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UNIDADE 1 - Crises Ambiental e Social e o Desenvolvimento Sustentável (AULA)

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Do Holoceno ao Antropoceno 
 
O Holoceno é o período geológico que começou há 11.700 anos e se caracterizou pela estabilidade do clima. 
Esse fato permitiu gradualmente a evolução das atividades humanas por meio do cultivo de plantas, isto é, 
pelo desenvolvimento da agricultura e pela domesticação de animais. Soma-se a isso as migrações humanas, 
a constituição de sociedades complexas e a criação dos aglomerados urbanos, como vilarejos, vilas e cidades 
(VEIGA, 2019; COSTA, 2022). O Holoceno se constituiu no período de desenvolvimento do homem e de 
seus atributos na Terra. 
Para um número significativo de cientistas, esse período se esgotou e estamos vivendo o início de um novo 
período geológico: o Antropoceno. A palavra “Antropoceno” foi cunhada pelo biólogo Eugene F. Stoermer, 
em 1980, e significa antropo (homem) + ceno (novo) (VEIGA, 2019). Já a hipótese de um novo tempo 
geológico foi levantada originalmente pelo cientista Paul Crutzen, ganhador do Prêmio Nobel de Química, 
em 1995, e Eugene F. Stoermer, durante uma reunião do Programa Internacional de Geosfera-Biosfera 
(IGBP) em Cuernavaca, México, no mês de fevereiro do ano de 2000. Para eles, o uso do termo 
Antropoceno é o mais adequado para “[...] enfatizar o papel central da humanidade na geologia e na 
ecologia” (CRUTZEN; STOERMER, 2000, p. 17). 
O que identifica o Antropoceno são as profundas transformações das atividades humanas sobre os processos 
de regulação biofísicos do planeta, isto é, o homem passou a ser uma força geológica capaz de modificar as 
condições estruturantes do sistema terrestre. Portanto, Antropoceno significa a época da dominação humana 
sobre o planeta (ALVES, 2020). 
Não há consenso sobre o início do Antropoceno, mas os especialistas escolheram uma data simbólica como 
marco temporal: o ano de 1784, data do aperfeiçoamento da máquina a vapor por James Watt. Esse é o 
período que marca o uso intensivo de combustíveis fósseis, no caso, o carvão, e o início da Revolução 
Industrial e do sistema de produção capitalista. Desse período em diante, que podemos chamar de 
modernidade, temos um conjunto de elementos decisivos para definir a intervenção das forças humanas 
sobre o planeta. 
Um exemplo imediato é a questão demográfica: em 1800, a população mundial era de 1 bilhão de pessoas; 
hoje, somos 7,5 bilhões, e as estimativas falam em 10 bilhões no ano de 2050. Esse aumento populacional 
esteve ligado à urbanização, que se intensificou nos últimos 200 anos, ou seja, o mundo se tornou urbano, 
com mais de 50% da população mundial vivendo em cidades. No Brasil, por exemplo, esses índices são 
superiores a 80% da população (IPEA, 2006). Esses processos foram lastreados pelo uso intensivo de 
combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás – e pela definição de uma sociedade de consumo nos países 
centrais. Com esse cenário, temos os fatores de pressão para a extração de recursos naturais, como a 
ascensão de uma agricultura industrial, o desmatamento de florestas tropicais e a perda de biodiversidade. 
Da mesma forma, entre os problemas ocasionados, estão a poluição em todos os sistemas planetários – ar, 
oceanos, solo etc. – e a configuração de sociedades com desigualdades socioeconômicas em nível global. 
Outros dados e variáveis poderiam ser agregados, mas os enumerados demonstram os impactos das 
atividades humanas sobre os processos de sustentação dos alicerces planetários. 
Figura 1 | Crescimento da economia da população e da renda per capita mundial: 1768-2018 - Fonte: Angus 
Maddison, Historical Statistics of the World Economy e FMI apud A dinâmica... (2019, [s. p.]). 
A expressão Antropoceno é objeto de questionamentos. O geógrafo norte-americano Jason Moore prefere o 
vocábulo Capitoloceno, porque, segundo ele, não é possível atribuir à espécie humana a condição de força 
geológica, mas, sim, ao sistema capitalista que, por seu caráter expansionista, é o causador da mudança de 
era geológica (MOORE, 2016). Outros usam o termo Ocidentaloceno, porque a responsabilidade pelos 
desdobramentos atuais é dos países ricos do norte global, e esses não podem ser atribuídos às nações mais 
pobres (UNESCO, 2018; COSTA, 2022); ou ainda Tecnoceno, porque as mudanças em curso e suas 
consequências foram a partir do desenvolvimento tecnológico e tem o poder de alcançar todas as condições 
de vida para as gerações futuras (COSTA, 2021). 
Apesar dos questionamentos, a expressão Antropoceno se popularizou e tornou-se não só a designação de 
um novo tempo geológico mas também uma metáfora dos novos tempos em curso. Em uma ou em outra 
perspectiva, o Antropoceno traz a discussão sobre os limites de um planeta finito, tanto de espaço quanto de 
recursos naturais. Além disso, se sistemas econômicos e sociais continuarem na mesma sistemática, 
passaremos de um cenário de crise para uma provável e desafiadora emergência ecológica, afetando a vida 
como um todo. 
 
