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Adolescência Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência é um período da vida no qual acontecem diversas mudanças físicas, psicológicas e comportamentais, que começa aos 10 e vai até os 19 anos. No Brasil, para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ela começa aos 12 e vai até os 18 anos, provavelmente para coincidir com a maioridade penal brasileira. A primeira mudança observada, geralmente, diz respeito às mudanças físicas. É o período de um acelerado crescimento da estatura. O corpo do adolescente muda tão rápido e tão radicalmente que não dá tempo para que ele se acostume com as modificações. O mais comum é encontrarmos adolescentes com posturas “desengonçadas”, movimentos pouco harmoniosos dos braços e pernas, resultando num caminhar “fora do ritmo”. Ao lado desse crescimento, uma série de outras modificações orgânicas começa a acontecer, com características que variam entre meninas e meninos. Começam a aparecer os chamados caracteres sexuais secundários: nas meninas, o surgimento das mamas; nos meninos, o aumento dos testículos; em ambos, o desenvolvimento dos pelos pubianos. A partir dessas modificações orgânicas, começa uma fase chamada puberdade. A puberdade, então, não é o mesmo do que adolescência, mas ocorre dentro da adolescência, e marca, organicamente, o início da preparação do sujeito para a procriação. A idade do início da puberdade também varia em função do sexo: nos meninos, ocorre em torno dos 12 aos 14 anos; nas meninas, entre os 10 e os 13 anos. Nos meninos: modificação no timbre da voz; aumento da largura dos ombros; aparecimento de pelos no rosto, axilas e região pubiana; crescimento do pênis e testículos; e o surgimento da primeira ejaculação. Nas meninas: desenvolvimento das glândulas mamárias; aumento dos quadris; aparecimento de pelos na região pubiana; e o surgimento da primeira menstruação, chamada menarca. Essas características, apesar de serem universais e de acontecerem em todos os seres humanos, podem sofrer variações, sendo aceleradas, retardadas e até interrompidas, dependendo de fatores ambientais, estresse, má nutrição, atividade física intensa. Por exemplo, a desnutrição pode retardar a menarca em meninas e a prática de atividade física intensa, como o trabalho infantil, pode acelerar esse processo. São conhecidos os estudos que mostram o surgimento da menarca aos 9 anos de idade em meninas habitantes de regiões de clima quente e, por outro lado, aos 15 anos em meninas que habitam regiões de clima frio. Todas essas mudanças na anatomia e na fisiologia são, geralmente, acompanhadas de mudanças comportamentais. A puberdade, como marca orgânica, é identificada pelo mundo dos adultos como o momento em que o adolescente precisa começar a assumir outro papel social, o que implica novas responsabilidades e posturas frente à vida. Como essas mudanças ocorrem de uma forma muito rápida, o adolescente pode se sentir bastante confuso, cheio de dúvidas e ansiedades com relação ao que a sociedade espera dele. Essa pode ser, então, uma fase marcada por perdas: ele perde seu corpo infantil e tem que passar a conviver com um “corpo novo” que ele ainda não sabe manejar muito bem; perde dos pais a proteção e o amparo dispensados na infância; perde a identidade e o papel dentro da família na qual mantinha uma relação de dependência natural. Essas perdas, dependendo do suporte dado pela estrutura social e familiar, podem ser vivenciadas como uma grande crise, que os autores costumam chamar de “crise da adolescência”. Mauricio Knobel é um dos estudiosos dessa questão. Ele definiu uma síndrome normal da adolescência, como uma representação esquemática do fenômeno. A definição de uma “normal anormalidade”, para ele, não significa que está identificando algo patológico, mas serve somente para facilitar a compreensão desse período da vida. Vamos analisar agora as suas características psicológicas: Busca de si mesmo e da identidade – Todas as modificações corporais e as expectativas da sociedade com relação ao jovem levam-no a perceber que está vivenciando uma situação nova, a qual muitas vezes é vivida com ansiedade pelo desconhecimento de que rumo tomar. A experiência de ter um corpo em mutação leva a conflitos com a auto- imagem, fazendo com que ora sinta orgulho ora sinta vergonha do próprio corpo. Apesar de todas essas modificações, o adolescente precisa dar uma continuidade a sua personalidade, ou seja, precisa saber quem ele é, em que está se transformando, para assim reconstruir sua identidade. Os jovens passam horas e horas em frente ao espelho e comparam-se uns aos outros, buscando um padrão de normalidade e aceitação. Tais situações requerem momentos de isolamento e a assunção de identidades transitórias, ocasionais ou circunstanciais, no sentido de entender a sua intimidade e, assim, desenhar a sua própria identidade. Tendência grupal – A busca da identidade no adolescente faz com que ele recorra, como comportamento defensivo, à busca pela uniformidade, que pode lhe fornecer segurança e auto-estima. A partir daí surge o espírito de grupo. No grupo, há um processo massivo de identificação coletiva. Basta olhar para um grupo de adolescentes: as vestimentas são semelhantes, o modo de falar (às vezes, criando um “idioma” próprio), os lugares freqüentados, os interesses, tudo é absolutamente semelhante. Neste momento, o jovem se identifica muito mais com seu grupo do que com os familiares. No grupo, ele sente-se reforçado e apoiado em suas ansiedades. Daí porque a vivência grupal é de fundamental importância. O grupo se constitui na transição necessária entre o mundo familiar e o mundo adulto. Necessidade de intelectualizar e fantasiar – A realidade impõe ao adolescente a necessidade de renunciar ao corpo infantil e à proteção familiar. Isso pode ser vivido como uma experiência de enorme desamparo e impotência, que o obriga a recorrer ao pensamento para compensar essas perdas. O adolescente, então, tende a fugir para seu mundo interior, como uma forma de buscar um reajuste emocional, e nessa tentativa de encontro consigo mesmo começa a demonstrar preocupações de ordem ética, moral, social. Neste momento, pode desenvolver grandes “teorias” sobre o mundo, nas quais vai misturar justificativas concretas com idéias fantasiosas infantis. Crises religiosas – A conduta do jovem pode ir do total ateísmo até comportamentos religiosos tão engajados que podem cursar do