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Metodologias para o ensino de Ciências Naturais Profª. Cínthia Hoch Batista de Souza Descrição O conhecimento das metodologias aplicáveis ao ensino das Ciências da Natureza. Sua importância para a promoção do conhecimento do aluno mediante observação, questionamentos, pesquisa e aprendizagem. Propósito Compreender a importância das disciplinas da área das Ciências da Natureza por meio de observações que levem a questionamentos pertinentes sobre a realidade natural. Assim, com o entendimento e a solução desses questionamentos, chegar ao campo da pesquisa, experimentação e, por fim, ao conhecimento. Objetivos Módulo 1 A importância da linguagem e da comunicação Reconhecer a importância da linguagem e da comunicação como ferramenta social. Módulo 2 A importância da linguagem cientí�ca Identificar a importância da linguagem científica no estudo das Ciências da Natureza. Módulo 3 Conteúdos, tomada de decisões e aprendizado Relacionar os conteúdos inerentes à área das Ciências da Natureza, tomada de decisões e aprendizado. Você se lembra das aulas de Ciências que tinha durante seu período escolar? Você se lembra de como eram essas aulas, o que aprendia? E, após essas aulas, você se lembra de aplicar os conceitos na sua vivência, no dia a dia? Você se lembra de Introdução apresentar esses conhecimentos em casa para seus familiares ou para amigos? Muitas vezes, a área das Ciências da Natureza foi tratada em sala de aula com assuntos complexos, envolvendo os seres vivos e seu funcionamento. Por serem difíceis, com nomes complicados, os conteúdos acabavam sendo decorados, e não assimilados ou compreendidos. No entanto, uma vez decorados, a relação desses conceitos com o mundo externo torna-se difícil para muitos estudantes. E é exatamente isso que deveria ser evitado! A área das Ciências da Natureza compreende diferentes disciplinas voltadas aos estudos inerentes à natureza, englobando Biologia, Física, Química, Geologia e Astronomia. Todos os conceitos abordados nessas disciplinas se relacionam dentro da grande área das Ciências da Natureza. Por isso, é imprescindível que haja correlação entre os conteúdos, permitindo ao aluno compreender o mundo à sua volta e entender como ele deve participar ativamente desse ambiente, atuando de forma consciente e inteligente. Para isso, é necessário que o aluno compreenda sua atuação no ambiente por meio da aplicação dos conceitos teóricos em sua vivência. As metodologias e linguagens aplicadas nesse processo são ferramentas importantíssimas para que o aluno possa, de fato, ser um transformador na sociedade em que vive. Por isso, entenderemos a importância da linguagem e da comunicação na apresentação do conteúdo da área de Ciências da Natureza, assim como identificaremos a necessidade do uso da linguagem científica e da sua “tradução” para que esses conceitos cheguem a todos de modo informativo e verídico. Por fim, conversaremos sobre a necessidade de conteúdos a serem apresentados de forma que ao aluno possa deixar de ser um espectador e passe a ser protagonista das aulas, dialogando, questionando e correlacionando os conteúdos abordados em sala com sua vivência em sociedade. 1 - A importância da linguagem e da comunicação Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a importância da linguagem e da comunicação como ferramenta social. Termos técnicos e sua utilização no entendimento de conteúdos Quando pensamos na comunicação entre seres humanos, precisamos compreendê-la como um processo amplo, no qual há produção e compartilhamento de ideias, sentidos e formas simbólicas. A comunicação é, portanto, um processo social. Assim, ela é uma ferramenta necessária em todos os tipos de relações, que deve ser utilizada de maneira satisfatória. No entanto, isso só é efetivo se as mensagens (tanto as enviadas como as recebidas) forem coerentes, independentemente da linguagem (verbal ou não verbal). Os conceitos abarcados pelas Ciências da Natureza não são inertes, isto é, sem aplicação para a sociedade. Muito pelo contrário! O que acontece é que, muitas vezes, a comunicação desses conceitos à sociedade não é muito bem realizada (HOHLFELDT; MARTINO; FRANÇA, 2001), o que acaba por gerar confusões, desentendimentos, atingindo um patamar inaceitável: a desconfiança da Ciência, dos achados de pesquisas e dos conceitos das Ciências da Natureza por parte da população em geral. Isso já ocorreu (e ainda ocorre) inúmeras vezes. No caso das Ciências da Natureza, deparamo-nos com um fator que pode agravar essa situação, que são os chamados termos técnicos. Saiba mais Os termos técnicos são palavras utilizadas pelos pesquisadores para apresentar informações ao seu interlocutor, seja na comunicação escrita ou falada. Muitas vezes, pela falta de compreensão do significado dessas palavras, a comunicação entre cientistas e população fica prejudicada. Perceba que cada termo possui seu significado e que pode ser mais bem compreendido pelo público em geral. Por isso, vemos cada vez mais os cientistas, pesquisadores e estudantes das Ciências da Natureza se empenhando em “traduzir” para a população em geral, ou seja, para o grande público, os conceitos, os dados, os achados e demais informações que devem ser apresentados e compartilhados com a sociedade em geral. Prova disso é a grande quantidade de materiais disponíveis para nosso acesso e que trabalham a simplificação dessas informações – sites, canais de divulgação de vídeos, podcast, manuais, redes sociais, publicações diversas, dentre outros meios, sem deixar de levar conteúdo científico de qualidade. É importante que todos tenham em mente que a Ciência não é uma atividade realizada sem objetivos e sem fins. Pelo contrário, ela é feita (estudada, desenvolvida) para que os achados dessa área sejam revertidos em benefícios para a sociedade como um todo. Vamos ver exemplos de alguns termos técnicos da área de Ciências da Natureza e seus significados para uma linguagem acessível à população em geral: Termos técnicos Significados Algia Dor Acidulante Substância que intensifica o gosto ácido dos alimentos e bebidas Apneia Parada temporária do ato de respirar Clivagem Divisão Epífitas Plantas que conseguem se desenvolver junto de outras plantas, como as orquídeas Fiorde Baías estreitas presentes em um local montanhoso Fitonose Infecção transmissível ao ser humano por um agente causador da doença que se encontra em vegetais Fumigação Processo pelo qual se aplicam substâncias Termos técnicos Significados gasosas que são capazes de destruir a vida