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Guia de Bolso de NEONATOLOGIA 2ª Edição Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo José Luiz Egydio Setúbal Provedor da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP). José Carlos Ferrreira Villela Superintendente da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP). Marcelo Mercadante Diretor Clinico da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP). Rogério Pecchini Diretor Técnico do Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP). Valdir Golin Diretor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (FCMSCSP). José Eduardo Lutaif Dolci Diretor do Curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (FCMSCSP). Marco Aurélio P. Sáfadi Diretor do Departamento de Pediatria da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP). Mauricio Magalhães Chefe do Serviço de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP). Editores Mauricio Magalhaes Francisco Paulo Martins Rodrigues Clery Bernardi Gallacci Paulo Roberto Pachi Maria Renata Tollio Chopard Tabajara Barbosa Lima Neto Guia de Bolso de NEONATOLOGIA 2ª Edição EDITORA ATHENEU Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) MAGALHÃES, M.; RODRIGUES, F.P.M; GALLACCI, C.B; PACHI, P.R.; CHOPARD, M.R.T.; LIMA NETO, T.B. Guia de Bolso de Neonatologia – 2ª Edição ©Direitos reservados à Editora Atheneu – São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, 2016. São Paulo — Rua Jesuíno Pascoal, 30 Tel.: (11) 2858-8750 Fax: (11) 2858-8766 E-mail: atheneu@atheneu.com.br Rio de Janeiro — Rua Bambina, 74 Tel.: (21)3094-1295 Fax: (21)3094-1284 E-mail: atheneu@atheneu.com.br Belo Horizonte — Rua Domingos Vieira, 319 — conj. 1.104 Guia de bolso de neonatologia / editor Mauricio Magalhães. -- 2. ed. -- São Paulo : Editora Atheneu, 2016. Bibliografia ISBN 978-85-388-0727-8 1. Neonatologia 2. Recém-nascidos - Doenças - Diagnóstico 3. Recém-nascidos - Doenças - Diagnóstico - Tratamento I. Magalhães, Maurício. 16-06082 CDD-618.9201 CAPA: Equipe Atheneu PRODUÇÃO EDITORIAL: MWS Design Índices para catálogo sistemático: 1. Neonatologia : Medicina 618.9201 2. Pediatria neonatal : Medicina 618.9201 Editores Mauricio Magalhães Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médico Neonatologista do Hospital Israelita Albert Einstein. Chefe do Serviço Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Francisco Paulo Martins Rodrigues Mestre e Doutor em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médico Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médico Neonatologista do Hospital Municipal Dr. Fernando Mauro Pires da Rocha, São Paulo. Clery Bernardi Gallacci Doutora em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médica Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médica Responsável pelos Berçários Setoriais do Hospital e Maternidade Santa Joana. Paulo Roberto Pachi Mestre e Doutor em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.Médico Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médico Neonatologista da Maternidade Pro Matre Paulista. Maria Renata Tollio Chopard Mestre em Pediatria pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médica Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Tabajara Barbosa Lima Neto Médico Neonatologista pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Colaboradores Adriana Nishimoto Kinoshita Médica Residente de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Alexandre Netto Médico Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médico Neonatologista do Hospital e Maternidade São Luiz. Amanda Melhado Médica Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médica Neonatologista do Hospital Israelita Albert Einstein. Ana Luiza Teixeira Balloti Médica do Curso de Especialização de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Beatriz Helena de Morais Millioni Ex-Residente de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Daniella Gregoria Bonfim Prado da Silva Médica Assistente do Serviço de Infectologia Pediátrica da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Eliana Tiemi Maekawa Ex-Residente de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Eliane Redondo Especialista em Terapia Intensiva e Nefrologia pela UNIFESP. Docente da Escola de Enfermagem da Santa Casa de São Paulo. Élida Nicolau Silva Amorim Ex-Residente de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Erica Vince Marrara Ex-Especializanda de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Fernando Lamano Ferreira Ex-Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.Pós-graduado em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein. Fernando Perroud da Silveira Foresti Médico Residente de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Gabriel F. T. Variane Médico Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médico Neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana. Gabriela Pereira de Almeida Rossetti Médica Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médica Neonatologista do Hospital e Israelita Albert Einstein. Inez Carvalho Oliveira Médica Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médica Neonatologista do Hospital e Israelita Albert Einstein. Ivan Cese Marchetti Médico Residente do Serviço de Infectologia Pediátrica da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Juliana de Castro Maturana Ex-Especializanda de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Livia Vargas de Souza Orrico Poli Especialista em Fisioterapia Respiratória da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva Neonatal da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Mara Silvia Battaglini Sanchez Médica Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médica da UTI Pediátrica do Hospital Infantil Cândido Fontoura. Médica da UTI Pediátrica do Hospital São Luiz Unidade Morumbi. Marcela Chaves M. Pimenta Bosco Médica Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Marcelo Massanori Okuma Médico Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médico Neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana. Marco Aurélio P. Sáfadi Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Diretor do Departamento de Pediatria e Puericultura da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Mariana Werneck Costa Especialista em Fisioterapia Respiratória – ISCMSP. Especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva Neonatal – ISCMSP. Marianna Corsante Monte Ex-Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médica Neonatoloistado Hospital Infantil Cândido Fontoura. Marilia Mira Gonçalves Ex-Especializanda de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Marta Lucas Teixeira Caldeirão Especialista em Enfermagem Neonatal pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Enfermeira Assistencial da UTI Neonatal da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Professora da escola de Enfermagem da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Nathalie Fonseca Thurler Médica Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Paulo Woon Ki Hong Médico Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Pedro Augusto Pereira do Amaral Ex-Especializando de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Rafaela Fabri Rodrigues Médica Residente de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Renata Pereira Condes Mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP. Especialista em Teoria, Pesquisa e Intervenção em Luto pelo 4 Estações Instituto de Psicologia. Psicóloga do Serviço de Psicologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Membro do Departamento de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Renato G. Gasperini Médico Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médico Neonatologista do Hospital e Israelita Albert Einstein. Rodrigo de Jesus Gonçalves Figueredo Médico Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Sabrina Boni Braga de Carvalho Médica Residente de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Sabrina Carreira Godoy Especialista em Fisioterapia Respiratória – ISCMSP. Especialista em Fisioterapia em Terapia Intensiva Neonatal – ISCMSP. Sandra Yuriko Kanashiro Médica Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médica Neonatologista do Hospital e Maternidade Santa Joana. Sara Neves de Souza Especialista em Cuidados Intensivos e Emergenciais à criança e ao Adolescente. Chefe de Enfermagem do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Silvia Rodrigues da Silva Médica Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Simone Dutra Rodrigues Santos Médica Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Tatiana Paula de Souza Pereira Fonoaudióloga do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Tiago Luna Lacerda Médico Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Médico Neonatologista da Maternidade Pro Matre Paulista. Victoria Catarina de Albuquerque Melo Médica Assistente do Serviço de Neonatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Responsável Técnica pela Equipe de Neonatologia da Casa Amparo Maternal. Médica Neonatologista do Hospital e Maternidade São Luiz - Unidade Anália Franco. Prefácio à Segunda Edição É com muita alegria e satisfação que temos a honra de prefaciar a segunda edição do Guia de Bolso de Neonatologia, realizado sob a coordenação do grupo responsável pelo serviço de neonatologia da Santa Casa de São Paulo. As elevadas taxas de morbidade e mortalidade que caracterizam o período neonatal sempre foram um grande desafio aos pediatras neonatologistas, desde os primórdios da criação desta especialidade, no século passado. Nas últimas décadas, entretanto, obtivemos êxitos e avanços de fundamental importância para o aumento das taxas de sobrevida e especialmente para a diminuição das sequelas relacionadas com a prematuridade. Nesse contexto, vale destacar a importância do grupo de neonatologia da Santa Casa de São Paulo, que vem há décadas formando profissionais que hoje desempenham importante papel em nível assistencial, de ensino e pesquisa não só no Brasil, mas também em outros países. A contribuição científica dos neonatologistas que trabalham em nossa Instituição, em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, é inequívoca e consagrada na literatura médica, desde os pioneiros trabalhos que culminaram no reconhecimento da importância da fototerapia para o tratamento da icterícia neonatal até os mais recentes avanços no uso da hipotermia para diminuição da mortalidade e das sequelas neurológicas do recém-nascido asfixiado. Com uma linguagem prática e concisa, este guia contempla em diversos capítulos as principais patologias do recém-nascido, com protocolos objetivos e didáticos que procuram orientar e atualizar os profissionais que trabalham em unidades neonatais. Nestes capítulos, o leitor irá encontrar um resumo dos cuidados fundamentais no manejo das situações clínicas mais frequentes do dia a dia do neonatologista. Esperamos, com esta publicação, poder dividir com os leitores um pouco da nossa experiência e, assim, promover uma melhor assistência aos recém-nascidos que exigem cuidados intensivos. São Paulo, agosto de 2016 Prof. Dr. Marco Aurélio P. Sáfadi A Neonatologia é uma especialidade médica que experimenta grandes avanços, passando pela utilização de incubadoras no início do século XX, introdução de ventilação mecânica com pressão positiva e sua evolução tecnológica, minimizando os efeitos deletérios decorrentes do seu uso. Outro, importante marco, foi o uso do surfactante exógeno, utilizado há mais de 20 anos e juntamente com o óxido nítrico inalatório diminuindo a mortalidade neonatal. E mais recentemente o uso da hipotermia corpórea reduzindo a mortalidade e as sequelas neurológicas nos asfixiados, associado a monitorização cerebral com o eletroencefalograma de amplitude integrada. Assim, o pediatra torna-se figura importante na diminuição da morbimortalidade infantil, neonatal precoce e tardia, que o Brasil vem apresentando. Com toda evolução do conhecimento fisiológico, fisiopatológico e da terapêutica, notamos cada vez mais que o médico pediatra e neonatologista necessita de ferramentas que o auxiliam no dia a dia, estando ao lado e cuidando do recém-nascido, seja na terapia intensiva, na sala de parto ou no alojamento conjunto. A partir daí, surgiu a ideia de escrevermos um livro com características específicas, onde o aluno de medicina, o médico residente ou o pediatra tivesse à sua mão ou no bolso do avental um manual para consulta, sobre os principais problemas que acometem os neonatos. Esgotada a primeira edição e necessitando atualizações, quase obrigatoriamente fizemos esta nova edição, atualizando e escrevendo novos capítulos, dando ainda uma nova diagramação, que tornará esta obra uma ferramenta mais valorizada. Nós, do Serviço de Neonatologia do Departamento de Pediatria da Santa Casa de São Paulo e da Faculdade de Ciências Médicas, pela experiência, conhecimento e análise Apresentação à Segunda Edição da literatura, nos sentimos à vontade para elaborar, cuidadosamente, o presente livro, que auxiliará a todos que querem e se preocupam em oferecer o mais atual cuidado médico- humanizado ao pequeno paciente, que dependerá desses cuidados para se tornar um adulto melhor. São Paulo, agosto de 2016 Mauricio Magalhães Sumário Seção 1 – O Feto e o Parto 1 Nomenclaturas, Avaliação de Idade Gestacional e Curvas de Crescimento Neonatal, 3 Pedro Augusto Pereira do Amaral Tiago Luna Lacerda 2 Repercussões Fetais e Neonatais de Doenças Maternas, 13 Marianna Corsante Monte Pedro Augusto Pereira do Amaral 3 Reanimação Neonatal, 17 Francisco Paulo Martins Rodrigues Pedro Augusto Pereira do Amaral 4 Tocotraumatismo, 23 Francisco Paulo Martins Rodrigues Seção 2 – O Recém-nascido e Condições Especiais Parte 1 – Balanço Hídrico, Seus Distúrbios e Nutrição 5 Balanço Hídrico e Distúrbios Hidroeletrolíticos e Metabólicos, 29 Beatriz Helena de Morais Miioni Clery Bernardi Gallacci Mara SilviaBattaglini Sanchez Victoria Catarina de Albuquerque Melo 6 Nutrição Parenteral Prolongada (NPP), 39 Beatriz Helena de Morais Miioni Francisco Paulo Martins Rodrigues Victoria Catarina de Albuquerque Melo 7 Alimentação Enteral no RN, 43 Amanda Melhado Ana Luiza Teixeira Balloti Francisco Paulo Martins Rodrigues 8 Níveis de Recomendação de Fármacos para Tratamento de Condições Comuns durante a Amamentação, 47 Beatriz Helena de Morais Miioni Francisco Paulo Martins Rodrigues Marianna Corsante Monte Parte 2 – Neurologia e Seus Distúrbios 9 Asfixia Perinatal, 59 Erica Vince Marrara Francisco Paulo Martins Rodrigues Mauricio Magalhães 10 Hipotermia Neuroprotetora, 63 Erica Vince Marrara Francisco Paulo Martins Rodrigues Mauricio Magalhães 11 Eletroencefalograma de Amplitude Integrada (aEEG) Indicações e Interpretação, 67 Gabriel F. T. Variane Mauricio Magalhães Renato G. Gasperini 12 Convulsão Neonatal, 73 Gabriel F. T. Variane Mauricio Magalhães Renato G. Gasperini 13 Hemorragia Peri-intraventricular, 77 Erica Vince Marrara Mauricio Magalhães Parte 3 – Distúrbios Respiratórios 14 Distúrbios Respiratórios no Período Neonatal, 83 Mauricio Magalhães Paulo Roberto Pachi Rodrigo de Jesus Gonçalves Figueredo 15 Uso do Surfactante e Protocolo do Uso Minimamente Invasivo, 91 Marília Mira Gonçalves Mauricio Magalhães Victoria Catarina de Albuquerque Melo 16 Apneia de Prematuridade, 95 Ana Luiza Teixeira Balloti Tabajara Barbosa Lima Neto 17 Ventilação Mecânica em Neonatologia, 99 Maria Renata Tollio Chopard Paulo Roberto Pachi Rodrigo de Jesus Gonçalves Figueredo Parte 4 – Infecção 18 Prevenção e Tratamento da Doença Perinatal pelo Estreptococo do Grupo B, 107 Nathalie Fonseca Thurler Tabajara Barbosa Lima Neto 19 Sepse Neonatal, 111 Fernando Perroud da Silveira Foresti Silvia Rodrigues da Silva Tabajara Barbosa Lima Neto 20 Infecção Fúngica Neonatal, 117 Daniella Gregória Bonfim Prado da Silva Élida Nicolau Silva Amorim Gabriela Pereira de Almeida Rossetti Marco Marco Aurélio P. Sáfadi Tabajara Barbosa Lima Neto 21 Enterocolite Necrosante, 121 Fernando Lamano Ferreira Fernando Perroud da Silveira Foresti 22 Infecções Congênitas, 123 Francisco Paulo Martins Rodrigues Mauricio Magalhães Sabrina Boni Braga de Carvalho Simone Dutra Rodrigues Santos 23 HIV, 129 Fernando Perroud da Silveira Foresti Francisco Paulo Martins Rodrigues Ivan Cese Marchetti Simone Dutra Rodrigues Santos 24 Hepatites B e C, 133 Rafaela Fabri Rodrigues Simone Dutra Rodrigues Santos 25 Tuberculose, 135 Simone Dutra Rodrigues Santos 26 Prevenção da Infecção pelo Vírus Sincicial Respiratório – Palivizumabe, 137 Élida Nicolau Silva Amorim Marcelo Massanori Okuma Paulo Woon Ki Hong 27 Microcefalia: Conduta nos Casos Suspeitos de Infecção pelo Zika Vírus, 139 Francisco Paulo Martins Rodrigues Marco Aurélio P. Sáfadi Pedro Augusto Pereira do Amaral Parte 5 – Cardiologia e Distúrbios Hemodinâmicos 28 Hipertensão Pulmonar Neonatal e Protocolo do Uso de Óxido Nítrico, 145 Ana Luiza Teixeira Balloti Marcela Chaves M. Pimenta Bosco Mauricio Magalhães 29 Cardiopatias Congênitas, 147 Amanda Melhado Marcela Chaves M. Pimenta Bosco 30 Choque Neonatal, 151 Eliana Tiemi Maekawa Marcela Chaves M. Pimenta Bosco Mauricio Magalhães 31 Ecocardiografia Funcional, 155 Eliana Tiemi Maekawa Marcela Chaves M. Pimenta Bosco Rodrigo de Jesus Gonçalves Figueredo 32 Persistência do Canal Arterial , 159 Fernando Perroud da Silveira Foresti Rodrigo de Jesus Gonçalves Figueredo Parte 6 – Doenças Hematológicas no Neonato 33 Doenças Hematológicas no Neonato, 163 Juliana de Castro Maturana Maria Renata Tollio Chopard Victoria Catarina de Albuquerque Melo Parte 7 – Miscelânea 34 Icterícia Neonatal, 179 Clery Bernardi Gallacci Francisco Paulo Martins Rodrigues Sabrina Boni Braga de Carvalho 35 Doença Metabólica Óssea, 187 Alexandre Netto Sabrina Boni Braga de Carvalho 36 Patologias Cirúrgicas no Período Neonatal, 191 Marcela Chaves M. Pimenta Bosco Mauricio Magalhães 37 Doença do Refluxo Gastroesofágico no Período Neonatal, 195 Mauricio Magalhães Rafaela Fabri Rodrigues 38 Insuficiência Renal Aguda, 197 Amanda Melhado Fernando Lamano Ferreira 39 Retinopatia da Prematuridade, 203 Paulo Roberto Pachi Sabrina Boni Braga de Carvalho 40 Procedimentos em Neonatologia, 207 Ana Luiza Teixeira Balloti Sandra Yuriko Kanashiro Simone Dutra Rodrigues Santos 41 Principais Drogas Utilizadas em Neonatologia, 217 Alexandre Netto Erica Vince Marrara 42 Analgesia e Sedação no Recém-nascido, e Manejo da Síndrome de Abstinência, 223 Marcelo Massanori Okuma Paulo Woon Ki Hong Silvia Rodrigues da Silva 43 Valores Laboratoriais, 233 Alexandre Netto Élida Nicolau Silva Amorim 44 Triagem Auditiva Neonatal (TAN), 239 Clery Bernardi Gallacci Victoria Catarina de Albuquerque Melo 45 Índice Prognóstico em UTI Neonatal, 243 Inez Carvalho Oliveira Marianna Corsante Monte 46 Vacinação do Prematuro, 247 Mauricio Magalhães Parte 8 – Equipe Multiprofissional 47 Cateter Central de Inserção Periférica, 253 Marta Lucas Teixeira Caldeirão Sara Neves de Souza 48 Humanização em Neonatologia, 257 Eliane Redondo Renata Pereira Condes 49 A Psicologia na UTI Neonatal, 259 Renata Pereira Condes 50 Fisioterapia em Neonatologia, 261 Lívia Vargas de Souza Orrico Poli Sabrina Carreira Godoy 51 O Papel do Fonoaudiólogo em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e Berçário de Risco, 267 Tatiana Paula de Souza Pereira Parte 9 – Alta e Seguimento 52 Critérios e Preparo de Alta do Prematuro, 273 Adriana Nishimoto Kinoshita Inez Carvalho Oliveira Paulo Roberto Pachi 53 Protocolo de Seguimento Ambulatorial do Prematuro, 275 Paulo Roberto Pachi Rafaela Fabri Rodrigues Parte 10 – Rotinas do Alojamento Conjunto 54 Rotinas do Alojamento Conjunto, 281 Amanda Melhado Mauricio Magalhães Victoria Catarina de Albuquerque Melo 0 Índice Remissivo, 291 O FETO E O PARTO Seção 1 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 1 16/08/2016 11:12:51 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 2 16/08/2016 11:12:51 3 Mortalidade infantil CoefiCiente de Mortalidade infantil (CMi) Mortalidade infantil • Coeficiente de Mortalidade Infantil (CMI) Número de mortes de menores de um ano de vida ´ 1.000 Número de nascidos vivos • Mortalidade neonatal precoce: 0-6 dias de vida; • Mortalidade neonatal tardia: 7-27 dias de vida; • Mortalidade pós-natal: 28-364 dias de vida. noMenClatura téCniCa • Nascido vivo: produto de concepção que, após expulsão ou extração completa do corpo materno, apresente qualquer sinal de vitalidade (respiração, batimento cardíaco, pulsação de cordão umbilical ou contra- ção muscular voluntária), estando ou não desprendida a placenta. Para indicar pro- cedimentos de reanimação neonatal, vale este conceito, independentemente da idade gestacional ou do peso; • Óbito fetal ou natimorto: produto de con- cepção com idade gestacional de 22 se- manas ou mais, ou peso de 500 g ou mais, que, após expulsão ou extração completa do corpo materno, não apresente qualquer sinal de vitalidade; • Aborto: produto de concepção com menos de 22 semanas completas de idade gestacio- nal ou peso menor que 500 g. Peso de nasCiMento Idealmente, pesar até a primeira hora de vida. É determinante direto da mortalidade neonatal. ClassifiCação • Baixo peso: < 2.500 g; • Muito baixo peso: < 1.500 g; • Extremo baixo peso: < 1.000 g. idade gestaCional ClassifiCação (oMs) • Termo: 37-41 semanas e 6 dias; • Pós-termo: a partir de 42 semanas; • Pré-termo: < 37 semanas; nomenclaturas, avaliação de idade gestacional e Curvas de Crescimento neonatal Pedro Augusto Pereira do Amaral Tiago Luna Lacerda 1 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 3 16/08/2016 11:12:51 4 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 • Limítrofe: 36-36 semanas e 6 dias;• Moderado: 31-35 semanas e 6 dias; • Extremo: < 31 semanas; • Tardio: 34-36 semanas e 6 dias. Peso Para a idade gestaCional ClassifiCação • Adequado para a Idade Gestacional (AIG): p10 < peso < p90; • Grande para a Idade Gestacional (GIG): peso > p90; • Pequeno para a Idade Gestacional (PIG): peso < p10; • PIG simétrico: PC < p10; • PIG assimétrico: PC > p10. Usamos no Serviço de Neonatologia da Santa Casa as seguintes curvas: _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 4 16/08/2016 11:12:51 5 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 5 16/08/2016 11:12:52 6 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 6 16/08/2016 11:12:52 7 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 7 16/08/2016 11:12:53 8 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 Outra Tabela de peso que pode ser usada é a seguinte: Tabela de Alexander TAbElA 1.1 – PercenTis de Peso Ao nAscer (g) PArA A idAde gesTAcionAL Idade gestacional (semanas) Percentis 5 10 50 90 95 20 249 275 412 772 912 21 280 314 433 790 957 22 330 376 496 826 1023 23 385 440 582 882 1107 24 435 498 674 977 1223 25 480 558 779 1138 1397 26 529 625 899 1362 1640 27 591 702 1035 1635 1927 28 670 798 1196 1977 2237 29 772 925 1394 2361 2553 30 910 1085 1637 2710 2847 31 1088 1278 1918 2986 3108 32 1294 1495 2203 3200 3338 33 1513 1725 2458 3370 3536 34 1735 1950 2667 3502 3697 35 1950 2159 2831 3596 3812 36 2156 2354 2974 3668 3888 37 2357 2541 3117 3755 3956 38 2543 2714 3263 3867 4027 39 2685 2852 3400 3980 4107 40 2761 2929 3495 4060 4185 41 2777 2948 3527 4094 4217 42 2764 2935 3522 4098 4213 43 2741 2907 3505 4096 4178 44 2724 2885 3491 4096 4122 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 8 16/08/2016 11:12:53 9 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 Gráficos de Fenton – Para o seguimento do crescimento do prematuro. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 9 16/08/2016 11:12:54 10 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 10 16/08/2016 11:12:54 11 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 esCore de Maturidade – noVo Método de ballard Sinais Pontos Pontos -1 0 1 2 3 4 5 Postura Angulação do punho recuo do braço Ângulo poplíteo sinal do cachecol calcanhar à orelha Total neuromuscular score MATURIDADE FÍSICA Sinais Pontos Pontos -1 0 1 2 3 4 5 Pele Úmida, friável, transparente gelatinosa, vermelha, translúcida Homogêneo róseo, veias visíveis descamação super- fi cial e/ou erupções, poucas veias Áreas pálidas, rachaduras, raras veias Apergami- -nhada com sulcos Tipo “couro” enrugada Lanugem nenhuma esparsa Abundante diminuída Áreas desprovi- das de pelos Quase total- mente sem pelos superfície plantar calcanhar hálux 40-50 mm: 1 < 40 mm: 2 > 50 mm sem sulcos discretas mar- cas vermelhas somente sulcos transversais an- teriores sulcos nos 2/3 anteriores sulcos toda a planta do pé nódulo mamário, aréola imperceptível Pouco perceptível Aréola achatada, sem nódulo Aréola pontilhada, nódulo 1-2 mm Aréola saliente, nódulo 3-4 mm Aréola comple- ta, nódulo 5-10 mm olho e orelha Fenda palpebral fechada frouxa- mente -1 fi rme-mente -2 Pálpebras abertas, borda achatada, perma- nece dobrada Borda levemen- te curta, macia, com recuo lento Borda bem recur- vada, macia, com recuo rápido Formada e fi rme, com recuo instantâneo cartilagem espessa, orelha rígida genitália mascu- lino escroto plano e liso escroto vazio sem rugas Testículos no canal alto, raras rugas Testículos descen- do, poucas rugas Testículos na bolsa, mais rugas Testículos pen- dentes, rugas completas genitália feminina clitóris proemi- nente e lábios planos clitóris proemi- nente pequenos lábios reduzidos clitóris proeminente pequenos lábios aumentado grandes e pequenos lábios igualmente proemi- nentes grandes lábios proeminentes, pequenos lábios mais reduzidos grandes lábios recobrem clitóris e lábios menores Total physical maturity score Ballard JL, Khoury Jc, Wedig K, et al: new Ballard score, expanded to include extremely Premature infants. J Pediatrics 1991; 119:417-423. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 11 16/08/2016 11:12:55 12 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 referênCias bibliográfiCas 1. Alexander, G. R.; Caunes, F.; Hulsey, T. C.; Cor- nely, D. A. Gestacional age reporting and pre- term and pretern delivery. Public Health Rep 1990.105:267-75. 2. Fenton R Tanis, Kim H Jae. A systematic re- view and meta-analysis to revise the Fenton growth chart for preterm infants. BMC Pedia- trics.2013, 13:59 3. Ballard JL, Khoury JC, Wedig K, et al: New Ballard Score, expanded to include extre- mely premature infants. J Pediatrics 1991; 119:417-423. 4. Ministério da Saúde – Datasus. IDB 2008 (Da- dos compilados até 2006) – www.datasus.gov.br 5. Olsen IE, Clark R, Zemel B. New intrauterine growth curves based on U.S. data. Pediatrics, Volume 125, Pages e214-244. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 12 16/08/2016 11:12:55 13 Distúrbios gravídicos têm papel importante e fundamental no desenvolvimento e patolo gias do concepto que pode repercutir na saúde ao longo de toda a vida. Então, é importante conhecermos as principais doenças maternas gravídicas e sua relação ao concepto. Hipertensão materna A hipertensão complica cerca de 10% das gestações e é uma causa importante de morbi mortalidade materna e fetal. A hipertensão materna altera a adaptação circulatória maternofetal levando a um cres cimento prejudicado (RCIU – restrição de crescimento intrauterino) e aumento do risco de prematuridade, que são as principais con sequências neonatais da hipertensão materna e levam às demais manifestações. riscos da Hipertensão materna na gestação • Riscos fetais e neonatais: • Restrição crescimento intrauterino (RCIU) por insuficiência placentária; • Acidemia fetal; • Prematuridade; • Aumento morbidade perinatal geral; • Morte fetal (↑2 – 4 ´); • Trombocitopenia neonatal. A taxa mortalidade fetal é três vezes maior se PAD materna for > 95 mmHg e na presença de proteinúria. Alguns efeitos fetais refletem vasoespasmo na perfusão placentária levando a descolamento de placenta (maior risco nas pacientes com préeclampsia superposta em relação a pa cientes HAC), RCIU, oligoâmnio, cardiotoco grafia com padrão não tranquilizador. A hipertensão materna poderá trazer con sequências imediatas e a longo prazo para o RN caracteristicamente PIG e frequentemente prematuro. manifestações imediatas • Hipoglicemia; • Hipocalcemia; • Hiponatremia; • Hiperglicemia; • Hipermagnesemia (pelo uso materno com sulfato de magnésio); • Hipotermia; • Alterações hematológicas: repercussões fetais e neonatais de doenças maternas Marianna Corsante Monte Pedro Augusto Pereira do Amaral 2 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 13 16/08/2016 11:12:55 14 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 • Hipoxia fetal: eleva eritropoetina, levando a hiperviscosidade, policitemia e hiperbi lirrubinemia; • Neutropenia; • Trombocitopenia; • Provas coagulação alteradas; • Alterações imunológicas; • Diminui a IgG; • Timo 50% menor em seu tamanho; • Diminui o número linfócitos periféricos. manifestações tardias • Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor nos primeiros anos de vida; • Diabetes tipo II: associado a sensibilidade dos receptores de insulina na vida adulta levando a resistência insulínica; • Doença cardíaca: baixo IMC ao nascimen to predispõe a doença coronariana na vida adulta; • Hipertensão arterial; • Dislipidemias; • Doenças psiquiátricas: principalmente alte ração do afeto e depressão. diabetes mellitus A diabetes gestacional complica quase 4% das gestações. • Repercussões fetais: • Risco de aborto espontâneo: principal mente nas gestantes com DM préges tacional. • RCIU: mãe com alteração vascular de vido diabetes prégestacional levando a uma insuficiência uteroplacentária. • Macrossomia: origem multifatorial com aumento da insulina fetal e fatores de crescimento (IGF I e II). • Polidrâmnio: etiologia desconhecida no DG, mas malformações fetais e mau con trole glicêmico podem estar relacionados. • Hipoxemia fetal em gestantes mal con troladas principalmente no último trimestre. Maior risco para hipervisco sidade, hiperbilirrubinemia e trombose vascular renal. • Anomalias Congênitas: associado a hi perglicemia nas primeiras semanas de gestação. As principais são as malfor mações do SNC como a síndrome de re gressão caudal e as cardíacas como CIV, TGA e PCA. Mais frequentes em pacien tes portadoras de DM prégestacional. • Repercussões neonatais: • Hipoglicemia: pelo hiperinsulismo e hiperglicemia fetal. O controle da hiper glicemia materna reduz chance de hipo glicemia neonatal. • Hipocalcemia: segundo distúrbio mais frequente surge entre 24 e 72 horas de vida. • Hipomagnesemia: comumente associa do à hipocalcemia. • Policitemia: associado ao estímulo da eritropoiese pela hipoxia tecidual. • Hiperbilirrubinemia: a patogênese é multifatorial (hemólise aumentada, eri tropoiese ineficaz e outros). • Alteração cardíaca: hipertrofia do septo ventricular e miocardiopatia hipertró fica que pode evoluir com insuficiência cardíaca congestiva e baixo débito. • Síndrome do colón esquerdo curto: as sociado à imaturidade intestinal. • Doença de Membrana Hialina: mais fre quente. A hiperinsulinemia bloqueia a maturação pulmonar. A diabetes gestacional diagnosticado no início da gravidez e com necessidade de dieta e in sulina para controle, evolui de maneira seme lhante ao diabetes prégestacional, com risco de malformações fetais e natimortos. Lúpus eritematoso sistêmico (Les) Associado a altas taxas de perda fetal: abortos espontâneos, RCIU, TPP, natimorto e morte _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 14 16/08/2016 11:12:55 15 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 perinatal. A sobrevida fetal é mais alta quando a doença está em remissão. Outros fatores preditivos de perda fetal são nefrite ativa, hipertensão, anticorpos antifos folipídes circulantes (fator mais importante). riscos para rn Síndrome de lúpus neonatal: associado a anor malidades cardíacas por transferência trans placentária de anticorpos. • BAVT congênito: anomalia cardíaca mais frequente: • Depósito de imunoglobulina (auto anticorpo IgG contra antígenos das nu cleoproteínas ribossômicas anti Ro ou SSA e, em menor grau, antiLa ou SSB no tecido cardíaco fetal; • Ac antiRo (maioria) e antiLa: 4050% pacientes com LES; • Ausência de defeitos estruturais; • Arritmia fetal; • USG: derrame pericárdico ou hidropisia por ICC ou miocardite; • Alta taxa de mortalidade; • Marcapasso neonatal nos sobrevi ventes; • Tratamento materno com plasmaférese e dexametasona: tentativa de reduzir anti corpos circulantes e assim, com menos passagem transplacentária, evitar LES neonatal – reversão BAV fetal e melhora na contratilidade cardíaca. • Pele: • Exantema maculoso difuso; • Exantema em asa de borboleta e lesões discoides nas primeiras semanas de vida e desaparecem espontaneamente até os 6 meses, concomitante ao desaparecimen to dos anticorpos maternos na circula ção fetal; • Anemia e trombocitopenia, glomerulo nefrite, hepatoesplenomegalia, sintomas neurológicos – incomuns. síndrome antifosfoLipídio (safL) • Complicações clínicas: efeitos sobre gravidez, trombocitopenia autoimune e trombose; • Anticorpos (Ac) contra fosfolipídeos de car ga negativa das membranas celulares, prin cipalmente plaquetas e células endoteliais; • Ac mais comuns: anticoagulante lúpico e anticardiolipina; • Complicações na gestação: • Perda fetal/embrionária recorrente; • RCIU; • Infarto placentário; • Prematuridade; • Préeclâmpsia grave de início precoce; • Padrões de FC não tranquilizadores • Síndrome pósparto incomum (doença cardiopulmonar, febre, síndrome hemo líticourêmica); • Efeitos incomuns já relatados: trombose fetal ou neonatal por transferência anti corpos maternos e por efeitos fetais do tratamento. distúrbios da tireoide Hipertireoidismo • 1 em 2.000 gestações: tireotoxicose; • Maioria (95%): doença de Graves; • Morbimortalidade fetal associada a hiperti reoidismo materno mal controlado; • Riscos fetais e neonatais: • Prematuridade; • Hipotireoidismo e bócio fetais por ex posição prolongada a iodeto após 10–12 semanas de gestação; • Tireotoxicose fetal: por passagem trans placentária de TSI podendo ocorrer morte fetal. Hipotireoidismo • Causas: após tireoidectomia ou terapia com iodo radioativo, tireoidite de Hashimoto, carcinoma, reposição insuficiente; _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 15 16/08/2016 11:12:55 16 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 • Maior risco para préeclampsia e descola mento prematuro de placenta; • Riscos fetais e neonatais: • Aumento da natimortalidade; • Baixo peso ao nascer; • Prematuridade; • Hipotireoidismo neonatal se mãe usou iodo radioativo. É fundamental observar manifestações clí nicas tanto de hipotireoidismo, quanto hi potireoidismo que o recémnascido pode apresentar logo nos primeiros dias de vida. A experiência tem demonstrado que a grande maioria dos RN não apresentam qualquer ma nifestação clínica durante o período neonatal. referências bibLiográficas 1. Landy, H.J. O impacto das doenças maternas no recémnascido. In: Macdonald; M.G.; Mul let, M.D.; Seshia, M.M.K. Neonatologia: Fisio patologia e Tratamento do RecémNascido. 6a Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; ano. p. 184197. 2. Silveira, R.C.; Procianoy, R.S. O recém nascido de mãe hipertensa. In: Procianoy, R.S.; Leone, C.R. Programa de Atualização em Neonatolo gia. Ciclo 4 Módulo 1. 1a Ed. Porto Alegre: Art med/Panamericana; 2006. p.115147. 3. Costa, H.P.F. Recémnascido de mãe diabética. In: Procianoy, R.S.; Leone, C.R. Programa de Atualização em Neonatologia. Ciclo 4 Módulo 3. 1a Ed. Porto Alegre: Artmed/Panamericana; 2006. p.946. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 16 16/08/2016 11:12:55 17 O Programa de Reanimação Neonatal baseado no Consenso em Ciência e Re- comendações Terapêuticas do Internatio- nal Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR - publicado em 20 de outubro de 2015) e na Reunião de Consenso para as diretrizes da Sociedade Brasileira de Pe- diatria realizada em 25 e 26 de novembro de 2015, em São Paulo SP, com o Grupo Executivo e as Coordenações Estaduais do PRN-SBP publicou um documento de atu- alização em reanimação neonatal válido a partir de 2016. Principais tópicos de atualização neonatal: Clampeamento do Cordão umbiliCal • RN termo com boa vitalidade: 1-3 minutos; • RN pré-termo com boa vitalidade: > 30 se- gundos; • RN que precisa de reanimação: clampear imediatamente o cordão, pois as evidências são insuficientes para recomendar clampe- amento tardio nessa situação; • Ordenha de cordão: só no contexto de pes- quisa clínica. manutenção da temperatura Corporal • Manter normotermia: 36,5-37,5ºC; • RN termo e pré-termo: temperatura da sala de parto 23-26ºC; camposaquecidos e fon- te de calor radiante; • RN termo: secar e desprezar campos úmidos; • RN pré-termo: envolver o corpo no saco plástico sem secar; touca dupla cobrindo o couro cabeludo com plástico e, por cima, outra touca de lã ou algodão; colchão tér- mico no pré-termo < 1.000 g; • Lembrar que a aspiração está reservada aos pacientes que apresentam obstrução de vias aéreas por excesso de secreções. avaliação da frequênCia CardíaCa • A frequência cardíaca é o principal parâ- metro que determina a indicação e a eficá- cia da reanimação; • RN termo e pré-termo: avaliação inicial da frequência cardíaca com estetoscópio; • Após início da ventilação com pressão po- sitiva, considerar a monitoração da FC por ECG (3 eletrodos) – evidências indicam que a ausculta do precórdio e a oximetria reanimação neonatal Francisco Paulo Martins Rodrigues Pedro Augusto Pereira do Amaral 3 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 17 16/08/2016 11:12:55 18 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 de pulso podem subestimar a FC nos pri- meiros minutos após o nascimento. ventilação • No RN em que foram realizados os passos iniciais da estabilização e a avaliação a se- guir mostrou respiração ausente ou irre- gular ou FC < 100 bpm, iniciar a VPP nos primeiros 60 segundos após o nascimento e acompanhar a FC pelo monitor cardíaco e a saturação de oxigênio (SatO2) pelo oxí- metro de pulso; • A ventilação pulmonar é o procedimento mais simples, importante e efetivo na rea- nimação do RN; • Balão autoinflável: baixo custo e não preci- sa de fonte de gás. Não dá PEEP confiável e não permite CPAP; • Ventilador Mecânico Manual em T: fácil de usar oferece PEEP e CPAP. Precisa de fonte de gás pressurizada e tem custo mais elevado; • Recomenda-se o uso do Ventilador Mecâ- nico Manual em T se o nascimento ocorrer em local com infraestrutura; • 40 a 60 movimentos/minuto; • Pressão suficiente para normalizar a FC; • Não usar insuflação sustentada (1ª ventila- ção > 5 segundos). oxigênio na ventilação • Considerar uso de oximetria de pulso para monitorar o uso de O2 suplementar; • RN termo: iniciar com ar ambiente; • RN pré-termo < 34 semanas: iniciar com 30%; • O uso de [O2] > 60% é extremamente raro e deve ser desencorajado; • Titular a fração inspirada de gás de acordo com a monitoração de SatO2 pré-ductal re- comendada; • Diante da não melhora com ventilação em 30%, SEMPRE corrigir a técnica antes de aumentar a [O2]; • Nos pacientes em que há necessidade de aumento de O2, fazer incrementos de 20% e aguardar cerca de 30 segundos para veri- ficar a SatO2 e indicar novos incrementos. intubação traqueal e Conduta no rn Com líquido meConial • Ventilação com máscara não efetiva/pro- longada; • Necessidade de massagem cardíaca; • Suspeita ou presença de hérnia diafrag- mática; • Não existem evidências para indicar de modo rotineiro a aspiração sob visualiza- ção direta do RN não vigoroso com líquido amniótico meconial (ILCOR/2015). Assim, no RN com líquido amniótico meconial que apresenta apneia, respiração irregular e/ou FC < 100 bpm, iniciar a VPP com máscara facial e ar ambiente nos primeiros 60 segundos de vida. Se após 30 segundos de ventilação efetiva, o neonato não melho- ra e há forte suspeita de obstrução de vias aéreas, pode-se indicar a retirada do me- cônio residual da hipofaringe e da traqueia sob visualização direta. A aspiração tra- queal propriamente dita é feita através da cânula traqueal conectada a um dispositivo para aspiração de mecônio e ao aspirador a vácuo, com uma pressão máxima de 100 mmHg. Nessa situação, aspirar o excesso de mecônio uma única vez. massagem CardíaCa • A massagem cardíaca é iniciada se a FC es- tiver < 60 bpm após 30 segundos de VPP com técnica adequada por meio da cânula traqueal e uso de concentração de oxigênio de 60-100%; • Massagem coordenada à ventilação – 3:1 (intubado); • A única situação em que se pode conside- rar a aplicação de 15 compressões cardíacas _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 18 16/08/2016 11:12:56 19 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 intercaladas com 2 ventilações é a do pa- ciente internado em unidade neonatal, cuja origem da parada cardiorrespiratória é pro- vavelmente cardíaca, como nos portadores de cardiopatias congênitas; • Terço inferior do esterno; • Técnica dos 2 polegares (sobrepostos) com as mãos envolvendo o tórax é a mais efetiva para manter o débito cardíaco; • Equipe: quem massageia fica atrás do RN e quem ventila se desloca para o lado; • Deve-se aplicar a massagem cardíaca coor- denada à ventilação por 60 segundos, antes de reavaliar a FC, pois este é o tempo míni- mo para que a massagem cardíaca efetiva possa restabelecer a pressão de perfusão coronariana. mediCações • O uso de adrenalina está indicado se FC < 60 bpm após 30 segundos de ventilação com insuflação pulmonar por cânula tra- queal e mais 60 segundos de massagem cardíaca coordenada com a ventilação e O2 a 100%; • Uma dose endotraqueal de adrenalina pode ser feita, mas se não houver melhora ime- diata, administrar a 2ª dose por cateter um- bilical venoso. O cateter venoso umbilical deve ser inserido de emergência e, assim que houver indicação do uso de medica- ções na sala de parto. Introduzir o cateter na veia e progredir apenas 1-2 cm após o ânulo, mantendo-o periférico, de modo a evitar sua localização em nível hepático; • Quando não há reversão da bradicardia com a adrenalina endovenosa, assegurar que a VPP e a massagem cardíaca estão adequadas, repetir a administração de adrenalina a cada 3-5 minutos (sempre por via endovenosa) e considerar o uso do ex- pansor de volume. transporte do rnpt da sala de parto à unidade neonatal • Para qualquer RNPT < 34 semanas, transfe- rir do centro obstétrico à unidade neonatal em incubadora de transporte de dupla pa- rede. Manter a temperatura da incubadora entre 35-37ºC. O saco plástico que envolve o corpo do paciente e a dupla touca (plás- tica e de algodão ou lã) devem ser manti- dos durante o transporte e retirados após a chegada ao destino, quando já houver esta- bilidade térmica, com a temperatura axilar entre 36,5 e 37,5ºC; • O RNPT, após sua estabilização ao nasci- mento, pode se encontrar em três diferentes situações em relação ao suporte respirató- rio: 1) O paciente está com FC > 100 bpm, respiração rítmica e regular e em ar am- biente, com SatO2 nos limites desejáveis. Nesse caso, não há necessidade de suporte respiratório, devendo-se ter cuidado com a permeabilidade de vias aéreas durante o transporte; 2) O paciente está com FC >100 bpm e respiração espontânea, mas com desconforto respiratório e/ou necessitan- do de oxigênio suplementar para manter a SatO2 nos limites desejáveis. Nesse caso, há indicação de transporte em CPAP por máscara facial; 3) O paciente está com FC > 100 bpm, mas com respiração irregular ou ausente ou, ainda, a equipe fez a opção de manter a cânula traqueal durante o trans- porte. Nesse caso, o suporte respiratório deve ser feito com ventilador mecânico/ ventilador mecânico manual em T conec- tado à cânula traqueal. Para as duas últimas situações, deve ser ofertada a menor con- centração possível de oxigênio, de manei- ra a manter a SatO2 nos limites desejáveis. O ventilador deve ser ajustado com fluxo de 5-10 l/minuto (ventilador mecânico) ou 5-15 L/minuto (ventilador manual em T), pressão inspiratória de 15-20 cmH2O, _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 19 16/08/2016 11:12:56 20 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 PEEP ao redor de 5 cmH2O, frequência res- piratória de 40-60 movimentos/minutos. reanimação prolongada – quando interromper • Apgar = zero aos 10 minutos é um forte preditor de mortalidade e morbidade em RN termo e pré-termotardio; • Em RN com Apgar = zero após 10 min. de reanimação, se a frequência cardíaca não é detectada, é razoável interromper a reani- mação; • Entretanto, a decisão de continuar ou in- terromper a reanimação precisa ser indi- vidualizada. aspeCtos étiCos da assistênCia ao rn na sala de parto • -No que concerne à prematuridade, uma das controvérsias mais importantes refere- -se à decisão de não iniciar a reanimação na sala de parto. Os dados disponíveis indicam que, em geral, recém-nascidos com menos de 23 semanas de gestação são muito ima- turos para sobreviver com a tecnologia atual e a oferta de cuidados para esse grupo de neonatos, que não sejam os de conforto, não parece ser razoável na maioria dos pa- íses desenvolvidos. Tais pacientes precisam ser recepcionados por uma equipe apta a fornecer cuidados paliativos ao concepto e apoio à mãe, ao pai e à família. Já os recém- -nascidos com 25 semanas ou mais de idade gestacional apresentam taxas significativas de sobrevida e, em grande proporção, sem sequelas graves, sendo justificada a máxi- ma intervenção nesse grupo em termos de reanimação na sala de parto. O problema maior se concentra naqueles que nascem entre 23 e 24 semanas de idade gestacional, sendo tal intervalo crítico e polêmico, pois suscita dúvidas éticas a respeito de como proceder. Esse período é referido como “zona cinzenta”, pois a sobrevivência e o prognóstico são incertos e há dúvida sobre qual a melhor conduta a ser adotada e so- bre o grau de investimento e intervenção a ser feito. Os desejos da família precisam ser ouvidos, de preferência e quando possível antes do nascimento, pela equipe multipro- fissional que atende à gestante, o que inclui a conversa do pediatra com a família. • Para o RN ≥ 34 semanas, o aspecto ético controverso só se coloca diante de mal- formações congênitas letais ou potencial- mente letais. Nesses casos, é necessário ter a comprovação diagnóstica antenatal e considerar a vontade dos pais e os avanços terapêuticos existentes para decidir quanto à conduta em sala de parto. A possibili- dade de reanimação deve ser discutida de preferência antes do parto, mas a decisão final, diante das incertezas acima mencio- nadas, é feita no momento do nascimento. Se não houver certeza quanto à decisão de não reanimar o RN, todos os procedimen- tos necessários devem ser feitos de acordo com o fluxograma da reanimação neonatal (Figura 3.1). Bicarbonato de sódio, naloxone e vasopres- sores não são recomendados na reanimação. Só administrar se o neonato estiver ventilado de maneira efetiva. Indicado de modo excep- cional quando não houver resposta às outras medidas terapêuticas. boletim de apgar Em 1953, a anestesista Virginia Apgar, desen- volveu um boletim para objetivar a condição de nascimento do concepto a partir de 5 pa- râmetros clínicos: frequência cardíaca, regula- ridade da respiração, tônus muscular, reflexos e coloração da pele. Estes parâmetros são até hoje utilizados mundialmente e expressam o grau de anoxia que o recém-nascido esteve submetido, classificando a anoxia em grave _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 20 16/08/2016 11:12:56 21 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 Figura 3.1 – Reanimação neonatal em sala de paRto. diRetRizes 2016 da sociedade BRasileiRa de pediatRia. Gestação a termo? Respirando ou chorando? Tônus muscular em flexão? Prover calor Posiconar cabeça Aspirar vias aéreas s/n Secar Cuidados de rotina junto à mãe: prover calor, manter vias aéreas pérvias e avaliar a vitalidade de maneira contínua FC < 100 bpm, apneia ou respiração irregular? Desconforto respiratório? FC <100 bpm? FC < 60 bpm? FC < 60 bpm? Ventilação com pressão positiva Monitorar SatO2 Considerar ECC para avaliar FC Monitorar SatO2 pré-ductal Considerar CPAP Garantir adaptação face/máscara Assegurar ventilação adequada com movimento do tórax Considerar intubação Intubação traqueal Massagem cardíaca coordenada com ventilação adequada (3:1) Considerar O2 a 100% Monitorar FC com ECG Considerar cateterismo venoso Adrenalina endovenosa Considerar hipovolemia Minutos de vida SatO2 pré-ductal até 5 70-80% 5-10 80-90% > 10 85-95% Nascimento 60 segundos (Golden minute) Manter normotermia Não Não SimSim Sim Sim Sim _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 21 16/08/2016 11:12:56 22 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 (Apgar 0,1,2,3), moderada (Apgar 4,5,6) e leve (Apgar 7). É importante salientar que o boletim de Apgar não deve ser utilizado para indicar o início das manobras de reanimação pois estas devem ser instituídas tão logo o recém-nascido não estabeleça movimentação respiratória eficien- te e regular. O boletim, entretanto é útil para avaliar a resposta do neonato às manobras de reanimação no 10 no 5 0 minutos de vida e se necessário no 10 0 , 15 0 e 20 0 minutos. referênCias bibliográfiCas 1. American Heart Association, American Acade- my of Pediatrics. Textbook of Neonatal Ressus- citation. 