A Grande Aceleração 
 
Da Revolução Industrial até o final da primeira metade do século XX, temos o primeiro estágio do 
Antropoceno, que é definido como era industrial. A partir de 1950, no século passado, temos um novo e 
perigoso estágio com a intensificação dos efeitos antropogênicos sobre o Sistema Terra, que os cientistas 
têm denominado como a “Grande Aceleração”. 
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, uma época de significativa expansão das atividades econômicas em 
uma sociedade de consumo e baseada em combustíveis fósseis foi responsável por recordes sucessivos na 
emissão de gases antropogênicos. Para exemplificar, nos últimos 50 anos, a economia mundial multiplicou 
por quase quatro vezes, enquanto o comércio global aumentou em dez vezes (IPBES, 2019). Para 
contemplar as demandas desse crescimento econômico, nós, seres humanos, passamos a exercer uma 
pressão excessiva sobre os ciclos de regulação do planeta com o aumento da poluição, desmatamentos, 
perda de biodiversidade, acidificação de oceanos, entre outros fatores. 
Alguns estudos científicos nos ajudam a compreender os desafios impostos pela Grande Aceleração das 
últimas décadas. O relatório A Avaliação Global da Natureza, lançado em 2019 pela Plataforma 
Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, na sigla em inglês), é a mais 
extensa análise sobre a perda da biodiversidade no planeta e afirma que “[...] o ritmo das mudanças globais 
na natureza nos últimos 50 (cinquenta) anos não tem precedentes na história da humanidade” (IPBES, 2019, 
p. 12). Elencamos outros dados sensíveis desse documento (IPBES, 2019): 
 75% da superfície da Terra sofreu alterações consideráveis e já se perdeu mais de 85% de áreas de zonas 
úmidas. 
 66% da superfície dos oceanos estão experimentando efeitos crescentes de deterioração. 
 Em média, cerca de 25% das espécies em grupos de animais e plantas estão ameaçados, o que sugere que 
cerca de um milhão de espécies já estão em perigo de extinção, muitas em apenas algumas décadas. 
 Em 2016, 559 das 6.190 raças de mamíferos domesticados usados para alimentação e agricultura (mais de 
9%) foram extintas e pelo menos 1.000 outras foram ameaçadas de extinção. 
O relatório Planeta Vivo, do ano de 2020, elaborado pela entidade WWF, traz os mesmos dados sobre a 
perda da biodiversidade. Os fatores responsáveis por essa perda são: o uso da terra, com a conversão de 
áreas intocadas em setores agrícolas, e, no caso dos oceanos, o aumento excessivo da pesca. O ponto 
fundamental do relatório é que “a perda de biodiversidade não é apenas um problema ambiental. Ela 
também afeta o desenvolvimento, a economia, a segurança global, a ética e a moral” (WWF, 2020). 
Recentemente, um novo relatório do IPBES (2022) alertou que cerca de um milhão de espécies da fauna e 
da flora estão ameaçadas de extinção. 
Esse conjunto de dados traz uma constatação fundamental: a necessidade de estabelecer limites planetários, 
em uma perspectiva que permita conjugar as atividadessocioeconômicas de nossas sociedades com a 
capacidade de suporte do planeta. Para tanto, será necessário compreender quais são os limites planetários. 
Um importante estudo liderado pela equipe do cientista sueco Johan Rockström, do Centro de Resiliência de 
Estocolmo, caracterizou os nove processos que regulam a estabilidade e a resiliência do planeta, 
estabelecendo os limites para o que é denominado “espaço operacional seguro para a humanidade”, isto é, 
em que é possível a manutenção das atividades sem colocar em risco a vida terrestre (VEIGA, 2019; 
COSTA, 2022). 
Os nove processos que precisam ser regulados para a garantia da estabilidade planetária são (VEIGA, 2019; 
COSTA, 2022): 
1. Mudanças climáticas. 
2. Perda da integridade da biosfera (perda da biodiversidade). 
3. Dispersão de químicos e novas substâncias. 
4. Acidificação do oceano. 
5. Uso da água doce. 
6. Mudanças do uso da terra. 
7. Fluxos biogeoquímicos (alterações nos ciclos do nitrogênio e do fósforo). 
8. Carga de aerossóis de origem antropogênica presentes na atmosfera. 
9. Introdução de novas entidades (microplásticos, poluentes orgânicos, nanomateriais etc.). 
Esses processos que estabelecem os limites planetários podem ser sintetizados na figura a seguir. 
Figura 2 | Os nove limites planetários - Fonte: Pais (2021, [s. p.]). 
Na figura, podemos visualizar que a parte em verde são as chamadas zonas seguras, em que temos o “espaço 
operacional seguro”; em laranja, as “zonas de risco crescente”, com alto potencial de efeitos prejudiciais; em 
vermelho, as “zonas de risco alto”, em que os limites foram ultrapassados e estamos sujeitos às 
consequências imprevisíveis. Percebemos que a humanidade já ultrapassou quatro dos limites estabelecidos: 
mudanças climáticas, integridade da biosfera (perda de biodiversidade), fluxos bioquímicos de nitrogênio e 
fósforo e, mais recentemente, as mudanças no uso da terra (solo). Esses são desafios que estão postos no 
tabuleiro global, a demandar a atuação de todas as instituições internacionais e nacionais. 
Nota-se, assim, que a observância dos limites planetários é uma das exigências para que as crises provocadas 
pela Grande Aceleração não conduzam o Sistema Terra a uma situação de irreversibilidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A era da responsabilidade 
 