animal, especialmente insetos e roedores Heterólogo Aquilo que é diferente Lixiviação Processo pelo qual os elementos químicos do solo são levados (pela ação da água ou da chuva) para camadas profundas do solo, o que torna esses elementos indisponíveis para uso de plantas Midríase Dilatação da pupila Piúria Presença de pus na urina Quadro: Exemplos de alguns termos técnicos da área de Ciências da Natureza e seus significados. Elaborado por: Cínthia Hoch. Tipos de comunicação e linguagem no ensino de Ciências da Natureza O processo de ensino e aprendizagem na área das Ciências da Natureza, para que seja realizado de forma contundente, na qual o aluno entenda o seu papel de atuante, deve dispor de diferentes ferramentas para que ele mantenha esse interesse no processo. Assim, o modelo de aula que conhecemos, focando no professor expositor e no aluno receptor, deve e pode ser mudado para uma atividade dinâmica, adequada e agradável. O tipo de linguagem é uma das ferramentas a ser diversificada para trazer atrativos à aula. A linguagem pode ser, por exemplo, falada ou escrita, verbal ou não verbal; coloquial ou formal; eletrônica ou digital. O importante é que o uso das diferentes ferramentas se complemente de forma que o processo de ensino-aprendizagem seja completo e leve o aluno ao seu posto de questionador. Veja os exemplos a seguir:Linguagem verbal e não verbal A linguagem verbal integra a escrita e a fala (envolvendo os mais variados meios, como conversas, rádio, televisão, dentre outros). Já a linguagem não verbal engloba outros recursos disponíveis para a comunicação, que são muitos: desenhos, fotografias, gestos, símbolos, emojis etc. É importante destacar que ambas podem ser amplamente utilizadas, inclusive juntas, o que chamamos de linguagem mista. Linguagem digital ou eletrônica Atualmente, utilizamos uma linguagem mais rápida, que está presente no dia a dia de todos: a linguagem associada ao uso da tecnologia. Quando nos referimos a esse tipo de comunicação (comunicação digital ou eletrônica), deparamo- nos com uma série de itens que podem ser utilizados juntos ou separadamente no ensino das Ciências da Natureza. Nesse grupo, estão os vídeos, os podcasts e as demais experiências virtuais, que podem acontecer mediante o uso da internet, como passeios virtuais a florestas, museus de ciências, desertos e até mesmo ao Polo Sul! Linguagem escrita É claro que não podemos deixar de lado as ferramentas mais conhecidas, ou talvez as mais “antigas”, como os textos escritos, sejam eles impressos ou não. Esse material pode ser encontrado nas mais variadas formas, como livros, artigos, manuais, redes sociais. Sabemos que, em muitos modelos de ensino, o livro didático é o recurso mais utilizado pelos professores para preparo de suas aulas, no entanto, é necessário que nos atentemos às variadas ferramentas disponíveis para o processo de ensino das Ciências da Natureza (KRASILCHIK, 2000). A grande área das Ciências da Natureza é capaz de abarcar todos esses tipos de linguagem. Essa área requer interpretação e envolvimento de variadas fontes de conhecimento e informação, como axiomas, teorias, leis, fórmulas, ciclos e premissas, além das mais variadas representações: gráficos, diagramas, mapas mentais, esquemas etc. Como podemos ver, nossa linguagem pode ser expressa de formas diferentes, resultando em diferentes tipos de comunicação. Por meio da linguagem, alcançamos objetivos, entendimentos e conseguimos argumentar e discutir as questões que nos são importantes. E isso é importantíssimo no estudo das Ciências da Natureza, uma vez que os diferentes tipos de linguagem e comunicação auxiliam os estudantes para que se sintam instigados, o que torna o processo mais atrativo. Por isso, é de extrema importância que nós conheçamos a fundo nossa linguagem, suas formas de apresentação e que, assim, possamos utilizá-la da melhor forma. Metodologias aplicáveis ao ensino das Ciências da Natureza As práticas profissionais mudam constantemente nas mais diversas profissões. E com o ensino não é diferente. Por isso, é necessário que: O professor Compreenda que a aplicação de diferentes metodologias deve ser uma constante em aulas de disciplinas que compõem a área de Ciências da Natureza. Dessa forma, ele consegue promover o interesse, a participação e a compreensão dos alunos. O estudante Entenda que sua participação no processo de ensino- aprendizagem deve ser atuante e questionadora. Por isso, é necessário que haja conscientização da comunidade escolar como um todo. A área das Ciências da Natureza é baseada em processos e práticas de investigação. Processos e investigação remetem ao saber fazer, à oferta aos alunos da oportunidade de aproximação com o conhecimento científico e à atividade prática, seguida de questionamentos, dúvidas, elaboração de hipóteses e discussão em grupo. Dessa forma, eles chegarão ao desenvolvimento do conhecimento científico pautados pelas experiências vividas. Esse novo processo deve ser sustentado por metodologias diversas que auxiliem o aluno na construção do saber, contando com a participação dos professores como auxiliares/mediadores. Como falamos anteriormente, o livro didático é muito utilizado para o ensino das Ciências da Natureza, porém, para que o processo de ensino instigue os alunos e os faça atuar como protagonistas desse processo, é necessária a modernização da prática educativa, utilizando ferramentas que possam explorar outras formas de aprender. Atenção Não estamos dizendo que o livro deve ser banido ou não utilizado em sala de aula! O que precisamos compreender é que outras ferramentas podem e devem ser empregadas conjuntamente para o auxílio do desenvolvimento de conteúdos da área das Ciências da Natureza. Nesse sentido, as atividades práticas desenvolvidas em laboratório, visitas, viagens, passeios e demais atividades lúdicas podem ajudar no processo de ensino-aprendizagem. Vale lembrar que muitas dessas atividades podem ser realizadas de forma on-line também! Infelizmente, isso não é tarefa fácil, não somente por conta de infraestrutura, mas também porque: As modalidades didáticas usadas no ensino das disciplinas cientí�cas dependem, fundamentalmente, da concepção de aprendizagem de Ciência adotada. A tendência de currículos tradicionalistas ou racionalistas acadêmicos, apesar de todas as mudanças, ainda prevalecem não só no Brasil, mas também nos sistemas educacionais de países em vários níveis de desenvolvimento. (KRASILCHIK, 2000, p.87) No entanto, visitas, passeios e viagens são atividades que devem fazer parte de nossa estratégia