misticismo até o fanatismo. Entre essas condutas, há uma grande variedade de posições religiosas e mudanças muito freqüentes, tudo isso concordando com as mudanças e flutuações do seu próprio mundo interno. A questão da religiosidade emerge como decorrência dos questionamentos do adolescente sobre sua identidade, em uma tentativa de responder questões como “quem sou”, “o que estou fazendo aqui”, “qual o meu papel na vida”. Deslocamento temporal – A vivência temporal dos adolescentes pode ser observada em situações que provavelmente já presenciamos: há um trabalho escolar para ser feito e ele se envolve em outro tipo de atividade; a mãe insiste com a urgência do tempo e ele responde que “dá tempo, o trabalho é pra... amanhã”. Outra situação seria uma festa marcada para um mês depois, para a qual ele insiste em providenciar uma roupa “porque está em cima da hora”. As urgências do adolescente são tão grandes quanto o “deixar para depois”. Predomina uma visão sincrética do mundo, ou seja, uma visão indiferenciada dos aspectos que constituem a realidade que se quer compreender, a percepção do todo sem, porém, se compreender os seus aspectos constitutivos. O adolescente não possui ainda as características adultas de delimitar e discriminar, o que só vai adquirindo lentamente ao longo do seu desenvolvimento. À medida que vai elaborando suas perdas, começa a surgir o conceito de tempo, que implica as noções de passado, presente e futuro. Evolução sexual do auto-erotismo à heterossexualidade –Observa-se no adolescente uma oscilação entre a atividade do tipo masturbatória e o começo dos exercícios genitais, que se inicia se forma basicamente exploratória até evoluir para a verdadeira genitalidade procriativa. Ao aceitar a sua genitalidade, o adolescente começa a busca por um par. É a fase das grandes e “definitivas” paixões, que representa todos os aspectos dos vínculos intensos e frágeis das relações interpessoais do adolescente. A curiosidade sexual pode se manifestar pelo interesse por revistas pornográficas e mesmo por experiências de ordem homossexual. O exibicionismo e o voyerismo se manifestam nas vestimentas, nas maquiagens das meninas, nas atitudes durante jogos e festas. Começam os contatos superficiais, depois profundos e mais íntimos, que preenchem a sua vida sexual. Atitude social reivindicatória – Tais atitudes muitas vezes se configuram em respostas às restrições impostas pela sociedade. Elas são a consolidação do que vem ocorrendo no pensamento. As intelectualizações e fantasias conscientes que se reforçam nos grupos fazem com que essas atitudes se transformem em pensamento ativo, em uma verdadeira ação social, política, cultural. Muitas vezes, as perdas são vividas como não sendo deles, mas da sociedade, dos seus pais, de sua família. O resultado é que descarregam toda sua revolta nessas figuras e podem vir a desenvolver atitudes destrutivas, quando as perdas não são bem elaboradas. Essa particular característica do adolescente é aproveitada, em muitos casos, por certas seitas e grupos políticos ou religiosos para arregimentar seguidores. Contradições sucessivas em todas as manifestações de conduta – A conduta do adolescente está dominada pela ação, sendo esta a sua forma mais típica de expressão. Mas, o adolescente não pode manter uma linha de conduta rígida, permanente, mesmo que tente. Ele tem uma personalidade, no dizer de Spiegel, “esponjosa”, ou seja, permeável, absorvente, que recebe e também projeta tudo enormemente. Isso faz com que não possa ter uma conduta linear, o que só é observado em situações patológicas, como no autismo e nas neuroses. Na verdade, é o mundo adulto que não suporta as contradições dos adolescentes, não aceita suas identidades transitórias e exige deles uma atitude adulta para a qual ainda não estão capacitados. Separação progressiva dos pais – Esta é uma das perdas fundamentais que o adolescente necessita assumir internamente e que pode gerar uma ansiedade muito intensa. Muitas vezes, os pais não aceitam e negam o crescimento dos filhos, dificultando mais ainda a resolução dessa ansiedade. Daí a importância da internalização por parte dos adolescentes de boas imagens parentais, com papéis bem definidos, sem ambigüidades ou encobrimentos. Algumas vezes, os pais transmitem uma imagem de personalidades pouco consistentes, forçando o adolescente a buscar identificação com outras imagens adultas, como ídolos do esporte ou do cinema, ou mesmo com figuras negativas que prejudicam mais ainda sua formação. Um exemplo disso é a organização criminosa do tráfico de drogas, que alicia jovens e até crianças para o mundo da criminalidade. Constantes flutuações do humor – Além das modificações hormonais que já influenciariam as modificações do humor, o sentimento básico de ansiedade e depressão acompanha a adolescência, sobretudo devido às perdas que sofre. A maneira como o adolescente as elaborar determinará a maior ou menor intensidade dessas flutuações. A realidade nem sempre satisfaz suas aspirações, resultando em sentimentos de frustração e solidão. Mas, da mesma maneira que se sente isolado do mundo, um gesto simples pode fazer com que se sinta a mais feliz das criaturas. Jovem Adulto De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei 8.069/1990), a fase jovem adulto tem início a partir dos 18 anos de idade, acompanhando o alcance da maioridade. Já a Política Nacional de Juventude - PNJ (Lei 11.129, 2005) atribui ao jovem adulto a faixa etária entre 25 e 29 anos. No campo da produção de conhecimento científico em Psicologia, Levinson (1977) situa a fase do jovem adulto entre 22 e 29 anos, enquanto para Erikson (1976), os jovens adultos encontram-se na faixa etária entre 20 e 35 anos. A fase jovem adulto é considerada um marco, pois coincide com a busca de diferenciação do self em relação à família de origem, definida como a capacidade para adquirir equilíbrio entre funcionamento emocional, intelectual, intimidade e autonomia nas relações (Bowen, 1978). A transição da adolescência para a vida adulta, que retrata a passagem pela fase jovem adulto, exige, portanto, a reorganização da família e principalmente da relação parental, pois os filhos buscam por maior autonomia enquanto os pais precisam, gradualmente, substituir o controle pelo apoio, de modo que a relação se torne menos hierárquica (Carter & McGoldrick, 1995). Essa transição tende a ser acompanhada por estresse e ansiedade entre todos os membros (Aylmer,1995) e as