7. ed. USA, 2015. 2. Apgar V. A proposal for a new method of evalua- tion of newborn infant. AesthAnalg 32: 260, 1953. Tabela 3.1 – MEDICAçõES PARA REANIMAçãO NEONATAl NA SAlA DE PARTO adrenalina endovenosa adrenalina endotraqueal expansor de volume Diluição 1:10.000 1 ml adrenalina 1:1000 em 9 ml de SF 0,9% 1:10.000 1 ml adrenalina 1:1000 em 9 ml de SF 0,9% SF 0,9% Preparo 1 ml 5 ml 2 seringas de 20 ml Dose 0,1 - 0,3 ml/kg 0,5 - 1,0 ml/kg 10 ml/kg EV Peso ao nascer 1 kg 0,1 - 0,3 ml/kg 0,5 - 1,0 ml/kg 10 ml/kg EV 2 kg 0,2 - 0,6 ml/kg 1,0 - 2,0 ml/kg 20 ml/kg EV 3 kg 0,3 - 0,9 ml/kg 1,5 - 3,0 ml/kg 30 ml/kg EV 4 kg 0,4 – 1,2 ml/kg 2,0 - 4,0 ml/kg 40 ml/kg EV Velocidade e precauções Infundir rápido na veia umbilical e, a seguir, infundir 0,5-1,0 ml de SF 0,9% Infundir diretamente na cânula traqueal e ventilar a seguir. USO ÚNICO Infundir o expansor de volume na veia umbilical lentamente, em 5 a 10 minutos Tabela 3.2 – BOlETIM DE APGAR (MODIFICADO) Sinal 0 1 2 Frequência cardíaca Ausente < 100 >100 Respiração Ausente Irregular Choro forte Tônus muscular Flacidez Alguma flexão de extremidades Boa movimentação Reflexos (estímulo nasal) Ausente Algum movimento Espirros Cor Cianose e/ou palidez Corpo róseo e extremidades cianóticas Róseo _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 22 16/08/2016 11:12:56 23 ClassifiCação Tabela 4.1 – ClassifiCação quanto à gravidade Gravidade Traumatismo tipo i – leve escoriações, adiponecrose, ferimentos cortocontusos de partes moles, fratura de clavícula, hemorragia subconjuntival, Baudeloque (marca de fórcipe) tipo ii – moderado Paresia: braquial, facial, céfalo-hematoma, trauma do esternocleidomastoideo, paralisia unilateral de cordas vocais tipo iii - grave Hemorragia intracraniana, rotura de vísceras, fratura face, crânio, ossos longos, paralisia: diafragma, facial, braquial CaraCterístiCas ClíniCas e manejo Tabela 4.2 – lesões de Partes moles lesão Fatores de risco Quadro clínico Conduta atenção Hematomas Parto fórcipe, extração a vácuo, posição pélvica edema e hematoma se grandes, observar ↑ bilirrubina reavaliação de icterícia, após a alta Petéquias Posições defletidas face e pescoço, não progressivas observação afastar coagulopatias s/n adiponecrose Parto traumático nódulos/placas firmes e endurecidas, eritemato- sos ou azulados autolimitado; resolução em até seis a oito semanas Pode ocorrer hiper- calcemia lacerações Parto cesárea escalpo e face são mais comuns Curativo comum, com aproximação; plástica s/n se ocorrer em face ou periocular tocotraumatismo francisco Paulo martins rodrigues 4 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 23 16/08/2016 11:12:56 24 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 4 Tabela 4.3 – lesões extraCranianas lesão Fatores de riscoQuadro clínico Conduta atenção Bossa expulsivo prolongado, extração a vácuo tumefação do escalpo sobre o periósteo, sobre as linhas de sutura observar se sanguinolenta, pode levar a ↑ bilirrubina Céfalo-hematoma Parto fórcipe ou extração a vácuo Coleção sanguínea subperiostal, que respeita as linhas de sutura regride em algumas semanas. Podem ocorrer calcificações, infecção as calcificações podem levar a deformidades ósseas. tC/rnm s/n Hemorragia subgaleal Parto traumático, parto fórcipe, extração a vácuo rotura venosa: sangra- mento entre o periósteo do crânio e a aponeurose. Progressivo, flutuante, pode ser móvel monitorar sinais vitais, seriar Ht e PC; afastar coagulopatias ↑ mortalidade se não controlado. tC/ rnm s/n lesões de face nasal Compressão contra a sínfise púbica materna narinas assimétricas e achatamento redução por otorrino ao terceiro dia desconforto respiratório obstrutivo ocular Parto traumático leve (hemorragia sub- conjuntival ou retiniana, edema palpebral) ou grave (hifema, hemorragia vítrea, fratura órbita) se leve, aguardar resolu- ção. se grave, avaliação oftalmológica Tabela 4.4 – lesões intraCranianas lesão hemorrágica Fatores de risco Quadro clínico Conduta atenção subdural (é a mais comum) Parto fórcipe, extração a vácuo entre a dura-máter e a m. subaracnóidea. sintomas nas 24 – 48 h: depressão respi- ratória, apneia e convulsões; irritabilidade, hipotonia, ↓ nível de consciência tC. Cirurgia se sinais de hipertensão intra- craniana. fenobarbital se convulsão Hipertensão intracra- niana pode ocorrer, principalmente, se fossa posterior (menor plasticidade local do crânio) subaracnóidea (segunda mais comum) Parto fórcipe, extração a vácuo rotura venosa no espaço subaracnóideo, sintomas nas 24 – 48 h: dep. respiratória, apneia, convulsões tC raramente hidrocefalia por obstrução (coágulos) epidural (rara) Parto fórcipe, extração a vácuo entre a dura e a tábua óssea, lesão arterial (meníngea mé- dia). Hipotonia e convulsões tC; monitorar sinais vitais e de hipertensão intracraniana. em geral, tratamento conservador Potencialmente letal, pelo sangramento arterial intraventricular Parto fórcipe, extração a vácuo em geral, assintomática, a não ser em prematuridade, asfixia ou distúrbio de coagulação observação. monitorar PC Hidrocefalia por obstru- ção (coágulos) Parenquimatosa (rara) Parto fórcipe, extração a vácuo Cerebral ou cerebelar, em geral, assintomática afastar distúrbios de coagulação Pode haver sequelas neurológicas tardias _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 24 16/08/2016 11:12:56 25 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 4 Tabela 4.5 – fraturas Fratura Fatores de risco Quadro clínico Conduta atenção Clavícula (mais comum) Parto fórcipe, extração a vácuo, distócia de ombro, macrossomia Completa (desviada) ou incompleta. assimetria, ↓ movimento, dor à palpação, crepitação rx. analgesia e imobilização (com malha tubular, ao longo do tórax, com flexão de cotovelo a 90 graus) s/n em geral resolução espontânea Úmero macrossomia, baixo peso ao nascer, distócia de ombro, parto cesárea Principalmente 1/3 proxi- mal, com ↓ movimentos, moro incompleto, dor, edema, crepitação rx, diferencial com lesão de plexo, usg s/n. imobilização (como na de clavícula) em todos os casos imobilização inadequa- da pode gerar deformi- dades de rotação fêmur (rara) gemelaridade, posição pélvica, prematuridade, osteoporose 1/3 Proximal, em espiral. inicialmente assintomática, evolui com dor progressiva rx. Pode ser usado suspensó- rio de Pavlik uso inadequado do suspensório pode gerar necrose da cabeça do fêmur Crânio Parto fórcipe em geral, assintomática se não estiver relacionada a sangramentos intra- cranianos rx e tC para avaliar extensão e sangramentos. intervenção cirúrgica se necessário atenção para sinais de lesão vascular associada Tabela 4.6 – lesões intra-aBdominais lesão Fatores de risco Quadro clínico Conduta atenção intra-abdominal fígado Baço adrenal Parto fórcipe, extração a vácuo na hemorragia subcap- sular leve, taquipneia, dificuldade alimentar e taquicardia usg (triagem). tC ou rnm s/n. afastar coagulopatias Perda sanguínea, pode evoluir para o choque. laparotomia se instabilidade Tabela 4.7 – lesões neurológiCas lesão neuro- lógica Fatores de risco Quadro clínico Conduta atenção Plexo braquial (mais comum) obesidade, diabetes gestacional, macrosso- mia, posição pélvica, distócia ombro ↓ movimentos, reflexo de moro incompleto, síndrome de Horner pode estar presente afastar fraturas. reso- lução espontânea na maior parte dos casos 15 – 20% persistem, mesmo com fisioterapia. discutir cirurgia facial Parto fórcipe, macrosso- mia, prematuridade ↓ movimentos unilateral, perda do sulco nasolabial, fechamento parcial do olho afetado, “boca caída”, desvio de rima para o lado são diferencial com síndro- mes. em geral, resolução espontânea em duas semanas. assegurar aos pais da benignidade laríngeo Parto fórcipe, extração a vácuo Paralisia de cordas vocais – uni ou bilateral –, com choro fraco ou ausente, disfagia nasofibrolaringoscopia ou laringoscopia direta para diagnóstico fisioterapia, fonoaudio- logia, cirurgia s/n frênico Parto fórcipe, extração a vácuo desconforto respiratório, respiração paradoxal rx de tórax. afastar cardio ou pneumopatia associação: lesão de plexo braquial medula espinhal Parto fórcipe, apresenta- ção pélvica em geral, mais proximal, pela rotação usg (triagem), rnm _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 25 16/08/2016 11:12:56 26 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 4 referênCias bibliográfiCas 1. Alexander, J.M.; Leveno, K.J.; Hauth, J. et al. Fetal injury associated with cesarean delivery. Obstet Gynecol 2006; 108:885. 2. Borgia, F.; De Pasquale, L.; Cacace, C. et al. Sub- cutaneous fat necrosis of the newborn: be awa- re of hypercalcaemia. J Paediatr Child Health 2006; 42:316. 3. Gomella, T.L.; Cunningham, M.D.; Eyal, F.G.; Zenk, K.E. Parto traumático. In: Neonatologia: manejo, procedimentos, problemas no plantão e farmacologia neonatal. Tradução Oliveira, M. G. 5. Ed. Porto Alegre: Artmed; 2006, p. 384-91. 4. Rosenberg, A. Traumatic birth injury. NeoRe- views 2003; 4:270. 5. Uhing, M.R.; Management of birth injuries. Pe- diatr Clin North Am 2004; 51:1169. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 26 16/08/2016 11:12:56 O Recém-nascidO e cOndições especiais Parte 1 – Balanço Hídrico, Seus Distúrbios e Nutrição seção 2 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 27 16/08/2016 11:12:56 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 28 16/08/2016 11:12:56 29 O balanço hídrico no RN está relacionado ao conteúdo de água corporal, intensidade de perda hídrica e volume de líquidos adminis- trados. Essas variáveis se alteram de acordo com a idade gestacional e pós-natal. Perda hídrica insensível (PHI): perda de água por evaporação da pele e trato respirató- rio; expressa em relação à superfície corpórea e ao peso; inversamente proporcional ao peso de nascimento e idade gestacional. • Devemos acrescentar 10 mL a 20 mL/kg/ dia até 150-170 mL/kg/dia. • Iniciar aporte proteico e lipídico dentro das primeiras 24 hs de vida. • Umidificação da incubadora: Indicada nos prematuros, manter em torno de 80 a 90% na primeira semana de vida, sendo re- duzida gradativamente a partir da segunda semana conforme controles de DU, diurese, peso e balanço hídrico chegando ao basal em torno de 50 a 60%. Balanço Hídrico e Distúrbios Hidroeletrolíticos e Metabólicos Beatriz Helena de Morais Miioni Clery Bernardi Gallacci Mara Silvia Battaglini Sanchez Victoria Catarina de Albuquerque Melo 5 Fatores que aumentam a pHi Fatores quediminuem a pHi · Aumento da ventilação-minuto (cardiopatia congênita, disfun- ção pulmonar, acidose metabólica) · Temperatura ambiental acima da zona térmica neutra e temperatura corpórea elevada · Perda da continuidade cutânea · Defeitos congênitos (gastrosquise, onfalocele) · Fototerapia · Aumento da atividade motora e choro · Perda de líquor · Perda pelas fezes · Sonda gástrica aberta · Aumento da umidade ou pressão de vapor de água no gás inspirado · Aumento da umidade ambiental · Cobertura plástica · Membrana semipermeável e agentes tópicos Tabela 5.1 – ESquEMA DE HiDrATAção no 1o DiA DE ViDA idade gestacional aporte de líquido Glicose sódio potássio rnT 70 mL/kg/dia 4 a 6 mg/kg/min - - rnPT 80 mL/kg/dia 3 a 5 mg/kg/min - - _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 29 16/08/2016 11:12:57 30 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 5 ElEtrólitos sódio potássio · rn > 1.500 g: 3 a 5 mEq/ kg/dia a partir de 48 hv · rn < 1.500 g: somente oferecer 2 a 3 mEq/kg/ dia quando na sérico se aproximar a 130 mEq/L · 1 a 3 mEq/kg/dia após 48 hv · Prematuros extremos: risco de hipercalemia; retardar a infusão desse íon · Aumentar a oferta se K < 3 mEq/L · reduzir a oferta se K > 5,5 mEq/L HipoglicEMia nEonatal DEfinição Não existe um valor pelo qual definimos hipo- glicemia. O ideal é que a glicemia plasmática nas primeiras 4 horas de vida esteja acima de 40 mg/dL (fase de adaptação do RN) e entre 4 e 24 horas de vida acima de 45 mg/dL. ManifEstaçõEs clínicas · Apneia · Taquipneia, taquicardia · Tremores · Hipotonia, letargia, estupor · Sucção débil · Hipotermia · irritabilidade · Crises de cianose · Choro débil · Convulsões · Apatia · Sudorese causas Diminuição da produção de glicose Prematuridade, rCiu, PiG, ingestão calórica insuficiente, demora no início da ali- mentação Aumento na utilização e/ou na diminuição da produção Estresse perinatal: asfixia sepse, choque, hipotermia e desconforto respiratório. Exsanguineotransfusão com sangue heparinizado, erro inato do metabolismo de carboidrato ou aminoácidos, deficiência endócrina, policitemia, uso materno de betabloqueadores QuEM E QuanDo triar rn filho de mãe DMG e GiG 1ª, 3ª, 6ª hora de vida e após de 8/8 h pré-mamada Manter por mais de 24 hs se Dx < 45 mg/dL rnPT tardio, PiG, filho de mãe usuária de betabloqueador 3ª, 6ª hora de vida e após de 8/8 h pré-mamada Manter por mais de 24 hs, se < 45 mg/dL nos PiG manter controle por 48 h nos PT tardios avaliar mamadas e Dx para suspensão do mesmo trataMEnto Iniciar aleitamento materno o mais precoce possível, de preferência na primeira hora de vida. Objetivo é manter controle glicêmico acima de 45 mg/dL. RN sintomáticos Considerar hipoglicemia quando Dx < 40 mg/ dL e iniciar infusão contínua de glicose (VIG 6-8 mg/kg/min). Checar glicemia capilar após 30 min, se persistir sintomático aumentar VIG de 2 em 2 mg/kg/min. Após estabilização, manter controles de glicemia a cada 8 horas. Nos casos de crises convulsivas realizar push de glicose a 10% 2 mL/kg em bolus. RN filho de mãe com DMG Considerar hipoglicemia quando Dx < 40 mg/ dL, estimular o aleitamento materno e ofere- cer complemento, repetir dextro em 30 min. Encaminhar a UTI neonatal se mantiver Dx < 40 mg/dL e iniciar infusão de glicose endove- nosa (VIG 6-8 mg/kg/min). Realizar controle de glicemia após 30 min, se Dx < 40 mg/dL, aumentar VIG de 2 em 2 mg/kg/min. Após estabilização, manter controles de glicemia a cada 8 horas. Nos casos de diabetes insulinodependentes ini- ciar a correção da hipoglicemia com glicose EV. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 30 16/08/2016 11:12:57 31 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 5 Hipoglicemia persistente Duração maior que 5 a 7 dias, com impossibi- lidade de retirada da glicose endovenosa. Investigar hiperinsulismo, desordens endócri- nas e erros inatos do metabolismo. Quando houver a necessidade de administrar infusão de glicose acima de 12 a 14 mg/kg/ min, colher glicemia, cortisol, GH, insulina séricas e solicitar avaliação endocrinológica. Se, mesmo com essa infusão, não se obtiver elevação da glicemia, iniciar: corticostEroiDEs • Hidrocortisona: 5 mg/kg/dia EV cada 8 a 12 h. • Prednisona: 1 a 2 mg/kg/dia VO cada 12 h. Não havendo resposta, pode-se utilizar, na sequência: • Glucagon: 0,3 mg/kg EV ou IM. Pode-se repetir após 6 a 12 h (máx 1 mg). • Epinefrina: utilização limitada devido a alterações cardiovasculares; 0.1 mL/kg (1:10.000) SC. • Diazóxido: reservado pela sua potente ação hipotensora, 10 a 25 mg/kg/dia VO a cada 8 a 12 h. Efeito colateral: hirsutismo, edema, náuseas. • Somatostatina (octreotide): utilizado em hiperinsulinismo persistente, 20 a 50 mcg SC a cada 6 a 8 h. Efeito colateral: vômitos, hepatite, diarreia. Se Dx > 45 mg/dL, manter VIG 12 mg/kg/min e corticosteroide por 24 h. Reduzir a VIG 1 ponto cada 12 h até VIG 6, após passar para VIG 4 e reduzir gradualmente nas 4 a 6 h se- guintes. Obs.: se a insulina tiver valores maiores que 10 mcU/mL em vigência de hipoglicemia e/ou a relação insulina/glicose for maior que 0.3 a 0.5 sugerem hiperinsulinemia. Fórmula para o cálculo da VIG (velocidade de infusão de glicose): Quantidade de glicose (g) = VIG ´ peso (kg) ´ 1.440 (n° de minutos do dia) 1.000 HipErglicEMia nEonatal DEfinição Glicemia plasmática > 150 mg/dL. ManifEstação clínica • Glicosúria com diurese osmótica e desidrata- ção podem ser observadas em alguns casos. RN assintomático FiGuRa 5.1 – Fluxograma - tratamento no rn assintomático. Do nascimento até 4 hs de vida iniciar amamentação na 1ª hv realizar 1º Dx 30 min após primeira mamada Dx < 25 mg⁄dL → amamentar e novo dextro em 1 hora se Dx < 25 mg⁄dl Glicose EV (ViG 4-6 mg/kg/min) Aumento da ViG 2-2 mg/kg/min, se Dx < 40 mg/dL se Dx 25-40 mg⁄dl Manter aleitamento e complemento Controle de sintomas e Dx 3/3 h pré-mamada se Dx < 35 mg⁄dl Glicose EV (ViG 4-6 mg/kg/min) Aumento da ViG 2-2 mg/kg/min, se Dx < 40 mg/dL se Dx 35-40 mg⁄dl Manter aleitamento e complemento Controle de sintomas e Dx 3/3 h pré-mamada De 4 hs até 24 hs de vida iniciar amamentação na 1ª hv Amamentar cada 2-3 h Dx < 35 mg⁄dL → amamentar e novo dextro em 1 hora _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 31 16/08/2016 11:12:57 32 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 5 fatorEs DE risco para HipErglicEMia · iatrogenia (excesso de oferta de glicose) · Prematuridade extrema · rCiu · BP principalmente <1000g · Diabetes mellitus neonatal: geralmente transitório · Sepse · Ausência de alimentação en- teral (↓ secreção de incretina – ↓ secreção de insulina) · uso de teofilina, corticosteroi- des, metilxantinas · Defeitos do metabolismo (galactosemia, frutosemia) · Pós-operatório (estresse, dor) trataMEnto • Reduzir a infusão de glicose (2 mg/kg/min) a cada 4 a 6 h, progressivamente, com con- troles de glicemia plasmá tica e/ou capilar; redução mais rápida se glicose > 200 mg/ dL. Caso persista hiperglicemia (> 250 mg/ dL), avaliar o uso de: • Insulina regular – 0,1 UI/kg EV em 15 a 20 min (se hi- perglicemia com glicosúria e desidra- tação); – 0,01 a 0,1 UI/kg/hora EV contínua ou 0,1 a 0,2 UI/kg SC a cada 6 a 8 h; – Diluir a insulina em soro fisiológico. • Administração precoce de aminoácidos (NPP) em RNMBP logo ao nascimento - ↑ liberação de insulina. coMplicaçõEs • Alterações no balanço hidroeletrolítico (glicosúria e diurese osmótica). • Hemorragia peri e intraventricular (devido ao aumento da osmolaridade sérica). HipocalcEMia DEfinição • Ca total sérico < 8 mg/dL recém-nascido de termo; • Ca total sérico < 7 mg/dL recém-nascido pré-termo; • Ca ionizável < 4,4 mg/dL em RNT e RNPT. ManifEstaçõEs clínicas · Tremores · Apneia · Cianose · Letargia · recusaalimentar · Vômitos · Distensão abdominal · Hiperatividade neuromuscular · Convulsões · Espasmos · Choro estridente fatorEs DE risco · início precoce - Prematuridade - rn de mãe diabética - Asfixia · início tardio - Hipoparatireoidismo secundário: hiperparatireoidismo mater- no, hipocalciúria hipercalcêmica materna, hipomagnesemia - Hipoparatireoidismo primário: hipoparatireoidismo congênito transitório, sd. de Di George, familiar, pseudo- -hipoparatireoidismo - Deficiência de vitamina D: terapia anticonvulsivante materna, dieta, má absorção, insuf. renal, hepatopatia - Hiperfosfatemia: fórmula a base de LV, administração ↑ fosfato trataMEnto sintomática com convulsões ou apneia assintomática e/ou manutenção · GluCa 10%: 1 a 2 mL/kg (100 a 200 mg/kg = 0,5 a 1 mEq/kg) EV em 5 a 10 minutos · Manutenção com 200 mg/ kg/dia até normalização · Alimentação enteral precoce · GluCa 10%: - 1 a 2 mL/kg/dia EV diluído no soro de manutenção ou - Vo dividido em 4 tomadas · Hipoparatireoidismo: cálcio oral + vitamina D *Evitar infusão de cálcio em veia periférica. HipErcalcEMia DEfinição • Ca total sérico > 11 mg/dL (2.7 mMol/L); • Ca ionizável > 5,5 mg/dL (1.2 mMol/L). QuaDro clínico · Letargia · irritabilidade · Dispneia · Poliúria · Vômitos · Hipertensão · Convulsão · nefrocalcinose · Desidratação · Constipação _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 32 16/08/2016 11:12:57 33 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 5 Etiologia · Hiperparatireoidismo neonatal (transitório /permanente) · Hipoparatireoidismo materno · Suplementação excessiva de cálcio · Suplementação excessiva de vitamina D · Síndrome de Willliams · Hipercalcemia hipocalciúrica familiar · Depleção de fosfato · Hipervitaminose A · uso de diuréticos tiazídicos · Hipertireoidismo · insuficiência adrenal · necrose de gordura subcutânea · intoxicação por alumínio · Hipofosfatemia · Condrodistrofia primária (displasia metafisária) trataMEnto · Controle das causas subjacentes específicas · Suplementação de fosfato: 0,5 a 1 mMol de fósforo elementar/kg/dia ou 30 a 50 mg/kg/dia · Casos agudos: expansão do extracelular com SF 0,9% 10 a 20 mL/kg seguido da infusão EV de diurético cíclico (por exemplo, furose- mida 2 mg/kg), podendo ser repetida a cada 4 a 6 horas HipErcalEMia DEfinição Potássio sérico > 6 mEq/L ManifEstaçõEs clínicas Arritmias cardíacas - onda T apiculada, QRS alargado, bradicardia, taquicardia, TSV, TV e FV. Etiologias · Acidemia · Hipertonicidade · Deficiência de insulina · necrose celular · ingestão aumentada de potássio · Disfunção renal · rn prematuros com asfixia · Hipoaldosteronismo · não resposta tubular a aldosterona · Trombocitose, leucocitose, amostra sanguínea com lise celular · Hemorragia intracraniana · Transfusão sanguínea · Hiperplasia adrenal congênita trataMEnto droga dose início ação duração Observações Glucona- to de Ca 10% 1 a 2 mL/kg ime- diato Minutos EV em 5 min com monitori- zação ECG naHC03 1 a 2 mEq/kg 15 a 30 min Horas EV 10 a 30 min Glicose (insulina) 0,5 a 1 g/kg (0,1 u/kg) 30 a 60 min Horas EV 15 a 30 min (EV ou SC) Furose- mida 1 a 4 mg/kg 15 min a 1 h resinas trocado- ras de K (kayexa- late ou sorcal) 1 a 2 horas 4 a 6 horas Vo ou enema, diluído em SG 5% (dilui- ção: 15 g/60 mL): 2 a 4 mL/ kg com 1 a 2 h de reten- ção, 6/6 h HipocalEMia DEfinição K sérico < 3,5 mEq/L. ManifEstaçõEs clínicas (QuanDo K < 2,5 mEq/l) · Sonolência, irritabilidade, confusão mental, podendo até entrar em coma · Fraqueza muscular, diminui- ção dos ruídos hidroaéreos e distensão abdominal · Depleção do segmento ST e diminuição da amplitude da onda T. quedas mais se veras: aumento da amplitude da onda P, prolon- gamento Pr e alargamento do qrS Etiologia · Diuréticos · Diarreia · Disfunção renal · Drenagem por SnG · Baixo aporte de K · Alcalose · digoxina _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 33 16/08/2016 11:12:57 34 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 5 trataMEnto · Hipocalemia leve ou preventiva: KCl xarope 6% (0,8 mEq/mL) via oral na dose de 3 mEq/kg/dia a cada 6 horas · Correção rápida: não ultrapassar a velocidade de infusão de 0,3 a 0,5 mEq/ kg/h de KCl 19,1% em 4 a 6 horas · Manutenção no soro: 3 a 3,5 mEq/kg/dia em concentração máxima de 80 a 100 mEq/L HipoMagnEsEMia DEfinição Mg sérico < 1,5 mg/dL. ManifEstaçõEs clínicas (QuanDo Mg sérico < 1,2 mg/dl) · Hiperexcitabilidade neuro- muscular · Hipertonia muscular · Convulsões tônicas focais ou generalizadas · Cianose · Apneia fatorEs DE risco · rn de mãe diabética (hipo- calcemia neonatal e redução da função paratireoide). · rn com rCiu/PiG/prematuro · rn com hipocalcemia · rn submetido à exsangui- neotransfusão com sangue citratado · uso de anfotericina · Atresia de vias biliares · Hepatite neonatal · Diuréticos de alça e altas doses de aminoglicosídeos · Hiperfosfatemia · Hiperparatireoidismo materno · Hipoparatireoidismo · ressecção intestinal, principalmente jejunoileal trataMEnto assintomático sintomático · reposição oral ou aumento do aporte venoso · Sais de sulfato, gluconato, cloreto ou citrato – 100 a 200 mg/kg/dia a cada 6 a 8 h · MgSo4 50% – 0,25 mL/kg EV ou iM a cada 8 ou 12 h · MgSo4 50% – 25 a 50 mg/kg EV em 1 minuto se fibrilação ventricular, tetania ou convulsões Antídoto: GluCa 10% – 100 a 200 mg/kg se houver hipo- tensão ou arritmia cardíaca durante infusão do Mg HipErMagnEsEMia DEfinição Mg sérico > 2,8 mg/dL (1,15 mMol/L). ManifEstaçõEs clínicas · na maior parte das vezes, é assintomática · Depressão neuromuscular com letargia, flacidez, déficit sucção, depressão respiratória e atraso na eliminação de mecônio Etiologia · Prematuridade · Asfixia neonatal · Administração de sulfato de Mg à mãe (eclâmpsia/pré-eclâmpsia) · Terapia neonatal com Mg: nPP prolongada, reposição no soro, enemas, antiácidos trataMEnto · GluCa 10% 100 a 200 mg/kg EV: funciona como antídoto · Diurético de alça + hidratação adequada para aumentar a excreção de Mg · Diálise peritoneal/hemodiálise em casos graves refratários · Assistência cardiorrespiratória HiponatrEMia DEfinição Na sérico < 130 mEq/L. fatorEs DE risco · Administração excessiva ou retensão de água livre · Síndrome do desconforto respiratório · Hiperbilirrubinemia · necrose tubular aguda · Policitemia · Baixo aporte de na na alimentação · Drogas: furosemida, dopamina, tolazolina, PGE2 e aminofilina · injúria ao SnC causando SSiHAD (síndrome da secreção inapropriada de hormônio antidiurético) · Diarreia e vômitos · Hidrocefalia com derivação externa · Hiperplasia congênita de adrenal trataMEnto Se sintomatologia ou se Na< 120 mEq/L. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 34 16/08/2016 11:12:57 35 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 5 Déficit de Na (mEq ) = peso (kg) ´ 0,6 ´ (130 - Na desejado) • Agudos Na desejado = 130. • Crônicos Na desejado = 120. • Usar NaCl 3%; velocidade infusão de 5 mEq/kg/H (10 mL/kg/h) nas agudas e 2,5 mEq/kg/h (5 mL/kg/h) nas crônicas. Cor- rigir de 4 a 6 h. coMplicaçõEs Aumento brusco pode causar desmielinização osmótica da ponte à mielinólise central ponti- na: paraparesia, quadriplegia, disartria, disfa- gia e alte rações da consciência e coma. • Não elevar o Na mais que 12 mEq/L nas primeiras 24 h. • Diálise, se as medidas anteriores não forem eficientes. Diagnóstico DifErEncial DE HiponatrEMia no rn · insuficiência renal · insuficiência adrenal · Variante de Barther. no período intrauterino, ocorre polidrâmnio. no período neonatal, ocorre alcalose metabólica hipocalêmica, natriurese e hipercalciúria, podendo associar- -se a nefrocalcinose e osteopenia) HipErnatrEMia DEfinição Na sérico >150 mEq/L. fatorEs DE risco · Peso de nascimento < 1.500 g · iG < 28 semanas · rn sob fototerapia, calor irradiante, febre, hipertermia · rnMBP, recebendo glicose a 10% com glicosúria e diurese osmótica · Diarreia, causando desidra- tação · infusão de: bicarbonato de na, naCl, plasma, heparina, corti- costeroides e indometacina · Diabetes insipidus central e nefrogênico · Hiperaldosteronismo primário · Mediações: anfotericina, hidantoína, aminoglicosídeo trataMEnto · Expansão com 10 a 20 mL/ kg de solução isotônica · Aumento da oferta hídrica · Diminuição da oferta de na em 30% do que estava recebendo devido ao risco de edema celular · Casos graves (> 170 mEq/L): reposição venosa do déficit de água · não reduzir a natremia em mais 0,5 a 1 mEq/kg/h · Em paciente normovolêmico, acrescentar o déficit de H20 à hidratação de manutenção na forma de SG 5% com na de 20 a 30 mEq/L · reposição em 48 h · Tratar a causa básica Déficit de água (litros) = peso ´ 0,6 ´ [(Na - 140)/140] coMplicaçõEs Aumento do risco de hemorragia peri e intra- ventricular em RN prematuros. DistúrBios Do EQuilíBrio áciDo-BasE aciDosE MEtaBólica Definição Distúrbio provocado pela diminuição da con- centração sérica do bicarbonato com conse- quente diminuição do pH. Pode ocorrer com ânion gap aumentado ou nor mal. Ânion gap = (na sérico) - [(C1 sérico) + (HC03 sérico)] Valores normais: de 8 a 16 mEq/L. neonatos: déficit de base maior que - 8 a - 10 mMol/L. Em neonatos: déficit de base maior que - 8 a - 10 mMol/L Manifestações clínicas · Hiperventilação com hipocapnia (taquipneia compensatória) · Taquicardia · Distensão abdominal, íleo adinâmico e vômitos · Vasodilatação do território arterial e vasoconstrição venosa _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 35 16/08/2016 11:12:57 36 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 5 PCO2 esperado (mmHg) = (1,5 ´ bicarbonato) + 8 ± 2 Etiologia aumento ânion Gap Ânion Gap normal · Acidose láctica (asfixia, hipotermia, choque, sepse, síndrome do desconforto respiratório – SDr) · Erros inatos do metabolismo · Falência renal · Acidose metabólica tardia · Excesso de infusão de fluidos com cloro · Perda de bicarbonato renal (imaturidade, acidose tubular renal, inibidores da anidrase carbônica) · Perda gastrointestinal (ileostomia, fístula, diarreia) · Expansão do líquido extracelular · Deficiência de aldosterona Tratamento • Tratar o fator causal. • Se mantiver acidose metabólica e instabili- dade clínica ou hemodinâmica o bicarbo- nato deverá ser administrado se déficit de base maior que -8 a -10 mMol/1 e/ou pH < 7,25, desde que esteja adequadamente ven- tilado me cânica ou espontaneamente. • A dose de bicarbonato deverá ser calculada de acordo com a equação abaixo: Bicarbonato (mEq/L) = déficit base (BE) ´ 0,3 ´ peso (kg) Rn grave com quadro clínico evidente Rn mais estáveis com quadro clínico leve/moderado Rn prematuro com acidose metabólica compensada · Diluição do bicarbonato em 0,5 mEq/mL · infusão máxima de 1 mEq/kg/min · Tempo de administração de 30 a 60 minutos · Dose total: 2 mEq/kg · Diluir o bicarbonato em água destilada na proporção de 1:4 (isto é, na concen tração de 2%), com infusão durante 6 a 8 h. · infusão máxima: 1 mEq/kg/hora · não apresen- tando níveis de correção, com antecedente de anóxia neonatal, manter bicarbonato de na (2 mEq/kg) na solução de manutenção nas 24 h Complicações do uso de bicarbonato de sódio · Hipocalemia · Sobrecarga de volume · Hiperosmolaridade · Acidose paradoxal do SnC · Alcalose metabólica sobreposta · Hipóxia tecidual e hiper- catabolismo (por aumento abrupto da afinidade de o2 pela hemoglobina) · Hipocalcemia e hipernatremia · risco de hemorragia peri-intraventricular nos prematuros < 34 semanas de idade gestacional (iG) Erros inatos do metabolismo associados a acidose metabólica • Acidose lática primária; • Acidemias orgânicas; • Deficiência de piruvato carboxilase; • Deficiência de piruvato hidroxilase; • Galactosemia; • Intolerância hereditária a frutose; • Doença de acúmulo de glicogênio – glico- genoses. alcalosE MEtaBólica Definição Distúrbio caracterizado por elevação primá- ria do bicarbonato plasmá tico e por redução concomitante da concentração do cloreto com aumento do pH ar terial (> 7,45). Manifestações clínicas · Confusão mental, pareste- sias, espasmo musculares, predisposição a convulsões (por hipocalcemia) · Fraqueza muscular, arritmias cardíacas refratárias ao uso de digital - associadas a hipocalemia · obstipação intestinal, poliú- ria e polidipsia – associadas a hiponatremia. · Anorexia e deficiência do crescimento. · Hipoxemia e hipercapnia – por hipoventilação pCO2 esperado (mmHg) = (0,9 ´ bicarbonato) + 9 ± 2 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 36 16/08/2016 11:12:57 37 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 5 Etiologia administração de substâncias alcalinas perdas de íons hidrogênio · Bicarbonato · Carbonato · Acetato · Citrato · Gastrointestinais: estenose hipertrófica de piloro, diarreias · Hiperplasia adrenal congênita · Hiperaldosteronismo · Sd de Bartter · Perda exagerada de cloretos: uso de diuréticos, grandes débitos por sondas gás tricas Tratamento • Tratar fator causal. aciDosE rEspiratória Definição Distúrbio deflagrado pela retenção primária do gás car bônico. Manifestações clínicas · rubor facial e de extremidades · Sangramentos em pontos de punção · Dispneia · Alteração do sensório, geralmente associada a hipoxemia e sinais de hipertensão intracraniana Tratamento • Tratar fator causal. • Ventilação pulmonar mecânica, se necessário. alcalosE rEspiratória Definição Distúrbio deflagrado pela eliminação exces- siva de gás car bônico pelos pulmões. A causa mais comum é secundária a hiperventilação em RN sob VPM. Etiologia Febre, sepse, TTRN, pneumonia aspirativa leve, desordens do SNC. Manifestações clínicas · SnC: confusão mental e al- terações do sensório devidas ao hipofluxo cerebral · Sistema cardiovascular: efei- to depressor no miocárdio Tratamento • Tratar fator causal. • Manter paCO2 maior que 45 mmHg, evi- tando-se vasoconstrição cerebral. Concentrações dos eletrólitos eletrólitos apresentações Cloreto de sódio 10% na: 1,71 mEq/mL Cl: 1,71 mEq/mL Cloreto de sódio 20% na: 3,42 mEq/mL Cl: 3,42 mEq/mL Cloreto de potássio 19,1% K: 2,56 mEq/mL Cl: 2,56 mEq/mL Gluconato de cálcio 10% Ca: 0,44 mEq/mL C6H11o7: 0,44 mEq/mL Sulfato de magnésio 25% MG: 2,02 mEq/mL So4S: 2,02 mEq/mL Fosfato de potássio 20% K: 2 mEq/mL P: 2 mEq/mL Bicarbonato 3% HCo3: 0,36 mEq/mL Bicarbonato 8,4% HCo3: 1 mEq/mL Bicarbonato 10% HCo3: 1,2 mEq/mL Xarope de fosfato 38,5 mg/mL _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 37 16/08/2016 11:12:58 38 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 5 rEfErências BiBliográficas 1. David, H; Adamkin, MD; Committee on Fetus and Newborn – Clinical report Postnatal gluco- se homeostasis in late-preterm and term infants – Pediatrics, Volume 127, nº3, março 2011. 2. Fanaroff AA, Martin RJ. Neonatal-perinatal me- dicine, diseases of the fetus and infant. 7. ed. St Louis: Mosby, 2002. p. 619-34 e 1351-92. 3. Gleason Devaskar. Avery’s Diseases of the new- born – 9ª edição – Elsevier Saunders -2012. Cap 31 – Capítulo 31. 4. Hemachandra AH, Cowett RM. Neonatal hyper- glycemia. Pediatrics em Review 1999;20: 16-24. 5. Klaus & Fanaroff – Alto Risco em Neonatologia – tradução da 6ª edição Elsevier Saunders, 2015. Capítulo 12. 6. Polin RA, Fox WW, Abman SH. Fetal and ne- onatal physiology. 3.ed. Philadelphia: Saunders, 2004. p. 323-41,494-9 e 1361-4. 7. Sartório RL. Hipoglicemias. In: Monte, Longui, Calliari. Endocrinologiapara o pediatra. São Paulo: Atheneu,1998.p.291-302. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 38 16/08/2016 11:12:58 39 IndIcações Iniciar nas primeiras 24 horas de vida em to- dos os RN nos quais a nutrição enteral esteja contra indicada. As indicações absolutas são: • Clínicas: enterocolite necrosante, íleo me- conial, íleo paralítico secundário a doença generalizada, ECMO e prematuridade (< 1.500 g e/ou < 30 semanas); • Cirúrgicas: onfalocele, gastrosquise, atresia intestinal e de esôfago, peritonite meconial, hérnia diafragmática, síndrome do intesti- no curto e doença Hirschprung. VIas de admInIstração cateter perIférIco • Utilizado quando a osmolaridade da NPP estiver entre 300 e 900 mOsm/L; • Má tolerância à infusão de glicose e cálcio, gerando esclerose venosa. A concentração máxima de glicose em acesso periférico é de 12,5%. cateter central • Quando há necessidade de alta oferta de nutrientes (concentração máxima de gli- cose: 25%), tempo prolongado de NPP e acesso venoso periférico difícil. necessIdades hídrIcas Iniciar com 70 a 80 mL/kg/dia de fluido, au- mentar de 10 a 20 mL/kg/dia até atingir a ne- cessidade hídrica de 150 a 170 mL/kg/dia. Evidências demonstram que a hidratação em excesso é prejudicial e a restrição hídrica nos primeiros dias parece ser benéfica. É permitida perda de peso de 2 a 3% ao dia e máxima de 10% nos primeiros dias. Os ajustes de volume devem ser frequentes na primeira semana de vida. De acordo com a Tabela 6.1 com IG, peso e dias de vida da ingestão de líquido recomendado na primeira semana pós-natal (mL/kg/dia). manejo nutrIcIonal As necessidades calóricas são: • Hidratos de carbono: 55 a 65%; • Lipídios: 35 a 50%; • Proteínas: 15%. As recomendações das doses diárias dos nu- trientes, eletrólitos, oligoelementos e multivi- taminas estão dispostas nas Tabelas 6.1 e 6.2. A recomendação nos RNPT > 1.000 g é iniciar com lipídio em solução de TCM e TCL a 20% nutrição parenteral prolongada (npp) Beatriz Helena de Morais Miioni Francisco Paulo Martins Rodrigues Victoria Catarina de Albuquerque Melo 6 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 39 16/08/2016 11:12:58 40 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 6 Tabela 6.1 Dias após nascimento 1º dia 2º dia 3º dia 4º dia 5º dia 6º dia RN termo 60 80 100 120 140 160 RNPT > 1.500 g 60-80 80-100 100-120 120-150 140-160 140-160 RNPT < 1.500 g 80-90 100-110 120-130 130-150 140-160 160-180 Fonte: Koletzko e cols. (2005). e nos < 1.000 g iniciar com Smof Lipid a 20% (ricas em ômega-3, mais bem toleradas). A oferta calórica, principalmente, em recém- -nascidos prematuros deve ser de pelo menos 85 – 95 kcal/kg/dia. Os eletrólitos devem ser iniciados na NPP quando a diurese já estiver estabelecida e após os controles laboratoriais iniciais. Iniciar su- plementação de sódio e potássio quando estes estiverem abaixo de 135 mEq/dL e 4 mEq/dL, respectivamente. Após a 1º semana de vida o incremento mais elevado de sódio pode be- neficiar o crescimento e o neurodesenvolvi- mento do prematuro extremo. A razão cálcio/ Tabela 6.2 – ReCoMeNdAções diáRiAs de NuTRieNTes Nutrientes < 1.250 g 1.250-1.500 g > 1.500 g Glicose a 50% início 4 mg/kg/min 4-5 mg/kg/min 4-6 mg/kg/min Aumento diário 1-2 mg/kg/min 1-2 mg/kg/min 2 mg/kg/min Máximo 10-11 mg/kg/min 10-12 mg/kg/min 12 mg/kg/min aminoácido a 10% início 2 g/kg/dia 2 g/kg/dia 2,5-3 g/kg/dia Aumento diário 0,5-1 g/kg/dia 0,5-1 g/kg/dia 0,5-1 g/kg/dia Máximo 3,5-4 g/kg/dia 3,5 g/kg/dia 3,5 g/kg/dia lipídio a 20% início 1-2 g/kg/dia 2 g/kg/dia 2,5-3 g/kg/dia Aumento diário 0,5-1 g/kg/dia 0,5-1 g/kg/dia 0,5-1 g/kg/dia Máximo 3 g/kg/dia 3-3,5 g/kg/dia 3,5-4 g/kg/dia Tabela 6.3 – ReCoMeNdAções dAs doses de eleTRóliTos, oligoeleMeNTos e MulTiViTAMiNAs eletrólitos Dose meq/ml sódio (NaCl 20%) 2-4 meq/kg/dia 3,4 meq Na Potássio (KCl 19.1%) 2-3 meq/kg/dia 2,5 meq K Cálcio (gluCa 10%) 50 mg/kg/dia (1 a 2 meq/kg/dia) 0,44 meq Ca Fósforo (fósforo orgânico) 25 mg/kg/dia (0.5 a 1 meq/kg/dia) 0,33 mMol P 0,66 meq Na Magnésio (sulfMg 10%) 0,3-0,5 meq/kg/dia 0,8 meq Mg oligoelementos e multivitaminas 1 ml/kg/dia _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 40 16/08/2016 11:12:58 41 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 6 fósforo de 1.7/1.0 é a ideal para a mineraliza- ção óssea adequada. Os oligoelementos e multivitaminas devem ser iniciados desde o primeiro dia de vida, principalmente a suplementação de zinco e selênio. complIcações da npp relacIonadas com os nutrIentes • Lipídios: infecção fúngica, hiperbilirrubi- nemia, colelitíase; • Aminoácidos: alteração da função renal (au- mento de uréia e amônia) e hepática (coles- tase com aumento de BD, FA e gama GT); • Glicose: hiper ou hipoglicemias; • Distúrbios eletrolíticos. Tabela 6.4 – esqueMA PARA MoNiToRizAção duRANTe NPP bioquímica Controles Controle de glicemia (dextro) diariamente Controle de eletrólitos 2 ´ na semana Controle gasométrico se necessário Função renal (ureia e creatinina) 1 ´ na semana Função hepática 1 ´ na semana Triglicérides 2 ´ na semana densidade urinária diariamente Peso do RN diariamente controle glIcemIa capIlar (dx) • Meta é manter Dx entre 60 e 120 mg/dL; • Níveis acima de 110 mg/dL: não aumentar a VIG; • Níveis acima de 150 mg/dL: redução da VIG, se glicosúria positiva. Solução de lipídio a 20% deve ser protegida da luz e sua monitorização é realizada através do controle dos triglicerídeos, sendo que: • Níveis acima 150 mg/dL: intolerância iminente; • Níveis acima 200 mg/dL: reduzir ou inter- romper a dose de lipídio. Tabela 6.5 – FAToRes de CoRReção de AlguNs NuTRieNTes Cálcio 40 mg = 1 mMol = 2 meq Fósforo 31 mg = 1 mMol = 1 meq Magnésio 24 mg = 1 mMol = 2 meq sódio 23 mg = 1 mMol = 1 meq Potássio 39 mg = 1 mMol = 1 meq Cloreto 35 mg = 1 mMol = 1 meq momento Ideal para a suspensão da npp A medida que a dieta enteral é aumentada de- ve-se reduzir o volume de NPP gradualmente. Esta deve ser suspensa quando oferta energéti- ca enteral alcançar 80 a 100 kcal/kg/dia. referêncIas bIblIográfIcas 1. Aguiar, CR; Costa, HPF; Rugolo, LMSS; Sadeck, LSR; Costa, MTZ; Pachi, PR; Marba, STM. - O recém-nascido de muito baixo peso – SBP, 2ªed. São Paulo: Atheneu, 2010, 14, 169-92. 2. Brasília, DF. Ministério da Saúde – Série A. Normas e Manuais Técnicos - Atenção à saúde do recém-nascido, guia para os profissionais de saúde e cuidados com o recém-nascido pré-ter- mo - Nutrição parenteral – vol.4, 2011, 34, 43- 63. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/ bvs/ publicacoes/atencao_recem_nascido_%20 guia_profissionais_saude_v4. 3. Koletzko, B.; Poindexter, B.; Uauy, R. – Nutri- tional care of preterm infants – ed, Karger 2014, vol. 110, 49 -166. 4. Procianoy, RS; Leone, CR. – PRO RN PRogra- ma de Atualização em Neonatologia – Ed. Art- Med Panamericana, 2015, ciclo12, vol4, 65-98. 5. Schanler, RJ. – Parenteral nutrition in prematu- re infants – Up To Date 2012. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/parenteral- -nutrition-in-premature-infants. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 41 16/08/2016 11:12:58 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 42 16/08/2016 11:12:58 43 RN teRmo • Instituir aleitamento materno o mais pre- coce possível: dentro da primeira hora após o parto; • Se fórmula láctea: iniciar com 10 mL/ma- mada e progredir conforme livre demanda. INdIcações de fóRmula láctea • Hipoglicemia que não melhora após seio materno, de acordo com protocolo espe- cífico; • Erros inatos do metabolismo; • Desidratação aguda e/ou perda de peso ex- cessiva (10-15%) que não melhora com a rotina de amamentação; • Mãe ausente ou com instabilidade clínica; • Uso materno de medicações que contra in- diquem o aleitamento materno; • Doença materna que contraindique o alei- tamento materno(HIV, HTLV 1 e 2). RN pRé-teRmo • Suporte nutricional enteral o mais precoce possível: idealmente primeiras 24 horas de vida: • Preferencialmente leite humano; • Retardar o início da alimentação quando: – Anóxia neonatal grave; – Desconforto respiratório; – Sepse; – Instabilidade hemodinâmica; – Convulsões; – Malformações do trato gastrintestinal. • Métodos de administração da dieta: • Via oral: – IG maior que 32-34 semanas, – Coordenação sucção-deglutição, – Estabilidade hemodinâmica. • Via gavagem por sonda gástrica: – IG < 32 semanas; – PT que requerem combinação via oral e gavagem; – RN impossibilitado ou com dificulda- de de oferta VO; – Via gavagem contínua por bomba de infusão 30 a 60 minutos quando houver intolerância com gavagem intermitente. • Esquema de alimentação: • Início: nutrição enteral mínima (NEM) – 10 a 20 mL/kg/dia a cada 3 a 6 horas dependendo da idade gestacional, peso de nascimento e quadro clínico. alimentação enteral no RN Amanda Melhado Ana Luiza Teixeira Balloti Francisco Paulo Martins Rodrigues 7 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 43 16/08/2016 11:12:58 44 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 7 • Confirmada boa tolerância, progredir volume da dieta: – RN com peso < 1.500 g: 2 a 3 mL por mamada por dia ou 10 a 20 mL/kg/dia; – Considerar avanços mais rápidos e maiores quando RN estiver recebendo volume > 100 mL/kg/dia, tendo o cui- dado de não ultrapassar 30 mL/kg/dia. BeNefícIos da eNteRal míNIma • Menos intolerância gástrica; • Menor incidência de colestase; • Menor tempo de uso de nutrição parenteral; • Estimulação de hormônios intestinais com melhora da motilidade intestinal. colostRoteRapIa • Benefício maior nos menores de 28 semanas; • Início nas primeiras 48 horas de vida: 0,1 mL de colostro materno em cada canto da boca do RN a cada 3 h; • Fornece IgA secretora e lactoferrina; • Reduz incidência de sepse neonatal e me- lhora a aceitação alimentar. adItIvos do leIte mateRNo • FM85: fórmula de nutrientes para recém- -nascidos de alto-risco, devendo ser ofere- cida na diluição de 1 g para cada 20 mL de leite materno; • TCM – AGE: triglicerídeos de cadeia média associados a ácidos graxos essen- ciais, de fácil absorção; o volume a ser oferecido ao paciente deve ser calculado de acordo com a oferta calórica desejada, diluindo-se 2,5 mL do TCM em 100 mL de preparação (de qualquer tipo, quente ou fria – sucos, sopas, cremes, leite ou qualquer dieta enteral). Após preparo, manter a solução refrigerada e consumir em até 12 h; se mantida em temperatura ambiente, em até 4 h. Tabela 7.1 – NecessidAdes de NuTRieNTes No RNPT Nutriente Período de Transição (nascimento – 7º dia) Período de Crescimento estável (7º dia – saída da UTI) Período de acompanhamento (até 1 ano após saída da UTI) Água mL/kg Variável 120 - 200 120 - 160 energia Kcal/kg 70 - 80 105 - 135 100 - 120 Proteína g/kg 1,0 - 3,0 3,5 - 4,0 (< 1 kg) 3,0 - 3,6 (> 1 kg) 2,2 Gordura g/kg 0,5 - 3,6 4,5 - 6,8 4,4 - 7,3 carboidratos g/kg 5,0 - 20,0 7,5 - 15,5 7,5 - 15,5 cálcio mmol/kg 1,5 - 2,0 4,0 - 6,0 6,3 mmol/dL (l. humano) 9,4 mmol/dL (fórmula) Fósforo mmol/kg 1,0 - 1,5 2,5 - 3,8 3,4 mmol/dL (l. humano) 8,8 mmol/dL (fórmula) Magnésio mmol/kg 0,20 - 0,25 0,2 - 0,4 0,2 - 0,6 sódio mmol/kg 1,0 - 3,0 2,5 - 4,0 2,0 - 3,0 cloro mmol/kg 1,0 - 3,0 2,5 - 4,0 2,0 - 3,0 Potássio mmol/kg 2,5 - 3,5 2,5 - 3,5 2,5 - 3,5 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 44 16/08/2016 11:12:58 45 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 7 Tabela 7.2 – coMPosição NuTRicioNAL de FóRMuLAs coMuNs eM 100 ML Fórmula NaN I Pré-NaN aptamil aptamil Pré enfamil Premium NaN supreme 1 energia, cal 67 70 66 80 75 67 carboidratos, g 7,5 8,0 7,5 7,7 8,4 7,9 Proteínas, g 1,2 2,0 1,5 2,4 1,6 1,3 Gorduras, g 3,6 3,4 3,3 4,4 4,0 3,4 cálcio, mg 41 70 56 100 58 47 Ferro, mg 0,8 1,1 0,8 0,9 1,3 0,72 sódio, mg 15 26 18 40 20 26 Potássio, mg 66 75 61 90 81 74 Fósforo, mg 21 45 28 53 32 25 Magnésio, mg 4,6 7,7 5,0 10 6,0 6,7 Relação ca/P 1,95 1,55 2,0 2,0 1,81 Tabela 7.3 – coMPosição NuTRicioNAL de FóRMuLAs esPeciAis eM 100 ML Fórmula alfaré Pregomin Neocate Infatrini Valor energético 70 66 71 100 carboidratos, g 7,7 6,8 8,1 10,3 Proteínas, g 2,1 1,8 1,95 2,6 Gorduras, g 3,6 3,5 3,45 5,4 cálcio, mg 54 50 49 Ferro, mg 0,84 0,8 1,05 sódio, mg 35 18 18 25 Potássio, mg 88 65 63 93 Fósforo, mg 36 28 35 Magnésio, mg 8,4 6 5,1 Relação ca/P 1,5 1,8 1,4 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 45 16/08/2016 11:12:58 46 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 7 RefeRêNcIas BIBlIogRáfIcas 1. Cooke, R. J.ed. Neonatal nutrition. Semin Neo- natol. 