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Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 1 Anomalias dentais Didaticamente são divididas em alterações por fatores ambientais e por fatores de desenvolvimento. Os fatores ambientais são todos aqueles externos, como infecções e traumatismos. Existem anomalias ligadas aos mecanismos de odontogênese, que são as de desenvolvimento. Alterações dentárias de desenvolvimento NÚMERO: a) Hipodontia b) Hiperdontia TAMANHO: a) Macrodontia b) Microdontia FORMA: a) Geminação b) Fusão c) Concrescência d) Cúspides acessórias e) Dente invaginado f) Esmalte ectópico g) Taurodontia h) Hipercementose i) Raízes acessórias j) Dilaceração ESTRUTURA: a) Amelogênese imperfeita b) Dentinogênese imperfeita c) Displasia dentinária tipo I d) Displasia dentinária tipo II e) Odontodisplasia regional ALTERAÇÕES DE NÚMERO Relacionadas ao aumento ou diminuição do número de dentes. As alterações de número estão relacionadas à fase de campânula do germe dental, que se dá na 10ª semana de gestação. O broto pode entrar em hiperatividade (formando mais dentes do que deveria) ou atrofia/hipoatividade (formando menos dentes do que deveria). 1. Agenesia dental ou anodontia Não formação de todos os dentes de uma arcada. Casos raros. Associado a um grupo de doenças chamado displasias ectodérmicas. Displasias ectodérmicas: conjunto de doenças hereditárias que afetam a pele. Conjunto de doenças hereditárias caracterizada pela hipoplasia ou aplasia de 2 ou mais estruturas derivadas do folheto embrionário ectodérmico, do qual o dente faz parte. Resulta em má formação de unhas, pele, cabelo, dentes, glândulas sudoríparas. A ausência do dente faz parte do conjunto de sinais da doença. O padrão de herança genética é do tipo autossômico dominante. 2. Hipodontia ou anodontia parcial Não formação de um ou mais dentes. É uma alteração que ocorre na lâmina dentária. Normalmente os dentes mais afetados são os terceiros molares, segundos pré-molares, incisivos laterais superiores. Essa sequência corresponde ao último dente de cada grupo dentário. Pode ser simétrica, ocorrendo de ambos os lados ou não. É rara em dentes decíduos, normalmente a pessoa tem o dente decíduo, mas não tem o permanente correspondente. Está associada a questões genéticas, então apresenta diferença de incidências e prevalências de regiões para regiões. Essa variação não tem um padrão. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 2 A Hipodontia pode estar associada a algumas síndromes como a displasia ectodérmica e síndrome de Down. É um fator hereditário, herança autossômica dominante. O diagnóstico de Hipodontia depende da história clínica do paciente. Devemos saber se o paciente extraiu o dente, para isso precisamos da história do paciente e o exame radiográfico. A idade cronológica também auxilia no diagnóstico. 3. Hiperdontia Dentes supranumerários, extranumerários ou acessórios. São dentes formados adicionalmente a uma dentição normal, mais comum em dentição permanente. É um resultado de hiperatividade da lâmina dentária. Têm incidência ligada a fatores genéticos e a grupamentos raciais. Maior frequência em região de pré-maxila no segmento anterior, regiões de molar e pré-molar. Em sua maioria são micro-dentes, menores que o normal, podendo ocorrer em aspecto conoide, sem forma anatômica definida. Com exceção da região de pré-molares, onde normalmente os dentes têm a anatomia exata do pré-molar; nas outras regiões é comum serem dentes atrofiados. Estão ligados a síndromes que afetam a formação da face, como o palato fendido, lábio leporino, displasia cleidocraniana e síndrome de Gardner determinando o aumento no número de dentes ou aumento na formação. → Displasia cleidocraniana: doença de fundo hereditário. Aplasia ou Hipoplasia de clavícula permitindo que o paciente toque os ombros, braquicefalia, retardo de ossificação de fontanela e alterações dentárias (morfologia anormal, dentes ectópicos, dentes inclusos, coroa deformada e erupção dentária atrasada). → Síndrome de Gardner: herança autossômica dominante. Retenção de dentes decíduos, atraso na formação de dentes permanentes, múltiplos dentes impactados e odontomas. Formação de múltiplos osteomas e pólipos intestinais aumentados. Formação de cistos dermoides na região do pescoço. Na maioria dos casos são não sindrômicos, não associados à ocorrência de síndromes. Para diagnosticar um paciente com uma síndrome ele deve ter pelo menos 3 componentes dela presentes. 3.1. Paramolar: se forma por vestibular ou palatino em relação aos molares. 3.2. Distomolar ou quarto molar: supranumerário que se forma distalmente ao terceiro molar. 3.3. Mesiodente: aparece na linha média entre os incisivos. Pode fazer a erupção ou estar incluso, mas sempre na linha média. Pode estar na posição normal ou invertido. Sempre tem a morfologia alterada. Diferentemente da ausência que não tem grandes implicações, os supranumerários podem impedir erupções, deslocar os dentes adjacentes a eles levando a má oclusão dos dentes, levar à reabsorção dos dentes adjacentes, pode dar início à formação de cistos e tumores odontogênicos e pode causar a deformação e formação de raízes anormais dos dentes permanentes. Pode acontecer a concrescência entre o supranumerário e o permanente. 4. Dentição pré-decídua Não é frequente. Presença de dentes antecedendo a dentição decídua. Normalmente ocorre em região de incisivos inferiores. São dentes atrofiados e rudimentares. Não tem raízes, sendo móveis; podem se movimentar, inflamar e atrapalhar a amamentação. VARIAÇÕES NO TAMANHO DOS DENTES O grande problema é que o tamanho dos dentes é definido geneticamente, é herança de pai ou de mãe. Podem ocorrer “falsas macrodontias”, a criança Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 3 herda o maxilar pequeno e os dentes grandes. Não há como definir um limite de tamanho ou um critério para determinar o que é microdontia e macrodontia. Os dentes supranumerários normalmente são microdentes. 1. Microdontia Dentes menores que o normal. Mais comum que a macrodontia. Sempre ligado a fatores hereditários. 1.1. Microdontia verdadeira ou generalizada: afeta todos os dentes da boca. Pode estar ligada à redução do hormônio do crescimento, por hipofunção da hipófise. Ausência de ponto de contato em todos os dentes, redução no diâmetro mésio-distal das coroas. 1.2. Microdontia relativa ou isolada: de um dente; é mais comum. Pode ter uma forma mais conoide. Causas: todas ligadas a fatores genéticos. Distúrbio na odontogênese por deficiência de hormônio do crescimento, osteogênese imperfeita, hipertrofia facial, associação com displasia dentinária, dentinogênese imperfeita; irradiação em região de cabeça e pescoço durante o período de formação do dente. Associação com síndrome de Down. → Dente-anão: a coroa se forma em tamanho normal e a raiz sofre atrofia. Existe uma correlação positiva entre Hipodontia e microdontia. O tratamento é estético. Todas as anomalias dentárias podem estar mais presentes em crianças com síndrome de Down. 2. Macrodontia Ocorre por fator hipofisário, distúrbio hormonal. Associada ao gigantismo. Dependendo do momento que isso se manifesta na vida do paciente pode afetar a formação de alguns dentes, que ficam em tamanho maior que o normal isoladamente. É mais raro que a microdontia. 2.1. Macrodontia verdadeira ou generalizada: gigantismo pituitário. Condição rara. Todos os dentes são afetados. 2.2. Macrodontia relativa generalizada: é questionável; presença de dentes normais em maxilares muito pequenos. 2.3. Macrodontia de um único dente: menos comum. Prevalente naregião de incisivos centrais superiores e caninos inferiores. Diagnóstico diferencial com fusão dental. VARIAÇÕES NA FORMA DOS DENTES 1. Geminação O fenômeno ocorre quando o germe dental se divide em 2 dentes que se desenvolvem de um único germe, com divisão incompleta. O dente possui duas coroas, sendo possível visualizar uma fenda na coroa dividindo-a, mas com uma raiz única e um único canal radicular. Porém apresenta duas câmaras pulpares, uma para cada coroa. É uma anomalia de tamanho, de forma e de estrutura. Mais comum em decíduos, incisivos e caninos. Prevalência de 0,1%. O diagnóstico é radiográfico. 2. Fusão União de um dente permanente com um supranumerário. União completa, entre dentina ou esmalte de 2 ou mais dentes. Câmaras pulpares e canais radiculares separados. 3. Concrescência Quando os dentes se unem pelo cemento após a formação da coroa. Difícil de identificar em radiografias, podendo aparecer como dentes próximos. O que é comum acontecer é que os dentes muito próximos desenvolvem hipercementose e as Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 4 raízes acabam se fundindo. Injúria traumática ou falta de espaço. 3.1. Concrescência verdadeira: ocorre durante o desenvolvimento dental. 3.2. Concrescência adquirida: ocorre após a formação radicular. 4. Cúspides supranumerárias ou acessórias Podem ser formadas em esmalte puro ou podem ter prolongamento pulpar. São raras em dentes decíduos. Podem ser uni ou bilaterais. Podem interferir na oclusão. 4.1. Cúspide em garra ou talônica: ocorre na face lingual dos incisivos como um prolongamento do cíngulo. 4.2. Tubérculo de Carabelli: se formam na superfície palatina da cúspide mesiopalatina do primeiro molar superior. O diagnóstico é mais clínico do que radiográfico. 5. Dens in dente “Dente dentro do dente”. Invaginação do esmalte para dentro da câmara pulpar, dando a impressão radiográfica de que se formou um dente dentro da câmara pulpar. Por isso também é chamado de dens invaginatus. Pode ser unilateral ou bilateral, sendo raro na mandíbula. A invaginação do esmalte se dá no forame cego dos incisivos. 5.1. Tipo I: a invaginação se dá apenas na coroa. Não ultrapassa dentina nem a linha da junção amelo-cementária. 5.2. Tipo II: a invaginação é mais profunda, entrando na raiz e assumindo uma forma de saco. Ultrapassa a linha amelo-cementária. 5.3. Tipo III: a invaginação é tão profunda que forma outro canal radicular e outro forame apical. Incidência 2,4% em incisivo lateral. Complicações: cárie, necrose pulpar e periapicopatias. O forame é aberto, favorecendo sua contaminação. O tratamento depende do tipo; dependendo da profundidade é necessário o tratamento endodôntico. 6. Dens evaginatus Contrapartida semelhante da cúspide em garra, porém ocorre nos pré-molares. Evaginação do esmalte. É uma cúspide acessória que se forma no centro da coroa dos pré-molares. Em alguns casos, nos molares, com menor frequência. Formação proliferativa de esmalte. Essa cúspide pode ter prolongamento pulpar e por ser acessória na face oclusal pode interferir na oclusão dos dentes. Baixa prevalência, cerca de 2,4%. 7. Pérolas de esmalte (enamelomas) ou esmalte ectópico Formação de esmalte fora da coroa, em raiz normalmente em região de furca. A maioria delas não tem significação clínica importante. Baixa incidência, em torno de 1%. Quando acontece na região de sulco gengival, as fibras que se inserem no cemento não se inserem no esmalte, causando uma falta de aderência naquele ponto, podendo formar uma bolsa periodontal. 