empresária, e ainda por ter a capacidade de se tornar marca, designação que permite a pronta e imediata identificação da empresa, do produto ou serviço que oferece. Um exemplo clássico desse cenárioé a Coca-Cola Company, nome empresarial que se tornou marca de um dos refrigerantes mais consumidos no mundo, a Coca-Cola. O nome empresarial também desempenha papel de ordem objetiva ao espelhar o bom nome, a reputação, a fama do empresário individual ou da sociedade empresária. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos de proteção legal, a denominação das sociedades simples, associações e fundações (art. 1.155, parágrafo único, CC). Dessa forma, é importante ressalvar que se aplica às pessoas jurídicas, no que couber, os direitos da personalidade. (art. 52, CC). Sendo assim, o nome das pessoas jurídicas, independente da sua natureza pública ou privada, é direito personalíssimo, e, por isso, intransferível e inalienável, passível de ser atingido moralmente. Porém, não há impedimento legal de uso do nome pelo comprador em caso de venda da empresa. O Código Civil prevê ainda dois tipos de nomes empresariais: a firma, individual ou social, e a denominação (art. 1.155, CC). A firma individual é o nome do próprio empresário, utilizado, por exemplo, na designação do microempresário individual. A firma social é o nome de um ou mais sócios como, por exemplo, a que nomina sociedade de advogados. A firma pode Direito Empresarial 33 também designar o ramo de atividade empresarial, a exemplo de: Barros, Silva e Figueiredo Advogados Associados, Instituto Clara de Beleza, Cícero Romano Curso Jurídico, etc. A denominação social, por sua vez, é o nome dado a uma empresa, que pode ser uma palavra à escolha dos sócios, ou uma expressão fantasia, acrescida ou não de expressão que caracterize a sociedade. Os sócios podem escolher também o nome de uma pessoa física, sob sua responsabilidade exclusiva. Em caso de falecimento, exclusão ou retirada do sócio, o seu nome deve ser excluído da firma social (art. 1.165, CC). De acordo com o tipo societário, o nome irá variar de acordo com a espécie e a estrutura da sociedade a ser constituída. Tem-se como exemplo: a sociedade anônima deve conter o S.A no final do nome; e a sociedade limitada deve conter a expressão limitada ou LTDA também no final do nome. Cabe ressalvar o princípio da novidade do nome empresarial, inserido pelo legislador no art. 1.163 do Código Civil: Art. 1.163. O nome de empresário deve distinguir-se de qualquer outro já inscrito no mesmo registro. Parágrafo único. Se o empresário tiver nome idêntico ao de outros já inscritos, deverá acrescentar designação que o distinga. (BRASIL, 2002) Assim, é possível haver dois nomes empresariais idênticos, desde que a designação os distinga. Observe o exemplo: Sol e Mar Restaurante Ltda. e Sol e Mar Cosméticos Ltda. Essa restrição, entretanto, está limitada ao âmbito estatal da Junta Comercial, responsável pelo registro da inscrição do empresário ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou averbações no registro apropriado, exceto os casos de registro especial, cujo âmbito se estende a todo o território nacional (art. 1.166 e parágrafo único, CC). Por fim, uma inovação relevante trazida pelo Código Civil de 2002 é a imprescritibilidade da ação para anular a inscrição do nome empresarial decorrente de violação da lei ou do contrato (art. 1.167, CC). Direito Empresarial 34 O mesmo não se pode dizer sobre o registro empresarial. O Código Civil estabelece o prazo decadencial de 03 (três) anos para anular registros com defeitos nos atos constitutivos, no parágrafo único, do art. 45, do Código Civil, tem-se: Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando- se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro. (BRASIL, 2002) O art. 116, da Lei de Registros Públicos, Lei 6.015/1973, coaduna com a Lei Civil ao proibir: O registro dos atos constitutivos de pessoas jurídicas, quando o seu objeto ou circunstâncias relevantes indiquem destino ou atividades ilícitos ou contrários, nocivos ou perigosos ao bem público, à segurança do Estado e da coletividade, à ordem pública ou social, à moral e aos bons costumes. (BRASIL, 1973) A proibição é abrangente e parte de avaliação subjetiva, o que deixa a critério do Tabelião do Registro Civil das Pessoas Jurídica, num primeiro momento, a avaliação e a negativa do registro de atos constitutivos. Os interessados podem recorrer ao Judiciário para revisão da avaliação e recusa de registrar. Porém, se acaso o registro for realizado e, a posteriori, se constatar o defeito no ato constitutivo, o prazo para o pedido de anulação é de 03 (três) anos. Passado este prazo, prevalecerá o registro. Quanto à nulidade, ela está prevista na Lei de Registros Públicos, art. 216, para os registros feitos após a sentença de abertura de falência ou do termo legal nele afixado. Se o registro for feito antes, não há nulidade. O Código Civil prevê a nulidade quando os atos constitutivos das associações desatendem os incisos do art. 54, ou quando os atos forem simulados, nos termos do art. 167. Direito Empresarial 35 Estabelecimento empresarial Nos termos do art 1.142 e 1.143, do Código Civil: Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária. Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. (BRASIL, 2002) O estabelecimento comercial não é mais apenas o local onde o empresário exerce as suas atividades. Hoje, ele engloba os bens materiais e imateriais, consumíveis, fungíveis e infungíveis utilizados pelo empresário para o desenvolvimento da sua atividade econômica. Ele é um conjunto de bens e direitos que possibilita a concretização da atividade- fim do empresário. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido o sigilo, o nome e o estabelecimento empresarial. Direito Empresarial 36 Microempresas e empresas de pequeno porte OBJETIVO: Ao término deste capítulo você será capaz de entender as microempresas e as empresas de pequeno porte, além de saber sobre as sociedades simples e empresárias, bem como as sociedades não personificadas. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Entendendo as micros e pequenas empresas As micros e pequenas empresas têm um papel fundamental na economia do país e na geração de mão de obra, sendo responsáveis por parte importante do Produto Interno Bruto Nacional anualmente. Não sem razão a Constituição Federal de 1988, no art. 179, estabelece que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, devem dispensar às micro e pequenas empresas tratamento especial, a serem definidas na lei infraconstitucional, e tratamento jurídico diferenciado e simplificado nas áreas administrativa, tributárias, previdenciárias e creditícias, com vistas à diminuição da burocracia e à facilitação de acesso ao crédito. No esteio do comando constitucional, os microempreendedores, o empresário rural e o pequeno empresário recebem tratamento especial em todo o processo de inscrição do empresário e facilitação para o cumprimento das obrigações empresariais tributárias e administrativas, melhor explicitadas nos arts. 968, parágrafo 4°, e 970, do Código Civil: Art. 968. A inscrição do empresário far-se-á mediante requerimento que contenha: (...) §4. O processo de abertura, registro, alteração e baixa do microempreendedor individual de que trata o art. 18-A da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, bem como qualquer exigência para o início Direito Empresarial 37 de seu funcionamento deverão ter trâmite especial e simplificado, preferentemente eletrônico, opcional para o empreendedor, na forma a ser disciplinada pelo Comitê para Gestão da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios - CGSIM, de que trata o inciso III do art. 2 da mesma Lei. (Incluído pela Lei nº 12.470, de 2011) (...) 970. A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes. (BRASIL, 2002) Coube à Lei Complementar 123/2006 – Estatuto Nacional da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte, classificar quais são as micro e pequenas empresas, seleção que é feita por faixa de faturamento. Em 2019, o faturamento máximo por categoria é: a. Microempreendedor Individual (MEI): Receita bruta anual de até R$ 81 mil. b. Microempresa – Receita bruta anual de até R$ 360 mil, exceto MEI. c. Empresa de Pequeno Porte (EPP) – Receita bruta anual acima de R$ 360 mil até R$ 4,8 milhões. Uma forma de diferenciar o porte de cada empresa é por meio do regime de tributação, por exemplo, a pessoa jurídica, categorizada como MEI, entra no regime tributário do Simples Nacional. Já as empresas com maior faturamento, adequam-se ao regime tributário do lucro presumido. Vejamos a seguir, mais detalhes sobre esses regimes de tributação: Simples Nacional O Simples, na verdade, é um acrônimo da sigla: Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. Esse regime foi criado, em 1996, com o objetivo de facilitar o recolhimento das contribuições das empresas com menor porte, como o Microempreendedor Individual (MEI), por exemplo. Direito Empresarial 38 Figura 2 - Microempreendedor individual Fonte: Freepik. O microempreendedor individual (MEI) é uma pessoa jurídica que trabalha de forma autônomo, ou seja, por conta própria, mas que precisa ter um cadastro, indicando que atua de forma profissional. Seu negócio funciona como pequeno empresário. Normalmente, o MEI tem apenas um funcionário para todas as funções, que é o próprio empresário. IMPORTANTE: O que define o que é uma MEI, ou