2001; 363-449. 2. Feferbaum, R.; Falcão, M.C. Nutrição do Re- cém-Nascido. Atheneu, 2005. 3. Fichas técnicas de Produtos Nestlé–NAN Su- preme I e FM85. 4. Lee, J.; et al. Oropharyngeal colostrum adminis- trationin extremely premature infants: an RCT. Pediatrics, 2015; 135(2): 357-66. Tabela 7.4 – coNceNTRAção No FM85 e No TcM FM85 (1 g + 20 ml de lM) TCM (por ml) Valor energético 17 8,32 carboidratos, g 2,1 0 Proteínas, g 0,4 0 Gorduras, g 0,7 0,92 cálcio, mg 21 0 Ferro, mg 0,35 0 sódio, mg 8,2 0 Potássio, mg 24 0 Fósforo, mg 12 0 Magnésio, mg 1,4 0 Relação ca/P 1,5 0 5. Nutriservice. Avaiable from: URL: www.nutri- service.com.br 6. Rodriguez, N.A.; et al. A pilot study to deter- mine the safety and feasibility of oropharyngeal administration of own mother’s colostrum to extremely low birth weight infants.Adv Neona- tal Care, 2010; 10 (4): 206-212. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 46 16/08/2016 11:12:59 47 Níveis de Recomendação de Fármacos para Tratamento de Condições Comuns durante a Amamentação Beatriz Helena de Morais Miioni Francisco Paulo Martins Rodrigues Marianna Corsante Monte 8 Condições Agentes recomendados Agentes alternativos Usar com cautela Rinite alérgica Beclometasona Fluticasona Cromolin Loratadina Anti-histamínicos Sedativos Descongestionantes Doença cardiovascular Hidroclorotiazida Metropopolol Propanolol Labetanol Nifedipina Verapamil Hidralazina Captopril/Enalapril Atenolol Diltiazem Amiodarona Depressão Sertralina Paroxetina Nortriptilina Desipramina Fluoxetina Diabetes Insulina Glibenclamida Arcabose Metformina Epilepsia Fenotoína Carbamazepina Etossuximida Ácido valpróico Fenobarbital Dores Acetaminofeno Ibuprofeno Morfina Naproxeno Meperidina Aspirina Asma Cromoglicato Dissódico Nedrocomila Fluticasona Beclometasona _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 47 16/08/2016 11:12:59 48 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 8 ClAsses de dRogAs ANAlgésiCos • Acetaminofeno: concentrações baixas no leite, compatível com amamentação (AAP); • Dipirona: efeitos pouco conhecidos. Proibi- do nos EUA; • Ibuprofeno e Diclofenaco: praticamente in- detectáveis no leite materno; • Codeina e Morfina: compatíveis com a amamentação desde que a mãe receba do- ses inferiores a 240 mg/dia de Codeína e a criança esteja clinicamente estável; • Metadona: concentração baixa no leite ma- terno; pode ocorrer síndrome de abstinên- cia quando usado na gravidez (tratamento de adição aos opiáceos); • Anestésicos epidurais: Bupivacaína, Lido- caína, Morfina e Fentanil: considerados seguros na amamentação. Evidências sobre os efeitos na lactação são limitadas. ANTibióTiCos • Penicilinas, cefalosporinas e ácido clavulâ- nico: excretados no leite materno em pe- quenas quantidades; potencial remoto de CompRovAdAmeNTe CoNTRAiNdiCAdos Fármaco Efeitos observados na criança e/ou lactação Anfetamina Irritabilidade, distúrbio do sono Ciclofosfamida Possívelimunossupressão, neutropenia, efeito desconhecido sobre o crescimento ou associação com carcinogênese Ciclosporina Possível imunossupressão, efeito desconhecido sobre o crescimento ou associação com carcinogênese Cocaína Intoxicação, irritabilidade, tremores, diarreia, vômitos e convulsão Doxorrubicina Possível Imunossupressão, Efeito desconhecido sobre o crescimento ou associação com carcinogênese Fenciclidina Alucinógeno potente Heroína Tremores, vômitos, hiperatividade, anorexia Maconha Efeitos adversos não relatados Metotrexato Possível imunossupressão, neutropenia, efeito desconhecido sobre o crescimento ou associação com carcinogênese eFeiTos desCoNheCidos RequeRem CAuTelA Ansiolíticos Alprazoam Diazepam Lorazepam Midazolam Perfenazina Prazepam Quazepam Temazepam Antidepressivos Arnetriptilina/Amoxapina Bupropional Clomipramina Desipramina/Dotiepina Doxepina/Fuoxetina Fluvoxamina/Imipramina Nortriptilina/Paroxetina Sertralina/Trazodona Antipsicóticos Clorpronazina Clorprotixeno Clozapina Haloperidol Mesoridazina Triflouperazina Outros Amiodarona Cloranfenicol Clofazimina Lamotrigina Metoclopramida Metronidazol Tinidazol _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 48 16/08/2016 11:12:59 49 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 8 Anti-hipertensivos • Inibidores da ECA: parecem seguros, mas são necessários mais estudos; alguns au- tores não recomendam para lactentes nas primeiras semanas após o parto devido à dificuldade de alguns RN controlar a pres- são arterial. Antiarrítmicos • Digoxina: transmitido pelo leite em baixas concentrações; • Amiodarona: uso não recomendado, pois pode atingir altos níveis no leite materno; se usado deve-se monitorar a concentração plasmática e função tireóidea do RN pelo risco de indução do hipotireoidismo. Diuréticos • Dose baixa de diuréticos de curta ação pa- rece ser segura; • Diuréticos tiazídicos em altas doses ou diurético de alça em doses usuais devem ser evitados, pois costumam suprimir a lactação. ANTidepRessivos e ouTRos psiCoFáRmACos • Inibidores seletivos da recaptação da seroto- nina: Sertralina é a opção mais segura, pois seus níveis são praticamente indetectáveis no lactente. Fluoxetina e Norfluoxetina de- vem ser evitadas, pois tem meia-vida longa e há relatos de efeitos importantes em crianças amamentadas; Citalopram é seguro. • Antidepressivos tricíclicos: Amotriptilina, Nortriptilina, Desipramina, Imipramina têm baixas concentrações no leite materno e não existe descrição de efeitos adversos. Devido ao risco potencial de anormalida- des neurológicas sugere-se minimizar a exposição da criança administrando o me- dicamento em dose única antes de dormir. alteração da fora intestinal e sensibilização ou reação alérgica na criança; • Sulfonamidas: deve ser evitada nos dois primeiros meses de amamentação devido à indução potencial de hiperbilirrubinemia no lactente (compete com a bilirrubina nos mesmos sítios de ligação); • Aminiglicosídeos: excretados no leite ma- terno em pequena quantidade; deve-se ob- servar alteração na flora intestinal. • Eritromicina: encontrada no leite materno em baixas concentrações, porém recen- temente foi constatado risco de estenose pilórica em crianças amamentadas cujas mães receberam este medicamento nos pri- meiros 15 dias após o parto; • Tetraciclinas: tratamento de até três sema- nas são permitidos; tratamentos prolonga- dos podem alterar a coração dos dentes e gerar anormalidades no crescimento ósseo da criança; • Metronidazol: encontrado no leite na mesma concentração plasmática; reco- menda-se interrupção temporária da ama- mentação (12 a 24 h) se houver ingestão de altas doses da droga; considerado seguro na dose de 1.200 mg/dia; • Fluconazol: seguro, pois a concentração da droga absorvida pelo lactente é pequena; • Aciclovir: excretado em baixas concentra- ções no leite humano. dRogAs CARdiovAsCulARes • Betabloqueadores: • Propanolol, Metroprobol, Labelatol: são ex- cretados em pequenas quantidades no leite materno. Observar efeitos no RN: bradicar- dia, hipoglicemia e depressão respiratória; • Atenolol: concentração é maior no leite e está associado à cianose, bradicardia e hi- potensão na criança; • Nifedipina,Verapramil e Diltiazem consi- derados compatíveis com amamentação. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 49 16/08/2016 11:12:59 50 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 8 • Benzodiazepínicos: o uso intermitente ou por curtos períodos (uma ou duas sema- nas) não tem sido associado à sedação sig- nificante dos lactentes. O uso prolongado deve ser evitado. Optar por drogas de curta ação (Lorazepam, Oxazepam). • Prometazina: risco de apneia do sono e sín- drome da morte súbita. • Lítio: concentração alta no leite materno, efeitos adversos ainda desconhecidos; o Ácido valpróico é preferível no tratamento da mania em mulheres que amamentam, sendo necessário acompanhamento da função hepática e plaquetária dos lactentes; • Risperidona, Olanzapina: considerados se- guros. dRogAs de Abuso A concentração de drogas ilícitas, no leite ma- terno, depende da quantidade e do momento da ingestão da droga pela mãe. Recomenda- -se interrupção temporária do aleitamento materno, com ordenha do leite, que deve ser desprezado. O tempo da interrupção da ama- mentação varia com a droga, de acordo com a Tabela 8.1. Consumo de cigarros: não é uma contrain- dicação à amamentação. Porém, no aconse- lhamento, o profissional deve alertar sobre os possíveis efeitos deletérios do cigarro para o desenvolvimento da criança e a eventual dimi- nuição e da ejeção do leite. Para minimizar os efeitos do cigarro para a criança, as mulheres que não conseguirem parar de fumar devem ser orientadas a reduzirem ao máximo a quan- tidade de cigarros (se não possível a cessação do tabagismo, procurar fumar após as mama- das) e não fumarem no mesmo ambiente onde está a criança. Consumo de álcool: deve-se desestimular as mulheres que estão amamentando, a inges- tão de álcool. No entanto, consumo eventual moderado de álcool (0,5 g de álcool por quilo do peso da mãe, por dia, o que corresponde a aproximadamente um cálice de vinho ou duas latas de cerveja) é considerado compatível com a amamentação. TAbElA 8.1 – DROGAS E NECESSIDADE DE INTERRuPçãO DA AMAMENTAçãO Drogas Período recomendado de interrupção da amamentação Anfetamina 24 a 26 horas Barbitúricos 48 horas Cocaína - Crack 24 horas Etanol 1 hora por dose até estar sóbria Heroína e Morfina 24 horas L S D 48 horas Maconha 24 horas Fenciclidina 1 – 2 semanas _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 50 16/08/2016 11:12:59 51 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 8 CoNduTAs NA suspeiTA • Monitoração e avaliação (escore com 2 ho- ras de vida e repetir a cada 4 horas - 30 a 60 minutos após a refeição) por 72 horas; • Manuseio não farmacológico (organi- zação, pouca luz, leite materno, posição canguru, otimizar o manuseio/agrupar cuidados, enrolar o recém-nascido e con- trolar a sucção); • Aleitamento materno (menor gravidade da síndrome de abstinência neonatal); • Tratamento farmacológico se escore de Finnergan ≥ 8 em três avaliações conse- cutivas: opioide de escolha: Morfina, dose inicial 0,5 kg/dia - 6/6 h) – Tabela 8.3. • Não há necessidade de separar mãe do filho; • Sintomas podem durar de uma semana a seis meses. TAbElA 8.2 – PRESCRIçãO COM CAuTELA (EFEITOS ADVERSOS IMPORTANTES EM CASOS ISOLADOS) Fármaco Efeitos observados na criança e/ou lactação Acebutolol Hipotensão, bradicardia e taquipneia Salicilatos (AAS) Pode aumentar o risco de síndromede Reye nas infecções virais; doses maternas muito altas pode causar sangramento discreto na criança Atenolol Bradicardia, cianose e hipotensão (dose de 100 mg/dia) um relato descrito Bromocriptina Supressão da lactação Clemastina Sonolência, irritabilidade, recusa alimentar, choro agudo e rigidez de nuca (um relato descrito) Ergotamina Vômitos, diarreia e convulsão Fenindiona Anticoagulante, aumento do TP e do TTPA Fenobarbital Sedação é infrequente, há relatos de sintomas de abstinência Concentração sanguínea de 1/3 ou menos que a materna Lítio Cianose, anormalidades da onda T e hipotonia (um relato descrito) Concentração sanguínea de 1/3 a 1/2 da materna Primidona Possibilidade de sedação Sulfazalazina Diarreia e desconforto gastrintestinal, um relato de hipersensibilidade AmAmeNTAção e uso de dRogAs e ouTRAs subsTâNCiAs ClAssiFiCAção dAs dRogAs quANTo à seguRANçA de seu uso duRANTe A AmAmeNTAção _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 51 16/08/2016 11:12:59 52 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 8 TAbElA 8.3 – TRATAMENTO NA SíNDROME DE ABSTINêNCIA Tratamento farmacológico da síndrome de abstinência Doses de morfina em síndrome de abstinência (calcular pelo peso de nascimento e não pelo atual) • Escore de Finnergan ≥ 8 em 3 avaliações – morfina 0,5 mg/ kg/dia dividido – 6/6 horas • Caso o Escore de Finnergan persista ≥ 8 a despeito da morfina de 0,5 – morfina de 0,7 mg/kg/dia dividido em – 6/6 horas • Caso o Escore de Finnergan persista ≥ 8 a despeito da morfina de 0,5 – morfina de 0,7 mg/kg/dia dividido em – 6/6 horas. Monitore a função cardiorrespiratória • Após a queda do escore de Finnergan por 48 horas, reduzir 2 mg por dose a cada 4 dias (ou mais dependendo do escore. Tratamento farmacológico da síndrome de abstinência de não narcóticos • Iniciar Fenobarbital nas primeiras quatro horas • Utilize sempre o peso de nascimento para o cálculo • Média do escore da Finnergan ≥ 8 em três avaliações – 15 mg/kg/dia de manutenção em duas tomadas • Caso escore Finnergan persista ≥ 8 a despeito do fenobar- bital 10 mg/kg/dia em duas tomadas. Monitore a função cardiorrespiratória • A dose pode ser reduzida rapidamente após a melhora da sintomatologia Não narcóticos: observa-se adição passiva no feto e neonato mesmo com doses tera- pêuticas de drogas não narcóticas usadas pela mãe durante a gestação. As manifestações da abstinência são mais frequentemente intensas e ameaçadoras à vida em comparação com a abstinência de narcóticos. A ocorrência de convulsão também é mais frequente. Geral- mente a abstinência é observada de sete a dez dias após o nascimento em decorrência da lenta depuração da droga no neonato; muitas vezes induzida por médicos que prescreveram a droga à mãe, totalmente alheios ao seu po- tencial de adoção ao feto. Barbitúricos: Fenobarbital é o mais envolvido na síndrome de abstinência, atravessam a bar- reira placentária e estabelecem altos níveis no sangue materno e no cordão umbilical. Deve- -se estar alerta por sintomas por pelo menos duas semanas de vida. Inibidores seletivos da recaptação de seroto- nina: Fluoxetina/Paroxetina/Sertralina/Cita- lopram/Fluvoxamina. Sintomatologia mais frequente: desconfor- to respiratório (taquipneia), alterações de comportamento (agitação alternada com le- targia), cianose, dificuldade de alimentação, hipoglicemia, hipotermia, distúrbio de sono e aumento da atividade motora, choro fraco e tremores, convulsões. Observação por 48 horas com monitorização cardiorrespiratória e escore de Finnergan: • Cocaína/Crack: reduza perfusão placen- tária, o que compromete a troca gasoso e a oxigenação fetal. Na abstinência, os RN’s mostram dificuldade o estado de alerta e auto regular seu comportamento com agi- tação, tremores, movimentos mão-boca, movimentos múltiplos dos membros e punhos cerrados. Existe relação de dose- -resposta entre a exposição fetal entre a exposição fetal à Cocaína e repercussão clinica. A exposição do lactente à cocaína pode prosseguir após o nascimento pelo aleitamento materno, administração inten- cional da droga pelos cuidadores, ingestão acidental da Cocaína ou poeira doméstica contaminada com cocaína por meio da atividade mão na boca normal ou ainda da inalação passiva da fumaça de Cocaína durante a preparação da droga por adultos. Considerar em convulsões afebris em lac- tentes e crianças pequenas; • Diazepínicos: atravessam a placenta com relativa facilidade com níveis significativos das drogas no soro e tecidos fetais. O início da abstinência ocorre entre duas horas e meia e seis horas após o nascimento, com tremores, irritabilidade, hipertonia, sucção exacerbada, vômitos diarreia. Utilização no _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 52 16/08/2016 11:12:59 53 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 8 terceiro trimestre e durante o trabalho de parto podem estar associados à síndrome do lactente hipotônico ou à abstinência ne- onatal grave podendo persistir por algumas horas a meses após o nascimento; • Maconha: droga ilícita mais utilizada pela população e, consequentemente, pelas ges- tantes. Chega à placenta minutos após sua administração, com concentrações idênti- cas no soro materno e fetal. O uso durante a gestação não apresenta risco aumentado de complicações obstétricas. Nos RN›s cujas mães fizeram uso na gestação há tremores finos e alterações no ritmo do sono. Em usuários de grande monta há a possibilida- de de alterações de memória e cognição na idade escolar; • Anfetaminas: quadro clínico de abstinên- cia caracterizado por sudorese, episódios de agitação alternada com lassidão, miose e vômitos. Depois há uma fase de irritabi- lidade acentuada e algumas crianças apre- sentam sonolência, letargia e depressão neurológica, necessitando inclusive de sonda para a alimentação. O seguimento dessas crianças tem revelado comporta- mento agressivo e coeficiente de inteligên- cia aquém do esperado; • Cafeína: encontrada no café, chá, chocolate, cacau, e em medicamentos. É prontamente absorvida no trato digestivo e distribuída ra- pidamente, a todos os tecidos. Mais de sete xicaras de café por dia ou mais de 30 g de cafeína por dia durante a gestação, pode cau- sar uma diminuição no peso do RN (dose- -dependente) em cerca de 6,5%. Há relatos de irritabilidade, tremores e vômitos; • Fenciclidina (PCP): anestésico dissocia- tivo, popular como droga recreativa em virtude de seus efeitos sedativos e alucinó- genos. Os RN›s expostos a droga apresen- tam irritabilidade, tremores, hipertonia, movimento circular dos olhos. Uma das manifestações mais típicas em neonatos é alternância rápida e brusca no nível de consciência, com letargia alternada com irritabilidade; • Tabaco: maior incidência de aborto em mulheres que fumam metade de um maço de cigarro por dia; deslocamento de placen- ta e calcificações placentárias também são encontrados; maior incidência de partos prematuro e índice de Apgar com valores baixos. Risco maior de morte fetal (25%) e morte neonatal (56%) nas tabagistas de mais de um maço por dia; assim como maior risco de morte súbita. A nicotina altera o neurodesenvolvimento pelo menos no período inicial da infância. Síndrome de abstinência aparece entre 12 e 24 horas de vida, com sintomas moderados e de curta duração, que usualmente não necessitam de tratamento farmacológico, não deixam sequelas e que em 36 horas estão resolvi- dos. Apresentam pior desempenho na suc- ção, choram mais, tem menor alerta visual, apresentam alteração de perfusão e tremo- res. No seguimento, apresentam alterações cognitivas, psicomotoras ena linguagem; • Álcool: em usuárias crônicas existem maior risco de síndrome de abstinência e de sín- drome alcoólica fetal (SAF) Na SAF os RN’s são pequenos para a idade gestacional e apresentam retardo de desenvolvimento, fis- suras palatais, alterações e defeitos cardíacos articulares; 80% apresentam microcefalia e anormalidades comportamentais; 50% apre- sentam alteração motora, hipotonia, déficit de atenção, hiperatividade, diminuição do tecido adiposo e alterações faciais sutis (hi- poplasia maxilar, palato ogival, migrogna- tia). O distúrbio do neurodesenvolvimento relacionado ao álcool é o líder das causas de retardo mental no mundo ocidental. A síndrome de abstinência do álcool produz alterações cardiovasculares, metabólicas e neurológicas, as mais importantes são: hipoglicemia, irritabilidade, tremores, con- _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 53 16/08/2016 11:12:59 54 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 8 vulsões, instabilidade térmica, hipotensão, hipertensão, desorganização, distensão ab- dominal, opistótono, hipertonia, apneia e cianose. Tratamento: suporte clínico, e tra- tamento da manifestação clínica. CoNduTA e TRATAmeNTo espeCíFiCos seguNdo A ClAsse de dRogAs Narcóticos e opiáceos: opioides naturais (Morfina e Codeína) e sintéticos (Heroína, Metadona, Propoxifeno, Pentazocina, Mepiri- dina, Oxidocona, Morfinona, Fentanila). O início da abstinência ocorre em geral nas 72 horas após o nascimento, comumente dentro de 24 a 48 horas. A incidência Apgar baixo é grande devido a asfixia intrauterina ou efeitos dos narcóticos utilizados antes do parto – por- tanto deve-se ter cautela no uso de antagonista de narcóticos para reverter a depressão respira- tória em RN’s dependentes de droga, uma vez que os antagonistas de narcóticos podem preci- pitar abstinência aguda no recém-nascido. dRogAs que iNibem A pRodução de leiTe • Estrogênio: os efeitos na produção do lei- te são imprevisíveis podendo ser nulos ou acentuados, rápidos e lentos; • Bromocripitina: utilizada no passado para a redução do ingurgitamento mamário e para interrupção da lactação. • Cabergolina: droga mais segura, 1 mg logo após o parto inibe completamente a lacta- ção; em lactações já estabelecidas utiliza-se 0,25 mg, 2 vezes ao dia por dois dias. • Pseudoefedrina: pode afetar a síntese da lactação, em especial em fases mais tardia (acima de 8 meses). • Álcool: pode reduzir significativamente o reflexo de ejeção do leite. • Nicotina: ação inibitória sobre a prolactina e ocitocina. TAbElA 8.4 – QuADRO CLíNICO DA ABSTINêNCIA NEONATAL Sinal leve Moderado Grave Vômitos Golfadas Vômitos extensos Durante 3 refeições Consecutivas Vômitos associados a desequilíbrios dos eletrólitos séricos Diarreia Fezes aquosas < 4 vezes por dia Fezes aquosa 5 a 6 vezes por dia durante 3 dias; não há desiquilíbrio eletrolítico Diarreia associada a desequilíbrio dos eletrólitos séricos Perda ponderal < 10% do peso ao nascer 10-15% do peso ao nascer > 15% Irritabilidade Mínima Acentuada, mas aliviada por aconchego ou alimentação Não aliviada por aconchego e alimentação Tremores Tremores leves quando estimulados Tremores intensos Convulsões ou espasmos quando estimulados Taquipneia 80-100 incursões/min 80-100 incursões/min > 100 incursões por min. associada a alcalose respiratória AvAliAção dA iNTeNsidAde ClíNiCA dA AbsTiNêNCiA NeoNATAl de NARCóTiCos _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 54 16/08/2016 11:12:59 55 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 8 dRogAs que esTimulAm A pRodução do leiTe (gAlACTAgogos) Estimulam a lactação geralmente por antago- nismo ao receptor da dopamina e consequente aumento da prolactina: • Metocopramida; • Domperidona; • Risperidona; • Sulpirida (Equilid); • Clopromazina; • Ocitocina (Sintosynon). Para outas substâncias: www.e-lactancia.org AvAliAção dA síNdRome de AbsTiNêNCiA NeoNATAl: Score Finnegan TAbElA 8.5 – MANIFESTAçõES CLíNICAS DA SíNDROME DE ABSTINêNCIA Neurológicos Gastrointestinais Autonômicos Irritabilidade Sonolência Tremor Aumento da vigília Reflexo de Moro exacerbado Espirros Choro alto e agudo Hipertonia e contrações muscu- lares (escoriação secundária) Bocejos frequentes Convulsões Vômitos Diarreia Desidratação Baixo ganho ponderal Sucção constante e incoordenada Má aceitação da dieta Diaforese Febre Temperatura instável Arrepio Obstrução nasal Aumento Discretos aumentos de PA e frequência respiratória Batimento de asa nasal Usado para avaliar necessidade de intervenção medicamentosa para RN de risco: • Primeira avaliação deve ser feita com 2 ho- ras de vida; • Deve ser realizada a cada 4 horas; • São considerados escores alterados com pontuação maior ou igual a 8 por 3 vezes consecutivas ou quando a soma de 3 avalia- ções consecutivas der maior ou igual a 24; • A avaliação deve ser feita a cada 24 h (a cada dia); • Se o RN apresentar pontuação > ou igual a 8, as avaliações passam a ser a cada 2 horas por 24 horas; • Se não for necessário o tratamento, o RN deve ser avaliado nos primeiros 4 dias de vida a cada 4 horas; • Se houver necessidade de tratamento o RN é avaliado em intervalos de 2 a 4 horas (de- pendendo dos sinais e sintomas; e pontua- ção > ou = 8): • Se após o término do tratamento, a pon- tuação for menor que 8 por 3 dias a ava- liação pode ser descontinuada; • Se o RN mantiver pontuação > ou = 8, deverá ser avaliado por, pelo menos, mais 4 dias. • Drogas usadas para o tratamento: morfina, fenobarbital, metadona e clonid. ReFeRêNCiAs bibliogRáFiCAs 1. Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias -- Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção da Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas – 2. Ed- Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. 2. Avery- Neonatologia- Fisiopatologia e Trata- mento do Recém-Nascido - 6º edição 2007- Editora Guanabara Koogan- Capítulo 58. 3. Finnegan, L.P. Neonatal Abstinence Syndrome: Assesment and pharmacotherapy. In: Nelson N, editor. Current therapy in neonatal -perinatal medicine. 2 ed. Ontário: BC Decker; 1990. 4. Programa de Atualização em Neonatologia (PRORN)/Organizado pela Sociedade Brasilei- ra de Pediatria. Artmed/ Panamericana Editora. Porto Alegra/ Ciclo 4/ Módulo 4 /2007 (Siste- ma de Educação médica continuada à distância SEMCAD). 5. Spencer, J.P; Gonzales, L.S. III; Barnhart, D.J. Medications in the breast-feeding mother. An Fam Physician, 2001; 64: 119- 26. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 55 16/08/2016 11:13:00 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 56 16/08/2016 11:13:00 O Recém-nascidO e cOndições especiais Parte 2 – Neurologia e Seus Distúrbios seção 2 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 57 16/08/2016 11:13:00 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 58 16/08/2016 11:13:00 59 Definição Diminuição do aporte metabólico-nutricional da mãe para o feto causando má perfusão teci- dos fetais, resultando em hipóxia, hipercapnia e acidose metabólica. Critérios DiagnóstiCos (aaP) • pH < 7,0 sangue arterial cordão (acidose metabólica profunda ou mista); • APGAR 0-3 persistente por mais de 5 mi- nutos; • Alteração neurológica imediata (convulsão, hipotonia, coma, hemorragia intracraniana); • Disfunção de múltiplos órgãos. Causas • Maternas: • Hipertensão arterial crônica; • Eclâmpsia/pré-eclâmpsia; • Cardiopatia; • Convulsões; • Diabetes mellitus; • Ruptura prematura de membranas; • Nefropatias; • Hemoglobinopatias; • Isoimunização Rh. • Fetais: • Malformações congênitas; • Prematuridade; • Retardo crescimento intrauterino; • Pós-maturidade; • Infecçãocongênita; • Gemelaridade; • Polidrâmnio; • Fetos GIG. • Durante parto: • Depressão respiratória por drogas; • Prolapso, ruptura, circular ou nó verda- deiro de cordão; • Placenta prévia, descolamento prematu- ro de placenta; • Apresentação anormal. • Neonatais: • Imaturidade pulmonar; • Pneumotórax; • Pneumomediastino; • Anemia; • Distúrbios metabólicos; • Hemorragia. asfixia Perinatal Erica Vince Marrara Francisco Paulo Martins Rodrigues Mauricio Magalhães 9 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 59 16/08/2016 11:13:00 60 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 9 avaliação Das rePerCussões sistêmiCas – aborDagem sistêmiCa • Cardiovasculares: • RX tórax: aumento área cardíaca e con- gestão venosa pulmonar; • ECG: depressão segmento ST em V3-V4 e/ou inversão onda T em V5-V6; • CKMB: aumento em 5 - 10% do valor basal nas primeiras 24 horas; • ECO: diminuição da contratilidade mio- cárdica, insuficiência tricúspide por dis- função do músculo papilar por isquemia, detecção de malformações cardíacas. • Respiratórias: • Depressão do centro respiratório; • Síndrome de aspiração meconial (SAM); • Síndrome do desconforto respiratório (SDR); • Síndrome da hipertensão pulmonar per- sistente (HP). • Renais: • Necrose tubular aguda (NTA) com insu- ficiência renal: oligúria (diurese < 1 mL/ kg/h), hematúria e proteinúria, hipona- tremia e hipercalemia, aumento creati- nina sérica. • Gastrointestinais: • Alterações mais tardias; • Peristalse diminuída e retardo esvazia- mento gástrico; • Enterocolite necrosante (1-2%). • Metabólicas: • Acidose; • Hipoglicemia; • Hipocalcemia. • Hematológicas: • Coagulação intravascular disseminada: hemorragias sistêmicas, plaquetopenia e alteração de coagulograma. • Hepáticas: • Comprometimento da produção fatores de coagulação e aumento de transami- nases, bilirrubina direta e amônia sérica. • Sistema nervoso central: • Exame neurológico (Sarnat); • USG/tomografia/ressonância de crânio: encefalopatia hipoxico-isquêmica (EHI); • Pré-termo: lesão predominante na matriz germinativa → hemorragia pe- ri-intraventricular → leucomalácia peri- ventricular; • Termo: lesão predominante em gânglios da base e hipotálamo. tratamento • EHI: • Oxigenoterapia: evitar hipo/hiperoxia ou hipo/hipercapnia; • Glicemia: manter entre 75-100 mg/dL (substrato cerebral); • Controle acidobásico e hidroeletrolítico; • Tratamento de convulsões. • Cardiovasculares: • Dopamina e dobutamina; • Evitar sobrecarga volume e distúrbios metabólicos; • Monitorar FC, PA – manter PAM 45- 50 mmHg, o que teoricamente mantém uma boa perfusão cerebral. • Renais: • Monitorar: diurese, densidade urinária, eletrólitos e osmolaridade sanguínea e urinária para avaliar a presença de NTA ou síndrome de secreção inapropriada de ADH; • Valores de creatinina e sódio urinários para definir fração de excreção de sódio que pode confirmar lesão renal. • Gastrointestinais: • Jejum nos primeiros dias até estabiliza- ção clínico-laboratorial. • Hematológicos e hepáticos: • Correção de distúrbios metabólicos; • Se necessário, fornecer fatores de coagu- lação: plasma fresco congelado, criopre- cipitado e concentrado de plaquetas. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 60 16/08/2016 11:13:00 61 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 9 • Pulmonares: • Ventilação e oxigenação adequadas; • Tratamento específico lesões pulmona- res (SAM/SDR/HP); • Pode ser necessário surfactante e óxido nítrico. • Metabólicas: • Correção distúrbios metabólicos; • Hipotermia (ver capítulo específico). inDiCaDores De mau PrognóstiCo • Índices de APGAR persistentemente baixos; • Convulsões precoces; • EEG com padrão surto-supressão; • aEEG alterado: surto-supressão, contínuo de baixa voltagem, ausência do padrão ciclo sono-vigília, convulsões; • Exame neurológico alterado já na primeira semana de vida. referênCias bibliográfiCas 1. American Academy of Pediatrics, American College of Obstetricians and Gynecologists – Relationship between perinatal factors and neurologic outcome. In: Poland RL, Freeman RK, eds. Guidelines for Perinatal care. E. ed. Elk Grove Village: American Academy of Pedia- trics; 1992, p. 221-4. 2. Rosa, I.R.M. Asfixia Perinatal. In: Marba STM, Mezzacappa Filho F. Manual de Neonatologia Unicamp. 2ª ed. Rio de Janeiro: REVINTER, 2009. p. 196-200. 3. Encefalopatia Hipóxico-Isquêmica. In: Aten- ção à saúde do recém-nascido – Guia dos profissionais de saúde. Volume 3. Capítulo 28. 2011. p. 135-48. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 61 16/08/2016 11:13:00 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 62 16/08/2016 11:13:00 63 • Única terapia disponível com efeito neu- roprotetor comprovado; • Efeito neuroprotetor: diminui a demanda energética cerebral; • Efeito antioxidante: diminui liberação de aminoácidos excitatórios (glutamato, dopamina) e reduz a produção de óxido nítrico e radicais livres de O2; • Objetivo: inibir, reduzir e melhorar a evo- lução da lesão cerebral e sequelas neu- rológicas decorrentes da encefalopatia hipóxico isquêmica (EHI); • Resfriamento corporal total; • Duas técnicas de resfriamento corporal: • Hipotermia seletiva da cabeça; • Hipotermia corporal total. Apesar de ainda serem necessários mais es- tudos comparativos, a segunda parece ser mais indicada, pois promove o resfriamen- to de estruturas cerebrais mais profundas, como o tálamo e os gânglios da base, e man- tém a temperatura cerebral mais estável. Além disso, ela é de mais fácil realização e permite monitorização por eletroencefalo- grama (EEG). PROTOCOLO: “ResfRiamenTO CORPóReO TOTaL de Rn COm eHi” • Critérios de inclusão: todos os abaixo: • IG > 35 semanas; • Evento isquêmico perinatal presente ou suspeito; • 6 horas de vida (HV) ou menos; • Encefalopatia clínica (tônus anormal, irritabilidade excessiva ou resposta neu- rológica pobre) ou evidência de encefa- lopatia moderada ou grave (convulsão clínica) ou presença de 3 ou mais das 6 categorias da Tabela 10.1 (classificação Sarnnat & Sarnat). E associados a dois dos critérios a seguir: • APGAR ≤ 5 no 5° minuto; • Necessidade de suporte ventilatório com 5 minutos de vida (IOT ou VPP); • pH < 7,1 em gasometria de cordão ou arte- rial na 1ª HV ou BE > -12 em gasometria do cordão ou arterial além da 1ª HV. CRiTéRiOs de exCLusãO • 6 HV; • Peso ao nascimento (PN) < 2 kg; Hipotermia neuroprotetora Erica Vince Marrara Francisco Paulo Martins Rodrigues Mauricio Magalhães 10 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 63 16/08/2016 11:13:00 64 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 0 • Malformações congênitas maiores; • Morte inevitável (julgada pela equipe de neonatologia). Equipamento • Termômetro retal ou esofágico com monitor; • Bolsas de gelo ou colchão térmico. • Monitores: • Cardíaco; • Saturação; • Pressão arterial invasiva e não invasiva. Resfriamento • Iniciar o resfriamento nas primeiras 6 hv; • Documentar o horário do início do proto- colo; • Na sala de reanimação: • Desligar o berço aquecido; • Transporte para UTI em incubadora desligada; • Na UTI neonatal; • Berço aquecido desligado; • Instalar monitor de temperatura retal a 5 cm da borda anal e fixar; monitorização contínua; • Manter temperatura retal entre 33-34 ºC na primeira hora; • Registrar temperatura a cada 30 minutos; • Sonda vesical de demora: controle rigoro- so de diurese até o final do reaquecimento; • Acesso vascular seguro; • Jejum durante hipotermia; • Fentanil: 1 mcg/kg/min durante todo procedimento e aumentar a dose de acordo com o escore de dor; • Cuidados com a pele. • Interromper o resfriamentose: • Persistência de hipoxemia com FiO2 de 100%; • Sangramento ativo; • Arritmia cardíaca com necessidade de tratamento medicamentoso (não sinusal); • Informar aos pais os riscos da EHI, o procedimento e os possíveis benefícios. Reaquecimento • Iniciar após 72 horas do início do resfria- mento; • Aquecer 0,2-0,5 ºC por hora até temperatu- ra retal atingir 36,5 ºC; TABELA 10.1 – ClassiFiCação dE saRnat & saRnat Categoria Encefalopatia moderada Encefalopatia grave 1. nível de consciência letargia Estupor/coma 2. atividade espontânea diminuída ausente 3. Postura Flexão distal, extensão completa descerebração (braços estendidos e rodados internamente, pernas entendidas com pés em flexão plantar forçada) 4. tônus Hipotonia (focal ou generalizada) Flacidez 5. Reflexos primitivos Moro sucção Fraco incompleto ausente ausente 6. sistema autonômico Pupilas Frequência cardíaca Respiração Miose Bradicardia Periódica Midríase ou s/reação à luz Variável apneia _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 64 16/08/2016 11:13:00 65 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 0 • Controle contínuo da temperatura retal com anotação a cada hora até 24 horas de- pois de a temperatura atingir 36,5 ºC; • Atenção para a necessidade de líquidos du- rante reaquecimento. mOniTORizaçãO POssíveis efeiTOs adveRsOs • Cardíaco: • Diminuição da contratilidade miocárdica; • Arritmia; • Bradicardia sinusal: comum, tolerar até 80 a 100 bpm ou < 80 bpm com PA adequada; • FC < 60 bpm: risco de PCR – considerar uso de atropina (0,01 a 0,03 mg/kg/dose a cada 10/15 min). • Respiratório: hipóxia, edema pulmonar, hi- pertensão pulmonar, apneia; • Gastrointestinal: ECN; • Hematológico: coagulopatia e disfunção plaquetária; • Metabólico: acidose, desvio à esquerda da curva de dissociação de Hb, hipocalemia, hipoglicemia; • Imunológico: sepse; • Neurológico: • Irritabilidade; • Tremores; • Hipotensão: expandir com SF 0,9% 10 mL/kg em 20 min. E iniciar dobutamina. • Convulsões/padrão patológico em aEEG. RefeRênCias bibLiOgRáfiCas 1. Encefalopatia Hipóxico-Isquêmica. In: Atenção à saúde do recém-nascido – Guia dos profissio- nais de saúde. Volume 3. Capítulo 28. 2011. p. 135-148. 2. Gunn, A.J.; Hoehn, T.; Hansmann, G.; et al: Hy- pothermia: an evolving treatment for neonatal hypoxic ischemic encephalopathy. Pediatrics 2008; 121:648–9. 3. Magalhães M et al. Neuroprotective body hy- pothermia among newborns with hypoxic ischemic encephalopathy: three-year experien- ce in a tertiary university hospital. A retros- pective observational study. Sao Paulo Med. J. vol.133 no.4, 2015. 4. Shankaran, S.; Laptook, A.R.; Ehrenkranz, R. A.; et al: Whole-body hypothermia for neonates with hypoxic-ischemic encephalopathy. N Engl J Med 2005; 353: 1574–84. TABELA 10.2 – oRiEntaçõEs PaRa MonitoRização dos RECéM-nasCidos EM HiPotERMia tERaPêutiCa PoR EHi Cardiovascular • Monitorização contínua da FC • Monitorização contínua da PA Respiratório • Oximetria de pulso contínua • Gasometria arterial Cordão umbilical ou até no máximo 1 hora de vida, 6 e 24 horas (no mínimo ausência de VM) a cada 24 horas para monitorização de acidose Fluidos, eletrólitos e enzimas • Eletrólitos com 6, 24 e 72 horas • Ureia, creatinina, magnésio e fósforo séricos diariamente (até a normalização) • CPK, CKMB, DHL e troponina com 6 e 24 horas de vida • Transaminases, bilirrubinas, albumina se necessário Hematologia • Hemograma completo com 24 e 72 horas de vida • Tempo de protrombina e tempo de tromboplastina parcial com 24 e 72 horas ou até normalizar neurologia • Avaliação neurológica diária (Sarnat) • Monitorização com EEG ou aEEG • Neuroimagem: considerar ultrassonografia de cérebro no 1° dia e RnM entre o 5° e 21° dia Pele • Exame da pele de hora em hora • Mudar de posição • RN em decúbito ventral ou dorsal durante a hipotermia _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 65 16/08/2016 11:13:00 66 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 0 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 66 16/08/2016 11:13:00 67 Introdução A neonatologia é sem dúvida uma das espe- cialidades médicas com grandes avanços nas últimas décadas. O advento do surfactante, óxido nítrico e ventilação protetora foram capazes de promover importante redução na mortalidade neonatal, entretanto, tal pro- gresso não foi necessariamente acompanha- do de um neurodesenvolvimento adequado nos casos de recém-nascidos com alto risco para injúria cerebral, como por exemplo, os prematuros extremos. Diante a esse fato, um dos maiores desafios atuais da neonatologia consiste em associar educação da mortalida- de a uma qualidade devida livre de sequelas neurológicas. Para isso é fundamental ou só de tecnologia e métodos capazes de identifi- car a injúria cerebral de forma precoce. Desta forma, almejamos um manejo mais fino do recém-nascido em relação ao sistema nervo- so central. O Eletroencefalograma de Amplitude Inte- grada (aEEG) é um método de monitorização cerebral contínua à beira do leito, não invasivo e de simples interpretação. Estudos clínicos demonstram grande aplicabilidade clínica permitindo avaliação prognóstica e neuroló- gica de recém-nascidos com asfixia perinatal, avaliação de prematuro se identificação de cri- ses convulsivas sendo estas apenas algumas de suas utilidades. Neste capítulo, abordaremos os passos básicos para a interpretação da monitorização cere- bral com aEEG, assim como algumas de suas aplicabilidades clínicas e sugerimos um proto- colo de indicação e utilização do método. AvAlIAção do aEEG Três são as informações básicas que podemos abordar ao visualizarmos um traçado de EEG de amplitude integrada: • Atividade de base; • Ciclo sono e vigília; • Atividade epiléptica. AtIvIdAdE ElétrIcA dE bAsE clAssIfIcAção por rEconhEcImEnto dE pAdrõEs Padrão Contínuo (C) Padrão reconhecido como de normalidade em RN de termo apresenta amplitude mínima aci- ma de 5 µV e amplitude máxima acima de 10 µV (geralmente entre 10 e 25/50 µV). Eletroencefalograma de Amplitude Integrada (aEEG) Indicações e Interpretação Gabriel F. T. Variane Mauricio Magalhães Renato G. Gasperini 11 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 67 16/08/2016 11:13:01 68 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 1 Descontínuo (D) Dependendo da idade gestacional, também é considerado padrão de normalidade e apre- senta amplitude mínima abaixo de 5µV e am- plitude máxima acima de 10 µV: • Descontínuo de alta voltagem: amplitude mínima entre 3 a 5 µV; • Descontínuo de baixa voltagem: amplitude mínima abaixo de 3 µV. Contínuo de Baixa Voltagem (CBV) Traçado contínuo que apresenta amplitude mínima abaixo de 5 µV e amplitude máxima abaixo de 10µV. Figura 11.1 – Padrão Contínuo (C). Figura 11.2 – desContínuo (d). Figura 11.3 – Contínuo de Baixa Voltagem (CBV). _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 68 16/08/2016 11:13:01 69 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 1 Surtossupressão (SS) Traçado de característica descontínua que apresenta amplitude com variabilidade míni- ma entre 0-1/2 µV mas com surtos de ampli- tude > 25 µV: • SS + indica padrão de surtossupressão com densidade de surtos ≥ 100 surtos/hora; • SS - indica padrão de surto-supressão com densidade de surtos ≥ 100 surtos/hora. Isoelétrico (Iso) Traçado bastante suprimido indicando inativi- dade elétrica e provável injúria cerebral muito grave (caso paciente não esteja sob efeito de se- dação), com amplitude sempre abaixo de 5 µV. Ciclo Sono e Vigília (CSV) A presença de ciclo de sono e vigília no aEEG é caracterizada por variações cíclicas suaves, e um padrão sinusoidal das bandas de amplitude entre a margem inferiore superior do traçado. Períodos onde a banda de amplitude apresen- ta largura maior representa má atividade mais descontínua durante o sono profundo e as par- tes mais estreitas do traçado correspondem má o momento de a vigília ou sono superficial. Figura 11.4 – surto suPressão (ss). Figura 11.5 – isoelétriCo (iso). _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 69 16/08/2016 11:13:01 70 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 1 De modo geral podemos classificar o traçado em relação ao ciclo de sono e vigília em 3 categorias: • Ausência de CSV: não são observadas va- riações sinusoidais ao traçado do aEEG. • CSV imaturo: são observadas algumas va- riações sinusoidais entre as bandas de am- plitude, mas não de forma completamente clara e desenvolvida. • CSV desenvolvido: alterações sinusoidais claramente identificáveis ao traçado do aEEG com duração do ciclo de superior a 20 min. crIsEs EpIléptIcAs Ver capítulo “Convulsão Neonatal para In- formações Sobre o Uso de aEEG nas Crises Convulsivas”. uso dE aEEG nA prátIcA clínIcA O aEEG é considerado um método de avalia- ção da atividade elétrica cerebral, através do qual avaliamos a atividade elétrica de base, presença de ciclo sono e vigília e presença de atividade epiléptica. A atividade elétrica de base e a presença de ciclo sono e vigília estão diretamente relacio- nados a maturidade cerebral e a presença de injúria no sistema nervosa central. Devemos lembrar que o período neonatal é o de maior prevalência para crises convulsivas e que em até 80% dos pacientes as crises epi- lépticas e mesmo o estado de mal epiléptico são completamente subclínicos. Portanto, a utilização de métodos capazes de identificar as crises convulsivas são fundamentais. O método ouro certamente é o eletroencefalo- grama convencional (EEG), porém o seu uso necessita de equipe altamente treinada para a sua instalação e leitura, além de que o uso para monitorização por períodos prolongados é muitas vezes complexo e indisponível. O aEEG apresenta sensibilidade diminuída para detectar crises isoladas ou focais, entretanto apresenta comprovadamente maior sensibili- dade para detecção de estado de mal epilép- tico e crises repetitivas, sendo especialmente útil para grandes períodos de monitorização. Como o aEEG é método não invasivo, reali- zado à beira do leito, pode ser utilizado para avaliar maturidade e injúria cerebral e possi- bilita a identificação de atividade epiléptica, o seu uso é indicado para todos os recém- -nascidos com alto risco para injúria cerebral. Neste grupo destacamos os recém-nascidos com asfixia perinatal, prematuridade extrema, hemorragia peri-intraventricular, meningite, choque séptico, hipertensão pulmonar grave associada a hipoxemia e cardiopatias congêni- tas (período pré, intra e pós-operatório). Passos para realizar uma monitorização adequada: • Selecionar o paciente elegível para monito- rização cerebral contínua. Figura 11.6 – CiClo sono e Vigília (CsV). _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 70 16/08/2016 11:13:01 71 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 1 • Apresenta risco de injúria cerebral? • Apresenta risco de convulsão? • Encaixa-se no protocolo do seu serviço para monitorização? Iniciar a monitorização: • Separar o material necessário (computador, aparelho e eletrodos). • Qual tipo de eletrodo utilizar? • Técnica de fixação. • Utilizar um ou dois canais? Iniciar o software: • Acessar a qualidade da monitorização. • Os eletrodos estão na posição adequada? • A impedância está adequada? 