pedagógica. Elas levam o aluno para outra atmosfera, colocando-o em um ambiente diverso da sala de aula, com muitas ferramentas diferentes daquelas que ele vê normalmente. Os jogos, por sua vez, auxiliam os estudantes no desenvolvimento da autoconfiança, na sua motivação, no entendimento, questionamento e, até mesmo, na relação interpessoal. A vivência dos alunos de qualquer faixa etária em atividades práticas é essencial para uma aprendizagem significativa. As atividades práticas permitem que o aluno relacione o conteúdo teórico com uma vivência que o auxilia a consolidar e entender o que lhe foi ensinado. Quando estão em um laboratório, os alunos, muitas vezes, apresentam-se mais interessados e animados, uma vez que poderão ver/vivenciar os fenômenos que até então lhe foram apresentados de forma teórica ou ilustrativa por meio de figuras ou vídeos, por exemplo. A vivência, o fazer com as próprias mãos e o observar de perto levam ao entendimento e à compreensão de uma situação, muitas vezes de forma mais rápida e inesquecível. Vamos ver algumas ideias de práticas lúdicas no ensino de Ciências Naturais? Imagine a diferença no processo de ensino-aprendizagem para alunos que estão estudando fósseis de dinossauros. Essa aula pode ocorrer na escola, com uso de fotos e filmes. Da mesma forma, pode ser um conteúdo apresentado aos alunos em uma visita ao “Museu dos Dinossauros”, que está instalado no distrito rural de Peirópolis, em Uberaba-MG. Lá são encontrados em exposição 4.000 fósseis (exemplares de dinossauros herbívoros e carnívoros, crocodilos, tartarugas, rãs, peixes, aves, mamíferos, conchas, plantas e microfósseis). A seguir, confira a fotografia de um novo Crocodylomorpha da Bacia de Bauru (Cretáceo Superior), presente no Museu dos Dinossauros em Peirópolis. No local, também existe um jardim que reproduz o ambiente no qual os dinossauros viviam. Você consegue perceber a diferença entre essas aulas? Ambas apresentam a mesma potencialidade Visita a um museu na apresentação do conteúdo, mas a aula realizada com a visita apresenta um novo ambiente a esses alunos, concretiza o objeto de estudo e possivelmente será uma aula mais aproveitada, por colocar o aluno no papel de protagonista, de questionador e observador de todas as informações que estão disponíveis ao seu redor. Em Biologia Celular, os tipos de células, suas organelas e funcionamento são apresentados aos estudantes. Embora seja interessantíssimo, não deixa de ser um conteúdo denso, com muitas informações e nomes complexos. Para esse conteúdo, existe um jogo (disponível na internet e criado pela equipe do Genoma-USP) chamado Baralho celular. Essejogo se baseia no manuseio de dois grupos de cartas: um que apresenta os diferentes tipos de células existentes e outro que apresenta informações sobre morfologia, localização, função, curiosidade e imagem também das diferentes células. Ganha o jogo aquele jogador que conseguir reunir primeiro todas as cartas referentes ao seu tipo celular, definido no início da partida. Perceba como os jogadores (estudantes) aprendem “brincando”, lendo as informações, ouvindo seus colegas e comparando as informações na busca pelo “par” correto de cartas! Alguns materiais disponíveis on-line são interessantíssimos e podem ser utilizados pelos alunos dentro e fora de sala de aula, quantas vezes eles desejarem. Independentemente da linguagem, da forma Uso de jogos de comunicação ou da metodologia aplicada, o estudo das Ciências da Natureza sempre estará atrelado ao que conhecemos como linguagem científica. Falaremos sobre esse assunto no próximo módulo! Ensino de Ciências Neste vídeo, a professora Cínthia Hoch apresenta elementos que relacionem metodologia do Ensino de Ciências e a Concepção de Aprendizagem que fundamenta tal metodologia; bem como a importância da linguagem nesse processo. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Considerando as informações sobre linguagem verbal e não verbal, podemos afirmar que: A a linguagem verbal refere-se à linguagem estritamente formal. Já a linguagem não verbal é totalmente informal. Parabéns! A alternativa E está correta. O que caracteriza uma linguagem não verbal é não se utilizar de fala e escrita. Embora permita uma liberdade de expressão maior que a escrita/fala (pois está livre de padrões gramaticais), é mais eficiente quando usada em conjunto, especialmente com a fala. Questão 2 Traduzir termos técnicos em uma divulgação científica para a população em geral B a linguagem verbal também é designada como “mista” por ser baseada em variantes da língua. C ambas são tipos de comunicação que não devem ser utilizados conjuntamente. D a linguagem verbal sempre é utilizada empregando- se os padrões gramaticais. E a linguagem não verbal não inclui a fala e a escrita. A melhora a compreensão da informação. B piora o entendimento sobre o assunto determinado. C não deve ser feito. Parabéns! A alternativa A está correta. O uso de termos técnicos desconhecidos pela população em geral pode causar desconfiança, confusão. Muitas vezes, eles não são empregados por serem palavras difíceis e pouco conhecidas. Assim, em uma divulgação para o grande público, os comunicadores devem utilizar sinônimos para garantir total e correta compreensão da informação. 2 - A importância da linguagem cientí�ca Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a importância da linguagem cientí�ca no estudo das Ciências da Natureza. D gera confusões. E resulta em desconfiança da Ciência. Letramento cientí�co Como vimos no módulo anterior, a forma como os conceitos são abordados, descritos e apresentados aos alunos (e à população) define, muitas vezes, o nível de compreensão do assunto tratado. A partir daí, outras questões também são levantadas, como a credibilidade da informação e o nível de aceitação. Também são gerados impactos sobre aspectos importantes para a população, como saúde pública. Podemos ilustrar tal situação com as informações que são geradas e “consumidas” sobre vacinas. Uma parcela da população não confia e não adere ao plano de imunização por não compreender o que são as vacinas, como elas agem, e por não entender, de fato, qual é o benefício para cada indivíduo e para a saúde coletiva como um todo. O entendimento dessa linguagem e termos é uma questão observada já no ensino fundamental (OLIVEIRA; QUEIROZ, 2011), uma vez que o ensino das Ciências da Natureza propõe, desde cedo, o letramento científico dos alunos. Dessa forma, o aluno já terá acesso a um conteúdo que o permita observar e interpretar o mundo à sua volta, tomando como