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ESPIRITO SANTO ADMINISTRAÇÃO ESPORTIVA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI 1 COMPETÊNCIAS DO GESTOR ESPORTIVO Fonte: www.cbtm.org.br/ A condução da Administração Esportiva pode variar entre países, de acordo com suas culturas ou percepções, ou seja, a Administração Esportiva do Brasil pode ser diferente, em alguns ou em vários aspectos, da Administração Esportiva dos EUA, do Canadá e da África. Essa área surgiu no Brasil por volta da década de 40. Um pedacinho da história da Administração Esportiva: 1906: aconteceu a primeira convenção nacional das Associações Cristãs de Moços (ACMs) brasileiras, envolvendo gestores das unidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Tais encontros se davam pelo objetivo de troca de experiências entre si e treinamentos, que por vezes contavam com os especialistas americanos. 1920: Criação do Instituto Técnico Continental pela Associação Cristã de Moços, com sede no Rio de Janeiro, Buenos Aires, Montevidéu. No Instituto eram formados técnicos em Educação Física e em Administração. Nesse mesmo ano os gestores passam a ser 2 denominados de “secretários gerais”, passando a ser formados no Uruguai e posteriormente em São Paulo. 1922: Participação da ACM nos Jogos Olímpicos Latino-Americanos, em tal evento a ACM e Comitê Olímpico Internacional se associam para cobrir a parte administrativa do evento. 1930 e 1940: Sob autoria de Jair Jordão Ramos, são publicados manuais no Exército Brasileiro sobre “Organização de Competições”, esses foram publicados até a década de 1970. Nos anos de 1940 outro livro de Jordão Ramos circulou no Exército, agora intitulado como “Deem Estádios ao Exército”, que apresentava informações sobre a manutenção das instalações esportivas como uma função administrativa básica. “O manual de Educação Física da Marinha Brasileira (sem autoria identificada) dos anos de 1940 seguia o do Exército, mas com adição de preceitos de organização de esportes por citação de publicações da Marinha dos EUA.” (DACOSTA, 2006, p. 1). 1941: Surge o Decreto Lei nº 3.199 de 1941, esse torna legítimo o esporte profissional e insere a organização e a prática do esporte amparado ao Conselho Nacional do Desporto (CND). “O entendimento de ‘organização’ neste caso referia-se à estrutura hierárquica das entidades esportivas de acordo com a filiação e jurisdição (nação, estado e município), definidas no ato legal” (DACOSTA, 2006, p. 1). Essa expressão, organização, foi incluída na disciplina de Administração Esportiva. A demanda de atuação do profissional de administração esportiva é bastante diversificada, diferenciando-se de acordo com a cultura, a organização e as políticas de cada país ou região. Segundo Parks & Zanger (1990), as áreas de atuação, nos Estados Unidos, se concentram no esporte universitário e escolar, no esporte profissional, na gestão de equipamentos esportivos, de programas recreativos, nas agências de esporte comunitário e de participação, em informação e marketing esportivo, no jornalismo esportivo, nos clubes, na indústria esportiva, nos centros de fitness, nas áreas de treinamento atlético e de medicina 3 esportiva, na área de atividades aquáticas e no campo da consultoria e empreendedorismo. Roche (2002) classifica as organizações esportivas na Espanha em quatro grandes grupos: as organizações desportivas públicas, as privadas sem fins lucrativos, as empresas de serviços esportivos e as sociedades anônimas desportivas. As organizações públicas são definidas como aquelas unidades, órgãos ou sociedades criadas pelas administrações públicas para desenvolver políticas públicas de desenvolvimento do esporte e de construção e gestão de complexos esportivos. As organizações privadas sem fins lucrativos – origem e base do esporte na maioria dos países europeus – são representadas por clubes esportivos, associações de clubes, ligas e federações esportivas. As empresas de serviços desportivos são orientadas pelo mercado e engloba a prestação de serviços de escolas desportivas, acampamentos, esportes ligados à natureza, administração de complexos desportivos, organização de espetáculos, eventos e competições esportivas, consultorias, assessorias e atividades de capacitação. No Brasil, Rezende (2000) apresenta, sob a ótica da organização como unidade social, dois grandes grupos: aquelas organizações que existem em função da atividade física, esportiva e de lazer – centros de treinamento e escolinhas; academias; clubes e associações exclusivamente esportivas; consultorias e assessorias; ligas, federações e confederações; fundações, instituições e comitês, entre outros – e aquelas que possuem setores voltados para a atividade física, desportiva e de lazer – prefeituras, governos estaduais, governo federal, clubes sociais, entidades representativas (SESC, SESI, sindicatos), hotéis, academias, shoppings, etc. Quanto à atuação profissional, no Brasil, Brunoro (1997) define as áreas de administração esportiva em: gerenciamento de clubes, gerenciamento esportivo geral (entidades públicas; privadas; escolas e universidades; federações, confederações e ligas; SESC, SENAC, SESI, ACM e área comunitária), supervisão de equipes, chefia de delegações e supervisor de projetos. 4 Böhme (1998) destaca as áreas de atuação do Bacharel em Esporte: supervisão e gerenciamento de equipes esportivas, gerenciamento de entidades de administração do esporte (clubes, ligas, federações e confederações), diferentes níveis de organização governamental (federal, estadual e municipal), organização e promoção de eventos esportivos em diferentes níveis, consultoria e/ou assessoria relativa à área. A formação de administradores esportivos tem sido foco de estudos e pesquisas nas últimas décadas no Brasil, fruto da exigência dos mercados de atuação e das demandas sociais. O profissional capacitado na área tem se convertido em uma necessidade em toda organização que queira administrar, gerar e ofertar corretamente seus recursos (Barhum, 2001). Rezende (2000) sugere que o profissional que atua em organização e administração no esporte deve dominar, de maneira geral, os assuntos administração e marketing, e, especificamente, temas de contabilidade, promoção de eventos, legislação esportiva e trabalhista, relações públicas, medicina do esporte, psicologia do esporte, turismo e lazer. Quanto aos setores de atuação profissional, o norteamento dado pela Constituição do país (Brasil, 1988) reforçou uma das principais visões que o desporto já assumia na sociedade – o desporto educacional – que se destacava nas ações das políticas públicas. Outra ação reforçada pelas novas diretrizes, já presente nas políticas públicas, era o apoio ao desporto de alto nível ou de rendimento. O setor de esportes e atividade física movimenta hoje cifras altíssimas, que muitas vezes superam às de alguns segmentos da economia brasileira. As atividades ligadas ao esporte movimentam no mundo cerca de US$ 250 bilhões por ano. Nos Estados Unidos, o setor supera em termos de PIB os setores de automóveis e de corretagem de títulos (POZZI, 1998). Já os profissionais técnicos desse setor, apesar da regulamentação da profissão (BRASIL, 1998), em muitos casos ainda são mal remunerados e se sujeitam a condições de trabalho cada vez piores. A falta de capacitação administrativa dos dirigentes também pode ser apontada como um dos maiores problemas do segmento esportivo, que muitas vezes interfere diretamente no desempenho de técnicos e esportistas. 5 Infelizmente, a Administração Esportiva ainda não acontece de forma profissional no Brasil. Os administradores geralmente são ex-professores ou técnicos que não têm obrigatoriamente a qualificação necessária para sua função ou administradoressem um conhecimento mais aprofundado sobre a área de Educação Física (SOUCI, 2002). A falta de material humano para atender a demanda que o mercado impõe (em quantidade, e principalmente qualidade) deve-se principalmente ao surgimento recente de cursos de graduação de curta duração em Administração Esportiva (BASTOS, 2003; CAPINUSSÚ, 2002). Já em diversos países europeus e nos Estados Unidos, há uma crescente tendência para o oferecimento cada vez maior de cursos de formação profissional específica, já em nível de graduação, normalmente voltados às ciências do esporte, na área de Gestão Esportiva (PIRES & LOPES, 2001; PITTS, 2001; MILLER, STOLDT; COMFORT, 2002). Como consequência deste quadro no Brasil, muitas organizações esportivas ainda estão alheias às “novas tendências” (que já não são tão novas...) da Administração e da Administração Esportiva. No entanto, existem segmentos nos quais a profissionalização parece estar crescendo. Estudo recente de Bastos et al. (2004) aponta a existência de administradores esportivos profissionais, com especialização na área, atuando na gerência esportiva de grandes clubes da cidade de São Paulo. A teoria de que o capital financeiro é o principal recurso das empresas (que ainda é a mais difundida nas organizações esportivas) já não pode ser mais aceita, pois inúmeras empresas com elevado nível de capital financeiro desapareceram. A nova realidade é que as empresas são constituídas por pessoas, que infelizmente nunca foram adequadamente utilizadas e motivadas (CHIAVENATO, 1996). Hoje em dia, assim como em qualquer outra organização, o fator humano tornou-se a célula vital das organizações esportivas. Os administradores devem passar a enxergar então que por trás dos produtos e serviços oferecidos por elas está o ativo mais importante, sem o