8. Extensão cervical de esmalte Forma de esmalte ectópico um pouco mais prevalente que a pérola de esmalte. Na formação da coroa, desce uma ponte de esmalte além da junção amelo-cementária na direção da bifurcação dos molares. O problema dele é a inserção das fibras gengivais, formando uma zona de baixa aderência, podendo ocasionar a formação de bolsa periodontal. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 5 9. Taurodontismo Câmara pulpar muito longa. Bifurcação da raiz dos molares é mais baixa. Extensão da câmara pulpar de molares que resulta em raízes curtas e alargamento pulpar. Prevalência em torno de 2,5%. Pode ocorrer em pré-molares birradiculares. Não ocorre em dentes unirradiculados. Associação com síndrome de Down. Falha da bainha epitelial de Hertwig. Era comum em homens de Neanderthal, por isso fala- se em atavismo associado a essa condição. 10. Hipercementose Deposição anormal do cemento após a formação da raiz. Forma um espessamento generalizado ou localizado na raiz, mas não altera a inserção: a lâmina dura, ligamentos e inserção dos dentes estão normais. Pode ser isolado ou em múltiplos dentes. A incidência e prevalência aumentam com a idade. Causas: fatores associados, como trauma oclusal, dentes sem antagonista, dentes inclusos. A causa é difícil de determinar. Não causa nenhum problema ao paciente, normalmente dificulta a exodontia. Pode estar associada a doenças sistêmicas que apresentam distúrbios sistêmicos como acromegalia, aumento de artrite. Pode fazer parte do quadro de síndromes ou pode existir de forma independente. → Diagnóstico diferencial: osteoesclerose. Observar que na hipercementose a cortical do alvéolo o contorna em sua totalidade. 95% dos casos ocorrem em primeiro molar inferior. 11. Calcificações pulpares Pode ser de dois tipos: 11.1. Nódulo pulpar: massas calcificadas que aparecem na polpa e são visualizadas radiograficamente. Achado comum sem significação clínica ou associação a outras doenças. É uma massa localizada, estando o resto da polpa não comprometida. É variável, mas é um achado muito frequente. Alguns nódulos são muito volumosos e é comum ser encontrado na câmara pulpar do primeiro molar superior. 11.2. Calcificação pulpar distrófica: calcificação distrófica ocorre em qualquer parte do organismo e tem certa associação com processos inflamatórios. Resposta pulpar ao trauma caracterizada pela deposição de tecido duro no espaço pulpar. Quando o dente sofre uma pancada pode ocorrer uma calcificação de forma difusa depois. O sinal clínico característico é o escurecimento do dente. História de trauma associado. Radiograficamente pode apresentar o desaparecimento quase completo da câmara e canal radicular. Entre 4 a 24% dos dentes que sofreram traumatismo se encontram com esta alteração. Achado frequente. 12. Raízes supranumerárias Ocorrência muito comum. São raízes a mais que o padrão de normalidade do dente. Pode ser do mesmo tamanho ou apresentar forma rudimentar. Pode estar fusionada, bífida ou totalmente separada ou independente. Radiograficamente observamos canal radicular extra, duplo espaço do ligamento periodontal ou diminuição brusca da luz do canal radicular. Os pré-molares superiores apresentam-se 2% trirradiculares. A ocorrência em incisivos superiores é quase 0%. Os segundos molares mais frequentemente apresentam redução do número de raízes. 13. Dilaceração Curvatura tão acentuada da raiz que forma um ângulo. Mudança ou angulação na curvatura da raiz. Pode haver dilaceração das raízes, que é o mais comum, ou esporadicamente pode haver a Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 6 dilaceração da coroa quando um dente está incluso e há um supranumerário que impede a erupção fazendo a coroa se distorcer. Os dentes mais comumente afetados são incisivo lateral superior, terceiro molar ou pode estar ligado a traumas durante a odontogênese. Quando a curvatura é mesial ou distal é fácil identificar. Quando a curvatura é vestibular ou lingual é difícil identificar radiograficamente. Achado comum, em tornode 5 a 7%. Em alguns livros são chamados de “dentes escorpiônicos”. Quando há uma curvatura para o sentido vestibular ou lingual observamos o dente radiograficamente com o canal no centro e a cortical óssea envolvendo- o. VARIAÇÕES NA ESTRUTURA DOS DENTES 1. Amelogênese imperfeita Chamada de Hipoplasia de esmalte hereditária. Doenças que afetam a formação do esmalte, formando um esmalte mal constituído sujeito a uma série de alterações. Está ligado à transmissão genética. Pode ser autossômica ou pode estar ligada ao X. Pode afetar dentes decíduos ou permanentes, dependendo do período em que se instala a doença. O defeito que a amelogênese vai causar está relacionado ao período que a doença se manifesta. Estágios de formação: a) Quando a doença se manifesta na fase de deposição da matriz, não há a formação de esmalte nenhum. São os casos extremos. b) Se a doença atinge a fase seguinte que é a fase de deposição dos cristais ou calcificação da matriz, haverá deposição de um esmalte hipocalcificado (“mole”). c) Se a doença atinge a fase de maturação (fase em que o esmalte aumenta a sua espessura e diminui sua matriz orgânica se tornando mais mineralizado) o esmalte lasca em blocos, pois ele é mineralizado, mas não tem a união entre os cristais. A amelogênese então é classificada em 3 tipos de acordo com a fase que ela atinge: 1.1. Hipoplásica: atinge a fase de formação da matriz. Formação incompleta ou defeituosa da matriz orgânica do esmalte. Se não forma a matriz, não há esmalte. Se forma uma matriz muito delgada haverá um esmalte muito fino. O dente fica amarelado, pois o esmalte deixa transparecer a cor da dentina. Radiograficamente, ausência de esmalte ou esmalte muito fino contornando o dente. Existe diastema entre os dentes pela ausência da espessura do esmalte nas coroas. O tratamento é totalmente restaurador. A contaminação da dentina e da polpa é frequente. 1.2. Hipocalcificada: a matriz orgânica é formada, mas não há a deposição dos cristais. O esmalte tem espessura normal porque a matriz foi formada, porém ele tem uma espessura mais frágil. Mais susceptível a ação de ácidos e cárie. O dente tem coloração marrom. É a forma mais comum. Pode acontecer com o aspecto estriado, com linhas de esmalte. 1.3. Hipomadura: fase de maturação do cristal do esmalte. O esmalte é normal, porém quebradiço. Pigmentação caracterizada como snow-capped. Pode haver destruição da coroa na parte incisal, esmalte mais quebradiço. Nos locais de atrito o esmalte vai se desgastando. Composição variada de acordo com a intensidade e mecanismo do desenvolvimento. Comumente o dente tem formato normal, mas pode ocorrer deformação da coroa. Radiograficamente pouco evidente. 2. Dentinogênese imperfeita Mais comum do que a amelogênese. O dente muda de cor, passando de uma tonalidade roxo-violácea Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 7 até amarelo-marrom. Tom opalescente, ligeiramente azulado, e a polpa com muita frequência começa a ser calcificada. Normalmente os dentes têm anomalias de forma, raiz e coroas curtas. A dentinogênese imperfeita tem dois tipos: tipo I e tipo II; ambos são clinicamente iguais, só se diferem no fato de que o tipo I é associado à osteogênese imperfeita. a) Tipo I: associado à osteogênese imperfeita. b) Tipo II: não associado à osteogênese imperfeita. Câmaras pulpares dilatadas, raízes mais curtas que o normal e coroas mais achatadas (em bulbo). c) Tipo III (tipo Brandywine): tipo característico de uma região norte americana. Característica genética daquele grupo de pessoas, agregado racial no estado de Maryland. Costuma estar associada com Hipoplasia de esmalte e os dentes com forma de concha (shell tooth). Forma e cor dos dentes variada. 3. Displasia dentinária Hereditária. Caracterizada pela calcificação e obliteração da polpa e defeitos nas raízes. Tipos: a) Tipo I: com raízes curtas; câmara pulpar praticamente inexistente, muito diminuída. b) Tipo II: não afeta as raízes; câmara pulpar muito ampla com calcificação e obliteração dos canais. Raiz com tamanho normal. 4. Odontodisplasia regional Dente fantasma. Forma que afeta o desenvolvimento e se caracteriza por Hipoplasia de esmalte e de dentina. A imagem do dente é muito tênue radiograficamente. Nem o esmalte é muito nítido e nem a dentina, o que dá o nome de dente fantasma. Caso raro. Não tem forma alterada. O dente é amarelado. Anomalias dentárias causadas por fatores ambientais Podem determinar perda de estrutura do dente após a sua formação ou podem interferir na formação do dente. Podem causar distúrbio localizado de erupção. Descoloração ou alterações de cor do dente. HIPOPLASIA DE ESMALTE Não hereditária; tipo que afeta normalmente uma das dentições, normal ou decídua. Afeta normalmente grupos de dentes isolados, não a arcada. A etiologia é variada podendo apresentar deiscência nutricional, sífilis congênita, hipocalcificação, injúrias e traumas durante o nascimento, doença hemofílica do recém-nascido, infecção, trauma local, ingestão de flúor, ingestão de medicamentos (tetraciclinas) e idiopática. 1. Dentes de Hutchinson: característico de sífilis congênita. Dente em forma de chave de fenda ou de barril. Borda incisal estreita e com padrão de desgaste semilunar. 2. Molares em amora: associado à sífilis congênita. Várias cúspides. 3. Dentes de Turner: associado à infecção local, o paciente que recebe um trauma que causa um processo inflamatório na fase de formação do dente que causa a formação de uma faixa de esmalte hipoplásica na posição que depende do período em que ele sofreu trauma. O abscesso de um dente decíduo pode afetar a formação de um dente permanente e o esmalte do permanente nasce com áreas de Hipoplasia. 4. Fluorose: origina-se da exposição do germe durante sua fase de formação a altas concentrações de flúor. O defeito é diretamente proporcional à quantidade de exposição e à duração do efeito da Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 8 exposição. Formas leves são extremamente comuns se apresentando lisa e brilhosa. Existem formas mais graves que dão alterações estéticas. Seu aspecto clínico varia de branco até marrom escuro. A imagem radiográfica depende da intensidade do defeito. Pode ser totalmente inexistente ou pode aparecer na radiografia como defeitos no esmalte. PERDA DA ESTRUTURA DO DENTE APÓS O DESENVOLVIMENTO São todos os achados decorrentes de desgastes provenientes de alimentação, oclusão, parafunção etc. 1. Atrição Desgaste provocado pelo atrito de um dente contra o outro dente durante a mastigação. Na borda incisal é possível observar uma área central nos locais de desgaste onde é mais escuro pela formação de dentina reacional. 2. Abrasão Encontrada no colo do dente devido à ação mecânica principalmente pela escovação. Dependendo da intensidade pode aparecer como imagem radiolúcida no colo. Tratamento estético. Pode estar associada à sensibilidade dentinária. 3. Abfração Perda da estrutura dentária associada a estresse mastigatório. Os impactos causam o desprendimento do esmalte dental na altura do colo. Clinicamente é menos angulada que a abrasão, apresentando um defeito mais em cunha. Tem, na prática, um resultado semelhante à abrasão, porém, causas diferentes; a distinção entre as duas está na determinação do fator etiológico. 