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Aula 04 Legislacao Turistica - Responsabilidade Civil das Agencias de Turismo

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MOSER, Manoela; MARTINS, Queila Jaqueline Nunes. A Responsabilidade Civil Solidária das 
Agências/Operadoras de Turismo em Relação aos Vícios ocorrentes na Prestação de Serviços. Revista 
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 5, n.1, p. 533-
544, 1º Trimestre de 2014. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044. 
 
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A RESPONSABILIDADE CIVIL SOLIDÁRIA DAS 
AGÊNCIAS/OPERADORAS DE TURISMO EM RELAÇÃO AOS VÍCIOS 
OCORRENTES NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS1. 
Manoela Moser2 
Queila Jaqueline Nunes Martins3 
SUMÁRIO 
Introdução; 1 Das Agências de Turismo e as atividades desenvolvidas no Brasil; 2 
Dos vícios dos serviços prestados na atividade de agenciamento do turismo à luz do 
CDC; 3 Da Responsabilidade Civil Solidária das Agências de Turismo em relação 
aos vícios ocorrentes na prestação de serviços; Considerações finais; Referências 
das fontes citadas. 
RESUMO 
As agências de turismo respondem solidariamente aos vícios ocorrentes nas 
prestações de serviços, mesmo havendo controvérsias acerca do tema. É 
predominante o entendimento de que é devido ao consumidor o ressarcimento do 
dinheiro investido. E em quaisquer mudanças no destino, deve ser facultado as 
agências propiciar o melhor atendimento possível, pois o CDC deixa bem claro que 
é de direito do consumidor, este ressarcimento, mesmo que as agências de turismo 
sejam meras intermediadoras do serviço. Porém, cabe ao fornecedor que não 
participou do vício, mas que poderá responder pelos danos causados a ação de 
regresso contra terceiros que participaram deste vício, mas que não arcaram com as 
devidas despesas, pelo fato de possuírem vínculo firmado. 
Palavras-chave: Solidariedade civil. Direito do consumidor. Vícios. Turismo. 
INTRODUÇÃO 
As agências de turismo possuem diversos serviços a seus clientes, 
estabelecendo vínculo com outros fornecedores. Há questionamentos diversos 
acerca da prestação de serviços que ocorrer vícios, e da responsabilidade solidária 
 
1 Este modelo foi criado a partir das normas de apresentação de artigo científico da Revista de Iniciação Científica 
do CEJURPS. É importante acessar as mesmas no site institucional – www.univali.br/ricc. O título deve ser 
redigido com exatidão, revelando o que o restante do texto está trazendo. Não deve ser longo a ponto de tornar-
se confuso, utilizando-se tanto quanto possível de termos simples. 
2 Manoela Moser, acadêmica do oitavo período do Curso de Graduação em Direito da Universidade do Vale do 
Itajaí – UNIVALI, manoelamoser@hotmail.com, 47 3344 4450. 
3 Queila Jaqueline Nunes Martins, Professora da Disciplina de Direito do Consumidor, no Curso de Graduação em 
Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI; Coordenadora do Curso de Relações Internacionais da 
UNIVALI; queilamartins@univali.br, 47 3261 1353. 
MOSER, Manoela; MARTINS, Queila Jaqueline Nunes. A Responsabilidade Civil Solidária das 
Agências/Operadoras de Turismo em Relação aos Vícios ocorrentes na Prestação de Serviços. Revista 
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 5, n.1, p. 533-
544, 1º Trimestre de 2014. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044. 
 
