Buscar

DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO JAPÃO E SINGAPURA

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ 
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
FACULDADE DE ECONOMIA 
 
 
 
 
ALCINDO GOMES DE MORAES NETO
ALEXANDRE RIBEIRO CORREA
VICTOR YANG XIAO OU
 
 
 
 
 
 
DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO JAPÃO E SINGAPURA
 
 
 
 
 
 
BELÉM 
2023
ALCINDO GOMES DE MORAES NETO 
ALEXANDRE RIBEIRO CORREA
VICTOR YANG XIAO OU
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO ECONÔMICO NO JAPÃO E SINGAPURA
 
 
 
Trabalho apresentado ao curso de Economia da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para aprovação na disciplina de Desenvolvimento Socio-Economico. 
Professora: Vanusa Carla Pereira Santos
 
 
 
 
 
 
 
 
BELÉM 
2023
· INTRODUÇÃO
O presente trabalho acadêmico tem como objetivo analisar e compreender o processo de crescimento e desenvolvimento econômico do Japão e de Singapura, duas nações que, ao longo do século XX e início do século XXI, conquistaram posições proeminentes no cenário econômico global. O Japão, por meio de estratégias e políticas inovadoras, transformou-se em uma das maiores economias do mundo, enquanto Singapura, mesmo com recursos limitados, alcançou notável desenvolvimento econômico e social, tornando-se uma das nações mais prósperas e avançadas. Este estudo busca destacar as estratégias-chave, políticas governamentais e características distintivas que impulsionaram esses países rumo ao sucesso econômico, além de analisar os desafios e soluções enfrentados durante seus processos de crescimento econômico.
No primeiro capítulo, será aprofundado o entendimento do desenvolvimento econômico do Japão. Serão exploradas as estratégias adotadas pelo país, desde a Restauração Meiji até o século XXI, que possibilitaram a sua ascensão como uma potência econômica. O Modelo de Desenvolvimento Dirigido pelo Estado, a política de cooperação internacional, a ênfase na educação e na inovação tecnológica, bem como os investimentos em infraestrutura, foram peças-chave nesse percurso.
No segundo capítulo, a análise volta-se para Singapura, uma cidade-estado com uma trajetória singular no cenário econômico global. A história de Singapura é marcada por sua capacidade de atrair investimentos estrangeiros e pela sua transição estratégica, passando de uma economia baseada na mão-de-obra barata para um polo de inovação e desenvolvimento empreendedor. Serão examinadas as políticas governamentais, o papel do Estado na diversificação industrial e tecnológica, e o pragmatismo presente em sua abordagem para alcançar vantagens competitivas.
Ao comparar e contrastar as estratégias e políticas adotadas pelo Japão e por Singapura, este estudo visa fornecer insights sobre os fatores determinantes para o sucesso econômico de cada nação, bem como as lições aprendidas que podem inspirar outras economias em busca de crescimento e desenvolvimento sustentáveis. A análise incluirá também a consideração dos desafios enfrentados por esses países, bem como as soluções adotadas para superá-los, contribuindo para um entendimento mais amplo e aprofundado do contexto econômico dessas nações exemplares.
· DESENVOLVIMENTO
1. JAPÃO
O Japão implementou várias estratégias de crescimento e desenvolvimento econômico ao longo do século XX, que o ajudaram a se tornar uma das maiores economias do mundo. Importante destacar algumas das estratégias mais importantes.
O primeiro ponto aqui é o Modelo de Desenvolvimento Dirigido pelo Estado (Meiji Restoration), que a partir da Restauração Meiji em 1868, o governo japonês adotou uma estratégia de modernização e industrialização liderada pelo Estado. Eles buscaram importar tecnologia, conhecimento e práticas industriais do Ocidente para desenvolver suas indústrias e infraestrutura. Diante disso, a industrialização e modernização se intensificou fortemente durante o período pós-Segunda Guerra Mundial, o Japão focou na industrialização e modernização de setores-chave, como aço, automóveis, eletrônicos e maquinaria. Isso foi impulsionado por investimentos maciços em pesquisa e desenvolvimento, bem como por políticas que incentivavam a produção e exportação.
Entre as politicas do governo japonês, que é tido como é estratégia, pode-se citar o sistema de educação e treinamento de mão de obra, pois foram feitos investimentos significativos em educação e treinamento da força de trabalho para garantir que os trabalhadores japoneses fossem altamente qualificados e produtivos. Isso contribuiu para o desenvolvimento de uma força de trabalho altamente qualificada e especializada.