Para o enfrentamento das questões que se apresentam no Antropoceno, será imprescindível repensar os 
meios de produção e os padrões de consumo em sociedade, que afetam decisivamente os processos 
ambientais e, por consequência, as dinâmicas de regulação do Sistema Terra. Se, em sentido amplo, é 
essencial uma conjugação de políticas e estratégias por diversos atores globais – instituições 
governamentais, setores empresariais e organismos multilaterais –, na escala da proximidade (quotidiano) é 
preciso destacar o exercício de uma ética da responsabilidade, por meio da conscientização ecológica para a 
compreensão da finitude dos recursos naturais e o repensar das relações de consumo. Não há dúvidas que 
dispomos de tecnologias cada vez mais avançadas e que podem ser muito importantes no contexto das 
crises. No entanto, as tecnologias, sem a mudança de consciência pública e individual e sem a percepção do 
próprio ser humano de que ele e a natureza constituem um todo, podem não ser suficientes para lidar com a 
questão demográfica e o aumento da poluição (ODUM, 2001). 
Um dos intentos que contribui no processo de tomada de consciência é um indicador criado que nos permite 
conhecer os impactos das nossas atividades sobre o planeta. Trata-se do conceito de “pegada ecológica” – 
elaborado pela entidade Global Footprint Network –, que é uma unidade métrica que estabelece uma 
equação entre a demanda de recursos utilizados por pessoas, empresas e governos e a capacidade de 
regeneração biológica do planeta. A pegada ecológica mede o quanto de área de terra e água são requeridos 
para o consumo e para a absorção dos resíduos sólidos gerados (WWF, 2020). A pegada ecológica é 
representada em hectares – unidade que é equivalente a 10.000 metros quadrados – e, no caso de pessoas, 
mensura-se quantos hectares são demandados para configurar a pegada ecológica individual. 
Para ficar mais claro, a pegada ecológica de uma pessoa que vive no Brasil é de 2,6 hectares, o que significa 
que essa é a área necessária para atender ao consumo de cada brasileiro (GLOBAL FOOTPRINT 
NETWORK, 2022). No caso de um cidadão dos Estados Unidos, a pegada ecológica é de 8,1 hectares; de 
um alemão, é de 4,7 hectares; de um inglês, de 4,2 hectares; de um chinês, de 3,6 hectares; e assim as 
pegadas são calculadas para os habitantes de mais de 200 países. A título de curiosidade, as maiores pegadas 
ecológicas são do Catar (14,3 hectares) e de Luxemburgo (13 hectares) (GLOBAL FOOTPRINT 
NETWORK, 2022). Já as menores pegadas ecológicas estão em nações, como o Iêmen (0,5 hectares), 
Timor-Leste (0,6 hectares) e Haiti (0,6 hectares) (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2022). 
Muitos países estão em situação de déficit ecológico, isto é, usam mais recursos naturais – pegada ecológica 
– que seus ecossistemas podem regenerar – biocapacidade –, como é o caso dos Estados Unidos, da China, 
da Índia, de Israel, do Japão e da União Europeia. Com o aumento desse déficit em nível global, temos o que 
é chamado de “capacidade de carga” do planeta, que é a sobrecarga no consumo de seus recursos. Desde a 
década de 1970, a capacidade de carga do planeta tem sido ultrapassada com sérios riscos para a dinâmica 
ambiental. Uma das representações usadas para demonstrar o limite da capacidade de carga do planeta é 
determinar o dia em que ele ocorre em cada ano. No ano de 2022, ela foi atingida no dia 28 de julho (WWF, 
2022), a partir de então estamos em déficit. Em uma analogia, entramos no “vermelho”, consumindo mais 
do que o planeta pode suportar. Por esse parâmetro, para atender aos níveis de utilização dos recursos 
ambientais atuais, é demandado o equivalente a 1,75 planeta (WWF, 2022). Essa capacidade de carga pode 
ser medida em termos de países, já que cada um deles possui a sua pegada nacional. No caso do Brasil, a 
capacidade de carga foi atingida em 12 de agosto de 2022 (WWF, 2022). Isso se dá, em boa medida, pelo 
aumento do desmatamento na Floresta Amazônica e das queimadas nesse e em outros biomas brasileiros, 
como o Cerrado e o Pantanal. 
De tudo que foi estudado, faz-se necessário compreender que a era do Antropoceno é uma realidade e que 
devemos estar preparados para o enfrentamento de seus efeitos em nossas atividades econômicas e 
cotidianas. Ainda que a atuação no nível individual ou de pequenos grupos seja restrita, isso não é um 
obstáculo para que possamos compreender o imperativo do exercício da ética da reponsabilidade em todos 
os campos da atividade humana, tanto profissional quanto cidadã, porque não há dissociação entre eles. 
Afinal, o que está em risco é a construção da sociedade e dos predicados da vida. Esse é o desafio do nosso 
tempo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Saiba mais 
 