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pela reparação dos prejuízos causados ao consumidor que firmou contrato com a 
agência de turismo, possuindo a mesma se possível e compravado, o direito de 
adentrar com a ação regressista. 
O objetivo principal desta pesquisa é identificar o entendimento do CDC 
acerca do tema, e mostrar que a agência de turismo possui obrigações e deveres 
em relação a seus clientes, de forma que deverá responder solidariamente por 
quaisquer danos causados ao consumidor. 
Divide-se este artigo em três capítulos, sendo que o primeiro aborda sobre o 
crescimento turístico mundial e no Brasil, sobre a busca dos consumidores por 
agências de turismo que exercem o papel de intermediadoras, e como se 
enquadram as mesmas em relação à legislação brasileira vigente. 
O segundo capítulo dispõe sobre os vícios dos serviços prestados na 
atividade de agenciamento do turismo á luz do CDC e quais são esses vícios 
ocorrentes da má prestação de serviços. 
E para finalizar, o terceiro capítulo trata sobre a responsabilidade civil 
solidária das agências/operadoras de turismo em relação aos defeitos de serviços, 
ocorrentes na prestação de serviços, e o direito que o consumidor possui em ser 
restituído por tais acontecimentos. 
1 DAS AGÊNCIAS/OPERADORAS DE TURISMO E AS ATIVIDADES 
DESENVOLVIDAS NO BRASIL 
Diante dos inúmeros negócios diários direcionados ao ramo de lazer 
juntamente com a busca cessante pelo lucro e o crescimento populacional, tem-se 
diversas formas de negociações em visão da praticidade e comodidade mundial. 
Entre elas, uma que é muito comum, são os contratos firmados entre as 
agências/operadoras de turismo e os consumidores. 
É evidente o crescimento turístico no Brasil pelo fato de novas 
implementações em relação a este ramo. De acordo com uma pesquisa realizada 
anualmente, da Conjuntura Econômico do Turismo (Pacet) realizada pela Fundação 
Getúlio Vargas, a pedido do Ministério do Turismo, chega-se um aumento neste 
setor. 
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Agências/Operadoras de Turismo em Relação aos Vícios ocorrentes na Prestação de Serviços. Revista 
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As empresas do setor de turismo registraram um aumento no 
faturamento médio de 18,3% em 2011. Cerca de 87% dos 
empresários esperam expansão dos negócios em 2012. O clima de 
otimismo nas 80 maiores empresas de nove segmentos foi captado 
pela Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo (Pacet), 
realizada pela Fundação Getúlio Vargas, a pedido do Ministério do 
Turismo.4 
Sendo este país referenciado não somente por suas belezas naturais, dentre 
elas: Foz do Iguaçu, localizada no estado do Paraná, com belíssimas cataratas 
brasileiras, a Floresta Amazônica, com sua enorme diversidade, voltada 
principalmente a cultura indígena e o Cerrado Mineiro, com suas montanhas e 
serras no estado de Minas Gerais, entre outras. O Brasil está sendo alvo da mídia, 
principalmente pelo fato da COPA do Mundo, que será realizada em 2014 na cidade 
do Rio de Janeiro. Desta forma, não há o que se questionar em relação ao 
importante papel que as agências de turismo exercem em relação à economia 
mundial. 
De acordo com o Código de Defesa do Consumidor Brasileiro, as agências 
de turismos, são fornecedoras de serviços. Portanto se enquadram art. art. 3º, 
caput e § 2º, Lei Federal nº. 8.078/90: 
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou 
privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes 
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, 
montagem, criação, construção, transformação, importação, 
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou 
prestação de serviços. 5 
Conforme entendimento de Simão acerca do tema, tratando-se do conceito 
de fornecedor á luz do CDC, entende-se que: 
A natureza da atividade fornecedor de produtos é detalhada pelo 
dispositivo de lei que minuciosamente descreve suas condutas. 
Trata-se de condutas referentes à atividade evidentemente 
profissionais. Já com relação aos serviços, a lei optou por uma forma 
 