base os conhecimentos científicos que recebeu. No ensino médio, não é diferente: a linguagem científica está presente, e os alunos devem ser instigados a comunicarem suas descobertas a diferentes tipos de públicos, em variados contextos. Saiba mais O que chamamos de letramento científico nada mais é do que um recurso que é aprendido pelos alunos e que os auxiliará em sua atuação como cidadãos, durante suas tomadas de decisões, para que sejam fundamentadas e carregadas de responsabilidade social perante a sociedade como um todo. A comunicação dessas informações faz parte de sua responsabilidade junto aos demais. Vários documentos (nacionais e internacionais) destacam a importância do contato dos alunos da área de Ciências da Natureza com o conteúdo teórico. No entanto, destacam também que eles devam ter a capacidade de compreender procedimentos e de comunicá-los. Um desses documentos é o Next Generation Science Standards (NGSS) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Next Generation Science Standards (NGSS) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) O NGSS apresenta três dimensões que são ditas como fundamentais para dar aos estudantes uma formação completa em educação científica. São elas: Dimensão prática Oferta ao aluno as bases para que aprenda como os pesquisadores realizam suas investigações sobre determinado assunto. Dimensão conceitual O aluno deve possuir a compreensão dos conceitos inerentes às disciplinas científicas da área. Capacitação Os alunos devem ser capacitados e treinados para que saibam quais fontes de informação usar no seu processo de ensino aprendizagem. Essas dimensões apenas têm sentido se entendermos as seguintes propostas: O NGSS propõe as três dimensões como uma forma de auxiliar os educadores para que percebam padrões nos quais os estudantes adquirem um novo conhecimento. Para isso, é Propostas da NGSS fundamental que todos estejam dispostos a encontrar formas novas e criativas no processo de ensino e aprendizagem. A BNCC, que apresenta caráter normativo, é um documento vigente no Brasil. Esse documento define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais necessárias para todos os alunos da Educação Básica, de forma que todos possam ter assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, de acordo com o que é preconizado no Plano Nacional de Educação (PNE). A BNCC define que, durante os anos da Educação Básica, todos os processos de aprendizagens essenciais devem assegurar, obrigatoriamente, aos alunos seu desenvolvimento através de competências gerais que são a base para os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Sendo assim, de acordo com a BNCC, competência é a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana. A seguir, são apresentadas as competências específicas de Ciências da Natureza de acordo com a BNCC (MEC, 2018). Confira: Ensino Fundamental Listamos as competências específicas de Ciências da Natureza para o Ensino Fundamental (MEC, 2018). Veja: Propostas da BNCC Compreender as Ciências da Natureza como empreendimento humano, e o conhecimento científico como provisório, cultural e histórico. Compreender conceitos fundamentais e estruturas explicativas das Ciências da Natureza, bem como dominar processos, práticas e procedimentos da investigação científica, de modo a sentir segurança no debate de questões científicas, tecnológicas, socioambientais e do mundo do trabalho, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. Analisar, compreender e explicar características, fenômenos e processos relativos ao mundo natural, social e tecnológico (incluindo o digital), como também as relações que se estabelecem entre eles, exercitando a curiosidade para fazer perguntas, buscar respostas e criar soluções(inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das Ciências da Natureza. Avaliar aplicações e implicações políticas, socioambientais e culturais da Ciência e de suas tecnologias para propor alternativas aos desafios do mundo contemporâneo, incluindo aqueles relativos ao mundo do trabalho. Construir argumentos com base em dados, evidências e informações confiáveis e negociar e defender ideias e pontos de vista que promovam a consciência socioambiental e o respeito a si próprio e ao outro, acolhendo e valorizando a diversidade d d íd d Ensino médio Também listamos as competências específicas de Ciências da Natureza para o Ensino Médio (MEC, 2018). Veja a seguir: de indivíduos e de grupos sociais, sem preconceitos de qualquer natureza. Utilizar diferentes linguagens e tecnologias digitais de informação e comunicação para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos e resolver problemas das Ciências da Natureza de forma crítica, significativa, reflexiva e ética. Conhecer, apreciar e cuidar de si, do seu corpo e bem-estar, compreendendo-se na diversidade humana, fazendo-se respeitar e respeitando o outro, recorrendo aos conhecimentos das Ciências da Natureza e às suas tecnologias. Agir pessoal e coletivamente com respeito, autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, recorrendo aos conhecimentos das Ciências da Natureza para tomar decisões frente a questões científico- tecnológicas e socioambientais e a respeito da saúde individual e coletiva, com base em princípios éticos, democráticos, sustentáveis e solidários. Note que, para ambos os documentos e para os diferentes níveis (no caso da BNCC), a necessidade do conhecimento da linguagem científica e de sua aplicação está presente. Para que o aluno formule seus argumentos com base científica, ele deve conhecer essa linguagem e saber aplicá-la de forma que, em primeira instância, ele Analisar fenômenos naturais e processos tecnológicos, com base nas interações e relações entre matéria e energia, para propor ações individuais e coletivas que aperfeiçoem processos produtivos, minimizem impactos socioambientais e melhorem as condições de vida em âmbito local, regional e global. Analisar e utilizar interpretações sobre a dinâmica da vida, da Terra e do Cosmos para elaborar argumentos, realizar previsões sobre o funcionamento e a evolução dos seres vivos e do Universo, e fundamentar e defender decisões éticas e responsáveis. Investigar situações-problema e avaliar aplicações do conhecimento científico e tecnológico e suas implicações no mundo, utilizando procedimentos e linguagens próprios das Ciências da Natureza, para propor soluções que considerem demandas locais, regionais e/ou globais, e comunicar suas descobertas e conclusões a públicos variados, em diversos contextos e por meio de diferentes