seja, uma microempresa ou empresa de pequeno porte, é o seu nível de faturamento. A empresa, ou o negócio, é categorizada, não pelo número de profissionais que nele atuam, ou o tamanho de suas instalações, mas apenas por esse faturamento. As empresas que se encaixam nesse regime de tributação pagam apenas um imposto por mês, o Documento Único de Arrecadação (DAS). Nesse regime, as alíquotas cobradas são menores, justamente para estar coerente com o faturamento produzido. Direito Empresarial 39 Os impostos incluídos no DAS são os seguintes: • Imposto de Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ. • Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI. • Contribuição sobre o Lucro Líquido – CLSS. • Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins. • Contribuição para o PIS/Pasep. • Contribuição Patronal Previdenciária – CPP. • Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS. • Imposto de Serviço de qualquer natureza – ISS. De forma complementar, sobre o Simples Nacional, Santos (2014) presta os seguintes esclarecimentos: O Simples Nacional é um regime tributário definido pela Lei Complementar nº 123/06, marco normativo que instituiu o Estatuto Nacional da Microempresa (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP). A lei estabelece normas gerais relacionadas a um tratamento específico, dispensado às microempresas e às empresas de pequeno porte. Este tratamento permite a elas o recolhimento unificado de tributos federais, ISS e ICMS, simplificando o regime tributário e oferecendo alíquotas relativamente baixas. O Estatuto da ME e da EPP disponibiliza, como já ressaltamos, um tratamento privilegiado para pessoas jurídicas que se enquadram como tal. (SANTOS, 2014 p. 49-50) Mas, durante esta explicação, é possível que você esteja tentando entender melhor quais empresas podem ser enquadradas como Microempresa (ME) ou Empresa de Pequeno Porte (EPP), a fim de saber até que ponto, é possível se encaixar nesse regime simplificado. Bem, as determinações do artigo 3º da Lei nº 123, consideram que uma empresa é classificada como ME ou EPP, a partir de seu faturamento e, quando estão, devidamente registradas, no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, desde que se enquadrem nos seguintes parâmetros: Direito Empresarial 40 I - No caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais). II - No caso da empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano- calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais). Apesar de uma ME ou EPP terem a oportunidade de cumprir com suas obrigações tributárias de forma simplificada por meio do Simples Nacional, algumas desvantagens também são enfrentadas em alguns aspectos. A primeira delas é a inexistência de reembolso que não será realizado, caso algum valor seja pago, indevidamente, ou por engano. Outra desvantagem desse regime é que a alíquota aumenta, de acordo com o aumento do faturamento, ou seja, mais faturamento, mais imposto. Se o faturamento exceder os limites, exigidos nos requisitos do Simples, é possível que a empresa seja obrigada a mudar de regime, modificando todo o planejamento de tributação previsto na empresa. Além disso, algumas atividades podem ser cobradas de forma diferenciada, pois as alíquotas variam, de acordo com o tipo de atividade executado na empresa. Veja a seguir as classificações no quadro 1: Quadro 1: Alíquotas por tipo de atividade Atividade Alíquota Comércio 4% a 11,6% Indústria 4,5% a 12,1% Serviço 4,5% a 17,4% Fonte: Elaborado pela autora (2021). É preciso estar atento ao tipo de atividade da empresa para que os pagamentos das alíquotas ocorram de forma correta. Além disso, existe uma obrigação principal das empresas que adotarem esse tipo de regime tributário: o pagamento do DAS, no dia 20 de cada mês e caso esse pagamento atrase, multas podem ser cobradas. Direito Empresarial 41 Lucro Presumido O lucro presumido também é uma maneira de simplificar impostos para as empresas. A principal diferença entre este regime e o Simples Nacional é o tipo de empresa que o adota, ou seja, no Simples, as empresas devem auferir no máximo 3.600.000 reais por ano. Acima disso, a empresa já passa a adotar o regime de lucro presumido A principal característica desse regime é que a alíquota não segue apenas os parâmetros, de acordo com a atividade da empresa como no Simples, mas o imposto a pagar é calculado, também, com base no que se supõe que a empresa vá lucrar. Sendo assim, existem três características particulares desse regime: 1- a empresa adota o lucro presumido, quando seu faturamento é igual ou superior a 48 milhões de reais; 2- no entanto, a sua alíquota não é calculada, com base em seu faturamento, e sim no seu possível lucro; 3- o recolhimento