qual nada se concretizaria: as pessoas! (PAULA, 1999). No caso das organizações esportivas, podemos considerar que o ativo mais importante é aquele composto pelos professores e técnicos. O mundo 6 corporativo vem passando por grandes transformações no tocante à gestão de pessoas nas organizações. Tais transformações podem ser caracterizadas como uma evolução natural que os sistemas e processos administrativos sofreram ao longo dos anos, devido ao grande avanço tecnológico ocorrido nas últimas décadas. Como as inovações tecnológicas podem ser facilmente copiadas, tornando as empresas e seus produtos muito similares entre si perante o consumidor, quem faz a diferença nos resultados dos negócios na atualidade são as pessoas. Por isso, em nenhum outro momento da história foi dada tamanha ênfase à importância da gestão de pessoas nas corporações, e essa ênfase tende a aumentar ainda mais com o decorrer do tempo (SANCHO & SANCHEZ, 1997). Em especial no setor de serviços, a influência do trabalho das pessoas no resultado do negócio e na captação de clientes é ainda mais perceptível. Na área de atividade física, em particular, atrair e reter talentos torna-se primordial em virtude da acirrada disputa por mercado na atualidade, além do fato do bom atendimento aos clientes ser o grande diferencial competitivo das organizações. Sob esta perspectiva torna-se fundamental uma discussão mais aprofundada sobre a gestão dos Recursos Humanos na Administração Esportiva, bem como de seus principais processos. Esta área dentro da Administração Esportiva é indicada como um dos sete papéis profissionais desempenhados pelo administrador em sua atuação nos segmentos da indústria do esporte, segundo Miller; Stoldt; Comfort (2002). Os autores definem que o profissional de gestão atua no campo dos Recursos Humanos principalmente em contratação e treinamento, e na promoção das relações de trabalho. 7 Fonte: marcelosazevedo.wordpress.com/ Uma possível falta de conhecimento sobre o que realmente compõe a Gestão do Esporte tem feito com que o tema seja inserido nos currículos dos cursos de Educação Física com diferentes denominações, contendo disciplinas como Administração Esportiva, Marketing Esportivo, Gestão do Esporte, Organização Esportiva, dentre outros, que pela falta de um conteúdo específico, tem sido, de maneira errada, encarados como sinônimos. Alguns autores defendem que Gestão e Administração do esporte é a mesma coisa, levando em conta que no dicionário as duas palavras são sinônimas. Por outro lado, autores da área administrativa argumentam que é diferente e usam dois exemplos para explicar: primeiro, que administração seria uma função determinativa nos altos escalões das empresas, enquanto gestão seria função executiva nos escalões inferiores; outro exemplo é que a administração pode ser realizada em órgãos públicos e sem fins lucrativos, enquanto a gestão só ocorre em empresas privadas e em indústrias. Mas a maioria dos autores é a favor de que se considere a mesma coisa, o fato é que quem trabalha nessas áreas tem como funções tomar decisões, planejar, organizar, liderar e controlar as atividades da empresa. 8 No Brasil, gestão e marketing esportivo têm sido tratados como sinônimos, quando na verdade são conceitos diferentes. O marketing corresponde a uma das áreas específicas da gestão. A gestão é a coordenação de atividades de produção e marketing, onde a produção é a transformação da matéria prima em produto final (foco no ambiente interno) e o marketing é a relação entre a troca produtor-consumidor (foco no ambiente externo). Gestão do esporte pode ser entendida como aplicação dos princípios de gestão em organizações esportivas (entidades sociais com objetivos claros, envolvidos na indústria do esporte). Conhecer a indústria esportiva (mercado onde os produtos oferecidos relacionam-se ao esporte) é fundamental para a definição de gestão do esporte. Pode-se entender que as organizações esportivas podem ser tanto clubes, academias ou escolas esportivas, quantas empresas que fabricam materiais esportivos, empresas de transmissões esportivas ou agências de assessoria a atletas. Assim, gestores esportivos devem estar preparados para atender e participar de qualquer uma dessas organizações. Outros autores contestam essa definição e separam organizações esportivas de organizações que utilizam produtos esportivos para se promover, sendo assim, para estes, apenas clubes, academias, escolas de esportes e entidades esportivas (ligas, confederações e federações) são organizações esportivas. As organizações esportivas têm como atividades a produção e o marketing de seus produtos; As organizações esportivas que utilizam produtos esportivos para se promover, têm como atividades a produção de roupas/calçados, transmissão de eventos para TV ou assessorar atletas. 9 GESTÃO ESPORTIVA Fonte: redeglobo.globo.com/ De uns anos para cá, empregou-se na mídia e espalhou-se na sociedade como um todo a importância de manter-se saudável e praticar atividades físicas, com o intuito de alcançar maior longevidade e prevenir diversas patologias, como as doenças crônico degenerativas, que crescem a cada dia entre a população mundial, se tornando uma epidemia dos tempos modernos. Decorrente disso, observamos uma crescente demanda populacional à prática de atividade física, e grande parte das pessoas buscam estúdios de treinamento personalizado, academias de ginástica e clubes esportivos, a fim de ter o acompanhamento e direcionamento de um educador físico. Diante desse quadro, o mercado exige um profissional preparado e capaz de gerir uma empresa do ramo esportivo e fitness. Porém, será que os profissionais da área da Educação Física possuem qualificações necessárias para atuar nessa vertente? http://gestaodesportiva.facha.edu.br/gestao-esportiva-competencias-e-qualificacoes-do-profissional-de-educacao-fisica/ 10 Conforme destacado por Schell (1995), os gestores têm umcompromisso com o crescimento da organização, e a maneira de transplantar a estrutura do gerenciamento para a criatividade do gestor se dá por meio de uma combinação de técnicas gerenciais e flexibilidade empresarial, o que significa uma vida inteira lidando com pessoas. Nos dias de hoje, separar a existência do ser humano do seu ambiente de trabalho é uma missão impossível. De um lado, o trabalho toma a maior parte do tempo da vida das pessoas, que dependem dele para sua subsistência e sucesso pessoal, já as organizações voltadas à prática esportiva dependem diretamente dessas mesmas pessoas para operarem, produzirem, atenderem seus clientes, prestarem serviços; enfim, depende essencialmente das pessoas para funcionarem e assim obterem seu estimado retorno. Os administradores dessas instituições que oferecem serviços voltados à prática do exercício físico e ao esporte geralmente são ex-professores ou técnicos que não possuem obrigatoriamente a qualificação necessária para sua função ou administradores sem um conhecimento mais aprofundado sobre a área de Educação Física, logo, nem sempre capacitados para conquistarem a meta desejada pela empresa. Portanto, a metodologia empregada para este fim é a de revisão bibliográfica, com o objetivo de verificar quais competências e qualificações o profissional de Educação Física deve ter para que atue na área da gestão esportiva ou fitness, a fim de atender ao mercado profissional que vem crescendo a cada dia. Com esta crescente exigência de mercado de trabalho do profissional de Educação Física e diante da necessidade de se identificar pessoas para a atuação como gestor nesta área, esta pesquisa pretende contribuir para a obtenção de um maior conhecimento sobre o que é necessário buscar para que o profissional tenha uma efetiva atuação e consequentemente, contribua para a obtenção dos resultados desejados pela empresa. Acreditamos que os profissionais atentos e preocupados que buscam conhecimentos sobre gestão empresarial, terão maiores e melhores oportunidades na sua área. 11 Gestão esportiva em geral Segundo Zouain e Pimenta (2003), a gestão esportiva existe há muitos séculos, desde os gregos, quando Herodes, Rei da Judéia, foi presidente honorário de jogos que atraíam multidões para ver os combates entre os gladiadores ou animais, quando uma cerimônia maravilhosa abria as competições, seguidos de disputas atléticas que serviam de entretenimento para milhares de pessoas. Nos dias de hoje o conceito de gestão esportiva incorporou-se ao conhecimento acadêmico e, com bases neste apontamento, vamos compreender o que é o termo gestão esportiva. Segundo Parkhouse (1996) apud Zouain e Pimenta (2003) Zouain e Pimenta (2003) ainda destacam a visão de Parkhouse (1996) sobre gestão esportiva, onde esta se compõe de dois elementos básicos: esportes e gestão. Conseguir as coisas executadas por meio das pessoas e com elas via planejamento, organização, direção e avaliação (controle), é a definição contemporânea de gestão esportiva. Podemos então compreender que a gestão esportiva inclui as funções de planejamento, organização, direção e controle no contexto de uma organização com o objetivo de prover atividades esportivas e de fitness, bem como produtos e serviços. Formação acadêmica do gestor esportivo Primeiramente, como conceito histórico, em 1985 o governo brasileiro se preocupou com a formação em administrador esportivo quando o Conselho Regional de Desportos montou uma comissão de Reformulação do Desporto integrada às áreas ligadas a Educação Física e ao desporto. Dentre outros assuntos e considerações, o documento indicava que uma das