mídias e tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC). compreenda o conteúdo e consiga pensar sobre ele. Em um segundo momento, a linguagem científica o ajuda na divulgação desse conteúdo (em sala de aula, em uma conversa com o grupo, em uma apresentação ao término da disciplina, ou mesmo em um evento, como, por exemplo, participando de uma feira de ciências). Aplicação da linguagem cientí�ca É de grande importância que o professor utilize a linguagem científica, tanto na forma falada como na forma escrita, em sala de aula (TEIXEIRA, 2019). Assim, o aluno é apesentado a essa linguagem e percebe sua função. Muitas vezes, essa linguagem é nova para os alunos e requer certo “costume” inicial para que se torne corriqueira nos questionamentos em sala de aula, nos trabalhos em grupo, nas escritas de trabalhos, provas e, até mesmo, em anotações em seus cadernos. Imagine dentro da área de Ciências da Natureza, considerando todas as disciplinas relacionadas, a riqueza de linguagem que pode ser apresentada aos estudantes! Outra forma de apresentar este “mundo” aos estudantes, que enriquece o conhecimento da linguagem científica e leva o aluno a expandir suas ideias na formação do conhecimento, são as feiras de ciências. Inclusive aquelas que acontecem em âmbito virtual, como a Feira Brasileira de Jovens Cientistas. Feira Brasileira de Jovens Cientistas A Feira Brasileira de Jovens Cientistas teve sua primeira edição em 2020. É a primeira feira científica e pré-universitária nacional totalmente virtual. Nesses eventos, os alunos podem participar apenas conhecendo os projetos, experimentos e resultados, o que já lhes confere contato com um mundo novo no sentido de informações, nomenclaturas, ideias e conhecimento; mas também podem participar como pesquisadores, apresentando seu trabalho, mostrando seus achados após a execução de uma parte experimental (prática). Eles deverão, obrigatoriamente, apresentar seus achados de forma metodológica, seguindo princípios científicos e, claro, aplicando linguagem compatível com o evento. As feiras de ciências são eventos importantíssimos que promovem integração dos alunos, envolvimento com atividades práticas e busca pelo entendimento/geração de conhecimento após a realização da parte experimental. Essas feiras podem ser realizadas nas escolas, o que é um importante degrau para que os alunos das Ciências da Natureza percebam/descubram sua vocação para cientista/pesquisador. Muitos, após participarem dessas feiras em suas escolas, acabam participando também de feiras maiores. Nesse sentido, no Brasil temos duas feiras bem importantes: MOSTRATEC Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia, realizada anualmente pela Fundação Liberato Salzano Vieira da Cunha, na cidade de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. FEBRACE Feira Brasileira de Ciências, realizada anualmente pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. A participação dos estudantes nessas feiras pode, inclusive, gerar credenciais para os alunos com projetos selecionados participarem de feiras internacionais, como a ISEF (International Science and Engineering Fair), uma feira internacional de Ciências e Engenharia organizada pela Society for Science and the Public, que é realizada anualmente, nos Estados Unidos, em maio. Perceba que todas essas experiências contribuem para a “alfabetização científica” (CACHAPUZ et al., 2005) desses estudantes que, mais tarde, poderão colaborar com a sociedade em que vivem, tornando este ambiente mais harmonioso, igualitário e sustentável. Lembrando que essa “ação na sociedade” advém da vivência do aluno e de sua capacidade em aplicar esses conhecimentos adquiridos na prática. Isso pode, inclusive, ser avaliado. Saiba mais A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) realiza uma avaliação chamada Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA – Program for International Student Assesment), com a aplicação de provas com conteúdo de leitura, Matemática e Ciências. Essa avaliação valoriza as capacidades de raciocínio, não valorizando os conteúdos decorados. Fontes de informação cientí�ca Quando o NGSS menciona fontes confiáveis, ele se refere a todo material que pode ser utilizado como fonte de informação científica. Parece fácil definir quais são esses materiais, mas, muitas vezes, essa é uma atividade árdua caso o estudante não seja bem instruído quanto a isso. Especialmente com o uso da internet, encontrar informações pode ser um processo fácil e rápido e nos deparamos com uma quantidade muito grande de fontes. Contudo, simplesmente encontrar a informação desejada não é suficiente para que possamos utilizá-la como verdade, especialmente quando estamos nos referindo aos conteúdos da área de Ciências da Natureza. Por isso, é imprescindível que os estudantes sejam instruídos sobre as fontes que devem consumir na internet para que tenham informações verdadeiras (que não sejam fake news), de qualidade e relevantes. O ato de procurar por essas informações em diferentes fontesnão é tarefa fácil e requer rigor, paciência e atenção. A seguir, veja a diferença entre buscar e investigar: Buscar A busca é uma procura simples, que pode ser feita com qualquer material, como uma revista de circulação geral. Investigar Nesta ação, vamos observar se a informação é fidedigna, se é real, utilizando material científico de qualidade, como revistas científicas, por exemplo. Assim, é necessário que os alunos conheçam sobre a existência dos mais variados materiais científicos, como artigos científicos, dissertações de mestrado, teses de doutorado e sobre os locais de investigação, como repositórios de universidades, base de dados, banco de dados, bibliotecas virtuais, bibliotecas eletrônicas e os próprios sites das revistas científicas. Plataformas como SciELO, periódicos CAPES são dois exemplos de onde buscar, virtualmente, tais conteúdos. Alfabetização Cientí�ca A professora Cínthia Hoch mostra a importância da alfabetização científica no contexto do ensino de Ciências, comparando as dimensões do NGSS às competências apresentadas pela BNCC. Veja a seguir: Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O acesso às informações científicas, bem como encontrar condições de sua validação, são fundamentais para o verdadeiro desenvolvimento da Ciência. Nesse sentido, sobre informações científicas, podemos afirmar: I – São informações que recebemos através de meios de comunicação quando apresentam informação científica. II – É toda informação que é obtida a partir de experimentos científicos, realizados