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Radiologia Raio-X A radiografia é o método de imagem que utiliza Raios X ou ondas eletromagnéticas. Essas ondas passam através do corpo da pessoa, sendo alguns raios absorvidos pelos tecidos e outros não. Estes últimos alcançam o filme radiográfico que está logo atrás do corpo. Isto cria uma imagem bidimensional (plana), chamada de radiografia. Tecidos densos (como os ossos) vão absorver a maioria dos raios e aparecem nas radiografias como brancos, enquanto o ar não bloqueia nenhum raio e aparece preto. Outros tecidos estão dentro dessa escala de cinza. Essas regras se traduzem numa linguagem radiográfica básica: • Densidade ou opacidade se refere às áreas claras (brancas) da imagem. Exemplo: osso úmero • Lucência se refere a áreas escuras (pretas) da imagem. Exemplo: ar nos pulmões. O Raio X continua sendo uma modalidade de imagem médica amplamente utilizada, já que apresenta resolução espacial e permite a visualização de estruturas que são difíceis de serem percebidas em cortes axiais (secções transversais). A radiografia é utilizada principalmente nos Raios x de tórax, de abdômen e dos ossos. Tomografia computadorizada (TC) A tomografia computadorizada (TC), antigamente chamada de tomografia axial computadorizada, é outro método de imagem não invasivo. A TC também utiliza Raios x, mas a máquina é mais avançada. Ela roda ao redor de uma pessoa estacionária e cria múltiplas imagens de cortes transversais, que depois podem ser transformados em uma imagem em 3D. Como a TC utiliza Raios x, as imagens também dependem da densidade dos tecidos. A densidade é expressa em unidades de Hounsfield (HU), que vão de +1000 para os ossos (claros), passando em 0 para a água (cinza) e chegando até -1000 para o ar (escuro). Cada tecido do corpo tem sua densidade normal, que os radiologistas conhecem. Se a densidade está alterada, expressamos isto usando a terminologia da TC: hiperdenso, hipodenso ou isodenso, quando comparado a alguma outra estrutura. A vantagem da TC em relação ao raio X é a sua capacidade de visualização tridimensional do corpo, fornecendo uma representação mais precisa da área de interesse. Existem várias técnicas de TC, como a TC de fatia única (single slice), a TC helicoidal (espiral) e a TC de múltiplas fatias (multi slice). Essas técnicas oferecem variações nas espessuras dos cortes e nas doses de radiação utilizadas para criar a imagem. As máquinas de TC também podem mudar da “janela óssea” para a “janela de tecidos moles”, dependendo de qual estrutura queremos observar. Além disso, as imagens de TC podem ser feitas com contraste radiológico para ajudar na visualização de determinadas estruturas. É importante saber como se orientar nas imagens de TC. Para imagens axiais, imagine que você está olhando para a pessoa a partir de seus pés (vendo o corte da TC de baixo para cima), enquanto cada um de vocês está olhando para direções opostas. Então você pode se orientar utilizando a abreviação DAEP para as posições de 9,12,3 e 6 horas de um relógio. • 9 - direita • 12 - anterior • 3 - esquerda • 6 - posterior Ressonância magnética (RM) A RM é uma modalidade imaginológica (imagiológica) que, além da anatomia, pode mostrar alguns processos fisiológicos do corpo (RM funcional). Ela usa campos magnéticos e pulsos de radiofrequência para excitar prótons (íons hidrogênio) do nosso corpo. Os íons de hidrogênio excitados emitem sinais captados pelo scanner da RM que, baseado na intensidade do sinal, cria uma imagem em escala de cinza. Uma vez que somos feitos principalmente de gordura e de água, tem muito hidrogênio para se detectar. A densidade desses prótons nos nossos tecidos está relacionada à magnitude do sinal, ou seja, densidade aumentada significa sinal aumentado. Grande intensidade de sinal é representada em branco, moderada densidade de sinal, em cinza e baixa intensidade de sinal, em preto. Quando uma estrutura é mais clara do que deveria ser dizemos que ela é hiperintensa. Se ela for mais escura, então é hipointensa. A densidade de prótons está aumentada em alguns tipos de lesões, como