4. Erosão Perda do esmalte pela ação de ácidos. Frutas cítricas, vinhos, refrigerantes. Uma causa frequente é o refluxo gastro-esofágico, dependendo da frequência do refluxo e da intensidade do mesmo, que causa erosão na face lingual dos molares. É comum ver ligeiras depressões nas cúspides. O tratamentoé feito com proteção estética com resina, orientação dietética, aumentar o fluxo salivar. Uso de canudinho. O esmalte é dissolvido. 5. Reabsorção dentinária Perda do tecido de dentina após o nascimento da pessoa. Tem aspecto radiolúcido. 5.1. Reabsorção externa: se inicia de fora para dentro. Ligada a uma série de fatores, como tratamento ortodôntico. Todo tratamento ortodôntico causa reabsorção externa, a diferença é o grau de reabsorção que ele vai causar. Pode ser causado por um dente em erupção que se apoia sobre o outro. Associado a processos inflamatórios como tumores, cistos e granulomas. É um fenômeno comum em dente reimplantado. Essa reabsorção é causada por atividade dos osteoclastos ou por estímulo inflamatório que venha da polpa ou do periodonto, que ativa os osteoclastos. O tratamento é a eliminação da causa estabilizando o dente e mantendo-o no lugar. Dependendo do grau da reabsorção o dente pode ser perdido. 5.2. Reabsorção interna: se inicia dentro do canal radicular. De dentro para fora, ligada à alteração inflamatória da polpa. A área de reabsorção cresce de forma simétrica dentro do canal. A dificuldade de diagnóstico se encontra por apresentar a mesma imagem radiográfica que uma reabsorção externa que ocorre na vestibular ou lingual, que é uma área radiolúcida sobreposta ao canal radicular. O tratamento é endodôntico, eliminando os fatores irritantes e estacionando o crescimento. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 9 6. Anquilose Fenômeno que ocorre nas articulações. Perda de movimento da articulação por soldadura dos elementos componentes. No dente é a fusão da raiz com o osso alveolar, desaparecendo o ligamento periodontal. Associada a uma série de fatores, inclusive reabsorção radicular externa. Há a reabsorção com a posterior neoformação óssea, que ao se depositar se funde com o cemento. Facilmente identificada principalmente em molares inferiores que por razão de uma anquilose interrompe sua erupção e ficam em infra-oclusão. É difícil afirmar que um dente já erupcionado possui anquilose. É mais comum ocorrer que o osso seja mais mineralizado e tenha pouca elasticidade, fazendo com que o dente seja de difícil remoção. VARIAÇÃO NA POSIÇÃO DOS DENTES 1. Dentes inclusos (impactados) Incluso é o dente que está coberto. Impactado é o dente que está impedido de sair. Nem todo dente incluso está impactado. Pode ter causas: a) Locais: anomalia na formação do germe, falta de espaço para a erupção e miscigenação de raças do indivíduo. b) Sistêmicas: doenças que provocam defeitos na formação craniofacial que resultam em defeitos na formação do arco dental. Um dente incluso pode causar reabsorção dos dentes vizinhos, cistos e outros tumores, infecções. Devemos diferenciar a inclusão fisiológica da inclusão patológica. Todos os dentes passam por inclusão fisiológica, enquanto ainda estamos com sua raiz em formação. Os dentes em inclusão patológica são aqueles que já se formaram e que o ápice radicular já se fechou e mesmo assim não se encontram em erupção. 2. Transposição dental Troca de posição dos dentes no arco. A mais comum é a troca entre canino, pré-molar e incisivo lateral. O pré-molar surge no lugar do canino e o canino surge no lugar do incisivo lateral. 3. Transmigração dental Dente posicionado totalmente fora do arco dentário. Lesões fundamentais São as alterações morfológicas representativas de processos patológicos básicos na mucosa bucal ou na pele. As lesões fundamentais não são visíveis em todo o tecido. Independente da etiologia as lesões fundamentais podem ter características comuns. As lesões podem ser agrupadas pelo tipo de lesão fundamental que a caracteriza. Não são específicas de uma única doença, podem representar doenças diferentes. Lesão fundamental não é um diagnóstico, é uma caracterização morfológica. As lesões sofrem modificações. Principalmente quando consideramos sua presença na mucosa bucal, pois o turn-over da mucosa bucal é muito rápido. O aspecto de uma lesão se altera muito rápido. São o marco inicial para o diagnóstico e descrição de alguma alteração. São classificadas em lesão primária ou secundária. A primária seria a lesão que apareceu primeiro e a lesão secundária seria a lesão que apareceu em consequência da modificação aparente da lesão primária. Podem também ser classificadas quanto à posição em que a lesão ocupa em relação ao plano tecidual, que é a forma como vamos descrever. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 10 a) Lesões planas: mácula ou mancha. b) Lesões elevadas bolhosas (vesícula, bolha, pústula) e não bolhosas (placa, pápula, nódulo e tumores) c) Lesões depressivas: erosão, úlcera. Existem outras características que são importantes para identificar uma lesão. Então além de analisar a relação com o plano tecidual deve-se avaliar o tamanho, a consistência (macia, endurecida, borrachoide, lenhosa), a superfície (lisa, irregular, verrucoso, vegetante), os contornos (irregular ou regular com margens definidas ou indefinidas), quantidade (lesão única ou lesão múltipla). MÁCULA OU MANCHA Lesão que não leva à modificação no plano tecidual. Leva apenas a modificação da coloração normal da mucosa sem que ocorra elevação ou depressão tecidual. A mucosa não apresenta uma grande gama de cores. Normalmente temos alterações onde a mucosa se apresenta de cor vermelha, com variações de vermelho até arroxeado, cor escura negra ou amarronzada e as lesões brancas. As lesões vermelhas normalmente estão associadas com sangue; normalmente ocorrem porque aumentou a quantidade de vasos sanguíneos em uma determinada região devido a uma proliferação dos vasos, ou o epitélio de uma determinada área está mais fino deixando transparecer mais os vasos daquela região devido a uma redução de espessura do epitélio ou porque o sangue extravasou em grande quantidade. 1. Mancha vascular: as lesões inflamatórias tendem a se apresentar como manchas vasculares porque são decorrentes do aumento do número de vasos. Também podem ser não inflamatórias, como as lesões neoplásicas. Ex.: roséola sifilítica, enantema (manchas vermelhas decorrentes de lesões virais), má formações vasculares ou hemangiomas (tumores benignos de vasos, congênitos que desaparecem com o crescimento). 2. Mancha hemorrágica: mudança de coloração com o tempo, pois à medida que as hemácias vão sendo fagocitadas ou se degradando libera pigmento de hemossiderina. A mancha muda de cor até que desaparece. É uma diferença entre a mancha hemorrágica e a mancha vascular. As lesões hemorrágicas recebem denominação diferente de acordo com o tamanho. São chamadas petéquias as manchas menores de 1 cm de diâmetro e de equimose as maiores. Diascopia: manobra semiotécnica que consiste na compressão da mancha com uma lâmina de vidro, para diferenciar a origem da mancha. Se com a lâmina comprimimos uma mancha vascular ela ficará isquêmica, pois com a compressão causamos o esvaziamento dos vasos sanguíneos. Se fizermos a compressão de uma mancha hemorrágica ela não sofre alterações porque o sangue está espalhado no tecido. 3. Manchas pigmentárias: originadas pela deposição de pigmento. O pigmento pode ser de origem endógena como a melanina ou exógena como pigmentação por amálgama. Quando há a suspeita de tatuagem por amálgama, uma radiografia de tecido mole ajuda no diagnóstico diferencial, pois como o amálgama é mais radiopaco, essa radiopacidade aparece na radiografia. 4. Manchas estruturais: manchas brancas decorrentes de uma própria constituição do tecido no local. Efeito óptico de um epitélio que apresenta células edemaciadas. O edema das células causa essamancha estrutural chamada leucoedema. Quando a mucosa é tracionada a mancha desaparece. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 11 LESÕES QUE CAUSAM ELEVAÇÃO • Lesões elevadas não bolhosas 1. Placa ou pseudomembrana Elevação no plano tecidual, mas de pequena altura em relação à sua extensão. Pequena altura e grande extensão. Aumento discreto de células na camada espinhosa e aumento na camada superficial de ceratina; isso provoca uma mudança de cor, pois um epitélio mais ceratinizado e mais espesso fica mais distante dos vasos sanguíneos, e por extensão da profundidade, a profundidade da mucosa é menos visível. Além disso, a deposição de ceratina no tecido deixa uma característica esbranquiçada. Alterações de cor, espessura e altura. Diferença entre placa e pseudomembrana: na placa, ao tentar raspar a lesão ela não é removida. A pseudomembrana é removida com espátula, porque o acúmulo presente não é causado por alteração no epitélio, mas normalmente por acúmulo de células epiteliais, bactérias que se acumulam na superfície da mucosa e alteram a estrutura epitelial. Leucoplasia: lesão potencialmente maligna. Causada pelo uso crônico de cigarro. Predisposição ao desenvolvimento do câncer de boca. 2. Pápula Pequenas lesões sólidas, circunscritas, cujo diâmetro não ultrapassa 5mm. Nevo: lesão proveniente da proliferação de células névicas, que produzem melanina. Existem nevos amelanóticos, causados só pela proliferação de células névicas sem a produção de melanina. 3. Nódulo Além das alterações no epitélio, o conjuntivo também sofre alteração, com infiltrado inflamatório. Há neutrófilos, linfócitos e células gigantes multinucleadas. É uma lesão firme e consistente. Lesões sólidas circunscritas, de localização superficial ou profunda, formadas por tecido epitelial, conjuntivo ou misto (5mm até 2cm). Devemos avaliar de que forma o nódulo se relaciona com a superfície da mucosa: a) Séssil: base ampla de implantação. b) Pediculado: base de implantação pequena. 4. Tumor e tumefação Nódulos com diâmetro superior à 2cm. Aumento de volume. Sua superfície pode ser variada, pode ser lisa, ulcerada ou vegetante. • Lesões elevadas bolhosas Acúmulo de exsudato ou transudato resultante de edema. 1. Vesícula Elevações epiteliais contendo líquido que não ultrapassa 3mm. O líquido é proveniente de edema. Como estão restritas ao epitélio as lesões são pequenas. 2. Pústula Vesícula infectada que acumula exsudato purulento. 3. Bolha Maior que 3mm e o conteúdo é um exsudato inflamatório. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 12 LESÕES QUE CAUSAM DEPRESSÃO 1. Erosão Perda parcial do epitélio sem exposição do conjuntivo subjacente. Há uma camada fina de epitélio separando o conjuntivo do meio externo. Perda superficial do tecido epitelial. Quando há a perda total da cobertura do epitélio é a chamada de úlcera. 