por uma equipe que apresenta competência, conhecimento e estrutura para tal. III – São as informações encontradas na internet, em sites científicos. Das afirmativas acima: A Somente I é correta. B Somente II é correta. C Somente III é correta. Parabéns! A alternativa B está correta. A “informação científica” deve ser confiável e obtida em materiais confiáveis com dados publicados a partir de experimentação científica, preferencialmente em periódicos reconhecidamente científicos. Por isso, mesmo um “noticiário científico” ou um “site científico” é garantia de que estamos tratando de verdadeira informação científica. Questão 2 Assinale a alternativa que apresenta fontes que são veículos estritamente utilizados para divulgação de pesquisas e dados científicos: Parabéns! A alternativa D está correta. D I e II são corretas. E II e III são corretas. A Panfletos e blogs. B Revistas semanais e capítulos de livros. C Apostilas e mensagens de WhatsApp. D Teses e artigos científicos. E Manuais e apostilas. Materiais considerados científicos são aqueles que apresentam informações resultantes de pesquisas científicas realizadas por pesquisadores. Esses documentos devem ser editados por editoras específicas da área e de credibilidade. 3 - Conteúdos, tomada de decisões e aprendizado Ao �nal deste módulo, você será capaz de relacionar os conteúdos inerentes à área das Ciências da Natureza, tomada de decisões e aprendizado. Amplitude das Ciências da Natureza O estudo de Ciências nos remete, muitas vezes, à ideia de que essa disciplina abordará apenas conteúdos relativos aos seres vivos e seus organismos. É verdade que este assunto é encontrado dentro das Ciências da Natureza, no entanto, a disciplina aborda um conteúdo muito mais amplo e complexo que vai além do organismo vivo e de seu funcionamento. O estudo de Ciências traz ao aluno conhecimento e aprendizado sobre seus organismos, mas também aborda os processos que ocorreram para que os organismos vivos se apresentem como são atualmente. Além disso, tudo que está relacionado ao mundo que envolve esses seres, os recursos naturais disponíveis, suas fontes, sua exploração, seu uso, suas transformações também são conceitos aplicáveis às Ciências da Natureza. Podemos compreender que essa área nos apresenta um vasto campo de informações que, quando correlacionadas, possibilitam-nos entendimento e compreensão do tamanho da vida, dos processos que envolvem os organismos vivos e a dimensão das esferas que estão ligadas a essas situações. O conhecimento dessas relações traz ao aluno a capacidade de compreensão e entendimento do mundo, facilitando suas tomadas de decisão em suas intervenções. Mas, como assim, intervenções? Somos todos seres em movimento e estamos a todo momento atuando no mundo em que vivemos, e isso nos confere responsabilidade, pois nossas atitudes e tomadas de decisão impactam (positivamente ou negativamente, em maior ou menor grau) no meio ambiente em que vivemos. Assim, quando conhecemos a amplitude da teoria dos conceitos estudados dentro da grande área chamada Ciências da Natureza, podemos correlacionar essas questões na busca de melhores tomadas de decisão para nossas atitudes práticas. Prova disso é que nossa sociedade atual está organizada com base no desenvolvimento científico e tecnológico. Praticamente tudo que contemplamos ao nosso redor e que usamos a favor da manutenção da nossa vida. Exemplo Motores, combustíveis, medicamentos, ferramentas, alimentos, itens para comunicação rápida em tempo real, dentre muitos outros itens, foram desenvolvidos e sempre são aprimorados com base na ciência e tecnologia. Ciências da Natureza e a formação integral do alunos Quando falamos anteriormente em decisões para nossas atitudes práticas no dia a dia, referimo-nos às decisões mais acertadas que possam minimizar o impacto desse desenvolvimento e ao uso desses produtos sobre os possíveis danos ou desequilíbrios que são causados para a sociedade e para a natureza. Como as disciplinas e a avaliação auxiliam nas práticas do dia a dia? Veja a seguir: Disciplinas As disciplinas devem preparar os alunos para atuarem de acordo com o desenvolvimento de suas habilidades e não com base em um conteúdo decorado. Ao decorar um assunto, o aluno entende que aquele conteúdo pode não ser tão importante para sua vida, mas que será importante apenas para sua utilização de forma passageira (por exemplo, em uma avaliação com data e hora marcada). Avalicação A avaliação (ou a prova) sempre teve um papel fundamental nas escolas do nosso país, sendo utilizada como uma importante função normativa e poderosa que acabava por separar os alunos em, basicamente, dois grupos: “alunos que aprenderam” e “alunos que não aprenderam”. Assim, essa ferramenta acabava por classificar esses alunos, levando-os aos anos seguintes do calendário escolar, mas, muitas vezes, sem que a escola soubesse ao certo se aquele aluno realmente tinha desenvolvido as competências e habilidades relativas ao conteúdo, de forma a aplicá-lo fora da sala de aula, ou melhor ainda, aplicá-lo na prática. Quando se trata da área de Ciências da Natureza, esses resultados não traduzem exatamente os objetivos do ensino dos conteúdos desta área, visto que a capacidade de pensar, questionar, correlacionar e resolver problemas vai além da reprodução dos conceitos vistos em sala de aula. Não é isso que as metodologias disponíveis para o ensino das Ciências da Natureza propõem. A proposta é que o conteúdo seja compreendido (ao contrário de decorado) para ser aplicado diariamente no exercício da cidadania, ao invés de ser aplicado pontualmente em uma avaliação que vale pontos para o fechamento do semestre letivo. Dessa forma, temos uma grande área de estudo, as Ciências da Natureza, que visa, dentre outros objetivos, a uma formação integral dos alunos, não só baseada no ser vivo, como comentamos anteriormente, mas também em temas que se relacionam entre si como ética, política, cultura, tecnologia e ciência. Assim, espera-se do aluno que ele possa ter acesso aos conhecimentos científicos e que consiga desenvolver um novo olhar sobre o mundo no qual está inserido por meio de ferramentas como práticas e procedimentos de investigação científica. Atenção No entanto, é necessário que a academia esteja atenta a essasnecessidades dos alunos. Para isso (OLIVEIRA et al., 2009), precisamos de professores que estejam recebendo em sua formação nos cursos de licenciatura o conteúdo apropriado para que possam desenvolver em seus alunos as questões envolvendo aspectos relativos a estímulo, questionamento