7 Passos necessários para interpretar os acha- dos do aEEG: • Conhecer detalhadamente a história do paciente • Apresenta EHI? Ou é prematuro? • Qual a história da gestação e do parto? • Qual o estado clínico do paciente? Está em uso de droga vasoativa ou sedação? • Apresenta cardiopatia congênita? • Avaliar a montagem utilizada. • Avaliara atividade elétrica de base. Avaliar o valor da amplitude mínima do traçado: • Acima de 5 µV. • Abaixo de 5 µV. • Avaliar o valor da amplitude máxima do traçado. • Acima de 10 µV. • Entre 5 e 10 µV. • Abaixo de 5 µV. • O traçado apresenta surtos? Existe padrão sinusoidal das bandas de am- plitude: • CSV desenvolvido? O CSV imaturo? • Ausência de CSV? Detecção de crise epiléptica: • Ver Capítulo 12. Caso utilize dois canais ou mais: • Avaliar simetria do traçado. Relacionar achados eletroencefalográfico com vídeo-imagem quando possível. protocolo InstItucIonAl pArA AvAlIAção dA monItorIzAção cErEbrAl com aEEG Considerando que o método é não invasivo e pode ser realizado a beira do leito, serão mo- nitorizados os RN considerados de alto risco para lesão cerebral conforme a lista a seguir: rn com AsfIxIA pErInAtAl Todo RN com suspeita de asfixia perinatal de- verá ser monitorizado a partir do nascimento (idealmente até a terceira hora de vida). Caso o paciente receba hipotermia terapêutica a monitorização deverá ser mantida por 96 h (72 h de período de hipotermia e 24 h após reaquecimento). prEmAturIdAdE ExtrEmA Todo RN com IG < 31 semanas deverá ser mo- nitorizado por 72 h - 96 h, período de maior instabilidade clínica, imaturidade de auto fluxo cerebral e, portanto risco para injúria e hemorragia peri-intraventricular. suspEItA dE crIsE convulsIvA E EstAdo dE mAl EpIléptIco Todo RN com suspeita de crise convulsiva clínica deverá ser monitorizado pelo período mínimo de 48 h e pelo menos por 24 h sem evidência de crise epiléptica. Todo RN em estado de mal epiléptico deverá ser monitorizado por tempo indeterminado até o período de 24 h até a suspensão de crises. rn com InstAbIlIdAdE hEmodInâmIcA/hIpoxEmIA sEvErA RN com grave instabilidade hemodinâmica como choque séptico deverá ser monitorizado por ao menos 48 h para avaliação de função cerebral e possível atividade epiléptica em vigência de crise. RN com hipoxemia grave decorrente de pa- tologias como hipertensão pulmonar, serão _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 71 16/08/2016 11:13:02 72 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 1 monitorizados por ao menos 48 h durante o período de instabilidade. mEnInGItE E InfEcção do snc RN com diagnóstico de meningite ou outras infecções do SNC devido ao alto risco de in- júria cerebral e crises epilépticas deverá ser monitorizado por 48 h. rn com cArdIopAtIA conGênItA Pacientes com cardiopatia congênita grave (ex.: hipoplasia de VE, Coarctação de Aorta e estenose de valva pulmonar) deverão ser monitorizados, em especial no período pós- -operatório imediato por 48 h. Pacientes com persistência do canal arterial e evidência de repercussão hemodinâmica deverão ser monitorizados pelo período de 24-48 h. rEfErêncIAs bIblIoGráfIcAs 1. Watanabe K, Hayakawa F, Okumura A. Neo- natal EEG: a powerful tool in the assessment of brain damage in preterm infants. Brain Dev. 1999;21(6):361-72. 2. Le Bihannic A, Beauvais K, Busnel A, de Bara- ce C, Furby A. Prognostic value of EEG in very premature newborns. Arch Dis Child Fetal Ne- onatal Ed. 2012;97(2):F106-9. 3. Bowen JR, Paradisis M, Shah D. Decreased aEEG continuity and baseline variability in the first 48 hours of life associated with poor short- -term outcome in neonates born before 29 we- eks gestation. Pediatr Res. 2010;67(5):538-44. 4. Chalak LF, Sikes NC, Mason MJ, Kaiser JR. Low-voltage aEEG as predictor of intracranial hemorrhage in preterm infants. Pediatr Neurol. 2011;44(5):364-9. 5. Soubasi V, Mitsakis K, Sarafidis K, Griva M, Nakas CT, Drossou V. Early abnormal amplitu- de-integrated electroencephalography (aEEG) is associated with adverse short-term outcome in premature infants. Eur J Paediatr Neurol. 2012;16(6):625-30. 6. Csekő AJ, Bangó M, Lakatos P, Kárdási J, Pusztai L, Szabó M. 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Effect of hypothermia on amplitude- -integrated electroencephalogram in infants with asphyxia. Pediatrics. 2010;126(1):e131-9. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 72 16/08/2016 11:13:02 73 Crises convulsivas em recém-nascidos (RNs) são frequentemente causadas ou associadas com condições neonatais graves, como: • Encefalopatia hipóxico-isquêmica. • Hemorragia Intracraniana: • Hemorragia peri-intraventricular; • Hemorragia subdural; • Hemorragia subaracnoide. • Distúrbios metabólicos: • Hipoglicemia; • Hipocalcemia; • Hipomagnesemia. • Infecções. • Malformações do SNC. • Síndromes genéticas. • Epilepsia (rara). RN com crises convulsivas constituem popu- lação de alto risco para maior mortalidade e maior morbidade com déficits neurológicos e epilepsia na vida futura. As manifestações clínicas das crises convulsi- vas no período neonatal podem ser muito va- gas ou até completamente subclínicas. Ocorre até 80% de dissociação entre atividade epilép- tica e apresentação clínica. Logo, o diagnóstico clínico não é confiável e a identificação correta das crises convulsivas pode ser otimizada com uso do EEG ou aEEG durante a monitorização de RN de alto risco, prática cada vez mais comum e padronizada nas UTIs neonatais para identificação de cri- ses convulsivas. aEEG Em crisEs convulsivas A crise epiléptica pode ser visualizada ao aEEG através de um súbito aumento da am- plitude mínima e máxima (algumas vezes somente da amplitude mínima) do traçado vi- sualizado ao aEEG. Manipulação do paciente e artefatos externos podem mimetizar o mes- mo traçado durante a leitura do aEEG. É de fundamental importância associar este padrão a visualização do EEG bruto como in- tuito de comprovar a existência de atividade epiléptica. Se possível devemos associar o traçado com as imagens obtidas através de uma vídeo- -gravação. Em linhas gerais um padrão de crise epilética no EEG bruto é caracterizado por on- das rítmica se estereotipa das sendo que a crise apresenta um início, pico e fim. Não há critérios específicos quanto à duração mínima de uma crise epiléptica, entretanto a duração mínima de 10 s seja bem aceita em vários estudos. convulsão neonatal Gabriel F. T. Variane Mauricio Magalhães Renato G. Gasperini 12 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 73 16/08/2016 11:13:02 74 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 2 Entretanto, devemos lembrar que o aEEG é um método de triagem e não apresenta a mesma sensibilidade. Sempre que uma crise epiléptica for visualizada o ideal é solicitar o acompanhamento de um neurofisiologista e realização de um EEG convencional. DEtEcção DE crisE Epiléptica • Existe súbito aumento das linhas de ampli- tude mínima e máxima? • Artefato, manipulação? • Avaliar o padrão do EEG bruto: • Presença de ondas rítmicas e estereoti- padas com duração superior a 10 s? inDicação DE monitorização com aEEG • Todo RN com suspeita de crise convulsiva clínica deverá ser monitorizado pelo perío- do mínimo de 48 h e pelo menos por 24 h sem evidência de crise epiléptica. • Todo RN em estado de mal epiléptico deve- rá ser monitorizado por tempo indetermi- nado até o período de 24 h até a suspensão de crises. tratamEnto A escolha do tratamento da convulsão ne- onatal com drogas de primeira e segunda escolha é bastante controversa na literatura devido a falta de estudos recentes contro- lados e randomizados com pacientes dessa faixa etária. Habitualmente, a maioria dos intensivistas neonatais e neurologistas utilizam como pri- meira escolha o fenobarbital, seguido da hi- dantalização e benzodiazepínicos contínuos para controle de mal convulsivo. Entretanto, foi elaborado um algoritmo base- ado no uso cada vez mais frequente de medi- camentos promissores por possuírem poucos efeitos adversos, menor indução de apoptose Figura 12.1 – traçado de aeeG demonstrando aumento da amplitude mínima e máxima nos episódios de crises convulsivas. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 74 16/08/2016 11:13:02 75 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 2 neuronal e potencial de neuroproteção, apesar desses estudos terem sido realizados na faixa etária pediátrica e adulta (Figura 12.2). Nas crises convulsivas refratárias ao uso dos medicamentos anticonvulsivantes de primeira e segunda escolha e que não foi estabelecido uma causa provável para a convulsão neonatal, foi estabelecido um algoritmo para tratamen- to de crises convulsivas refratárias baseado na possibilidade de algum erro inato do meta- bolismo como diagnóstico e na existência de tratamentos que podem modificar a história da doença através da suplementação de vita- minas e cofatores (Figura 12.3). Figura 12.2 *1RNs em hipotermia terapêutica podem apresentar acúmulo de lidocaína. Ajustar a dose nesse caso. *2Se disponível utilize fosfenitoína ao invés de fenitoína baseado na menor ocorrência de efeitos adversos. Sim Levetiracetam 40 mg/kg EV em bolus Manutenção: 40-60 mg/kg/dia EV ou VO dividido em 2 a 3 doses Não Fosfenitoína*2 20 mg/kg EV em bolus Manutenção: iniciar 5-8 mg/kg/ dia EV dividido em 2 a 3 doses* Não Iniciar manutenção de Fenobarbital 12 h após dose de ataque 4-6 mg/kg/dia EV ou VO dividido em 2 doses Anormalidades cardíacas e/ou instabilidade hemodinâmica? Sim Repetir Fenobarbital 10 a 20 mg/kg EV Máx.: 50 mg/kg/dia Crises convulsivas esporádicasCrises convulsivas frequentes ou estado de mal epiléptico Anormalidades cardíacas e/ou instabilidade hemodinâmica? Não Lidocaína*1 EV 2 mg/kg em bolus, após iniciar 6 mg/ kg/h e diminuir 2 mg/kg/h a cada 12 h tempo máx.: 48 h continue após com fenobarbital em dose de manutenção Sim Levetiracetam 40 mg/kg EV em bolus Manutenção: 40-60 mg/kg/dia EV ou VO dividido em 2 a 3 doses Sim Midazolam 0,15 mg/kg EV em bolus, após iniciar 0,06 mg/kg/h (titular conforme necessário até dose máxima de 0,4 mg/kg/h Diminuir dose gradualmente após 24h da última crise convulsiva Ou Levetiracetam 40 mg/kgEV em bolus Manutenção: 40-60 mg/kg/dia EV ou VO dividido em 2 a 3 doses Não O paciente recebeu fenitoína/ fosfenitoína previamente? Fenobarbital – dose de ataque – 20 a 30 mg/kg EV Persiste com crises convulsivas? Persiste com crises convulsivas? _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 75 16/08/2016 11:13:02 76 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 2 Figura 12.3 – FluxoGrama para o tratamento da crise convulsiva neonatal. rEfErências biblioGráficas 1. Defining the gap between electrographic seizure burden, clinical expression and staff recognition of neonatal seizures. Murray DM, Boylan GB, Ali I, Ryan CA, Murphy BP, Connolly S (2008) Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed 93: F187-191. 2. Levetiracetam in neonatalseizures: a review. Mruk AL et al - J Pediatr Pharmacol Ther. 2015 Mar- -Apr;20(2):76-89. doi: 10.5863/1551-6776-20.2.76. 3. Prolonged electroencephalogram moni- toring for seizures and their treatment. Clancy RR - 2006 - Clin Perinatol 33: 649- 665, vi. 4. Response of levetiracetam in neonatalseizures Yau ML et al - World J Clin Pediatr. 2015 Aug 8;4(3):45- 9. doi: 10.5409/wjcp.v4.i3.45. eCollection 2015. 5. Systematic review of neonatal seizure mana- gement strategies provides guidance on anti- -epileptic treatment – Lena Hellstrom-Westas et al – Acta Paediatrica 2014 DOI:10.1111/ apa.12812 ISSN 0803-5253. 6. Treatment of neonatal seizures – Renee Shellhas MD – UpToDate Review Jun 2015. Não Considere teste com biotina 10 mg VO Sim Possível deficiência de antiquitina (ALDH7A1) Confirme com análise de mutação para ALDH7A1 Não Teste com ácido folínico (Leucovorin 2,5 mg EV) Sim Possível deficiência de PNPO (Fosfato de piridoxamina 5 oxidase) Resposta clínica ou eletroencefalográfica (aEEG/EEG)? Confirme com análise de mutação para deficiência de PNPO Confirme com análise de mutação para ALDH7A1 Confirme com análise de mutação para deficiência de PNPO Elevado Possível deficiência de antiquitina (ALDH7A1) Normal Possível deficiência de PNPO (Fosfato de piridoxamina 5 oxidase) Convulsão neonatal não responsiva aos anticonvulsivantes convencionais Teste com Piridoxina 100 mg EV ou 15-30 mg/kg/dia VO dividido em 3 doses por 2-3 dias Resposta clínica ou eletroencefalográfica (aEEG/EEG)? Resposta clínica ou eletroencefalográfica (aEEG/EEG)? Não Teste com Piridoxal 5 fosfato 60 mg/kg/dia VO dividido em 3 doses diárias por 2 a 3 dias Sim Dosar alfa-AASA na urina e/ou ácido pipecólico sérico _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 76 16/08/2016 11:13:02 77 A hemorragia peri-intraventricular (HPIV) é o tipo de hemorragia intracraniana neonatal mais frequente e é característica do recém- -nascido pré-termo (RNPT), nos menores de 32 semanas e/ou com peso ao nascimento me- nor que 1.500 g. O substrato anatomopatoló- gico é o sangramento inicial na área da matriz germinativa, área subependimária próxima do nú cleo caudado, ricamente vascularizada, com alta proliferação celular, que contém uma rede capilar frágil e imatura. Quadro clínico A HPIV costuma ocorrer em RNPT com dis- túrbio respiratório e sob ventilação mecânica. O início da hemorragia ocorre no 1° dia de vida em 50% dos pacientes e 90% das lesões iniciam-se em até 72 horas de vida. Outros sintomas: hipotensão, abaulamento de fontanela, bradicardia, irregularidade térmica, distúrbios hidroeletro líticos (acidose metabó- lica, alterações da glicemia, SIADH). Hemorragia Peri-intraventricular Erica Vince Marrara Mauricio Magalhães 13 Tabela 13.1 – PatogênEsE da HPIV 1) Fluxo sanguíneo cerebral oscilação Pa anormal Hipóxia, hipercapnia, acidose, assincronia, sdR grave, PCa, aspiração traqueal, manipulação, ventilação, hipo/hipertensão, sepse, desidratação, convulsões 2) Fragilidade da matriz Inflamação Lesão hipóxico-isquêmica, sepse 3) distúrbios da coagulação Plaquetopenia, disfunção hepática, CIVd Tabela 13.2 – CLassIFICação E PRognóstICo da HPIV Grau Sangramento Prognóstico I Restrito à matriz germinativa Bom II Intraventricular, sem dilatação Bom III Intraventricular, com dilatação do ventrículo sequelas tardias: hemiparesia espástica IV Parenquimatosa sequelas tardias: hemiparesia espástica, alterações cognitivas _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 77 16/08/2016 11:13:02 78 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 3 diagnóstico • Ultrassonografia de crânio: é o método pre- ferencial, mais rápido e com menor mobili- zação do RN. Utilizar transdutores setoriais de 5 e/ou 7,5 MHz de frequência; Tabela 13.4 – Usg dE CRânIo EM IdadE gEstaCIonaL < 32 sEM oU PEso < 1.500 g Peso RN (g) Dias de vida 3 - 5 10 - 14 28 alta hospitalar < 1.000 X X X X 1.000 – 1.250 X X X 1.251 – 1.500 X X Fonte: academia americana de neurologia e sociedade americana de neu- ropediatria. • Tomografia: valor na identificação de he- morragia subdural, lesões hemorrágicas de fossa posterior e hemorragia localizada no parênquima cerebral mais periférico; • Ressonância Magnética: eficaz, especialmen- te após alguns dias do início da hemorragia. Nos primeiros dias, a hemorragia é isointen- sa em TI e hipointensa em T2. A intensidade do sinal aumenta com o passar dos dias, e após duas semanas, a hemorragia é hiperin- tensa tanto em TI quanto em T2; • Líquor: hemácias, macrófagos com hemos- siderina e hiperproteinorraquia são carac- terísticos. Manejo Prevenção/diagnóstico Precoce • USG de crânio seriada no período neona- tal; • Prevenção de distúrbios na hemodinâmica cerebral; • Evitar flutuações na pressão arterial e no fluxo sanguíneo cerebral. sugestão Complicação • Hidrocefalia pós-hemorrágica: comuni- cante é a mais comum, por aracnoidite obliterante na fossa posterior. A não comu- nicante ocorre por obstrução dos forames de Moro ou de Silvius por coágulo. Inicia- -se por volta de 1 a 3 semanas pós-hemor- ragia. Para seguimento: • Crescimento do perímetro cefálico; • Sinais de hipertensão intracraniana, Atenção: pela complacência craniana pode ha- ver dilatação ventricular importante sem esses sinais, sendo essencial USG seriado mesmo nos assintomáticos. • Tratamento: DVE/DVP. • Leucomalácia periventricular: injúria da substância branca por necrose focal com formação subsequente de cistos. Associada a paralisia cerebral, desenvolvimento inte- lectual e distúrbios visuais. Detectada por USG, TC, RM. Tabela 13.3 – síndRoMEs CLínICas Síndrome Quadro clínico Diagnóstico silenciosa (25-50% dos casos) súbita e inexplicada do Ht ou não após transfusão somente com imagem, sangramento pequeno Intermitente alteração do nível de consciência, motilidade, hipotonia, movimentos oculares anormais, distúrbio respiratório Imagem e clínica, com sintomas intermitentes Catastrófica Evolução rápida, estupor, coma, apneia, crises convulsivas tônicas, descerebração, quadriplegia flácida, pupilas fixas e não reagentes Imagem e clínica, com sangramento volumoso _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 78 16/08/2016 11:13:03 79 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 3 referências bibliográficas 1. Ballabh, P. Intraventricular hemorrhage in pre- matures infants: mechanism of disease. Pedia- tric research. Vol. 67. n. 01, 2010. 2. De Vries, L.S.; Liem, K.D.; Van Dijk, K.; Smit, B.J.; Rademaker, K.J.; Gavilanes, A.W.D. 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Valores de Boletim de Silverman Andersen de 4 a 6, em pacientes já em uso de oxigenoterapia (FiO2 ≥ 60 %), são indi- cativos de algum suporte ventilatório com pressão positiva (CPAP nasal ou intubação traqueal). Distúrbios respiratórios no período neonatal Maurício Magalhães Paulo Roberto Pachi Rodrigo de Jesus Gonçalves Figueredo 14 Retração intercostal Retração xifoide Batimento de asa nasal Gemido espiratórioSuperior Inferior 0 Sincronizado S/ tiragem Ausente Ausente Ausente 1 Declive inspiratório Pouco visível Pouco visível Pouco visível Audível só c/esteto 2 Balancim Marcada Marcada Marcada Audível s/esteto _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 83 16/08/2016 11:13:03 84 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 4 Dificuldade respiratória História e exame físico Possíveis causas TTRN SDR Pneumonia SAM Escape de ar Malformações (hipoplasia pulmonar, enfisema lobar, hérnia diafragmática, derrame pleural congênito) Caixa torácica Fraturas Neuromusculares Cardiovasculares Metabólicas RespiratóriaVias aéreas Edema cerebral Hemorragia cerebral Drogas Obstrução nasal Atresia de coanas Traqueomalácia Broncomalácia Anel vascular Hipovolemia Anemia Policitemia Cardiopatias HPPN Acidose Hipoglicemia Hipotermia Infecção HPPN = hipertensão pulmonar persistente neonatal; TTRN = taquipneia transitória do RN; SDR = síndrome do desconforto respiratório; SAM = síndrome de aspiração meconial. Diagnóstico Diferencial sínDrome Do Desconforto respiratório (sDr) Quadro clínico Aumento do trabalho respiratório logo após o nascimento com intensificação nas primeiras 24 horas e pico por volta de 48 a 72 horas Radiologia Infiltrado reticulonodular difuso e uniforme com broncograma aéreo e aumento de líquido pulmonar critérios diagnósticos • Evidências de prematuridade e imaturidade pulmonar. • Início do desconforto respiratório nas primeiras 3 horas de vida. • Evidências de complacência pulmonar reduzida, CRF diminuída e trabalho respiratório aumentado. • Necessidade de oxigênio inalatório e/ou suporte ventilatório não invasivo ou invasivo por mais de 24 horas. • Radiografa de tórax mostrando parênquima pulmonar com velamento reticulogranular difuso e broncogramas aéreos entre 6 e 24 horas de vida. Tratamento • Estabilização metabólica • Reposição de surfactante • Suporte ventilatório _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 84 16/08/2016 11:13:03 85 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 4 taquipneia transitória Do recém-nasciDo (ttrn) Quadro clínico Desconforto respiratório nas primeiras horas após o nascimento, melhorando a partir de 24 a 48 horas Radiologia Congestão peri-hilar simétrica, espessamento de cisuras interlobares, hiperinsufação pulmonar leve ou moderada, derrame pleural 2 horas de vida 24 horas de vida 48 horas de vida Tratamento Manutenção do equilíbrio ácido-base Hidratação adequada Suporte ventilatório e oxigenoterapia sínDrome De aspiração meconial (sam) Quadro clínico Sintomas respiratórios de início precoce e progressivo, com cianose grave. Quando não há complicações (baro/ volutrauma e/ou hipertensão pulmonar), há resolução do quadro em 5 a 7 dias Radiologia Áreas de atelectasia com aspecto granular grosseiro alternado com áreas de hiperinsuflação, áreas de consolidação lobares ou multiloba- res, enfisema intersticial, pneumotó- rax e/ou pneumomediastino critérios diagnósticos • RN a termo ou pós-termo com história de asfixia perinatal e líquido amniótico meconial • Presença de mecônio na traqueia do RN • Alteração radiológica compatível Tratamento Correção de distúrbios hidroeletrolíticos e metabólicos Suporte ventilatório Surfactante Óxido nítrico Antibioticoterapia se infecção secundária à pneumonite _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 85 16/08/2016 11:13:03 86 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 4 Hipertensão pulmonar persistente neonatal (Hppn) Quadro clínico Hipoxemia grave e refratária, desproporcional ao grau de desconforto respiratório, proveniente da diminuição do fluxo sanguíneo pulmonar e shunt direito-esquerdo através do forame oval e/ou canal arterial, podendo ocorrer de forma primária ou secundária Radiologia Inespecífica; vasculatura pulmonar pouco proeminente; alterações típicas da doença de base Tratamento Tratar causa base Controle de PA (inotrópicos) Surfactante Suporte ventilatório Óxido nítrico Hemorragia pulmonar Quadro clínico Piora súbita, com descompensação cardiorrespiratória, presença de secreção sanguinolenta em vias aéreas, bradicar- dia, vasoconstrição periférica, dispneia e necessidade de oxigenoterapia Fatores de risco • Não utilização de corticoide antenatal • Não utilização de surfactante no tratamento da SDR • PCA com disfunção cardíaca • Trombocitopenia, coagulopatia, sepse Radiologia Opacificação difusa dos campos pulmonares com broncograma aéreo Tratamento Suporte ventilatório Corrigir distúrbios hematológicos (concentrado de hemácias, plasma fresco congelado, concentrado de plaquetas, vitamina K) Surfactante exógeno (não aumenta a chance de hemorragia) _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 86 16/08/2016 11:13:04 87 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 4 pneumonia congênita Quadro clínico Desconforto respiratório, intolerância alimentar, letargia, hipotonia, hipo ou hipertermia, distensão abdominal, comprometimento do estado geral Fatores de risco Corioamnionite clínica Rotura de membranas amnióticas > 18 h Trabalho de parto prematuro sem causa Mãe colonizada por estreptococo beta hemolítico do grupo B Laboratório Hemograma sugestivo de infecção, Proteína-C reativa em elevação Radiologia Infiltrado nodular ou grosseiro, granular fino e irregular, bronco- gramas aéreos, edema pulmonar, consolidação segmentar ou lobar Tratamento Suporte respiratório Aquecimento Manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico e ácido-base Antibioticoterapia Surfactante em pneumonia por estreptococo do grupo B _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 87 16/08/2016 11:13:04 88 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 4 sínDrome De escape De ar presença de ar em regiões normalmente não aeradas enfisema intersticial pulmonar Quadro clínico RN sob ventilação mecânica com piora dos parâmetros respiratórios Radiologia Coleções de ar linear ou cística, de tamanhos variados, localizadas ou difusas, comprometendo um ou ambos pulmões Tratamento Diminuir a pressão média em vias aéreas Fisioterapia respiratória minimizada Ventilação de alta frequência Intubação seletiva pneumotórax Quadro clínico Exame físico: assimetria torácica comdiminuição da expansibilidade do lado afetado, desvio contrala- teral do íctus, diminuição do murmúrio vesicular no lado acometido Hipertensivo – desconforto respiratório, cianose, bradicardia, má perfusão periférica, hipotensão arterial e choque. Não hipertensivo – assintomático ou manifestações respiratórias leves (taquipneia, gemido expiratório e retrações) Radiologia Área de hipertransparência, compressão e colabamento do pulmão comprometido, desvio do mediastino para o lado contralateral, retificação ou inversão da cúpula diafragmática Tratamento Drenagem torácica fechada _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 88 16/08/2016 11:13:04 89 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 4 pneumome- diastino Quadro clínico Assintomático taquipneia leve, aumento do diâmetro anteroposterior do tórax e hipofonese das bulhas cardíacas, baixo débito cardíaco nos casos graves Radiologia Hipertransparência contor- nando a silhueta cardíaca, elevando o timo da sua posição normal (sinal da vela ou da asa de morcego) Tratamento Conservador Drenagem cirúrgica em casos graves pneumoperi- cárdio Quadro clínico Assintomático ou sinais de tamponamento cardíaco Radiologia Hipertransparência envolven- do todo o coração, inclusive na sua borda inferior Tratamento Conservador Punção de Marfan seguida de drenagem cirúrgica nos casos graves _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 89 16/08/2016 11:13:04 90 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 4 Displasia broncopulmonar (Dbp) definição Dependência de oxigênio suplementar após 36 semanas de idade gestacional corrigida ou após o 28º dia de vida Radiologia Traves pulmonares intersticiais em meio a áreas hiperlucentes, em pulmões superexpandidos, nas suas fases mais adiantadas prevenção • Ventilação protetora: menor tempo inspiratório tolerado, recrutamento alveolar e menor FiO2 – hipercapnia modera- da (50 a 55 mmHg) sem acidose e SatO2 entre 87-90% • Posição prona • Fisioterapia respiratória criteriosa • Restrição hídrica para manter DU ~ 1010 • Reconhecimento e tratamento precoces do PCA • Reposição de Surfactante • Suporte nutricional adequado • Vitamina A na dose de 2000 UI IM 3 ´ semana, • Antibioticoterapia adequada à biota da Unidade • Diuréticos na presença de congestão vascular: Furosemida (1 mg/kg/dia) em um ciclo de 3 a 5 dias referências bibliográficas 1. Jobe, A.H.; Ikegami,M – Mechanisms initiating lung injury in the preterm. Early Human Deve- lopment. 53:81-94, 1998. 2. Martim, R.; UpToDate. Pathophysiology and clinical manifestations of respiratory distress syndrome in the newborn. Download realizado em 21/01/16. 3. Ministério da Saúde. Atenção à saúde do recém- -nascido: guia para os profissionais de saúde. Volume 3: Problemas respiratórios, cardiocircu- latórios, metabólicos, neurológicos, ortopédicos e dermatológicos. Ministério da Saúde, 2011. 4. Tyson, J.E.; Wright, L.L.; Oh, W. et al. – NICHD Neonatal Research Network. Vitamin A sup- plementation for extremely low birth weight infants. N Engl J Med. 340:1962-1968, 1999. 5. Van Marter, L.J.; Levinton, A.; Allred, E.N. et al – Hydration during the first days of life and the risk of bronchopulmonary displasia in low birth weight infants. J Pediatr. 116:942-949, 1990. 6. Wiswell, T.E.; Gannon, C.M.; Jacob, J. Et al. – Delivery room management of the apparently vigorous meconium-stained neonate:results of the Multicenter, International Collaborative. Trail. Pediatrics. 105:1-7, 2000. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 90 16/08/2016 11:13:04 91 IndIcações • Síndrome do desconforto respiratório; • Paciente em ventilação mecânica; • FiO2 ≥ 40%; • Síndrome de aspiração meconial; • Pneumonia, principalmente a causada pelo estreptococo do grupo B; • Hemorragia pulmonar. dose • De 100 a 200 mg/kg (pode-se utilizar dose inicial de 200 mg/kg em RNPT extremos menores que 28 semanas com SDR grave); • Dose máxima de 400 mg/kg; • Utiliza-se um número máximo de quatro doses com intervalo de seis a 24 horas entre elas, se necessário; • Indicação de doses subsequentes: FiO2 maior ou igual a 40%. cuIdados antes de InstIlar a droga • Extremidade da cânula traqueal entre a pri- meira e a terceira vértebras torácicas; • Se necessário, aspirar a cânula traqueal 10 a 15 minutos antes da instilação do surfactante; • Evitar a desconexão do respirador para instilar o surfactante: utilizar cânula de duplo lúmen ou ministrar através de co- nector com entrada lateral ou da cânula traqueal. cuIdados durante a InstIlação da droga • Monitorizar frequência cardíaca, pressão arterial e oximetria de pulso; • Administrar a dose total com a cabeça do RN em posição neutra. Instilar cada fração da droga em 30 a 60 segundos; • Caso ocorra bradicardia (FC < 80 bpm) e/ ou hipoxemia (SatO2 < 85%), interromper até estabilização e voltar a administração da droga. cuIdados após a InstIlação da droga Não aspirar cânula traqueal e/ou realizar fi- sioterapia respiratória nas duas horas subse- quentes; • Monitorizar oxigenação arterial (oxímetro de pulso e gasometria arterial), frequência cardíaca e a pressão arterial; • Raios X de torax. uso do surfactante e protocolo do uso Minimamente Invasivo Marília Mira Gonçalves Maurício Magalhães Victoria Catarina de Albuquerque Melo 15 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 91 16/08/2016 11:13:05 92 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 5 coMplIcações • Barotrauma; • Dessaturação; • Hemorragia pulmonar. TABELA 15.1 – Tipos de surfACTAnTes que TeMos dispo- níVeis Surfactante Curosurf® Survanta® Tipo natural natural origem suina Bovina Concentração 80 mg/mL 25 mg/mL dose 1,25 mL/kg (100 mg/kg) 2,5 mL/kg (200 mg/kg) 4 mL/kg (100 mg/kg) protocolo do uso de surfactante eM respIração espontânea Introdução Novo método de aplicação de surfactante sem intubação orotraqueal. O surfactante é realiza- do com RN prematuro em respiração espon- tânea em CPAP nasal, através de uma sonda fina na traqueia. objetIvo Reduzir a necessidade de sedação, intubação, ventilação mecânica e suas comorbidades. crItérIos de Inclusão RN prematuro separados em dois grupos de acordo com Idade Gestacional (IG): • < 28 semanas e de 28 a 34 semanas, inde- pendente do peso, com diagnóstico clínico e/ou radiológico de SDR em CPAP com FiO2 ≥ 30% (< 28 sem) ou ≥ 35% (28 a 34 sem) e PEEP ≥ 7 mmHg; • Nova indicação de surfactante se FiO2 ≥ 40%; • Pode ser realizada até 2 doses de surfactan- te pelo método minimamente invasivo. crItérIos de exclusão Malformação congênita maior, necessidade de intubação orotraqueal prévia ou imediata. IndIcação de Intubação Sintomas de SDR grave, asfixia, apneias recor- rentes, FiO2 > 50%, ph < 7,2 e/ou PCO2 > 65 por mais de 2 horas. Método • RN deverá estar estável no CPAP com ma- nutenção de FC e saturação adequada. • Antes de iniciar o procedimento separar uma sonda orogástrica nº 8 e fazer a pri- meira marcação com a medida da cânula orotraqueal indicada para o peso na al- tura do lábio superior. Fazer uma segun- da medida que deverá ficar na altura da glote, de forma estéril, conforme a IG do recém-nascido: • 25-26 sem: 1 cm 29-32 sem: 2 cm; • 27-28 sem: 1,5 cm 33-34 sem: 3 cm. • Realizar laringoscopia e introduzir a sonda na traqueia, realizar surfactante na dose de 100 mg/kg com infusão de 1 minuto len- tamente; • Ao término da infusão retirar imediata- mente a sonda; • Manter monitorização de saturação e FC; • Não é necessário o uso de sedação ou analgesia; • Durante todo o procedimento RN deverá ser mantido em CPAP. exaMes a sereM realIzados Antes do procedimento, se houver condições, realizarRX de tórax desde que não atrase a realização da medicação. Após 2 horas do procedimento deverá ser coletada gasometria arterial e realizado RX tórax. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 92 16/08/2016 11:13:05 93 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 5 anotar os parâMetros do cpap Pré-procedimento, de hora em hora nas 4 ho- ras imediatamente após procedimento, com 24 e 48 horas de vida. anotar as IntercorrêncIas durante o procedIMento coMo Tosse, refluxo, bradicardia, queda de satura- ção, necessidade de VPP. anotar na evolução do rn • Necessidade de IOT nas primeiras 72 h e nova dose de surfactante; • Tempo de VMI, VMNI, O2 e UTI; • Presença de complicações como: pneumo- tórax, PCA com necessidade de tratamento, BDP, ECN, HIC, ROP > grau 2. referêncIas bIblIográfIcas 1. Dargaville, P.A.; et al. Minimally-invasive sur- factant therapy in preterm infants on conti- nuous positive airway pressure. Arch Dis Child Fetal Neonatal, 2013; 98: 122-126. 2. Heidarzadeh, M.; et al. Surfactant Adminis- tration via Thin Catheter during Spontaneous Breathing: Randomized Controlled trial in Al- zahra Hospital. Iranian Journal of Neonatology, 2013, 4:5-9. 3. Klebermass-Schrehof, K.; et al. Less Invasive Surfactant Administration in Extremely Pre- term Infants: Impacto on Mortality and Morbi- dity. Neonatology, 2013; 103:252-258. 4. Kribs A, Vierzig, A., Hünseler, C., Eifinger, F., Welzing, L., Stützer, H. and Roth, B Early sur- factant in spontaneously breathing with nCPAP in ELBW infants – a single centre four year ex- perience. Acta Paediatrica 2008;97:293-8. 5. Ministério da Saúde. Atenção à saúde do recém- -nascido: guia para os profissionais de saúde. Volume 3: Problemas respiratórios, cardiocircu- latórios, metabólicos, neurológicos, ortopédicos e dermatológicos. Ministério da Saúde, 2011. 6. Ramanathan, R.; Rasmussen, M.R.; et al. A ran- domized multicenter masked comparison trial of poractant alfa (Curosurf) versus beractant (Survanta) in treatment of respiratory distress syndrome in preterm infants. Am J Perina- tol.2004; 21(5): 307-9. 7. Suresh, G.K.; Soll, R.F. Current surfactant use in premature infants. Clin Perinatol, 2001; 28: 671-94. 8. Young, T.E.; Mangum, B. Neofax: A Manual of Drugs Used in Neonatal Care. ed 24. Raleigh, North Carolina: Acorn Publishing, USA, 2011. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 93 16/08/2016 11:13:05 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 94 16/08/2016 11:13:05 95 A apneia da prematuridade é caracterizada como pausa respiratória acima de 20 s, ou de menor duração, se acompanhada de bradicar- dia e/ou cianose. A frequência e severidade dos sintomas são inversamente proporcionais à idade gestacional, sendo um distúrbio asso- ciado à imaturidade do centro respiratório. Cerca de 80% dos RN com peso < 1.000 g são afetados e todos os RN com idade gestacional (IG) menor de 34 semanas devem ser moni- torados. A respiração periódica é um padrão típico do prematuro, que ocorre em períodos de respi- ração regular, por pelo menos 20 segundos, seguido de pausas por até 10 segundos, sem alterações hemodinâmicas. Fisiopatologia O controle neuronal imaturo da respiração é o principal mecanismo da apneia da pre- maturidade; há uma resposta ventilatória anormal à pCO2 e à pO2 (menor sensibili- dade dos quimiorreceptores), combinada a uma imaturidade das respostas reflexas de estiramento alveolar e da musculatura lisa dos vasos pulmonares. Pode haver, ainda, um componente obstrutivo importante, relacio- nado à instabilidade da via aérea superior do RN prematuro. ClassiFiCação Tabela 16.1 – ClassifiCação de apneia Tipos de apneia Frequência Conceito Característica Central 10 a 25% Cessação do fluxo aéreo e do esforço respiratório a frequência e o risco aumentam em função da menor iG obstru- tiva 10 a 20% Cessação do fluxo aéreo na presença de esforço respiratório associado a maior alteração hemodinâmica. frequência diminui com o aumento da ig Mista 50 a 75% apresenta elementos de ambas Maior tempo de duração e alteração hemodinâmica acentuada abordagem diagnóstiCa Para realizar o diagnóstico, existe a necessida- de de afastar patologias que possam causar ou agravar apneias, para que a terapia adequada seja implementada. Para isso, deve-se: apneia de prematuridade ana luiza Teixeira Balloti Tabajara Barbosa lima neto 16 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 95 16/08/2016 11:13:05 96 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 6 • Avaliar a história materna e verificar a ocorrência de complicações perinatais; verificar idade gestacional cronológica e pós-natal, drogas dadas à mãe e à criança, checar condições do parto, índice de AP- GAR e temperatura do ambiente e do RN no momento da apneia, e posicionar ade- quadamente o RN, mantendo vias aéreas pérvias e retificadas; • Manter monitorização cardíaca e oximetria de pulsos; • Afastar distúrbios metabólicos, infecciosos e acometimento do SNC, seja por HPIVs, de qualquer grau, seja por malformações cerebrais; • Investigar quadros anêmicos; • Investigar função cardiorrespiratória, com radiografias de tórax, ECG e ecocardio- grama; abordagem terapêutiCa Como procedimentos imediatos, para todos os tipos de apneia, devemos fazer: estimulação tátil, aspiração de boca e vias aéreas e aumento do oxigênio no ambiente (manter saturação em torno de 90%). Caso necessário, utilizar CPAP nasal e, se aplicável, intubação orotra- queal, a fim de fornecer pressão positiva em vias aéreas. Manter o paciente em posição pro- na pode ser benéfico. Uma vez determinada a causa da apneia, deve- -se iniciar a terapia específica. terapia FarmaCológiCa protoColo do uso da CaFeína A cafeína é um antagonista inespecífico do re- ceptor de adenosina, efetivo para o tratamento de apneia da prematuridade. Alguns estudos demonstram o benefício da cafeína para a di- minuição da incidência de BDP, diminuição do tempo de necessidade de suporte ventila- tório (CPAP, VNI ou VM), menor necessidade de tratamento medicamentoso e cirúrgico de PCA, além de proteção neurológica a médio e curto prazo. Indicação Tabela 16.2 – Uso de CafeÍna IG corrigida Quando introduzir Dose Suspensão < ou = 29 sem no primeiro dia de vida ataque: 10 mg/kg Manutenção: 5 mg/kg/dia (24 h após dose de ataque), podendo chegar a 10 mg/kg/dia 34 sem de iG corrigida e 7 dias sem apneia 36 sem de iG corrigida, se ainda com suporte ventilatório 29 + 1/7 sem a 32 sem se suporte ventilatório com pressão positiva em vias aéreas, por mais de 24 h, ou se apneia 32 + 1/7 sem a 34 sem se apneia Se a resposta não for satisfatória podemos aumentar a dose de manutenção para 7,5 ou ainda para 10 mg/kg/dia, porém devemos mo- nitorar possíveis efeitos colaterais. Outros efeitos: Broncodilatador, reduz pausas respiratórias, aumenta atividade do diafrag- ma, reduz depressões respiratórias hipóxico- -isquêmicas e aumenta a diurese. aminoFilina Utilizada atualmente como droga de segunda escolha, preconiza-se uma dose de ataque de 5 a 7 mg/kg, com manutenção de 1,5 a 2 mg/ kg, a cada 6-8 h. reFerênCias bibliográFiCas 1. 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Encontra-se diminuída na síndrome do desconforto respiratório, atelectasia e edema pulmonar, depressão respiratória, pneumotórax e hérnia diafrag- mática. • Capacidade residual funcional (CRF): é o volume de ar que permanece nos pulmões após a expiração normal. Corresponde a 15% da CPT; • Capacidade inspiratória (CI): é a associação entre VC e VRI; • Espaço morto fisiológico: é a soma dos es- paços mortos anatômico e alveolar. Corres- ponde a 30% da CPT; • Ventilação alveolar: é o volume efetivamen- te ventilado. Corresponde a 70% do volume pulmonar total; • Volume minuto (Vm): é a soma dos VC em um minuto. Corresponde à multiplicação entre volume corrente e frequência respi- ratória; • Constante de tempo (CT) é o tempo ne- cessário, obtido pela multiplicação entre complacência e resistência, para o alvéolo equilibrar 63% de seu volume de troca com as vias aéreas superiores. Ao final de três CT, 95% do volume alveolar é equilibra- do. No RN, três CT correspondem a 0,45 segundos. ventilação mecânica em neonatologia Maria Renata Tollio Chopard Paulo Roberto Pachi Rodrigo de Jesus Gonçalves Figueredo 17 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 99 16/08/2016 11:13:05 100 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 7 ventilação mecânica no neonato objetivos • Garantir troca gasosa adequada com valo- res gasométricos definidos; • Reduzir o trabalho respiratório; • Minimizar o risco de lesão pulmonar; • Reduzir a incidência e gravidade da bron- codisplasia (DBP). parâmetros de ajustes no ventilador • Fração inspirada de oxigênio (FiO2): é a concentração de oxigênio no ar inspirado, influenciando a oxigenação alvéolo-arte- rial. Em prematuros, a saturação (SatO2) arterial deve ser mantida em torno de 90%. A hiperóxia está associada a maior incidên- cia de DBP; • Pressão inspiratória (PIP/Pinsp): é a pres- são (cm/H2O) utilizada para a expansão adequada do pulmão. A utilização de bai- xas pressões pode levar a hipoventilação, enquanto pressões elevadas podem gerar síndrome de escape de ar, aumento da re- sistência vascular pulmonar, além de pre- dispor a DBP; • Pressão expiratória (PEEP): é a pressão final positiva que ocupa os alvéolos na expiração e tem como objetivo evitar a atelectasia alveolar. Assim como na PIP, pressões ina- dequadas podem lesar pulmões e via aérea; • Tempo inspiratório (Ti): depende da cons- tante de tempo. Tempo curto pode levar a hipoventilação e hipocapnia, enquanto tempos longos podem causar síndrome de escape de ar e doença pulmonar crônica; • Tempo expiratório (Te): depende da cons- tante de tempo. Tempo muito curto pode dificultar o esvaziamento completo dos alvéolos ocasionando o auto-PEEP, que au- menta a pressão média alveolar resultando em alterações hemodinâmicas como a di- minuição do retorno venoso; • Relação inspiração-expiração (I:E): é resul- tante dos ajustes do tempo inspiratório e frequência respiratória. Fisiologicamente, o tempo gasto na expiração deve ser maior do que o da inspiração. Evita-se a utilização da relação invertida que pode ser utilizada como um instrumento para melhorar a hi- poxemia refratária as manobras de suporte ventilatório convencionais. Usualmente, utiliza-se a relação de 1:1,5 a 1:3; características anatômicas e Funcionais do sistema respiratório do neonato < Calibre das vias aéreas > Resistência ao fluxo aéreo Deficiência de surfactante INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA Atelectasia alveolar < Volume pulmonar Posicionamento horizontalizado das costelas Inserção diagonal do diafragma Maior quantidade de fibras elásticas Maior quantidade de tecido cartilaginoso da caixa torácica Maior complacência da caixa torácica _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 100 16/08/2016 11:13:05 101 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 7 • Frequência respiratória: deve ser o suficien- te para garantir a oxigenação e valores ade- quados de PaCO2 de acordo com o quadro clínico em questão; • Fluxo: é o que determina como as pres- sões irão chegar às vias aéreas. Fluxos mais baixos levam a uma elevação gradual da pressão alveolar, sendo considerado mais fisiológico; • Diferencial de pressões (PI-PEEP): é o deter- minante do VC; • Pressão média de vias aéreas (MAP): re- presenta todo o conjunto de pressões que o pulmão está submetido. Correlaciona-se diretamente com a hipoxemia; MAP = (Ti PIP) + (Te PEEP) Ti + Te • Sensibilidade: é o limiar de fluxo, tempo ou pressão que deve ser alcançado pelo paciente para que o esforço respiratório seja detectado pelo aparelho. No período neonatal, os sensores de fluxo localizados na conexão entre o aparelho e a cânula traqueal são os mais sensíveis. O uso de sensibilidade muito baixa e a presença de água no circuito pode desencadear a cicla- gem do ventilador independente do esforço do paciente. De maneira oposta, o uso de valores altos de sensibilidade pode não de- tectar o esforço do paciente. A sensibilida- de é responsável por ventilações assistidas e sincronizadas. Parâmetros ventilatórios Ventilação protetora em RN (objetivos) PEEP 5 cmH2O pH 7,25 – 7,35 Tinsp 0,35 s paCO2 50 – 60 mmHg FR 30 irpm paO2 50 - 70 mmHg Pinsp para atingir VC 4 – 6 mL/kg SatO2 ~ 90% ventilação não invasiva – cpap eFeitos • Aumento de VR, CRF, complacência e fluxo; • Redução da resistência na via aérea; • Estabilização de via aérea e diafragma; • Conservação de surfactante; • Recrutamento alveolar; • Desmame da ventilação mecânica (VM); • Prevenção e/ou tratamento de apneias. complicações • Pneumotórax; • Distensão gástrica; • Erosões do septo nasal; • Flutuações na PaO2 e PaCO2. desmame do cpap O melhor método de desmame do CPAP é controverso. Sugerimos a retirada do CPAP se RN atinge os seguintes critérios critérios de estabilidade (todos os 8 por ≥ 12 h) • CPAP 4-6 cm H2O ≥ 24 h; • FiO2 < 25%; • FR < 60; • Ausência esforço respiratório significante (esterno/diafragma); • Menos de 3 episódios durante 1 hora de apneia com reversão espontânea e/ou bra- dicardia (< 100 bpm) e/ou dessaturação (≤ 86%) nas últimas 6 horas; • Saturação média > 86% maior parte do tem- po ou PaO2/PaO2 transcutânea > 45 mmHg; • Ausência de tratamento atual para PCA ou sepse; • Tolerância à retirada do CPAP por 15 minutos. Para retiradado CPAP, o melhor método é a redução gradual da pressão, ao invés de redução de ciclagem mantendo a pressão inicial. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 101 16/08/2016 11:13:06 102 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 7 Manter RN sob O2 ou ar ambiente, conforme necessidade do mesmo. Observar evolução do RN e retornar ao CPAP se ocorrer pelo menos 2 dos critérios abaixo: critérios de Falha de retirada do cpap • Aumento do trabalho respiratório com FR > 75 ipm; • 3 ou mais episódios em 1 hora de apneia e/ ou bradicardia e/ou dessaturação nas últi- mas 6 horas; • Aumento necessidade de O2 > 25% para manter Sat > 86%; • pH < 7,2 (componente respiratório); • Apneia ou bradicardia com necessidade de intervenção. Se houver falha, retornar o RN ao CPAP com os mesmos parâmetros do momento da reti- rada, mantendo por pelo menos 48 horas, e então esperar atingir novamente os critérios de estabilidade para nova tentativa de retirada do aparelho. ventilação invasiva ciclagem dos ventiladores de pressão positiva De acordo com o término da inspiração, são classificados em quatro tipos: Ciclados a tempo A inspiração termina após um tempo inspi- ratório determinado. A quantidade de gás ofertada e a pressão das vias aéreas variam a cada respiração, dependendo das modifi- cações da mecânica pulmonar. A ventilação a pressão controlada (PCV) é diferente neste modo, pois o fluxo desacelerado proporcio- na uma pressão constante durante a inspi- ração, reduzindo os riscos de barotrauma. Isso aumenta o tempo inspiratório e inverte a relação I:E. Ciclados a pressão A inspiração cessa quando é alcançada a pres- são máxima determinada. Os volumes ofere- cidos variam de acordo com as mudanças da mecânica pulmonar. A ventilação-minuto não é garantida. Ciclados a volume A inspiração termina após completado o VC determinado. Ciclados a fluxo A inspiração termina quando determinado fluxo é alcançado. Neste caso, uma pressão de- terminada em via aérea é aplicada ao paciente, o respirador cicla assim que o fluxo inspirató- rio diminui e alcança um percentual determi- nado de seu valor de pico (normalmente 25%). ventilação ciclada a volume Ventilação controlada Na ventilação controlada, o Vm é dependente da frequência e do VC do respirador. Nenhum esforço respiratório do paciente contribue para o Vm. Ventilação assistocontrolada (A/C) O ventilador detecta o esforço inspiratório do paciente e oferece um VC determinado. Esse esforço inspiratório é necessário para vencer o limiar de sensibilidade da válvula de demanda do ventilador, desencadeando a liberação do VC. Assim, o paciente cicla o respirador e re- aliza a inspiração. Na presença de auto-PEEP há aumento do trabalho respiratório propor- cional à quantidade de auto-PEEP Ventilação mandatória intermitente (IMV, SIMV) O suporte ventilatório é determinado pela frequência do IMV. Em intervalos regulares, _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 102 16/08/2016 11:13:06 103 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 7 o respirador libera um volume previamente determinado. Fora destes ciclos, o paciente respira espontaneamente através do circuito do ventilador, portanto, com frequência e VC que variam de acordo com a necessidade e capacidade individuais. A SIMV representa a sincronização com o movimento inspiratório. São vantagens do SIMV em relação ao A/C: • Melhor sincronismo com o ventilador; • Menor necessidade de sedação; • Menor tendência de alcalose respiratória; • Menor MAP, com redução de barotrauma e comprometimento hemodinâmico, espe- cialmente na vigência de PEEP; • Manutenção da resistência muscular possi- bilitada pela respiração espontânea; • Ventilação ciclada a fluxo – Pressão de su- porte (PSV). Uma vez disparada pela válvula de demanda, uma pressão determinada é mantida até que haja redução do fluxo inspiratório do pacien- te. O paciente detém o controle sobre o ciclo respiratório. Pode ser adicionada ao suporte ventilatório total ou parcial (SIMV). Sua apli- cação possibilita aumento do VC e redução da frequência respiratória. Valores baixos aumentam o risco de colabamento alveolar. A monitorização cuidadosa é necessária, pois VC e Vm não são garantidos. A PSV pode ser mal tolerada em pacientes com alta resistência de vias aéreas. Assim como ocorre na venti- lação A/C e SIMV, pode ocorrer assincronia durante o uso de PSV na modalidade total de assistência ventilatória. ventilação assistida neuralmente ajustada (nava®) O ato de respirar é controlado pelo centro res- piratório do cérebro, que decide as caracterís- ticas de cada respiração. O centro respiratório envia um sinal ao longo do nervo frênico, o qual excita o diafragma. Como resultado da contração muscular, há pressão negativa das vias aéreas, causando um influxo de ar para os pulmões. Com NAVA®, a atividade elétrica do diafragma (Edi)é capturada , transferida ao ventilador e utilizado para auxiliar a respira- ção do paciente em sincronia e proporcional ao esforço desempenhado pelo paciente. NAVA usa a atividade elétrica do diafragma, captado por uma sonda nasogástrica especifi- ca localizada na parte inferior do esôfago, para sincronizar respirações mecânicas. Estudos observacionais em neonatos comparando o NAVA com outras formas de ventilação con- vencional sincronizado demonstram melhora na interação ventilador-paciente e redução de níveis de PIP e sedação, mantendo os valores de gases sanguíneos semelhantes. A integridade do sinal não é alterada durante as mamadas por sonda nasogástrica. NAVA pode ser utilizada como um componente da ventilação não inva- siva intermitente com pressão positiva (VNI). No entanto, como a maioria dos estudos envolveram apenas curtos períodos de ven- tilação com o NAVA, mais pesquisas são ne- cessárias para determinar os efeitos sobre o desfecho do paciente em uso deste modo ven- tilatório como base. ventilação de alta Frequência (vaF) Corresponde a utilização de baixos VC (2-3 mL/kg) e frequências respiratórias elevadas, medidas em Hertz. indicações • Falha de ventilação convencional; • Evitar barotrauma se ventilação convencio- nal com necessidade de altas pressões; • Escape de ar; • Recrutamento alveolar. parâmetros ventilatórios na vaF • Frequência: redução de PaCO2 relaciona-se com o volume minuto alveolar, quanto me- _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 103 16/08/2016 11:13:06 104 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 7 nor o VC, menor a retirada de CO2. Logo, quanto maior a frequência, menor o VC e maior PaCO2; • Amplitude: quanto maior a oscilação, maior o movimento do gás e a eliminação de CO2; • Pressão média da via aérea: relação direta com grau de recrutamento e oxigenação. Frequência inicial 10 – 15 Hz Amplitude Vibração do paciente até a raiz da coxa Pressão média da via aérea Igual ou dois valores acima da pressão utilizada na ventilação convencional desmame ventilatório • Extubar se MAP < 6 cm H2O para CPAP ou O2 em incubadora ou parâmetros baixos em IMV; • Interromper VAF e passar para ventilação convencional quando MAP 6 - 8 cm H2O com FiO2 40%. complicações • Lesão pulmonar induzida pela ventilação – barotrauma, volutrauma e atelectrauma; • Redução de débito urinário; • Aumento de retenção salina; • Redução do fluxo venoso hepático. reFerências bibliográFicas 1. Amato, et al. Effects of a protective ventilation strategy on mortality in acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 1998; 338:347-54. 2. Attar MA, Donn SM. Mechanisms of ventilator- -induced lung injuryin premature infants. Se- min Neonatol. 2002;7:353-60. 3. Clark, R.H.; Slutsky, A.S.; Gerstmann, D.R. Lung protective strategies of ventilation in the neonate: what are they? Pediatrics. 2000; 105: 112-14. 4. De Klerk, A.M.; De Klerk, R.K. Use of con- tinuous positive airway pressure in preterm infants: comments and experience from New Zealand. Pediatrics. 2001; 48:761-2. 5. De Paoli AG, Davis PG, Lemyre B. Nasal con- tinuous positive airway pressure versus nasal intermittent positive pressure ventilation for preterm neonates: a systematic review and me- ta-analysis. Acta Paediatr. 2003; 92: 70-75 6. III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica. J Bras Pneumol. 2007; 33: 71-91. 7. James M Adams, Jr, Eric C Eichenwald; UpTo- Date. Mechanical ventilation in neonates. Do- wnload em 21/01/2016 8. Lee J, Kim HS, Sohn JA, et al. Randomized cros- sover study of neurally adjusted ventilatory as- sist in preterm infants. J Pediatr 2012; 161:808. 9. Stein H, Firestone K. Application of neurally ad- justed ventilatory assist in neonates. Semin Fetal Neonatal Med 2014; 19:60. 10. Todd, D.A.; Wright, A.; Broom; et al. Methods of weaning preterm babies < 30 weeks gestation of CPAP: a multicentre randomized controlled trial. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed.2012; 97, 4: 236-40. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 104 16/08/2016 11:13:06 O Recém-nascidO e cOndições especiais Parte 4 – Infecção seção 2 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 105 16/08/2016 11:13:06 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 106 16/08/2016 11:13:06 107 O estreptococo do grupo B (EGB) de Lance- field ou Streptococcus agalactiae foi identifi- cado nos anos 60, nos Estados Unidos, onde permanece ainda hoje como a principal cau- sa de sepse materna neste país. Diplococo Gram-positivo tem como reservatório, em humanos, o trato gastrointestinal e o trato geniturinário, sendo este o principal sítio de colonização. O fator determinante para a infecção neonatal precoce pelo EGB parece ser a presença desse microrganismo no trato genital materno ao nascimento sendo que o risco do RN adqui- rir a infecção através da transmissão vertical está diretamente relacionado ao número de microrganismos ali presentes. A infecção neonatal apresenta-se sob duas formas: precoce e tardia. A forma precoce é a mais frequente e ocorre nos primeiros sete dias de vida, sendo os sintomas verificados logo após o nascimento ou nas primeiras 24 a 48 horas. A transmissão ocorre durante o parto ou nascimento através da passagem do RN pelo trato genital colonizado ou por via ascendente. Fatores de riscos • História prévia de irmão com doença inva- siva por EGB; • Bacteriúria por EGB durante a gestação; • Trabalho de parto com idade gestacional inferior a 37 semanas; • Ruptura de membranas igual ou superior a 18 horas; • Temperatura intraparto igual ou maior que 38 ºC. estratégias para a prevenção da doença perinatal A quimioprofilaxia é hoje a melhor estratégia de combate ao EGB, sendo que a investigação materna está indicada para gestantes com IG 35 a 37 semanas, exceto naquelas com bacteri- úria ou antecedente de filho anterior com do- ença causada pelo EGB, pois já está indicado o uso da profilaxia nesses casos. prevenção e tratamento da doença perinatal pelo estreptococo do grupo B Nathalie Fonseca Thurler Tabajara Barbosa Lima Neto 18 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 107 16/08/2016 11:13:06 108 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 8 Tabela 18.1 – ProFiLaxia adequada: reaLizar PeLo meNos 2 doses com iNTervaLo de 4 h aNTes do ParTo Regimes recomendados para a profilaxia antimicrobiana intraparto para a prevenção da doença perinatal causada por eGb Penicilina G cristalina 5 milhões de unidades ev, seguida de doses de 2,5 a 3 milhões de unidades a cada 4 horas até o parto alternativa ampicilina 2 g ev, seguida de 1 g ev, a cada 4 horas até o parto Gestante com baixo risco de anafilaxia: cafazolina 2 g ev, seguida de 1 g a cada 8 horas até o parto com alto risco de anafilaxia, angioedema, urticária e desconforto respiratório clindamicina, 900 mg ev, a cada 8 horas até o parto ou eritromicina, 500 mg ev a cada 6 horas até o parto eGB resistente à clindamicina ou eritromicina vancomicina, 1 g ev, a cada 12 horas até o parto FiGuRa 18.1 – Algoritmo pArA investigAção clínicA e indicAção de profilAxiA. culturas de swab vaginal e retal com 35 a 37 semanas gestacionais de Todas as gestantes (a menos que tenha tido bacteriúria por eGB durante a gestação atual ou um filho anterior com doença invasiva por eGB) profilaxia intraparto não indicada Gestação anterior com cultura positiva para eGB (a menos que a cultura seja também positiva nessa gestação) Parto cesáreo eletivo realizado na ausência de ruptura de membranas amnióticas e antes do início do trabalho de parto (independentemente do estado materno de portadora do eGB) cultura retal e vaginal com 35 a 37 semanas (ou até 5 semanas antes do parto) negativa para eGB durante a gestação atual, independentemente da presença de fatores de risco intra-parto profilaxia intraparto indicada rN anterior com doença invasiva por eGB Bacteriúria por eGB cultura positiva durante a gestação atual (ao menos que o parto seja cesáreo eletivo, na ausência de trabalho de parto ou ruptura de membranas amnióticas) cultura desconhecida para o eGB (não realizada, incompleta ou desconhecida) e qualquer uma das situações abaixo: • Parto < 37 semanas • ruptura de membranas por tempo igual ou superior a 18h • Temperatura intra-parto 38º c _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 108 16/08/2016 11:13:06 109 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 8 FiGuRa 18.2 – Algoritmo pArA Aip de gestAntes em trAbAlho de pArto (tp) premAturo ou pré-termo. FiGuRa 18.3 – Algoritmo pArA pesquisA dA colonizAção pelo egb e uso de profilAxiA intrApArto (Aip) pArA gestAn- tes com roturA premAturA de membrAnAs (Antes de 37 semAnAs). Não há necessidade de aiP. repetir culturas 35-37 semanas se o parto não ocorrer Negativa (válido 5 sem) obter resultado das culturas suspender aiP Não aiP a cada 4 h e durante o trabalho parto verdadeiro Não obtido antes do TPPTPositiva continuar aiP a cada 4 h até o parto sim Gestante admitida com sinais e sintomas de trabalho de parto prematuro obter swab vaginal e retal e iniciar aiP Paciente entrou em Trabalho de parto verdadeiro? Não há necessidade de profilaxia repetir pesquisa em 35-37 sem se o parto não ocorrer antes Negativo obter resultado das culturas continuar aiP por 48 h durante o período de latência e suspender se não estiver em TP verdadeiro Não aiP para eGB até o final do parto Não obtido antes do partoPositiva continuar aiP até resolução do parto sim Gestante admitida com rotura prematura de membranas colher cultura vaginal e retal para o eGB e iniciar aiP Gestante entrou em trabalho de parto? _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 109 16/08/2016 11:13:06 110 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 8 reFerências BiBliográFicas 1. Edmond, K.M.; Kortsalioudaki, C.; Scott, S.; Schrag, S.J. Zaidi AKM, Cousens S, Heath PT. Group B streptococcal disease in infants aged younger than 3 months: systematic review and meta-analysis. Lancet. 2012; 379 (9815): 547-56. avaliação limitada** e antibioticoterapia empirica cuidados clínicos de rotina observação por ≥ 48 h observação por ≥ 48 h**** avaliação limitada observação > 48 h avaliação diagnóstica completa* antibioticoterapia empirica sinais de sepse Neonatal corioamnionite materna? Profilaxia indicada para a mãe?*** mãe recebeu ≥ 4 h de penicilina, ampicilina ou cefazolina ev iG ≥ 37 sem; rB < 18 h iG < 37 sem ou rB ≥ 18 h sim sim sim simsim sim Não Não Não Não Não FiGuRa 18.4 – Algoritmo pArA prevenção dA infecção neonAtAl precoce pelo egb. *avaliação diagnóstica completa = hemograma + hemocultura + Lcr + rx tórax. **avaliação limitada= hemograma completo + hemocultura. ***Profilaxia na gestante: cultura + para eGB até 5 sem do parto; presença de fatores de risco: iG < 37 sem; T > 38 ºc; rB ≥ 18 h; bacteriuria pelo eGB na gestação e história de rN prévio com doença invasiva para eGB. ****alguns especialistas recomendam hemograma completo e Pcr quantitativo com 6 a 12 h e 36 h de vida. 2. Lukacs, S.L.; Schrag, S.J. Clinical sepsis among neonates and young infants - United States, 1988 2006. J Pediatrics. 2012. Epub ahead of print. January 2012. 3. Verani JR, Mc GeesL, Scharag SG. Prevention of Perinatal Group B Streptococcal . Disea- se. Revised Guidelines from CDC. MMWR, 2010;59,(No.RR-10). _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 110 16/08/2016 11:13:06 111 A sepse neonatal é uma síndrome clínica ca- racterizada por resposta inflamatória sistêmi- ca acompanhada de bacteremia. Dependendo do tempo de manifestação da in- fecção, a sepse pode ocorrer de forma precoce (≤ 72 h) ou, então, de forma tardia (> 72 h). SepSe precoce A sepse precoce está relacionada a fatores gestacionais e ou periparto, sendo os germes originários do trato genital materno e ou bacteremia materna. Streptococcus agalactiae, Escherichia coli e Listeria monocitogenes são as bactérias mais comumente relacionadas à sepse precoce. Os sinais de sepse precoce são mínimos e ines- pecíficos. O diagnóstico é de difícil interpreta- ção e se baseia no tripé de critérios descritos a seguir: Tabela 19.1 – ExamEs laboratoriais Fatores de risco maternos neonatais fatores de risco neonatais Febre materna nas últimas 48 h – prematuridade infecção urinária materna sem tratamento ou em tratamento a menos de 72 h – asfixia perinanatal Colonização pelo estreptococo do grupo b sem profilaxia adequada – baixo peso ao nascer ruptura das membranas (> 18 horas) taquicardia fetal infecção do trato genital (coriamnionite*, líquido fétido, leucorreia, herpes, etc.) ruptura prematura de membranas amnióticas obs:* Corioamnionite: temperatura materna superior a 38 °C, FC materna superior a 100 bpm, FC fetal acima de 160 bpm, útero doloroso, líquido amniótico fétido, leucócitos no sangue materno superiores a 20.000/mm3. Na presença de corioamnionite o risco de sepse aumenta para 10 a 15% no termo e 35 a 50% no pré-termo. SepSe tardia A sepse tardia é produzida por germe de origem hospitalar e está geralmente associada às inter- venções realizadas nos recém-nascidos. Os ger- mes mais comumente associados à sepse tardia são as bactérias de origem hospitalar (Staphylo- coccus aureus, Staphylococcus coagulase-negati- vo, bactérias Gram-negativas e fungos). Sepse Neonatal Fernando Perroud da silveira Foresti silvia rodrigues da silva tabajara barbosa lima Neto 19 Fatores de risco maternos e neonatais manifestações clínicas no rN Exames laboratoriais _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 111 16/08/2016 11:13:07 112 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 9 Tabela 19.2 – FatorEs dE risCo Para sEPsE tardia Prematuridade (em especial os rN de muito baixo peso ao nascer) Utilização de procedimentos invasivos (cateter umbilical venoso e arterial, PiCC, cateter vascular central, drenos, etc.) Ventilação mecânica Nutrição parenteral Uso prévio de antibióticos de largo espectro Procedimentos cirúrgicos retardo do início da alimentação enteral MaNifeStaçõeS clíNicaS Os achados clínicos na sepse neonatal, preco- ce ou tardia, são inespecíficos e devem ser cor- relacionados com os fatores de risco, além de investigação laboratorial. Destacam-se alguns sinais clínicos comuns nos quadros de sepse citados a seguir: • Dificuldade respiratória, gemência; • Instabilidade térmica: hipotermia (T< 36,5 ºC) ou hipertermia (T > 37,5 ºC ) com ex- tremidades frias; • Apneia; • Distensão abdominal, vômitos; • Taquicardia, bradicardia; • Déficit de perfusão, hipotensão e choque; • Hipotonia e letargia. Outras manifestações menos frequentes in- cluem: convulsões, petéquias e púrpura ic- terícia sem causa definida, pústulas e lesões impetiginizadas. Nos casos de meningites, os sinais encontrados são semelhantes aos da sep- se, porém as manifestações podem ser discre- tas ou isoladas como irritabilidade, alteração do nível de consciência, hipotonia e tremores. exaMeS laboratoriaiS • Hemocultura: é o padrão-ouro no diagnós- tico, apesar de sensibilidade ainda ser bai- xa. Deve ser colhida sempre antes do início da antibioticoterapia; • Proteína C reativa (PCR): exame útil para acompanhamento da evolução clínica e, quando seriado, melhora a acurácia diag- nóstica, a redução rápida dos seus níveis a valores próximos do normal 24-48 h após o início do antibiótico em pacientes com cul- turas negativa, nos autoriza à suspensão de antibioticoterapia; • Aspirado traqueal: cultura e Gram de aspirado traqueal pode ter valor se rea- lizado imediatamente após a intubação orotraqueal; • Líquor: está indicado na sepse preco- ce em recém-nascido sintomático e/ou com hemocultura positiva. É um méto- do rápido e preciso para diagnóstico de meningite. Deve-se colher líquor apenas se plaquetas acima de 50.000/mm3. Nos casos de sepse tardia deve ser colhido sempre que as condições clínicas per- mitirem, nas situações em que o estado clínica do paciente não permita punção lombar deve-se utilizar antibióticos em doses suficientes para meningites; • Urocultura: na sepse precoce deve ser co- lhida apenas se RN sintomático e com diag- nóstico pré-natal de malformação do trato urinário. Em sepse tardia deve sempre ser investigada; • Hemograma: exame de interpretação difícil no período neonatal. Para melhor acurácia diagnóstica, utilizamos o Esco- re de Rodwell (conforme Tabela 19.3). Quando os valores do escore são maio- res ou igual a 3 confere sensibilidade de 96% e especificidade de 78%, enquanto valores menores que 3 apresentam valor preditivo negativo de 99% para sepse neonatal. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 112 16/08/2016 11:13:07 113 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 9 preveNção • Profilaxia materna adequada com Penici- lina, Ampicilina ou Cefazolina > 4 horas antes do parto; • Higienização das mãos; • Restringir entradas de pais, familiares e profissionais na unidade neonatal, em es- pecial aqueles com infecções agudas; • Cuidados durante realização de procedimen- tos invasivos e manipulação dos dispositivos; • Inicio breve de nutrição enteral com leite materno. trataMeNto Medidas gerais • Monitorização contínua ou periódica de: frequência cardíaca, saturação arterial de oxigênio, temperatura corpórea, glicemia, gasometria arterial, débito e densidade uri- nária e pressão arterial; • Jejum oral: indicado na presença de altera- ções hemodinâmicas e/ou íleo infeccioso, devendo ser suspenso 24 horas após estabi- lização dessas condições; Tabela 19.3 – EsCorE dE rodwEll 1. leucopenia (≤ 5.000 leucócitos/mm3) ou leucocitose (≥ 25.000/mm3 ao nascimento, ≥ 30.000/mm3 entre 12 e 24 horas de vida e 2 21.000/mm3 após 48 horas de vida) 2. Neutropenia ou neutrofilia 3. aumento de neutrófilos imaturos 4. Índice neutrofílico aumentado 5. razão dos neutrófilos imaturos sobre segmentados ≥ 0,3 6. alterações degenerativas nos neutrófilos com vacuolização e granulação tóxica 7. Plaquetopenia (≤ 150.000/mm3) a relação de neutrófilos imaturos e neutrófilos totais (i/t) é considerada elevado valor preditivo negativo para sepse quando seu índice for maior que 0,2, tendo a melhor sensibilidade entre os índices neutrofílicos Tabela 19.4 – ValorEs dE NEUtróFilos (Por mm3) Em rECém-NasCidos Neutropenia Neutrofilia N imaturos I/TPN < 1,5 kg PN > 1,5 kg PN < 1,5 kg PN > 1,5 kg Nascimento < 500 < 1.800 > 6.300 > 5.400 > 1.100 > 0,16 12 h < 1.800 < 7.800 > 12.400 >14.500 > 1.500 > 0,16 24 h < 2.200 < 7.000 > 14.000 > 12.600 > 1.280 > 0,15 36 h < 1.800 < 5.400 > 11.600 > 10.600 > 1.100 > 0,13 48 h < 1.100 < 3.600 > 9.000 > 8.500 > 850 > 0,13 60 h < 1.100 < 3.000 > 6.000 > 7.200 > 600 > 0,13 72 h < 1.100 < 1.800 > 6.000 > 7.000 > 550 > 0,13 120 h < 1.100 < 1.800 > 6.000 > 5.400 > 500 > 0,12 4º ao 28º dia < 1.100 < 1.800 > 6.000 > 5.400 > 500 > 0,12 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 113 16/08/2016 11:13:07 114 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 9 • Assistência ventilatória; • Manutenção do equilíbrio eletrolítico e correção da acidose; • Suporte cardiovascular: manutenção do equilíbrio hídrico e uso de drogas vasoati- vas se necessário; • Controle da temperatura corporal; • Controle hematológico e de manifestações hemorrágicas. A antibioticoterapia deve ser introduzida após coleta das culturas. Na sepse precoce os antibióticos de escolha devem ser Penicilina Cristalina ou Ampicilina e Aminoglicosídeo. No caso de impossibilidade de Penicilina Cris- talina ou Ampicilina, a Cefazolina pode ser in- troduzida, como terceira opção, em associação ao Aminoglicosídeo. Na sepse tardia a escolha da antibioticoterapia deve ser baseada no conhecimento da flora bacteriana local e no padrão de resistência. No início do quadro utilizamos inicialmente Oxacilina e Amicacina. Nos casos de menin- gite concomitante a Amicacina deve ser subs- tituída por Cefotaxima. Assim que possível o tratamento deve ser direcionado com base no resultado das culturas. O tratamento deve ser de 7 a 10 dias, se me- lhora clínica e hemocultura negativa. Nos casos de hemocultura positiva, o tempo de tratamento deve ser de 10 a 14 dias. Na ocor- rência de meningite, a duração dos antibióti- cos deve se estender para 14 a 21 dias. Manejo dos cateteres vasculares Nos casos de sepse por Staphylococcus coa- gulase-negativos em que o tratamento anti- biótico por 72 horas não for suficiente para melhora do quadro clínico e negativação das culturas, a retirada de cateteres vasculares, quando possível, deve ser considerada. MeNiNgite bacteriaNa Raramente ocorre na sepse precoce e na sepse tardia deve ser prontamente investigada e tra- tada uma vez que suas sequelas são importan- tes. Em recém-nascidos os sinais de irritação meníngea são pouco encontrados e as mani- festações clínicas se assemelham às encontra- das na sepse. Os principais agentes etiológicos são: Sta- phylococcus aureus, Staphylococcus epidermi- dis, enterococos Gram-negativos, infecções fúngicas, infecções virais e do grupo TORCH. O diagnóstico é feito através da análise qui- miocitológica e a cultura do líquor. Punção lombar deve ser realizada nos casos de sepse precoce em recém-nascido sintomáti- cos, hemocultura positiva ou exames laborato- riais altamente sugestivos, nos casos de sepse tardia é sempre recomendada. As principais contraindicações para punção lombar são plaquetopenia e instabilidade clínica. Durante o seguimento deve ser feita nova co- leta de líquor após 5 a 7 dias. Além disso, para investigação de complicações como abcesso cerebral, hidrocefalia, vasculites, infartos ou edema cerebral deve ser realizada tomografia de crânio no final do tratamento ou se resposta inadequada ao tratamento. coNduta No rN aSSiNtoMático > 34 SeMaNaS coM riSco iNfeccioSo Colher HmG + PCr com 24h Normal observação clínica por 48h iniciar atb após coleta de HmC alterado rN > 34 sem. assintomático com risco infeccioso sem profilaxia adequada _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 114 16/08/2016 11:13:07 115 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 9 obs.: Não introduzir atb em rN < 34 semanas, nascido de parto cesáreo por indicação materna, sem fatores de risco. rNPt < 34 sem assintomático e/ou rN sintomátco Colher HmC ao nascimento, iniciar atb e colher HmG + PCr com 24h Exames normais Estabilidade clínica e HmG e PCr normais e HmC- melhora laboratorial e estabilidade clínica HmC- tratar 7 - 10 dias HmC+ tratar 10 - 14 dias suspender atb e observar sinais/sintomas de sepse e/ ou HmG ou PCr alterados ou HmC+ Piora clínica e/ou laboratorial trocar atb investigação para sepse tardiatratar 7 - 10 dias Exames alterados reavaliar clínica + HmG e PCr com 72h reavaliar clínica + HmG e PCr com 72h coNduta No rN < 34 SeMaNaS e/ou rN SiNtoMáticoS algoritMo para iNveStigação e coNduta Na SepSe tardia suspeita clínica triagem infecciosa ( HmG, PCr) Exames alterados e/ou piora clínica ampliar a cobertura atb e considerar a possibilidade de sepse fúngica Colher hemocultura, urocultura e liquor*. rx de tórax e abdome se clínica suspeita e iniciar atb empírico suspender atb manter atb por 10 dias e considerar ajustar tratamento conforme antibiograma Colher HmG, PCr com 72h Culturas negativas, exames normais e melhora clínica Culturas negativas com piora clínica ou dos exames Culturas positivas observação clínica EH ≥ 3 e/ou PCr alterado Normal observar clínica sugestiva de infecção melhora clínica _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 115 16/08/2016 11:13:07 116 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 1 9 referêNciaS bibliográficaS 1. Figueiredo R.J; Cavalcante D.O; La Torre F; Sepse Neonatal; UTI Pediátrica, São Paulo Ed Manole, 2014. 2. Polin RA; Management of neonates with sus- pected or proven early-onset bacterial sepsis; Committee on Fetus and Newborn.Pediatrics. 2012 May;129(5):1006-15. 3. Polin, R.; Lorenz, J.M. Neonatology. 1 ed New York : Cambridge University Press; 2008. 4. Puopolo, K. Infecções bacterianas e fúngicas. In: Cloherty J, Eicnenwald E, Stark A. Manual de neonatologia. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 243-265. 5. Stoll, B.J.; Hansen, N.; Fanaroff, A.A. et al. Late onset sepsis in very low birth weight neonates: the experience of the NICHD neonatal research network. Pediatrics 2002; 110:285-91. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 116 16/08/2016 11:13:07 117 IncIdêncIa Acomete 1-1,5% dos RNs internados nas uni- dades neonatais: • PTMBP – 3 a 5 %; • PT < 1.000 g – 10%. • Alta taxa de mortalidade (25-50%); • Alto risco de sequelas no SNC. agentes etIológIcos • Mais importante – Candida albicans. Nos últimos anos observamos um aumento na identificação de espécies não albicans de Candida. • Outros fungos oportunistas: • Malassezia; • Aspergillus; • Cryptococcus; • Trichosporon; • Zigomiceta. transmIssão e colonIzação A transmissão pode ser de forma vertical (via ascendente a partir do trato genital ma- terno, durante a gestação ou nascimento) ou hospitalar. Infecção de orIgem hospItalar Fatores de risco para candidíase neonatal sistêmica: • Antibioticoterapia de amplo espectro, espe- cialmente cefalosporinas de terceira gera- ção, por tempo prolongado; • Presença de cateter intravascular; • NPP; • Presença de colonização por Candida ou episódio prévio de candidíase mucocutânea; • Prematuridade e muito baixo peso ao nas- cimento; • Ventilação mecânica ou traqueostomia; • Malformação congênita; • Uso de corticoides e bloqueadores de H2. manIfestações clínIcas Os sinais clínicos iniciais ocorrem de forma insidiosa e as manifestações são inespecíficas: • Instabilidade térmica; • Hipotensão; • Deterioração respiratória e apneia; • Distensão abdominal e intolerância ali- mentar; • Hiperglicemia. Infecção fúngica neonatal Daniella Gregória Bonfim Prado da Silva Élida Nicolau Silva Amorim Gabriela Pereira de Almeida Rossetti Marco Aurélio P. Sáfadi Tabajara Barbosa Lima Neto 20 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 117 16/08/2016 11:13:07 118 G u i a d e B ol s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 0 dIagnóstIco hemograma • Inespecífico; • Plaquetopenia: + frequente; • Leucopenia: rara; • 40% dos casos: hemograma normal. pcr • Valores elevados na maioria dos casos. culturas • Sangue; • Líquor; • Urina. *Presença de cateter venoso central – colher hemocultura do cateter e também de veia pe- riférica. outros exames para localIzação do foco da Infecção • Exame oftalmológico – endoftalmite fún- gica; • Ecocardiograma – endocardite e massas fúngicas intracardíacas; • Ultrassom renal e de vias urinárias – aco- metimento renal frequente. tratamento duração RN com candidemia sem fungemia persisten- te e sem sinais de disseminação da infecção devem ser tratados até a resolução dos sinais e sintomas atribuídos à candidemia e por pelo menos 14 dias após a data da negativação das culturas de sangue. Nos casos de disseminação da candidíase, com comprometimento de órgãos como rins, fíga- do, pulmões, baço, sistema nervoso central, ossos, articulações, etc., há necessidade de prolongarmos a duração do tratamento para no mínimo 4 a 6 semanas após a resolução dos sintomas. Recomenda-se manter a rotina de coleta de culturas mesmo após o primeiro resultado negativo, até que se tenha pelo menos três re- sultados consecutivos negativos. medIcação anfoterIcIna B • Ação fungicida ou fungostática, a depender da concentração séria e do perfil de sensibi- lidade do fungo; • Dose utilizada em nosso serviço: 1-1,5 mg/ kg/dia – infusão lenta, em 2-6 horas; • Em nosso serviço não é a medicação de es- colha para a faixa etária neonatal devido à alta frequência e gravidade dos efeitos ad- versos. efeItos adversos potencIaIs • Nefrotoxicidade: em caso de disfunção re- nal o tratamento com Anfotericina deve ser suspenso por 2-5 dias; • Depressão medular (anemia e plaqueto- penia); • Alteração das enzimas hepáticas; • Tromboflebite; • Mais raros: febre/tremores/taquicardia/hi- potensão/náuseas e vômitos/rash cutâneo; • Arritmias e parada cardíaca. preparações lIpídIcas da anfoterIcIna B • Vantagem: menor toxicidade e melhor to- lerância; alternativa em casos de disfunção renal prévia ou nefrotoxicidade durante o tratamento c/anfotericina B; • Desvantagens: custo muito elevado; baixas concentrações no trato urinário; • Tipos de preparações lipídicas: Lipossomal (Ambisome ®); dispersão coloidal (Amphocil®, Amphotec®); complexo lipídico (Abelcet ®); • Dose: recomenda-se iniciar com 1 mg/kg/ dia EV em 2 horas, com aumento diário de 1 mg/kg/dia até a dose de 5-7 mg/kg/dia. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 118 16/08/2016 11:13:07 119 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 0 5-fluorocItosIna • Seu uso tem sido recomendado em associa- ção com anfotericina B em caso de menin- gite, endocardite e fungemias persistentes que não respondem à monoterapia; • Não deve ser utilizada isoladamente (in- duz a resistência); • Dose: 50-150 mg/kg/dia VO 6/6 h – se disfun- ção renal, aumentar intervalo entre as doses. fluconazol • Fungistático, utilizado em nosso serviço apenas para o tratamento de infecção de trato urinário, sem sinais de infecção sistê- mica ou de quadro clínico invasivo; • Espectro antifúngico mais restrito quando comparado à Anfotericina B e a Micafungina, com limitada ação contra fungos filamentosos; • Vantagens: • Baixa toxicidade; • Fácil administração; • Menor custo; • Possibilidade de uso enteral; • Alternativa para pacientes com impossi- bilidade de utilizar anfotericina B. • Dose: 12 mg/kg (infusão EV em 30 min; após melhora do quadro pode ser usado via enteral): • < ou = 29 semanas e < 14 dias de vida – intervalo entre as doses de 72 horas; após 14 dias de vida - intervalo de 48 horas; • 30-36 semanas e < 14 dias de vida – in- tervalo de 48 horas; após 14 dias de vida – intervalo de 24 horas; • 37-40 sem e < 7 dias de vida - intervalo de 48 horas; após 7 dias de vida – inter- valo de 24 horas; • > 40 semanas – intervalo de 24 horas. mIcafungIna • Mecanismo de ação: através de inibição enzimática, altera a integridade da parede celular do fungo; • Eficaz contra Candida albicans, C. glabrata, C. cruzei, C. parapsilosis e C. tropicalis; • De acordo com a literatura atual, trata-se de excelente alternativa para os casos de resis- tência ou toxicidade à Anfotericina B e ao Fluconazol; • Tem sido a droga de escolha em nosso serviço por ser Comprovadamente eficaz para o tratamento de infecções fúngicas invasivas neonatais e principalmente por apresentar maior segurança e tolerabilidade quando comparada a Anfotericina; • Dose: 7 a 10 mg/kg/dia, 1 vez ao dia, com tempo de infusão mínimo de 1 hora. A di- luição deve ser feita em SG 5% ou SF 0,9%, em 1 concentração de 0,5-4 mg/mL. Con- centrações acima de 1,5 mg/mL devem ser administradas em vias centrais. referêncIas BIBlIográfIcas 1. Buck, M.L. Micafungin Use in the Treatment of Neonatal and Pediatric Fungal Infections. Pe- diatric Pharmacotherapy. 2014 Jan. 2. Caudle, K.E.; Inger, A.G.; Butler, D.R.; Rogers, P.D. Echinocandin use in the neonatal intensive care unit. Ann Pharmacother. 2012 Jan; 46 (1): 108-16. Epub 2011 Dec 20. Review. 3. Mcguire, W.; Clerihew, L.; Austin, N. Pro- philaticintravenosus antifungal agents to prevent mortality and morbity in very low s infants. (Cochrane Review). In The Cochra- ne Library, issue 3, 2003. Oxford: Update Software. 4. Rugolo, L.M.S.S. Infecção Fúngica Neonatal e Perinatal. Programa de Atualização em Neona- tologia, ciclo, módulo 4, 2004- pag. 9-42. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 119 16/08/2016 11:13:08 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 120 16/08/2016 11:13:08 121 É uma síndrome caracterizada por inflamação e lesão necrótica difusa das camadas mucosa e submucosa da parede do intestino, podendo evoluir com perfuração. Ocorre com frequência na porção terminal do íleo e cólon ascendente. Prevenção • Início de dieta enteral breve, em até 4 dias; • Aleitamento materno exclusivo; • Colostroterapia; • Evitar uso de bloqueadores ácidos; • Evitar cursos longos de antibioticoterapia; • Probióticos (Lactobacillus/Bifidobacterium). TraTamenTo clínico Iniciar o mais precocemente possível: • Pausa alimentar de 3 (casos suspeitos) a 14 dias (nos casos confirmados). Usar SOG de grosso calibre aberta para descompres- são gástrica; • Nutrição parenteral precoce; • Antibioticoterapia de amplo espectro por 10 a 14 dias; • Correção da acidose e dos distúrbios hidro- eletrolíticos; • Suporte respiratório e cardiovascular; enterocolite necrosante Fernando Lamano Ferreira Fernando Perroud da Silveira Foresti 21 Tabela 21.1 – FatoreS de riSco e maniFeStaçõeS cLínicaS da ecn Fatores de risco Manifestações clínicas e laboratoriais • Asfixia perinatal RCIU associado a fluxo reverso ou ausente de artéria umbilical Jejum prolongado • Dieta enteral com fórmula • Prematuridade extrema e muito baixo peso • Hipotermia • Hipotensão arterial • Indometacina • Cateterismo umbilical • Policitemia - Antibioticoterapia prologada • Distensão abdominal • Resíduos gástricos ou vômitos biliosos • Enterorragia • Instabilidade térmica • Apneia • Letargia • Instabilidade respiratória e hemodinâmica • Alteração da perfusão • Leucocitose • Leucopenia • Acidose metabólica • Distúrbios hidroeletrolíticos • CIVD _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 121 16/08/2016 11:13:08 122 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 1 • Manter hematócrito entre 35 e 40% e admi- nistração de hemoderivados, se necessário; • Analgesia. Radiografia abdominal para seguimento a cada 6-12 h nas fases iniciais da doença. TraTamenTo cirúrgico Indicação absoluta do procedimento é a pre- sença de pneumoperitônio. Outras indicações: cultura positiva do líquidoperitoneal e presença de líquido fecaloide ou bilioso na cavidade. Em pacientes instáveis que possuem evidência de perfuração intestinal e em RN com peso inferior a 1.000 g, pode ser feita drenagem peritoneal. referências bibliográficas 1. Bell, M.J.; Ternberg, J.L.; Feigin, R.D. et al. Neonatal necrotizing enterocolitis. Therapeu- tic decision based upon clinical staging. Ann Surg. 1978; 187(1): 1-7. 2. Kliegman, R.M.; Fanaroff, A.A. Necrotizing en- terocolitis. N Engl J Med 1984; 310: 1093-103. 3. Koletzko , B.; Poindexter B.; Uauy R. et al. Nutritional Care of Preterm Infants. Scien- tific Basis and Practical Guidelines. World Review of nutrition and Dietetics.Vol.110 Karger, 2014. 4. Lau, C.S.M.; Chamberlain R.S. Probiotic ad- ministration can prevent necrotizing entero- colitis in preterm infants: A meta-analysis. Journal of Pediatric Surgery. 2015;50 :1405- 1412. 5. Lin, P.W.; Stoll, B.J. Necrotizing enterocolitis. Lancet, 2006; 368 (9543): 1271-83. 6. Rodriguez N.A. et al. Oropharyngeal adm- ninstration of mother´s colostrum, health outcomes of premature infants: study proto- col for a randomized controlled trial. Trials, 2015: 16;453. Tabela 21.2 – eStadiamento cLínico-radioLógico estágio eCN Grau Sinais sistêmicos Sinais gastrointestinais Sinais radiológicos Supeita i Inespecíficos: apneia, bradicardia, letargia e labilidade térmica Intolerância à dieta, resíduo gástrico, sangue oculto nas fezes Normal ou distensão de alças Leve iia Semelhante ao estágio I Distensão abdominal significativa, ruídos abolidos e sangue nas fezes Íleo, distensão de alças e áreas de pneumatose intestinal moderada iiB Estágio I + acidose metabólica leve e plaquetopenia Aumento da distensão abdominal, edema de parede abdominal, e dor à palpação, com ou sem massa palpável Pneumatose extensa e ascite inicial. Pneumoportograma intra-hepático Avançada iiia Acidose metabólica e respiratória, apneia, diminuição da pressão arterial e da diurese, neutropenia e coagulopatia Aumento do edema, eritema ou descoloração e induração da parede abdominal Pouco gás abdominal e alça sentinela iiiB Edema generalizado, choque, CIVD Abdome tenso, pálido, presença de ascite Ausência de gás intestinal e pneumoperitônio _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 122 16/08/2016 11:13:08 123 SífiliS congênita A sífilis congênita é definida como a sífilis ad- quirida pelo feto por meio da disseminação hematogênica do T. pallidum da mãe para o feto, predominantemente por via transplacen- tária, Há duas formas de apresentação clínica, a precoce e a tardia. infecções congênitas Francisco Paulo Martins Rodrigues Mauricio Magalhães Sabrina Boni Braga de Carvalho Simone Dutra Rodrigues Santos 22 SífiliS congênita tardia Surge após o segundo ano de vida. diagnóStico Clínico e laboratorial e segue o fluxograma a seguir (Figura 22.1). Tabela 22.1 – PReCoCe: SuRge até o 2º ano De viDa apresentação alterações Mucocutâneas exantema maculopapular em região perioral, pênfigo palmoplantar, condiloma plano Sistema reticuloendotelial e hematológico Hepatomegalia, esplenomegalia, hepatite, linfadenomegalia generalizada (principalmente epitróclear), anemia, leucopenia, leucocitose, plaquetopenia Sistema esquelético osteocondrite ou osteíte, periostite nos ossos longos, pseudoparalisia dos membros Sistema nervoso Meningite, síndrome convulsiva, surdez outras manifestações Síndrome nefrótica, coriorretinite, glaucoma, fissura perioral, hidropsia Sistema respiratório Rinite serossanguinolenta, com ou sem angustia respiratória Tabela 22.2 – ManiFeStaçõeS Da SíFiliS taRDia Formas de apresentação Tipos de alterações alterações do SnC, oculares, esqueléticas e neurossensoriais Fronte olímpica, tíbia em sabre, ceratite intersticial, surdez neuros- sensorial, retardo mental e hidrocefalia _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 123 16/08/2016 11:13:08 124 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 2 tratamento • A1 – Penicilina G cristalina 50.000 UI/kg/ dose, EV, de 12 em 12 horas (nos primeiros 7 dias de vida) e de 8 em 8 horas (após 7 dias de vida), durante 10 dias. Ou penicili- na G procaína 50.000 UI/kg/dose, IM, 1 vez por dia, durante 10 dias; • A2 – Penicilina G cristalina 50.000 UI/kg/ dose, EV, de 12 em 12 horas (nos primeiros 7 dias de vida) e de 8 em 8 horas (após 7 dias de vida), durante 10 dias; • A3 – Penicilina G benzatina, IM, dose úni- ca de 50.000 UI/kg. Sendo impossível ga- rantir o acompanhamento, o RN deverá ser tratado segundo esquema AI; • C1 – Seguimento clínico-laboratorial. Na impossibilidade de seguimento, tratar com penicilina G benzatina, IM, dose única de 50.000 UI/kg; • Na impossibilidade de realização de pun- ção lombar, recomenda-se tratar o caso como neurossífilis. Seguimento da SífiliS congênita • Realizar consultas ambulatoriais mensais até o 6º mês de vida e consultas ambulato- riais bimensais do 6º ao 12º mês; • Realizar teste não treponêmico com 1 mês, 3, 6, 12 e 18 meses de idade, interrompendo o seguimento com dois exames não trepo- nêmicos consecutivos negativos; • Diante de elevação do título sorológico ou não negativação até os 18 meses de idade, reinvestigar a criança exposta e proceder ao tratamento; • Realizar teste treponêmico para sífilis após os 18 meses de idade para a confirmação do caso; Figura 22.1 – Algoritmo pArA AbordAgem do rN, freNte à gestANte com sífilis. Fonte: Diretrizes para o Controle da Sífilis Congênita – MS/2006. nÃo tRataDa ou inaDeQuaDaMente tRataDa Mãe com sífilis aDeQuaDaMente tRataDa Raios-X ossos, punção lombar e hemograma Rn sintomático tratar esquema a1 tratar esquema a2 lCR normal lCR alterado (neurosífilis) Raios-X ossos, punção lombar e hemograma exames normais lCR normal exames alterados lCR normal lCR alterado (neurosífilis) Seguimento ou fluxo de exames Seguimento C1 vDRl Rn assintomático tratar esquema a1 tratar esquema a2 tratar esquema a3 > materno ≤ materno negativo Raios-X ossos, punção lombar e hemograma Rn sintomático Rn assintomático lCR normal tratar esquema a1 tratar esquema a2 tratar esquema a3 lCR alterado (neurosífilis) exames normais e vDRl negativo _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 124 16/08/2016 11:13:08 125 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 2 • Recomenda-se o acompanhamento oftal- mológico, neurológico e audiológico das crianças com diagnóstico de sífilis congêni- ta semestralmente, por dois anos. Crianças cujo resultado de LCR tenha se mostrado alterado, deve-se haver uma reavaliação li- quórica a cada 6 meses até a normalização; • O teste da orelhinha normal, não afasta a necessidade da solicitação de exames espe- cíficos para avaliar a surdez do oitavo par craniano; • Nos casos de crianças tratadas de forma inadequada, na dose e/ou tempo do tra- tamento preconizado, deve-se convocar a criança para reavaliação clínico-labora- torial, e reiniciar o tratamento da criança, obedecendo aos esquemas anteriormente descritos. toxoplaSmoSe congênita É a mais frequente das infecções congênitas. A transmissão transplacentária é maior no ter- ceiro trimestre, mas a gravidade da infecção é inversamente proporcional à idade gestacional. tranSmiSSão Pode ocorrer como consequência da infecção aguda materna ou como recrudescência de in- fecção materna crônica durante a gestação de mulheres imunodeprimidas. Quadro clínico/alteração laboratorial • Hidrocefalia ou microcefalia; • Retinocoroidite bilateral, macular ou peri- macular e simétrica; • Calcificações cerebrais intraparenquimatosas; • Retardo mental; • Hepatoesplenomegalia; • Icterícia; • Trombocitopenia; • Alterações liquóricas – hiperproteinorraquia; • Anemia; • Linfadenopatia; • Crises convulsivas. diagnóStico Pré-natal • PCR no líquidoamniótico; • Anticorpos específicos IgM e/ou IgA no sangue fetal; • Teste de avidez do igG materno: alta avidez indica que infecção aguda ocorreu há cerca de 3 a 4 meses; • US obstétrico. Pós-natal • IgM específico e/ou IgA para toxoplasmose; • IgG positivo depois dos 12 meses de idade; • Aumento progressivo dos títulos de IgG; • PCR no sangue e/ou no líquor; • Proteinorraquia elevada (> 1 g/dL); • Tomografia de crânio sem contraste (calci- ficações intracranianas, hidrocefalia, atrofia cortical); • Avaliação oftalmológica; • Avaliação auditiva; • Exames laboratoriais adicionais: • Hemograma (anemia, trombocitopenia, eosinofilia são achados comuns e ines- pecíficos em crianças sintomáticas); • AST, ALT, BTF; • Urinálise e creatininas sérica para ava- liar necessidade de correção de doses pela função renal. tratamento Todos os recém-nascidos com infecção congê- nita confirmada devem ser tratados, indepen- dente dos sintomas. • Pirimetamina: 2 mg/kg (máximo 50 mg/ dose) – VO – 1 ´ dia, por dois dias, se- guido por 1 mg/kg (máximo 25 mg/dose) – VO – 1 ́ dia por 6 meses. Após, a mesma dose, as segundas, quartas e sextas até com- pletar um ano de tratamento; _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 125 16/08/2016 11:13:08 126 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 2 • Sulfadiazina: 100 mg/kg/dia – VO – 2 ´ dia; • Ácido folínico: 10 mg – VO - 3 ´ sema- na até 1 semana após o término da piri- metamina; • Corticoide: prednisona 0,5 mg- VO – 2 ´ ao dia – se houver coriorretinite ativa ou proteinorraquia > 1 g/dL. rubéola congênita Doença exantemática viral que na gestação pode resultar em infecção fetal grave. Quanto mais precoce, maior probabilidade de anoma- lias fetais. Quadro clínico • Retardo do crescimento intrauterino; • Catarata; • Microftalmia; • Retardo mental; • Surdez (75%); • Cardiovasculares: PCA, estenose artérias pulmonares, estenose de valva pulmonar. rx de oSSoS • Rarefação metafisária e estrias corticais. laboratório • Hemograma: leucopenia, plaquetopenia, leucocitose, anemia; • Líquor: hiperproteinorraquia; • Sorologias: PCR em fluídos e secreções; • Sorologias IgM e IgG. iSolamento • Durante toda a internação, de contato e res- piratório. Ocorre eliminação do vírus por até um ano. tratamento Não há tratamento específico. Deve-se promo- ver a prevenção. A Secretaria de Vigilância em Saúde, em Nota Técnica de 2011, recomenda que não se proceda a investigação rotineira de so- rologia para Rubéola no pré-natal, exceto para mulheres com relato de manifestações clínicas ou vínculo epidemiológico (viagem ao exterior ou contato com viajantes nos úl- timos 30 dias). Varicela-zoSter Ocasionada por uma infecção primária cau- sada pelo vírus da varicela-zoster. Se acome- ter a raiz do gânglio dorsal será denominada herpes-zoster. Varicela materna no 1º e 2º SemeStreS Pode ocasionar a síndrome da varicela congê- nita, caracterizada por: • Defeitos cutâneos; • Cicatrizes de pele distribuídas por der- mátomos; • Atrofia de extremidades; • Hipoplasia de membros; • Bexiga neurogênica; • Estenose de duodeno; • Catarata congênita; • Coriorretinite; • Microftalmia; • Atrofia cortical. Varicela no periparto Resulta em varicela congênita: • Se adquirida entre o 21º e o 5º dia antes do parto: resulta em forma leve; • Se adquirida entre o 5º antes do parto e o 2º dia de vida do RN: pode acometer vísceras, com mortalidade > 30%. diagnóStico • Clínico; • Isolamento viral em cultura de fluido vesicular; • Sorologia: anticorpos IgM no feto ou PCR; _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 126 16/08/2016 11:13:08 127 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 2 • Ultrassonográfico: deve ser realizado 5 se- manas após a erupção cutânea. Procurar por deformidade de membro, microcefalia, hidrocefalia, polidramnia, calcificação de tecidos moles e restrição de crescimento intrauterino. tratamento • RN de mães com varicela 5 dias antes do parto até 2 dias após o parto; • Administrar Imunoglobulina especifica para varicela zoster (VZIG) dose de 125 UI para cada 10 kg, via intramuscular, até no máximo 96 horas de vida. precauçõeS • RN com varicela: isolamento respiratório e de contato; • Mãe com varicela 5 dias antes e 2 dias após o parto: isolar mãe e RN separados; • Varicela intra-hospitalar: ficar em isola- mento entre o 8° e o 21º dia após contato com caso índice; • Se recebeu VZIG, isolar até 28 dias após o contato. iSolamento de contato na uti neonatal • RN de qualquer idade gestacional, filhos de mães que não tiveram varicela; • RNPT < 28 semanas ou peso < 1000 g, in- dependente da história materna. citomegaloViroSe congênita Causada pelo citomegalovírus, do grupo her- pes vírus é a infecção viral congênita mais comum. Pode ocorrer por infecção primaria, reinfecção ou reativação de doença latente. O maior risco de infecção congênita é quando ocorre no final da gestação, porém a maior gravidade para o recém-nascido é quando acontece no início da gestação. tranSmiSSão • Contato com secreções contaminadas; • Via transplacentária/canal de parto/aleita- mento materno. Quadro clínico/alteração laboratorial • Icterícia; • Restrição de crescimento intrauterino; • Hepatoesplenomegalia; • Petéquias/plaquetopenia; • Microcefalia; • Coriorretinite; • Calcificações intracranianas; • Pneumonia intersticial; • Anemia hemolítica; • Hiperproteinorraquia; • Crises convulsivas; • Hipotonia; • Perda auditiva. diagnóStico Pré-natal • Sorologia materna; • Teste de avidez do igG materno; • Reação de PCR no líquido amniótico; • Achados sugestivos no feto: oligoâmnio, polidrâmnio, hidropsia, ascite, retardo de crescimento, microcefalia, hidroce- falia, calcificações cerebrais, derrame pleural e/ou pericárdico, hepatoesple- nomegalia, calcificações intra-hepáticas, íleo meconial. iSolamento do VíruS • PCR no sangue/urina/saliva. SorologiaS A presença de anticorpos IgM positivos no recém-nascido confirma infecção congênita. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 127 16/08/2016 11:13:09 128 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 2 raStreamento: deVe Ser realizado em todoS oS rns com infecção confirmada • Hemograma; • Transaminases e bilirrubinas; • Ureia e creatinina; • Líquor; • Raios X de crânio; • US de crânio; • Tomografia de crânio se alterações neuro- lógicas, convulsões, alteração de perímetro cefálico; • Triagem auditiva – BERA; • Avaliação oftalmológica. precauçõeS • Precaução padrão. tratamento Indicado nos casos de infecção congênita com comprometimento do sistema nervoso central, pois tem impacto em diminuir se- quelas auditivas: • Ganciclovir: 8 a 12 mg /kg/dia, de 12/12 h, por seis semanas. • Valganciclovir abre, talvez, uma nova pers- pectiva futura de tratamento via oral. referênciaS bibliográficaS 1. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas. In- fecções sexualmente transmissíveis. Ministério da Saude, 2015. 2. Guerina, Nicholas G. et al. Congenital toxoplas- mosis: Treatment, outcome, and prevention. Up to date, jun 2015. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Atenção à Saúde do Recém-Nascido,Volume 2, Brasília, 2011 4. Simon et al. Congenital Rubeolla Syndrome: Clini- cal Features and Diagnoses. Up to Date, Jun 2015. 5. Brasil. Ministério da Saúde. Atenção à Saúde do Recém-nascido, Volume 2, Brasília, 2011. 6. Harrison, G.J.Dl et al. Congenital cytomegalo- virus infection: Clinicalfeatures and diagnoses. Uptodate, Jun 2015. 7. Sheffield, J.S. et al. Cytomegalovirus infection in pregnancy. Uptodate, May 2015. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 128 16/08/2016 11:13:09 129 A transmissão de HIV sem qualquer preven- ção situa-se ao redor de 25%. Cerca de 65% dos casos de transmissão ocorremno trabalho de parto e 35% ocorrem durante a gestação. O Brasil tem como meta a eliminação da transmissão vertical do HIV (menos de 1% de transmissão) até 2015. Diversas intervenções já consagradas e implementadas no país têm re- duzido significativamente os casos de transmis- são vertical, com queda de 49,1% no número absoluto de casos de AIDS em crianças meno- res de 5 anos de idade nos últimos 12 anos. En- tretanto, uma parte das gestantes portadoras do HIV ainda não recebe antirretrovirais (ARV) durante a gravidez, sendo a quimioprofilaxia para o recém-nascido fundamental para redu- zir o risco de transmissão vertical do HIV. Todos os recém-nascidos de mulheres infectadas pelo HIV devem receber profilaxia com ARV. A quimioprofilaxia com AZT deverá ser adminis- trada, de preferência, imediatamente após o nas- cimento (nas primeiras 4 horas de vida). O ensaio clínico HPTN 040/PACTG 1043 comparou esquemas de quimioprofilaxia para recém-nascidos de mães infectadas pelo HIV que NÃO receberam antirretrovirais (ARV) durante a gestação utilizando apenas zidovudi- na (AZT) versus regimes de associação de AZT com outros ARV. Os resultados desse estudo, recentemente publicados, demonstraram supe- rioridade na redução da transmissão vertical do HIV com uso de AZT solução oral durante seis semanas associado à nevirapina (NVP) sus- pensão oral, três doses na primeira semana da vida. O estudo PACTG 076 utilizou o AZT por 6 semanas, porém a simplificação para a poso- logia para 12/12 h, por 4 semanas, mostrou-se efetiva, além de reduzir eventos hematológicos. O principal fator de risco de transmissão vertical do HIV é a magnitude da carga viral materna próxima ao parto, sendo recomenda- do à quimioprofilaxia combinada para todos os recém-nascidos de mães que não tiverem comprovação de carga viral abaixo de 1.000 cópias/mL no último trimestre de gestação, idealmente em torno de 36 semanas. Quimioprofilaxia com AZT + NPV para todos os recém-nascidos de mães com diagnóstico de infecção pelo HIV que NÃO receberam ARV na gestação ou com carga viral ≥ 1.000 cópias/mL no último trimestre da gestação, mesmo que a mãe tenha rece- bido AZT injetável no momento do parto. HIV Fernando Perroud da Silveira Foresti Francisco Paulo Martins Rodrigues Ivan Cese Marchetti Simone Dutra Rodrigues Santos 23 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 129 16/08/2016 11:13:09 130 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 3 Com esses resultados, o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais em consonância com a Comissão Assessora de Terapia Antir- retroviral em Crianças e Adolescentes Infec- tados pelo HIV e a Comissão Assessora de Prevenção da Transmissão Vertical do HIV, Sífilis, Hepatites Virais e HTLV, recomenda. Em casos de recém-nascidos em estado grave, que não podem receber dieta ou medicamen- tos por via oral ou sonda orogástrica, pode ser utilizado o AZT injetável nas seguintes doses: • Recém-nascido com 35 semanas de idade gestacional ou mais : 3 mg/kg IV 12/12 h; • Recém-nascido entre 30 e 35 semanas de idade gestacional: 1,5 mg/kg IV 12/12 h nos primeiros 14 dias de vida e 2,3 mg/kg/dose de 12/12 h a partir do 15º dia de vida; • Recém-nascido com menos de 30 dias de vida de idade gestacional 1,5 mg/kg IV de 12/12 h. Neste caso não se associa a nevirapina, mesmo quando indicada, por ser de apresentação oral. OperacIOnalIzaçãO • A NVP suspensão oral deve ter sua primei- ra dose administrada ao RN na maternida- de, até 48 h após o nascimento, junto com o AZT xarope. Na alta hospitalar a prescri- ção médica deve conter ambos os medi- camentos ARV, conforme a tabela acima, e as orientações devem estar claras para a adequada compressão por parte da mãe ou cuidador que administrará os medicamen- tos ao RN; • Recomenda-se que estes recém-nascidos sejam encaminhados da maternidade para a primeira avaliação laboratorial e clínica, em serviço de assistência especializado em HIV/AIDS (SAE), preferencialmente em até 15 dias de vida; • A mãe e/ou cuidador devem ser orientados a levar o medicamento excedente no frasco para descarte pela farmácia do SAE, na pri- meira consulta da criança; • O Ministério da Saúde disponibilizará para cada estado quantitativo suficiente para atender as necessidades, considerando a média de partos realizados em mães soro- positivas que não receberam antirretrovi- rais na gestação. No entanto, caberá a cada Coordenação Estadual definir o fluxo logís- tico para que o medicamento seja disponi- bilizado aos recém-nascidos nas primeiras 48 horas de vida; • As equipes de logística das coordenações estaduais receberão informativo com os quantitativos que serão disponibilizados para cada estado. Tabela 23.1 – ESquEMa DE quIMIoPRoFIlaxIa nEonatal PREConIzaDo Cenário Indicação aRV Posologia Duração Cenário 1 • uso de aRV no pré-natal e peri-parto, com carga viral < 1.000 cp/ml no 3º trimestre azt(Vo) • 35 sem ou mais: 4 mg/kg dose de 12/12 h • Entre 30-35 sem: 2 mg/kg/dose de 12/12 h por 14 dias e 3 mg/kg/dose de 12/12 h a partir do 15º dia • Menor que 30 sem: 2 mg/kg/dose de 12/12 h 4 semanas Cenário 2 • não utilização de aRV durante a gestação, independente do uso de azt peri-parto • uso de aRV na gestação, mas carga viral desconhe- cida ou ≥ a 1000 cópias/ ml no 3º trimestre azt (Vo) nVP (Vo) • 35 sem ou mais: 4 mg/kg dose de 12/12 h • Entre 30-35 sem: 2 mg/kg/dose de 12/12 h por 14 dias e 3 mg/kg/dose de 12/12 h a partir do 15º dia. • Menor que 30 sem: 2 mg/kg/dose de 12/12 h • Peso de nascimento 1,5 kg a 2 kg: 8 mg /dose (0,8 ml) • Peso de nascimento > 2 kg: 12 mg/dose (1,2 ml) • Peso de nascimento < 1,5 kg: não usar nevirapina 4 semanas 1ª dose nas primeiras 48 h de vida 2ª dose 48 h após a 1ª dose 3ª dose 96 h após a 2ª dose _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 130 16/08/2016 11:13:09 131 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 3 referêncIas bIblIOgráfIcas 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de vigi- lância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em crianças e adolescentes. Brasília, DF, 36 pg. Ano 2014. 2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST/AIDS. Recomendações para profilaxia de Transmissão Vertical do HIV e Terapia Antirretroviral em Gestantes. Brasília, DF, 62 pg. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretária de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST/AIDS. Guia de tratamento clínico de infecção pelo HIV em criança. Brasília, DF, 49 pg. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 131 16/08/2016 11:13:09 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 132 16/08/2016 11:13:09 133 Hepatite B A infecção pelo vírus da hepatite B (VHB) continua sendo um problema de saúde pú- blica no Brasil, mesmo com a disponibilidade de vacina segura e eficaz para a sua prevenção desde 1981. A transmissão pode ocorrer du- rante a gestação ou no período perinatal. Dos RN infectados, em torno de 70 - 90% evoluem para a forma crônica, podendo evoluir na vida adulta com cirrose e carcinoma hepatocelular. Diagnóstico É feito através de testes sorológicos e exames de biologia molecular para detecção do DNA viral. conDuta Em recém-nascidos, a primeira dose da vaci- na deve ser aplicada logo após o nascimento, nas primeiras 12 horas de vida, para evitar a transmissão vertical. E após administração do esquema completo, a imunidade atinge 90% a 95% dos casos. A imunoglobulina humana anti-hepatite tipo B, deve ser administrada em dose única, 0,5 mL por via intramuscular, para todos os recém-nascidos filhos de mães com HBsAg positivo. Devendo ser administrada simulta- neamente com a vacina de hepatite B, em gru- po muscular diferente, preferencialmente nasprimeiras 12 horas e até 7 dias de vida. Após vacina e imunoglobulina a amamen- tação é liberada. Veja capítulo vacinação do prematuro. Hepatite c As taxas de soroprevalência do vírus da hepa- tite C em gestantes variam de 0,14 a 2,4% em Hepatites B e c Rafaela Fabri Rodrigues Simone Dutra Rodrigues Santos 24 Tabela 24.1 – DiFeRenteS eStRatégiaS De imunopRoFilaxia paRa pRevenção Da tRanSmiSSão peRinatal pelo vHB Triagem materna Tipo de imunoprofilaxia Vacinação do RN IGHb (imunoglobulina hiperimune) não Somente ativa Sim não agHBs ativa + passiva Sim Sim, Rn de mãe agHBS+ agHBs e agHBe ativa + passiva Sim Sim, Rn de mãe agHBs+ e/ou agHbe+ _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 133 16/08/2016 11:13:09 134 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 4 diferentes países, incluindo o Brasil. A trans- missão vertical é rara quando comparada à hepatite B. Entretanto, já se demonstrou que gestantes com carga viral elevada ou coinfec- tadas pelo HIV apresentam maior risco de transmissão da doença para os recém-nasci- dos. A cronificação ocorre em 70% a 85% dos casos, sendo que, em média, um quarto a um terço destes pode evoluir para formas histoló- gicas graves ou cirrose no período de 20 anos, caso não haja intervenção terapêutica. Diagnóstico Em geral, o RN é assintomático ou oligossin- tomático. A suspeita ocorre pela história e so- rologias maternas. Solicita-se sorologia e PCR para vírus da hepatite C. conDuta Com relação ao aleitamento materno, apesar da detecção do RNA do VHC no leite materno em pequenas concentrações e de descrições isoladas de infecções perinatais atribuídas ao aleitamento materno em mulheres com eleva- das cargas virais, evidências baseadas em estu- dos prospectivos incluindo grande número de mulheres portadoras do VHC e seus filhos ex- postos (ao todo 1.854 pares mãe-filho) refor- çam que o aleitamento materno é seguro. Não demonstrou-se maior risco de transmissão do VHC em RN amamentados quando compara- dos com aqueles que receberam leite artificial. O aleitamento deve ser decidido junto à mãe, não há dados que confirmem o risco de aqui- sição de hepatite C pelo aleitamento. Dessa forma, a amamentação não está con- traindicada, desde que não existam fissuras no seio que propiciem a passagem de sangue. RefeRências BiBliogRáficas 1. Brasil. Ministério da Saúde. Atenção à Saúde do Recém-Nascido. Guia para profissionais de Saúde. Volume 2, 2011. 2. World Health Organization. Report on the Expanded Program on Immunization (EPI) of the World Health Organization (WHO) De- partment of Vaccines and Biologicals. (Post- -exposure immunization for hepatitis). Geneva: WHO, [s.d.]. Disponível em: <www.who.int/ immunization>. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 134 16/08/2016 11:13:09 135 Os RN mais acometidos são os prematuros. Investigar quando RN com pneumonia asso- ciado a falha terapêutica, hepatoesplenome- galia febril, meningite linfomonocitária sem agente identificado. Diagnóstico Exames específicos para isolar a micobactéria em fluidos corporais e tecidos, ultrassonogra- fia de abdômen e raios X de tórax. O teste tu- berculínico pode ser realizado, porém demora até 2 meses para se tornar reator. critérios • Lesões na primeira semana de vida; • Complexo primário hepático ou granulo- ma hepático de caseificação; • Infecção tuberculosa de placenta ou trato genital materno; • Exclusão da transmissão pós-natal após in- vestigação de contatos. Quando mãe com tuberculose bacilífera: Adiar a vacina BCG e: Rn assintomático Rn sintomático Introduzir quimioprofilaxia por 3 meses, com isoniazida, 10 mg/kg/dia Investigar TB ativa: lavado gástrico, RX de tórax, LCR, teste tuberculínico Após 3 meses de profilaxia, realizar teste tu- berculínico: • Se maior ou igual a 10 mm, prosseguir com a quimioprofilaxia até 6-9 meses; • Se inferior a 10 mm: interromper quimio- profilaxia e administrar BCG. No caso de RN sintomático: isoniazida 10 mg/ kg/dia; rifampicina 10 mg/kg/dia; pirazinami- da 35 mg/kg/dia por 2 meses. Após, isoniazida e rifampicina por mais 4 meses. referência bibliográfica 1. Ministério da Saúde. Manual de Recomenda- ções para controle da Tuberculose no Brasil, Brasília, 2011. tuberculose Simone Dutra Rodrigues Santos 25 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 135 16/08/2016 11:13:09 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 136 16/08/2016 11:13:09 137 Os vírus respondem por cerca de 50% a 90% de todas as infecções de vias aéreas na in- fância, sendo os seguintes vírus os principais causadores dessas infecções: vírus sincicial respiratório (VSR), influenza A e B, rinovírus, adenovírus, parainfluenza I, II e III e metap- neumovírus (MPVH). Todo RN pré-termo com menos de 32 sema- nas de idade gestacional e crianças com doença pulmonar crônica ou com cardiopatias graves tem indicação de imunoprofilaxia para preven- ção da infecção pelo vírus sincicial respiratório durante o período de sazonalidade do vírus. O Ministério da Saúde (MS) aprovou o protoco- lo de uso de palivizumabe para a prevenção da infecção pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR) através da Portaria 522, de 13 de maio de 2013. IndIcações • RN prematuro com idade gestacional infe- rior a 29 semanas, até 1 ano de vida; • RN prematuro com idade gestacional entre 29 e 31 6/7 semanas, até seis meses de vida; • Portadores de doença pulmonar crônica e cardiopatias congênitas, independente da idade gestacional ao nascer e desde que em tratamento destas condições nos últimos seis meses, está indicado até o segundo ano de vida; • Palivizumabe deve ser aplicado também nos bebes hospitalizados que estejam con- templados nessas recomendações. admInIstração e dose • 15 mg/kg por via muscular (face anterolate- ral da coxa) mensalmente. A primeira dose deve ser administrada um mês antes do início do período de sazonalidade do VSR e as 4 doses subsequentes, devem ser admi- nistradas com intervalos de 30 dias durante este período no total de até 5 doses; • Não se aplicar após o período de sazonali- dade do VSR. Região Sazonalidade (período de circulação do VSR) Pico ocorrên- cia VSR Norte Janeiro a maio (1º semestre) Abril Nordeste Abril a agosto Abril a maio Centro-oeste Abril a agosto Abril a maio Sudeste Abril a agosto Abril a maio Sul Abril a agosto Junho e julho Prevenção da Infecção pelo Vírus sincicial respiratório – Palivizumabe Élida Nicolau Silva Amorim Marcelo Massanori Okuma Paulo Woon Ki Hong 26 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 137 16/08/2016 11:13:10 138 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 6 referêncIas bIblIográfIcas 1. American Academy of Pediatrics. Respiratory syncytial virus. In: Pickering LK, Baker CJ, Kimberlin DW, Long SS, eds. Red book: 2009 report of the Committee on Infectious Diseases. 28th ed. Elk Grove Village, IL: American Acade- my of Pediatrics; 2009:560-9. 2. CDC. Respiratory syncytial virus activity - Uni- ted States, July 2008 - December 2009. MMWR 2010;59:230-3. 3. Sociedade Brasileira de Pediatria. Uso de Palivi- zumabe, vírus sincicial e saúde dos prematuros, 2014. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 138 16/08/2016 11:13:10 139 Microcefalia: Conduta nos Casos Suspeitos de Infecção pelo Zika Vírus Francisco Paulo Martins Rodrigues Marco Aurélio P. Sáfadi Pedro Augusto Pereira do Amaral 27 Após o nascimento do recém-nascido, o pri- meiro exame físico é rotina nos berçários e deve ser feito em até 24 horas do nascimento. Este período é um dos principais momen- tos para se realizar busca ativa de possíveis anomalias congênitas. Também é possível diagnosticar a microcefalia no pré-natal. En- tretanto, somente o médico que está acompa- nhando a grávida poderá indicar o método de imagem mais adequado. Ao nascimento, os bebês com suspeitade mi- crocefalia serão submetidos a exame físico e medição do perímetro cefálico. São considera- dos microcefálicos os bebês a termo com perí- metro cefálico menor de 32 centímetros. Eles serão submetidos a exames neurológicos e de Tabela 27.1 – InFecção Pelo ZIkA VíRuS População-alvo Caso suspeito Caso confirmado Caso de diagnóstico descartado para vigilância Recém-nascido vivo (R nV) com microcefalia possivelmente associada a infecção pelo vírus Zika durante a gestação RnV < 37 semanas de idade gestacional, apresentando medida do perímetro cefálico abaixo do percentil 3, segundo a curva de Fenton, para o sexo. RnV ≥ a 37 semanas de idade gestacional apresentando medida do perímetro cefálico £ a 32 semanas, segundo as referências da oMS para o sexo RnV de qualquer idade gestacional, classificado com o caso suspeito de microcefalia possivelmente associado à infecção pelo vírus Zika, em que tenha sido identificado o vírus Zika em amostras do RnV ou da mãe (durante a gestação); ou RnV de qualquer idade gestacional, classificado com o caso suspeito de microcefalia possivelmente associado à infecção pelo vírus Zika, com microcefalia diagnosticada por qualquer método de imagem, excluídas outras possíveis causas conhecidas caso registrado de RnV de qualquer idade gestacional, classificado como caso suspeito de microcefalia possivelmente associada à infecção pelo vírus Zika, com confirmação de causa específica, infecciosa ou não, que não seja a infecção pelo vírus Zika no RnV e na mãe _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 139 16/08/2016 11:13:10 140 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 7 imagem, sendo a Ultrassonografia Transfonta- nela a primeira opção indicada, e, a tomogra- fia, quando as fontanelas estiverem fechadas. Entre os prematuros, são considerados micro- cefálicos os nascidos com perímetro cefálico menor que dois desvios padrões. Após a realização de exames de imagem (USG transfontanela e/ou tomografia computadori- zada de crânio) seguem as sorologias a serem coletadas. Após a coletas dos respectivos exames deve ser seguidos o seguinte algoritmo (Figura 27.1). Tabela 27.2 – PARA dIAgnóStIco SoRológIco Tipo de material Procedimento de coleta armazenamento e conservação acondicionamento e transporte* Sangue (soro) coletar cerca de 10 ml de sangue, sem anti- coagulante, da mãe sendo a 1ª coleta 3 a 5 dias após o início dos sintomas e a 2ª coleta após 2 a 4 semanas. Separar no mínimo 2 a 3 ml do soro, para sorologia no caso do Rn, coletar 2 a 5 ml de sangue (preferencialmente do cordão umbilical), sem anticoagulante, e separar 0,5 a 1,0 ml de soro para sorologia utilizar tubo plástico estéril com tampa de rosca e anel de vedação. Rotular o tubo com o nome do paciente, data da coleta e tipo de amostra conservar em freezer a 20 ºc Acondicionar em caixa de transporte de amostra bioló- gica (categoria B un/3373) com gelo reciclável Sangue (soro) de cordão umbilical coletar 2 a 5 ml de sangue, sem anticoagu- lante, do Rn no momento do nascimento utilizar tubo plástico estéril com tampa de rosca e anel de vedação. Rotular o tubo com o nome do paciente, data da coleta e tipo de amostra conservar em freezer a 20 ºc Acondicionar em caixa de transporte de amostra bioló- gica (categoria B un/3373) com gelo reciclável líquor coletar 1 ml do Rn no momento do nascimento utilizar tubo plástico estéril com tampa de rosca e anel de vedação. Rotular o tubo com o nome do paciente, data da coleta e tipo de amostra conservar em freezer a 20 ºc Acondicionar em caixa de transporte de amostra bioló- gica (categoria B un/3373) com gelo reciclável *Incluir na remessa a(s) ficha(s) com dados clínicos e epidemiológicos do(s) paciente(s). Tabela 27.3 – PARA dIAgnóStIco PoR Rt-PcR (ReAção dA tRAnScRIPtASe ReVeRSA, SeguIdA de ReAção eM cAdeIA dA PolIMeRASe) Tipo de material Procedimento de coleta armazenamento e conservação acondicionamento e transporte* Sangue/soro coletar cerca de 10 ml de sangue, sem anticoagulante, da mãe até 3 a 5 dias após o início dos sintomas. Separar no mínimo 2 a 3 ml do soro, para a Rt-PcR. no caso do Rn, coletar 2 a 5 ml de sangue (preferencialmente do cordão umbilical), sem anticoagulante, e separar 0,5 a 1,0 ml de soro para a Rt-PcR utilizar tubo plástico estéril, resistente à temperatura com tampa de rosca e anel de vedação. Rotular o tubo com o nome do paciente, data da coleta e tipo de amostra. conservar em freezer a -20 ou -70ºc (preferencialmente) até o envio para o laboratório Acondicionar em caixa de transporte de amostra bioló- gica (categoria B un/3373) com gelo seco Sangue (soro) de cordão umbilical coletar 2 a 5 ml de sangue, sem anticoagulante, do Rn no momento do nascimento utilizar tubo plástico estéril, com tampa de rosca e anel de vedação. Rotular o tubo com o nome do paciente, data da coleta e tipo de amostra. conservar em freezer a -20 ou -70ºc (prefe- rencialmente) até o envio para o laboratório Acondicionar em caixa de transporte de amostra bioló- gica (categoria B un/3373) com gelo seco continua... _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 140 16/08/2016 11:13:10 141 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 7 Tabela 27.3 – PARA dIAgnóStIco PoR Rt-PcR (ReAção dA tRAnScRIPtASe ReVeRSA, SeguIdA de ReAção eM cAdeIA dA PolI- MeRASe) – contInuAção Tipo de material Procedimento de coleta armazenamento e conservação acondicionamento e transporte* líquor coletar 1 ml do Rn no momento do nascimento utilizar tubo plástico estéril, resistente a temperatura, com tampa de rosca e anel de vedação. Rotular o tubo com o nome do pacien- te, data da coleta e tipo de amostra. conservar em freezer a -20 ou -70 ºc (preferencialmente) até o envio para o laboratório Acondicionar em caixa de transporte de amostra bioló- gica (categoria B un/3373) com gelo seco urina (gestante com rash) coletar 10 ml até 8 dias após o início dos sintomas utilizar tubo plástico estéril, resistente à temperatura, com tampa de rosca e anel de vedação. Rotular o tubo com o nome do paciente, data da coleta e tipo de amostra. conservar em freezer a -20 ou -70 ºc (preferencialmente) até o envio para o laboratório Acondicionar em caixa de transporte de amostra bioló- gica (categoria B un/3373) com gelo seco Placenta coletar 3 3 cm da placenta no momento do nascimento obter 3 fragmentos de placenta (dimensões de 1 cm3 cada), de tecido não fixado e transferir para frasco estéril, resistente a temperatura, com tampa de rosca. Identificar o material (placenta) e rotular o frasco com o nome do paciente e data da coleta. conservar em freezer a -20 ou -70 ºc (preferencialmente) até o envio para o laboratório Acondicionar em caixa de transporte de amostra bioló- gica (categoria B un/3373) com gelo seco *Incluir na remessa a(s) ficha(s) com dados clínicos e epidemiológicos do(s) paciente(s). unidade de atendimento – Hospital/Maternidade lAcen laboratório sentinela* SVS/MS Figura 27.1 – Algoritmo lAborAtoriAl pArA AmostrAs suspeitAs de microcefAliA relAcionAdA Ao vírus ZikA. *laboratórios: Iec/PA, FIocRuZ/PR, FIocRuZ/RJ, FIocRuZ/Pe e IAl/SP. 1. As amostras de soro devem ser submetidas às análises para dengue, chikungunya e StoRcH (Sífilis, toxoplasmose, Rubéola, citomegalovírus e Herpes). 2. As amostras de urina serão coletadas apenas em gestantes para real ização de diagnóstico por Rt-PcR. 3. lacen que não rea lizar Rt-PcR para vírus Zika, encaminhar ao laboratório Sentinela de sua área. observação: em caso de aborto ou natimorto, coletar 1 cm3 de cérebro e fígado e coração e pulmão e rim e baço para realização de Rt-PcR e imuno-histoquímico. Amostras notificar Vigilância epidemiológica distrital Municipal estadual gAl Preparar, aliquotar e armazenar as amostras3transporte de amostras Amostras: soro1 do sangue de cordão umbilical, urina2, líquor e placenta StoRcH, dengue e chikungunya PRnt- teste de neutralização por redução de placa Positivo negativo Rt-PcR para vírus Zika (líquor, urina, soro de cordão umbilical e placenta) Positivo negativo Sorologia para vírus Zika elisa Positivo negativo Rt-PcR para vírus Zika Resultados e informações e Sistema de gerenciamento Ambulatorial gAl observação: todos os re- sultados serão enviados ao MS e disponibiliza- dos via sistema de informação Positivo negativo 3 RefeRênCIa bIblIogRáfICa 1. Protocolo de Vigilância e Resposta à Ocorrência de Microcefalia Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional – ESPIN – 2015. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 141 16/08/2016 11:13:10 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 142 16/08/2016 11:13:10 O Recém-nascidO e cOndições especiais Parte 5 – Cardiologia e Distúrbios Hemodinâmicos seção 2 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 143 16/08/2016 11:13:10 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 144 16/08/2016 11:13:10 145 Introdução A hipertensão pulmonar neonatal é defini- da como pressão arterial pulmonar acima de 25 mmHg. Ela é classificada em primária (es- trutural) ou secundária à falha no processo de transição da circulação fetal, com persistência da resistência vascular pulmonar elevada e a shunts direita – esquerda através do forame oval e/ou do canal arterial, podendo cursar com disfunção de ventrículo direito. doenças que frequentemente necessItam de no • Síndrome de aspiração meconial; • Pneumonia congênita; • Síndrome do desconforto respiratório; • Hipertensão pulmonar idiopática; • Hipoplasia pulmonar. dIagnóstIco O paciente com HP pode apresentar uma dife- rença de saturação pré e pós-ductal de 10% ou mais, além de uma labilidade de saturação, es- pecialmente à manipulação, e frequentemente é associada a cianose e desconforto respirató- rio. O ecocardiograma é o padrão-ouro para o diagnóstico e acompanhamento terapêutico desses pacientes. tratamento oxIgenoterapIa e manIpulação mínIma O oxigênio é o principal vasodilatador pul- monar e deve ser utilizado com critério, principalmente em pacientes prematuros. É importante que o paciente com HP seja man- tido em manipulação mínima, para evitar crises de hipoxemia e, assim, persistência da resistência vascular pulmonar elevada. Pode ser necessário o uso de analgesia e sedação. VentIlação pulmonar Otimizar o recrutamento pulmonar, man- tendo uma ventilação gentil, com PEEP ade- quado, Pinsp relativamente baixa, evitando barotraumas e fornecendo volumes ventila- tórios adequados. É importante manter o pH entre 7,35 e 7,45, com pCO2 normal, evitando- -se tanto a hipercapnia quanto a hipocapnia. óxIdo nítrIco É fator vasodilatador derivado do endotélio, utilizado por via inalatória e causa vasodila- Hipertensão pulmonar neonatal e protocolo do uso de óxido nítrico Ana Luiza Teixeira Balloti Marcela Chaves M. Pimenta Bosco Maurício Magalhães 28 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 145 16/08/2016 11:13:10 146 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 8 tação pulmonar seletiva, com poucos efeitos sistêmicos. Recomenda-se seu uso quando o paciente atinge um índice de oxigenação (IO) maior que 25, com hipoxemia grave, e, em ge- ral, dentro de 30 a 60 minutos, os pacientes já apresentam resposta clínica. A resposta ao NO dependerá de um bom recrutamento alveolar. Índice de oxigenação (IO) = MAP ´ FiO2 ´ 100/PaO2 A dose inicial é de 20 ppm e, quando o RN não responde a esta dose, dificilmente responderá a doses maiores, que cursam com efeitos cola- terais (meta-hemoglobinemia, edema pulmo- nar e disfunção plaquetária) sem apresentar melhores efeitos terapêuticos. A redução do NO pode ser tentada quando o paciente se en- contra estável hemodinamicamente e tolerou, inicialmente, a redução dos parâmetros ven- tilatórios e a FiO2 já se encontra em 60%, ou menos. Reduzimos de 2 a 5 ppm a cada 4 h até que se chegue na dose de 5 ppm, quando en- tão reduzimos 1 ppm a cada 4 h. Efeito rebote pode ocorrer por vasoconstrição pulmonar e o paciente deve ser monitorizado cuidadosa- mente. A duração do tratamento varia confor- me a doença de base, em média de 3 a 5 dias. manejo HemodInâmIco O paciente pode necessitar de drogas vasoa- tivas, visando reduzir a pós-carga do VD, oti- mizando seu enchimento e sua contratilidade, além de manter a resistência vascular sistêmi- ca adequada. Em geral, associa-se o milrino- ne, um vasodilatador à noradrenalina, potente vasoconstritor periférico com possível efeito vasodilatador pulmonar, mantendo o RN sob monitorização cardíaca, oximetria de pulso e controle de PA (possivelmente almejando-se PAS sistêmica > PAS pulmonar). outras drogas VasodIlatadoras • Sildenafil: inibidor da fosfodiesterase 5, consequentemente eleva o GMPc intrace- lular, levando a uma vasodilatação, em es- pecial do leito pulmonar. Seu uso, em geral, é em associação ao NO e isso pode evitar o efeito rebote de piora da HP, observado al- gumas vezes no desmame do NO. Pode, ain- da, ter efeitos sistêmicos, sendo a hipotensão um efeito colateral importante. Dose usual: 1-3 mg/kg/dia, de 8 em 8 horas. • Bosentana: bloqueador do receptor da en- fotelina-1 tem poucos relatos do seu uso em neonatologia. • Prostaciclinas: provocam vasodilatação das artérias pulmonares pelo aumento do AMPc nas células musculares lisas. Uso em neonatologia pouco descrito, e, quando aplicado, foi em associação ao NO, reduzin- do efeito rebote durante a redução do mes- mo, e utilizado sob a forma inalatória, que tem meia-vida maior que a forma endove- nosa, com menos efeitos colaterais. referêncIas bIblIográfIcas 1. Bendapudi, P.; Barr, S. Diagnosis and manage- ment of pulmonary hypertension of the new- born. Paedriatrics and child health. 2013; 24: 12-16. 2. Kinsella, J.P. Best Practice Guideline: inhaled nitric oxide in the term newborn. Early Human Development. 2008; 84: 709–716. 3. Nair, J.; Lakshminrusimha, S. Update on PPHN: mechanisms and treatment. Seminars in Perina- tology. 2014; 38: 78-91. 4. Pandya, K.A.; Puliglanda, P.S. Pulmonary hypertension management in neonates. Semi- nars in Pediatric Surgery. 2015; 24: 12-16. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 146 16/08/2016 11:13:10 147 Triagem • Alta hospitalar ocorre habitualmente (entre 36-48 horas de vida: nesta fase, a manifes- tação clínica das cardiopatias críticas pode ainda não ter ocorrido, principalmente nas cardiopatias com fluxo sistêmico depen- dente de canal arterial; • O diagnóstico precoce de cardiopatia con- gênita é fundamental, pois pode evitar choque, acidose, parada cardíaca ou agravo neurológico antes do tratamento; • Pré-natal: a indicação de ecocardiograma fetal está baseada em achados ultrassono- gráficos e fatores de risco maternos. Atu- almente sugere-se avaliação rotinera no pré-natal, uma vez que apenas 10% dos RN com cardiopatia apresentam FR identificá- vel, o que pode não ser ainda uma realidade no SUS. • Neonatal: teste do “Coraçãozinho”. Tabela 29.1 – PrinciPais fatores de risco Para malfor- mação cardíaca fetal filho anterior afetado – 2% a 5% translucência nucal alterada (rastreado com 11 a 13 semanas) doppler-colorido do dueto venoso altera- do (rastreado com 11 a 13 semanas) cromossomopatia fetal doenças maternas: diabetes mellitus, fe- nilcetonúria e colagenoses exposição materna a agentes teratogêni- cos: anticonvulsivantes, lítio, álcool infecção fetal pelo vírus da rubéola Uso materno de indometacina arritmia cardíaca fetal malformação extracardíaca fetal crescimento intrauterino restrito Hidropsia fetal Gestação gemelar monozigótica Cardiopatias Congênitas amanda melhado marcela chaves m. PimentaBosco 29 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 147 16/08/2016 11:13:11 148 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 9 Figura 29.1 – Fluxograma do teste do coração. *se alteração confirmada no teste do coração, independente do valor da sato2, transferir rn a Uti neonatal para continuar investigação. fonte: sBP. inTrodução • MF cardíaca é a MF isolada mais comum @ 1% geralmente esporádicas e multifatoriais 10% associadas sd. genéticas (*T.21 - até 50% tem MF cardíaca); • ¼ MF cardíacas têm outras MFs associadas; • Incidência maior de RNPT (4,4%) e RNM- BP (6,5%) – excluindo PCA, FOP e valva Ao bicúspide; • Responsável por 3-5% dos óbitos no perí- odo neonatal, sendo que 20-30% crianças com CC falecem até o 1o ano de vida. A patogênese na 1a-2a semana vida está asso- ciada à transição da circulação feto-neonatal (fechamento dos shunts); devemos lembrar algumas peculiaridades do coração neonatal: predisposição à descompensação, reserva fun- cional limitada, incapacidade de adaptação a volumes grandes e miocárdio “deprimível” – Hipóxia, Acidemia, Anemia, Sepse, Hipogli- cemia, HipoCa e Policitemia. As cardiopatias podem ser classificadas de acordo com o quadro clínico predominante: • Cianose: obstrução de fluxo pulmonar (T4F, Apulm, Atri) ou circulação em para- lelo (TGA); • ICC: obstrução de fluxo sistêmico (SHCE, CoAo) ou hiperfluxo pulmonar (CIV, CIA, PCA, DSAV) ou mistura completa (DAVP, Trúncus); • Sopro: obstrutivas ou com hiperfluxo pulmonar; • Assintomática. A história clínica (incluindo dados maternos e gestacionais), exame físico, radiografia de tórax e eletrocardiograma com 12 derivadas podem dar pistas para o diagnóstico, sendo o ecocardiograma com dopplerfluxometria co- lorido o padrão-ouro para o diagnóstico. O manejo geral para todas as cardiopatias inclui: nutrição adequada (*oferta calórica), suporte ventilatório s/n, sedação/analgesia, controle de triagem neonatal de cardiopatia congênita crítica oximetria de pulso membro superior direito e um dos membros inferiores entre 24 e 48 horas de vida, antes da alta hospitalar spo2 < 95% ou uma diferença de ≥ 3% entre as medidas spo2 < 95% ou uma diferença de ≥ 3% entre as medidas realizar outra oximetria em 1 hora spo2 ≥ 95% e uma diferença de < 3% entre as medidas spo2 ≥ 95% e uma diferença de < 3% entre as medidas realizar ecodardiograma não dar alta até esclarecimento diagnóstico seguimento neonatal de rotina _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 148 16/08/2016 11:13:11 149 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 9 temperatura, glicemia e correção de distúrbios associados (anemia, DHE (*Ca), DAB). TeTralogia de FalloT (T4F) • Cardiopatia complexa com gênese em um CIV, com consequente dextroposição da Ao, levando a um estreitamento da via de saída do VD e hipertrofia secundário do mesmo. • Manifestação clínica variável (dependendo do grau de obstrução do fluxo pulmonar, manutenção do canal arterial e existência de circulação colateral sistêmico-pulmonar): • Cianose variável; • Sopro sistólico ejetivo na área pulmonar; • Raios X tórax: área cardíaca de tamanho normal no período neonatal, com evolução para cardiomegalia às custas de VD (“bota holandesa”); hipofluxo pulmonar; • ECG: sobrecarga de VD; • Manejo: nas crises de hipóxia: O2 com cui- dado, volume e β-bloqueador (apenas se estenose infundibular); PGE1 nos quadros associados a hipoxemia importante; palia- tivo – Blalock-Taussig; definitivo: cirurgia corretiva dos defeitos. Transposição de grandes arTérias (Tga) • Para sobrevida pós-natal é necessário que haja comunicações entre os dois sistemas circulatórios a nível dos átrios, ventrículos ou entre as grandes artérias (CIA, CIV, PCA); • Exame físico: • Cianose variável; • Hiperfonese da primeira bulha na área tri- cúspide e segunda bulha única e hipofoné- tica na área pulmonar. • Raios X tórax: silhueta cardíaca: forma “ovoide”; hiperfluxo pulmonar. • ECG: hipertrofia ventricular direita. • Manejo: manejo geral incluindo volume e diuréticos; septostomia atrial nas comuni- cações restritivas – Rashkind; PGE1 ± NOi nos casos refratários; cirurgia definitiva (Ja- tene): switch arterial. anomalia de ebsTein • Cúspides da valva tricúspide com implantação anômala, com consequente “arterialização de VD” e obstrução da sua via de saída de VD; • Exame físico: cianose importante; taqui- dispneia; sinais de ICCD: hepatomegalia e edema periférico; abaulamento precordial; sopro de EP ou CIV; • Raios X tórax: cardiomegalia expressiva: aumento de AD; hipofluxo pulmonar; • ECG: onda P muito aumentada nos casos de anomalia grave; desvio do eixo QRS su- perior; podem ocorrer arritmias cardíacas como taquicardia paroxística supraventri- cular, fibrilação ou flutter atrial; • Manejo: PGE1 se hipoxemia importante, manejo das arritmias e cuidado em centro de referência. síndrome de hipoplasia do Coração esquerdo (shCe) • Estenose ou atresia mitral, hipoplasia do ventrículo esquerdo e estenose ou atresia aórtica: fluxo sistêmico totalmente depen- dente do canal arterial; • Quadro clínico: sinais de baixo débito: ta- quipneia, taquicardia, palidez cutânea, ex- tremidades frias, má perfusão periférica; sopro cardíaco, quando presente, é discreto; • Raios X tórax: cardiomegalia; hiperfluxo pulmonar; • ECG: sobrecarga ventricular direita acen- tuada; ausência dos potenciais do ventrícu- lo esquerdo; • Manejo: PGE1 + inotrópicos, suporte ven- tilatório: hipoxemia e hipercapnia permis- sivas objetivando vasoconstrição pulmonar (pO2 ~ 40 mmHg, saturação < 90%, pCO2 ~ 45 mmHg e pH ~ 7,40), diuréticos, corre- ção de distúrbios metabólicos (em especial acidose metabólica). _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 149 16/08/2016 11:13:11 150 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 2 9 CoarTação de aorTa (Coao) • Cardiopatia definida por um estreitamen- to na aorta descendente, abaixo da artéria subclávia esquerda e na zona de inserção do canal arterial; • Quadro clínico: sinal clínico mais impor- tante: assimetria da amplitude dos pulsos arteriais; PA sistêmica maior nos MMSS em relação aos MMII; pode se apresentar desde assintomática até ICC gravetaquipneia pro- gressiva e taquicardia nas primeiras sema- nas de vida; • Raios X tórax: aumento da área cardíaca; hiperfluxo pulmonar e/ou congestão pul- monar; • ECG: sobrecarga ventricular direita; • Manejo: PGE1, DVA e diuréticos. ComuniCação inTervenTriCular (Civ) • Quadro clínico: raramente causa sinais de ICC no período neonatal, exceto as de grande extensão (> 5 mm) ou associadas a outros defeitos; • Raios X tórax: cardiomegalia moderada a acentuada; • ECG: sobrecarga ventricular direita nos primeiros dias de vida e, posteriormente, sobrecarga biventricular; • Manejo: diuréticos: se sintomas de ICC; bandagem da pulmonar: tratamento pa- liativo se sintomas de hiperfluxo pulmonar muito importantes; cirurgia corretiva: ha- bitualmente após o primeiro mês de vida. deFeiTo do sepTo aTriovenTriCular (dsav) • Valva atrioventricular única geralmente in- suficiente, associada a presença de CIA tipo ostium primum e CIV; • Cardiopatia mais comum na Trissomia do 21; • Quadro clínico: segunda bulha hiperfonéti- ca e desdobrada em área pulmonar; primei- ra bulha hiperfonética em área tricúspide; sopro sistólico em regurgitação na borda esternal esquerda; • Raios X tórax: cardiomegalia global; hi- perfluxo pulmonar; dilatação do tronco da pulmonar; • ECG: bloqueio divisional anterossuperior (eixo QRS entre -20º e-90º); sobrecarga ventricular direita ou biventricular; • Manejo: controle dos sinais de insuficiência cardíaca com diuréticos, digitálicos e vasodi- latadores; cirurgia corretiva, preferencialmente a partir do segundo ou terceiro mês de vida. resumindo • É uma patologia relativamente frequente que engloba um grupo heterogêneo; • A classificação baseada no quadro clínico preponderante pode nortear a conduta; • Manejo geral: OH/OC, VM, sedação/anal- gesia, Temp, Glic, Ca, anemia, acidose; • As cardiopatias cianogênica devem ser conduzidas com O2 com cuidado, PGE1, NOi s/n; Bbloq; DVA e volume: livremente naquelas com obstrução ao fluxo pulmo- nar, mas com cautela quando o hiperfluxo pulmonar está presente; • ICC = inotrópicos ́ cardiotônicos; se asso- ciados a hiperfluxo pulmonar, acrescentar diuréticos e naquelas associadas à obstru- ção ao fluxo sistêmico – PGE, +/- volume; • DICA: tentar desenhar a cardiopatia para melhor compreensão dos casos complexos. reFerênCias bibliográFiCas 1. Departamento de Cardiologia e Neonatologia da SBP. Diagnóstico precoce de cardiopatia congê- nita crítica: oximetria de pulso como ferramenta de triagem neonatal. Elaborado em 07/11/2011. 2. Santana, M.V.T. Cardiopatias congênitas no recém-nascido. Diagnóstico e tratamento. São Paulo: Atheneu; 2004. 3. Zahka, K.G.; Patel, C.R. Congenital defects. In: Fanaroff AA, Martin RJ. Neonatal-perinatal medicine (7th edition). St Louis: Mosby; 2002. p. 1120-40. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 150 16/08/2016 11:13:11 151 Definição Choque é definido como um desequilíbrio en- tre a demanda e oferta de oxigênio e nutrientes para os tecidos. A fase compensada do choque é aquela cujos mecanismos neuroendócrinos mantém tal oferta praticamente inalterada. Na fase descompensada, surge a hipotensão associada a sinais de hipoperfusão tecidual. Por fim, falência múltipla de órgãos e morte é evidente na fase final do choque, irreversível. A preocupação com hipotensão reside no risco de hipofluxo para órgãos nobres asso- ciado à mesma, mas estudos recentes apon- tam que o tratamento agressivo da mesma pode ser tão deletério quanto a hipoperfu- são, portanto, avaliar sempre além da pres- são arterial, a perfusão tecidual, diurese, frequência cardíaca. No período neonatal a definição de hipoten- são é variável a depender da referência: • PA < p 5-10 (tabelas populacionais); • PAM < 28-30 mmHg (nos RN de muito baixo peso ao nascer); • PAM < idade gestacional (usada nos pri- meiros 3-7 dias de vida, mas estendida quando corrigida para idade pós-natal) - sendo essa a mais utilizada. ClassifiCação fisiopatológiCa • Vasodilatação: uma das causas mais frequentes em prematuros; pode estar associado ou não a SIRS/ Sepse; ocorre va- soplegia por produção local exacerbada de NO e citocinas com efeito direto vascular; caracterizado por diminuição da pressão de perfusão com DC normal ou elevado; tratamento com vasopressor puro ou vaso- pressor-inotrópico. • Disfunção sistólica: frequente em asfi- xiados, prematuros pós-ligadura do canal arterial e choque séptico; menos frequen- temente nas cardiomiopatias dilatadas, pós-taquicardia ou hipertensão prolonga- das; ocorre por lesão miocárdica (nos as- fixiados), contratilidade miocárdica débil e pós-carga elevada (miocardiopatia dila- tada*), assim como pode ter uma etiologia multifatorial (pós-ligadura); DC diminuído evidente; vasopressor-inotrópico ou inodi- latador ou cardiotônico +/- vasodilatador* são o melhor tratamento. • Hipovolemia real ou por diminuição do retorno venoso: mais raro; pode ser por perdas sanguíneas (DPP, Transfusão feto- -materna e/ou fetoplacentária, hemorragia Choque neonatal Eliana Tiemi Maekawa Marcela Chaves M. Pimenta Bosco Maurício Magalhães 30 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 151 16/08/2016 11:13:11 152 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 0 pulmonar maciça ou hemorragia intra e peri ventricular,), perdas insensíveis (pre- maturos extremos), perda para o 3o espaço (ECN, sepse, pós-operatório de cirurgia abdominal), pressão média nas vias aéreas inadvertidamente elevada, pneumotórax hipertensivo e derrame pericárdico; carac- terizado por DC diminuído e hipotensão; o tratamento deve visar a correção da causa- -base (reposição volêmica com cristaloide, sangue e/ou coloide, drenagem de pneu- motórax/derrame pericárdico). • Disfunção diastólica: menos frequentes, pode ocorrer na cardiomiopatia hiper- trófica 2ária à doença de depósito ou DM materno descontrolado; caracterizada por DC diminuído e hipotensão; volume e be- tabloqueador ou vasopressor puro são o seu melhor tratamento. • Choque séptico: comum; pode apresen- tar vasodilatação e disfunção miocárdica (principalmente nas infecções por Gram- -negativos); DC geralmente elevado é ca- racterístico; o tratamento consiste em ATB, volume, vasopressor puro ou vasopressor- -inotrópico; corticoterapia (com efeito gli- co e mineralocorticoide) e inotrópico s/n. DiagnóstiCo • Dados da história obstétrica e perinatal; • Avaliação clínica: sinais de má perfusão (extremidades frias, tempo de enchimento capilar lentificado, livedo reticular, oligo- anuria, hipoatividade), hipotensão, taqui- cardia; outros sinais a depender do tipo de choque e se existe sepse associada; • Avaliação laboratorial: gasometria, lactato; associar investigação para sepse, além de controles de glicemia, calcemia, função re- nal e demais eletrólitos; • Outros: ECO funcional quando disponível, aEEG e NIRS. aborDagem iniCial • Assegurar via aérea; • Acesso venoso adequado; • Jejum (inicial); • Adequação da volemia e correção de dis- túrbios associados; • Drogas vasoativas e outros. Tabela 30.1 – EfEiTos CirCulaTórios dos inoTróPiCos Mais uTilizados rECEPTorEs adrEnérgiCos E doPaMinérgiCos Receptores cardíacos Receptores vasculares periféricos alfa 1 beta ½ Dopamina alfa ½ beta 2 Dopamina agente aumento da contratilidade aumento da condução aumento da contratilidade Vasoconstri- ção periférica Vasodilatação periférica Vasodilatação renal ou mesentérica dopamina ++ ++++ + ++++ + ++++ dobutamina ++ ++++ 0 + ++ 0 adrenalina ++ ++++ 0 ++++ +++ 0 noradrenal ++ ++++ 0 ++++ + 0 Vasopressina 0 0 0 ++++ 0 0 Milione 0 0 0 0 0 0 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 152 16/08/2016 11:13:11 153 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 0 Doses • Adrenalina: 0,1 -2 mg/kg/min; • Noroadrenalina: 0,1-2 mg/kg/min; • Dopamina: 2,5-20 mcg/kg/min; • Dobutamina: 5-20 mcg/kg/min; • Vasopressina: 0,001-0,04 UI/kg/min; • Milrinone: 0,1-1 mg/kg/min. outras Drogas HiDroCortisona • Associar na vigência de dopamina e dobu- tamina (≥15 μg/kg/min), choque refratário com necessidade de adrenalina/noradrena- lina e/ou sinais evidentes de insuficiência adrenal; • Dose: 1 mg/kg⁄dose de 8/8 h 3 a 5 dias, sem necessidade de desmame lento ConClusão A história obstétrica e perinatal, associada à avaliação clínica e laboratorial (+ Eco funcio- nal quando disponível) leva a uma compreen- são fisiopatológica do choque direcionando o seu tratamento. O choque é dinâmico e requer manejo constante. referênCias bibliográfiCas 1. Noori, S.; Friedlich, P.S.; Seri, I. Patophysiology of Shock in The Fetus and Neonate; in Polin; Fox an Abman – Fetal and Neonatal Physiology, 4th Ed.; Saunders – 2011. 2. Overgaard, C.; Dzavik, V. Inotropes and Vaso- pressors; in Circulation 2008; 118: 1047-56. 3. Schmaltz, C. Hipotension and Shock in Preterm Neonate; in Adv Neonatal Care 2009; 9 (4): 156-62. 4. Wynn, J.L.; Wong, H.R. Pathophysiology and Treatment of of Septic Shock in Neonates; in Clin Perinatol 2010; 37: 439-79. Pa = dC ´ rVs arritmia Correção da causa-base amiodarona/cardioversão Contratilidade disfunçãosistólica sepse, asfixia, pós-ligadura Ca, cardiomiopatia dilatada, outros aTB, volume, vassopressor- inotópico e CE s/n vassopressor- inotópico, inodilatador, cardiotônico ± vasodilatador fC ´ Vs Mecanismos regulatórios neuroendócrinos e parácrinos Pré-carga Hipovolemia real ou 2ária diminuição rV Vilume/CH, drenagem disfunção diastólica Cardiomiopatia hipertrófica Volume + β-bolq. ou vasopressor puro Pós-carga Vasodilatação rnPT ± sirs/sepse Vassopressor puro ou vassopressor- inotópico aTB e CE s/n _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 153 16/08/2016 11:13:12 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 154 16/08/2016 11:13:12 155 Introdução O termo ecocardiografia (ECO) funcional vem sendo utilizado para descrever o uso da ecocardiografia como um método comple- mentar para o manejo clínico do estado he- modinâmico do paciente, sendo seu uso cada vez mais difundido nas UTIs neonatais. Tal avaliação não tem como objetivo diagnosticar nem conduzir os defeitos cardíacos. O neonatologista que for realizar o ECO fun- cional deve estar familiarizado com a técnica, imagens e as adaptações cardiovasculares pró- prias do período neonatal. IndIcações • Suspeita clínica de persistência do canal arterial (PCA); • Manejo clínico de RN com asfixia perinatal; • Manejo do choque neonatal; • Suspeita clínica de hipertensão pulmonar (HP); • Suspeita clínica de derrame pericárdico/ tamponamento; • Localização de cateteres centrais. aquIsIção da Imagem • Utilização de probes/transdutores de alta frequência (preferencialmente 8-12 MHz) e preferencialmente setorial; • Avaliação em 2D, M-mode e dopplerfluxo- metria colorida (color); • Cuidados especiais para evitar instabilida- de do RN: • Integridade da pele e prevenção de infecção; • Manutenção da temperatura corporal e do ambiente (utilizar gel aquecido e limitar o tempo do exame); • Monitorização cardiorrespiratória. VarIáVeIs analIsadas • Funções sistólica e diastólica dos ventrículos; • Presença de shunt interatrial, interventricu- lar e/ou canal arterial (diâmetro, direção e padrão da curva do shunt); • Pressão sistólica do ventrículo direito e da artéria pulmonar; • Fluxo sanguíneo/débito cardíaco; • Mobilidade das valvas e septo; • Definição de situs; • Estimativa da volemia. ecocardiografia Funcional Eliana Tiemi Maekawa Marcela Chaves M. Pimenta Bosco Rodrigo de Jesus Gonçalves Figueredo 31 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 155 16/08/2016 11:13:12 156 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 1 Corte Localização Inclinação Visualizar/medir Outros Imagens PEL Chanfradura para ombro D, 4o EIC BEE Tricúspide (medianizar) Identificação da VTri - medida do refluxo Mobilidade das VMi e VAo, integridade e mobilidade SIV, medida da relação AE/Ao, medida do diâmetro da VAo, diâmetro das cavidades ventriculares/ contratilidade de VE Pulmonar (lateralizar) Identificação da VP - medida do diâmetro e fluxo pulmonar PEC Partindo do PEL, girar 90o para E do paciente (chanfradura para ombro E) Varredura da base ao ápice Identificar Ao central e vias de entrada e saída de VD - medida do diâ- metro de VAo, visualizar AD e AE, SIA, medida do fluxo pulmonar e contratilidade VE Possibilidade de visua- lização do CA (imagem do “tripé”) Apical 4/6o EIC LAxA/M e anteriorizando 4 câmaras Simetria e contratilidade das 4 câmaras, SIA/ SAV/SIV, fluxo e refluxo pelas VAV - 5 câmaras Fluxo da Ao SE Fúrcula - Visualizar CA - medida do diâmetro, direção e padrão fluxo; Ao e seus ramos - checar tamanho istmo e roubo de fluxo Ao descendente Estimativa do fluxo em VCS PEAD BED alta - SC Epigástrio Transversal (*com ou sem inclinação para 4 câmaras) Definir situs; *identificação de SIA/ FOP, VCS, Ao, TP (e medida de seus fluxos) *Identificação de SIA/ FOP, VCS, Ao, TP (e medida de seus fluxos) Longitudinal (bascular para D* ou E**) Visualizar VCI e sua complacência*; Visualizar Ao e roubo de fluxo em A.Mesentérica** Legenda: PEL = paraesternal eixo longo; D = direita; EIC = espaço intercostal; BEE = bordo esternal esquerdo; VTri = valva tricúspide; VP = valva pulmonar; VMi = valva mitral; VAo = valva aórtica; SIV = septo interventricular; AE/Ao = átrio esquerdo/ aorta (valva); VE = ventrículo esquerdo; PEC = paraesternal eixo curto; E = esquerda; VD = ventrículo direito; AD = átrio direito; AE = átrio esquerdo; SIA = septo interatrial; CA = canal arterial; LAxA/M = linha axilar anterior-média; SAV = septo atrioventricular; VAV = valva atrioventricular; SE = supraesternal; PEAD = paraesternal alto à direita; BED = bordo esternal direito; VCS = veia cava superior; SC = subcostal; FOP = forame oval patente; TP = tronco da pulmonar; VCI = veia cava inferior. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 156 16/08/2016 11:13:12 157 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 1 lembretes • Fórmulas: • Fluxo/débito: (II.r2.FC. VTi )/peso (kg) pois vaso semelhante a um cilindro; sen- do r: raio do vaso/valva, FC = frequência cardíaca, VTi = integral da área sob a curva (usar a curva mais envelopada da medida) durante um ciclo cardíaco (Va- lor normal para Ao e AP 150-600 e VCS 45-150 mL/kg/min); • Estimativa da PSAP (pressão sistólica da AP): ∆P= 4. Vmáx2, somar 5 (se dilata- ção de AD leve)/10 (se moderada)/15 (se importante); sendo D = variação, Vmáx2: velocidade máxima medida na AP; • Fração de ejeção: (EDV – ESV)/EDV, onde EDV = volume diastólico VE e ESV = volume sistólico VE (valor nor- mal > 58%); • Fração de encurtamento ou Delta D: (DDVE - DSVE ´ 100)/DDVE, onde DDVE = diâmetro diastólico do VE e DSVE = diâmetro sistólico do VE (valor normal 25-40%). • O transdutor setorial de alta frequência deve estar chanfradura sempre voltada para E exceto no corte PEL. • O doppler só é fidedigno se o ângulo de in- sonação é < 20o; toda cor vermelha mostra fluxo que se aproxima do transdutor e azul, fluxo que se afasta. • Para se estimar HP é necessário refluxo tri- cúspide; são sinais indiretos de HP: aumen- to VD, retificação ou abaulamento do SIV p/ VE no PEC. • A volemia estimada pela VCI varia com re- crutamento pulmonar. • São sinais de PCA com repercussão hemodi- nâmica: • Diâmetro na extremidade pulmonar > 1,5 mm; • Shunt E-D; • Fluxo diastólico APE > 40 cm/s; • Relação AE/Ao > 1,4; • Roubo de fluxo Ao descendente e A. Me- senterica. reFerêncIas bIblIográFIcas 1. Curso: Ecocardiografia funcional em UTI neo- natal e pediátrica, Disciplina de cardiologia pe- diátrica do Departamento de Pediatria da Santa Casa de São Paulo, 2014. 2. Evans, Nick, et al., “Point-of-care ultrasound in the neonatal intensive care unit: international perspectives.” Seminars in Fetal and Neonatal Medicine. Vol. 16. No. 1. WB Saunders, 2011. 3. Jain, Amish et al., A Comprehensive Echocar- diographic Protocol for Assessing Neonatal Right Ventricular Dimensions and Function in the Transitional Period: Normative Data and Z Scores, Journal of the American Socie- ty of Echocardiography, Volume 27 , Issue 12, 1293-1304. 4. Levy, Philip T., et al., “Right ventricular func- tion in preterm and term neonates: reference values for right ventricle areas and fractional area of change.” Journal of the American Society of Echocardiography 28.5 (2015): 559-569. 5. Mertens, Luc et al., Targeted Neonatal Echo- cardiography in the Neonatal Intensive Care Unit: Practice Guidelines and Recommenda- tions for Training, Journal of the American Society of Echocardiography, Volume 24, Issue 10, 1057-1078. 6. Ficial B, Finnemore AE, Cox DJ, Broadhouse KM, Price AN, Durighel G, Ekitzidou G, Ha- jnal JV, Edwards AD, Groves AM. Validation study of the accuracy of echocardiographic measurements of systemic blood flow volume in newborn infants. J Am Soc Echocardiogr. 2013Dec;26(12) 1365-1371. doi:10.1016/j. echo.2013.08.019. PMID: 24075229; PMCID: PMC3852205. 7. de Waal, Koert et al., Functional echocardio- graphy; from physiology to treatment, Early Human Development, Volume 86, Issue 3, 149-154. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 157 16/08/2016 11:13:12 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 158 16/08/2016 11:13:12 159 O canal arterial é uma importante conexão vascular entre o ramo esquerdo da artéria pul- monar e a aorta descendente, que, durante a vida fetal, desvia sangue do leito vascular pul- monar para a circulação sistêmica. Os recém-nascido prematuro têm elevada incidência de persistência canal arterial, espe- cialmente naqueles menores de 1.500 g (30%) e idade gestacional menor que 28 semanas (65%). A patência do canal arterial intraútero se dá pelos altos níveis de prostaglandinas E2 e pela baixa concentração de oxigênio. Após o nasci- mento ocorre queda nos níveis de prostaglan- dina e aumento na concentração de oxigênio, promovem uma contração muscular do canal arterial levando ao fechamento funcional do canal arterial, o qual ocorre entre 12-15 horas após o nascimento. A presença do canal arterial com repercussão hemodinâmica em prematuros está associada a maior mortalidade, hemorragia e edema pulmonar e displasia broncopulmonar. Fatores de risco • Prematuridade; • Não uso de corticoide antenatal; • Síndrome do desconforto respiratório; • Reposição de surfactante exógeno; • RCIU; • Administração excessiva de líquido intra- venoso nos primeiros dias de vida; • Sepse. Quadro clínico • Sopro contínuo em região infraclavicular esquerda; • Pulsos amplos; • Sinais de ICC decorrente do hiperfluxo pulmonar: taquicardia, taquipneia, hepa- tomegalia; • Aumento da pressão de pulso com diferen- ça entre PAS e PAD > 25-35 mmHG; • Precórdio hiperativo. diagnóstico • Ecocardiograma: padrão-ouro. Pca com rePercussão • Sinais clínicos de ICC ou sobrecarga cardí- aca esquerda. • Ecocardiograma: • Fluxo diastólico reverso na aorta des- cendente; Persistência do canal arterial Fernando Perroud da Silveira Foresti Rodrigo de Jesus Gonçalves Figueredo 32 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 159 16/08/2016 11:13:12 160 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 2 • Relação AE/aorta > 1,4; • Shunt E-D com relação Qp:Qs > 1,5: • Sobrecarga ventricular esquerda; • Radiografia de tórax: aumento da trama vascular, aumento das câmaras cardíacas esquerdas. tratamento medidas gerais • Restrição hídrica com volume entre 110 e 130 mL/kg/dia; • Evitar o uso de diuréticos de alça; • O uso de pressão positiva no final da expi- ração (PEEP), diminui o shunt esquerdo- -direto; • Manter hematócrito entre 35 e 40%. tratamento Farmacológico • Indometacina EV ou via SOG, por 3 dias. Dias de vida 1ª Dose 2ª Dose 3ª Dose < 48 h 0,2 mg/ kg/dia 0,1 mg/ kg/dia 0,1 mg/ kg/dia 2 a 7 dias 0,2 mg/ kg/dia 0,2 mg/ kg/dia 0,2 mg/ kg/dia >7 dias 0,2 mg/ kg/dia 0,25 mg/ kg/dia 0,25 mg/ kg/dia ibuProFeno • 1ª dose: 10 mg/kg; • 2ª e 3ª dose: 5 mg/kg; • IV 24/24 h, infusão em 15 minutos, por 3 dias. contraindicações aos inibidores da coX • Infecção ativa suspeita ou comprovada; • Sangramento ativo (principalmente em SNC e gastrointestinal); • Enterocolite necrosante comprovada ou suspeita; • Trombocitopenia ou alterações de coagulação; • Disfunção renal. Cuidados com a alimentação durante o tra- tamento: Mantemos o volume administrado durante todo o tratamento. Paracetamol Pode ser usado como segunda opção nos casos em que haja contraindicação a indometacina ou ibuprofeno 15 mg/kg/dose de 6/6 h por 7 dias. tratamento cirúrgico Indicado no PCA com repercussão hemodi- nâmica que não apresenta resposta ao trata- mento farmacológico (até 2 ciclos) ou em caso de contraindicação ao mesmo. comPlicações da ligadura cirúrgica de canal • Pneumotórax; • Quilotórax; • Hipertensão arterial; • Infecção; • Síndrome cardíaca pós-ligadura de canal. reFerências bibliográFicas 1. Benitz WE and Committee on Fetus and New- born. Patent Ductus Arteriosus in Preterm In- fants. Pediatrics. 2016;137(1):e20153730. 2. Disponível em http://www.uptodate.com/ contents/management-of-patent-ductus- -arteriosus-in-premature-infants. Acesso em: 20/02/2016. 3. Evans N. Diagnosis of the pretermpatent duc- tus arteriosus: clinical signs, biomarkers, ultra- sound? Semin Perinatol. 2012;36:114-22. 4. Hammerman C, Bin-Nun A, Kaplan M. 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Devido às variações constantes dos níveis de hemoglobina (Hb) e hematócrito (Ht) no período neonatal não há valores fixos de Hb e Ht para conceituar a ane- mia neonatal (Tabelas 33.1 e 33.2). A anemia pode ser secundária a diversas causas e o seu diagnóstico diferencial é imprescindível. Na suspeita de uma anemia solicitar: hemogra- ma com reticulócitos, tipagem sanguínea e teste de Coombs. (Organogramas 33.1, 33.2 e 33.3). doenças Hematológicas no neonato Juliana de Castro Maturana Maria Renata Tollio Chopard Victoria Catarina de Albuquerque Melo 3 Tabela 33.1 – VAloRes heMATológiCos noRMAis Valor iG semanas sangue de cordão no RnT d1 d3 d7 d14 28 34 hb (g/dl) 14,5 15,0 16,8 18,4 17,8 17,0 16,8 ht (%) 45,0 47,0 53 58 55 54 52 gV (mm3) 4,0 4,4 5,2 5,8 5,6 5,2 5,1 VCM (µ3) 120 118 107 108 99 98 96 hCM (pg) 40 38 34 35 33 32.5 31,5 ChCM (%) 31 32 31,7 32,5 33 33 33 Reticulócitos (%) 5 -10 3 -10 3 -7 3 -7 1 -3 0 -1 0 -1 Plaquetas (mm3) 290.000 192.000 213.000 248.000 252.000 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 163 16/08/2016 11:13:13 164 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 ORGanOGRama 33.2 Teste de Coombs Coombs + Coombs - incompatibilidade ABo e Rh e grupos menores excluir anemia hemolítica autoimune materna Diminuído Anemia hipocrômica e microcítica Perda crônica intraútero de sangue Traço talassêmico Teste de Kleinhouer esfregaço de sangue periférico Tipagem sanguínea anticorpos hemograma VCM ORGanOGRama 33.1 Reticulócitos Diminuídos normais ou aumentados Teste de Coombs Anemia hipoplástica congênita induzida por drogas outras Tabela 33.2 – VAloRes MéDios De heMogloBinA semanas 3 dias 1 sem 2 sem 3 sem 4 sem 6 sem 8 sem 10 sem < 1.500 g (28-32 sem) 17,5 15,5 13,5 11,5 10,0 8,5 8,5 9,0 1.500 – 2.000 g (32-36 sem) 19,0 16,5 14,5 13,0 12,0 9,5 9,5 9,5 2.000 – 2.500 g (36-40 sem) 19,0 16,5 15,0 14,0 12,5 10,5 10,5 11,0 > 2.500 g (termo) 19,0 17,0 15,5 14,0 12,5 11,0 11,5 12,0 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 164 16/08/2016 11:13:13 165 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 ORGanOGRama 33.3 terApêuticA Transfusão sanguínea: o volume de sangue ad- ministrado deve ser entre 10-20 mL/kg. Se RN com repercussão clínica, reconsiderar valores. Está indicada em: • Casos de perda sanguínea aguda (indepen- dentemente da idade gestacional): •20 % do volume sanguíneo; • 10 % do volume sanguíneo com sin- tomas de diminuição da liberação do oxigênio, como por exemplo, acidose persistente, após uso de expansão de vo- lume na reanimação; • Necessidade imediata de aumento da liberação de oxigênio que não pode ser alcançada com aumento do suporte ventilatório. • Casos de anemia crônica: • RNT com Ht < 35-40%: – Com sinais de desconforto respira- tório; – Com hipovolemia associada: palidez, taquicardia, diminuição da perfusão e hipotensão. • RNT com Ht < 30%: – Sem sinais de desconforto respiratório; – Na 1a semana de vida; – Com necessidade de procedimento cirúrgico; – Presença de taquicardia, cardiomega- lia, apneia significante ou taquipneia; – Ganho de peso inadequado, sem ou- tra causa. • RNPT (vide anemia da prematuridade). AnemiA dA premAturidAde Ocorre entre a 3 e 12 semanas de vida nos RN < 32 semanas. Os RNPT apresentam uma que- da progressiva da hemoglobina até a 6ª - 8ª se- mana de vida, sendo que nos RNPT com peso de nascimento entre 1,0 e 1,5 kg a Hb pode chegar ao redor de 8 mg/dL e nos abaixo de 1,0 kg a Hb pode ser próxima de 7 mg/dL. esfregaço de sangue perifério Anormal esferocitose, estomatocitose eliptocitose hereditária CiVD Anemias hemolíticas microangiopáticas “normal” Anemia normocítica e normocrômica Perda de sangue infecção Fungos é raro sem icterícia e heM hemólise Com icterícia e heM Defeitos enzimáticos congênitos Piruvatoquinase g6PD Desidrogenase hemoglobinopatias (alfa e y) hipotireoidismo Deficiência de vitamina e galactosemia _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 165 16/08/2016 11:13:13 166 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 terApêuticA • Transfusão sanguínea: na Tabela 33.3, en- contra-se a diretriz adotada no nosso servi- ço. O volume de sangue administrado deve ser entre 10-20 mL/kg. Se RN com reper- cussão clínica, reconsiderar valores. Tabela 33.3 – inDiCAção De TRAnsFusão sAnguineA assistência respiratória Tempo de vida FiO2/map Hb/HT Ventilação mecânica < 28 dias ≥ 0,30 < 12 g/dl/ < 40% < 0,30 < 11 g/dl/ < 35% ≥ 28 dias > 0,40/>8 < 0,40/≤ 8 < 10 g/dl/ < 30%* ≤ 8 g/dl/ < 25%** CPAP nasal Até 24 horas de vida < 28 dias < 12 g/dl/ < 40% < 10 g/dl/ < 30% ≥ 28 dias < 8,5 g/dl/ < 25% Respiração espontânea ≥ 0,21 Ar ambiente < 8,5 g/dl/ < 25%# < 7,0 g/ dl/20% * Pacientes em ventilação de alta frequência com MAP > 14 cm h2o. ** Pacientes em ventilação de alta frequência com MAP ≤14 cm h2o. # Associado a um ou mais sintomas: • Apneia ou bradicardia significativa (mais de 6 episódios em 12 horas ou 2 episódios em 24 horas com necessidade de VPP e já recebendo dose terapêutica de metilxantina). • Taquicardia ou taquipneia significante (FC > 180 bpm em 24 horas, FR > 80 ipm em 24 horas). • ganho de peso inadequado (< 10 g/dia por mais de 4 dias consecutivos, recebendo oferta calórica ≥ 100 kcal/kg/dia). • se houver intervenção cirúrgica. • Acidose metabólica, com ph 7,2 ou lactato ≥ 2,5 meq/l. • Terapia com ferro: • Suplementação de ferro deve ser realiza- da entre 15-30 dias de vida; • Dose: 2-4 mg/kg/dia; • Ferritina < 100 ng/mL: aumentamos a dose para 5-7 mg/kg/dia; • Sugerimos suspender a suplementação de ferro: quando valor de ferritina > 400 ng/mL, devido risco de hemosiderose; • O ferro polimaltosado e o ferro quelado são os mais recomendados por menor liberação de radicais livres no plasma. • Ácido fólico: necessário sua suplementação nos RNPT entre 14 e 28 dias de vida. Dose recomendada: 0,05-0,20 mg/dia. • Eritropoetina recombinante huma- na (r-HuEPO): A utilização rotineira é controversa na literatura. A r-HuEPO pro- porciona uma pequena redução do número de transfusões sanguíneas. Existem resul- tados contraditórios sobre a associação do uso precoce (até 3 dias de vida) e a ocor- rência de retinopatia da prematuridade. Trabalhos recentes apontam para um pos- sível efeito neuroprotetor, quando utilizada precocemente e em altas doses. No nosso serviço utilizamos a r-HuEPO em casos in- dividualizados, desde que o RN se encaixe nos seguintes critérios: • RNPT com IG < 32 semanas, quando Ht < 40 %; • Peso de nascimento inferior a 1.250 g; • Introdução o mais precoce possível, sen- do recomendado o seu início entre 7 e 21 dias de vida; • Dose inicial de 750 UI/kg/semana, sub- cutânea, podendo chegar a 1.200 UI/kg/ semana, fracionada em 3 doses; • Medição diária da PA antes da sua admi- nistração e suspensão da mesma quando PAd ≥ 60 mmHg até sua normalização; • Controle de Hb, Ht, reticulócitos antes da 1a dose e ferritina, se possível; • Controle de HMG com reticulócitos e ferritina a cada 15 dias; • Introdução de ferro polimaltosado na dose de 2 mg/kg/dia quando aporte de leite ≥ 60 mL/kg/dia; • Se ferritina < 100 μcg/dL aumentar a 7 mg/kg/d; _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 166 16/08/2016 11:13:13 167 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 • Caso Rn já esteja recebendo suporte ade- quado de ferro e não responda com au- mento dos reticulócitos, podemos pensar em aumentar a dose da r-HuEPO; • Suspender medicação se Ht > 40%. policitemiA neonAtAl Policitemia é definida como hematócrito veno- so maior que 65% ou hemoglobina superior a 22 mg/dL. Essa condição afeta 1 a 5% dos RNs. A triagem diagnóstica pode ser realizada atra- vés do Ht capilar, e, quando elevado, deve-se colher amostra de sangue venoso para orien- tação terapêutica. Em geral o Ht capilar é 10 % maior que o central. Na Tabela 33.4, encon- tram-se os pacientes que devem ser rastreados para policitemia. A policitemia pode ser secundária a diversas causas, sendo elas (Tabela 33.5). QuAdro clínico A grande maioria é assintomática (74-90% dos casos). Os sintomas, quando presentes, relacio- nam-se ao baixo fluxo sanguíneo e a hipervis- cosidade, acontecendo, na maioria das vezes, após 2 horas após nascimento. A hipervisco- sidade pode ser consequente ao hematócrito elevado, viscosidade plasmática (proteínas, fibrinogênio, plaquetas), maleabilidade eritro- citária, acidemia e tamanho do vaso sanguíneo. Os principais sintomas estão relacionados com (Tabela 33.6). Tabela 33.5 – CAusAs De PoliCiTeMiA neonATAl Fatores placentários Retardo na ligadura do cordão umbilical (> 2 minutos) Asfixia perinatal Transfusão gêmeo – gêmeo (10-15% dos gêmeos monocoriônicos) Transfusão materno – fetal (raro) Hipóxia intrauterina RCiu, tabagismo Filho de mãe diabética e hipertensa (uso de propranolol) Cardiopatia cianótica materna Fatores fetais Trissomias do 13,18 e 21 hipotireoidismo Tireotoxicose congênita hiperplasia adrenal congênita síndrome de Beckwith – Wiedemann alta altitude nenhuma anormalidade específica Tabela 33.6 – PRinCiPAis sinToMAs nA PoliCiTeMiA Órgãos afetados Manifestações clínicas snc hipotonia, letargia, irritabilidade, tremores, apneia, raramente convulsões cardiopul- monar Taquicardia, cianose, taquipneia, pletora, cardiomegalia, insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão pulmonar Gastrintestinal Vômitos, intolerância alimentar, distensão abdominal, enterocolite necrozante Geniturinário oligúria, hipertensão transitória, insufici- ência renal aguda, trombose de veia renal, cálculo biliar Hematológico Trobocitopenia, raramente trombose metabólico hipoglicemia (sintoma mais comum presente em 12 a 40% dos casos), hipocalcemia, icterícia miscelânea Priapismo, infarto testicular Tabela 33.4 – PACienTes que DeVeM seR RAsTReADos Recém-nascido pequeno para a idade gestacional Recém-nascido filho de mãe diabética Recém-nascido grande para idade gestacional o maior gemelar monocoriônico discordante Recém-nascido com restrição de crescimento _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 167 16/08/2016 11:13:13 168 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a| c a p í t u l o 3 Exsanguineotransfusão parcial: Volume a ser trocado = ht observado – ht desejado ´ volemia ht observado Volemia = 80 ml/kg e ht desejado = 55% A exsanguineotransfusão parcial deve ser reali- zada troca a troca com albumina, plasma fresco congelado ou soro fisiológico. Damos prefe- rência a utilização de solução salina, quando volume de troca for baixo. A via de acesso de- penderá da gravidade do quadro, podendo ser via cateter umbilical ou periférica, realizada em alíquotas seriadas de 10 a 15 mL/kg. Alguns controles deverão ser realizados: Hb, Ht, USG transfontanela, plaquetas, glicemia, cálcio e BTF. síndromes HemorrágicAs do rn São caracterizadas por uma deficiência dos mecanismos de coagulação podendo levar a sangramentos que podem se manifestar como: sangramentos difusos, hematomas, equimoses (sugerem deficiência dos fato- res de coagulação), petéquias (sugestivo de distúrbios plaquetários e/ou vasculares), sangramento digestivo, sangramentos em pontos de punção, além de icterícia e hepa- toesplenomegalia. Os mecanismos de coagulação podem ser di- vididos em três etapas: fase vascular plaque- tária, fase de coagulação (Figura 33.1) e fase de fibrinólise. roteiro diAgnóstico • Diagnóstico clínico: • História familiar: pode sugerir presença de hemofilia. • História materna: sangramentos pré- vios (contagem plaquetária), infecções congênitas (sorologias da mãe), uso de medicamentos (Quadro 33.1). hematócrito capilar > 65% Confirmação com ht venoso soroterapia com oh inicial de 100 ml/kg e Vig entre 6-8 Repetir ht em 4 a 6 horas indicar exsanguineotransfusão parcial se houver piora dos sintomas no período Aumentar oferta hídrica Vo Repetir ht entre 12 e 24h observar aceitação alimentar Controle rigoroso de dextro Aumentar oferta hídrica Vo ou eV Repetir ht em 6 horas observar aceitação alimentar Controle rigoroso de dextro soroterapia com oh inicial de 100 ml/kg e Vig entre 6-8 Repetir ht em 4 a 6 horas indicar exsanguineotransfusão parcial se houver piora dos sintomas no período sintomáticos Assintomáticos ht 65-70% ht 70-75% ht >75% excluir desidratação Checar perda de peso trAtAmento _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 168 16/08/2016 11:13:14 169 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 FiGuRa 33.1 – FASES DA COAGULAÇÃO. QuadRO 33.1 – RelAção soBRe uso De MeDiCAMenTos PelA Mãe e sAngRAMenTo no neonATo medicamento efeitos confi abilidade mecanismo Aspirina sangramento Kernicterus Conhecido Possível interfere na função plaquetária separa a bilirrubina da albumina Cumarina sangramento Conhecido Fatores de coagulação K dependentes (bloqueio da carboxilação) Diazóxido sangramento Duvidoso Trombocitopenia Dilatin sangramento suspeito Fatores de coagulação K dependentes (estimula enzimas hepáticas e o fator de degradação) Fenobarbital Duvidoso Trombocitopenia ácido nalidíxico Aumento de bilirrubinas Possível Alteração da hb por oxidação nitrofurantoína Aumento de bilirrubinas Possível Alteração da hb por oxidação Rifampicina izoniazida sangramento suspeito Diminuição dos fatores K dependentes sulfonamidas Kernicterus Conhecido separa a bilirrubina da albumina Tiazídicos sangramento suspeito Trombocitopenia Fonte: Manual de neonatologia – sBP, 2ª ed, 2000. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 169 16/08/2016 11:13:14 170 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 • História do RN: idade, sexo, anteceden- tes de parto traumático, asfixia, septice- mia, uso ou não de vitamina K. • Diagnóstico laboratorial: • Avaliar o tempo de protrombina (TP - via extrínseca), tempo de trombo- plastina parcial ativada (TTPA - via intrínseca) e contagem plaquetária (hemograma completo), comparando os resultados com a tabela de valores normais para a idade (Tabelas 33.7 a 33.10). Tabela 33.7 – VAloRes De ReFeRênCiA PARA TesTes De CoAgulAção no FeTo e RnT idade gesta- cional TT (segun- dos) Tppa (segun- dos) Tp (segun- dos) inR 19 a 23 sem 34,2 (24-44) 168,8 (83-250) 32,5 (19-45) 6,4 (1,7-11,1) 24 a 29 sem 26,2 (24-28) 154 (87-210) 32,2 (19-44) 6,2 (2,1-10,6) 30 a 38 sem 21,4 (17-23,3) 104,8 (176-128) 22,6 (16-30) 3,0 (1,5-5) neonato 20,4 (15,2-25) 44,3 (35-52) 16,7 (12-23,5) 1,7 (0,9-2,7) Fonte: Adaptado de Reverdiau-Moliac P, et al. Blood. 88:900, 1996. Tabela 33.8 – VAloRes De ReFeRênCiA Dos TesTes De CoAgulAção idade ges- tacional < 28 semanas 28-34 semanas 30-36 semanas TP (s) percentil 95% > 21 > 21 > 16 TTPA (s) percentil 95% > 64 > 57 > 55 Fibrinogênio (g/dl) percentil 5-95% 0,71 - 5,35 0,87 – 4,70 2,25 – 3,41 Valores de referências retirados de Christensen, et al (2014) e de Andrew, et al. (1988). Tabela 33.9 – VAloRes De ReFeRênCiA no 1o DiA De ViDA De PT exTReMos idade gestacional 23-26 semanas TP (s) 21,5 (14,4 – 36,7) TTPA (s) 75,2 (40,5 – 158,5) Fibrinogênio (g/l) 1,86 (0,7 – 4,8) Fonte: neary e, et al. neonatology 104:222-227, 2013. Na suspeita de deficiência de fatores de coa- gulação fazemos suas dosagens séricas, ana- lisando os resultados conforme a idade do paciente (Tabela 33.10). Quando existe uma hipótese de CIVD deve-se dosar o fibrinogê- nio e o PDF. Tabela 33.10 – VAloRes noRMAis De heMosTAsiA e CoA- gulAção no PeRíoDo neonATAl Fatores RnpT (27 a 31 sem) RnpT (32 a 36 sem) RnT i Fibrinogênio (mg/100 dl) 270 ± 140 226 ± 70 246 ± 55 ii Protrombina (%) 30 ± 10 35 ± 12 45 ± 15 V Proacelerina (%) 72 ± 25 91 ± 23 98 ± 40 Vii Proconvertina (%) + x sturt - Power 32 ± 15 39 ± 14 56 ± 16 Viii AhF (%) 70 ± 30 98 ± 40 105 ± 35 ix PTC (%) 27 ± 10 — 28 ± 8 xi PTA (%) — — 30 xii hageman (%) — 30 51 xiii Fibrinase (%) 100 100 100 PDF (mcg/ml) 0 - 10 0 - 7 0 - 7 Fonte: hathway, 1975. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 170 16/08/2016 11:13:14 171 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 A interpretação dos achados laboratoriais deve ser feita concomitantemente ao quadro clínico (Quadros 33.2 e 33.3). QuadRO 33.2 – Rns sAuDáVeis plaquetas Tp TTpa diagnósticos prováveis normais normal normal Trauma hemangioma Disfunção plaque- tária (raro) normais Aumentado Aumentado Deficiência de vitamina K normais normal Aumentado Deficiência hereditária de fatores (Viii, ix, xi, xii, doença de von Willebrand) normais Aumentado normal Deficiência here- ditária de fatores (ii e Vii) Diminuídas normal normal Plaquetopenia imune Trombose Plaquetas TP TTPA Diagnósticos prováveis normais normal normal Prematuridade extrema Acidose e hipóxia graves hiperosmola- ridade normais Aumentado Aumentado Doença hepática grave Diminuídas normal normal Consumo de plaquetas: - infecção - enterite necrosante Diminuídas Aumentado Aumentado CiVD etiologiAs Doença hemorrágica do RN Deficiência dos fatores de coagulação depen- dentes da vitamina K (II, VII, IX, X), além das proteínas C e S. O sangramento geralmente inicia-se entre 24 e 48 horas após o nascimen- to, porém pode ser mais tardio (Quadro 33.3). QuadRO 33.3 – DoençA heMoRRágiCA Do Rn idade locais de sangra- mento causas prováveis 0 - 24 hs Cutâneo, umbilical, intracraniano, intra- -abdominal Drogas administradas à mãe: anticonvulsivantes (barbitúricos e difenil- -hidantoína), drogas antituberculose velocidade de degrada- ção da vitamina K 1 - 7 dias gastrointestinal, cutâ- neo, nasal, circuncisão, punção, hiC e adrenal (0,7%) idiopática (Rn alimentado ao seio sem suplementação de vitamina K) Quando o sangramento for intestinal devemos fazer o teste de Apt e Downey, que consiste na centrifugação de uma parte de fezes ou conte- údo gástrico com cinco partes de água, retira- -se o sobrenadante e acrescenta-se 1 mL de hidróxido de sódio a 1% . Se a solução se tor- nar marrom amarelada osangue é de origem materna e se for rosa é do RN. • Fatores predisponentes: asfixia, acidose meta- bólica, antibioticoterapia e NPP prolongada. • Investigação laboratorial: TP e TTPA au- mentados, plaquetas normais e diminuição dos fatores K dependentes. • Terapêutica: administração de vitamina K 1 mg IM/EV, podendo-se chegar até 3 mg. Repetir o TP e TTPA 4 a 6 horas após. Nos RNPT a resposta à vitamina K IM não é tão boa e nestes casos é indicado plasma fresco 15 mL/kg, assim como nos casos de sangra- mento intenso. • Profilaxia: administração de 0,5 (RN < 1 kg) a 1 mg de vitamina K IM em todos os RNs ao nascimento. A profilaxia pode ser feita VO na dose de 2 mg, sendo repetido após 1 mês de vida. A profilaxia VO é contraindicada _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 171 16/08/2016 11:13:14 172 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 em prematuros, RN doentes, sob uso de an- tibióticos, com colestase ou diarreia. • Deficiência congênita dos fatores de coagula- ção: ocorrência é rara e deve ser lembrada quando existe história familiar de sangra- mento e RN do sexo masculino. Representa- do principalmente pela deficiência do fator VIII (hemofilia A) e mais raramente a defi- ciência do fator IX (doença de Christmas). • Achados laboratoriais: TTPA aumentado, confirmação se faz através da dosagem des- ses fatores. • Tratamento: manter os fatores no mínimo em 30% e para isso utilizamos plasma fres- co (Doença de Chrstmas) e crioprecipitado ou globulina antihemofílica na hemofilia. CIVD Síndrome causada pelo desencadeamento da cascata de coagulação de forma descontrolada. • Quadro clínico: sangramento secundário a depleção plaquetária e consumo dos fatores de coagulação, com formação de micro- trombos no interior da corrente sanguínea (pequenos vasos e capilares), tromboses, disfunções orgânicas e anemia hemolítica microangiopática. • Exames laboratoriais: plaquetopenia, au- mento do TP (por diminuição dos fatores K dependentes), aumento do TTPA e TT, diminuição do fibrinogênio, diminuição dos fatores V e VIII, aumento importante do PDF e D-dímero, hemáceas crenadas. • Tratamento: visa reduzir ou interromper o sangramento importante: • Tratar o fator desencadeante; • Plaquetas < 20.000/mm3: 1 a 2 U a cada 24 a 36 hs (10 mL/kg); • Plama fresco congelado: 15 mL/kg a cada 12 a 24 hs; • Crioprecipitado: 10 mL/kg, principal- mente nas fases iniciais da CIVD; • Papa de hemácias ou sangue total: quan- do queda acentuada da hemoglobina; • Heparina: só na trombose de grandes vasos (dose: 10 U/kg/hora EV contínua); • Exsanguineotransfusão: se hemorragia persistente, para remoção de toxinas, dos fatores de coagulação ativos e dos produ- tos de degradação da fibrina. Trocam-se 2 volemias (160 mL/kg) com sangue total. Alterações plaquetárias/trombocitopenia Consideramos plaquetopenia quando menor que 100.000/mm³, porém a função plaquetária do neonato é deficiente em relação à do adul- to. A trombocitopenia pode ocorrer por uma diminuição da sua produção ou aumento da sua degradação. Podemos classificar as trombocitopenias de acordo com o tempo de aparecimento (Qua- dro 33.4). QuadRO 33.4 – ClAssiFiCAção DA TRoMBoCiToPeniA Fe- TAl e neonATAl período causas Fetal Aloimune, infecções congênitas Alterações cromossômicas Doença hemolítica Rh severa Congênita/hereditária (síndrome de Wiskott-Aldrich) neonatal de início precoce (até 72 horas de vida) insuficiência placentária, asfixia perinatal infecção perinatal, CiVD Aloimune/autoimune, infecções congênitas Trombose, doença metabólica substituição da medula óssea (leucose congênita) síndrome de Kasabach-Merrit Congênita/hereditária (sd. da agenesia do rádio) início tardio (> 72 horas de vida) sepse tardia, doença metabólica enterocolite necrosante infecção congênita, autoimune síndrome de Kasabach-Merrit Congênita/hereditária (sd. da agenesia do rádio) trombocitopeniA Aloimune Existe uma incompatibilidade plaquetária en- tre a mãe e o feto, semelhante a que ocorre na _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 172 16/08/2016 11:13:15 173 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 isoimunização Rh. O feto possui um antígeno plaquetário que é ausente na mãe. Durante a gestação as plaquetas fetais atravessam a pla- centa e quando atingem a circulação materna induzem a produção de anticorpos (PLA 1) e a sua fração IgG passa pela placenta, chegando na circulação fetal gerando a destruição pla- quetária. A sua incidência varia de 1: 5.000 a 1: 10.000. Geralmente encontramos RN saudáveis que apresentam equimoses ou petéquias, hema- túria, sangramento umbilical ou digestivo e a única alteração é a diminuição plaquetária (<30.000). Existe uma incidência aumentada de HIC, principalmente se o parto for trau- mático. A confirmação diagnóstica se faz pela pesquisa de Ac antiplaquetas, a mãe apresenta plaquetas normais. O quadro pode durar até 6 meses. O tratamento é feito com a transfusão de pla- quetas quando < 30.000. As plaquetas preci- sam ser compatíveis (PLA1 negativas). Na ausência de plaquetas PLA1 negativas consi- derar a exsanguineotransfusão com sangue compatível com o do RN ou usamos gamaglo- bulina 500 mg/kg/dia EV por 2 dias. Os casos suspeitos devem ser transfundidos com pla- quetas abaixo de 100.000. Os casos conhecidos com sangramentos menores, transfundir com plaquetas abaixo de 50.000 e com sangramen- tos maiores abaixo de 100.000. trombocitopeniA Autoimune A mãe já possui antígenos plaquetários (PTI) que atravessam a placenta atingindo as pla- quetas fetais. O quadro clínico dependerá do número de plaquetas e de anticorpos maternos. O RN é sadio com manifestações de sangra- mento. O esfregaço de sangue periférico mos- tra plaquetas < 100.000/mm³ e no mielograma aumento de megacariócitos plaquetogênicos. O tratamento é realizado com transfusão plaquetária, se < 30.000 com sangramento ou impossibilidade de imunoglobulina. Em casos de trombocitopenia severa a infusão de imunoglobulina 1g/kg em 2 dias geralmente é efetiva. Quando plaquetas muito baixas ao nascimento indica-se prednisona 2 mg/kg/dia com redução gradual da dose. A prevenção pode ser realizada com a admi- nistração de prednisona 10 a 20 mg/dia à mãe nas duas semanas finais de gestação, quando plaquetas menores que 100.000/mm³ e indica- -se parto cesárea. trombose A trombose é rara nos recém-nascidos, mas quando presente ocasiona complicações gra- ves com piora da morbidade destes pacientes. São considerados fatores de risco: • Cateteres vasculares centrais (venosos e arte- riais): ocorre em aproximadamente 10% dos pacientes, sendo a maioria assintomáticos; • Policitemia; • Sepse neonatal; • Cirurgias de grande porte; • Doenças formadoras de trombos (ex. De- ficiências das proteínas C e S; mutação do fator V de Leiden). O quadro clínico varia de acordo com o local do trombo e o diagnóstico deverá ser confir- mado com exame de imagem (ultrassom com Doppler, ecocardiograma, angiografia). Nos casos de trombo, solicitar exames labora- toriais: • Antitrombina, proteína S e C. Se alterada, repeti-las em 6-8 semanas; • Testar mutação do fator V de Leiden; • TP (INR), TTPa, contagem de plaquetas, fibrinogênio, antes do início da terapêutica; • USG de crânio, antes da terapêutica. O tratamento para paciente assintomático é feito com medidas de suporte e monitoramen- to do tamanho do trombo, além da retirada do cateter central, quando presente. Se houver aumento do trombo é sugerido o tratamento. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 173 16/08/2016 11:13:15 174 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 Em RN sintomático está indicada a terapia an- ticoagulante. O cateter, se possível, deverá ser retirado após 5 dias de iniciado o tratamento. • Heparina:inibidor indireto da trombina. Necessário cateter para infusão continua e não se deve fazer flush: • Dose ataque: 75-100 UI/kg; • Dose inicial de manutenção: 28 UI/kg/h; • Controlar TTPa (entre 1,5 e 2 vezes o limite superior normal) e fator anti-X ativado (entre 0,35 a 0,7 U/mL); • Tempo de terapia dependente da redu- ção do trombo (USG). • Heparina de baixo peso molecular (Enoxa- parina): pode ser feita EV ou SC: • Dose inicial: RNT – 1,7 mg/kg/dose SC 2 vezes ao dia. RNPT – 2,0 mg/kg/dose SC 2 vezes ao dia; • Controle do ajuste da dose com dosagem do fator anti-X ativado (colher entre 4 a 6 horas após a dose), manter entre 0,5 a 1 U/mL; • Dose profilática: 0,75 mg/kg/dose 2 ve- zes ao dia; manter o fator anti-X ativado entre 0,1 a 0,3 U/mL. neutropeniA cAusAs Aumento na destruição ou na utilização dos neutrófilos • Imune: • Neutropenia aloimune/isoimune; • Neutropenia autoimune da mãe. • Não imune: • Pré-eclâmpsia materna; • Infecção: bacteriana, viral; • Hemorragia peri intraventricular; • Asfixia; • Distúrbios metabólicos. Produção reduzida dos neutrófilos • Rn de mãe hipertensa; • Doadores de transfusão feto-fetal; • Fatores nutricionais; • Doença de Kostmann (agranulocitose con- gênita grave); • Aplasia de leucócitos; • Síndrome de Barth; • Disgenesia reticular; • Síndrome de hiperimunoglobulina M; • Síndrome de Shwachman-Diamond; • Diceratose congênita. Causas mistas • Drogas; • Infecção TORCH. Marginação excessiva de neutrófilos • Psuedoneutropenia; • Marginação induzida por endotoxina. AvAliAção dA neutropeniA • Índice I/T normal ou baixa: sugere dimi- nuição da produção de neutrófilos; • Índice I/T alto: sugere aumento da produ- ção de neutrófilos devido a sua destruição periférica. trAtAmento • Granulócitos recombinates e fatores esti- muladores de colônias de granulócitos e macrófagos; • Dose: 10 microgramas/kg/dia, via subcutânea; • Imunoglobulina; • Transfusão de granulócitos. indicAções de HemoderivAdos Concentrado de glóbulos vermelhos • Indicado nas anemias (ver anemia neonatal): • Volume: 10 a 20 mL/kg/ • Nos casos graves: Vol. de concentrado = Volemia ´ (htdesejado – ht encontrado) ht desejado Volemia = 80 ml/kg e ht desejado = 55% _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 174 16/08/2016 11:13:15 175 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 Concentrado de hemácias lavadas Diminui os antígenos plaquetários, plasmáti- cos, leucocitários e do sistema HLA. Remoção do anticoagulante AS e/ou potássio, em pa- cientes de risco para a hipercalemia. É indicado nas anemias por incompatibilida- des sanguíneas. Volume: 15 mL/kg. Hemoderivados irradiados Fetos submetidos a transfusão intrauterina, RNs que receberam transfusão intraútero e prematuros com peso de nascimento < 1.200 g. Qualquer paciente com: • Imunodeficiência celular comprovada ou suspeita; • Imunossupressão secundária a quimiotera- pia e radioterapia. Qualquer paciente recebendo componentes sanguíneos de parentes. Sangue total Indicado para reposição de volume no cho- que, anemia grave, processos infecciosos gra- ves e exsanguineotransfusão. Volume: 15 a 20 mL/kg Plaquetas Volume: 10 a 20 mL/kg Tabela 33.11 – inDiCAções De TRAnsFusão PlAqueTáRiA contagem plaquetária (x109/l) 1ª semana após 1ª semana < 20 RnT estável RnT estável < 50 * RnPT RnT instáveis sangramento pré- vio ou atual maior: (hiV), cirurgia, exT e coagulopatia RnT instável < 100 sangramento ativo sangramento ativo *Alguns centros definem como abaixo de 30.000. Plasma fresco congelado Contém todos os fatores de coagulação, fibro- nectina, gamaglobulina, albumina e outras proteínas plasmáticas. 1 mL de PFC tem 1 U de fator IX à 1mL/kg aumenta em 1% fator IX ativado Volume: 15 mL/kg. Podemos calcular o volume de PFC para defi- ciência de fator IX pela seguinte fórmula: Vol PFC = (fator IXa desejado – fator IXa ini- cial) ´ kg Indicações: • Suporte no manejo da CIVD; • Sangramento secundário às deficiências de fatores K dependentes; • Quando um fator específico não está viável, incluindo, mas não limitado a, antitrombi- na, deficiência de proteína C ou S; Não é indicado para expansão de volume ou para melhorar o estado geral do paciente. Crioprecipitado Maior quantidade de fator VIII, XIII e fibrino- gênio, fator de Von Willebrand e fibronectina. 1 U de crioprecipitado = 100 U de fator VIII e 200 mg de fibrinogênio Volume: 10 mL/kg • Indicações: • Hipoibrinogenemia ou disfibrinogene- mia em sangramento ativo; • Hipoibrinogenemia ou disfibrinogene- mia em pacientes submetidos a procedi- mentos invasivos; • Deficiência de fator XIII com sangramen- to ativo ou submetido a procedimento in- vasivo, na ausência do próprio fator; • Deficiência grave do fator VIII. Albumina Dose: Albumina humana 20% 1 g/kg/dia EV • Hipotensão aguda em pacientes nas seguin- tes condições: _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 175 16/08/2016 11:13:15 176 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 • Falência hepática aguda ou crônica; • Após paracentese nas ascites; • RN com sepse e/ou SDR. • Para manutenção volume sanguíneo em al- gumas situações: • Tratamento da policitemia através de flebotomias; • Procedimentos de troca plasmática. • Para induzir a diurese em combinação com diuréticos em pacientes em anasarca: • Enteropatia ou nefropatia perdedora de proteína; • Falência hepática aguda; • Comprometimento cardiovascular secun- dário a hipovolemia associada a: • Cirurgia com circulação extracorpórea; • Choque/pré-choque; • Taquicardia significante. Imunoglobulina Dose: 500 mg a 1 g/kg/dia EV • Status de deficiência imune humoral: • Primária, exceto pacientes com deficiên- cia seletiva de IgA; • Secundária, incluindo HIV e transplan- tados. • Desordens hematológicas: PTI, Síndrome de Evans, doença hemolítica autoimune; • Trombocitopenia aloimune neonatal; • Trombocitopenia secundária à doença autoimune materna (PTI, LES). referênciAs bibliográficAs 1. Bizzarro MJ, Colson E, Ehrenkranz RA. Di- fferential diagnosis and management of ane- mia in the newborn.Pediatr Clin North Am. 2004;51(4):1087-107, xi. 2. Chan, Anthony KC. Management of Thrombo- sis in the newborn. UpToDate.2015. Disponível em: <http:\\www.uptodate.com/online>. Aces- so em: 11/11/2015. 