Outro ponto importante foi a adoção de políticas industriais ativas para promover setores-chave, oferecendo subsídios, incentivos fiscais e investindo em pesquisa e desenvolvimento para impulsionar a inovação e a competitividade internacional. Logo, tornou-se necessário acordos de Comércio Internacional, no objetivo de estabelecer e promover o livre comércio, permitindo que suas exportações alcançassem mercados globais. Acordos como o GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio) e posteriormente a adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC) foram fundamentais.
Ademais, investir em tecnologia sempre foi uma preocupação, o Japão investiu fortemente em Inovação Tecnológica e Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para impulsionar a competitividade. Hoje empresas japonesas são conhecidas por sua inovação em produtos eletrônicos, automóveis e outros setores.
Por fim, pode-se citar os Investimentos em Infraestrutura, no qual o governo investiu fortemente, incluindo estradas, ferrovias, aeroportos e portos, para facilitar o transporte de pessoas, insumos e impulsionar o comércio interno e internacional.
Em 1950, ainda destruído pela guerra, o Japão era um país tão pobre quanto o Brasil. Ainda em 1980 a renda per capita dos dois países apresentava um crescimento similar, mas a partir da segunda metade da década de 80 há a virada de chave, como mostra o gráfico abaixo, e depois o gap nas taxas de crescimento aumentam consideravelmente. De lá para cá, cada país teve um destino muito diferente, e o crescimento e desenvolvimento econômico do Japão ao longo do século XX e início do século XXI são marcados por várias características distintivas. 
Dentre elas, temos as taxas de crescimento sustentadas, pois o Japão experimentou um período de rápido crescimento econômico, particularmente entre as décadas de 1950 a 1970, como representado na imagem abaixo, taxas anuais notáveis de crescimento do PIB, impulsionadas pela industrialização e exportações, em muitos anos passando dos 10% anual.
Muito disso em razão de outra característica, a economia diversificada e avançada, garantido ao país a posição de líder em diversos setores tecnológicos, automobilísticos, eletrônicos, maquinaria, produtos químicos, entre outros. Além disso, tem uma forte indústria de serviços, incluindo finanças, turismo e comércio pautada em inovação tecnológica e uma estratégia de exportação que foi crucial para o desenvolvimento japonês, com foco inicial em produtos manufaturados, como automóveis, eletrônicos e maquinaria, que ganharam aceitação global devido à sua alta qualidade e confiabilidade.
O período de 1952 a 1973 foi um marco na história do Japão devido à apresentação de níveis elevadíssimos de crescimento do PIB, como podemos ver no gráfico abaixo.
Outra característica foi a cooperação entre Governo, Indústria e Academia (Modelo de Tripla Hélice). O modelo de cooperação entre o governo, a indústria e as instituições acadêmicas, é uma característica-chave no desenvolvimento econômico no Japão. As parcerias entre esses setores impulsionam a inovação, pesquisa e desenvolvimento, garantindo a competitividade e o crescimento econômico. Em razão do investimento em educação e treinamento, o país colocou a alta na qualidade na força de trabalho como uma prioridade, e isso resulta em uma mão de obra altamente qualificada e especializada, que contribui para a produtividade e a inovação.
Por fim, o país possui uma característica que é dicotômica. Em razão do aumento da qualidade de vida e bem-estar social, que garantiu o equilíbrioentre desenvolvimento econômico e social, por outro lado temos o envelhecimento da população e a baixa taxa de natalidade, que são desafios enfrentados pelo Japão, nesse sentido, o governo e as empresas estão desenvolvendo estratégias para lidar com essas questões e garantir a sustentabilidade econômica a longo prazo.
Durante o processo de crescimento e desenvolvimento econômico do Japão, várias questões e conflitos surgiram, tanto internamente quanto em relação a outros países. Algumas dessas questões incluem os conflitos sociais durante o período de industrialização no final do século XIX e início do século XX, houveram tensões e conflitos entre os trabalhadores e os proprietários das indústrias devido às condições de trabalho precárias, jornadas longas e baixos salários. Esses conflitos levaram a movimentos trabalhistas e greves.