2. Úlcera Solução de continuidade do epitélio com exposição do conjuntivo subjacente. As lesões externas à boca formam uma crosta que é composta por uma camada de fibrina ressecada. Doenças micóticas da mucosa bucal CANDIDÍASE A cândida é um fungo muito comum na boca, é um micro-organismo que compõe a microbiota humana. Todos temos o fungo, porém em equilíbrio. Quando esse equilíbrio é quebrado, a cândida prolifera e há a doença, chamada candidíase. A forma mais comum do fungo é a Candida albicans, e é a forma que causa a doença. A Candida albicans é um fungo dimórfico, apresentando duas formas; só causa doença quando está na forma de hifas. Na forma de levedura não é capaz de causar doença. Normalmente a presença do fungo aumenta com o aumento da idade, porém sem fatores predisponentes o paciente não desenvolve a candidíase. Fatores predisponentes para o surgimento das lesões a) Estado imunológico do hospedeiro. Ao identificar a cândida devemos tentar explicar o motivo de o paciente estar com a doença; uma pessoa nova e saudável não tem candidíase. Normalmente o paciente jovem e sem fatores de risco que tem cândida está imunossuprimido. b) Meio ambiente da mucosa bucal. O uso de prótese de maneira indefinida sem a higienização correta da mesma. Ou o uso de uma prótese muito velha. c) Resistência da Candida albicans a alguns antifúngicos. Normalmente o antifúngico usado inicialmente é a nistatina, e é comum não ter efeito. → Esses 3 fatores predispõem ao surgimento da candidíase e à manutenção da doença. A candidíase também pode ocorrer em pacientes saudáveis se foi criado o ambiente propício. Varia de um leve envolvimento da mucosa a doença disseminada em pacientes imunocomprometidos. Características clínicas a) Candidíase pseudomembranosa (sapinho) b) Candidíase eritematosa - Candidíase atrófica aguda - Atrofia papilar central (glossite romboidal mediana) - Queilite angular - Estomatite por dentadura c) Candidíase crônica hiperplásica (leucoplasia por cândida) d) Candidíase mucocutânea → Normalmente todas as formas de candidíase apresentam a mesma forma de tratamento, mas são divididas pela forma de apresentação clínica com finalidade didática. a) Candidíase pseudomembranosa Forma de infecção por Candida albicans mais comum. Presença de placas esbranquiçadas na mucosa. Os locais mais afetados são a mucosa jugal, o palato e o Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 13 dorso da língua. Popularmente chamada de sapinho. As placas são falsas, removidas por raspagem. Sob a placa, quando removida, a mucosa fica bem avermelhada podendo até haver sangramento. Na placa branca, se for feito uma analise, encontramos hifas emaranhadas, leveduras, células epiteliais descamadas e tecido necrótico. Nem sempre os pacientes são imunossuprimidos por doenças, pode ocorrer de serem imunossuprimidos pelo uso de medicamentos, como o uso crônico de antibióticos de amplo espectro ou por imunossupressores (leucemia e HIV). Pode afetar também recém-nascidos. Na maioria dos casos é assintomática, mas o paciente pode se queixar de ardência e queimação na mucosa. Pode apresentar o sintoma de disguesia (mudança de paladar/gosto desagradável). Em pacientes que tem asma e precisam fazer uso de bombinhas com frequência, há a imunossupressão apenas da região de palato mole e úvula, apresentando lesões nestes locais. O paciente não sente dor, sente uma queimação linear e contínua. b) Candidíase eritematosa Manifesta-se como uma lesão vermelha. Didaticamente não tem o componente branco, mas clinicamente podem aparecer misturadas; damos o nome de acordo com o componente que predomina. Existem manifestações específicas, algumas exclusivamente na língua e outras exclusivamente na comissura. Cada uma delas recebe um nome diferente. - Candidíase atrófica aguda: caracteristicamente associada ao uso de antibióticos de amplo espectro. Afeta a língua, deixando-a avermelhada por atrofia difusa de papilas. - Atrofia papilar central: tipo de candidíase eritematosa que afeta especificamente a porção central da língua. Área eritematosa bem demarcada, causada por atrofia das papilas do centro da língua. Também é chamada glossite romboidal mediana (é uma lesão redonda no meio da língua). As papilas atróficas da região dão ao paciente a sensação de queimação. Normalmente é simétrica, com a superfície plana a lobulada. Algumas vezes observamos a ocorrência de lesão beijada ou espelhada no palato, pois como a lesão se encontra no dorso da língua, esta tem muito contato com o palato. Resolução completa ou parcial com o uso de antifúngicos. O antifúngico mais usado é a nistatina, pela facilidade de uso (bochecho) e pelo preço baixo. - Queiliteangular: se manifesta na comissura labial. Comum em pacientes com perda de dimensão vertical, o que favorece o acúmulo de saliva na comissura labial, criando o ambiente adequado para a proliferação da cândida. Causa eritema, fissuração e descamação no canto da boca, que normalmente dói. O tratamento consiste em higienização. - Estomatite por dentadura: candidíase eritematosa causada pela prótese usada indiscriminadamente e sem higienização. Área avermelhada no palato do paciente que simula o desenho da prótese. A maioria dos casos é assintomática, mas é comum ardência e queimação na lesão. c) Candidíase crônica hiperplásica (leucoplasia por cândida) Parece uma placa, mas não sai com raspagem. É uma forma menos comum de candidíase. Pode aparecer em borda de língua gerando a dúvida se seria uma candidíase superposta a uma leucoplasia. A presença isolada de cândida pode induzir a formação de lesões hiperceratóticas. Região anterior da mucosa jugal. d) Candidíase mucocutânea Candidíase oral grave relacionada a distúrbios imunológicos. A desordem imunológica torna-se evidente quando o paciente começa a desenvolver infecção por cândida na boca, unhas, pele e outras Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 14 superfícies mucosas. Placas brancas espessas que não se destacam com a raspagem. Possível associação com desordens endócrinas e anêmicas. Diagnóstico de cândida/características histopatológicas O diagnóstico é predominantemente clínico, mas pode ser feito citologia esfoliativa ou biópsia; a citologia esfoliativa é colocada no álcool e a biópsia no formol. As hifas e leveduras podem ser mais bem identificadas com a coloração de PAS. No corte histológico observamos hiperceratose na superfície da lesão e alongamento das cristas epiteliais. Infiltrado inflamatório crônico. Microabscessos epiteliais. As hifas estão restritas à camada de queratina, raramente infiltram as demais camadas. Para visualizar o fungo, podemos lançar mão da coloração de PAS, que tem a capacidade de impregnar carboidratos. A candidíase é uma infecção superficial que só atinge o epitélio, nunca o conjuntivo. Visualizada apenas na camada córnea. Esse fato de ser superficial tem importância terapêutica, possibilitando o uso de nistatina, que é uma droga que age apenas por contato. Não é necessário deglutir a nistatina. Tratamento Correção das doenças de base. Instrução quanto ao uso de próteses. Antifúngicos locais (nistatina, miconazol). PARACOCCIDIOIDOMICOSE (BLASTOMICOSE SUL- AMERICANA) Doença endêmica da região de Minas Gerais e do interior de São Paulo. A infecção de Paracoccidioidomicose é muito parecida com o câncer de boca. Mais encontrado na região da América do Sul e Central. O reservatório para o fungo é o tatu de 9 listras. O fungo tem predileção por homens, de 25:1 por causa dos hormônios femininos que protegem as mulheres do Paracoco, o beta estradiol impede a forma não patogênica do fungo de se transformar na forma patogênica, que é a forma de levedura. Normalmente as mulheres que apresentam o fungo são aquelas com algum desequilíbrio hormonal. Características clínicas Pacientes adultos. Raramente apresenta-se em crianças. Muito comum em agricultores. A infecção pulmonar após a exposição a esporos é mais importante que a infecção de boca. No caso do Paracoco, não tratamos o paciente, encaminhamos para o médico porque há envolvimento pulmonar em praticamente todos os casos de Paracoccidioidomicose. O tratamento é feito por infectologistas. O tratamento é mais complexo, com antifúngicos sistêmicos fortes e de longa duração. A Paracoccidioidomicose sem tratamento pode matar, pois pode haver a disseminação por via linfática ou hematogênica para vários tecidos, incluindo linfonodos, pele e glândulas supra-renais. A doença normalmente começa no pulmão e com a disseminação se manifesta na cavidade oral. Lesões orais: múltiplas úlceras com uma superfície bastante granulosa, avermelhada, com pontinhos vermelhos. Esses pontinhos vermelhos são o ponto chave para o diagnóstico. Tem um aspecto de ulceração moriforme. Os pontos avermelhados na superfície são petéquias. São lesões assintomáticas na maioria das vezes. São endurecidas porque tem um tecido granulomatoso se formando no local, subjacente ao epitélio; condensação de células inflamatórias. Aparece em lábios, orofaringe e mucosa jugal. Características histopatológicas Devemos sempre fazer biópsia para fazer diagnóstico diferencial com o câncer de boca. O fungo pode ser visto na lâmina brotando; quando o brotamento é duplo, é chamado de brotamento em cabeça de Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 15 Mickey. Quando o brotamento se dá em diversas direções é chamado de brotamento em leme de marinheiro. a) Hiperplasia pseudo-epiteliomatosa e ulceração, áreas de invasão epitelial no tecido conjuntivo. b) Áreas de microabscessos, infiltrados de neutrófilos c) Inflamação granulomatosa: vários granulomas formados por macrófagos epitelióides e células gigantes multinucleadas, células de Langerhans. d) Leveduras grandes e dispersas (Grocott- Gomori e PAS) Diagnóstico Clínico, exame histopatológico, exame citológico e cultura. Tratamento Depende da manifestação da doença, mas o tratamento é determinado pelo médico que usa drogas sistêmicas mais fortes e com efeito colateral mais importante. A maioria dos pacientes são curados, mas a terapia é longa. ZIGOMICOSE (MUCORMICOSE; FICOMICOSE) Infecção fúngica oportunista que frequentemente provoca morte fulminante. Causada por micro- organismos da classe dos zigomicetos. Crescem em matéria orgânica em decomposição. Os esporos são liberados para o ar e inalados pelo homem. Pode envolver qualquer área do corpo (rinocerebral). Observada em pacientes diabéticos descontrolados e com cetoacidose que faz com que o fungo prolifere ainda mais, além de pacientes imunocomprometidos. Raramente relatada em pacientes imunocompetentes. Características clínicas Obstrução nasal, dor facial ou cefaleia. Tumefação ou celulite facial. Distúrbios visuais com propoptose associada. Paralisia facial. Progressão para a abóbada craniana: cegueira, letargia e seguidas de morte. Infecção rinocerebral, a infecção da boca pode quebrar o septo entre a boca e o nariz, atingir a cavidade nasal e subir para o cérebro. Tendência da infecção de entrar no vaso sanguíneo e obliterá-lo, não deixando passar o sangue. Isso causa uma área de tecido necrosado, onde não penetra o antifúngico. O tratamento consiste em remover toda essa área de necrose e colocar um antifúngico forte. Aspectos histopatológicos Infiltrado inflamatório crônico muito abundante. Doenças bacterianas da mucosa bucal SÍFILIS Pode receber a denominação lues. É uma infecção bacteriana de caráter crônico, causada por uma bactéria espiroqueta, o Treponema pallidum. A transmissão é dada pelo contato sexual desprotegido principalmente, mas pode ser transmitida pelo sangue, pela saliva e de mãe para feto. A sífilis pode ter duas formas: adquirida e congênita. Com o advento da terapia com penicilina no início do século XX, houve um declínio da incidência de sífilis. Depois sofreu aumentos cíclicos de incidência nos anos seguintes em virtude da coinfecção com a AIDS. Com o decréscimo do uso de barreiras de proteção, altos números de parceiros sexuais – promiscuidade e sexo oral desprotegido. Além disso, o aumento dos casos de Sífilis se dá devido ao desconhecimento da população em geral, pois o sexo oral tem papel na transmissão da sífilis. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 16 Sífilis adquirida Primeiro há a exposição à bactéria.Após um período de incubação de 3 semanas ocorre o desenvolvimento da sífilis primária. Na sífilis primária as lesões são visíveis na mucosa genital e em outras mucosas, mas pode passar despercebida. Depois de passados mais 4 a 10 semanas da exposição inicial se desenvolveria o quadro de sífilis secundária que é quando ocorre o acometimento da cavidade bucal. Na fase primária a maior incidência das lesões é nos órgãos genitais. As lesões tendem a regredir espontaneamente, mesmo sem tratamento. Então o paciente fica no período de latência, onde o paciente ainda tem a bactéria no organismo, mas não está manifestando os sintomas. Porém, depois de até 30 a 40 anos aparecem as manifestações graves da doença caracterizando como sífilis terciária. → Sífilis primária: A lesão de sífilis primária é chamada cancro. Essa lesão vai se desenvolver de 3 a 90 dias após a exposição inicial. É uma lesão única e indolor, principalmente nos órgãos genitais, que o paciente pode nem notar. Pode acometer a mucosa oral. A manifestação em boca tem relação com a prática do sexo oral. A cavidade oral é o sítio de manifestação extragenital mais comum (lábio, língua e palato) e acomete os linfonodos, causando linfadenopatia bilateral em 80% dos casos. Sem tratamento essa lesão tende a cicatrizar em 3 a 8 semanas. Em boca é comum se formar áreas de ulceração com a formação de uma pseudomembrana que não deve ser removida. Em áreas de epitélio essa pseudomembrana vira uma crosta. Nesse estágio normalmente é uma lesão única na forma de uma úlcera indolor. → Sífilis secundária: seria uma disseminação da infecção bacteriana, disseminação hematogênica. Podem ocorrer sinais e sintomas como: linfadenopatia indolor, dor de garganta, mal-estar, cefaleia, perda de peso, febre, dor musculoesquelética. A lesão característica não é mais o cancro, na sífilis secundárias são características as lesões maculopapulares que seriam em pele e as placas mucosas que seriam as lesões nas mucosas. As lesões são múltiplas e podem ter resolução espontânea em um período de 3 a 12 semanas após a infecção. Normalmente a sífilis secundária aparece entre 4 a 10 semanas após a exposição inicial. As lesões maculopapulares são indolores e são chamadas de roséolas sifilíticas quando estão planas; aparece principalmente na palma das mãos e na planta dos pés. Podem aparecer lesões no couro cabeludo causando queda de cabelo. 30% dos pacientes com sífilis secundária desenvolvem placas mucosas em boca, normalmente em língua, lábio, mucosa juga e palato. Essa placa mucosa não é uma pseudomembrana, é uma placa verdadeira, com aumento do tecido epitelial e exocitose de células inflamatórias no epitélio. Presença de espongiose no epitélio também. → Sífilis latente: o paciente não tem presença de sinais e sintomas; a lesão regrediu espontaneamente. → Sífilis terciária: pode se desenvolver após 1 a 30 anos. Desenvolve-se em 1/3 dos pacientes que não foram tratados. Há um envolvimento significativo maior e sistêmico, vascular e nervoso, chamado de neurossífilis. As lesões tem uma característica maior de destruição dos tecidos ao redor, até os órgãos internos e ossos além da pele e da mucosa. As lesões Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 17 são chamadas de goma sifilítica, inflamação granulomatosa que pode acometer pele, mucosa, ossos e fígado. A lesão é endurecida, pode formar um nódulo ou pode estar ulcerada. Pode causar extensa destruição tecidual. Em boca geralmente acometem o palato e a língua. Sífilis congênita Transmissão por via placentária. Alguns desses sinais podem se desenvolver dentro de 2 semanas após o nascimento. Se não houver tratamento podem ocorrer complicações. Algumas alterações podem acontecer ainda na gestação, mas depende do período da gestação em que a mãe foi diagnosticada com a doença. Os danos são difíceis de reverter. Pode acometer anemia, febre, icterícia, retardo no crescimento, hepatoesplenomegalia e erupções maculopapulares. Características clínicas – Tríade de Hutchinson (patognomônico da sífilis congênita): a) Dentes de Hutchinson: incisivos de Hutchinson e molares em amora. b) Ceratite ocular intersticial: inflamação na córnea. c) Surdez: comprometimento do oitavo par de nervos cranianos. Diagnóstico O diagnóstico é predominantemente clínico (direto) e sorológico (indireto). Pode ser feito através de histopatologia ou de esfregaço. Na sorologia é identificada a positividade a partir da 3ª semana: 1. Testes não treponêmicos: VDRL (veneral disease research laboratory) 2. Testes treponêmicos: FTA-ABS (fluorescente treponemal antibody-absortion) → Estes testes são feitos em conjunto, devemos sempre pedir os dois. Depois que o paciente foi tratado e queremos manter apenas o controle da bactéria no sangue, podemos pedir apenas o VDLR, mas no diagnóstico inicial devemos pedir os dois, pois o segundo teste é o específico para anticorpos circulantes da sífilis. Características histopatológicas - Lesão primária: cancro. Ulceração na superfície, muitos vasos na lâmina própria logo abaixo do epitélio, intensa reação inflamatória com linfócitos e plasmócitos que podem estar dispostos ao redor dos vasos. - Lesão secundária: pode acontecer ulceração superficial ou a placa mucosa com hiperplasia, exocitose e espongiose. Infiltrado plasmocitário perivascular. Tratamento O tratamento de escolha é a penicilina. 1. Penicilina 2400000UI IM, dose única para as fases primária e secundária e 2400000UI IM semanalmente durante 3 semanas para a infecção latente e terciária. 2. Doxixiclina 100mg via oral 2x ao dia por 14 dias para as infecções primária, secundária e latente. 3. Tetraciclina 500mg via oral 4x ao dia para as infecções primária, secundária e latente. TUBERCULOSE Infecção bacteriana pelo bacilo Mycobacterium tuberculosis aeróbio não esporulado. É uma doença infecciosa crônica transmitida por gotículas de saliva. https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=imgres&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiB46LBsunXAhUCf5AKHRZpA7IQjRwIBw&url=http%3A%2F%2Fwww.drakeillafreitas.com.br%2Fcomo-fazer-o-diagnostico-da-sifilis%2F&psig=AOvVaw3_gycslKdDK2kcuOH-QXI3&ust=1512237684058807 Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 18 A infecção é diferente da doença ativa, o paciente pode estar infectado sem desenvolver os sintomas no momento. Estima-se que 1/3 da população mundial estejam infectadas e que haja o surgimento de 10 milhões de casos por ano e leve a 2 milhões de óbitos por ano. No Brasil estima-se 70 mil novos casos por ano com 4 mil mortes. Na década de 40 houve a redução da incidência pelo advento dos antibióticos, mas também ocorreram aumentos cíclicos em virtude da resistência microbiana e o boom do HIV/pacientes imunocomprometidos. Quando o paciente está infectado e a tuberculose foi contida, ela pode ser reativada haver reinfecção em algum estado de imunossupressão e desenvolver a tuberculose secundária. Tuberculose primária Assintomática. É pulmonar, não sendo muito comum ser desenvolvida na boca. Não tem uma progressão evidente. As lesões orais são raras, mas quando ocorrem, aparecem em gengiva, fundo de vestíbulo, áreas de inflamação e sítios de exodontia. Pode ocorrer em sítios que já tinha uma infecção/inflamação prévia. Nas áreas de envolvimento podem conter um nódulo fibrocalcificado no sítio de envolvimento. Tuberculose secundária Presença de tosse que não cessa com 2 ou 3 semanas. O paciente já tem o envolvimento pulmonar e são comuns as lesões extrapulmonares, entre elas na boca. Se o paciente tem AIDS, 50% dos pacientes terão lesões em outros sítios, pois acaba havendo uma falha na defesa, facilitando adisseminação. As lesões orais ocorrem em língua e palato, e as lesões em língua são diagnóstico diferencial para o câncer de boca, pois as lesões da tuberculose aparecem preferencialmente em dorso de língua e as lesões do câncer de boca são mais concentradas na região de borda lateral de língua. É uma úlcera crônica indolor. Ocorre o acometimento dos linfonodos, que ficam endurecidos à palpação. Diagnóstico 1. Teste PPD (proteína purificada derivada) que indica se já houve exposição ao micro- organismo. Teste da tuberculina, que injeta um preparado proteico do micro-organismo no antebraço do paciente e observa se haverá a reação de hipersensibilidade, mostrando se o paciente tem ou não anticorpos contra aquele micro-organismo. Pode ter resultado falso positivo se o indivíduo tiver sido vacinado há pouco tempo. 2. Cultura de tecido infectado ou escarro, mas o resultado é demorado, de 4 a 6 semanas. 3. Biópsia e colorações histoquímicas especiais 4. Raio X de tórax 5. Teste rápido molecular para a tuberculose, que detecta o DNA do micro-organismo e faz triagem de cepas resistentes à Rifampicina. Aspectos histopatológicos Formação de granuloma bem característico, granuloma verdadeiro. Área eosinofílica amorfa central composta por conteúdo necrótico, presença Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 19 de células gigantes multinucleadas, infiltrado inflamatório na região. Coleções circunscritas de histiócitos epitelióides, linfócitos e células gigantes multinucleadas, frequentemente com necrose caseosa central. Pode ser feita a coloração de Ziehl-Neelsen que colora os bacilos álcool-ácido resistentes. Tratamento Antibioticoterapia com múltiplos agentes de longa duração. Pode ocorrer recidiva e reinfecção, e pacientes imunocomprometidos podem ter taxa maior de reinfecção. ACTINOMICOSE Infecção bacteriana endógena causada pelo Actinomyces israelli. Acometimento comum na região cérvico-facial e principalmente no ângulo da mandíbula. Em boca, esse micro-organismo é um componente saprofítico da flora extra e intra-oral podendo estar presente nas criptas amigdalianas, na placa e cálculo dental, na dentina cariada, no sulco gengival e bolsas periodontais. Pode ter um desenvolvimento rápido, de infecção aguda ou pode ser crônica gerando até uma fístula extra-oral no paciente. Não tem predileção por sexo ou idade, está mais relacionada à condição de imunossupressão. 55% dos casos ocorrem na região cervicofacial submandibular do ângulo da mandíbula. Pode acometer a região abdominal e o sistema pulmonar. Essa infecção tem um cheiro característico em virtude da produção de grânulos sulfúricos. O micro-organismo penetra no tecido através de uma área de trauma prévio, como lesão de tecido mole, bolsa periodontal, alvéolo dentário pós-extração, amígdala infectada e inflamada. Forma-se uma área endurecida de fibrose com aspecto lenhoso e que forma um abscesso central, que é a área necrótica onde o micro-organismo está causando danos. Essa formação pode ficar restrita na área do alvéolo ou da bolsa onde está ocorrendo o dano, mas pode drenar e encontrar uma via até mesmo extra-oral para drenagem. A dor não é característica, dor mínima. Faz parte do tratamento a remoção do tecido fibrosado, porque muitas vezes o antibiótico não consegue atingir estas áreas onde se encontram o micro-organismo. Características histopatológicas Faixa fibrosa periférica envolvendo zona composta por tecido de granulação circundando leucócitos polimorfonucleares e colônias de micro-organismos. As colônias consistem em filamentos em forma de clava que formam um padrão de roseta radiada. Diagnóstico A identificação do micro-organismo pode ser feita com cultura ou pode ser coletado material para a biópsia através de punção. Os grânulos sulfúricos dão suporte ao diagnóstico, mas não confirmam nem dão o diagnóstico definitivo de actinomicose. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 20 Tratamento Altas doses de antibiótico, por tempo prolongado, de 5 semanas a 12 meses. Drenagem do abscesso, excisão da fístula e debridamento. Infecções virais com manifestações bucais HERPES VÍRUS SIMPLES (HHIV1 E HHIV2) Tem a infecção inicial que pode levar o paciente a desenvolver a doença e os sintomas clínicos evidentes, mas pode passar por período de latência e desenvolver em uma fase secundária. Infecção inicial → latência → estágio secundário a) HSV1: predileção por regiões acima da cintura, regiões oral, facial e ocular. Parte superior do tronco. b) HSV2: predileção por regiões abaixo da cintura. Principalmente por contato sexual. Ciclo vital O hospedeiro soronegativo ao entrar em contato com o HSV pode desenvolver a doença primária. O vírus fica latente com a tendência de permanecer no gânglio mais próximo da área de infecção. Pode haver uma reativação, que pode levar a desenvolver a doença secundária. A reativação pode ocorrer várias vezes ao longo da vida, e pode ser desencadeada por diversos fatores, principalmente por estresse. • Fatores associados à reativação do vírus: idade avançada, luz ultravioleta, estresse físico ou emocional, fadiga, calor/frio, gravidez, alergia, trauma, tratamento odontológico, doenças respiratórias, febre, doenças sistêmicas, neoplasias malignas. Infecções primárias Em crianças ocorre entre 6 meses e 5 anos. Em 90% dos casos é assintomática. Quando sintomática pode apresentar os sintomas de linfadenopatia cervical anterior, calafrios, febre, náusea, anorexia, irritabilidade e lesões orais. O tempo de incubação do vírus é de 3 a 9 dias, e o tempo de evolução é de 7 a 14 dias onde a doença é mais evidente. A infecção primária, que acomete principalmente crianças, tem o nome de gengivoestomatite herpética aguda, porque geralmente acomete mais a região de gengiva. A região de gengiva marginal livre se apresenta mais edemaciada e algumas áreas apresentam erosão com perda superficial do epitélio e áreas de úlcera. Apesar de mais acentuado na gengiva pode afetar outros locais como mucosa labial e língua. As feridas podem coalescer e formar uma área muito grande de úlcera. A forma inicial é a formação de uma vesícula ou bolha, mas que se rompe muito rápido. Tende a se resolver. A inoculação do herpes vírus nos dedos das mãos e dos pés é chamada panarício herpético. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 21 A infecção primária em pacientes adultos pode acometer também a gengiva. Diagnóstico diferencial com aftas; porém as aftas tendem a se desenvolver em região de mucosa móvel. As lesões do herpes tendem a ser mais em palato gengiva e regiões de mucosa aderida. Em adultos tende ao desenvolvimento nas amígdalas. Os sintomas são dor de garganta, febre e mal estar e o quadro é chamado faringotonsilite. Pode ser assintomático, mas podem ter períodos sintomáticos. Infecção secundária Pode ocorrer em região intra-oral ou extra-oral. Ocorre em adultos. Quando em região extra-oral a área de pseudo-membrana forma uma crosta. Na maior parte dos casos as lesões se encontram em lábios e pele adjacente aos lábios, mas pode ocorrer em mucosa oral, principalmente em regiões de gengiva inserida e palato duro. O herpes vírus é transmissível pelo contato, e não só quando as lesões estão visíveis. Pacientes imunocomprometidos podem ter um quadro mais acentuado com lesões maiores. Diagnóstico O diagnóstico principal é clínico. Em casos de pacientes imunocomprometidos é bom fazer cultura, citologia ou esfregaço, biópsia, sorologia ou técnicas moleculares. Características histopatológicas Vesícula intra-epitelial, ocorrência de células de Tzanc, que são célulasacantolíticas separadas umas das outras na área de fenda, elas são aumentadas porque contém o vírus no seu interior. Degeneração balonizante que deixa as células aumentadas de tamanho pela presença do vírus no seu interior; essas células podem se unir formando um sincício. Tratamento • Infecção primária: terapia de suporte com analgésicos e anestésicos para aliviar os sintomas. Antivirais tópicos na forma de creme em algumas vezes. Restringir o contato com outras pessoas e outras regiões do corpo. • Infecção secundária: terapia de suporte. Antivirais tópicos nos 3 primeiros dias. Usar antivirais sistêmicos em situações específicas e acentuadas. Restringir o contato na fase de lesões ativas e manter higiene rigorosa. Pode-se optar por laserterapia para acelerar a cicatrização. VÍRUS VARICELA ZOOSTER (HHV3 OU VZV) Também apresenta um quadro de infecção, latência e infecção secundária. - Varicela: é a catapora. - Herpes zoster: é o cobreiro. Varicela O contágio pode ser feito pelo ar ou por gotículas respiratórias infectadas. Tem um desenvolvimento grande na população. Incubação de 10 a 21 dias; a maioria dos casos é sintomática com quaro de febre, mal estar, rinite e faringite. O exantema pruriginoso que são as lesões características, podem ocorrer por todo o corpo, com predileção por face e tronco seguidos pelas extremidades. • Sequência de manifestação das lesões: Vesícula → pústula → crosta O mesmo paciente pode ter as 3 lesões ao mesmo tempo. O período em que o paciente se encontra infectante é o período de 2 dias antes do exantema até que todas as lesões se encontrem na forma de crosta. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 22 Pode ocorrer a manifestação da catapora em boca na lesão primária. Aparecem como vesículas branco- opacas de 3 a 4 mm. Pode ocorrer em mucosa móvel ou aderida (borda do vermelhão labial, palato e mucosa jugal). A prevalência e o número de lesões orais correlacionam-se com a gravidade da infecção extraoral. • Complicações: a infecção durante a gravidez pode resultar em catapora congênita neonatal. Ocorrência de infecções secundárias nas lesões em pele. Como estamos diante de um quadro de infecção viral, não usar AAS no paciente, pois pode leva-lo a desenvolver a Síndrome de Reye, um quadro neurológico e em outros órgãos, que pode ser grave e ocorre principalmente em crianças. • Diagnóstico: baseado no quadro clínico. As lesões bucais são associadas à lesão em pele. • Tratamento: tratamento de suporte (banhos mornos com sabão, loções antipruriginosas e antipiréticos), antivirais via oral em casos mais greves. → a Varicela pode ser prevenida com a vacinação, que é indicada para bebês entre 12 a 18 meses e indivíduos acima de 13 anos. Herpes-zoster Comum em pessoas que já tiveram a catapora ou a infecção primária pelo HHV3 em algum momento. Essa seria a parte secundária da infecção. Espera-se apenas uma recidiva. Fatores predisponentes para a reativação: imunossupressão, drogas citotóxicas, uso abusivo de álcool, neoplasias malignas, radiação, senilidade, estresse e tratamentos dentários. Os casos de herpes-zoster tem a tendência de aumentar com o aumento da idade. • Regiões mais afetadas: as lesões tendem a respeitar a linha média. A área de epitélio inervada pelo nervo proveniente do gânglio onde o vírus está alojado acaba desenvolvendo as lesões. Essa área do epitélio inervada pelo nervo afetada é chamada de dermátomo. Fases da doença 1. Fase prodrômica (1 a 4 dias) • Dor intensa (90%) • Febre/cefaleia • Dor mascarada 2. Fase aguda (2 a 3 semanas) •Vesículas • Pústulas • Crostas • Desenvolvimento na linha média 3. Fase crônica (2 meses a 1 ano) • 15% dos pacientes • Neuralgia pós-herpética • > 60 anos • Complicações: envolvimento ocular (herpes zoster ophtalmicus). Faz-se necessário o uso de antiviral para tentar resolver o quadro. Pode haver o envolvimento do ramo oftálmico do nervo trigêmeo. • Lesões orais: envolvimento do nervo trigêmeo. Pode se manifestar em mucosa móvel ou aderida. Aparecem vesículas brancas-opacas de 1 a 4mm (úlceras rasas). Respeitam a linha média. • Diagnóstico: baseia-se nas características clínicas. Área do dermátomo envolvido unilateral + dor. • Aspectos histopatológicos: áreas de células com degeneração balonizante bem aumentadas de volume. Presença de bolha intra-epitelial com células acantolíticas dispersas no interior da lesão. • Tratamento: resolução natural. Uso de terapia de suporte. O uso de antivirais deve iniciar em até 72h após o aparecimento da primeira vesícula, eles aceleram o processo de cicatrização e reduzem a dor. Os antivirais diminuem a prevalência de neuralgia pós-herpética. A vacina é mais eficaz em pessoas acima dos 60 anos e reduz a ocorrência da neuralgia. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 23 VÍRUS EPSTEIN-BARR (HHV4 OU EBV) Agente da mononucleose infecciosa. Também chamada de febre glandular, mono ou doença do beijo. A principal via de contágio é a saliva, pois é a via por onde o vírus é eliminado. A maioria das pessoas tem esse vírus, mas pode não desenvolver a lesão em si. O vírus tem uma incubação de 4 a 6 semanas. As células alvo são os linfócitos B, havendo o acometimento de tecidos linfoides como amigdalas e baço. Nas crianças, muitas vezes passa despercebido, pois o quadro é semelhante aos quadros gripais de infância. Em adultos a infecção tende a ser assintomática, mas pode passar como uma infecção subclínica. Sintomas O paciente tem cansaço, fadiga e mal-estar 2 semanas antes ao desenvolvimento da febre. A febre tende a ser bem alta (38°-39°C). A febre tende a ser contínua e duradoura, durando de 2 a 14 dias. Pode haver o acometimento das amigdalas e dos linfonodos gerando faringite, tonsilite, linfadenopatia cervical e axilar. Os linfonodos tendem a ficar aumentados, simétricos e sensíveis. Acomete principalmente as cadeias cervicais anteriores e posteriores. Pode ocorrer a formação de placas branco- amareladas nas amígdalas. O paciente apresenta petéquias transitórias na região de palato duro e palato mole, que pode se resolver em 1 ou 2 dias; isso se deve à plaquetopenia que acomete o paciente, gerando áreas hemorrágicas. Compllicações Obstrução das vias aéreas superiores. Complicações hematológicas como anemia e plaquetopenia. Complicações neurológicas. Artralgias e mialgias. Esplenomegalia (comprometimento do baço pela afinidade do vírus a linfócitos B). Comprometimento do fígado que pode ser constatado pelo aumento das transaminases. Sinal de Hoagland: é o inchaço das pálpebras do paciente causado pela infecção viral. Diagnóstico Exame clínico + confirmação laboratorial. Nos exames hematológicos o paciente terá linfocitose (aumento do número de linfócitos, porém são linfócitos atípicos) e plaquetopenia/trombocitopenia (redução do número de plaquetas). Sorologia positiva para anticorpos específicos, chamados heterófilos de Paul-Brunnel em 90% dos adultos. Pode ser feita a pesquisa de anticorpos inespecíficos em teste rápido, que é eficaz em adultos na presença de sintomas. Em crianças e imunossuprimidos o resultado pode ser falso-negativo em 70% dos casos. Anticorpos específicos: Antígeno capsídio viral – VCA. • IgG VCA: presente após 2-4 semanas • IgM VCA: presentes no início da infecção. Pode ser feito o PCR para a pesquisa de DNA do vírus em pacientes com imunossupressão. Tratamento A doença tem regressão lenta, de 4 a 6 semanas. Uso de terapia de suporte para amenizar os sintomas, como analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios (exceto AAS e AINES). O paciente deve ficar de repouso para não agravar o quadro de lesõesno fígado e baço. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 24 Corticosteroides em quadros mais graves, onde o paciente apresenta edema muito intenso que gera dificuldade de alimentação. CITOMEGALOVÍRUS (HHV5 OU CMV) O citomegalovírus é mais resistente ao ambiente e é transmitido por via respiratória, ar, saliva, via sexual e de mãe para feto. Também passa pelo processo de infecção inicial → latência → reativação. Tem latência nas glândulas salivares, endotélio de vasos, interior de macrófagos e linfócitos. O período de incubação varia de alguns dias a poucas semanas. Boa parte da população está infectada, e o aumento do número de pessoas que portam o vírus aumenta com a idade. 90% das infecções são assintomáticas. A doença é mais evidente em recém-nascidos e imunossuprimidos. Pode se manifestar como um quadro gripal como febre persistente, tosse, dor muscular e articular. Complicações Hepatoesplenomegalia. Trombocitopenia, causando a ocorrência de petéquias hemorrágicas. Aparecimento de lesões ulceradas e dolorosas que podem acometer todo o aparelho digestivo, incluindo a mucosa bucal em pacientes imunossuprimidos. A infecção pode acometer o olho, principalmente em pacientes com AIDS, causando a coriorretnite que pode levar à cegueira. As ulcerações orais são mais frequentes em pacientes com AIDS. CitomegalovírusXmononucleose: no diagnóstico diferencial observamos que a faringite e a linfadenopatia são mais frequentes na mononucleose. Diagnóstico Clínico e laboratorial, para a identificação do vírus. • Sorologia: CMV IgG presente em casos de exposição recente e CMV IgG presente em exposições passadas. • Exame histopatológico: alterações celulares sugestivas. Podemos fazer imunoistoquímica, mas não é necessário. Aspectos histopatológicos Células em olho de coruja, que são células sugestivas da infecção pelo citomegalovírus; são células aumentadas, com núcleo bem evidente, que podem estar próximo aos vasos sanguíneos, pois é uma infecção viral que afeta células endoteliais. Tratamento Em pacientes imunocompetentes aguardamos a regressão espontânea e fazemos a terapia de suporte para alívio dos sintomas. Em pacientes imunossuprimidos devemos lançar mão dos antivirais e reestabelecer a condição imunológica (terapia HAART). Doenças imunologicamente mediadas LIQUEN PLANO É uma doença imunologicamente mediada, mas na maioria das vezes, o fator desencadeante da resposta imune é desconhecido. Quando reconhecemos o fator que desencadeou a reação e ao remover esse fator observarmos a regressão da lesão, a reação é conhecida como uma reação liquenoide, ou seja, uma reação que se assemelha ao líquen, mas está diretamente associada a um antígeno que desencadeia essa reação. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 25 Em boca, o fator que mais causa reações liquenoides são as restaurações em amalgama. A diferença da reação liquenoide para o líquen plano é que no líquen plano não conseguimos identificar o antígeno. Existem muitos trabalhos na literatura que fazem associação do líquen plano ao desenvolvimento de doenças sistêmicas, por exemplo, a hepatite C. Outra associação de fatores que desencadeiam o líquen plano é o estresse e ansiedade. Apesar de o líquen plano ocorrer na idade adulta tanto em homens quanto mulheres, o grupo mais afetado é o grupo de mulheres. Etiologia 1: idiopática Reação imunologicamente mediada por uma resposta celular, que são principalmente linfócitos T, que estão localizados de maneira concentrada imediatamente abaixo do epitélio, de maneira subepitelial que se dispõe em faixa ou em banda. Não são lesões que agridem por produção de anticorpo. São células que liberam substâncias citotóxicas que agridem diretamente o epitélio. Essa agressão, inicialmente causa uma acantose, aumento de volume do epitélio e um aumento da ceratinização, hiperceratose. Esse aumento de volume e aumento da ceratina faz com que o epitélio fique esbranquiçado; além disso, o pequeno aumento do epitélio pela acantose causa uma elevação que forma uma placa. Dessa forma, a manifestação do líquen será uma placa de cor branca. Além disso, à medida que os linfócitos T atacam a camada basal do epitélio ocorre o apagamento da camada basal em virtude dessa reação auto-imune contra o epitélio. Se a agressão for muito intensa, o epitélio pode ser destruído formando uma área de erosão. Nesses casos, temos uma lesão de liquen plano caracterizado por áreas vermelhas, onde o epitélio foi destruído por ação das células inflamatórias. Como o infiltrado inflamatório libera substâncias citotóxicas, as células começam a sofrer apoptose, que é representado pelas células de citoplasma condensado em que o núcleo desaparece. As células apoptóticas são chamadas de corpos de Civatte. Isso é possível porque a resposta inflamatória tanto ocorre na região subepitelial quanto começa a haver migração de células inflamatórias para dentro do tecido epitelial, chamada exocitose. Etiologia 2: agentes conhecidos Neste caso, chamamos a lesão de uma reação liquenoide. Ao identificar e remover o agente causador da lesão, esta melhora. O melhor exemplo são as reações liquenoides em mucosa em virtude de restaurações de amalgama. O aspecto histopatológico é muito semelhante ao de lesões de líquen plano idiopáticas. Etiologia 3: doenças sistêmicas Existem trabalhos que relacionam o liquen plano à hepatite C, mas os resultados da literatura ainda são controversos. Etiologia 4: estresse Características clínicas Clinicamente o líquen plano é uma doença de adultos. Não é comum ocorrência em crianças ou jovens. Ocorre principalmente em mulheres. É uma doença muco-cutânea, podendo ocorrer em mucosa ou em pele, mas com maior ocorrência em mucosas. Cerca de apenas 1% da população apresenta lesões de pele. De 0,1 a 2,2% dos pacientes com líquen plano tem lesões bucais. O líquen plano é uma lesão assintomática. Em pele, as lesões são comuns em áreas de flexão, como no joelho, na parte posterior da perna, cotovelo e pulso. Aparecem pequenas pápulas avermelhadas ou arroxeadas, pruriginosas (que coçam). Pode aparecer na unha, deixando as unhas finas, amareladas e descamando. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 26 Em boca, a manifestação mais frequente é o líquen plano em mucosa jugal, geralmente bilateral, podendo envolver região até retromolar e podendo envolver região de gengiva, região lateral e ventre de língua, região do lábio, mucosa alveolar. Em todos os sítios são observadas placas brancas. Quando está associada ao estresse, ao haver melhora do paciente a lesão normalmente regride. O líquen plano pode se apresentar na forma erosiva, onde há perda da superfície epitelial e sendo comum apresentar área branca e vermelha associada. A forma erosiva ocorre quando a resposta inflamatória é muito intensa, a ponto de destruir o epitélio. No caso do líquen plano erosivo, ele é sintomático. O paciente tem dificuldade de se alimentar, sente ardor e dor na lesão. Nesses casos, é necessária a intervenção medicamentosa com corticoides. Tratamento A forma reticular do líquen plano não requer nenhum tratamento, pois geralmente é assintomático. O líquen plano erosivo é tratado com corticoides tópicos, mais comumente o elixir de dexametasona 0,01% para bochecho e o acetato de triancinolona (omcilon em orabase, que é feito em um veículo próprio para ser aplicado em cavidade oral, pois em contato com a saliva ele seca formando uma película protetora). Em casos menos responsivos, principalmente quadros descamativos que ocorrem na gengiva costumamos usar o clobetasol, que é outro corticoide. Qualquerque seja o corticoide, o período de uso é limitado, respeitando a sintomatologia e não excedendo o período de 7 dias. O uso prolongado pode causar imunossupressão local, causando a proliferação de um fungo ou bactéria secundário ao tratamento. Além disso, mesmo sendo de aplicação local o corticoide é absorvido pelo organismo. De qualquer forma o paciente deve ser mantido em acompanhamento, seja o liquen plano reticular ou erosivo, porque o liquen plano é considerado uma doença com potencial de malignidade. Os pacientes com líquen plano erosivo, principalmente os que fazem muito uso de corticoide tem um tendência maior ao câncer de boca. O liquen plano erosivo apresenta áreas brancas, além das áreas vermelhas. Na biópsia devemos analisar a estria branca porque nas áreas vermelhas a erosão já destruiu o epitélio. Lesão cancerizável O líquen plano é uma lesão cancerizável, mas isso é discutível. Devemos ter cuidado principalmente com os casos de líquen plano erosivo porque pode ser que a terapia com corticoide deixe o epitélio mais sujeito a sofrer essa transformação. Devemos tomar cuidado com a displasia liquenoide, que não tem nada a ver com o liquen. É uma lesão displásica, um epitélio que já apresenta característica maligna porque já apresenta alterações na diferenciação celular, mas tem um infiltrado inflamatório na lamina própria que lembra o liquen. PÊNFIGO É um grupo de doenças, pois existem vários tipos de pênfigo: 1. Pênfigo vulgar (comum) 2. Pênfigo vegetante 3. Pênfigo eritematoso 4. Pênfigo foliáceo Desses 4 tipos, apelas o pênfigo vulgar e o pênfigo vegetante ocorrem na boca. É uma doença muco- cutânea e é uma doença vésico bolhosa. Caracteriza- se pela formação de vesículas e bolhas, mas raramente encontramos vesículas e bolhas na boca do paciente porque elas se rompem com muita facilidade pela movimentação da mucosa, e principalmente pela localização histológica da bolha. No pênfigo a lesão em boca é a primeira a aparecer e a última a desaparecer. As lesões de pele aparecem depois das lesões de mucosa. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 27 Etiopatogenia Anticorpos circulantes atacam uma proteína que faz parte do sistema de adesão das células epiteliais, na porção lateral das células, na região de filamentos intermediários onde há uma estrutura unitiva, composta por proteínas desmogleína e desmocolina. A desmogleína é a proteína alvo do pênfigo vulgar. Esse complexo unitivo é dissolvido. Quando essas células se soltam forma-se uma fenda, normalmente na camada espinhosa do epitélio. Na fenda formada é possível observar células soltas, chamadas células acantolíticas. Essas células recebem esse nome porque são células da camada espinhosa que perderam seus espinhos (acantos=espinhos). Essa fenda tem conteúdo de exsudato inflamatório. Depois de pouco tempo essa bolha se rompe deixando uma grande área de erosão, muito dolorosa. Em pele acontece a mesma coisa. A camada basal continua aderida à lâmina própria. Dentro da fenda, as células acantolíticas são chamadas de células de Tzanc. Diagnóstico Biópsia perilesional, pois na área onde há o rompimento da bolha e a área de úlcera superficial já houve a desintegração do epitélio. Sinal de Nikolski: ao pressionar o cabo de um espelho em uma área de mucosa íntegra de um paciente provoca-se o aparecimento de uma bolha iatrogenicamente. Não fazemos por questões de ética. → Como no pênfigo há anticorpos aderidos ao tecido e anticorpos circulantes, podemos pedir dois tipos de exame de imunofluorescência. A diferença entre os dois exames é que na imunofluorescência direta precisamos biopsiar o tecido do paciente. • Imunofluorescência indireta: usamos um epitélio normal, pegamos o soro do paciente que tem o anticorpo conjugado a uma substância fluorescente, e reagimos com o epitélio normal. Se o soro do paciente tem o anticorpo, vamos observar uma fluorescência. • Imunofluorescência direta: fazemos no tecido do paciente, onde os anticorpos já estão aderidos. Pegamos um anticorpo qualquer marcado contra o anticorpo aderido para fazer a reação. Características clínicas É uma doença de indivíduos adultos, com mais ou menos 50 anos, sem predileção por gênero. Ocorre mais comumente em povos de origem mediterrânea ou judia, com predisposição racial. Quando aparece em pacientes que não se enquadram nessas características devemos pesquisar se há algum fator que está causando essa reação. Sintomatologia com úlceras rasas porque a bolha é intra-epitelial; ainda que a bolha se rompa, fica uma fina camada de epitélio no local da úlcera, em qualquer local da mucosa, especialmente palato, lábio, mucosa jugal, ventre de língua e gengiva. Pode ocasionalmente envolver mucosa ocular, mas não deixa cicatriz. Em pele as bolhas são mais resistentes, podendo formar áreas de crostas nas lesões ulceradas. Tratamento O tratamento deve ser feito na fase inicial da doença, porque conseguimos controlar com doses menores de corticoide. Enquanto no liquen plano usamos corticoides tópicos, no pênfigo usamos corticoides sistêmicos, normalmente a prednisona e a azitioprina. Começamos com doses pequenas observando a resposta do paciente. O dentista pode prescrever o tratamento, porém os corticoides tem efeitos colaterais importantes, como diabetes, supressão da adrenal, osteoporose, úlceras pépticas, susceptibilidade à infecções, etc. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 28 Taxa de mortalidade de 5 a 10%, na maioria das vezes não provocada pelo pênfigo, mas pelas altas doses de corticoides que o paciente vem a ingerir. PENFIGOIDE DAS MEMBRANAS MUCOSAS (PENFIGOIDE CICATRICIAL) Não atinge pele, atinge apenas mucosa. Essas lesões em mucosa podem deixar cicatrizes, que podem ser um problema na membrana ocular. Presença de auto-anticorpos dirigidos aos hemidesmossomos localizados na camada basal do epitélio. Dessa forma, a formação da fenda ocorre entre o epitélio e o conjuntivo, separando os dois tecidos, e formando uma úlcera mais profunda. Geralmente acomete adultos de 50 a 60 anos com predileção por mulheres. Pode afetar outras mucosas além da boca: conjuntiva ocular, nasal, esofágica, laríngea, vaginal e pele(apenas em alguns subtipos de penfigoides, não no de membranas). É uma doença vésico bolhosa onde as bolhas podem ser vistas com mais frequência e as ulcerações são persistentes. Isso se deve ao fato de a bolha ser sub- epitelial, ou seja, quando o epitélio é removido, ele é removido na sua totalidade, fazendo com que a úlcera seja mais agressiva. Por outro lado, essa bolha está coberta por toda a camada epitelial (basal, intermediária e superficial) tornando a bolha mais resistente. Etiopatogenia Os hemidesmossomos são localizados na junção da camada basal do epitélio com a membrana basal do conjuntivo, onde existem diferentes tipos de proteínas, para as quais se dirigem os auto- anticorpos que ao destruírem os desmossomos desprende completamente o epitélio da lâmina basal. Não há a presença de células acantolíticas, pois as células atacadas não são as da camada espinhosa. A biópsia é feita perilesional. Características histopatológicas Fenda sub-epitelial, o epitélio se solta como um todo. Pode haver um infiltrado inflamatório, mas ele não é muito intenso porque o conjuntivo não está exposto. Pode ser feito o teste de imunofluorescência direta, procurando no tecido doente a presença de anticorpos. A imunofluorescência indireta é feita raramente, porque os auto anticorpos circulantes não são comuns como no pênfigo vulgar. Características clínicas Áreas de úlceras espessas e erosão, muitas vezes com bolhas próximas. Quando envolve gengivapode ter um aspecto semelhante ao líquen, nestes casos chamado de gengivite descamativa, que é um termo genérico que descreve áreas de ulceração da mucosa gengival. O grande problema do diagnostico de penfigoide de mucosas é o acometimento de outras mucosas, como a conjuntiva ocular, porque quando a lesão de úlcera melhora, ocorre a formação de uma cicatriz, chamado simbléfaro. O paciente pode ficar cego em virtude dessa cicatriz porque com a cicatrização, formam-se pregas que podem impossibilitar o paciente de abrir o olho. Tratamento Encaminhamento para o oftalmologista sempre. Se o paciente tiver alguma outra sintomatologia específica podemos encaminhar para outro especialista, porque podemos ter indícios de envolvimento de outras mucosas. A medicação de escolha são os corticosteroides tópicos, os mesmos usados para o líquen plano (dexametasona ou acetato de triancinolona). Os Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 29 corticoides sistêmicos são usados quando a doença ocular está em progressão. ERITEMA MULTIFORME Resultante de uma resposta imune exacerbada que pra muitos autores pode ser considerada uma reação de hipersensibilidade. Há a formação de imunocomplexos. É uma condição mucocutânea bolhosa e ulcerativa de origem incerta. Pode ter diferentes antígenos desencadeantes. Um antígeno muito frequente é o vírus do herpes simples ou o mycoplasma, que é um agente causador de infecções pulmonares. Existem 3 variantes do eritema multiforme: a) Menor: mais frequente, restrito à boca e à pele. b) Maior: Síndrome de Stevens-Johnson envolve mucosa ocular e genital além de boca e pele. c) Necrose epidérmica tóxica: doença de Lyell (atinge o corpo todo do paciente, como um grande queimado). O paciente que tem eritema tem algum fator precipitante que é algum antígeno, que pode ser infeccioso (como o vírus da herpes, o Mycoplasma ou histoplasmose), drogas (sulfas, penicilinas, barbitúricos, salicilatos), doenças gastrointestinais (doença de Chron ou colite ulcerativa) ou outras coisas como vacinas, radioterapia e câncer. • Formação do eritema: há uma grande quantidade de antígenos que precisa de uma grande quantidade de anticorpos para combater. Forma-se imunocomplexos. Esses imunocomplexos se depositam na parede de vasos desencadeando uma reação de complemento. Isso é uma reação de hipersensibilidade tipo 3. O complemento amplifica a resposta e o resultado final é a destruição do vaso, pois ocorre a lise do imunocomplexo junto com a célula a qual ele se aderiu. Características clínicas do eritema menor e maior Os pacientes atingidos são pacientes jovens, entre 20 e 30 anos. Afeta mais os homens. Início agudo: febre, mal estar, cefaleia, tosse e dor de garganta, normalmente 2 a 3 dias antes de aparecer as lesões. São os sinais prodrômicos dessa doença. A lesão é uma doença auto-limitada, desaparecendo entre 2 a 6 semanas. Porém se o paciente for novamente exposto àquele agente antigênico, ele terá recidiva. Cerca de 20% dos pacientes apresentarão recidiva. Quando a lesão sai da boca e envolve além da boca, a pele e outras mucosas deixam de ser chamado eritema menor e passa a ser denominado eritema maior ou doença de Stevens-Johnson, que também vai acometer a mucosa ocular e genital. Em todos os casos de eritema multiforme terá acometimento labial. O paciente apresenta um lábio sanguinolento, com aspecto de destruído devido às ulcerações provenientes de bolhas. Há grande dificuldade de exame clínico porque a mucosa bucal também está toda envolvida. As lesões em pele têm variadas nuances de coloração. Tem um centro mais escuro e vai clareando à medida que se aproxima da periferia. Por isso é descrita como lesão em alvo. Devemos olhar as palmas das mãos e plantas dos pés do paciente, pois são os sítios mais acometidos pelas lesões em alvo. Tratamento A primeira coisa é tentar identificar o agente desencadeante, pois se não identificamos o que desencadeou, o paciente pode voltar a ter a reação. Usamos terapia de suporte para os sintomas, como analgésicos, antitérmicos e coisas que ajudem o paciente a se alimentar, como uma dieta líquida, coisas geladas. Em quadros muito graves o paciente deve ser internado para receber infusão de soro intravenosa. Prova 2 Patologia, Estomatologia e Radiologia I Karolina Viana 30 Em alguns casos são prescritos corticoides, mas a prescrição não é muito comum devido ao fato de a doença ser auto-limitada. Injeção de imunoglobulinas nos casos muito graves. Tem efeitos colaterais graves e deve ser feito em hospital. A necrose epidérmica tóxica ou doença de Lyell normalmente é fatal. ULCERAÇÃO AFTOSA RECORRENTE É uma doença que aparece por ciclos de maior estresse. É uma doença muito comum, que acomente cerca de 20% da população. Tem etiologia desconhecida e pode ter etiologias diferentes para pessoas diferentes. Existe a hipótese de que afta seja uma reação imunológica mediada por células T e comum em pacientes com a relação CD4/CD8 diminuída e TNFα aumentada. Ou seja, quantidade de linfócitos supressores aumentada no paciente. O TNF que é uma citocina pró-inflamatória também está aumentada. Causas 1. Imunodesregulação primária: alergias, predisposição genética, fatores imunológicos, estresse. 2. Diminuição da barreira mucosa: anormalidades hematológicas (em situações de anemia a mucosa fica mais frágil), influências hormonais, deficiências nutricionais, trauma, suspensão do fumo. 3. Aumento da exposição antigênica: agentes infecciosos, alimentos e medicamentos. Tipos clínicos a) Afta menor: Mikulicz, são as pequenininhas. b) Afta maior: Sutton ou periadenite necrótica recorrente. São as maiores que além de causar necrose deixam cicatrizes na boca, são recorrentes. c) Ulcerações herpetiformes: parecem com ulcerações herpéticas, que aparecem em cachos. → Síndrome de Bheçet: caracterizadas por ulceras orogenitais que são recorrentes e muito semelhantes a aftas, mas que também tem inflamação ocular crônica. É uma doença sistêmica que se manifesta na boca. Ulceração aftosa recorrente X infecção por herpes simples: diagnóstico diferencial: o herpes recorrente raramente aparece intrabucal; o herpes recorrente ocorre no lábio. Quando o herpes ocorre na boca, aparece no palato, sendo uma lesão de mucosa aderida. As ulcerações aftosas são lesões de mucosa livre. O diagnóstico diferencial da primo-infecção da herpes é feito ao observar que essa primo-infecção chamada gengivoestomatite herpética acomete gengiva e ulcerações aftosas não. Tratamento Identificação do agente desencadeante e correção deste fator quando possível. Tratamento sintomático com corticoides tópicos.