4 Disponível em < http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20120820.html> Acesso em 21 set. 
2012. 
5 BRASIL. Lei nº 11.771, de 17 de setembro de 2008. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em 02 out. 2012. 
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concisa, apenas indiciando, no § 2º do art. 3º, que serviços, é a 
atividade remunerada. 6 
Em vista disso, de acordo com o CDC, as agências de turismo são 
delimitadas com o fornecimento de serviços no mercado de consumo mediante 
remuneração de seus clientes, neste caso, os consumidores. 
Analisando de forma concisa as agências de turismo e a vulnerabilidade em 
que o consumidor se encontra muitas vezes em relação ao desconhecimento dos 
serviços prestados, conforme entendimento da renomada Claudia Lima Marques , p. 
89 – manual de direito do consumidor que “...o consumidor aparece quando há 
um fornecedor na relação.”7 
Com a criação de uma Lei especifica em 2008, 
 que dispõe sobre a Política Nacional de Turismo, na qual define as atribuições do 
Governo Federal no planejamento, desenvolvimento e estímulo ao setor turístico; 
revogando-se a Lei no 6.505, de 13 de dezembro de 1977, o Decreto-Lei no2. 294, 
de 21 de novembro de 1986, e os respetivos dispositivos da Lei no 8.181, de 28 de 
março de 1991. O termo agência de turismo está elencado no art. 27, caput , onde 
dispõe a Lei no 11.771 de 17 de setembro de 2008 – Lei do turismo que: 
Art.27 Compreende-se por agência de turismo a pessoa jurídica que 
exerce a atividade econômica de intermediação remunerada entre 
fornecedores e consumidores de serviços turísticos ou os fornece 
diretamente” 8 
Portanto, as agências de turismo são pessoas jurídicas, que também como é 
definido no CDC, exercem atividade econômica mediante remuneração, como 
intermediadoras de serviços, ou, os fornecendo diretamente, sem intermédio de 
terceiros. Porém, no mercado existem os agentes de turismo/viagens que se 
enquadram como pessoas físicas, autônomas, para fins de consultoria, não sendo 
aplicado este artigo para efeitos legais. Entretanto, nada se opõe ao fato do mesmo 
obter sua própria agência de turismo. 
 
6 SIMÃO, José Fernando. Vícios dos produtos no novo código civil e no código de defesta do consumidor. 
São Paulo: Atlas, 2003, p. 38. 
7 BENJAMIN, Antonio Herman V.. MARQUES, Claudia Lima. BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do 
Consumidor. 4 ed. Editora revista dos tribunais. 
8 BRASIL. Lei n° 11.771 de 17 de Setembro de 2008. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11771.htm>. Acesso em 03 out. 2012. 
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Agências/Operadoras de Turismo em Relação aos Vícios ocorrentes na Prestação de Serviços. Revista 
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No final do texto do art.27 caput, “ou os fornece diretamente”, remete-se as 
operadoras de turismo. As agências de viagens diferenciam-se das operadoras 
turísticas por serem intermediadoras dos serviços turísticos, participando pouco ou 
nada da criação dos pacotes que vendem. Por conta dessa posição de 
intermediação, a qual coloca as agências entre os fornecedores dos serviços e os 
turistas, eles acreditam que a agência fica vulnerável e, portanto, não deveria ser 
responsabilizada solidariamente pelos danos causados pelos serviços que ela não 
teve participação na produção, apenas na venda.9 
Os serviços prestados pelas agências de turismo, estão elencados no Art.27 
, § 1o da Lei do Turismo, onde: 
Art.27 § 1o São considerados serviços de operação de viagens, 
excursões e passeios turísticos, a organização, contratação e 
execução de programas, roteiros, itinerários, bem como recepção, 
transferência e a assistência ao turista.10 
Já a definição de intermediação é prevista no § 3o da referida lei, onde as 
atividades de intermediação de agências de turismo compreendem a oferta, a reserva 
e a venda a consumidores de um ou mais dos seguintes serviços turísticos 
fornecidos por terceiros I - passagens; II - acomodações e outros serviços em meios 
de hospedagem; e III - programas educacionais e de aprimoramento profissional.11 
Sendo assim, as agências de turismos, podem intermediar inúmeros 
serviços como a obtenção de passaportes, vistos ou qualquer outro documento 
necessário à realização de viagens; transporte turístico; desembaraço de bagagens 
em viagens e excursões; locação de veículos; obtenção ou venda de ingressos para 
espetáculos públicos, artísticos, esportivos, culturais e outras manifestações 
públicas; representação de empresas transportadoras, de meios de hospedagem e 
de outras fornecedoras de serviços turísticos; apoio a feiras, exposições de 
negócios, congressos, convenções e congêneres; venda ou intermediação 
remunerada de seguros vinculados a viagens, passeios e excursões e de cartões de 
assistência ao viajante; venda de livros, revistas e outros artigos destinados a 
viajantes; e acolhimento turístico, consistente na organização de visitas a museus, 
 