Além disso, o Japão esteve envolvido em vários conflitos militares e atos de imperialismo, incluindo a Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), a Guerra Russo-Japonesa (1904-1905) e a anexação da Coreia em 1910. Essas ações buscavam expandir sua influência na região e garantir recursos e mercados.
Os conflitos na era Pré-Segunda Guerra Mundial eram de caráter expansionistas na Ásia, especialmente na década de 1930, como a invasão da Manchúria (1931) e a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937-1945). Esses conflitos resultaram em tensões com as potências ocidentais e contribuíram para a Segunda Guerra Mundial na região do Pacífico.
Houveram dificuldades pós-Segunda Guerra Mundial, com a derrota o Japão enfrentou enormes desafios de reconstrução econômica, desmilitarização e adaptação a uma nova ordem política, bem como, debates e conflitos sobre como reorganizar a sociedade e a economia do país.
Na esfera do ensino, houveram perturbações internas nas décadas de 1960 e 1970, no qual o Japão testemunhou movimentos estudantis e sociais, incluindo protestos contra a presença militar dos Estados Unidos no país e o envolvimento japonês na Guerra do Vietnã. Estudantes e ativistas expressaram suas preocupações sobre questões sociais, políticas e econômicas.
Conflitos comerciais internacionais não ficaram de fora, pois à medida que a economia japonesa se tornava cada vez mais competitiva no cenário global, surgiram conflitos comerciais com outras nações, especialmente com os Estados Unidos e a União Europeia, devido a políticas de comércio, tarifas, barreiras não-tarifárias e práticas comerciais consideradas desleais.
A competição entre diferentes setores industriais e empresas, especialmente durante a era de crescimento rápido, levou a rivalidades e conflitos de interesses em relação a políticas governamentais, subsídios e acesso a recursos. Ao observarmos o gráfico abaixo, notamos o aumento da participação japonesa após 1980, seguindo até seu apice em 1990, quando então, nesse momento, motivado pelo aumento da competitivade comercial internacional e novos protagonistas emergentes entrando em cena, vai declinando esse percentual da participação japonesa no PIB mundial.
O Japão adotou várias soluções para lidar com os conflitos e desafios que surgiram durante o processo de crescimento e desenvolvimento econômico. Estas soluções foram cruciais para superar as adversidades e avançar como uma das principais economias globais. Algumas das principais soluções incluem:
a) Reformas Trabalhistas e Melhoria das Condições de Trabalho:
Para resolver os conflitos sociais durante a industrialização, o governo japonês implementou reformas trabalhistas, incluindo regulamentações para melhorar as condições de trabalho, limitar as jornadas de trabalho e garantir salários justos. Isso contribuiu para uma maior estabilidade nas relações entre trabalhadores e empregadores.
b) Política de Cooperação Diplomática e Pacifismo:
Após a Segunda Guerra Mundial, o Japão adotou uma política de cooperação diplomática e pacifismo, renunciando ao uso da força militar para resolver disputas internacionais. A Constituição japonesa pós-guerra enfatiza princípios pacifistas e promove a busca pela paz e segurança internacional.
c) Políticas de Desenvolvimento Econômico Pós-Guerra:
O Japão implementou políticas econômicas, como a Estratégia de Desenvolvimento Pós-Guerra, que visavam reconstruir a economia, promover investimentos em infraestrutura e modernizar os setores-chave. Além disso, o Plano Dodge, elaborado pelo economista Joseph Dodge, teve um papel crucial na estabilização da economia pós-guerra. Ademais, os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, deslocaram diversos recursos, principalmente capital, para reconstrução do Japão e dos países europeus, com o Plano Marschall. Como o desenvolvimento econômico e o emprego eram o foco do plano implantado na Europa, o volume de venda do mercado mundial aumentou, beneficiando a exportação japonesa. Além disso, a adoção do câmbio fixo com o dólar como moeda de referência (sistema de Bretton Woods) no pós-guerra fez com que as exportações japonesas aumentassem bastante, uma vez que no Japão, foi adotado em 1946. A medida de desvalorização da moeda tornou os produtos japoneses bastante competitivos no mercado internacional. O gráfico abaixo mostra a importância dessa medida nas exportações japonesas, no período de 1952 a 1972.
d) Plano de Estabilização Econômica e Austeridade:
O Plano Dodge, implementado em 1949, focou na estabilização da economia e na austeridade fiscal, ajudando a controlar a hiperinflação e estabilizar a moeda. Além disso, o Plano Marshall dos Estados Unidos forneceu assistência financeira e apoio na reconstrução pós-guerra.
e) Política de Alianças Estratégicas e Relações Internacionais:
O Japão estabeleceu alianças estratégicas com nações poderosas, como os Estados Unidos, para garantir sua segurança e estabilidade regional. Além disso, desenvolveu relações comerciais e diplomáticas com outros países, promovendo o comércio e a cooperação internacional.
f) Inovação e Investimento em Pesquisa e Desenvolvimento:
Para enfrentar os desafios tecnológicos e manter a competitividade global, o Japão investiu pesadamente em pesquisa e desenvolvimento, incentivando a inovação tecnológica em setores-chave como eletrônicos, automóveis, robótica e outras indústrias avançadas.
Como consequência desse investimento, quando se analisa a evolução das exportações chinesas desde 1980, pode-se concluir que ao longo do tempo tais exportações deslocaram-se de produtos primários para produtos industrializados e que dentro dos produtos industrializados tais exportações tem se concentrado cada vez mais e em um ritmo bastante intenso em setores dinâmicos, e tecnologicamente mais complexos e, portanto, com maior produtividade.
g) Adoção de Medidas de Estímulo Econômico em Momentos de Crise:
Durante períodos de desaceleração econômica, o governo japonês implementou medidas de estímulo, como políticas monetárias expansionistas, incentivos fiscais e gastos em infraestrutura para revitalizar a economia e promover o crescimento.
h) Política de Planejamento Estratégico e Cooperação Setorial:
O Japão adotou políticas de planejamento estratégico, envolvendo cooperação ativa entre o governo, indústrias e instituições acadêmicas para impulsionar setores-chave, promover inovação e enfrentar desafios socioeconômicos.
Portanto, essas soluções foram fundamentais para enfrentar os desafios e conflitos, permitindo que o Japão alcançasse um notável crescimento e desenvolvimento econômico, e se estabelecesse como uma economia líder no cenário global.
2. SINGAPURA
Singapura é uma cidade-estado com uma história rica e diversificada, a ilha foi habitada pela primeira vez por povos indígenas há mais de 7000 anos. No século XIV, Singapura fazia parte do Império Srivijaya, um poderoso reino marítimo que controlava grande parte do Sudeste Asiático. Em 1819, o britânico Sir Thomas Stamford Raffles fundou Singapura como uma colônia britânica. A ilha rapidamente se tornou um importante centro comercial e financeiro, e sua população cresceu rapidamente. Singapura foi ocupada pelo Japão durante a Segunda GuerraMundial. Após a guerra, a ilha voltou ao domínio britânico. Em 1959, Singapura obteve a independência do Reino Unido. Desde a independência, Singapura passou por um período de rápido desenvolvimento econômico e social. A ilha se tornou um dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo.
Singapura se desenvolveu de forma diferente de outros Tigres Asiáticos, como Coreia do Sul e Taiwan. Enquanto esses países apostaram no desenvolvimento de empresas locais, Cingapura atraiu investimentos estrangeiros para construir sua estrutura industrial. O fator crucial para o desenvolvimento de Singapura foi a entrada de capital estrangeiro. Na década de 1970, os investimentos estrangeiros representavam entre 10% e 20% do PIB. Além disso, a poupança nacional bruta cresceu de forma excepcional, chegando a 42% do PIB em meados dos anos 1980. Esse crescimento foi impulsionado pelo superávit das exportações, que gerou uma alta taxa de poupança.
O processo de catching-up de Singapura, iniciado de maneira mais sistêmica apَs sua independência, que ocorreu em 1965, foi classificado em termos gerais como trabalho-intensivo na década de 1960; voltado para exportaçُes na década de 1970; competitivo em custos na década de 1980; e voltado para o desenvolvimento empreendedor na década de 1990, período no qual o país mais avançou na construção de complexidade econômica. A primeira fase de industrialização foi, como costuma ocorrer em países em desenvolvimento, baseada no uso da mão-de-obra barata como meio pragmático de solução dos graves problemas de desemprego que afetavam o país. A isso se seguiu a adoção de uma estratégia comum entre países asiáticos à época de adotar um modelo de industrialização voltado para exportações. Para atrair mais empresas multinacionais (EMNs), a ilha explorou sua localização comercial estratégica, investiu em infraestrutura física e numa força de trabalho cada vez mais qualificada. Assim, ao contrário da maioria dos países da região, como a Coreia do Sul, o país deixou de lado o desenvolvimento de empresas nacionais nas fases iniciais e não criou empresas locais, o que teria consequências profundas em termos do desenvolvimento de tecnologia nativa.