ocorre apenas quatro vezes por ano, ou seja, a cada três meses. De acordo com Paulsen e Melo (2013), Empresas com receita bruta total, no ano calendário anterior, até R$ 48.000.000,00 (quarenta e oito milhões de reais) e cujas as atividades não estejam obrigatoriamente sujeitas à apuração do lucro real, podem optar pelo regime de tributação com base no lucropresumido, nos termos do art. 13 da Lei 9.718/98, com redação da Lei 10.637/02. (PAULSEN; MELO 2013, p. 84) De acordo com Santos (2014 p. 53), a diferença da opção pelo lucro presumido é que a base de cálculo do imposto, em cada mês, será determinada, mediante à aplicação de um percentual presumido sobre a receita bruta, auferida mensalmente, conforme o art.15 da Lei 9.249/95. A base de cálculo diz-se presumida porque feita a apuração, o lucro pode ser maior ou menor que o percentual da receita apontado por lei. Sociedades simples e sociedades empresárias O Código Civil define como “empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços” (art. 966) para logo, no parágrafo Direito Empresarial 42 único, definir que não é considerado empresário, ou seja, aquele que “exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”. O elemento de empresa, por sua vez, é o nível de complexidade organizacional exigida para o desenvolvimento da atividade empresarial, entendimento majoritário que prevalece no STJ (EREsp 866.286/ES, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, julgado em 29/09/2010, DJe 20/10/2010). Porém, há uma corrente minoritária, que tem como um dos seus expoentes o civilista Sylvio Marcondes, que considera elemento de empresa tanto a complexidade da atividade e da estrutura para o seu desenvolvimento, como existência de atividades paralelas também complexas no seu desempenho. Na sequência, o art. 967, o Código Civil expressamente define como sociedade empresária aquela “que tem por objetivo o exercício de atividade própria de empresário, sujeito a registro, e simples as demais”, excepcionando no parágrafo único que, “independentemente do seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações, e simples a cooperativa”. As sociedades empresárias devem ser registradas nas Juntas Comerciais dos estados, órgão responsável pela execução do registro público mercantil. As sociedades simples, não empresárias, discriminadas no Código Civil e também as cooperativas, por previsão expressa no art. 982 do Código Civil, são registradas no Cartório do Registro Civil de Pessoas Jurídicas, à exceção das sociedades de advogados, cujos atos constitutivos devem ser registrados na Ordem dos Advogados do Brasil — OAB (art. 15, § 1º, Lei n. 8.906/94). O empresário rural, as microempresas e as empresas de pequeno porte que podem escolher submeter-se ou não ao regime jurídico do empresário, se atendem às exigências para o registro nas juntas comerciais (art. 971, CC). Direito Empresarial 43 Como as sociedades simples não constituem empresa, não estão sujeitas à falência, à recuperação judicial ou extrajudicial previstas na Lei 11.101/2005. Cabe ressalvar, porém, que, apesar de não constituírem empresa, o “art. 997, inc. II, não exclui a possibilidade de sociedade simples utilizar firma ou razão social”. Para ler sobre o artigo, clique aqui. Relembrando: o Código Civil também excluiu as atividades intelectuais de natureza científica, literária ou científica do universo das atividades mercantis, independente de terem empregados ou colaboradores, por lhes faltar uma característica essencial às empresas - o elemento de organização dos fatores de produção. Entretanto, se este elemento estiver presente, a atividade intelectual caracteriza empresa (parágrafo único, art. 966, CC). Finalmente, é importante ressalvar o Enunciado 476 do Conselho da Justiça Federal, que na V Jornada de Direito Civil pacificou as diferentes classificações empresariais que, no Brasil, não guardam harmonia entre a União e os Estados, e nem mesmo entre as áreas tributária e administrativa. Assegura a ementa: ACESSE: Eventuais classificações conferidas pela lei tributária às sociedades não influem para sua caracterização como empresárias ou simples, especialmente no que se refere ao registro dos atos constitutivos e à submissão ou não aos dispositivos da Lei n. 11.101/2005. (CJF. Enunciado 476. Coordenador-Geral Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Referência Legislativa: Código Civil de 2002, Lei n. 10.406/2002, Art 982. Disponível aqui. Sociedades não personificadas As sociedades não personificadas são aquelas que não possuem registro, ou seja, não possuem personalidade jurídica. Direito Empresarial https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/482 44 Figura 3 - Despersonalização Fonte: Pixabay(2021). Esse