formas de desenvolvimento do esporte seria a preparação de recursos humanos capazes de estimular e coordenar programas dessa manifestação em comunidades. A área de Administração Esportiva, de acordo com Bastos (2004), envolve a aplicação dos conceitos e teorias gerais da Administração ao Esporte 12 e aos diferentes papéis que ele desempenha na sociedade contemporânea. Seu estudo engloba conhecimentos multidisciplinares, que passou a ser divulgado com maior consistência a partir dos anos sessenta do século passado. Através da grandeza que o esporte tem no contexto social dos dias de hoje, estão também envolvidos, de maneira geral, além dos conceitos e teorias da Administração, conhecimentos relativos à Economia, Marketing, Legislação e Política. Segundo Parkhouse (1996) citado por Zouain e Pimenta (2003), a carreira de gestor esportivo tem sido fundamentada em cursos de graduação e especialização, em dois pilares de sustentação: a Educação Física e a Administração. Neste contexto, diferentes universidades, faculdades, entidades profissionais, sindicatos, dentre outras passaram a oferecer de maneira significativamente crescente a disciplina Administração Esportiva e cursos de administração esportiva no nível de extensão universitária, de especialização, de curta duração, para públicos das áreas de educação física e esporte e não profissionais que atuam em organizações esportivas. (BASTOS, 2004) A especificidade das características que o esporte assume de acordo com Rezende (2000); Pires e Lopes (2001); Pitts (2001); Souci (2002), citado por Bastos (2004), conforme o setor social em que está inserido – privado, público ou terceiro setor – leva à necessidade da inclusão na formação do futuro profissional da administração esportiva de estudos e aprofundamentos em outras áreas como: medicina; psicologia e sociologia do esporte; comunicação, tecnologia, contabilidade, relações públicas, promoção de eventos, turismo e lazer, entre outras. Diante da identificação dessas necessidades os autores acima citados, discutiram as qualificações pessoais necessárias aos profissionais desta área e apresentaram a tabela abaixo inspirada por Le Boterf exposto por Fleury (2002). Assim, vemos que não basta ao profissional ter um conhecimento acadêmico, diversas experiências profissionais, habilidades ou capacidades específicas. Estes fatores são de extrema importância, juntamente com as 13 características pessoais para o sujeito e a organização em que irá atuar. Ou seja, a maneira que o indivíduo interage com a organização é de suma importância para uma definição de competência. O mercado de trabalho Segundo Vanderzwaag (1998) citado por Zouain e Pimenta (2003) para a área profissional as várias definições encontradas permitem observar as infinitas possibilidades de atuação profissional na gestão esportiva. Eles também identificaram uma variedade de situações esportivas, como programas de recreação esportiva comunitária, programas industriais esportivos, programas esportivos militares, patrocinadores corporativos (ex.: Torneio XYZ Internacional de Tênis), indústria de artigos esportivos e desenvolvimento de programas esportivos (Associações, Fundações e Institutos), agências sociais (ACM, SESC, SESI, SENAC, etc.), mídia esportiva e programas acadêmicos em gestão esportiva. Os campos de atuação do profissional gestor esportivo são variáveis, de acordo com a cultura, organização e as políticas de cada país ou região. No Brasil, seguindo o estudo elaborado por Rezende (2000), também podemos verificar os principais grupos de locais de atuação do gestor esportivo: nas organizações que existem em função da atividade física, esportiva e de lazer que, como exemplo, podemos apresentar os centros de treinamento e escolinhas; academias e clubes; ligas, federações e confederações, etc.; o segundo grupo de atuação compreende aquelas que possuem valores voltados para a atividade física, esportiva e de lazer – exemplo: prefeituras, governos estaduais, governo federal, clubes sociais, entidades representativas (SESC, SESI, sindicatos), hotéis, academias, shoppings, etc. A função de gestor esportivo,de acordo com Rezende (2000), exige profissional que tenha conhecimento sobre a área de gestão, mas também requer o conhecimento específico do setor ao qual está voltado, ou seja, como ele se organiza de maneira geral. Para tanto, é necessário que a pessoa que for ocupar essa vaga seja um profissional que entenda a estrutura da organização em relação à parte prática. 14 E quem melhor para entender desse componente especifico do que o professor que já tenha atuado dando aulas sobre a modalidade em questão na organização? Quanto ao cargo de coordenador/gestor, estas funções deveriam ser ocupadas por profissionais especializados também em Administração Esportiva. Competências profissionais De acordo com Feustel (2004), profissionais como engenheiros, educadores, médicos, etc., que conhecem suas respectivas especialidades, quando passam a empreender o seu próprio negócio, como na abertura de uma empresa ou ainda, por promoções de cargos à nível superior em empresas / instituições como supervisor, gerente, coordenador ou diretor, precisam transformar-se em gestores adquirindo novos conhecimentos e posturas que suas especialidades não lhes ensinaram. Eles necessitam, neste caso, adquirir novas competências, que podem ser definidas como “um conhecimento, habilidade, ou atitude necessária para desenvolver apropriadamente uma atividade para se alcançar o sucesso na vida profissional”. (BUTLER citado por ZOUAIN e PIMENTA, 2003, p. 12) ou ainda, “competência é a inteligência prática de situações que se apoia nos conhecimentos adquiridos e os transforma com tanto mais força quanto maior for à complexidade das situações”. (FLEURY, 2002, p. 22). Além da citação acima, Fleury (2002) ainda comenta que competência também é um saber agir responsável e reconhecido que implicam mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agregue valor econômico a organização e valor social do individuo. Os profissionais da área consideram que a combinação entre talento e organização tende a levar ao sucesso, à certeza da obtenção de resultados expressivos, desde que organização seja entendida como a sinergia entre trabalho em equipe, liderança e planejamento. De acordo com Vieira (2007), o profissional brasileiro esperado no Brasil é muito semelhante ao que já é encontrado em atividade em nosso país, 15 citando assim diversas referências, que identificam estas competências necessárias que buscamos neste estudo, e apresentamos a seguir: CONHECIMENTO ESPORTIVO Segundo Parks (1998) citado por Zouani e Pimenta (2003), as responsabilidades dos gestores esportivos podem ser divididas em quatro “clusters”: Atividades de Gerência geral; Gerência organizacional; Gestão de informações e; Ciências do esporte e exercício. Ou seja, uma das responsabilidades citadas refere-se ao conhecimento que o profissional deve ter sobre as ciências do esporte e as atividades em geral, claro que com ênfase em sua área de atuação, porém munindo-se de conhecimento nas demais vertentes. Vieira (2007) afirma que algumas escolas formam o educador físico conhecedor do esporte em todas as suas vertentes. Ou seja, munindo-se destes conhecimentos, o profissional torna-se apto a lidar com qualquer tema relacionado ao esporte e entender as atividades do negócio. Para o Dr. Eduardo Viana, segundo trecho citado por Zouain e Pimenta (2003) o gestor esportivo que tentar ingressar neste mercado sem conhecimento de esportes, ou mesmo sem ter vivenciado o ambiente, sofrerá a mais dura restrição, ou de acordo com suas palavras: “o novo profissional sofrerá dura resistência para ingressar no mercado, desde que já tenha algum vínculo com o ambiente esportivo, pois aquele que não o possui, não sofrerá resistências, na verdade, será repelido”. (p. 23) A ARTE DE NEGOCIAR Segundo Vieira (2007), a negociação racional não nasce com a pessoa, mas faz parte de um processo de aprendizagem que ocorre em sua formação moral e acadêmica. Zouain e Pimenta (2003) também enfatizam a importância da comunicação deste gestor, registrando que é a habilidade para interagir a 16 redação e o discurso de forma clara, concisa e de maneira a se alcançar um objetivo. A promoção de eventos esportivos é uma função que exige alto nível de comunicação, por exemplo, juntamente com seu poder de negociar. Planejamento estratégico O planejar consiste na antecipação e organização de ações futuras. Quando falamos de planejamento estratégico, falamos de um processo gerencial que diz respeito à formulação de objetivos para a seleção de programas de ação execução. Segundo Vieira (2007) deve-se respeitar premissas a fim de que o processo tenha coerência e sustentação. O profissional de educação física planeja as suas intervenções e propõem objetivos a serem alcançados, controlando se os resultados parciais desses objetivos estão sendo alcançados, fazendo os ajustes necessários. Sendo assim, ele está propício a adaptar as suas relações de planejamento para a capacitação do gestor. O ato de planejar é decidir antecipadamente o que se pretende fazer, antes da efetivação do trabalho, enxergando de forma clara o futuro, prevendo cada ação necessária, os meios envolvidos com o tempo de execução, para conseguir atingir os objetivos com sucesso (REZENDE, 2000). Ou seja, o planejamento estratégico trata-se do ato de saber identificar oportunidades futuras e possíveis ameaças, para si e para o cliente. Fonte: theplace.com.br/blog/1204-2/ 17 Tomada de decisão O