9 BRASIL. Lei n°11.771 de 17 de Setembro de 2008. 
10 BRASIL. Lei n° 11.771 de 17 de Setembro de 2008. 
11 BRASIL. Lei n° 11.771 de 17 de Setembro de 2008. 
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Agências/Operadoras de Turismo em Relação aos Vícios ocorrentes na Prestação de Serviços. Revista 
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monumentos históricos e outros locais de interesse turístico, conforme art.27, § 4o. lei 
do turismo.12 
O consumidor deve ter uma ideia precisa sobre os requisitos da oferta, com 
informações suficientes para obtenção de uma contratação satisfatória e segura 
mediante o contrato firmado entre as partes. 
Art. 31 CDC: A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem 
assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em 
língua portuguesa sobre suas características, qualidades, 
quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e 
origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que 
apresentam à saúde e segurança dos consumidores. 
Contrato este, que deve obter todas as cláusulas referentes a prestação de 
serviços ao consumidor, assim como regula o CDC que os contratos que regulam as 
relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a 
oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos 
instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e 
alcance, sendo que cláusulas abusivas serão nulas.13 
Para fins de cadastro em relação aos prestadores de serviços turísticos, ou 
seja, as agencias/operadoras ou agentes, estão previstos no Art. 22 da Lei do 
turismo, sendo obrigados ao cadastro no Ministério do Turismo, na forma e nas 
condições fixadas na Lei, sob pena de obter anulação de um negocio jurídico ilícito.14
 
2 DOS VÍCIOS DOS SERVIÇOS PRESTADOS NA ATIVIDADE DE 
AGENCIAMENTO DO TURISMO À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO 
CONSUMIDOR. 
 
A Lei do turismo não trata sobre a responsabilidade civil das agências, 
operadoras de viagens. Logo, cabe ao CDC regulamentar à responsabilidade dos 
agentes de atividade turística, no caso os prestadores de serviços turísticos 
(fornecedores), com as agências de turismo, tendo em vista a responsabilidade 
objetiva, prescindindo de culpa. 
 
12 BRASIL. Lei n° 11.771 de 17 de Setembro de 2008 
13 BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. 
14 BRASIL.Código de Defesa do Consumidor. 
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A teoria objetiva prescinde de culpa. O dever de reparação baseia-se 
no dano causado e em sua relação com a atividade desenvolvida 
pelo agente. As atividades são lícitas, a necessidade de sua 
existência faz com que sejam aceitos pela sociedade os danos que 
provocam, entretanto, as vítimas não devem ser deixadas ao léu. A 
prova de culpa do agente, na realidade, inviabilizaria a 
reparação do dano, aumentando mesmo os seus suplícios, [...] A 
teoria objetiva confere certeza à reparação do dano, atendendo ao 
próprio resultado danoso da ação e não da culpabilidade desta. 15 
Não é causa de excludente de responsabilidade a falta de conhecimento do 
fornecedor em relação ao seu produto ofertado. A luz do CDC, Art. 23. A ignorância 
do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços 
não o exime de responsabilidade.16 
Basicamente produtos e serviços defeituosos, são aqueles que não 
oferecem a devida segurança que o consumidor espera, sendo inadequados para 
uso. 
Ocorre defeito do serviço quando este possui um vício que o torne 
inadequado, e este vício gere outros danos ao patrimônio jurídico e 
moral do consumidor, como é o caso de um consumidor que não tem 
seu cartão aceito em algum estabelecimento por ter a fatura vencido, 
quando na verdade ela já foi paga, ou um alagamento na residência 
ocasionado por uma pia entupida consertada por encanador dias 
antes. O defeito vai além do serviço e atinge o patrimônio jurídico 
e/ou moral do consumidor 17 
O CDC prevê a regulamentação da responsabilidade por serviços em dois 
dispositivos: no art. 14, que trata sobre a responsabilidade civil pelo fato do serviço, 
e no art. 20 que versa sobre a responsabilidade civil pelo vício do serviço.18 
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da 
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem 
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua 
fruição e riscos. 
 