tipo de sociedade se subdivide em: a. Sociedade em Comum - São as sociedades que não tiveram os seus atos constitutivos registrados, chamadas também sociedades de fato ou irregulares. A existência desse tipo de sociedade só pode ser provado por documentos escritos. Os bens e as dívidas compõem um patrimônio especial que pertencem equitativamente aos sócios, respondendo os bens “pelos atos de gestão praticados por qualquer dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer” (986 a 990, CC). b. Sociedade em Conta de Participação - É uma sociedade informal, sem registro por interesse dos sócios, que são de dois tipos: o sócio ostensivo, que assume publicamente a gestão da sociedade e gere os negócios em seu nome individual, sob sua própria e exclusiva responsabilidade, atuando como empresário individual ou sociedade empresária; e o sócio participante ou oculto, que não aparece para terceiros, respondendo apenas ao sócio ostensivo. (arts. 991 a 996, CC). Às vezes os sócios firmam um contrato informal, que gera efeitos apenas entre eles. Porém, considerando que a tônica desse tipo de sociedade é a informalidade, a lei permite que o liame contratual seja provado por todos os meios de direito. Direito Empresarial 45 O Enunciado 208, do Conselho da Justiça Federal, harmonizou o entendimento doutrinário acerca da obrigatoriedade de aplicação das normas do Código Civil nas atividades despersonalizadas, independentemente de serem próprias de empresário: ACESSE: As normas do Código Civil para as sociedades em comum e em conta de participação são aplicáveis independentemente de a atividade dos sócios, ou do sócio ostensivo, ser ou não própria de empresário sujeito a registro (distinção feita pelo art. 982 do Código Civil entre sociedade simples e empresária). (CJF, Enunciado 208. Coordenador- Geral Ministro Ruy Rosado de Aguiar Referência Legislativa: Código Civil de 2002, Lei n. 10.406/2002, Arts. 991, 983 e 986. Disponível aqui. RESUMINDO: E então, gostou do conteúdo? Aprendeu tudo sobre a Introdução dos temas do Direito Empresarial? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você certamente aprendeu que as sociedades empresariais nascem da vontade dos sócios (affectio societatis) ou acionistas (interesse no capital), em torno de um objetivo comercial comum. Também aprendeu que as empresas iniciam sua vida por meio de um contrato ou um estatuto, que deve ser levado a registro na Junta Comercial. A importância dos registros dos trâmites legais para aquisição de personalidade jurídica pelas empresas permite que elas negociem, recolham impostos e se desenvolvam no nicho de mercado em que desempenham as suas atividades. O sigilo, o nome empresarial e o estabelecimento empresarial são importantes para distinguir as empresas nesse nicho, proteger suas atividades. Finalmente, certamente aprendeu as diferenças entre as microempresas e empresas de pequeno porte, as sociedades e empresárias, e as sociedades não personificadas. Agora, você está preparado para seguir aprendendo mais e mais sobre o Direito Empresarial. Direito Empresarial https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/405 46 REFERÊNCIASBRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [2016]. Disponível em http://bit.ly/36vujoQ. Acesso em: 26 ago. 2019. BRASIL. Lei Complementar 48, de 10 de dezembro de 1984. Estabelece normas integrantes do Estatuto da Microempresa, relativas à isenção do imposto sobre Circulação de Mercadorias - ICM e do Imposto sobre Serviços – ISS. Brasília, DF: Presidência da República, [1984]. Disponível em: https://bit.ly/3k7bjGD. Acesso em: 27 jul. 2019. BRASIL. Lei Complementar 123, de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. 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Direito Empresarial bookmark=id.44sinio bookmark=id.2jxsxqh bookmark=id.z337ya bookmark=id.4i7ojhp bookmark=id.1ci93xb bookmark=id.3whwml4 bookmark=id.2bn6wsx bookmark=id.qsh70q bookmark=id.3as4poj bookmark=id.1pxezwc bookmark=id.49x2ik5 bookmark=id.2p2csry bookmark=id.147n2zr bookmark=id.23ckvvd bookmark=id.ihv636 bookmark=id.1hmsyys _GoBack Personificação das sociedades A união das pessoas com um fim comum Pessoa jurídica Sociedade e empresa Elementos essenciais do contrato Registros mercantis Importância dos registros mercantis Atos constitutivos Concretização do registro mercantil Trâmite dos registros – controle e fiscalização Sigilo A dinâmica do sigilo no contexto empresarial Nome empresarial Estabelecimento empresarial Microempresas e empresas de pequeno porte Entendendo as micros e pequenas empresas Simples Nacional Lucro Presumido Sociedades simples e sociedades empresárias Sociedades não personificadas
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