famílias acabam ativando de forma mais perceptível os seus mecanismos de funcionamento (Minuchin, 1982). Ao considerar a condição dos pais, essa fase do ciclo de vida é comumente conhecida pelo termo "ninho vazio", pois condiz com o período em que o último filho deixa a casa da família de origem até a aposentaria dos genitores (Carter & McGoldrick,1995). Quando se trata do desenvolvimento psicossocial do jovem adulto, Erikson (1976) propõe uma sucessão de oito estágios, sendo a adultez jovem correspondente ao sexto. Uma das principais características dessa fase, de acordo com o autor, é a luta pelo desenvolvimento da identidade, sendo que nesse processo é possível que ocorra certa confusão de papéis que envolvem a relação com a família e com os amigos, além do início das relações amorosas e dúvidas sobre a identidade profissional. Alguns indicativos de uma transição bem-sucedida para a vida adulta são a construção de novos relacionamentos íntimos (Erikson, 1976), a aquisição de habilidades para desenvolver algum trabalho e o planejamento da carreira (Aylmer, 1995). Especificamente em relação ao desenvolvimento de carreira, Aylmer (1995) afirma que o jovem adulto na faixa dos 20 anos que ainda não tenha realizado uma escolha profissional, caracterizada, na maioria das famílias de classe média e alta, pelo ingresso na universidade, tende a ficar vulnerável à dúvida sobre si, à diminuição da autoestima, à ansiedade e até mesmo a uma possível depressão. Portanto, a fase do jovem adulto é significativamente atravessada por questões relacionadas ao desenvolvimento de carreira. Até a metade do século XX, as pesquisas sobre carreira eram fundamentadas nas concepções clássicas da Orientação Profissional, dado que o desenvolvimento de carreira era entendido enquanto uma dimensão à parte do desenvolvimento global do sujeito (Bardagi, Lassance, & Teixeira, 2012). A premissa subjacente, em tais concepções, considerava que o processo de escolha profissional era uma tarefa típica e exclusiva da adolescência. A partir da segunda metade do século XX, os estudos passaram a adotar pressupostos das teorias desenvolvimentistas (Super, 1980, 1990). O desenvolvimento de carreira passou, então, a ser gradativamente concebido como um processo dinâmico, que não se reduz ao período da adolescência, mas ocorre ao longo de toda a vida (Bardagi et al., 2012). As contribuições de Super (1980, 1990) estão entre as mais influentes no domínio da orientação profissional (Bardagi et al., 2012). O autor desenvolveu sua abordagem por cerca de 40 anos e reformulou suas premissas ao longo desse período. Dentre os principais refinamentos da teoria, pode-se citar a ênfase no papel do autoconceito (definido como a percepção a respeito de si) no processo de formação e implementação de escolhas profissionais. A partir da elaboração da "teoria ao longo da vida e dos espaços de vida" (life-span, life-space theory), o desenvolvimento de carreirapassou a ser concebido por Super (1990) como um processo sucessivo de estágios de crescimento e aprendizagem, que se convertem no aprimoramento progressivo do repertório de comportamentos profissionais. Segundo o autor, a fase jovem adulto corresponde ao estágio de exploração, descrito como um momento de autoanálise, experimentação e desempenho de diferentes papéis pessoais e profissionais, que fundamentam o autoconceito do jovem adulto. Em consonância com essa mudança paradigmática referente ao entendimento da carreira, as questões contex-tuais, incluindo elementos socioculturais, tecnológicos e relacionais, passaram a adquirir maior importância tanto no campo teórico quanto na prática. Os pesquisadores também passaram a investigar a relação entre família e carreira de forma mais enfática, além de abarcarem todos os estágios do ciclo de vida. A ampliação do foco nas investigações tem apontado que independentemente da abordagem adotada, a família é considerada um dos fatores de maior influência no desenvolvimento de carreira (Whiston & Keller, 2004). Quando se trata da relação entre desenvolvimento de carreira e aspectos familiares durante a transição para a vida adulta, Whiston e Keller (2004) pontuam que, embora exista uma produção científica considerável, pouco esforço tem sido feito no sentido de agregar as pesquisas e fornecer uma base empírica satisfatória. Bardagi et al. (2012) assinalam que a exploração dessa relação é bem menos expressiva na realidade brasileira, se comparada à internacional. Dentre as poucas constatações oriundas de pesquisas empíricas internacionais, a influência positiva da família no desenvolvimento de carreira de jovens adultos tem sido associada ao apoio parental em relação aos estudos, ao fornecimento de informações a respeito das profissões e do mundo do trabalho e ao incentivo referente à aquisição de autonomia dos filhos. Por outro lado, baixos níveis de apoio e comunicação familiar, expectativas dos pais por alto desempenho profissional dos jovens adultos e pressão para a escolha de profissões determinadas pela família têm sido identificadas como fatores negativos no processo de escolha de carreira (Bardagi et al., 2012). Ao refletir sobre as vicissitudes do ciclo vital das famílias brasileiras, é fundamental pontuar que as constantes mudanças no contexto socioeconômico e cultural impactam na forma como as famílias têm vivenciado o ciclo de vida e, consequentemente, as questões de cunho profissional. São exemplos dessas mudanças a diminuição dos índices de natalidade, o aumento da expectativa de vida, a ampliação dos divórcios e re-casamentos e as novas configurações relativas aos papéis de gênero (Vieira & Rava, 2010). Especificamente na fase de transição para a vida adulta, a imprevisibilidade crescente do mercado de trabalho tem contribuído para o aumento da dificuldade de inserção profissional e certa instabilidade nas relações afetivas (Camarano, Mello, Pasinato, & Kanso, 2004). Essas mudanças vêm ampliando a permanência de jovens adultos na residência da família de origem, fenômeno designado como "ninho cheio" (Silveira & Wagner, 2006) ou "ge-ração-canguru" (Féres-Carneiro, Henriques, & Jablonski, 2004). Os jovens adultos contemporâneos experimentam certa ambivalência entre dependência e autonomia, fato que tem provocado o adiamento de compromissos, até então, típicos dessa fase do ciclo vital, a exemplo do casamento e da maternidade. Essas transformações geraram o conceito de "adultos emergentes", preconizado por Arnett (2006) e também conhecido pelo termo "prolongamento da adolescência" (Erikson, 1976). No contexto brasileiro, foi somente a partir de 2005 que as demandas de jovens adultos acima dos 18 anos entraram na agenda das políticas públicas, com a implantação da Política Nacional de Juventude - PNJ (Lei 11.129, 2005). No que diz respeito à produção de conhecimento científico com foco no público adulto jovem, Carlucci, Barbato e Carvalho (2011) pontuam que tem sido ampliada nas últimas décadas, devido ao aumento da complexidade do processo de transição para a vida adulta, gerado pela dificuldade de adequação entre as necessidades do mundo do trabalho e o processo de escolha profissional. O jovem adulto, por sua vez, passa por um momento de construção da identidade pessoal e profissional (Erikson, 1976), buscando explorar possíveis cenários de carreira e experimentando algumas escolhas iniciais (Super, 1990). Nesse momento de mudanças, os valores e mitos intrínsecos ao projeto de vida e de trabalho da família são transmitidos a eles, direta ou indiretamente, de forma transgeracional (Bowen, 1978). O sistema familiar pode atuar como uma instância fortalecedora na construção da identidade profissional, oferecendo apoio e incentivo à exploração profissional e às escolhas na carreira. Por outro lado, a família também pode potencializar a insegurança desses jovens adultos frente aos desafios pessoais e profissionais, quando não encontra recursos emocionais para enfrentar o processo de transição. De acordo com Kublikowski e Rodrigues (2016), as trajetórias de construção do jovem adulto na contemporaneidade são demarcadas pela multiplicidade de arranjos familiares, diante das possibilidades culturais e socioeconômicas de cada sistema familiar. O ninho cheio, ou seja, a permanência do jovem adulto na casa dos pais, não indica, por si só, se a família apresenta ou não um nível saudável de funcionamento, bem como se o impacto desse funcionamento no desenvolvimento de carreira dos filhos é positivo ou negativo. No que se refere à relação entre o ninho cheio e aspectos profissionais durante a fase dos jovens adultos, estudos internacionais têm confirmado a ausência de associação entre separação física e aspectos favoráveis ao desenvolvimento de carreira, como tomada de decisão profissional (Blustein, Walbridge, Friedlander, & Palladino, 1991) e maturidade de carreira (Lee & Hughey, 2001). Meia idade A classificação etária proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS), considera na meia-idade pessoas com 45 a 59 anos . Para Santos e Knijnik (2006, p.24) “a meia- idade tem sido pouco abordada nos estudos (...), os quais têm dado muita ênfase à terceira idade". Os anos da meia-idade são fundamentalmente caracterizados pela experiência psíquica interna de confronto com a morte (a morte de que a geração anterior se aproxima), e por um balanço e avaliação da vida vivida, aquela que a geração dos mais novos está agora a atravessar. rata-se de um período de desafio, cujo estudo é essencial, numa perspectiva de intervenção e prevenção, porque muito se pode ganhar para pôr a render nos últimos anos da vida. Entender a meia-idade permite não só ajudar a viver melhor este período, mas todos os anos futuros, pois há ainda suficiente capacidade de força e investimento na vida para que se possam operar reestruturações. Paralelamente, pela sua colocação de charneira entre duas gerações adultas, a intervenção no adulto de meia-idade terá naturalmente consequências na sua relação com a geração dos mais velhos, mas também com a geração dos filhos e netos. Os homens dessa idade também têm esse tipo de preocupação, mas admitem-na menos, provocando frustração nas esposas com a sua aparente indiferença frente às prescrições médicas. Finalmente, uma palavra sobre a especificidade da vivência feminina: a menopausa, enquanto marco biológico de finalização da atividade reprodutiva da mulher, limitação que o homem nunca irá experimentar, é o acontecimento mais marcante (e mais estudado) desta fase da vida da mulher. Do ponto de vista psicológico, ele foi abordado inicialmente pela psicanálise (desde Freud, se bem que muito pontualmente) e predominantemente por mulheres psicanalistas (para uma abordagem do tema na psicanálise, ver Laznik, 2003). No entanto, a menopausa só surgiu como área de estudo e investigação através do modelo médico que divulga a mensagem esperançosada Terapia de Reposição Hormonal no combate aos sintomas físicos e psicológicos, a ela frequentemente associados. Quando a psicologia (nomeadamente, a psicologia do desenvolvimento e os estudos femininos) e a antropologia se interessaram pelo estudo da menopausa, veio a perceber-se que o modo como ela é vivida em diferentes culturas e grupos sociais tem enormes diferenças, as quais influenciam a própria experiência dos sintomas físicos (inclusivamente os que decorrem das alterações hormonais) e psicológicos, experiência que, afinal, não é universal. Torna-se, então, evidente que a compreensão da vivência deste fenómeno biológico necessita integrar variáveis psicológicas, sociais e culturais. O estudo destas variáveis tem tido um enorme desenvolvimento na identificação das atitudes em relação à mulher (no seus papéis feminino e materno), nos seus hábitos de vida e saúde, na sua história relacional, nomeadamente na sua função muito particular de “gestora” e responsável das relações familiares e intergeracionais. Assim, todos os marcos associados ao relógio social, atrás referidos, têm sido estudados no modo particular como afetam a mulher (e.g., o síndroma do ninho vazio), tal como os que se associam ao relógio biológico – reveladores e sinalizadores do envelhecimento – que, nas culturas ocidentais, penaliza de modo diferente a mulher, em relação ao homem. Estes estudos têm permitido ultrapassar uma visão predominantemente negativa da mulher de meia-idade, ou seja, da mulher na menopausa ou que dela se aproxima (deprimida, irritável, emocionalmente instável, não atrativa sexualmente), para uma óptica compreensiva dos desafios que esta fase de vida vem colocar e que podem conter a promessa de novos investimentos e realizações nos muitos anos de vida ainda disponíveis. Jung (2003) notou existirem tendências entre homens e mulheres para uma troca de valores e papéis na segunda metade da vida: os primeiros tornam-se mais interessados em pessoas e mais emotivos; as segundas, tornam-se mais assertivas e decididas. Estudos mais recentes