15 GOMES, Marcelo Kokke. Responsabilidade civil: dano e defesa do consumidor. Belo Horizonte: Del Rey, 
2001. P.40. 
16 BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. 
17 NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor: Direito Material (art. 1ª a 
54). São Paulo: Saraiva, 2000, p.180-183. 
18 REMOR, Priscilla de Oliveira. A responsabilidade civil das agências de turismo nas relações de consumo. 
Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 599, 27 fev. 2005. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/6355>. 
Acesso em: 12 out. 2012. 
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§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o 
consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as 
circunstâncias relevantes, entre as quais: 
I - o modo de seu fornecimento; 
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; 
III - a época em que foi fornecido. [...] 
 Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade 
que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, 
assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as 
indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo 
o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a 
reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; 
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente 
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; 
III - o abatimento proporcional do preço. 
§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros 
devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor. 
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para 
os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que 
não atendam as normas regulamentares de prestabilidade. 19 
Pela abrangência dos negócios ofertados, existem inúmeros danos ou vícios 
que podem ocorrer durante a prestação de serviços negociados com as agências de 
turismos a seus clientes. 
Podemos dizer que em casos de turismo, os defeitos previstos no art. 
14 podem ocorrer desde acidentes no transporte, como, por 
exemplo, a queda de um avião, a batida de um transporte de turismo, 
intoxicação alimentar no restaurante do hotel e outros20 
Deste modo, é costumeiro ocorrer vícios na prestação de serviços, pelo fato 
de que a agência de turismo apresentar na maioria das vezes diversos 
fornecedores, e não possuir a devida cautela em analisar qual seria o melhor opção 
para seu cliente, lesando assim, o consumidor que aderiu ao contrato com confiança 
de que a mesma prestaria o melhor serviço, causando transtornos e aborrecimentos 
que não foram planejados. 
 
3 DA RESPONSABILIDADE CIVIL SOLIDÁRIA DAS AGÊNCIAS/ 
OPERADORAS DE TURISMO EM RELAÇÃO AOS VÍCIOS OCORRENTES 
NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. 
 
 
19 BRASIL. Código de defesa do Consumidor. 
20 FEUZ, Paulo Sérgio. Direito do Consumidor nos Contratos de Turismo: Código de defesa do consumidor 
aplicado ao turismo. Bauru, SP: Edipro, 2003, p.103. 
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Entende-se que a responsabilidade civil solidária é o direito que o 
consumidor possui em face de existir um contrato firmado com vários fornecedores, 
e deste advir algum vício, seja de qualidade ou de serviço, sendo facultada ao 
consumidor a escolha da demanda judicial. 
De acordo com o Código Civil Brasileiro Art. 264 “Há solidariedade, quando 
na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um 
com direito, ou obrigado, à dívida toda. 
Reforçando tal entendimento o CDC, prevê em seu art. 34° que, “O 
fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus 
prepostos ou representantes autônomos” E em seu artigo 7° que dispõe: 
Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros 
decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o 
Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de 
regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas 
competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do 
direito, analogia, costumes e equidade. 
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos 
responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas 
normas de consumo.21 
Diante da vulnerabilidade que o consumidor encontra-se, é necessário que 
haja uma responsabilização mais ampla quando tratar-se de agência de turismo e a 
responsabilidade objetiva pelos acidentes e vícios dos serviços por terceiros, pelo 
fato de que um pacote turístico engloba inúmeros fornecedores, cabendo à agência 
de turismo efetuar este contrato da melhor forma possível, com confiança, para que 
não haja futuramente, problemas ao consumidor. 
Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que 
impossibilite,exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista 
nesta e nas seções anteriores. 
§ 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos 
responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas 
seções anteriores.22 
Alguns exemplos que cabe o princípio da solidariedade são nos casos em 
que o hotel não possuir quartos suficientes para acomodação pela razão de algum 
atraso (seja ele causado por terceiros ou não); a mala do consumidor ser extraviada; 
 