Na década de 1980, a industrialização estava estabelecida em setores avançados, com manufatura de componentes eletrônicos, engenharia e construção civil, logística e finanças com multinacionais. Depois que Singapura começou a se desenvolver economicamente, sua vantagem competitiva em custos diminuiu em termos comparativos e países como China, Indonésia e Tailândia começaram a oferecer custos operacionais mais atraentes. 
Por isto o país precisou novamente alterar sua estratégia de desenvolvimento na década de 1990, e passou a focar em empreendimentos locais. Para isso, o governo introduziu políticas industriais para maximizar o potencial de crescimento econômico por meio do desenvolvimento empreendedor. Investiu em pesquisa pْublica e incentivou o empreendedorismo das empresas do setor privado na conquista de vantagens competitivas de nicho na economia global, dominada por agentes maiores e oligopolistas. 
O governo de Singapura desempenhou um papel importante na diversificação industrial e na atualização tecnológica do país, contribuindo para o seu desenvolvimento econômico na segunda metade do século XX. A administração pública eficiente e a estabilidade política, garantidas pelo governo, atraíram investimentos estrangeiros, que foram fundamentais para o crescimento da economia. Além disso, o governo investiu na infraestrutura tecnológica e criou um ambiente favorável para investimentos estrangeiros em setores de alta tecnologia.
O papel do governo foi fundamental para o desenvolvimento econômico de Singapura, mesmo com o alto volume de capital internacional no país. O governo ofereceu incentivos para atrair capital estrangeiro e conseguir investidores, criando o Conselho de Desenvolvimento Econômico. A tecnocracia do país fez projeções estratégicas dos futuros rumos da economia internacional, canalizando os recursos internacionais para os melhores ramos. O governo de Singapura conduziu os rumos econômicos e industriais, estabelecendo que o único caminho para o desenvolvimento do país era via uma potente base exportadora para empresas multinacionais.
O governo de Singapura desenvolveu uma política de desenvolvimento tecnológico que contemplou mais de uma esfera. No primeiro estágio, o governo atraiu empresas transnacionais para o país e, em seguida, criou incentivos para que essas empresas realizassem pesquisa e desenvolvimento (P&D) na região.
O objetivo do governo era transformar Cingapura em um centro de excelência tecnológica em setores específicos, aumentando a competitividade nacional dos produtos produzidos nos setores industriais e de serviços. Para isso, o governo estabeleceu diversos centros de pesquisa e institutos voltados para a tecnologia da informação, eletrônica e biotecnologia. A boa gestão das contas públicas também teve um papel importante no desenvolvimento do país. A poupança gerada pelo gigantesco excedente das exportações foi reinvestida na infraestrutura social e física. Além disso, as empresas públicas do país foram envolvidas em setores de menor atratividade do capital estrangeiro, corrigindo a ineficiência do mercado, como no setor de habitação.
Além dessas medidas, o governo de Singapura reservou uma boa parcela das receitas públicas em um fundo de desenvolvimento governamental. Esse fundo foi usado para estabilizar a economia e financiar gastos públicos estratégicos, como educação e saúde. Apesar dos esforços do governo, Cingapura não chegou a desenvolver aptidões tecnológicas que levassem a inovar de modo expressivo. Mesmo sendo um dos países mais avançados em termos tecnológicos da Ásia, a maioria das patentes registradas no país são de empresas estrangeiras.
Em 1965, ano da independência, Singapura se encontrava em condições extremamente vulneráveis, com baixos indicadores em todos os setores: PIB per capita de $516, taxa de desemprego de 14%, e economia exclusivamente dependente de uma única atividade: porto comercial. Já em 2023, a situação é radicalmente outra: PIB per capita de $82,808, a taxa de desemprego baixou para 2,2% e conquistou competitividade econômica, tornando-se um centro de produtos manufaturados e serviços altamente especializados. Tudo isso foi conseguido graças a um primoroso sistema de planejamento integrado e sua implementação. 