deram apoio à teoria de Jung (GUTMANN, 1977; NEUGARTEN, 1968). A verdade é que é na meia-idade muitas pessoas conseguem atingir o máximo em suas realizações. É uma época de tensão, com novos desafios no trabalho e novas responsabilidades, a partida dos filhos do lar, novos compromissos emocionais. A maioria das pessoas costuma ter reações previsíveis para situações consideradas tensas. Os homens de meia-idade são mais propensos a se estimularem por tensão considerável, diferentemente dos mais jovens, enquanto que estes e os velhos preferem o mínimo de tensão. Quanto às mulheres, a relação é diferente: as jovens preferem a tensão como estímulo e as de meia-idade sentem-se melhor quando o nível de tensão é baixo (FISKE, 1981). Entretanto, gostando ou não delas, sem tensão não há vida (SÉLYÉ, 1975). O problema mostra-se muito sério para as mulheres de meia-idade: pesquisas feitas nos EUA mostraram que 93% delas, quando atingidas por um nível mais alto de tensão, sentem-se esmagadas (FISKE, 1981). Tudo indica que a causa dessa situação está no fato de parte das mulheres viverem protegidas dentro do lar, menos expostas que os homens aos desafios da vida, dificultando-lhes o crescimento e a instrumentalização diante de dificuldades maiores. Quanto às que trabalham fora e têm jornada de trabalho dupla, além do serviço externo ficam com a incumbência de cuidar do lar, fazer as compras, preparar o jantar, organizar as tarefas para o dia seguinte e, muitas vezes, precisam ainda cuidar dos pais ou dos sogros idosos. Essa sobrecarga de trabalho funciona como uma tensão adicional. Muitas pessoas, sejam elas de classe média ou média baixa, são ansiosas acerca de si mesmas ou do futuro. As estimuladas não desistem facilmente diante dos obstáculos, não culpam a sociedade nem o destino pelos insucessos ocorridos. Têm muitos interesses e acabam por desenvolver estilos de vida autônomos. Entretanto, é possível que mesmo assim apresentem alguns problemas físicos, geralmente brandos. Mas, seja qual for o caso, apresentam muito mais otimismo do que muita gente saudável. No conjunto, são muito menos sujeitas a doenças do que as esmagadas. Há, contudo, fatores de ordem cultural que influenciam para que pessoas estimuladas sofram um decréscimo em sua satisfação: são os preconceitos contra o envelhecimento. Quanto à crise do lar vazio, muitas mulheres ao superá-la desenvolvem um modo de viver mais autônomo. Embora o esvaziamento do lar possa parecer a causa da angústia, ele frequentemente é o evento disparador de emoções acumuladas há muito tempo, resultantes do sentimento de estarem sendo tolhidas devido ao papel social imposto a seu sexo. Entre as pessoas de meia-idade, as que possuem padrões de vida mais autônomos podem encontrar expressão no trabalho, no lazer ou em ambas as coisas. Via de regra, até a idade de trinta ou quarenta anos, os indivíduos do sexo masculino demonstram satisfação com o que fazem. Depois dessa época, pode acontecer de viverem anos de tédio. Para o grupo dos assalariados, em meio a suas mais frequentes preocupações estão a hipótese da perda do emprego e o enfrentamento da inevitável fase da aposentadoria temas que se tornam insistentes em suas conversas. Embora digam que a causa desse tipo de preocupação está relacionada com o sustento material, o cerne da angústia pode ser outro: o que farão dali para frente para se manterem socialmente produtivos e eficazes? Entre as mulheres, existem indícios de diferenças de classe. Na medida em que buscam auto-expressão no trabalho ou em outro setor, as representantes das classes médias e inferiores se preocupam menos com a esfera interpessoal. Já as profissionais, do tipo bem-dotado, não apresentam mudança como essa. Muitas estavam se tornando conscientes de saídas mais satisfatórias. Se em um casal, homem e mulher tomam consciência de suas necessidades simultaneamente, a situação entre ambos pode ficar difícil. Algumas mulheres, não podendo dar expansão às suas necessidades fora do lar, tornam-se assertivas ali. Por isso, frente à ameaça da possível violação por parte do marido do seu território, ela se torna agressiva. No entanto, os diferentes caminhos seguidos pelo homem e pela mulher na meia-idade podem se tornar expressão de competência e de criatividade, proporcionando saídas para compromissos interpessoais. Nessa fase da existência, a maioria das pessoas sabe o que as frustra ou as desafia. O que traz prazer pode tanto estar presente na vida profissional quanto no lazer. São os sentimentos e as atitudes acerca das atividades usuais que revelam os verdadeiros interesses dos indivíduos, mostrando como a vida familiar e a profissional podem se complementar. Assim, há quem necessite de um lazer oposto ao de seu trabalho (por exemplo, quem trabalha o dia todo em um escritório procura praticar esportes mais movimentados), mas há quem prefira continuar fazendo, no lazer, algo muito parecido com o que faz no trabalho (por exemplo, trabalha na cozinha de um restaurante e sente muito prazer em convidar pessoas para almoçar em sua casa nos fins de semana). A ampliação da expectativa de vida também está fazendo com que as pessoas da meia- idade revejam seus valores e busquem alternativas para suas vidas futuras. Vida Adulta Tardia O envelhecimento é definido como um conjunto de transformações que ocorrem com o avançar da idade. É um processo inverso no desenvolvimento humano. Enquanto que na infância é evolução, na senescência é involução. O declínio das capacidades funcionais e das aptidões inicia-se na fase adulta e se precipita no envelhecer. De acordo com Souza (1998) o envelhecimento se caracteriza por algumas perdas das capacidades fisiológicas dos órgãos, dos sistemas e de adaptação a certas situações de estresse. Tal fenômeno é universal, progressivo, na maioria das vezes irreversível e resultará num aumento exponencialda mortalidade com a idade, bem como mais probabilidade de doenças. No entanto, a ocorrência de uma alimentação balanceada, a prática regular de exercícios físicos, o viver em um ambiente saudável, além dos progressos da medicina, têm levado a subverter este conceito e aumentar a longevidade. Muitos dos problemas que eram considerados elementos inevitáveis da idade avançada, agora são vistos como parte do processo de envelhecer, resultantes do estilo de vida ou de patologias. De acordo com Papalia (2010) o envelhecimento primário é um processo gradual e inevitável de deterioração física que