Como estudamos nesta aula, uma das principais métricas para conhecer e compreender o impacto das nossas 
atividades no planeta é a pegada ecológica. Mas será que você sabe qual é a sua pegada? Para conhecê-la, 
acesse o site Pegada Ecológica e faça o teste usando a calculadora da contabilidade ambiental que reflete as 
nossas condutas sobre o planeta. Além de interessante, o resultado nos ajudará a compreender a nossa 
responsabilidade no Antropoceno. 
 
Introdução da aula 
 
Estudante, é uma alegria tê-lo conosco em uma nova aula sobre um tema fundamental para a sua formação 
profissional: as mudanças climáticas. 
Sabemos, hoje, que a mudança do clima é uma realidade com impactos diretos nas relações econômicas e 
sociais. Se, por um lado, existe o desafio de lidar com os efeitos negativos da mudança do clima, de outro, 
está em curso a configuração de uma economia, de baixocarbono, adaptada aos novos tempos. 
http://www.pegadaecologica.org.br/
Portanto, é importante para você, como profissional, conhecer a dinâmica da mudança do clima, os 
instrumentos institucionais e refletir sobre a aplicação das estratégias para a adaptação e mitigação dos 
efeitos adversos sobre as nossas sociedades. 
Vamos juntos no estudo dessa instigante temática! 
 