Abaixo podemos ver a evolução do PIB de Singapura, com um crescimento muito alto, e com perspectivas futuras mais positivas ainda.
GRAFICO 1 - Evolução do PIB de Singapura 
FONTE - CEIC DATA
Muitos autores têm apresentado o caso de Singapura como sendo um caso de sucesso “puramente” movido pelo mercado: distorçُes mínimas de preços; abertura para o mercado externo; fluxos tecnolَgicos e de investimento; prudência fiscal e monetária ; elevada poupança e elevado investimento. Contudo, como afirmam muitos outros autores, Singapura é um exemplo perfeito de como o planejamento estatal e a intervenção do governo na economia podem criar vantagens competitivas nacionais por meio de política industrial seletiva. Assim, a análise de sua história evidencia e indica que as contradições entre essas explicaçُoes são meramente aparentes, uma vez que o Estado de Singapura agiu de maneira pragmática, adotando tanto medidas liberais como intervencionistas, mantendo-se fiel apenas ao seu projeto de desenvolvimento.
· CONCLUSÃO
O estudo aprofundado sobre o crescimento e desenvolvimento econômico do Japão e Singapura revela um conjunto complexo e interligado de estratégias, políticas e características distintivas que permitiram a ascensão dessas nações ao status de potências econômicas globais. Ambos os países enfrentaram desafios únicos, mas suas trajetórias mostram que, com abordagens inovadoras e adaptativas, é possível superar adversidades e alcançar progresso econômico notável.
O Japão, ao longo do século XX, utilizou com maestria o Modelo de Desenvolvimento Dirigido pelo Estado,implementando modernização e industrialização liderada pelo governo. Investimentos maciços em educação, treinamento de mão de obra e tecnologia foram fundamentais para o desenvolvimento de uma força de trabalho altamente qualificada e especializada. Além disso, o enfoque em setores-chave, como aço, automóveis e eletrônicos, impulsionou a industrialização e competitividade internacional, consolidando o Japão como referência global.
Singapura, por sua vez, adotou uma estratégia única baseada em atrair investimentos estrangeiros e focar em empreendimentos locais, impulsionando o desenvolvimento econômico através de uma forte base exportadora. Ao investir em pesquisa e desenvolvimento, tecnologia e infraestrutura, o governo de Singapura criou um ambiente propício para o investimento estrangeiro e o crescimento empreendedor, destacando-se como um centro de excelência tecnológica e um dos países mais desenvolvidos da atualidade.
Ambos os países também enfrentaram desafios sociais e econômicos, tais como conflitos laborais, questões demográficas e rivalidades comerciais. Contudo, o Japão e Singapura adotaram medidas eficazes para enfrentar essas adversidades. Reforms trabalhistas, políticas de cooperação diplomática, investimentos em infraestrutura e tecnologia, planejamento estratégico e cooperação setorial foram algumas das soluções adotadas para lidar com os obstáculos e garantir um desenvolvimento econômico sustentável.
Em última análise, o sucesso econômico do Japão e Singapura é um reflexo da habilidade de cada nação em equilibrar eficientemente uma variedade de estratégias e políticas, enquanto se adapta às mudanças globais e regionais. A trajetória desses países oferece lições valiosas para outras nações que buscam alcançar um desenvolvimento econômico sustentável, ressaltando a importância de uma abordagem flexível e estratégica, bem como a centralidade da inovação, educação e cooperação tanto a nível nacional quanto internacional. O estudo desses casos exemplares destaca a importância do papel do Estado, da visão estratégica e da adaptabilidade na construção de economias prósperas e competitivas.
· REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. CORREA RESTREPO, Francisco. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO JAPÃO: DO GÉNESE AO CHAMADO MILAGRE ECONÔMICO. Revista Facultad de Ciencias Económicas: Investigación y Reflexión, v. 25, n. 1, p. 57-73, 2017.
2. COSTA, Messias. O desenvolvimento educacional do Japão. In: Forum Educacional. 1985. p. 67-73.
3. COELI NETO, Nilo de Medina. A relação entre o aparato institucional, setor privado e desenvolvimento econômico: o caso do Japão. 1996. Tese de Doutorado.
4. BARRETO, Alisson; MIYATA, Hugo Hissashi; GROFF, Andréa Machado. Relações do Trabalho no Japão. 2010.
5. FREITAS, Taedes Ifran et al. Desenvolvimento econômico das nações: especificidades e características da Alemanha, Rússia, Japão, Coreia Do Sul, China e Brasil. 2014.