edema, infecção, inflamação, desmielinização, hemorragia, alguns tumores e cistos. Em outros tipos, ela está reduzida, como no tecido cicatricial, calcificação, alguns tumores, formação de membranas e cápsulas. A RM não utiliza radiação, pode ser feita com contraste e qualquer plano do corpo pode ser analisado. Apesar de parecer o método de imagem perfeito, tem algumas desvantagens. A RM demora mais que a TC e pode ser desconfortável para algumas pessoas, já que a máquina é muito barulhenta e requer que a pessoa fique dentro de um tubo estreito (problemático para pessoas com claustrofobia). Além disso, a RM é absolutamente contraindicada em pacientes com implantes de metal, devido à intensidade do campo magnético criado. Com todas as suas propriedades, salvo contraindicações, a RM é a melhor técnica de imagem para tecidos moles. A RM oferece várias modalidades dentre as quais os radiologistas podem escolher, dependendo de qual estrutura eles querem focar. Os métodos básicos de RM são: • T1 - a imagem pesada em T1 mostra melhor estruturas compostas principalmente por gordura (fluidos são escuros / pretos, gordura é clara / branca). . • T2 - a imagem pesada em T2 apresenta estruturas feitas tanto de água quanto de gordura (gordura e fluidos são claros). • PD (densidade de prótons) - Densidade de prótons para o exame de músculos e ossos. • FLAIR (inversão recuperação) - Inversão recuperação com atenuação líquida mostra melhor o cérebro. É útil para identificar doenças do sistema nervoso central, como insultos cerebrovasculares, esclerose múltipla e meningite. • DWI (difusão) - a imagem pesada em difusão detecta a distribuição de fluidos (extra e intracelular) dentro dos tecidos. Como o balanço entre os fluidos compartimentais está alterado em algumas condições (infartos, tumores), DWI é útil para o estudo estrutural e funcional dos tecidos moles. • Flow sensitive (sequências sensíveis ao fluxo) - Examina o fluxo dos fluidos corporais, mas sem usar contraste. Este método nos indica se tudo está bem com o fluxo do líquido cerebroespinhal e com o fluxo sanguíneo nos vasos. A RM é principalmente utilizada para o estudo dos sistemas musculoesquelético, gastrointestinal, cardiovascular e para neuroimagem. Ecografia / Ultrassonografia A ultrassonografia utiliza ondas sonoras de alta frequência emitidas por um transdutor através da pele de uma pessoa. O eco do som no contorno das estruturas internas do corpo retorna ao transdutor, que o traduz em uma imagem pixelada no monitor conectado. A densidade dos tecidos define o quão ecogênicos eles são, ou seja, a quantidade de som que eles vão ressonar de volta (eco) ou que vai passar através deles. Tecidos muito sólidos (ossos) são hiperecóicos e são mostrados em branco, tecidos moles são ditos hipoecóicos e são mostrados em cinza e fluidos são anecóicos e são mostrados em preto. O ultrassom mostra o processo em tempo real e é por isso que ele é útil no acesso imediato de determinadas estruturas. Ele tem várias aplicações, como o acompanhamento do progresso da gestação (ultrassom obstétrico), rastreio de patologias (ex: câncer de mama) e exame do conteúdo de órgãos ocos (ex: vesícula biliar). A ultrassonografia ajustada para examinar o fluxo sanguíneo nas artérias e veias é chamada de ultrassom com Doppler, sendo a ultrassonografia transcraniana e carotídea bons exemplos. A primeira examina o fluxo sanguíneo cerebral e a última examina o fluxo nas artérias carótidas. Imagens da medicina nuclear As imagens da medicina nuclear são utilizadas para visualizar a função, mais do que as estruturas ou partes do corpo propriamente ditas. Um radiofármaco é administrado ao paciente (intravenoso) e imagens da passagem, acúmulo e excreção deste produto são criadas. Isso nos dá informaçõessobre as funções dos órgãos em questão. Uma técnica de medicina nuclear bastante comum é a tomografia de emissão de pósitrons (PET scan). O PET pode ser usado para o exame funcional de praticamente qualquer sistema corporal - esquelético, cardiovascular, nervoso, endócrino. • PET do cérebro - administração de FDG (fluordesoxiglicose radioativo) que usa análogo de glicose e o distribui através do cérebro