e investigação. Por isso, é necessário que haja estímulo dos alunos, diferentemente de aulas estáticas, com apresentação do conteúdo. Os alunos devem se sentir motivados a se inserir nas atividades investigativas, através de sua curiosidade, questionamento, apresentação de suas ideias e hipóteses. Veja que essa postura muda totalmente um cenário de aula estático, realizado através de uma aula programada com um roteiro, sem espaço para a interação, a conversa produtiva e os questionamentos sobre a investigação que está sendo feita. Quantas vezes, por exemplo, uma aula prática é realizada em um laboratório sem que o aluno seja convidado a pensar sobre o que irá fazer, por que irá fazer e quais achados ele pode encontrar ao fim daquele experimento? Dessa forma, espera-se que o aluno apresente um “perfil básico” que se desdobre em habilidades baseadas em algumas características essenciais para a aplicação dos conteúdos teórico-práticos em sua vivência diária: Determinação Torna-se importante, pois a atividade de compreensão e aplicação dos conceitos pode se tornar cansativa e demorada. Assim, é necessário que haja “força de vontade” por parte do aluno. Raciocínio crítico O aluno deve compreender que precisa questionar (e até mesmo criticar) as informações que ele recebe, sempre pensando sobre o que lhe foi apresentado. Criatividade O aluno deve ter a capacidade de realizar perguntas, saber questionar algo que não tenha sido bem compreendido, relacionar com o que ele vê a sua volta, pensar de formas diferentes dos padrões convencionais adotados pela maioria. Capacidade de argumentação Atitude relacionada ao item anterior, visto que, ao pensar de forma crítica, o aluno deve ser capaz de argumentar com lógica e fundamentação sobre o que lhe é apresentado. Nesse sentido, muitas pesquisas científicas foram desenvolvidas investigando a capacidade de alunos de diferentes níveis (séries) em identificar o problema, elaborar hipóteses sobre ele e planejar as investigações do assunto. A partir daí surgem diferentes metodologias que podem ser aplicáveis no ensino das Ciências Naturais, tornando esse processo mais prático e baseado na vivência. É importante que o professor compreenda que, dentre vários objetivos, a educação em Ciências visa levar o aluno a tomar consciência da forma dinâmica da construção do conhecimento, reconhecendo que a grande área chamada Ciências da Natureza nem sempre se apresenta de forma fácil, pois é formada por linguagem complexa e conteúdos densos, que requerem atenção, construção e correlação para que possam, de fato, serem assimilados e compreendidos. Metodologias ativas de aprendizagem Já vimos que um dos objetivos atuais do processo de ensino na área de Ciências da Natureza é desenvolver nos alunos a capacidade de ter ideias para a construção de um conhecimento dinâmico e aplicável. Nesse sentido, devemos conhecer e promover as metodologias ativas de aprendizagem, nas quais o aluno é o protagonista da construção do conhecimento (LOVATO et al, 2018). São exemplos de metodologias ativas que podem ser aplicadas em sala de aula: Sala de aula invertida Procura transformar o aluno em um ser atuante, sendo ele o protagonista da construção do seu conhecimento. Nesta metodologia, o professor demonstra o conteúdo, instigando os estudantes a pesquisarem sobre o referido assunto e a levarem para a sala suas dúvidas para discussão. O aluno é ativo e atua de forma autônoma. Ensino híbrido Nesta metodologia, há a proposta de unir de forma equalizada o ensino a distância (EAD) e o ensino presencial. Aqui também se exige que o aluno seja protagonista do seu processo de aprendizagem. Realização de seminários e discussões Neste tipo de metodologia ativa, o aluno e o professor encontram-se juntos, no mesmo “degrau”, visto que normalmente se faz uma roda em sala de aula para que determinado assunto seja discutido entre os alunos, com mediação do professor. Gami�cação O professor leva jogos para o momento da aula, utilizando da tecnologia (celulares, tablets ou notebooks) como aliada no processo de aprendizagem dos alunos. Muitos jogos interativos na área das Ciências da Natureza já foram criados sobre os mais diversos assuntos e podem servir para o desenvolvimento desses assuntos em aulas (JANN; LEITE, 2010). Jigsaw Essa metodologia envolve os alunos dispostos em grupos. Nessa atividade, uns ensinam aos outros o que seja do conhecimento de cada um. Neste tipo de metodologia, os alunos acabam se tornando “especialistas” em determinados assuntos, visto que cada um terá conhecimento de informações específicas sobre o assunto em questão. Divisão dos alunos em equipes para o sucesso (Student Teams Achievement Divisions – STAD) Metodologia desenvolvida na Universidade Johns Hopkins, cujo foco é a colaboração. Aqui, cada membro do grupo é importante para o alcance do sucesso, ou seja, para a construção e compreensão do conhecimento. Neste tipo de metodologia, os alunos se auxiliam realizando atividades propostas pelo professor, sempre focando no resultado final, que é a construção e obtenção do conhecimento sobre determinado assunto. O professor é um mediador, mas também um avaliador do comprometimento de cada integrante do grupo na busca pela aprendizagem do conteúdo proposto. O Brasil enfrenta sérios problemas como a evasão escolar e o baixo rendimento no Programa Internacional para a Avaliação de Alunos (PISA), dentre outros. A utilização de metodologias ativas é uma importante ferramenta que pode auxiliar na mudança desse cenário, uma vez que apresenta aos estudantes formas diferentes de interagir em sala de aula, com o professor e seus colegas de turma. O uso dessas metodologias pode promover motivação (ZOMPERO; HOLPERT, 2019), fazendo com que os alunos se interessem cada vez mais pela escola e pelos conteúdos teóricos, uma vez que ele será capaz de compreendê-los por uma nova ótica, inserindo os conhecimentos produzidos em seu dia a dia e entendendo seu real significado e sua aplicação. Autonomia dos Alunos Agora, a professora Cínthia Hoch apresenta a importância da autonomia dos alunos e do papel do professor mediador no processo de aprendizagem em Ciências. Veja a seguir: Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O aluno, ao se deparar com afirmações em Ciências da Natureza, deve procurar explicações por meio dos questionamentos que ele pode elaborar. O nome dado a esta ação é: A Parabéns! A alternativa D está correta. Ao se deparar com um assunto novo, o aluno é capaz de produzir conhecimento, se baseando no que ele pode observar. Sendo