processo de tomada de decisão, de acordo com Vieira (2007) resume- se em pensar na escolha mais coerente que irá proporcionar um retorno satisfatório à organização. Para isto, o indivíduo necessita obter informações completas sobre o problema, realizar análise das possibilidades da situação e criar critérios que sirvam como parâmetro durante o processo de tomada de decisão, a fim de se obter saldo favorável à organização. O processo decisório pode ser desenvolvido no educador, na medida em que a criatividade permeia suas ações. As etapas podem ser aprendidas e treinadas em qualquer indivíduo que tenha que lidar com solução de problemas. A complexidade das relações humanas no sistema gestor e sua implicação na tomada de decisões, fator este primordial da gerência, segundo Feustel (2004) torna a gestão uma arte. A menor decisão que é tomada, ainda que a nível individual, de grupo ou de instituição, afeta a qualidade de vida, obedecendo ao que se pode chamar de elementos de gerenciamento. Aprender a conviver com reclamações e críticas Os seres humanos, por si próprios, são por muitas vezes exigentes, até demais com ocorrências de seu dia a dia, porém temos que aprender a lidar com as reclamações e críticas que surgem dentro da organização. Muitas atitudes, apesar de bem fundamentadas, não irão agradar a todos, então o gestor esportivo deve saber conviver com as frequentes barreiras e críticas de seu trabalho e/ou atitudes (VIEIRA, 2007). Porém a maior crítica que deve ser vista com muita atenção é a que vem do consumidor de seus serviços. Conforme registros de Vieira (2007) o gestor deve sempre buscar atender sua clientela, ou seja, na medida do possível, o cliente “sempre tem razão”. Saber lidar com as reclamações é uma das competências mais exigidas no mundo dos negócios. 18 Conhecimentos legais e jurídicos básicos Vieira (2007) destaca que todo profissional deve conhecer a legislação que o cerca, a autonomia de exercer a profissão necessita disso. O conhecimento sobre a legislação especifica para empresas deve ser adquirido pelo educador físico, já que ele tem conhecimento sobre as leis esportivas e de incentivo fiscal, que o ajudará na próxima competência. É de extrema importância para qualquer profissional ter conhecimento básico das leis e normas pertinentesà sua área de atuação, para a própria segurança de seus clientes e de sua organização. Captação de recursos O profissional de educação física deve ter conhecimento do produto com que está trabalhando, assim como o público que o atinge. De acordo com Vieira (2007) para o profissional captar os recursos e deixar o financiador do projeto seguro das atividades físicas que serão aplicadas, o profissional tem que transmitir segurança e possuir técnicas para apresentação dos projetos, além de caminhar de acordo com as exigências de seu negociador. Estas técnicas para o profissional de educação física ficam mais fáceis, pois no decorrer do curso terão a possibilidade de se comunicar em público, faltando apenas algumas técnicas específicas que serão adquiridas com o passar de sua graduação. Atenção em motivar seus subordinados e funcionários A competência em questão é realizada pelo educador físico com facilidade, pois, diariamente seus funcionários são motivados a estarem fazendo o que lhes foi proposto, estimulando-os a melhorar em determinados momentos. Ou seja, a motivação começa a partir do estimulo que lhe é passado através de seu gestor. 19 Segundo Zouain e Pimenta (2003) as organizações precisam de gestores que estejam preparados a ajudar seus proprietários e/ou dirigentes e sua equipe principal (times) a formular e alcançar suas metas e objetivos. Essa competência é tão evidente nos educadores físicos que é comum estes ministrarem palestras a demais indivíduos, por ser uma característica da profissão em si. Supervisão de recursos humanos Nos dias de hoje, separar a existência do ser humano do seu ambiente de trabalho é uma missão impossível. De um lado, o trabalho toma a maior parte do tempo da vida das pessoas, que dependem dele para sua subsistência e sucesso pessoal. Já as organizações dependem diretamente dessas mesmas pessoas para operarem, produzirem, atenderem seus clientes, prestarem serviços; enfim, dependem essencialmente das pessoas para funcionarem e assim obterem seu estimado lucro! (CHIAVENATO, 1999). A Administração de Recursos Humanos, de acordo com Dessler (1998) citado por Chiavenato (1999a), é a função administrativa devotada à aquisição, treinamento, avaliação e remuneração de empregados. Todos os gerentes são, em certo sentido, gerentes de pessoas, porque todos estão envolvidos em atividades como recrutamento, entrevistas, seleção e treinamento. Vieira (2007) afirma que uma das funções mais difíceis é a supervisão de recursos humanos, a de saber delegar e cobrar funções, pois engloba uma gama de competências, como a liderança, por exemplo, onde cada um tem a sua função e depende do outro para a conquista dos objetivos do grupo. Ferreira, Reis e Pereira (1997) apud Feustel (2004) deixam clara a posição de liderança que se refere à qualidade de conduta das pessoas, guiando as suas atividades em esforço organizado. A liderança depende do indivíduo, de seus seguidores e das condições em que ocorre. Estas características de líder pressupõem o entendimento da organização, o corpo humano que a compõem e suas inter-relações de forma a poder estimular ações coordenadas. 20 Ou seja, o profissional deve conhecer as problemáticas de liderança e seus componentes de conhecimento, da autoridade, da motivação, da confiança e da incerteza. Deve ser capaz de construir e interagir equipes de trabalho e compreender a dinâmica de grupo. GESTÃO DE PESSOAS Fonte: www.timerh.com.br/ Nos dias de hoje, separar a existência do ser humano do seu ambiente de trabalho é uma missão impossível. De um lado, o trabalho toma a maior parte do tempo da vida das pessoas, que dependem dele para sua subsistência e sucesso pessoal. Já as organizações dependem diretamente dessas mesmas pessoas para operarem, produzirem, atenderem seus clientes, prestarem serviços; enfim, dependem essencialmente das pessoas para funcionarem e assim obterem seu estimado lucro! (CHIAVENATO, 1999a). Mesmo que as instalações físicas, os equipamentos de última geração e os recursos financeiros sejam necessários para as organizações, as pessoas - os RECURSOS HUMANOS - se tornaram a essência da empresa (MILKOVICH, 2000). Existe uma relação de mútua dependência, na qual os benefícios devem ser recíprocos! (CHIAVENATO, 1999a). 21 Assim, verifica-se nas organizações a tendência para reconhecer o empregado como parceiro, pois o funcionário é na verdade o parceiro mais íntimo da organização (GIL, 2001). Segundo Dessler (1998 apud CHIAVENATTO, 1999a) a Administração de Recursos Humanos, é a função administrativa devotada à aquisição, treinamento, avaliação e remuneração de empregados. Todos os gerentes são, em certo sentido, gerentes de pessoas, porque todos estão envolvidos em atividades como recrutamento, entrevistas, seleção e treinamento. Paula (1999), em sua obra sobre gerenciamento e administração de academias, considera importante o desenvolvimento de um programa centrado nas pessoas, para se atingir a qualidade total, com foco no aprimoramento do recrutamento e seleção de pessoal, no treinamento e no desenvolvimento dos funcionários. Tendo em vista que a Gestão de Pessoas é um tema que envolve muitos processos, estabeleceu-se como foco deste trabalho a análise dos processos de agregação (recrutamento e seleção) e de capacitação (treinamento e desenvolvimento). Essa opção deve-se ao fato de que ambos os processos são executados com muita frequência em nossa área, e principalmente por serem realizados de forma ainda amadora em termos da Administração Esportiva em muitas organizações do mercado esportivo. O PROCESSO DE AGREGAÇÃO As organizações estão sempre agregando novas pessoas para integrarem seus quadros, seja para substituírem funcionários que se desligaram, seja para ampliação da empresa em épocas de crescimento. Quando ocorre uma das situações acima são necessárias algumas ações, que podemos chamar de “Processo de Agregar Pessoas”. Nesse processo estão inseridas as ações de recrutamento e seleção. Enquanto o recrutamento é uma atividade de atração, divulgação e comunicação - portanto, uma atividade tipicamente positiva e convidativa - a seleção é, ao contrário, uma atividade de escolha, de classificação e decisão e, portanto restritiva (CHIAVENATO, 1999b). 22 RECRUTAMENTO Em muitas empresas do segmento esportivo, os funcionários admitidos não desempenham de maneira adequada e satisfatória o trabalho que lhes foi proposto, existindo uma rotatividade (“turn-over”) muito grande. A falta de um programa de recrutamento e seleção que maximize as probabilidades da adequação entre a pessoa e o trabalho constitui-se em um dos fatores principais para explicar este fato. Desta forma, o trabalho de recrutamento se torna cada vez mais importante, pois um processo falho acarreta uma demanda maior em outros processos, e consequentemente mais tempo e recursos gastos. As empresas escolhem as pessoas que desejam como funcionários da mesma forma que pessoas bem capacitadas escolhem as empresas nas quais querem trabalhar. Essas escolhas são limitadas por diversos fatores e circunstâncias, mas para que elas possam ocorrer é fundamental que as empresas divulguem essas oportunidades de trabalho. Este é o papel primordial do processo de recrutamento (CHIAVENATO, 1999b). Segundo Michaels et al. (2002), antigamente as empresas simplesmente preenchiam vagas existentes contratando profissionais sem as qualificações necessárias e consequentemente com custo mais baixo, utilizando-se das vias mais tradicionais de recrutamento e obedecendo aos limites salariais estipulados. Isto infelizmente ainda acontece com frequência na maioria das academias e clubes. Hoje a realidade exige novas formas de recrutamento, pois a concorrência por profissionais qualificados, que sejam o diferencialda empresa, aumentou. As empresas devem despertar nas pessoas o desejo de trabalhar nelas (BERNARDI, 2003). O processo de recrutamento precisa “atrair” profissionais bem capacitados, ou seja, a empresa precisa ser alvo de desejo por parte dos profissionais do mercado, deve atrair um contingente suficiente de candidatos para abastecer adequadamente o processo de seleção que será realizado na sequência (LUCENA, 1999). 