21 BRASIL. Código de Defesa do Consumidor 
22 BRASIL. Código de Defesa do Consumidor 
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o avião não possuir a devida segurança, o passeio não sair como o previsto, entre 
outros exemplos. 
Seguindo esta linha de raciocínio, entende o acórdão prolatado pelo 
Superior Tribunal de Justiça em Recurso Especial nº 291.384 – RJ, o Ministro Ruy 
Rosado de Aguiar: 
“Responsabilidade Civil. Agência de viagens. Código de 
Defesa do Consumidor. Incêndio em embarcação. A operadora de 
viagens que organiza pacote turístico responde pelo dano 
decorrente do incêndio que consumiu a embarcação por ela 
contratada.”23 
Entretanto, na concepção das agências de turismo, deve-se observar o nexo 
causal entre o vício ocorrente, e se este adveio da agência de turismo. Guimarães 
entende que não se pode falar em responsabilidade da agência se o vôo é 
cancelado, tem overbooking, atrasa ou não oferece refeições; se a comida do 
restaurante está fria ou estragada etc.24 Pois se entende que a agência de turismo é 
meramente intermediadora e de fato, não foi à causadora do incidente. E caso 
ocorra esta indevida cobrança, cabe às agências de turismo o direito de regresso 
como previsto no artigo 13 parágrafo único e art. 18 do CDC. 
Art. 13 [...] Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao 
prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais 
responsáveis, segundo sua participação na causação do evento 
danoso". 
Art.18 Na hipótese do art. 13, parágrafo único, deste Código, a ação 
de regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada a 
possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a 
denunciação da lide".25 
Portanto, no caso das agências de turismo que possuem contratos com 
outras empresas, e desta o ocorreu um vício, cabe à mesma adentrar com a ação de 
regresso contra os fornecedores que fazem parte deste contrato de prestação de 
serviço. 
 
23 AGUIAR, Ruy Rosado. O Contrato de Transporte de Pessoas e o Novo Código Civil. Disponível em: 
<http://bdjur.stj.gov.br>. Acesso em: 10 out. 2012. 
24 GUIMARÃES, Paulo Jorge Scartezzini. Dos contratos de hospedagem, de transporte de passageiros e de 
turismo. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 281. 
25 BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. 
MOSER, Manoela; MARTINS, Queila Jaqueline Nunes. A Responsabilidade Civil Solidária das 
Agências/Operadoras de Turismo em Relação aos Vícios ocorrentes na Prestação de Serviços. Revista 
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 5, n.1, p. 533-
544, 1º Trimestre de 2014. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044. 
 