Mudança do clima, gases de efeito estufa e 
aquecimento global 
 
A mudança do clima é o maior desafio do mundo contemporâneo. Nenhuma política ou perspectiva de 
desenvolvimento social e econômico prescinde dessa temática, e sua compreensão é fundamental para o 
futuro de nossas sociedades. 
Há um conjunto de conceitos ligados às questões climáticas, como mudança do clima, aquecimento global, 
gases de efeito estufa e outros. Conhecê-los permitirá o entendimento do contexto e dos desafios que as 
alterações climáticas impõem nos sistemas naturais e humanos. 
Considera-se mudança do clima as transformações nos padrões de temperatura e clima ao longo do tempo. 
Embora possa ser de origem natural, o fator decisivo para a mudança do clima é atribuído, direta ou 
indiretamente, às atividades humanas, já que elas induzem a alteração de composição da atmosfera. O 
principal elemento humano que desencadeou a mudança do clima é o uso dos combustíveis fósseis – 
petróleo, carvão, gás – desde o início da modernidade, com o advento da Revolução Industrial. Nesse 
contexto, temos a emissão dos gases de efeito estufa (GEE), que são aqueles “[...] constituintes gasosos, 
naturais ou antrópicos, que, na atmosfera, absorvem e reemitem radiação infravermelha” (BRASIL, 2009, [s. 
p.]). São exemplos desses GEE o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso, que são utilizados ou 
resultantes de atividades da indústria, transporte, agricultura, pecuária etc. Além disso, o desmatamento de 
florestas tropicais, a substituição no uso do solo e outras atividades contribuem para a emissão desses gases. 
Os principais emissores de dióxido de carbono são: a China, os Estados Unidos e a União Europeia. 
A emissão de gases de efeito estufa é diretamente responsável pelo aumento da temperatura planetária. 
Desde 1880, quando se iniciaram as medições globais, até o ano de 2020, a temperatura da Terra aumentou 
mais de 1,2 °C acima do nível pré-industrial (1850-1900), e a última década foi a mais quente da história 
(OMM, 2022). Temos, aqui, o que é chamado de aquecimento global. Esse aumento da temperatura global 
afeta diretamente os sistemas de sustentação da vida no planeta, que são interconectados às mais variadas 
atividades humanas. 
Nesse sentido, há estudos sobre os impactos do aquecimento global sobre o Ártico, a Antártica e 
o permafrost (material orgânico congelado); com o derretimento das geleiras e calotas polares, há o aumento 
no nível do mar (IPBES, 2019). Ademais, nota-se o aumento dos extremos climáticos e meteorológicos, com 
oscilações significativas de calor e frio em todo o planeta. Chuvas, enchentes, tempestades, ciclones e secas 
são cada vez mais comuns e intensos, prejudicando as atividades agropecuárias, em especial, a segurança 
alimentar das populações mundiais. Os ecossistemas, por sua vez, são afetados pelo aquecimento global com 
a perda da biodiversidade, com ameaças e a extinção de componentes da flora e da fauna. Nos oceanos, os 
recifes de corais são atingidos com a acidificação. 
Todos os elementos delineados possuem impacto imediato para os seres humanos com efeitos na saúde, na 
disseminação de vetores de transmissão de doenças, e, em última análise, na própria existência da vida como 
conhecemos. Para exemplificar, a pandemia da Covid-19 e outras questões epidemiológicas estão associadas 
às consequências da perda da biodiversidade causada pelos desmatamentos e pelas queimadas das florestas 
tropicais em todo o mundo. 
Por esse conjunto, nota-se que será necessário um compromisso global para enfrentar os efeitos negativos da 
mudança do clima. 
 