começa cedo na vida e continua ao longo dos anos, não importa o que as pessoas façam para evitá-lo. Ocorre de forma semelhante nos indivíduos da mesma espécie, de forma gradual e previsível. O sujeito está dependente http://producao.virtual.ufpb.br/books/edusantana/fundamentos-psicologicos-da-educacao-livro/livro/livro.chunked/ch09.html#SOUZA98 http://producao.virtual.ufpb.br/books/edusantana/fundamentos-psicologicos-da-educacao-livro/livro/livro.chunked/ch09.html#PAPALIA10 da influência de vários fatores determinantes para o envelhecimento, como estilo de vida, alimentação educação e posição social, embora as suas causas sejam distintas. O envelhecimento secundário é o envelhecimento resultante das interações das influências externas, e é variável entre indivíduos em meios diferentes. É resultante de doenças, abusos e maus hábitos de uma pessoa, fatores que em geral podem ser controlados. Saúde e longevidade estão intimamente relacionadas à educação e outros aspectos do status socioeconômicos. Alguns estudiosos classificam os indivíduos idosos, situando- os em categorias funcionais, que são: meia-idade; velhice; velhice avançada; e velhice muito avançada. Porém, segundo Papalia (2010), a classificação mais significativa é por idade funcional, que é a capacidade de uma pessoa interagir em um ambiente físico e social em comparação com outros da mesma idade cronológica. A diferença individual determina como cada ser humano irá envelhecer. Entretanto variáveis como sexo, herança genética e estilo de vida contribuirão determinando entre homens e mulheres as diferenças nos ritmos de envelhecimento que cada um apresentará. Segundo, ainda, Shephard (2003), a categorização funcional do idoso não depende apenas da idade, mas também de sexo, estilo de vida, saúde, fatores sócio-econômicos e influências constitucionais, estando provado, assim, que não há homogeneidade na população idosa. A idade funcional está estreitamente ligada à idade subjetiva do indivíduo. Várias áreas de pesquisa tem se debruçado sobre o estudo do envelhecimento, como a Gerontologia e a Geriatria. A expectativa de vida aumentou pragmaticamente desde 1900. Pessoas brancas tendem a ter mais longevidade de que pessoas negras, e as mulheres mais que os homens; por isso, o número de mulheres mais velhas ultrapassa o de homens mais velhos em uma proporção de três para dois. As taxas de mortalidade têm diminuído, doenças cardíacas, câncer e derrame são as três principais causas de morte para pessoas com mais de 65 anos. A senescência período do ciclo de vida marcado por mudanças físicas associadas ao envelhecimento começa em idades variadas para as diferentes pessoas. As teorias de envelhecimento biológico enquadram-se em duas categorias: teorias de programação genética, sugeridas pelo limite hayflick, e teorias de taxas variáveis, (ou teorias de erro), como aquelas que apontam para os efeitos dos radicais livres e da autoimunidade. As curvas de sobrevivência apoiam a ideia de um limite definido para o ciclo de prolongamento de vida através de manipulação genética ou de restrição calórica, alguns teóricos contestam essa ideia. As mudanças no sistema e nos órgãos corporais com a idade são altamente variáveis e podem ser resultado de doenças, o que, por sua vez, é influenciado pelo estilo de vida. As mudanças físicas comuns incluem perda de coloração, de textura e de elasticidade da pele, o branqueamento dos cabelos diminuição da estatura, comprometimento ósseo, tendência a dormir menos. A maioria dos sistemas corporais costuma continuar funcionando bem, mas o coração torna-se mais suscetível a doença a capacidade de reserva do coração e de outros órgãos diminui. Embora o cérebro mude com a idade, as mudanças variam consideravelmente, elas incluem perda ou redução das células nervosas e um retardo geral das respostas. O cérebro também parece ser capaz de produzir novos neurônios e formar novas redes neurais no decorrer da vida. Problemas visuais e auditivos pode prejudicar a vida cotidiana, mas, muitas vezes podem ser corrigidos. Transtornos visuais comuns são: http://producao.virtual.ufpb.br/books/edusantana/fundamentos-psicologicos-da-educacao-livro/livro/livro.chunked/ch09.html#PAPALIA10 http://producao.virtual.ufpb.br/books/edusantana/fundamentos-psicologicos-da-educacao-livro/livro/livro.chunked/ch09.html#SHEPHARD03 catarata, e degeneração relacionada a idade, perdas no paladar e no olfato podem causar má nutrição. Com atividades físicas é possível melhorar a força muscular, o equelibrio e o tempo de reação. Muitos idosos são sexualmente ativos, embora a frequência e a intensidade da experiência sexual geralmente sejam menores do que para adultos jovens. Grande parte das pessoas mais velhas principalmente aquelas que vivem uma rotina e um estilo de vida saudável tem uma saúde estável, é fato também que a grande maioria das pessoas mais velhas tem doenças crônicas, principalmente artrite, essa geralmente não limitam outras atividades que usam a cognição ou o funcionamento de outros órgãos vitais, não interferindo de forma tão decisiva na vida cotidiana, para isso se faz necessário exercícios e uma dieta balanceada para influenciar positivamente sobre a saúde, a periodente que é a perda de dentes, pode afetar seriamente a alimentação e consequentemente a nutrição dos idosos. Existem transtornos mentais reversíveis e irreversíveis que acometem os idosos, lembrando que a maioria das pessoas mais velhas possui boa saúde mental. As doenças ou transtornos reversíveis são: depressão, alcoolismo entre outras doenças incluindo algumas formas de demência, e são reversíveis porque podem ser curadas através de um tratamento adequado. As doenças irreversíveis como: o mal de Alzheimer, mal de Parkinson ou demência de infarto múltiplo podem apenas serem amenizadas através de medicação adequada mas não há cura. Por isso são irreversíveis. O mal de Alzheimer é mais prevalecente com a idade, é caracterizado pela presença de Emaranhados Neurofibrilares e de Placa Amiloide no cérebro, pesquisas apontam fatores genéticos para este mal, mas suas causas ainda não foram definitivamente estabelecidas. Para que esse processo de deterioração possa ser retardado terapias comportamentais e medicamentosas se fazem necessárias. É por meio da cognição que os seres humanos absolvem os conhecimentos, e que contribui para o desenvolvimento intelectual dos indivíduos, as habilidades cognitivas estão diretamente ligadas a fatores diversos