23 Schermerhorn (1996 apud CHIAVENATO 1999b)2, afirma que o recrutamento é o processo de gerar um conjunto de candidatos para uma função específica. Cabe ao recrutamento anunciar ao mercado a disponibilidade do cargo, bem como suas exigências, a fim de atrair candidatos qualificados. O processo de recrutamento pode ser realizado basicamente em duas formas: Recrutamento Interno e Externo (MARRAS, 2002), as quais podem ser subdivididas em diversas maneiras, tais como: recrutamento dentro da empresa, por recomendações de outros funcionários, agências de emprego, associações profissionais, anúncios na Internet e jornais, “headhunters” (infelizmente pouco comum em nossa área), entre outros. Cabe ao profissional responsável pelo recrutamento definir qual a melhor forma de realizá-lo, levando em conta as políticas da empresa e principalmente o perfil do candidato (GIL, 2001). Recrutamento Interno Como o próprio nome já diz, o recrutamento interno busca candidatos à vaga existente, dentro da empresa. Para se obter sucesso neste processo, a integração do gestor com os demais setores bem como uma intensa e contínua comunicação entre as áreas são fatores fundamentais (TACHIZAWA et al., 2001). Também é necessário o conhecimento de diversos outros fatores, tais como: resultados dos testes de seleção quando o funcionário foi contratado, resultado das avaliações de desempenho, frequência e interesse nos programas de treinamento e desenvolvimento, comparação entre as descrições do cargo atual e cargo pretendido, condições de promoção e substituição do candidato pretendido, a fim de evitar resolver um problema mas criar outro, caso ele não tenha um substituto imediato (CHIAVENATO, 1999b). As vantagens do recrutamento interno, segundo Marras (2002), são: processo mais rápido e mais econômico, com maior índice de validade e segurança; além disto, o funcionário recrutado terá índices de motivação 24 maiores que os normais, capitalizando o investimento da organização em treinamento e desenvolvimento do pessoal, entre outros. Deve-se lembrar que o Recrutamento Interno bloqueia a entrada de novas ideias e funcionários com diferentes experiências de trabalho, facilitando assim a conservação de rotinas e métodos de trabalho, resultando muitas vezes em acomodação por parte dos funcionários atuais. Recrutamento Externo O recrutamento externo busca candidatos potenciais para preencher as vagas existentes, através de meios externos tal como cartazes, anúncios, agências de emprego, etc. (MARRAS, 2002). E configura-se como a forma mais rápida de se renovar a cultura organizacional e de se aumentar o “capital intelectual” das empresas. Segundo Chiavenato (1999b), as técnicas de recrutamento externo mais utilizadas são: consulta aos arquivos de candidatos dentro da empresa, indicação por funcionários da própria empresa, anúncios em jornais ou na portaria da empresa, contatos com sindicatos, associações de classe ou faculdades e diretórios acadêmicos, agências de recrutamento e viagens de recrutamento a outras localidades. Na maioria das vezes as técnicas são utilizadas conjugadamente, pois os fatores tempo e custo são fundamentais na escolha da técnica, ou seja, quanto maior for a limitação do tempo maior será o custo do processo de recrutamento (TACHIZAWA et al. 2001). Este tipo de recrutamento, além de ter um custo mais alto para a empresa pois requer aplicação de técnicas seletivas, pode gerar desmotivação e infidelidade por parte dos funcionários, devido ao oferecimento de oportunidades a estranhos. 25 SELEÇÃO A seleção é realizada através da obtenção e uso das informações a respeito dos candidatos recrutados, com o objetivo de escolher qual deles receberá a oferta de emprego (CHIAVENATO, 1999b). Segundo Robbins (2002), o objetivo da seleção é adequar características individuais e pessoais aos requisitos do trabalho. Para tanto são necessárias algumas ações como análise do trabalho, descrição e perfil do cargo, além da especificação do trabalho. Para uma melhor análise do perfil do cargo, é necessário identificar quais são as competências fundamentais para aquela posição. Competências são as habilidades, os conhecimentos e as características pessoais que distinguem os profissionais em termos de desempenho e valor agregado para uma organização (RABAGLIO, 2001). As competências dependem do tipo de função a ser exercida e do nível hierárquico ocupado na estrutura organizacional. Distinguem as pessoas de alto desempenho das de médio desempenho, focalizando as competências essenciais das funções, responsabilidades, metas, habilidades e conhecimentos dos funcionários, aquelas que são determinantes da eficácia profissional e que contribuirão para a empresa seguir em sua direção estratégica. Levando-se em consideração a natureza holística do ser humano, podemos afirmar que conhecimentos, habilidades e características pessoais irão se complementar, permitindo levantar um prognóstico mais sólido quanto ao valor que a pessoa irá agregar à organização e não simplesmente qual será sua capacidade de executar tarefas (GRAMIGNA, 2002). No setor de academias de grande porte, Capinussú e Costa (1999) enfatizam que certas organizações chegam a só admitir profissionais indicados por faculdades e universidades, com currículos fortes, ou realizando provas públicas para avaliar o conhecimento dos candidatos nas áreas de fisiologia, biomecânica e anatomia. Na opinião dos autores, o professor de academia deveria ser portador de curso de pós-graduação que fornecesse informações, além das áreas citadas, 26 sobre Nutrição, Relações Humanas, Psicologia Comportamental, Metodologia do Ensino em Academia e Administração de Academia, tendo ainda realizado estágios práticos. Quanto ao cargo de Supervisor / Coordenador, estas funções deveriam, segundo Capinussú e Costa (1999), estar presentes naquelas academias de grande porte e ser ocupadas por profissionais especializados também em Administração Esportiva. Dentre as atribuições a serem desempenhadas por estes profissionais, destacamos a que se refere à “…opinar sobre a contratação e dispensa de professores e funcionários da academia, bem como sobre fixação e aumento de salários” (CAPINUSSU; COSTA, 1999, p. 48). Na área de Administração Esportiva, encontramos abordagens diferenciadas, enfatizando o processo de seleção a partir de um perfil do candidato (MORALES, 1997; PAULA, 1999). Para se elaborar um processo seletivo mais eficaz, deve-se traçar um perfil profissional para cada função da empresa (PAULA, 1999). Resumidamente, este Perfil contém informações sobre o nível de responsabilidade da função, sobre as relações de subordinação e responsabilidade, resultados esperados, indicadores e fatores de sucesso, sumário e detalhamento das atribuições, requisitos pessoais, físicos e qualidades técnicas desejadas, entre outras. Técnicas de Seleção A maneira mais direta de obter informações sobre o comportamento de um candidato é a entrevista que é, em essência, o intercâmbio de informação de uma avaliação e o estabelecimento de uma decisão. É também o espaço de tempo que o entrevistador tem para obter a informação que procura, e os traços que ressaltam de seu entrevistado (CHIAVENATO, 1999b). Descobrir na entrevista o que um candidato tem feito no passado é a essência de uma entrevistaeficaz. Desde que o entrevistador saiba o que um candidato tem feito no trabalho, ele pode predizer comportamentos, habilidades e decisões que o candidato provavelmente repetirá no futuro. De posse dessa 27 informação, o(s) candidato(s) que apresentar(em) melhores condições de sucesso serão indicados para o cargo em questão. Segundo Michaels et al. (2002), para idealizar uma entrevista profunda, o entrevistador tem necessariamente que se encontrar emocionalmente estável para poder fixar toda sua atenção na entrevista. Uma das formas mais cotidianas de não entender o que o nosso interlocutor disse é “não escutar a resposta por estar pensando como estruturar a próxima pergunta”, o que é lamentável e custoso, já que o tempo da entrevista, de fato, é tempo produtivo. Por outro lado, ao estabelecer um perfil do cargo e ao estabelecer um sistema de seleção, se faz necessário sistematizar também a entrevista no contexto geral já observado. Existem alguns tipos de entrevista, as mais utilizadas são: individual, coletiva, não estruturada, estruturada e mista (RABAGLIO, 2001). Os testes também se apresentam como instrumento para se obter informações. Entrevista Coletiva Uma forma de entrevista coletiva é aquela na qual os candidatos se encontram com dois ou mais entrevistadores. Isto permite a todos os entrevistadores avaliarem o indivíduo sobre as mesmas