O regime jurídico climático 
 
Há um conjunto de negociações e proposições em nível global – envolvendo países, entidades 
internacionais, cientistas e sociedade civil – para o enfrentamento da mudança do clima. A Organização das 
Nações Unidas (ONU) tem um papel central nesse processo. Ela é uma das responsáveis pela criação do 
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) em 1988. Formado por 
cientistas de todo o mundo, o IPCC é a principal autoridade mundial sobre o aquecimento global e produz 
periodicamente relatórios científicos sobre a mudança do clima, com a formulação de estratégicas de 
enfrentamento e respostas aos impactos. Até o ano de 2022, o IPCC tinha produzido seis relatórios de 
avaliação e estratégias de enfrentamento à mudança do clima. 
No que se refere à arquitetura normativa internacional, o principal documento sobre a mudança climática é a 
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, sigla em inglês), adotada em 
Nova Iorque em 9 de maio de 1992 e aberta para assinatura em junho de 1992, durante a Rio-92, com 
entrada em vigor em 21 de março de 1994. 
A Convenção-Quadro tem como principal objetivo a “[...] estabilização das concentrações de gases de efeito 
estufa na atmosfera num nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no sistema climático” 
(BRASIL, 1998, [s. p.]). Ela pretende evitar os chamados efeitos negativos da mudança do clima, que são: 
[...] as mudanças no meio ambiente físico ou biota resultantes da mudança do clima que tenham efeitos 
deletérios significativos sobre a composição, resiliência ou produtividade de ecossistemas naturais e 
administrados, sobre o funcionamento de sistemas socioeconômicos ou sobre a saúde e o bem-estar 
humanos. (BRASIL, 1998, [s. p.]) 
Portanto, a Convenção-Quadro tem como foco o compromisso dos países no processo de estabilização da 
emissão de gases de efeito estufa, no sistema climático, decorrentes de atividades antrópicas, para que não se 
potencializem os efeitos do aquecimento global (BRASIL, 1998). 
Com a adoção da Convenção-Quadro e como forma de manter a discussão sobre o clima, as partes (países) 
se reúnem periodicamente para discutir as questões climáticas. Essas reuniões são chamadas de COP 
(Conferência das Partes), órgão supremo da Convenção-Quadro. A primeira COP ocorreu no ano de 1995, 
em Berlim, na Alemanha (MELO, 2017). 
Uma das principais deliberações desse órgão ocorreu durante a COP 3, em 1997, com a aprovação do 
Protocolo de Kyoto, como componente da Convenção-Quadro, que estabeleceu metas de redução de 
emissões para os países desenvolvidos. Após oito anos de negociações, o Protocolo entrou em vigor em 16 
de fevereiro de 2005, com a ratificação por, no mínimo, 55% do total de países-membros da Convenção-
Quadro sobre Mudança do Clima. Esses deveriam ser responsáveis por, pelo menos, 55% do total das 
emissões de gases de efeito estufa, tendo como referência o ano de 1990 (MELO, 2017). Mesmo com o 
Protocolo de Kyoto, as emissões de gases de efeito estufa não cessaram, ao contrário, registraram sensível 
aumento, e um dos fatores foi a crise econômica de 2008. 
Para substituir o Protocolo de Kyoto, durante a 21ª Conferência das Partes (COP 21), realizada em Paris, na 
França, no mês de dezembro de 2015, celebrou-se um novo acordo para enfrentar as ameaças da mudança 
climática, denominado Acordo de Paris. Esse contou com a assinatura dos representantes de 196 países da 
Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima. 
O Acordo de Paris visa reforçar a resposta mundial à ameaça da mudança climática no contexto do 
desenvolvimento sustentável e erradicar a pobreza. São três os objetivos do Acordo de Paris (BRASIL, 
2017): 
1. Manter o aumento da temperatura média global bem abaixo dos 2 °C acima dos níveis pré-industriais 
e buscar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, 
reconhecendoque isso reduziria significativamente os riscos e impactos das mudanças climáticas. 
2. Aumentar a capacidade de adaptação aos impactos adversos das mudanças climáticas e fomentar a 
resiliência ao clima e o desenvolvimento de baixas emissões de gases de efeito estufa, de uma forma 
que não ameace a produção de alimentos. 
3. Promover fluxos financeiros consistentes com um caminho de baixas emissões de gases de efeito 
estufa e de desenvolvimento resiliente ao clima. 
O Acordo de Paris procura respeitar os diferentes estágios de desenvolvimento de cada país e, para tanto, 
“[...] será implementado para refletir a igualdade e o princípio das responsabilidades comuns, porém 
diferenciadas, e respectivas capacidades, à luz das diferentes circunstâncias nacionais” (BRASIL, 2017, [s. 
p.]). 
Em 22 de abril de 2016, o Acordo de Paris foi aberto para o período oficial de assinaturas na Sede das 
Nações Unidas em Nova Iorque, com extensão até 21 de abril de 2017. Contudo, menos de um ano antes de 
sua celebração na COP 21, já contava com a assinatura de quase 100 países e, em especial, dos Estados 
Unidos e da China – dois dos maiores emissores de gases de efeito estufa. Esses dois países ratificaram o 
Acordo em setembro de 2016, assim, no dia 4 de novembro de 2016, o Acordo de Paris entrou em vigor 
oficialmente (MELO, 2017). 
O Brasil, por sua vez, aprovou o texto do Acordo de Paris sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas 
sobre Mudança do Clima, em agosto de 2016, por meio do Decreto Legislativo nº 140/2016, com ratificação 
pelo Presidente da República em 12 de setembro de 2016 (MELO, 2017). 
Após a entrada em vigor, realizou-se em Marrakesh, Marrocos, no mês de novembro de 2016, a 22ª 
Conferência das Partes (COP 22), em que as discussões se centraram no estabelecimento de um plano para 
implementar e monitorar o Acordo de Paris até dezembro de 2018. A 24ª Conferência das Partes (COP 24), 
ocorrida em Katowice, Polônia, em dezembro de 2018, adotou um manual de instruções (livro de regras) 
para os países implementarem os seus esforços nacionais no Acordo de Paris, chamado de “Contribuição 
Nacionalmente Determinada” (NDC), que é a contribuição voluntária de cada país para a redução de suas 
emissões de gases de efeito estufa. 
 