como a linguagem, a percepção, o pensamento, a memória, atenção e o raciocínio dentre outro. Em pessoas mais jovens, os processos cognitivos acontecem com maior fluidez e isso se deve a vários fatores principalmente, ao vigor da juventude. Nas primeiras fases do desenvolvimento humano, fatores interligados a cognição, proporciona ao individuo maior agilidade tanto no que diz respeito aos aspectos psicoemocional quanto, aos físico-biológicos. Quando avaliado o nível cognitivo do sujeito que se encontra na última fase do desenvolvimento humano, fica evidente o seu declínio, principalmente nos aspectos ligados a atenção e a memória, influenciando o rendimento escolar, pois, os comprometimentos ocasionados pelas suas diminuições interferem diretamente no processo de aquisição de novos conhecimentos. Tal problemática se acentua atravésde comportamentos que contribui negativamente para o bom desempenho da cognição da pessoa idosa como, distanciamento do convívio social e familiar, depressão, estresse, o uso indevido de medicamentos e os problemas de ordem emocional, nutricional. Tendo em vista o comprometimento intelectual do idoso, faz-se necessárias sugestões de atividades onde possam ser trabalhadas as habilidades perceptivas e de memorização destes indivíduos. Estudos comprovam que estímulos diretivos e adequados têm demonstrado resultados positivos com o sujeito aprendente da terceira idade fazendo com que estes não só recupere competências cognitivas perdidas, mas até pra superar seus limites anteriores (Papalia, 2010). http://producao.virtual.ufpb.br/books/edusantana/fundamentos-psicologicos-da-educacao-livro/livro/livro.chunked/ch09.html#PAPALIA10 Através de inúmeras pesquisas científicas pode-se perceber a complexidade do processo intelectual do ser humano. Papalia (2010) em seu livro “desenvolvimento humano” faz distinção entre habilidades (inteligência) fluida e cristalizada: A habilidade fluida depende muito da condição neurológica do sujeito aprendente enquanto que a habilidade cristalizada depende dos conhecimentos acumulados durante toda a vida do individuo. Esses dois tipos de inteligências seguem padrões diferentes. No padrão clássico de envelhecimento, entretanto, a tendência tanto na pontuação do desempenho como no verbal é de queda ao longo da maior parte da vida adulta; a diferença embora substancial é de grau (PAPALIA, 2010). A referida pesquisa mostra que quando comparada a inteligência fluida com a cristalizada, esta se apresenta muito mais encorajadora, pois, tal habilidade cognitiva mesmo com o passar do tempo tende a se aperfeiçoar por um período maior da vida do adulto idoso, independente do declínio que ocorre com a inteligência fluida. Diante das limitações psicológicas, físicas e neurológicas pelas quais passam a pessoa idosa, é importante uma melhor compreensão de seu ritmo, habilidades cognitivas e fragilidades características deste estágio do desenvolvimento humano, para que assim, possa ser feito intervenções diretivas e com objetividade tornando a pessoa idosa integrada dentro do processo de aprendizagem, não apenas no ambiente escolar, como também, em diferentes contextualizações socioculturais. É um estágio de desenvolvimento em que as pessoas reavaliam suas vidas, fecham situações deixadas em aberto e decidem como melhor canalizar suas energias e passar seus dias ou anos restantes. Alguns querem deixar aos descendentes ou ao mundo suas experiências ou corroborar o significado de suas vidas. Outros querem apenas curtir seus passatempos favoritos ou fazer coisas que não fizeram quando jovens. Morte As perdas vividas na velhice estão relacionadas à morte real de amigos e companheiros, ao corpo, ao fim das relações de trabalho, ao relacionamento social e familiar. Tais perdas perpassam tanto a dimensão do físico, em sua concretude, como os universos profissional, social e familiar. São vivenciadas, muitas vezes, concomitantemente. Carvalho & Coelho sustentam que uma implicação do envelhecimento é o enfrentamento de sucessivas perdas reais e simbólicas. É possível, também, a constatação de que o enfrentamento de uma perda pode acelerar e potencializar a vivência de outras perdas. O fenômeno da morte demonstra, portanto, a grande e imponente força da natureza sobre os homens e expõe os limites da condição humana. França (2006) afirmou que há duas formas básicas de mudanças que envolvem a fase de vida da velhice: a primeira, de maneira consciente e tranquila, reconhecendo o que há de importante nessa etapa de vida para desfrutá-la da melhor maneira, mesmo com limitações, surgindo imagens mais positivas da velhice e do envelhecimento; a segunda, com grande intensidade, quando associada à doença e incapacidade, quando os idosos tendem a representar imagens negativas da velhice. Tudo depende da relação que a pessoa estabelece com sua própria velhice. Soares, Silva, Rosa, Galvão e Ribeiro (2009), entrevistando idosos institucionalizados sobre sua compreensão da velhice, obtiveram respostas que apontavam para as formas básicas propostas por França (2013): uma maneira intensa e complicada (fase ruim ou triste); e outra, a tranquila (processo natural). Para os idosos, a incapacidade para realizar tarefas os entristece por estarem relacionadas à inutilidade. Para muitos, velhice era sinônimo de morte. Estes autores descreveram que a perspectiva da morte passava a ser mais decisiva com a chegada da velhice. O avanço da idade também poderia trazer a vivência de http://producao.virtual.ufpb.br/books/edusantana/fundamentos-psicologicos-da-educacao-livro/livro/livro.chunked/ch09.html#PAPALIA10 http://producao.virtual.ufpb.br/books/edusantana/fundamentos-psicologicos-da-educacao-livro/livro/livro.chunked/ch09.html#PAPALIA10 perdas, pois muitas pessoas que morrem estão próximas ao idoso e pertencem à sua faixa etária, tais como cônjuge, amigos e familiares. Por isso, muitos velhos passam o tempo que lhes sobra olhando apenas numa direção, o passado, pois sabem que ali não vão encontrar o que temem e o que o futuro lhes reserva: a morte. Em nossa sociedade, morte e velhice são encaradas como sinônimas, ambas constituindo um tabu, uma ameaça à ilusão de imortalidade alimentada pelo mundo moderno. Visto que ainda existem muitos mitos envolvendo este tema, o primeiro a ser rompido é o da velhice ser sinônimo de morte. Embora tanto uma, quanto outra, sejam universais e democráticas, não escolhendo sexo, idade ou classe social, não estão condicionadas