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O fornecedor que efetuar o ressarcimento ao consumidor tem direito 
a requerê-lo posteriormente dos verdadeiros responsáveis, integral 
ou parcialmente, de acordo com sua efetiva participação no evento 
danoso.26 
E no caso de isenção para os prestadores de serviços turísticos, o artigo 14, 
parágrafo 3º do CDC prevê que “O fornecedor de serviços só não será 
responsabilizado quando provar, que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; a 
culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.” 
Ou seja, em casos em que se caracteriza a culpa exclusiva da vítima, ou a 
devida comprovação de que o defeito inexiste. Como por exemplo, no caso do 
cliente perder as passagens aéreas, requerer o ressarcimento do dinheiro gasto. 
Cabendo então ao prestador do serviço garantir a qualidade dos estabelecimentos 
hoteleiros, dos serviços de transporte e de alimentação ofertadas ao consumidor, 
diante da relação jurídica firmada entre as mesmas. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
O turismo tornou-se crescente, e um dos fatores que influenciou este fato foi 
a segurança e a praticidade que as agências de turismo proporcionam a seus 
clientes, estabelecendo vínculo de prestação de serviços com outros fornecedores. 
Porém, o que ocorre em muitos dos casos, é a falta de cautela em supervionar o 
serviço prestado ao consumidor em relação a estes terceiros, ocorrendo desta 
forma, situações viciosas, causando aborrecimentos e frustações aos clientes que 
aderiram tais serviços. 
Os serviços são defeituosos, quando apresentam algum vício conforme 
exposto neste artigo, e cabe o consumidor lesado adentar com a devida ação para 
que seja ressarcido de tais danos. Em visão do princípio da solidariedade civil o 
CDC estabelece taxativamente, que o fornecedor responde independemente de 
culpa, em relação a prestação de defeitos na prestação de serviços,sendo 
majoritário o entendimento de que o é devido ao consumidor pelo fato do mesmo ser 
vulnerável em relação aos diversos fornecedores que se encontram nesta prestação 
de serviço. 
 
26 GOMES, Marcelo Kokke. Responsabilidade civil: dano e defesa do consumidor. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. 
p. 81. 
MOSER, Manoela; MARTINS, Queila Jaqueline Nunes. A Responsabilidade Civil Solidária das 
Agências/Operadoras de Turismo em Relação aos Vícios ocorrentes na Prestação de Serviços. Revista 
Eletrônica de Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 5, n.1, p. 533-
544, 1º Trimestre de 2014. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN 2236-5044. 
 
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Para os defensores das agências de turismo, cabe então, a ação de 
regresso aos fornecedores envolvidos nesta prestação de serviço defeituoso, para 
suprir o dinheiro pago ao consumidor quando o mesmo sentiu-se lesado. 
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS 
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Civil. Disponível em: <http://bdjur.stj.gov.br>. Acesso em: 10 out. 2012. 
BENJAMIN, Antonio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo 
Roscoe. Manual de direito do Consumidor. 4 ed. Revista dos Tribunais, 2012. 
BRASIL. Lei nº 11.771, de 17 de setembro de 2008. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11771.htm>. Acesso 
em: 02 out. 2012. 
CRESCIMENTO e otimismo no setor turístico. Ministério do Turismo. Disponível em: 
<http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20120820.html>. Acesso 
em: 21 set. 2012. 
FEUZ, Paulo Sérgio. Direito do Consumidor nos Contratos de Turismo: Código 
de defesa do consumidor aplicado ao turismo. Bauru, SP: Edipro, 2003, p.103. 
GOMES, Marcelo Kokke. Responsabilidade civil: dano e defesa do consumidor. 
Belo Horizonte: Del Rey, 2001. 
NUNES, Luiz Antônio Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do 
Consumidor: Direito Material (art. 1ª a 54). São Paulo: Saraiva, 2000. 
OLIVEIRA, Tassiana Moura de. A responsabilidade solidária das agências de 
viagem nas relações de consumo: uma análise sob a ótica da Lei geral do 
Turismo e do CDC. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 89, jun 2011. Disponível 
em:<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&
artigo_id=9696&revista_caderno=10>. Acesso em: 03 out. 2012. 
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nas relaçõesde consumo. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 599, 27 fev. 2005. 
Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/6355>. Acesso em: 12 out. 2012. 
SIMÃO, José Fernando. Vícios dos produtos no novo código civil e no código 
de defesa do consumidor. São Paulo: Atlas, 2003.

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