 
 
Lidando com as mudanças climáticas 
 
Para o enfrentamento do cenário da mudança do clima, faz-se necessário um conjunto de compromissos e 
obrigações por todos os atores do tabuleiro global, governos, setor empresarial e sociedade civil. 
De imediato, é preciso reconhecer que vivemos em um cenário de vulnerabilidades, conceito que está 
associado ao grau de suscetibilidade de uma sociedade, de acordo com suas capacidades para enfrentar os 
efeitos adversos da mudança do clima (BURSZTYN; BURSZTYN, 2012). Isso significa que todos seremos 
impactados pela mudança do clima. Reconhecer as vulnerabilidades é identificar os possíveis impactos 
negativos da mudança do clima sobre as atividades econômicas, a segurança alimentar e a vida das pessoas 
em um país ou região. Há países mais e outros menos vulneráveis. No nosso caso, o Brasil, com um 
território de dimensão continental, as vulnerabilidades são distintas, a depender da região. Vamos 
exemplificar: fenômenos meteorológicos extremos, como secas e enchentes, podem ter efeitos distintos na 
região Sul ou no Nordeste brasileiro. Por isso, conhecer as nossas vulnerabilidades enseja a adoção de 
medidas para conter os efeitos adversos da mudança climática e, com isso, fortalecer os mecanismos para 
a resiliência. Logo, é preciso estarmos preparados para o enfrentamento e a minimização dos efeitos da 
mudança do clima sobre regiões, cidades e lugares. 
Nesse sentido, duas estratégias são fundamentais: a mitigação e a adaptação aos efeitos adversos da 
mudança do clima. Ambas devem ser conjugadas, sendo que a mitigação se preocupa com a redução das 
causas, e a adaptação assenta-se em lidar com as consequências da mudança do clima (PFEIFFER, [s. d.]). 
Em um primeiro momento, o objetivo assenta-se na mitigação por meio da imediata redução das emissões 
de gases de efeito estufa. Esse compromisso foi assumido em documentos oficiais no âmbito internacional e 
nacional. 
Em nível internacional, ao ratificar o Acordo de Paris, cada país assumiu o que é denominado de 
Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), que é o compromisso internacional na redução das 
emissões de gases de efeito estufa. A NDC brasileira, revista no ano de 2020, tem os seguintes 
compromissos: reduzir as emissões líquidas totais de gases de efeito estufa em 37% em 2025 e assumir 
compromisso de reduzir em 43% as emissões brasileiras até 2030 (BRASIL, 2020). A NDC brasileira 
enuncia, ademais, “[...] o objetivo indicativo de atingirmos a neutralidade climática – ou seja, emissões 
líquidas nulas – em 2060” (BRASIL, 2020, [s. p.]). Nota-se que os compromissos do governo brasileiro 
podem ser revistos no curso do cumprimento das metas. Esses são de responsabilidade conjunta do poder 
público, do setor privado e da sociedade civil para o cumprimento das metas para a redução das emissões de 
gases de efeito estufa. 
O compromisso internacional assumido pelo Brasil no Acordo de Paris dialoga diretamente com a Política 
Nacional de Mudanças do Clima (PNMC), aprovada pela Lei Federal nº 12.187/2009, que estabelece, entre 
outros pontos, que “[...] todos têm o dever de atuar, em benefício das presentes e futuras gerações, para a 
redução dos impactos decorrentes das interferências antrópicas sobre o sistema climático” (BRASL, 2009, 
[s. p.]). Ademais, na execução de políticas públicas relativas à mudança do clima, a PNMC estimula o apoio 
e a participação “[...] dos governos federal, estadual, distrital e municipal, assim como do setor produtivo, do 
meio acadêmico e da sociedade civil organizada” (BRASL, 2009, [s. p.]). No que se refere à mitigação, a 
PNMC visa à redução das emissões antrópicas de gases de efeito estufa em relação às suas diferentes fontes 
e prescreve que as ações de mitigação devem estar em consonância com o desenvolvimento sustentável 
(BRASIL, 2009). 
Em termos práticos, podemos conferir alguns exemplos de medidas de mitigação que auxiliam na redução 
das emissões de gases de efeito estufa: (i) melhoria da eficiência energética e uso de energias renováveis, em 
substituição imediata no uso dos combustíveis fósseis; (ii) promover a agricultura e a pecuária ecológicas; 
(iii) reduzir o consumo e a adoção da gestão de resíduos sólidos (reciclagem, reaproveitamento etc.); (iv) 
adotar a gestão eficiente dos recursos hídricos; (v) adotar sistema de mobilidade urbana com transportes 
coletivos e eficiência energética; (vi) adotar processos assentados na ecoeficiência, ou seja, no fornecimento 
de produtos equivalentes à capacidade de sustentação do planeta. 
Além da mitigação das emissões de gases de efeito estufa, há a necessidade da adaptação, que consiste em 
iniciativas e medidas para reduzir os impactos adversos da mudança climática. As medidas de adaptação são 
necessárias porque as mudanças já estão em curso. Nesse ponto, é importante a adaptação das economias 
nacionais, isto é, ter “[...] iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e 
humanos frente aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima” (BRASIL, 2009, [s. p.]). É por meio 
das iniciativas de adaptação que se tem a proteção de vidas em face dos efeitos adversos. Entre os exemplos 
de medidas de adaptação, temos: (i) reflorestamento de florestas e recuperação de ecossistemas afetados; (ii) 
desenvolver o cultivo de plantas e culturas mais adaptáveis à mudança do clima; (iii) adotar sistemas de 
prevenção, monitoramento e preparação em caso de catástrofes naturais e eventos climáticos; (iv) garantir 
infraestruturas e políticas públicas urbanas para enfrentar as dinâmicas do clima sobre as cidades. 
Em qualquer perspectiva, é preciso atentar que, tantoem nível global quanto local, o que está subjacente a 
esses compromissos é reduzir a emissão de carbono o mais próximo de zero. Uma economia de baixo 
carbono permitirá o que o IPCC chama de desenvolvimento resiliente: “[...] viabilizado quando os governos, 
a sociedade civil e o setor privado fazem escolhas de desenvolvimento inclusivas que priorizam a redução de 
riscos, a equidade e a justiça [...] (IPCC, 2022, [s. p.]). 
De modo mais imediato, no contexto corporativo e individual, será preciso a tomada de consciência sobre a 
nossa atuação no mundo no contexto atual. Para tanto, um elemento que pode auxiliar é o uso de métricas 
que nos ajudam a compreender o papel de cada um de nós, pessoas físicas e jurídicas, no contexto climático. 
Uma delas é a chamada pegada de carbono, ou seja, o cálculo dos impactos das atividades humanas sobre o 
ambiente. A pegada de carbono é, hoje, um indicador que contribui no cálculo dos impactos de pessoas, 
empresas e países nas emissões dos gases de efeito estufa. Por esse cálculo podemos conhecer e identificar 
quanto cada ação ou como o nosso modo de vida impacta na emissão de gases de efeito estufa. Por evidente, 
reduzir a pegada de carbono é uma medida essencial para todos – governos, setor corporativo e sociedade 
civil. 
Em qualquer das perspectivas enumeradas, de governos a cada um de nós, será preciso não só a tomada de 
consciência mas também o compromisso político e ético com as estratégias para a redução das 
vulnerabilidades no contexto climático. 
 