perguntas e respostas. Já que os entrevistadores propendem mais para alcançar a mesma conclusão, isto melhora a confiabilidade. Uma outra grande variação é ter dois ou mais candidatos entrevistados em conjunto, por um ou mais entrevistadores. Isto poupa tempo, especialmente para os executivos muito ocupados, além de permitir que as respostas de diferentes candidatos sejam comparadas imediatamente (CHIAVENATO, 1999b). Entrevista Não-Estruturada: A entrevista não estruturada permite que o profissional responsável pela seleção crie perguntas à medida que a entrevista prossegue. O entrevistador 28 entra em tópicos à medida que estes vão surgindo, e o resultado final é mais configurado como uma conversação amistosa. Este método tem como desvantagem a falta de confiabilidade de uma entrevista estruturada, porque cada candidato é indagado sobre uma série de perguntas diferentes, podendo ainda omitir áreas-chave das perícias ou antecedentes do candidato (GIL, 2001). Entrevista Estruturada: A entrevista estruturada apoia-se em um conjunto de perguntas pré- determinadas. Estas perguntas são criadas antes que a entrevista comece e são formuladas a cada um dos candidatos. Esta abordagem melhora a confiabilidade do processo de entrevistar, mas não permite que o entrevistador faça o seguimento de respostas interessantes ou incomuns. Neste caso, o resultado final é uma entrevista que parece muito mecânica para todos os interessados. O formato rígido pode até transmitir desinteresse aos candidatos acostumados a entrevistas mais flexíveis (CHIAVENATO, 1999b). Entrevista mista: Na prática, tipicamente os entrevistadores usam uma mescla de perguntas estruturadas e não-estruturadas. As estruturadas proporcionam uma base de informação que permite comparação entre candidatos, mas as perguntas não estruturadas formam a entrevista mais do tipo conversação e dão oportunidade a maiores discernimentos quanto às diferenças entre os candidatos (RABAGLIO, 2001). Testes: 29 Segundo Gil (2001), o uso de testes, que atualmente é muito questionado, deve buscar resultados mais expressivos do que apenas um número percentual para as aptidões dos candidatos, obtidos através de instrumentos padronizados, não específicos à realidade da empresa. A tendência atual está voltada à utilização de instrumentos como dinâmica de grupo, prova situacionais e análise grafológica, que possibilitam a percepção da dinâmica do comportamento, dando a previsão de desempenho provável dos candidatos, valorizando a atuação da seleção à medida que acaba com laudos genéricos e descompromissados (CHIAVENATO, 1999b). A seleção de pessoal tem sido tópico de poucas publicações da área de Educação Física, em especial no que se refere á montagem e administração de academias. Bertevello (1996) após destacar a necessidade de se obter uma ficha de cadastro do candidato, sugere que seja realizada entrevista, sem especificar formalmente os tópicos a serem tratados, dando apenas recomendações gerais sobre o que deve ser tratado e como o selecionador deveria se comportar. Mais recentemente, Nogueira (2000), em capítulo sobre a busca e contratação de um funcionário de academia, sugere que seja realizada entrevista detalhada, indicando alguns tópicos a serem tratados: objetivos, linha de trabalho e posição da academia no mercado; apresentação da carga horária de trabalho; do salário; do regulamento interno e políticas de trabalho; além de ressaltar que se deve solicitar comprovação da capacitação apresentada no currículo e externamente obter-se informações de ex- empregadores e/ou junto ao mercado sobre o candidato. O PROCESSO DE CAPACITAÇÃO A preocupação com o desenvolvimento de programas voltados à capacitação de pessoal vem desde o início do século XX, graças à influência da Escola Clássica de Administração (GIL, 2001). 30 O processo de capacitação profissional une as necessidades das empresas com a necessidade e busca individual dos profissionais, e deve-se ter em mente dois fatores: 1. O cenário econômico mundial é extremamente dinâmico e as informações se atualizam com uma enorme velocidade, requerendo assim das empresas o desenvolvimento constante de seus funcionários; 2. As pessoas, por outro lado, devido a essa dinamicidade do mercado estão sempre em busca de oportunidades para melhorar suas capacidades e habilidades, aplicando os conhecimentos adquiridos de maneira mais precisa e eficaz. O processo de capacitação visa treinar e desenvolver constantemente os funcionários. Pode-se determinar apenas uma diferença entre esses dois processos, que é a questão do tempo. O treinamento visa resultados rápidos, é orientado para o presente, para a função atual do funcionário. Já o desenvolvimento focaliza ações no longo prazo, auxiliando o funcionário a desenvolver habilidades e capacidades para ocupar novos cargos e desempenhar novas funções. TREINAMENTO Pode-se definir treinamento como um meio para aperfeiçoar o desempenho do funcionário na organização, para integrá-lo ao grupo, para melhorar o desempenho de equipe. É uma forma dos funcionários contribuírem para os resultados do negócio e enriquecer o patrimônio humano das organizações. Através do treinamento o funcionário é capaz de assimilar novas informações, aprender e desenvolver habilidades, atitudes e comportamentos. Deve-se lembrar que funcionários competentes não permanecem assim para sempre. As habilidades se deterioram e podem tornar-se obsoletas. O treinamento pode incluir tudo, de ensinar leitura básica até cursos avançados, específicos de cada área (ROBBINS, 2002). 31 Com a mudança de informações e perfil requerido do profissional, torna- se necessário o treinamento e desenvolvimento interno do funcionário, para que o mesmo possa se adequar constantemente à empresa. Para Nogueira (2000), o treinamento direcionado à academia é o segundo passo no processo de se descobrir o potencial de cada funcionário de uma academia. Segundo o autor, o treinamento e o acompanhamento da execução da função ou serviço possibilitam ao proprietário, gerente ou coordenador a mensuração de como, quando, quanto e a quem delegar serviços ou funções. O autor destaca ainda a seguinte “máxima”: “Não existem funcionários ruins, ocorreu, isto sim, erro na contratação, no treinamento ou demora na substituição. . .” (NOGUEIRA, 2000). Apresentamosabaixo alguns dos pontos considerados essenciais ao desenvolvimento de um plano de treinamento: Fazer o levantamento das necessidades de treinamento na empresa, alinhando essas necessidades e os programas de treinamento à missão, visão, valores e objetivos da empresa; Definir os indicadores de medição dos treinamentos; Avaliar os treinamentos aplicados (reações, comportamentos identificados e resultados alcançados); Fornecer feedback aos funcionários com relação às melhorias a serem promovidas (levantadas nos treinamentos); Desenvolver um plano de desenvolvimento dos treinamentos que englobe diferentes tipos de treinamento para atender aos diversos perfis dos funcionários; Basear os treinamentos em competências necessárias para os cargos. DESENVOLVIMENTO O trabalho em equipe também pode ser considerado um dos mais importantes pontos de desenvolvimento dos “parceiros” nas organizações. Cada vez mais, as empresas utilizam-se do trabalho em equipe para alcançar 32 os resultados almejados, pois, por meio delas a produtividade aumenta. Os membros de uma equipe são constantemente estimulados a melhorar a maneira como se comunicam, expor suas ideias, relacionar-se melhor com todos ao seu redor e trabalhar seus diferenciais, ou seja, estão constantemente se desenvolvendo. Além disso, os talentos quando em equipe conseguem desenvolver mais algumas habilidades pessoais como: Empatia, Afeição, Afiliação, Reconhecimento Valorização pessoal. O trabalho em equipe permite a solução de problemas mais eficientemente e com maior clareza, mas não se pode pensar que a resolução de problemas é simplesmente uma mera aplicação de técnicas segundo um roteiro padronizado. Processos mentais e emocionais profundos são ativados, tanto no nível do indivíduo quanto no do grupo. São eles que determinam a qualidade dos resultados finais. As técnicas não fazem mais do que operacionalizá-los, enquanto o método garante a sua coerência global. Segundo Cohen & Fink (2003), o plano de carreira é um fator muito importante de atração e retenção de bons profissionais, pois com ele o funcionário sabe onde pode chegar na organização e o que fazer para tal. O papel da organização ao delinear esta trajetória é fundamental e determinante para o sucesso no desenvolvimento de um funcionário. Plano de carreira é a denominação dada à trajetória que um funcionário seguirá dentro da empresa de acordo com suas competências e desenvolvimento para chegar a um cargo de liderança ou de maior responsabilidade (BERNARDI, 2003). O plano de carreira, quando tem como objetivo a retenção de talentos, deve ser muito bem estruturado, levando em consideração o perfil dos cargos e as competências necessárias. Ou seja, o ideal é que o plano seja desenvolvido 33 com base no modelo de gestão por competências, pois o mapeamento das competências necessárias aos cargos facilita a identificação dos talentos com perfil mais adequado quando do surgimento de oportunidades (GRAMIGNA, 2002). Cabe à organização mostrar ao funcionário qual o cargo a ser ocupado, quais as competências necessárias ao cargo, as competências que ele ainda precisa aperfeiçoar e dar subsídios para que ele possa atingir esse objetivo. Muitas organizações investem em planos de carreira formais