3. Christensen RD, Carrol PD, Josephson CD. Evidence-based advances in transfusion practi- ce in neonatal intensive care units. Neonatology, 106(3):245-53, 2014. 4. Dempsey, EM.; Barrington, K. Short and long term outcomes following partial exchange transfusion in the polycythaemic newborn: a systematic review – Arch Dis Child Fetal Neo- natal, 91: 2-6, 2006. 5. Fanaroff, AA; Martin, RJ. Neonatal – Perinatal Medicine. Deseases of fetus and infants. 5 ed. Sl. Louiu, Mosby – yearbook, 1992. 6. Garcia-Prats, J.A.; et al. Neonatal polycythemia – www.uptodate.com, Sep, 2015. 7. Jain, R.; Jose, B.; Coshic, P.; Agarwal, R.; Deo- rari, A. K. Blood and blood component thera- py in neonates – All India Institute of Medical Sciences, New Delhi – NICU protocols, 2008. Disponível em: www.newbornwhocc.org 8. Murray, N.A.; Roberts, I.A.G. Neonatal transfu- sion practice - Arch Dis Child Fetal Neonatal, 89: 101-7, 2004. 9. Ohls, Robin. Red blood cell transfusion in the newborn.UpToDate.2015. Disponível em: <http:\\www.uptodate.com/online>. Acesso em: 11/11/2015. 10. Pal, S.; Curley, A.; Stanworth, S.J. 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Prematureinfants require additional folate and vitamin B-12 to reduce the severity of anemia of prematurity - Am J Clin Nutr, 60: 930-5, 1994. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 176 16/08/2016 11:13:15 O Recém-nascidO e cOndições especiais Parte 7 – Miscelânea seção 2 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 177 16/08/2016 11:13:15 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 178 16/08/2016 11:13:15 179 A icterícia neonatal acomete cerca de 60% - 80% dos recém-nascidos, porém, somente alguns atingirão níveis elevados de bilirrubina indireta e necessitarão de fototerapia. O tema será desenvolvido considerando-se a icterícia decorrente do aumento de bilirrubina indireta. ClassiFiCaÇão • Icterícia precoce: aparecimento antes de 24 horas de vida. Considerar patológica e co- lher: BTF, TS e CD, Hb e Hto, reticulócitos, dosagem de glicose-6-fosfato desidrogena- se (G6PD) para investigação. • Icterícia fi siológica: aparecimento após 24 horas de vida com predomínio de bilirru- bina indireta. No RNT o pico ocorre entre 3 e 5 dias de vida e geralmente o declínio em torno de 7 dias. No RNPT, o pico ocorre entre 5-7 dias e o declínio geralmente em torno de 10 dias, podendo se prolongar até o 28º dia principalmente nos que recebem aleitamento materno exclusivo. icterícia neonatal clery bernardi gallacci Francisco paulo martins rodrigues sabrina boni braga de carvalho 34 FiGURa 34.1 – GRÁFICO BILIRRUBINA TRANSCUTÂNEA ´ DIAS DE VIDA DE RNs EM ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO Fonte: maisels et al; pediatrics 2014. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 179 16/08/2016 11:13:16 180 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 4 exame FÍsiCo Zoneamento dérmico de icterícia segundo Kramer. Tabela 34.1 – correlação de Níveis de bilirrubiNa sÉri- ca de acordo com as ZoNas de Kramer Zonas de Kramer níveis de bT (mg/dl) i – cabeça i e pescoço 5,9 a 7 ii – tronco até umbigo 8,9 a 12,2 iii – hipogástrio até coxas 11,8 a 16,5 iv – joelhos, cotovelos até punhos e tornozelos 15 a 18,3 v – mãos e pés >15 A triagem da icterícia neonatal deve ser realizada em todo RN ictérico zona II/III através da dosagem de bilirrubina sérica ou transcutânea devido a visualização clínica ser errática. O método da dosagem transcutânea de bilir- rubina apresenta elevado coefi ciente de corre- lação com a bilirrubina total sérica até 13 – 15 mg/dL em RN pré-termos tardios e de termo e sua avaliação é realizada de preferência no es- terno. Ressalta-se que valores da BTc ≥ 13 mg/ dL devem ser confi rmados pela mensuração sérica de bilirrubinas. QUadRO 34.1 – Fatores de risco para o deseNvolvimeN- to de icterícia aceNtuada início com menos de 24 horas de vida doença hemolítica por rh, abo ou antígenos irregulares prematuridade (independente do peso) baixa ingesta histórico familiar descendência asiática presença de coleções sanguíneas (céfalo-hematoma ou equimoses) defi ciência de g6pd/crigler-Najjar/gilbert/ hipotireoidismo asfi xia hipoalbuminemia sepse acidose tratamento A terapia indicada para controlar a hiper- bilirrubinemia indireta é a fototerapia, cujo mecanismo de ação compreende a fotoiso- merização confi guracional e a estrutural da molécula de bilirrubina com formação de fo- toisômeros excretados por via biliar e urinária sem a necessidade de conjugação hepática. indiCaÇão de Fototerapia • Para os RN maiores que 35 semanas e sem fatores de risco para desenvolvimento de hiperbilirrubinemia acentuada, recomen- damos fototerapia se os níveis de BT esti- verem no percentil > 95. Para aqueles com fatores de risco, indicamos fototerapia se BT > percentil 75. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 180 16/08/2016 11:13:16 181 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 4 Tabela 34.2 – Normograma preditivo de Níveis de bilirrubiNa total em perceNtis de acordo com tempo de vida para rN > 35 sem ida de (h) 40th %tile (mg/dl) 75th %tile (mg/dl) 95th %tile (mg/dl) ida de (h) 40th %tile (mg/dl) 75th %tile (mg/dl) 95th %tile (mg/dl) ida de (h) 40th %tile (mg/dl) 75th %tile (mg/dl) 95th %tile (mg/dl) 18 4.5 5.6 6.9 69 10.8 13.2 15.7 120 13.2 15.8 17.6 19 4.6 5.7 7.2 70 10.9 13.3 15.8 121 13.2 15.8 17.6 20 4.7 5.8 7.4 71 11.1 13.3 15.9 122 13.2 15.8 17.6 21 4.8 6.0 7.5 72 11.2 13.4 15.9 123 13.2 15.7 17.6 22 4.9 6.1 7.6 73 11.2 13.5 16.0 124 13.2 15.7 17.5 23 4.9 6.3 7.7 74 11.3 13.6 16.1 125 13.2 15.7 17.5 24 5.0 6.4 7.8 75 11.3 13.7 16.1 126 13.2 15.7 17.5 25 5.2 6.6 8.1 76 11.3 13.8 16.2 127 13.2 15.7 17.5 26 5.3 6.7 8.4 77 11.4 13.9 16.3 128 13.2 15.6 17.5 27 5.5 6.9 8.6 78 11.4 14.0 16.3 129 13.2 15.6 17.5 28 5.6 7.0 8.9 79 11.4 14.1 16.4 130 13.2 15.6 17.5 29 5.8 7.2 9.2 80 11.5 14.2 16.5 131 13.2 15.6 17.4 30 6.0 7.5 9.4 81 11.5 14.3 16.5 132 13.2 15.6 17.4 31 6.1 7.7 9.7 82 11.5 14.4 16.6 133 13.2 15.5 17.4 32 6.3 8.0 10.0 83 11.6 14.5 16.6 134 13.2 15.5 17.4 33 6.5 8.2 10.3 84 11.6 14.6 16.7 135 13.2 15.5 17.4 34 6.7 8.5 10.5 85 11.7 14.7 16.8 136 13.2 15.5 17.4 35 6.9 8.7 10.8 86 11.7 14.7 16.8 137 13.2 15.5 17.4 36 7.0 8.9 11.1 87 11.8 14.8 16.9 138 13.2 15.4 17.4 37 7.2 9.2 11.4 88 11.9 14.8 16.9 139 13.2 15.4 17.3 38 7.4 9.4 11.6 89 11.9 14.9 17.0 140 13.2 15.4 17.3 39 7.6 9.7 11.9 90 12.0 14.9 17.1 141 13.2 15.4 17.3 40 7.8 9.9 12.2 91 12.1 15.0 17.1 142 13.2 15.3 17.3 41 7.9 10.0 12.3 92 12.1 15.0 17.2 143 13.2 15.3 17.3 42 7.9 10.1 12.3 93 12.2 15.1 17.2 144 13.2 15.3 17.3 43 8.0 10.1 12.4 94 12.3 15.1 17.3 145 13.2 15.3 17.3 44 8.1 10.2 12.5 95 12.3 15.2 17.3 146 13.2 15.3 17.3 45 8.2 10.4 12.7 96 12.4 15.2 17.4 147 13.2 15.3 17.4 continua... _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 181 16/08/2016 11:13:16 182 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 4 Tabela 34.2 – Normograma preditivo de Níveis de bilirrubiNa total em perceNtis de acordo com tempo de vida para rN > 35 sem – coNtiNuação ida de (h) 40th %tile (mg/dl) 75th %tile (mg/dl) 95th %tile (mg/dl) ida de (h) 40th %tile (mg/dl) 75th %tile (mg/dl) 95th %tile (mg/dl) ida de (h) 40th %tile (mg/dl) 75th %tile (mg/dl) 95th %tile (mg/dl) 46 8.4 10.5 12.8 97 12.4 15.2 17.4 148 13.2 15.3 17.4 47 8.5 10.7 13.0 98 12.5 15.3 17.4 149 13.3 15.3 17.5 48 8.6 10.8 13.2 99 12.5 15.3 17.4 150 13.3 15.3 17.5 49 8.7 11.0 13.3 100 12.5 15.3 17.4 151 13.3 15.3 17.5 50 8.8 11.1 13.5 101 12.6 15.3 17.4 152 13.3 15.3 17.6 51 8.9 11.3 13.7 102 12.6 15.4 17.5 153 13.3 15.3 17.6 52 8.9 11.4 13.8 103 12.7 15.4 17.5 154 13.3 15.3 17.6 53 9.0 11.6 14.0 104 12.7 15.4 17.5 155 13.3 15.4 17.7 54 9.1 11.7 14.2 105 12.7 15.4 17.5 156 13.3 15.4 17.7 55 9.2 11.9 14.3 106 12.8 15.5 17.5 157 13.3 15.4 17.7 56 9.3 12.0 14.5 107 12.8 15.5 17.5 158 13.3 15.4 17.8 57 9.4 12.2 14.7 108 12.8 15.5 17.5 159 13.4 15.4 17.8 58 9.4 12.3 14.8 109 12.9 15.5 17.5 160 13.4 15.4 17.9 59 9.5 12.5 15.0 110 12.9 15.6 17.5 161 13.4 15.4 17.9 60 9.6 12.6 15.2 111 12.9 15.6 17.5 162 13.4 15.4 17.9 61 9.7 12.7 15.2 112 13.0 15.6 17.5 163 13.4 15.4 18.0 62 9.9 12.7 15.3 113 13.0 15.6 17.5 164 13.4 15.4 18.0 63 10.0 12.8 15.4 114 13.0 15.7 17.6 165 13.4 15.4 18.0 64 10.1 12.9 15.4 115 13.1 15.7 17.6 166 13.4 15.4 18.1 65 10.3 12.9 15.5 116 13.1 15.7 17.6 167 13.4 15.4 18.1 66 10.4 13.0 15.5 117 13.1 15.7 17.6 168 13.4 15.4 18.2 67 10.5 13.1 15.6 118 13.2 15.8 17.6 68 10.7 13.1 15.7 119 13.2 15.8 17.6 Fonte: bhutani, v.K.; Johnson, l.; Journal of perinatology, 2001. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 182 16/08/2016 11:13:17 183 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 4 Tabela 34.3 – probabilidade de deseNvolvimeNto de hiperbilirrubiNemia severa de acordo com o perceNtil de bilirrubiNa ´ horas de vida percentis probabilidade de hiperbilirrubinemia severa > 95 2/5 76-95 1/840-75 1/46 < 40 0 Fonte: bhutani, v.K.; Johnson, l.; Journal of perinatology, 2001. Tabela 34.4 – Níveis de Fototerapia e exsaNguiNeo- traNsFusão para rNs < 35 s de idade gestacioNal iG corrigida inicio fototerapia exsanguineo- transfusão <28 s 5-6 11-14 28-29 6/7 6-8 12-14 30-31 6/7 8-10 13-16 32-33 6/7 10-12 15-18 34-34 6/7 12-14 17-19 Fonte: de maisels mJ, Watchko JF, buthani vK et al: Na approach to the management of hyperbilirrubinemia in the preterm infant less than 35 weeks of gestation. J perinatol 2012. Fototerapia A eficácia da fototerapia depende principal- mente dos seguintes fatores: • Comprimento de onda da luz; • Irradiância; • Superfície corpórea exposta à luz. Considera-se irradiância acima de 8-10 mW/ cm2/nm para tratamento e acima de 30 mW/ cm2/nm como de alta irradiância. Quanto maior a superfície corpórea exposta à luz, maior é a eficácia da fototerapia. A irradiância da fototerapia deve ser prescri- ta e determinada antes do uso e diariamente com radiômetro. Quando o RN encontra-se em berço como fonte de luz considera-se um retângulo de 30 ´ 60 cm e mede-se a irradiân- cia nas 4 pontas e ao centro, sendo então cal- culada a média dos 5 pontos. Equipamentos e/ou lâmpadas que fornecem irradiância < 8 W/cm2/nm na média dos 5 pontos não devem ser utilizados. Como maximizar a Fototerapia • Utilizar lâmpadas azuis especiais ou quatro lâmpadas azuis e duas lâmpadas brancas; • Diminuir a distância entre RN e fototerapia (distância mínima de 20 cm); • Dispor de material refletor ao redor da in- cubadora/berço; • Fototerapia dupla para aumentar a radiância; • Medir irradiância com radiômetro duas vezes ao dia. os seguintes Cuidados devem ser seguidos durante o uso de Fototerapia • Verificar a temperatura corporal para de- tectar hipotermia ou hipertermia, e o peso diariamente; • Proteger os olhos. exsanguineotransFusão Além da fototerapia, a exsanguineotransfusão pode ser indicada para o tratamento da hiper- bilirrubinemia indireta grave. Visa remover de maneira rápida a bilirrubina indireta, assim como diminuir a intensidade da reação antíge- no-anticorpo nos casos de hemólise. Cuidados Com o proCedimento • Volume de sangue: 2 volemias/peso (1 vo- lemia = 80 mL); • As trocas de sangue devem ser realizadas em alíquotas de 10 mL; • Manter RN monitorizado; • Ao início do procedimento coletar: sódio, potássio, cálcio ionizável, hemoglobina, he- matócrito, bilirrubina total; ao término, no- vos exames deverão ser feitos com a última alíquota de sangue a ser retirada; _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 183 16/08/2016 11:13:17 184 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 4 Lembrar a possibilidade de hipocalcemia du- rante o procedimento, sendo às vezes necessá- ria sua correção. gamaglobulina intravenosa Recentemente a gamaglobulina intravenosa surgiu como uma modalidade terapêutica para recém-nascidos com doença hemolíti- ca autoimune (ABO e RH). Seu mecanismo de ação permanece incerto, mas estudos de- monstram que ela age através da inibição da hemólise pelo bloqueio dos receptores Fc dos macrófagos, reduzindo assim a hemólise dos glóbulos vermelhos revestidos por anticorpos. Alguns estudos têm demonstrado associação entre o uso da Gama globulina e a diminui- ção da necessidade de exsanguineotransfusões na doença hemolítica Rh e ABO, porém sua efi cácia ainda não foi garantida. Na prática, o seu uso é considerado baseado nos benefícios e riscos relativos dos dois procedimentos. A administração intravenosa de γ-globulina (0,5-1 g/kg) é recomendada se o nível sérico de bilirrubina total está em ascensão apesar da fototerapia intensiva ou próximo ao nível de exsanguineotransfusão (Figura 34.2). isoimunizaÇão rH (antÍgeno d) ou antÍgeno irregular Indicações precoces de exsanguineotransfusão: • RN hidrópico ou com anemia grave, após correção da anemia e estabilização clínica; • BT (sangue do cordão) > 4 mg/dL; • Hb (sangue do cordão) < 12 mg/dL; • Velocidade de hemólise > 0,5 mg/dL/h (ní- veis de bilirrubina) nas primeiras 24 horas de vida. KERNICTERUS Uma pequena porcentagem de paciente com níveis elevados de BI desenvolve a encefalopatia bilirrubínica, podendo evoluir até o Kernicterus, onde há lesão irreversível das células nervosas. Estudos sugerem que a disfunção no nível do tronco cerebral pode ocorrer com hiperbilir- rubinemia moderada e a disfunção do nervo auditivo está associada à hiperbilirrubinemia FiGURa 34.2 – NÍVEIS DE INDICAÇÃO DE EXSANGUINEOTRANSFUSÃO PARA RN > 35 SEMANAS E PESO > 2.000 G, SEGUNDO A IDADE PÓS-NATAL, DE ACORDO COM A ACADEMIA AMERICANA DE PEDIATRIA – PEDIATRICS 2004. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 184 16/08/2016 11:13:17 185 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 4 grave, sendo importante a realização de audio- metria de tronco cerebral (BERA) nos casos de hiperbilirrubinemia acentuada. Tabela 34.5 – Quadro clíNico de acordo com as Fases de deseNvolvimeNto de eNceFalopatia bilirrubíNica Fase inicial progressão (após 3 a 4 dias) sequelas • Hipotonia • Debilidade de sucção • Recusa alimentar • Convulsões • Hipertonia • Opistótono • Hipertermia • Choro com tonalidade aguda Nesta fase 70% pode evoluir para óbito devido à parada respiratória • Paralisia cerebral espástica • Movimentos atetoides • Distúrbios de deglutição e fonação • Surdez • Deficiência mental leve a moderada reFerênCias bibliográFiCas 1. American Academy Of Pediatrics Practice Gui- delines. Subcommittee On Hyperbilirubinemia. Management of hyperbilirubinemia in the new- born infant 35 weeks or more of gestation. Pe- diatrics 2004; 114(1):297-316. 2. Sociedade Brasileira De Pediatria. Departa- mento de neonatologia. Documento científico (elaborado em 11/11/2012). Icterícia no recém- -nascido com idade gestacional > 35 semanas. 3. Bhutani, V.K.; Johnson, L.; Sivieri, E.M. Pre- dictive Ability of a predischarge hour-specific serum bilirubin for subsequent significant hyperbilirubinemia in healthy term and near- -term newborns. Pediatrics. 1999; 103: 6-14. 4. Bhutani, V.K.; Johnson, L.; Jaundice Technolo- gies: Predction of Hyperbilirubinemia in ter and near- term New Borns. Journal of Perinatology 2001; n21;76-82. 5. Bhutani, V.K.; Johnson, L.H.; Shaprio, S.M. Ker- nicterus in sick and preterm infants (1999-2002): a need for an effective preventive approach. Se- min Perinatol 2004; 28(5):3129-5 [Review]. 6. Bhutani, V.K.; Johnson, L.H; Harmerman-John- son, L. Universal bilirubin screening for severe neonatal hyperbilirubinemia. Journal of Perina- tology,2010, n30, 6-15. 7. Bhutani, V.K.; Wong, R.J. Treatment of unconju- gated hyperbilirubinemia in term and late pre- term infants. Up to date february, 2016. 8. Louis D, et al. Intravenous immunoglobulin in isoimmune haemolytic disease of newborn: an updated systematic review and meta-analylis. 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O maior acréscimo fetal de cálcio e fósforo ocorre durante o último trimestre de gravi- dez, como consequência, a criança prematuraquando não suplementada com quantidades adequadas de cálcio, fósforo e vitamina D, pode desenvolver osteopenia e/ou raquitismo. Fatores de risco • Peso de nascimento menor do que 1.500 g; • Prematuridade extrema; • Utilização de nutrição parenteral por tem- po prolongado; • Uso de diuréticos; • Icterícia colestática; • Retardo no início da nutrição enteral; • Baixa oferta mineral da dieta; • Displasia broncopulmonar; • Imobilização; • Utilização de corticosteroides. ManiFestações clínicas Não existem manifestações características da DMO, mas podem surgir alterações sugestivas entre a 6a e 12a semana de vida, como: • Parada longitudinal do crescimento, com perímetro cefálico adequado; • Raquitismo grave (craniotabes, aumento das articulações costocondrais - rosário ra- quítico -, alargamento da epífise dos ossos longos, fraturas patológicas); • Desconforto respiratório tardio (falta de sustentação da caixa torácica). triageM e seguiMento A investigação laboratorial deverá ser iniciada na UTI neonatal. Marcadores séricos • Fosfatase alcalina: aumenta após 2-3 se- manas de vida quando o suplemento Mine- ral é insuficiente. Valores entre 400-800 UI podem estar presentes no recém-nascido que se encontra em crescimento rápido, porém valores acima de 800 UI deve-se suspeitar de osteopenia; • Fosforo sérico: valores abaixo de 3,5 mg/ dL estão associados a osteopenia; doença Metabólica Óssea Alexandre Netto Sabrina Boni Braga de Carvalho 35 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 187 16/08/2016 11:13:18 188 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 5 • Calcio sérico: habitualmente em valores normais. Durante nutrição parenteral devem ser anali- sados semanalmente Durante alimentação enteral com leite huma- no + suplemento ou fórmula pré-termo, de- vem ser analisados a cada 15 dias. Durante alimentação ao seio materno ou com fórmula láctea de termo, analisar a cada 3 me- ses ate 1 ano de idade gestacional corrigida. investigação radiolÓgica • RX simples: deve ser realizado aos 6 me- ses de idade corrigida em recém-nascidos prematuros que tenham apresentado sus- peita clínica com alteração de marcadores séricos. Alterações são visualizas quando há diminuição de no mínimo 20-40% da mineralização óssea. Alterações radiológicas (escore de Koo) • Grau I: rarefação óssea; • Grau II: rarefação óssea associada a al- terações metafisárias, imagem em taça e formações ósseas subperiostais; • Grau III: grau II associado à presença de fraturas espontâneas. • Ultrassom quantitativo: oferece medidas que estão relacionadas com a densidade e estrutura óssea. É um método simples, não invasivo e relativamente de baixo custo. Deve ser repetido aos 6 meses de idade cor- rigida no seguimento ambulatorial. ProFilaxia e trataMento A ingesta oral recomendada de cálcio e fósfo- ro é de 100-160 mg/kg/dia e 95-108 mg/kg/dia respectivamente. Nenhuma fórmula de segui- mento, nem leite materno fornece quantidade terapêutica; portanto, cálcio e fósforo devem ser adicionados à dieta. nutrição Parenteral Não é capaz de fornecer quantidades de Ca e P suficientes para manter taxas de acréscimo semelhante à vida intrauterina. Fornecer 40 mg/kg de cálcio (4 mL/kg de gluconato de cálcio a 10%) e 50 mg/kg de fósforo (0,5 mL/ kg de fosfato ácido de potássio). A melhor relação cálcio/ fósforo para mineralização óssea é 1.7:1. Tabela 35.1 – PriNCiPAiS SoluçõeS e SuAS ComPoSiçõeS Gluconato de cálcio a 10% 9,6 mg/ml Ca elementar 0,44 meq/ml Cloreto de cálcio a 10% 27 mg/ml Ca elementar 1,36 meq/ml Fosfato ácido de potássio 96 mg/ml P elementar 2 meq/ml Fósforo orgânico 10,23 mg/ml P elementar 0,33 mmol/ml nutrição enteral Tabela 35.2 – ComPoSição de CA e P dAS FórmulAS e AditivoS PArA leite mAterNo Nutrientes (mg/100ml) Cálcio Fósforo lm 20 - 25 10 -15 lm+ enfamil HFm® 110 60 lm + Fm85® 75 48 NAN i Pro® Nan 1 Comfor Nan 1 Supreme Aptamil 1 Premium enfamil 1 Premium Similac 1 41 42 47 56 45 53 21 21 25 28 29 28 Pré-Nan® 122 46 AptamilPré® 100 53 enfamil Pre Premium 100 55 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 188 16/08/2016 11:13:18 189 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 5 Tabela 35.3 – ComPoSição dAS SoluçõeS mANiPulAdAS de CA e P Soluções Cálcio (mg/ml) Fósforo (mg/ml) Fosfato tricálcico 12,9% 50 25 Para a prevenção da DMO, temos utilizado a dieta enteral com leite materno da própria mãe e quando atingir um volume de 100 mL/ kg,é adicionado o aditivo de leite materno. Re- alizar suplementação de cálcio e fósforo até a criança completar 40 semanas de idade gesta- cional corrigida. Nos casos de DMO temos aumentado a su- plementação de cálcio e fósforo através da administração de fórmula de fosfato tricálcico 12,9% (ver Tabela 35.3), estimando-se uma su- plementação diária, entre dieta e fórmula, de 140 mg/kg/dia de cálcio e 100 mg/kg/dia de fósforo. O fosfato tricálcico deverá ser ofereci- do a cada 6 horas Como o LM tem atividade da vitamina D in- suficiente preconiza-se o uso 400 UI/dia de vitamina D. A suplementação deve ser mantida até que não haja sinais radiológicos ou bioquímicos de DMO, devendo ser usada profilaticamente até aproximadamente o peso de 1.800 a 2.000 g, podendo em RNPT com PN < 1000 g se es- tender até três meses ou peso de 3.500 g. reFerências bibliográFicas 1. Seguimento Ambulatorial do Prematuro de Ris- co. Departamento de Neonatologia da Socieda- de Brasileira de Pediatria, 2012. 2. Young, T.E.; Mangum, B. Neofax: A Manual of Drugs Used in Neonatal Care. ed 24. Raleigh, North Carolina: Acorn Publishing, USA, 2011. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 189 16/08/2016 11:13:18 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 190 16/08/2016 11:13:18 191 Hérnia diafragmática congênita A hérnia diafragmática congênita (HDC) é um defeito do desenvolvimento do diafragma que permite herniação do conteúdo abdominal para o tórax, associado a hipoplasia pulmonar ipsilateral, hipertensão pulmonar e má rotação intestinal; localiza-se em 70% dos casos na re- gião posterolateral (Bochdaleck). A incidência é de 1:2.000-3.000 RNs principalmente à es- querda (85% dos casos) sendo mais frequente no sexo feminino. Pode ser isolada ou associada a outras malformações (até 50% dos casos, em especial cardíacas, urogenitais, musculoesque- léticas, gastrointestinais e de SNC). Pode vir associado a trissomias (13, 18 e 21). diagnóstico • Pré-natal: ideal; visualização de vísceras ab- dominais na cavidade torácica e medida da relação pulmão/cabeça (lung/headratio = LHR) para predição do grau de hipoplasia pulmonar; pode haver polidrâmnio e hi- dropsia fetal. • Após o nascimento: • Clínico: assintomático evoluindo para falência respiratória nas primeiras horas de vida; abdômen escavado e ausência de murmúrio vesicular do lado da HDC com piora do padrão respiratório na ten- tativa de VPP, principalmente naqueles sem diagnóstico antenatal, desvio lateral de bulhas cardíacas, ruídos hidroaéreos no interior do tórax, taquipneia, palidez e cianose. • Radiológico: RX tórax, confirmatório. • Ecodopplercardiograma auxilia no diag- nóstico e manejo da hipertensão pulmonar. Diagnóstico diferencial: eventração diafrag- mática (elevação anormal de hemidiafragma) e as malformações pulmonares císticas. tratamento Quando feito diagnóstico intrauterino pode- -se tentar a colocação de plug traqueal na tentativa de diminuir a hipoplasia pulmonar com risco de recorrência, parto prematuro e abortamento; pode-se também tentar fazer a correção do defeito diafragmático: • Intubação endotraqueal ao nascimento; (evitar ventilação com pressão positiva e máscara); • Surfactante, se necessário; • Passagem de cateter umbilical arterial e venoso; Patologias cirúrgicas no Período neonatal Marcela Chaves M. Pimenta Bosco Maurício Magalhães 36 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 191 16/08/2016 11:13:18 192 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 6 • Medida de pressão arterial invasiva; • Sondagem vesical; • Monitorização cardíaca e oximetria pré e pós-ductal; • Sonda nasogástrica; • Ventilação mecânica invasiva: uso de nar- cóticos e relaxantes musculares para otimi- zar a ventilação se necessário; • Outras opções: óxido nítrico, ventilação de alta frequência, oxigenação por membrana extracorpórea, podem ser necessárias. Após compensação clínica com controle da hipertensão pulmonar, reparo cirúrgico. A gravidade está relacionada diretamente à presença de fígado intratorácico, HDC à di- reita, diagnóstico intrauterino muito precoce, ausência de cúpula diafragmática, relação pul- mão/cabeça < 1 (que predizem maior grau de hipoplasia pulmonar) e às malformações asso- ciadas. A mortalidade é maior do que 80%. Os sobreviventes frequentemente apresentam alte- rações torácicas, DRGE, falha de crescimento e atraso do desenvolvimento neuropsicomotor. malformações Pulmonares císticas É um espectro raro, mas clinicamente significa- tivo de alterações do desenvolvimento pulmo- nar; inclui: malformação adenomatoide cística (MAC – atualmente sendo melhor nomeada como malformação das vias aéreas pulmonares congênitas pois apenas o tipo 3 é adenomato- so), sequestro broncopulmonar, cisto bron- cogênico e enfisema lobar congênito. Essas patologias estão associadas a um risco elevado de hidropsia fetal e hipoplasia pulmonar sendo às vezes necessário manejo fetal. atresia de esôfago Defeito na separação entre o esôfago e a tra- queia. Existem 5 tipos, sendo o mais frequente o que cursa com atresia de esôfago proximal, com fístula traqueoesofágica distal. Em aproxi- madamente metade dos casos existe outra MF grave associada (lembrar de VACTER(L)), sen- do essa responsável por complicações e óbito. diagnóstico Pré-natal: Ultrassonografia revela polidrâm- nio, ausência de bolha gástrica. Pode haver outras malformações. Ao nascimento: não progressão da sonda gástrica. Salivação intensa, desconforto res- piratório variável associada ou não distensão gástrica. A radiografia contrastada apenas com ar pode auxiliar no diagnóstico. Tabela 36.1 – As MAis CoMuns são MAC e sequestro PulMonAr MaC Sequestro bP Classificação tipos: 0-4; micro ou macrocística intra ou extralobar Conexão com a árvore traqueo- brônquica sim não irrigação sistêmica não sim Desconforto respi- ratório no período neonatal sim não localização Ambos os lobos inferiores lobo inferior esquerdo tratamento Punção intraútero de cistos grandes; corticoterapia e cirurgia fetal para os casos microcísticos. ressecção pós-natal terapêutica ou profilá- tica (2/6 meses) ressecção quando sintomático ou na presença de complicações recorrentes Prognóstico no geral bom inti- mamente relaciona- do ao tipo, presença de MFs associadas (frequentes), hipo- plasia pulmonar e hidropsia fetal; risco de malignização; regressão espontâ- nea 15% Bom, com risco de complicações como atelectasias, pneumonias de repetição, hemoptise e malignização; +/- MFs ciadas; regressão espon- tânea 75% MFs = malformações. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 192 16/08/2016 11:13:18 193 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 6 tratamento • Suporte clínico: decúbito elevado a 30°, son- da com aspiração contínua do coto proxi- mal, dieta parenteral, intubação orotraqueal quando necessário e antibioticoterapia. • Correção cirúrgica em momento oportuno e mais breve possível - via toracotomia pos- terior extrapleural, com ligadura da fístula e anastomose dos cotos esofágicos quando possível, além de drenagem extrapleural; na impossibilidade de anastomose dos cotos, opta-se por esofagotomia e gastrostomia com posterior interposição do cólon ou estômago. anomalia anorretal É um grupo de anomalias decorrentes de alte- rações na membrana cloacal na fase de gastru- lação, com incidência de 1:5.000 nascidos vivos, que pode vir isolada ou associada a outras MF. diagnóstico • Clínico: ao exame nota-se a ausência do ânus com ou sem alterações glúteas e pe- rineais (fístulas: no sexo masculino, geral- mente urinária e no feminino, vestibular). Na evolução, retardo da eliminação de me- cônio e distensão abdominal nos casos de abdômen agudo obstrutivo. • Radiológico: invertograma; outros exames auxiliam no diagnóstico de MF associadas. tratamento Proctoplastiavia perineal ou colostomia com posterior correção a depender da distância coto-pele. Vacter(l) A associação de VACTER(L) é definida por um grupo de malformações congênitas sendo elas: anomalias vertebrais/anomalia anorretal/ cardiopatia/fístula traqueoesofágica/atresia de esôfago/anomalias renais (geniturinárias)/ malformação de membros (Limbs). Acredita- -se quetalassociação seja mais um defeito no campo do desenvolvimento primariamente politrópica do que uma real associação. A in- cidência é muito variável a depender dos crité- rios utilizados e parece ser algo mais frequente no sexo masculino. • Anomalias vertebrais: hemivértebras, vérte- bras “em borboleta” ou “em cunha”, ausen- tes, fundidas ou supranumerárias, presente em 60-80% doa casos; gravidade variável, pode cursar com escoliose; anomalias em costelas podem vir isoladas ou associadas às vertebrais; • Anomalia anorretal: imperfuração anal/ atresia anal estão presentes em 55-90% dos casos, contudo formas leves de estenose não são consideradas como critério diag- nóstico; pode vir ou não acompanhada de anomalias geniturinárias; • Cardiopatia: complexidade variável, pre- sente em 40-80% dos casos; excluindo-se PCA e FOP; • Fístula traqueoesofágica: presente em 50- 80% dos casos, associada ou não a atresia de esôfago; • Anomalia renal: gama grande e com gravi- dade variável, acompanhada de alterações ureterais e geniturinárias; presente em 50- 80% dos pacientes; • Malformação de membros: frequentemente definida como alterações radiais ou de po- legares, pode ocorrer também em membros inferiores; presente em 40-50% dos casos. Obs.: seguem sublinhados os componentes considerados definidores da associação de VACTER(L) pela maioria dos estudiosos. diagnóstico • Polidrâmnio, ausência de bolha gástrica, distensão de cólon, malformações verte- brais e de membros, cardiopatias, anoma- lias renais e, em especial presença de artéria _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 193 16/08/2016 11:13:18 194 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 6 umbilical única que pode ser a pista inicial para VACTER(L); • Confirmação das malformações suspeitas no pré-natal e busca ativa no período pós- -natal de malformações associadas (RX ou RNM da coluna, ECO, USG rins e vias urinárias, RX tórax, abdômen e membros) sendo necessário pelo menos 3 de seus componentes definidores e ausência de ou- tro diagnóstico possível; • Presença de outras malformações não tí- picas deve levar a suspeita de outro diag- nóstico (USG transfontanela, avaliação oftalmológica e auditiva, hemograma, cal- cemia entre outros). tratamento Direcionado às malformações presentes, prefe- rencialmente com equipe multidisciplinar (in- cluindo um geneticista para aconselhamento). referências bibliográficas 1. 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Barueri; Manole; 2010. defeitos da Parede abdominal Tabela 36.2 – DiAgnóstiCo Pré-nAtAl: AuMento DA AlFA-FetoProteínA + exAMe ultrAssonográFiCo eviDenCiAnDo o De- Feito ABDoMinAl Gastrosquise Onfalocele incidência 1:3.000-10.000 nascimentos localização Paramediana (geralmente à D do coto umbilical) Mediana/ no coto umbilical (por persistência da hérnia fisiológica fetal) revestimento Ausente Presente (íntegra ou rota) Conteúdo vísceras ocas vísceras ocas e sólidas Associação com outras MF infrequente Frequente (50% dos casos); buscar outros defeitos de linha média; pode estar associada a síndromes genéticas Cuidados em sala de parto envolver vísceras em compressas úmidas e estéreis ou cobertura plástica estéril idem à gastrosquise especialmente se membrana rota Cuidados gerais Jejum + sondagem de alívio, nPP, an- tibioticoterapia empírica idem Cuidados específicos Correção cirúrgica de urgência (com ou sem silo a depender da possibilidade de fechamento primário) idem à gastrosquise se membrana rota; correção cirúrgica precocemente se membrana íntegra Complicações risco de síndrome compartimental abdominal, dificuldade ventilatória secundária a restrição torácica após correção, deiscência, síndrome do intestino curto, sepse tardia, colestase idem _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 194 16/08/2016 11:13:18 195 O Refluxo Gastroesofágico (RGE) é o movi- mento retrógrado e involuntário do conteúdo gástrico para o esôfago ou estruturas suprae- sofágicas. Trata-se de um processo fisiológico, porém quando há injúria nas partes atingidas, ocorre o que chamamos de Doença do Reflu- xo Gastroesofágico (DRGE). A ocorrência de DRGE depende do PH e quantidade de conte- údo gástrico refluído. Fatores de risco • Volume de leite e intervalo entre dietas; • Posição supina; • Pressão contínua nas vias aéreas; • SOG ou SNG; • Fórmulas lácteas; • Metilxantinas; • Doenças neurológicas ou respiratórias crônicas. A DRGE manifesta-se especialmente pela presença de regurgitação ou vômito, porém outros sintomas podem estar relacionados: recusa alimentar, problemas respiratórios, apneia, baixo ganho ponderal, irritabilidade, choro constante, hiperextensão dorsal e rota- ção lateral da cabeça. O diagnóstico de DRGE é baseado na história e exame físico, uma vez que não estão padro- nizados exames para investigação de DRGE no RN. Os exames complementares devem ser indicados individualizando-se cada caso: • Radiografia e EED: alterações morfológicas; • Cintilografia gastroesofágica com tecné- cio: esvaziamento gástrico e aspiração pulmonar; • pHmetria de 24 horas: ph < 4, IR > 10% e tempo do episódio; • Endoscopia com biópsia: identificação da lesão; esofagite é rara em RN; • Impedância elétrica múltipla; • Manometria esofágica: relação motilidade e RGE não validada. tratamento A seguir, são descritas algumas medidas para amenizar o RGE fisiológico e alguns medica- mentos utilizados rotineiramente para tratar a DRGE. medidas não Farmacológicas • Posicionamento em decúbito prono ou la- teral esquerdo e elevado, apenas sob moni- torização devido ao risco de morte súbita. doença do refluxo gastroesofágico no Período neonatal Mauricio Magalhães Rafaela Fabri Rodrigues 37 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 195 16/08/2016 11:13:19 196 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 7 • Alterações na alimentação: • Alterar dieta em bólus para dieta contínua; • Fórmulas lácteas aumentam o tempo de esvaziamento gástrico e o intervalo entre mamadas, com aumento de epi- sódios de RGE; • Fórmulas espessadas diminuem regurgi- tações, mas não o RGE. medidas Farmacológicas Importante lembrar que nenhum desses me- dicamentos é liberado com base em estudos científicos, para uso no período neonatal. Caso haja necessidade de intervenção medi- camentosa, usar por períodos curtos e com monitorização dos efeitos colaterais. • Procinéticos: aumentam a motilidade gas- trointestinal e o esvaziamento gástrico. • Domperidona: • Antagonistas do receptor H2: reduz a acidez gástrica, não é recomendo para pré-termos em função dos seus efeitos adversos. O uso rotineiro pode estar as- sociado à ECN. • Ranitidina: 1,5 mg/kg/dose EV a cada 8 ho- ras nos RN termos ou • 0,5 mg/kg/dose EV a cada 12 horas nos RN pré-termos ou • 2 mg/kg/dose VO a cada 8 horas. • Inibidores da bomba de próton: Lembrar que a acidez gástrica tem papel impor- tante no sistema imune e na colonização seletiva intestinal, o que pode ser pre- judicado com o uso prolongado desses medicamentos. Além disso, a supressão da acidez pode alterar o metabolismo proteico pela inativação da pepsina. • Omeprazol: 0.5 a 1.5 mg/kg/dose 1 vez ao dia, em jejum. tratamento cirúrgico • Fundoplicatura: é a cirurgia mais indicada quando há alterações estruturais e doença respiratória crônica com aspirações frequen- tes. Pode ser associada à gastrostomia em re- cém-nascidos com sequelas graves de asfixia neonatal, otimizando o estado nutricional. reFerências bibliográFicas 1. Birch JL, Newell SJ. Gastroesophageal reflux di- sease in preterm infants: current management and diagnostic dilemmas. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed. 2009;94:F379-83. 2. Malcolm WF, Cotton CM. Metoclopramide, H2 blockers, and proton pump inhibitors: pharma- cotherapy for gastroesophageal reflux in neona- tes. ClinPerinatol. 2012;39:99-109. 3. Malcolm, W.F.; Gantz, M.; Martin, R.J. et al. Use of medications for gastroesophageal reflux at discharge among extremely low birth weight infants. 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ClinPerinatol. 2009; 36:153-64. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 196 16/08/2016 11:13:19 197 Embriologia rEnal: nEfrogênEsE • Início: primeiro trimestre; • Final: 34-36 semanas. anormalidadEs pErinatais associadas a malformaçõEs do trato gEniturinário ou com maior risco dE insuficiência rEnal • Oligodramnio/polidramnio; • Placentomegalia; • Artéria umbilical única/inserção anômala de cordão umbilical; • Asfixia/anoxia neonatal; • Hipertensão arterial; • Edema; • Hemangioma; • Retinite pigmentosa/catarata/glaucoma; • Implantação anômala ou dismorfismo do pavilhão auricular; • Hemi-hipertrofia; • Espinha bífida/disrafias medulares/menin- gomelocele; • Artrogripose; • Anormalidades de fâneros ou ossificação de coluna vertebral; • Unhas displásicas; • Ausência ou hipoplasia de musculatura ab- dominal; • Presença de massa ou tumoração abdomi- nal; • Hipoplasia pulmonar/pneumotórax espon- tâneo; • Criptorquidia/hipospadia/jato urinário anormal; • Clitorimegalia; • Imperfuração anal ou presença de esfíncter anal deficiente; • Cardiopatia congênita; • Consanguinidade; • História de nefropatia familiar pregressa; • Antecedentes de síndromes genéticas na família; • Antecedentes de malformações renais na família. caractErísticas E limitaçõEs da função rEnal nEonatal • Baixa Taxa de Filtração Glomerular (TFG): • Baixo fluxo renal; • Resistência vascular aumentada. • Distúrbios de concentração urinária: • Alças de Henle mais curtas; • Baixa concentração do interstício medular; insuficiência renal aguda Amanda Melhado Fernando Lamano 38 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 197 16/08/2016 11:13:19 198 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 8 • Hiporresponsividade ao hormônio anti- diurético; • Interferência de prostaglandinas. • Homeostase do sódio alterada: • Insensibilidade tubular a aldosterona; • Aumento da resposta natriurética; • Limitada capacidade de excreção da so- brecarga de sódio. fisiopatologiada lEsão rEnal aguda • 60 a 90% dos casos de lesão renal aguda em recém-nascido possui etiologia pré-renal: • Própria imaturidade fisiológica acentua o impacto da redução da pressão hidros- tática transcapilar. • Marcador da lesão pré-renal: redução do fluxo plasmático renal secundário a hi- povolemia ou ao comprometimento do débito cardíaco. diagnóstico • Sinais e sintomas inespecíficos. • Diagnóstico definitivo: • Alteração dos níveis séricos de creatinina; • Oligúria. lEmbrar • Oligoanuria não é comum em MBP e EBP. • O início da micção pode demorar ate 24 horas em RN normais: Clearance de creatinina estimado: K ´ Es- tatura (cm)/creatinina sérica * K: RNT – 0,45 RNPT – 0,33 Tabela 38.1 – EtioLogiA IRa pré-renal IRa renal (parenquimatosa) IRa pós-renal Situações de hipovolemia/hipotensão Hipoperfusão renal sustentada obstrução uretral Queimaduras Sepse/síndrome do choque tóxico Válvula de uretra posterior Hipoproteinemia iCC obstrução pieloureteral/ ureterovesical bilateral iCC/Choque cardiogênico Pós-operatório de cirurgia cardíaca Rim único Drogas: indometacina/cilcosporina CiVD Refluxo vesicoureteral grave Perdas para terceiro espaço: sepse, pós-operatório, íleo paralítico Asfixia perinatal Ureterocele Asfixia perinatal Síndrome do desconforto respiratório tumores renais ou vesicais Síndrome do desconforto respiratório trombose de artéria ou veia renal Bexiga neurogênica trombose de artéria renal Anomalias renais (agenesias, disgenesias) Megaureter Policitemia Drogas nefrotóxicas (aminoglicosídeos, vancomicina, anfotericina, AiNE) Compressão tumoral extrínseca Ventilação mecânica Síndrome da lise tumoral Cálculo renal _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 198 16/08/2016 11:13:19 199 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 8 Tabela 38.2 – tFg (ML/MiN/1,73 M2) EM RN IG (semanas) ClCr Idade pós-natal 1ª sem 2ª sem 3ª sem 25 a 28 ClCr corrigido 5,6-16,4 9,3-21,7 25,9-68,9 29 a 37 ClCr corrigido 9,7-20,9 14,9-42,5 33,0-70,0 38 a 42 ClCr corrigido 25,8-54,5 41,0-90,6 74,0-117,4 Tabela 38.3 – VALoRES DE CREAtiNiNA PLASMátiCA Ao NAS- CiMENto Idade gestacional (semanas) Creatinina (mg/dl) 23 a 26 0,77 a 1,05 27 a 29 0,76 a 1,02 30 a 32 0,70 a 1,02 33 a 45 0,77 a 0,90 Tabela 38.6 – DiFERENçAS LESão PRé-RENAL E RENAL IRa pré-renal IRa renal > 1 mês Neonatos > 1 mês Neonatos Na urinário (mEq/L) < 20 < 40 > 40 > 40 Densidade urinária > 1.020 > 1015 < 1010 < 1015 FeNa (%) < 1 < 2,5 > 1 > 3 osmo- laridade urinária (mosm/L) > 500 > 400 < 350 < 400 manEjo da lEsão rEnal aguda • Análise de história e exame físico (possibi- lidade de situações de redução de volume sanguíneo, desidratação, aumento de per- das insensíveis, sepse, nefrotoxicicidade). • Afastar IRA Pós-renal (bexigoma, tumo- rações). Tabela 38.4 – VALoRES NoRMAiS DE CREAtiNiNA SéRiCA EM RN tERMo E PRé-tERMo Idade (dias) < 28 sem 28 – 32 sem 32 – 37 sem > 37 sem 3 1,05 ± 0,27 0,88 ± 0,25 0,78 ± 0,22 0,75 ± 0,20 7 0,95 ± 0,36 0,94 ± 0,37 0,77 ± 0,48 0,56 ± 0,40 14 0,81 ± 0,26 0,78 ± 0,36 0,62 ± 0,40 0,43 ± 0,25 28 0,66 ± 0,28 0,59 ± 0,38 0,40 ± 0,28 0,34 ± 0,20 Tabela 38.5 – CRitéRioS PEDiátRiCoS RiFLE MoDiFiCADoS (PRiFLE) Clearance de creatinina estimado Débito urinário Risco Redução de 25% < 0,5 mL/kg/h por 8 horas injúria Redução de 50% < 0,5 mL/kg/h por 16 horas Falência Redução de 75% ou ClCr < 35 mL/min/1,73 m2 < 0,5 mL/kg/h por 24 horas ou anuria por 12 h Perda Falência persistente > 4 semanas Estágio final Falência persistente > 3 meses _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 199 16/08/2016 11:13:19 200 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 8 • Avaliação do estado de hidratação e condições hemodinâmicas e cardiovas- culares. • Coleta de material antes do uso de diu- réticos ou aminas simpatomiméticas (Na, Cr, Ur, Osm séricas e urinárias). • Conduta inicial: reestabelecer volemia – bolus de 10-20 mL/kg. • Pré-renal: • Após reestabelecimento da volemia, se não houver diurese em poucas horas – prova diurética: furosemida 1 mg/kg. • Renal: • Após reestabelecimento da volemia, instituir medidas para tratamento da doença de base. indicaçõEs dE diálisE • Situações de hipervolemia (edema gau- do de pulmão, ICC, emergência hiper- tensiva); • Hipertensão refratária; • Hiperpotassemia severa ou hiperpotas- semia resistente à terapêutica conserva- dora; • Acidose metabólica severa; • Hipernatremia, espacialmente associada à acidemia metabólica; • Ureia acoma de 200 mg% ou elevação progressiva (individualizar); • Hipocalcemia severa, na presença de hi- perfosfatemia ou sintomatologia; • Sintomas neurológicos ou gastrintesti- nais, secundários a uremia ou distúrbios eletrolíticos; • Oligúria em pós-operatório recente de cirurgia cardíaca após tentativa de otimi- zação da hemodinâmica cardiovascular; • Intoxicações específicas; • Erros inatos do metabolismo (situações de hiperamonemia, acidemia, encefalo- patia): considerar diálise com soluções com bicarbonato. Tabela 38.7 – PA DE ACoRDo CoM iDADE gEStACioNAL Idade gestacio- nal corrigida Percentil 50 Percentil 95 Percentil 99 44 semanas Sistólica 88 105 110 Diastólica 50 68 73 Média 63 80 85 42 semanas Sistólica 85 98 102 Diastólica 50 65 70 Média 62 76 81 40 semanas Sistólica 80 95 100 Diastólica 50 65 70 Média 60 75 80 38 semanas Sistólica 77 92 97 Diastólica 50 65 70 Média 59 74 79 36 semanas Sistólica 72 87 92 Diastólica 50 65 70 Média 57 72 71 34 semanas Sistólica 70 85 90 Diastólica 40 55 60 Média 50 65 70 32 semanas Sistólica 68 83 88 Diastólica 40 55 60 Média 48 65 69 30 semanas Sistólica 65 80 85 Diastólica 40 55 60 Média 48 65 68 28 semanas Sistólica 60 75 80 Diastólica 38 50 54 Média 45 58 63 26 semanas Sistólica 55 72 77 Diastólica 30 50 56 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 200 16/08/2016 11:13:20 201 G u i a d e B o l s o d e N e o N at o l o G i a | c a p í t u l o 3 8 rEfErências bibliográficas 1. Benfield, M.R.; Bunchman, T.E. Management of acute renal failure. In: Avner ED, Harmon WE, Niaudet P eds. Pediatric Nephrology. 5. Ed. Phi- ladelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2004, p. 1253-66. 2. Dionne, J.M.; Abtibol, C.L.; Flynn, J.T. Hyper- tension in infancy: diagnosis, management and outcome. Pediatr Nephrol. 2012; 27(1): 17-32. 3. Ringer, A.S. Acute renal failure in the neonate. NeoReviews. 2010; 11:e243-51. 4. Taketomo, C.K.; Hodding, J.H.; Kraus, D.M. Pe- diatric & Neonatal Dosage Handbook. 18. Ed. Hudson, Ohio: Lexi-Comp; 2011. Tabela 38.8 – AjUStE DE DRogAS Não ANtiMiCRoBiANAS NA iNSUFiCiêNCiA RENAL AgUDA No PERíoDo NEoNAtAL Clearance de creatinina (ml/min) Drogas M > 50 10-50 < 10 Captopril D 100% 75% 50% Digoxina Di 100% 25 - 75% Q 12 h ou 100% Q 36 h 10 - 25% Q 12 h ou 100% Q 48 h Espironolactona i Dose normal Q 12 – 24 h Evitar uso Fenobarbital Sem registro Fentanyl D 100% 75% 50% Furosemida Ajuste apenas em adultos Hidralazina i Dose normal Q 8 h Q 8 – 16 h (acetilador rapido) Q 12 – 24 h (acetilador lento) Hidroclorotiazida Dose normal ineficaz Evitar uso Metadona D 100% 100% 50 - 75% Midazolan Sem registro Propranolol Sem registro Ranitidina D 100% 50% 25% M = metodologia de ajuste; D = reduzir a dose; i = ajustar o intervalo. _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 201 16/08/2016 11:13:20 _Guia de Bolso de Neonatologia – Magalhães.indb 202 16/08/2016 11:13:20 203 Definição Retinopatia da prematuridade (ROP) é uma doença vaso proliferativa secundária à vascula- rização inadequada da retina imatura de alguns recém-nascidos prematuros. É uma das princi- pais causas de cegueira prevenível na infância. fatores De risco • Prematuridade; • Baixo peso ao nascer; • Retardo