uma à outra (Loureiro, 2007). Os idosos, às vezes, reconciliam-se com uma velhice infeliz com o mote de que "é melhor ser velho do que ser morto”. A finitude humana passa a ser mais decisiva com a chegada da velhice. Frumi e Celich (2006), entrevistando idosos do Rio Grande do Sul, observaram que eles entendem que a morte é um fato; no entanto, têm muita dificuldade para assumi-la como algo pertencente à natureza humana. De acordo com Kastenbaum e Aisenberg (1983), o medo de morrer está inserido em duas categorias de sofrimento: sofrimento pessoal, associado ao sofrimento físico e à indignidade; e sofrimento vicário, relacionado ao desconforto de presenciar o sofrimento do outro. Segundo Yalom (2008), o conhecimento da própria finitude mobiliza o quantum de ansiedade necessária à estabilidade do funcionamento psíquico, pois a ideia da morte não pode ser conscientemente tolerada por tempo indefinido pelo ser humano, sob a pena de ameaçar a integridade de sua organização psíquica. A angústia da morte é um sentimento onipresente, com influência sobre a autoestima, não devendo ser confundida com o medo da crueldade, do abandono ou da destruição, embora esteja na raiz profunda desses medos. Desse modo, visando a garantir a sobrevivência, o organismo sabiamente efetua a repressão do sentimento que o atormenta desde tempos imemoriais: o pavor da aniquilação, o medo da morte (Py, Pacheco & Oliveira, 2009). O medo da morte está presente no psiquismo humano de diversas maneiras, a saber: fobias, neuroses, crises e inseguranças. Para evitar pensar na morte como uma ocorrência pessoal possível e factível, expurgamos da consciência o medo de morrer através da realidade ilusória de que a vida seguirá sempre o seu curso, da mesma maneira e com as mesmas pessoas. Quando, porém, a consciência desperta em meio à anestesia do cotidiano para o fato de que nunca estaremos em absoluta segurança, o temor da morte poderá irromper, até sob a forma de surtos psicóticos (Becker, 1973). Jung (1964) afirmou que “são os mesmos jovens que têm medo da vida, que mais tarde terão medo da morte”. Kovács (2009) comentou que, com a idade, a morte vai sendo mais aceita, por ser este o caminho natural de todos. Os sujeitos vão envelhecendo e a tendência é a aproximação da morte, sendo issouma certeza. Assim, os idosos teriam menos medo da morte do que os jovens. Seriam as condições da própria morte que os preocupam, muito mais que a morte propriamente dita. O que muitos temem é a agonia de uma doença terminal ou de ficarem sozinhos e desamparados quando doentes (Gomes, 2004). Entretanto, Oliveira (2008) mostrou que o temor e a angústia vivenciados por idosos pernambucanos são muito grandes diante da morte. Segundo a autora, não existe, entre os idosos, maior aceitação desse acontecimento, porque eles não o consideram um evento bom. Essa angústia é maior ainda porque esses sujeitos afirmam que antes eram as crianças que morriam mais, mas agora são os velhos. Eles associam a velhice à morte, porque são eles que mais adoecem e mais morrem. Segundo eles, é preciso aceitar essa morte que vem sem esperar e de forma imprevisível. O medo de deixar sozinhos os filhos ou netos que são dependentes também é aterrorizante. Por isso, preferem não pensar na morte, “para que não morram mais cedo”. A autora verificou que falar da morte lhes causava desconforto, pois ela era associada a sentimentos de caráter pejorativo, como se fosse um golpe de traição. Soares et al. (2009), ao pesquisarem o significado da morte em idosos institucionalizados, observaram que a maioria mostrou-se incomodada, associando a morte à tristeza. Poucos entendiam a morte com naturalidade, ou seja, um evento que se faz presente na vida de todo ser humano. A sociedade, marginalizando os velhos que deixam de ser funcionais em relação ao seu projeto e os abandonando em Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPI), muitas vezes provoca, nos mesmos, desejo de sua própria morte, visto que se sentem inferiorizados, humilhados e imprestáveis (Loureiro, 2000). Há a possibilidade de que muitas das doenças somatizadas pelos velhos nada mais sejam do que resultado da solidão, abandono e carência emocional, fatores que os conduzem a um estado depressivo e que aceleram sua deterioração física e mental, levando-os à morte. A reação dos velhos ao tratamento desumano muitas vezes a eles dispensado, leva-os a não ingerir os remédios, a não seguir os preceitos médicos, a desobedecer às proibições de fumo e bebida, a recusar os alimentos e a enfrentar situações que sabem lhes serem maléficas (Carvalho, Gomes & Loureiro, 2010). Para eles, a velhice é encarada como a “sala de espera” ou a “ante- sala da morte” (Morais, 1977). Muitas vezes, se revoltam e autodestroem, o que não é percebido como tal, pelo fato de que, nesta faixa etária, a morte acidental confunde-se com a natural. Há sujeitos idosos que pedem que se termine com seu sofrimento e sua agonia de espera. Se a pessoa não vê nenhum sentido em sua vida, sentindo-se apenas uma carga e uma preocupação para os entes queridos, acha que até está fazendo um ato heroico e um sacrifício imolando a própria vida. Entretanto, é preciso considerar que, mesmo sem adotar nenhum princípio religioso, o ato de eliminar a própria vida é rejeitado, estando associado à interdição do suicídio e assassinato (Novaes e Trindade, 2007). Preparar-se para consentir em morrer é diferente, refletindo sobre a passagem da morte, dando um sentido próprio e verdadeiro à mesma. O envelhecer e a morte se constituem num processo natural da existência humana, porém nem sempre aceito pelos seres que o vivenciam. Mas, quando a morte estiver bem próxima à espreita, quando alguma situação limite o coloca de frente com a realidade insofismável da impermanência, o homem comumente desperta para a reestruturação de sua vida. Uma vez deflagrada a crise da descoberta real da morte, como possibilidade pessoal e tangível, o período que se segue à notícia será vivido não somente de acordo com as particularidades de cada história de vida, mas também, e sobretudo, de acordo com os mecanismos de enfrentamento de cada indivíduo. E será o momento de reviver e revisitar as experiências da vida, encontrando novos sentidos para iluminá-las, conferindo-lhes dimensões apropriadas para a dignidade, descortinando um novo mundo íntimo e sublimando a existência com uma nova espécie de maturidade.
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