somente para jovens e promissores funcionários, ou seja, contratam recém-formados e os treinam para seu desenvolvimento dentro da empresa até que atinjam maturidade e adquiram conhecimento suficiente para assumir um cargo de gerência. Entretanto, é muito importante que todos os funcionários saibam das suas possibilidades de ascensão, para que se sintam motivados a realizar sempre o melhor trabalho, ao vislumbrarem um futuro promissor (CHIAVENATO, 1999a). Uma grande barreira à ascensão rápida de jovens dentro das organizações é a resistência de alguns funcionários mais velhos à promoção dos jovens a cargos de liderança, pois eles têm o desafio de ter que respeitar uma pessoa mais jovem e com menos experiência e que chega com muita vontade de aplicar inovações. Para que isso não atrapalhe o desenvolvimento do funcionário, a organização deve procurar ajudá-lo a trabalhar suas deficiências e ajudá-lo a desenvolver-se através de treinamentos. Nos grandes clubes e academias podem existir mais oportunidades de desenvolvimento de carreira, uma vez que a ascensão é possível também em outras filiais ou mesmo na corporação, caso não existam possibilidades onde o funcionário já atua. Os clubes ou academias menores devem procurar compensar essa diferença oferecendo oportunidades em áreas diferentes daquelas em que o profissional atua no momento. Para tanto, é importante procurar utilizar e incentivar a realização de cross-trainings (estágios por período determinado em outras áreas, fora do horário de trabalho) para que assim o funcionário possa saber onde gostaria de 34 atuar, ao mesmo tempo em que aprende e desenvolve outras habilidades (GRAMIGNA, 2002). Dessa forma, a organização também consegue avaliar se determinado funcionário tem as competências necessárias para mudar de área. Pode-se afirmar que oferecer oportunidades e apoiar ações de cunho social é fator muito importante nas organizações, pois através delas as pessoas se desenvolvem e sentem-se melhor por poderem contribuir para a melhoria social, ou seja, em um sentido amplo, sentem-se responsáveis por melhorias na comunidade, na cidade e até no meio ambiente em que estão inseridas. Segundo Bernardi (2003), o conceito de responsabilidade social ganhou força na década de 90 devido a algumas novas questões que surgiram: disseminação de organizações não-governamentais, atuação da mídia e necessidade de alinhamento às normas como a ISO 14.000, de Responsabilidade Ambiental, e ao novo selo de qualidade SA 8000 de Responsabilidade Social, que certifica empresas que não empregam ou exploram o trabalho infantil, investem na segurança e na saúde do trabalhador de forma eficaz, que não promovem discriminação e que realizam atividades e trabalhos voltados para a cidadania. Com a responsabilidade de inclusão e desenvolvimento social as organizações são capazes de transformar a sociedade (ROBBINS, 2002). A organização pode dar oportunidade para um professor se tornar coordenador, alcançar uma gerência e até ser o dono de seu próprio negócio. Ou seja, a organização pode e deve ir além do emprego, possibilitando a inclusão social do trabalhador por meio do aprendizado empresarial e humano. Isso deve acontecer, pois os líderes devem saber equilibrar o lucro – responsabilidade econômica – e a integração – responsabilidade social (BERNARDI, 2003). Além da responsabilidade social, outra importante forma de integrar os funcionários com a sociedade é melhorar sua qualidade de vida, tendo em vista que sua produtividade aumentará e assim a organização ganhará credibilidade com o mesmo por estar preocupando-se com ele. Se o funcionário percebe que determinada organização investe em sua qualidade de vida esse se torna um fator de atração e fidelização dos 35 funcionários. Promover qualidade de vida não significa apenas implementar ações que visem à melhoria da saúde física. Significa estruturar um conjunto de ações para melhoria do estilo de vida, da autoimagem, da motivação, da valorização pessoal, da estabilidade emocional, da saúde mental e do bem- estar (BERNARDI, 2003). Com ações direcionadas à qualidade de vida a organização consegue aumentar a produtividade, melhorar o clima organizacional, reduzir custos com absenteísmo e doenças. As pessoas tornam-se mais satisfeitas com o ambiente onde trabalham, pois percebem que a organização se preocupa também com elas e não somente com a obtenção de lucro (CHIAVENATO, 1999a; PAULA, 1999). A INDÚSTRIA DO ESPORTEE A ADMINISTRAÇÃO ESPORTIVA Fonte: eaesp.fgvsp.br/ De maneira geral, a sociedade brasileira tem se manifestado nas mais diferentes esferas, seja meio acadêmico ou por intermédio da mídia, sobre a necessidade prioritária de se profissionalizar o esporte, de administrá-lo com transparência. Para tal caminho de sucesso, há necessidade do aperfeiçoamento da administração esportiva do país. 36 Os profissionais da área consideram que a combinação entre talento e organização tende a conduzir esse processo, com a obtenção de resultados expressivos, desde que a organização seja entendida como a sinergia entre trabalho em equipe, liderança e planejamento. Em termos organizacionais e administrativos, a mudança no esporte é premente e a evolução em algumas modalidades esportivas tem se revelado fruto de gestão profissional, como por exemplo, o voleibol. Mas esta não é a regra. Antes de tudo, para o aprimoramento da área, é preciso que se conheça o esporte no Brasil, que se tenha a real avaliação da realidade nacional em termos das condições e carências existentes, com o desenvolvimento de estudos e pesquisas na área. Dessa forma, será possível a construção e a consolidação de práticas administrativas aplicadas aos diversos segmentos do desporto, respeitadas as características culturais e sociais de cada região. Em 1971, um diagnóstico realizado sobre Educação Física e Esporte no Brasil (Costa, 1971) já apontava a evolução da indústria do esporte em relação aos segmentos de materiais esportivos, de construções e instalações destinadas a Educação Física, Esportes e Recreação - entretanto, sem se referir a questões de gestão e administração esportiva. Uma área de estudo é composta por um corpo de conhecimento de literatura relativa a teoria e a prática; pelos profissionais que formam profissionais, por aqueles que desenvolvem pesquisa e os que atuam na prática; por organizações profissionais dedicadas ao avanço da área; pela formação profissional e pela credibilidade que ela conquista perante a sociedade (Pitts, 2001). A área de Administração Esportiva envolve a aplicação dos conceitos e teorias gerais da Administração ao Esporte e aos diferentes papéis que ele desempenha na sociedade contemporânea. Seu estudo engloba conhecimentos multidisciplinares, e passou a ser divulgado com maior consistência a partir dos anos sessenta do século passado, conforme destacam Pitts (2001) e Miller; Stoldt; Comfort in Hoffman; Harris (2002) em tópicos sobre a história da preparação profissional na área. http://universidadedofutebol.com.br/wp-content/uploads/2009/10/1,1246,INTERDISCIPLINARIDADE+TRANSDISCIPLINARIDADE+E+FUTEBOL1.aspx?p=5 37 Pela abrangência que o esporte tem no contexto social, estão também envolvidos, de maneira geral, além dos conceitos e teorias da Administração, conhecimentos relativos a Economia, Marketing, Legislação e Política. A partir da demanda do mercado e do desenvolvimento da área em outros países, foi realizado em 1978, na Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo, um curso de especialização em Administração Esportiva. Pires & Lopes (2001) citam o oferecimento do primeiro programa de Gestão do Desporto em Ohio – Estados Unidos, em 1968 e registram o início de processo semelhante em Portugal, da década de 1980. A partir desse momento, diferentes universidades, faculdades, entidades profissionais, sindicatos passaram a oferecer de maneira significativamente crescente a disciplina “Administração Esportiva” e cursos de administração esportiva - de extensão universitária, de especialização, de curta duração - para públicos das áreas de educação física e esporte e não profissionais que atuam em organizações esportivas. Verifica-se, então, que ações têm sido desenvolvidas no campo da formação do profissional para atuar na área. A simples frequência de “administradores esportivos” em cursos que repassem e discutam superficialmente os conceitos básicos da área, porém, não se mostra suficiente para a almejada mudança e a credibilidade da área no país. Em diversos países europeus e nos Estados Unidos, há uma crescente tendência para o oferecimento cada vez maior de cursos de formação profissional específica já em nível de graduação, normalmente voltados às ciências do esporte, como licenciatura específica para a área de Gestão Esportiva (Pires & Lopes, 2001; Pitts, 2001; Miller, Stoldt; Comfort, in Hoffman; Harris, 2002). A especificidade das características que o esporte assume, conforme o setor social em que está inserido - privado, público ou terceiro setor - leva à necessidade da inclusão na formação do futuro profissional da administração esportiva de estudo e aprofundamento em outras áreas, como medicina; psicologia e sociologia do esporte; comunicação, tecnologia, contabilidade, relações públicas, promoção de eventos, turismo e lazer, entre outras. (Rezende, 2000; Pires & Lopes, 2001; Pitts, 2001; Souci,2002). 