assim, diante do conteúdo, o aluno passa a fazer suposições para encontrar respostas ao problema que está questionando. E isso é justamente a proposição de uma hipótese, na qual ele poderá delimitar seu campo de observação, propor ações e questionamentos e, por fim, avaliar os seus achados mediante seus questionamentos. Questão 2 São consideradas habilidades essenciais para que os alunos consigam aplicar os conteúdos teóricos em sua rotina diária: elaboração de um modelo. B elaboração de uma teoria. C elaboração de um teorema. D elaboração de uma hipótese. E elaboração de uma lei. A Determinação, paciência e raciocínio lógico. B Determinação, criatividade e raciocínio crítico. C Preocupação, inteligência e determinação. Parabéns! A alternativa B está correta. A determinação é a expressão da “força de vontade” do aluno em realizar a atividade; a criatividade é necessária para que o estudante consiga realizar perguntas e questionamentos sobre o que lhe parece importante (ou, àsvezes, mal compreendido); o raciocínio crítico faz com que este estudante pense sobre as informações que lhe são apresentadas. Considerações �nais A compreensão dos conceitos básicos das diversas disciplinas que compõem a grande área das Ciências da Natureza é importante para que o aluno construa seu conhecimento. No entanto, é necessário que esse aluno seja protagonista de sua história na escola para que possa, de fato, compreender os conceitos teóricos de forma a aplicá-los no ambiente ao seu redor. O professor deve ser o mediador desse processo mediante o uso das mais variadas metodologias e ferramentas, dando ao aluno subsídios para que ele questione, discuta e, com base nos problemas apresentados, elabore suas hipóteses seguidas da construção do conhecimento que poderá ser aplicado no seu dia a dia de forma integral. Dessa forma, teremos alunos pensantes que, diante das questões levantadas, poderão chegar a uma estrutura de pensamento aplicável à sociedade, pois foi resultante de um processo de entendimento e desenvolvimento científico. D Presença, raciocínio lógico e pensamento. E Pensamento, raciocínio crítico e preocupação. Podcast Agora, a professora Cínthia Hoch encerra o tema falando um pouco mais sobre metodologias para o ensino de Ciências Naturais. text-white Explore + O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) possui uma publicação chamada Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente, de 2004 (2ª edição). Esse material está disponível na internet em PDF. Você pode pesquisar pelo nome do documento e salvar este arquivo para consultar inúmeros verbetes utilizados na área de Ciências Naturais e conhecer seu significado de forma clara. O documento também pode ser acessado na biblioteca virtual do IBGE. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento com caráter normativo que apresenta o conjunto de aprendizagens consideradas essenciais que devem ser trabalhadas junto a todos os alunos da educação básica no Brasil. Você pode encontrar esse documento em PDF procurando por “Base Nacional Comum Curricular” na internet ou consultando-a, dentro do portal do Ministério da Educação (MEC). A Secretaria da Educação do Estado do Paraná disponibiliza na internet em seu site, na aba “Jogos e Práticas”, várias atividades lúdicas e laboratoriais que podem ser utilizadas como metodologias auxiliares para o entendimento e compreensão de diferentes conceitos relativos à área de Ciências Naturais. Você pode acessar diferentes conteúdos lúdicos e experimentais para ter acesso a ferramentas interessantes para o ensino e aprendizagem das Ciências Naturais. A Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciências mantém uma página na internet na qual você pode navegar e obter informações sobre museus de ciências e planetários localizados no Brasil e no exterior. Além disso, você pode explorar a página e conhecer exposições e programas itinerantes, formas de popularização da ciência e muitas publicações sobre estes e outros temas relacionados. Existem vários grupos de cientistas espalhados pelo Brasil preocupados com a divulgação científica de qualidade, de forma que possam levar ao público em geral informações científicas de modo correto, compreensível por qualquer público e sem fake news. Você pode acessar esse trabalho feito por esses grupos através das redes sociais. No Instagram, você pode procurar por: “Ciência Informativa”, “Dragões de Garagem” e “Rabiscos Científicos” para conhecer algumas dessas divulgações. O canal Manual do Mundo, de Iberê Thenório, tem condições de proporcionar uma das mais interessantes experiências virtuais no âmbito do ensino de Ciências da Natureza. Referências CACHAPUZ, A. et al. A necessária renovação no ensino de ciências. São Paulo: Cortez, 2005. HOHLFELDT, A.; MARTINO, L. C.; FRANÇA, V. V. Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências. Petrópolis: Vozes, 2001. JANN, P. N.; LEITE, M. F. Jogo do DNA: um instrumento pedagógico para o ensino de ciências e biologia. In: Ciências & Cognição, v. 15, n. 1, p. 282-293, 2010. Consultado na internet em: 21 jul. 2021. KRASILCHIK, M. Reformas e realidade: o caso do ensino das ciências. In: São Paulo em Perspectiva, v. 14, n. 1, p. 85-93, 2000. Consultado na internet em: 21 jul. 2021. LOVATO, F. L. et al. Metodologias ativas de aprendizagem: uma breve revisão. In: Acta Scientiae, v. 20, n. 2, p. 154-171, 2018. Consultado na internet em: 21 jul. 2021. MEC. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: SEB, 2018 OLIVEIRA, J. R. S. O.; QUEIROZ, S. L. A retórica da linguagem científica em atividades didáticas no ensino superior de Química. ALEXANDRIA Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v. 4, n. 1, p. 89-115, 2011. Consultado na internet em: 21 jul. 2021. OLIVEIRA, T. et al. Compreendendo a aprendizagem da linguagem científica na formação de professores de Ciências. In: Educar em Revista, v. 34, p. 19-33, 2009. Consultado na internet em: 21 jul. 2021. TEIXEIRA, P. B. A Ciência, a natureza da ciência e o ensino de Ciências. In: Ciência & Educação, v. 25, n. 4, p. 851-854, 2019. Consultado na internet em: 21 jul. 2021. ZOMPERO, A. F.; HOLPERT, L. N. R. S. Habilidades cognitivas de percepção das evidências expressas por estudantes brasileiros do Ensino Médio na resolução de situações-problemas. In: Revista de Estudios y Experiencias en Educación, v. 18, n. 38, p. 15-27, 2019. Consultado na internet em: 21 jul. 2021. Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? javascript:CriaPDF() Relatar problema
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