para avaliar sua atividade. É útil para detectar zonas de hipo ou hiperatividade do córtex cerebral e, sendo assim, para o diagnóstico de condições como a epilepsia, demência, Alzheimer e doença de Parkinson. • Perfusão miocárdica - administração de Rb (rubídio radioativo) para a detecção do infarto miocárdico ou doença isquêmica coronariana. Raio X de tórax A maneira mais fácil de ler um Raio X de tórax é seguindo a regra ABCD, um mnemônico para vias aéreas, respiração (breathing), cardíaco e diafragma. Respiração significa examinar a traqueia, pulmões e pleura. Se você olhar com atenção, verá a traqueia cheia de ar no plano médio-sagital, anterior às vértebras, sobrepondo-as com sua sombra. Siga a traqueia até à carina, onde ela se divide em brônquios principais direito e esquerdo. O brônquio principal então entra no hilo pulmonar com as artérias, veias e linfonodos pulmonares. Os linfonodos ao redor do hilo não são tipicamente visíveis em pessoas saudáveis, enquanto os vasos e os brônquios continuam a se ramificar no parênquima pulmonar. Você pode ver isto como opacidades mosqueadas se projetando nos pulmões a partir do hilo. Se não fosse pela sombra traqueobrônquica, os pulmões seriam totalmente pretos, por estarem cheios de ar. Você só deve prestar atenção à pleura se puder vê-la, já que em um Raio x de tórax normal ela não é visível. Cardíaco se refere à silhueta cardíaca, na qual nós vemos as margens direita e esquerda. A margem direita tem duas convexidades, a mais baixa vem do átrio (aurícula) direito e a mais alta vem da aorta ascendente. A margem esquerda mostra duas convexidades separadas por uma concavidade. A convexidade superior vem do botão aórtico, que é o local onde a aorta se continua como aorta descendente. A convexidade inferior vem do ventrículo esquerdo. A concavidade vem do tronco pulmonar e artéria pulmonar esquerda. Quando olhamos para o diafragma, a primeira coisa que observamos é que o hemidiafragma direito é ligeiramente mais alto do que o esquerdo, devido ao fato do direito ser empurrado pelo fígado que está logo abaixo. Os ângulos respectivos onde a densidade do diafragma se mistura com as costelas e o coração são denominados ângulos costodiafragmático e cardiofrênico. Normalmente, esses ângulos são agudos e vazios. Por fim, avalie a estrutura óssea do tórax. Identifique as clavículas, escápulas e o esterno e tente contar as costelas e as vértebras. Interpretando o raio-X Feito o exame, precisamos avaliar a qualidade da imagem produzida, para que que sejam evitados erros de interpretação. O mnemônico RIP ajuda você a lembrar os principais pontos para avaliar a qualidade de uma radiografia de tórax: R otação I snpiração P enetração ROTAÇÃO Os principais erros que podemos encontrar são: Paciente inclinado para a direita ou esquerda: isso pode prejudicar a avaliação do seio costofrênico, importante para avaliação de derrames pleurais, como também a bolha gástrica ou um possível pneumoperitôneo. Paciente inclinado para frente ou para trás: tal inclinação pode cursar com a sobreposição da clavícula perante os ápices pulmonares, dificultando sua avaliação. Para evitar esse erro, pode-se solicitar a incidência ápico- lordótica. Paciente rotacionado no eixo vertical: pode haver distorção da área cardíaca, hilos e mediastino. Um exame sem rotação é aquele em que a distância entre o processo espinhoso e a porção medial da clavícula são os mesmo bilateralmente. INSPIRAÇÃO Numa inspiração adequada, podemos observar 9 a 10 costelas posteriores ou 6 a 7 costelas anteriores. Uma inspiração inadequada leva a uma redução do volume pulmonar, silhueta cardíaca e mediastino falsamente aumentados, assim o pulmão parece estar mais denso, dando a falsa ideia de edema pulmonar. PENETRAÇÃO Uma penetração adequada é aquela que permite uma boa visualização das linhas dos corpos vertebrais atrás do coração, com clara visualização dos espaços intervertebrais. Em uma penetração baixa (muito brilho) as alterações radiopacas ficam falsamente proeminentes. Já quando há alta penetração (pouco brilho) as estruturas radiopacas ficam falsamente diminuídas e os nódulos pulmonares, bem