38 Miller, Stoldt; Comfort, in Hoffman; Harris (2002), baseados no que preconiza a NASPE-NASSM (National Association of Sport and Physical Education – North American Society for Sport Management Joint Task Force) apresentam as dez áreas de competência que formam o conteúdo central da formação do graduado em administração do esporte: dimensão sociocultural, administração e liderança, ética na administração, marketing, comunicação, orçamento e finanças, aspectos legais, economia, governo e experiência em campo na administração do esporte. De modo paradoxo, Souci (2002) analisa a falta de preparo dos administradores em atividade física e esportiva, destacando que ainda persiste o mito de que o simples fato de um profissional ter antiguidade na instituição o credencia e até torna-se critério para a seleção de administradores, sem levar em conta a imensa diferença existente entre “fazer o trabalho” e “dirigir o trabalho”. Como consequência da participação nos cursos oferecidos a partir da década de 70, começaram a ser produzidas monografias, dissertações e teses de doutoramento ligadas ao tema, também em cursos de Administração, Marketing, Engenharia. Moraes et al. (1999) realizou levantamentos que analisaram os artigos publicados na Revista Paulista de Educação Física, entre 1986 e 1997, com a verificação que dos 155 artigos publicados entre 1986 e 1988, 5% eram relativos à área administrativa e, entre 1992 e 1997, 1%.; e Paulo et al. (1999) que realizou levantamento das 173 dissertações de mestrado outorgadas no Curso de Mestrado da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, e encontrou seis trabalhos na área de Administração Esportiva. Livros sobre Administração Esportiva contendo tópicos gerais da teoria da Administração aplicada ao Esporte, Liderança, Organização Esportiva (Costa, 1979; Capinussú, 1986, Capinussú, 1992; Brunoro & Afif, 1997; FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 1998; Aidar et al., 2000; Rezende, 2000) e de Eventos (Melo Neto, 1998b; Poit, 2004) vêm, cada vez mais, sendo editados no país. A área de Marketing Esportivo teve grande impulso com publicações recentes, como reflexo da nova visão dada pela legislação do país, que 39 incentivou a entrada de empresas investidoras nos clubes e entidades de administração do esporte e introduzindo os principais conceitos e diferentes abordagens da área (Melo Neto, 1995; Contursi, 1996; Melo Neto, 1997; Melo Neto, 1998a; Pozzi, 1998; Cardia, 2004). Refletindo o reconhecimento do Governo Federal em relação ao tema, destaca-se a publicação dos Anais do Seminário INDESP de Marketing Esportivo (1996) promovido pelo INDESP - Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto, em 1995, marco da área, com textos conclusivos das palestras proferidas por profissionais de diferentes segmentos do esporte nacional e de outros países. Iniciativas como a criação de gruposde estudo, institutos e publicações no campo da Legislação e do Direito Desportivo, das Políticas Públicas no esporte têm assumido cada vez mais papel de destaque e liderança no cenário nacional. Nas últimas décadas, a formação de administradores esportivos tem sido realizada no Brasil por conta de uma exigência dos mercados de atuação e das demandas sociais. O profissional capacitado na área tem se convertido em uma necessidade em toda organização que queira administrar, gerar e ofertar corretamente seus recursos. A própria caracterização da área se dá, conforme o país, de diferentes maneiras. Internacionalmente, há exemplos de caracterização da área que se dão através de um conceito amplo de esporte que engloba todos os segmentos da chamada Indústria do Esporte. Parks & Zanger (1990) definem as áreas de atuação, nos Estados Unidos: no esporte universitário e escolar, no esporte profissional, na gestão de equipamentos esportivos, de programas recreativos, nas agências de esporte comunitário e de participação, em informação e marketing esportivo, no jornalismo esportivo, nos clubes, na indústria esportiva, nos centros de fitness, nas áreas de treinamento atlético e de medicina esportiva, na área de atividades aquáticas e no campo da consultoria e empreendedorismo. Em terras espanholas, Roche (2002) classifica as organizações esportivas em quatro grandes grupos - organizações desportivas públicas, as privadas sem fins lucrativos, as empresas de serviços esportivos e as 40 sociedades anônimas desportivas -, destacando os setores de atuação: desenvolvimento de políticas públicas de esporte e construção e gestão de complexos esportivos; clubes esportivos, associações de clubes, ligas e federações esportivas; prestação de serviços de escolas desportivas, acampamentos, esportes ligados à natureza, administração de complexos desportivos, organização de espetáculos, eventos e competições esportivas, consultorias, assessorias e atividades de capacitação. Já Lopes (2003) descreve o sistema desportivo português como sendo composto pelos órgãos ligados ao estado; pelo associativismo desportivo, englobando federações, associações e clubes; pelo desporto escolar e militar e pelo setor privado. No Brasil, Rezende (2000) apresenta, sob a ótica da organização como unidade social, dois grandes grupos: aquelas organizações que existem em função da atividade física, esportiva e de lazer - centros de treinamento e escolinhas; academias; clubes e associações exclusivamente esportivas; consultorias e assessorias; ligas, federações e confederações; fundações, instituições e comitês, entre outros - e aquelas que possuem setores voltados para a atividade física, desportiva e de lazer - prefeituras, governos estaduais, governo federal, clubes sociais, entidades representativas (SESC, SESI, sindicatos), hotéis, academias, shoppings, etc. Brunoro (1997) define as áreas de administração esportiva relacionando- as com as organizações de atuação do profissional: gerenciamento de clubes, gerenciamento esportivo geral (entidades públicas; privadas; escolas e universidades; federações, confederações e ligas; SESC, SENAC, SESI, ACM e área comunitária), supervisão de equipes, chefia de delegações e supervisor de projetos. Böhme (1998) destaca as áreas de atuação específicas do Bacharel em Esporte1: supervisão e gerenciamento de equipes esportivas, gerenciamento de entidades de administração do esporte (clubes, ligas, federações e confederações), diferentes níveis de organização governamental (federal, estadual e municipal), organização e promoção de eventos esportivos em diferentes níveis, consultoria e/ou assessoria relativa à área. Quanto aos setores de atuação profissional, o norteamento dado pela Constituição do país (Oliveira, 1992) reforçou uma das principais visões que o 41 desporto já assumia na sociedade “o desporto educacional” que se destaca nas ações das políticas públicas e o desporto profissional. Outra ação reforçada pelas novas diretrizes, já presente nas políticas públicas, era o apoio ao desporto de alto nível ou de rendimento. No campo social, não há, segundo Linhales (1998) um reconhecimento do esporte como direito nas políticas públicas, por não existir ainda representação de interesses que defendam esses direitos junto ao Estado. A própria legislação e a política de destinação de recursos têm direcionado verbas significativas para a busca do resultado em Jogos Olímpicos, Pan- Americanos, (Brasil, 2001), em detrimento de investimentos em ações que promovam o acesso mais amplo ao esporte. A regionalização e municipalização das ações na área de esporte, como prevê a legislação esportiva atual (Brasil, 1998), tem se dado através principalmente da criação/ativação de Conselhos, Coordenadorias, Núcleos para se aglutinar recursos e coordenar ações, buscando-se otimizar o atendimento de grupos da população (Carta de Piracicaba, 2001; Pinto, 2003; Vaz, 2001; Zingoni, 2003). O país ainda se encontra em um estágio de discussão e definição de uma política nacional de esportes, dificultando assim o próprio norteamento da área e, consequentemente, da formação de profissional para atuar nela. Para desenvolver uma indústria de futebol não é suficiente ter apenas o mercado consumidor necessário e fornecer um produto/serviço que satisfaça a demanda desse mercado. É importante adotar uma estrutura administrativa que permita um comportamento administrativo profissional no futebol e sustente as operações. O maior obstáculo para o adoção de tal comportamento é caracterizado pela busca por interesses próprios em detrimento dos interesses do futebol, como um todo. REFERENCIAS AQUINO, C. P. Administração de Recursos Humanos. São Paulo, Editora Atlas, 1979. BASTOS, F. C. Administração Esportiva: área de estudo, pesquisa 42 e perspectivas no Brasil. Motrivivência, ano XV, n. 20-21, março-dezembro, 2003. BASTOS, Flávia C. CAMPOS DE ATUAÇÃO DO ADMINISTRADOR ESPORTIVO – PROPOSTA DE UM MODELO PARA O BRASIL. Grupo de Estudos e Pesquisa em Administração Esportiva-GEPAE Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brasil. BASTOS, F. Administração esportiva: área de estudo, pesquisa e perspectivas no Brasil. São Paulo, 2004. BASTOS, F. C.; BARHUM, R.; ALVES, M.; BASTOS, E.; MATTAR, M.; REZENDE, M.; MARDEGAN, M.; BELLANGERO, D. Perfil do Administrador Esportivo de Clubes de São Paulo/Brasil. In: 10º CONGRESSO DE CIÊNCIAS DO DESPORTO E DE EDUCAÇÃO FÍSICA DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, 2004, Porto. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, vol. 4, n. 2 (suplemento), set., 2004. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto, 2004. v. 4, p. 333-334. BERNARDI, M.A. A melhor empresa: como as organizações de sucesso atraem e mantêm quem faz a diferença. Rio de Janeiro, Editora Elsevier, 2003. BERTEVELLO, G. J. 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