como pneumotórax são mais difíceis de serem visualizados. Avaliada a qualidade do exame, precisamos de um roteiro para que seja feita uma análise completa do tórax. Para isso, podemos utilizar a “regra do ABC”. A: airways (vias aéreas) B: bows (costelas) C: cardiac silhouette and mediastinum (silhueta cardíaca e mediastino) D: diafragma e bolha gástrica E: effusion (pleura) F: fields – lung fields (parênquima pulmonar) A: AIRWAYS Devemos avaliar a traqueia e os brônquios principais. O brônquio principal esquerdo é mais horizontalizado, já o direito encontra-se mais verticalizado, sendo uma região mais provável de impactação de corpo estranho, bem com de intubação seletiva. Portanto, fique atento a essas estruturas. B: BOWS A porção posterior das costelas são mais horizontalizadas e mais fáceis de serem visualizadas. Já as anteriores apresentam-se com inclinação próxima a 45o e mais difíceis de serem vistas. Devemos também avaliar as clavículas, esterno (melhor avaliado no perfil) e corpos vertebrais, observado a continuidade integra dessas estruturas. C: CARDIAC SILLHOUETTE AND MEDIASTINUM A área cardíaca e o mediastino em geral são abordados como um conteúdo a parte da avaliação do raio x de tórax, devido a complexidade dessas estruturas. Entretanto, devemos estar atentos a alguns pontos importantes como a área cardíaca, aorta e vasos mediastinais. A área cardíaca pode ser avaliada a partir do índice cardiotorácico, que nada mais é do que uma razão entre o comprimento horizontal do coração e o comprimento do tórax, dizemos que a área cardíaca se encontra aumentada quando este índice é maior que 0,5. A aorta corresponde a uma linha paravertebral esquerda e esta deve ser contínua e linear, sua irregularidade pode indicar aneurisma. A congestão pulmonar em geral cursa com ingurgitação dos vasos hilares e evidenciação dessas estruturas ao raio x de tórax. D: DIAFRAGMA O diafragma normal é levemente mais elevado a direita devido ao fígado, ele apresenta-se em forma de duas cúpulas, uma sob cada hemitórax. abaixo da cúpula esquerda encontra-se o estômago evidenciado pela bolha gástrica. A retificação dessas estruturas pode indicar hiperinsuflação pulmonar, comum em patologias como DPOC e ASMA. E: EFFUSION As pleuras não são visíveis normalmente. Os seios costofrênicos são analisados nessa etapa, devemos observar os seios costofrênicos laterais e posteriores. Um velamento desses seios pode indicar um derrame pleural, muito comum na prática clínica. F: FIELDS A análise do parênquima pulmonar deve ser comparativa entre os lados esquerdo e direito, sempre analisando de forma detalhada e minuciosa cada porção do pulmão. Os principais achados no parênquima pulmonar são: • Os infiltrados alveolares, marcados por condensação, que corresponde a áreas radiopacas que evidenciam as vias aéreas de maior calibre ainda preenchidas por ar, o que chamamos de broncograma aéreo, típico da pneumonia bacteriana. • O infiltrado intersticial tem três padrões de apresentação: o reticular, que corresponde a um preenchimento em forma de tramas de linhas ao longo do parênquima pulmonar, pode corresponder a um edema intersticial pulmonar como ICC; o nodular, que corresponde ao sortimento de pontos pelo parênquima,como na carcinomatose; e o retículo nodular, um padrão misto que pode corresponder a tuberculose, histoplasmose, entre outros. • Os nódulos pulmonares são imagens radiopacas pequenas e bem delimitadas, já as massas, são estruturas maiores e ambas podem ser correlacionadas com neoplasias ou outras doenças infecciosas, como a tuberculose. • As atelectasias cursam com o aumento da densidade do pulmão envolvido. Os sinais de atelectasia envolvem: deslocamento de cissuras interlobares em direção a atelectasia, deslocamento de estruturas móveis do tórax como traqueia e mediastino, bem como o deslocamento superior do diafragma ipsilateral quando há atelectasias de lobo inferior e hiperinsuflação dos lobos não afetados ou do pulmão contralateral. Para finalizar sua análise observe as partes moles, em busca de alterações de densidade que podem indicar enfisema subcutâneo ou outras patologias desse tecido.