Saiba mais 
 
Com a mudança do clima, um dos desafios imediatos para as nossas atividades econômicas e sociais será se 
adaptar a uma nova economia, de baixo carbono, ou seja, de redução das emissões de gases antropogênicos. 
Nesse sentido, será que você sabe qual a sua pegada de carbono? Ou de sua empresa? Para auxiliar a 
compreender essa dinâmica, temos duas calculadoras disponíveis na internet: Iniciativa Verde – Calculadora 
de CO2 e Moss – Calcule as suas emissões. Ao final, você saberá sua pegada de carbono referente ao Brasil 
e ao mundo. 
 
 
https://www.iniciativaverde.org.br/calculadora
https://www.iniciativaverde.org.br/calculadora
https://www.iniciativaverde.org.br/calculadora
https://calculator.moss.earth/
Introdução da aula 
 
Estudante, nesta aula, estudaremos a questão da desigualdade em nossas sociedades, em especial, a 
ambiental. 
Hoje, organismos, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, manifestam preocupação com 
o avanço da desigualdade em nível global. Isso porque ela tem impactos imediatos na competitividade 
econômica e na estabilidade social. 
Além disso, a desigualdade tem uma dimensão ambiental, que revela as disparidades de consumo entre 
países ricos e pobres e demonstra que os efeitos negativos da poluição e dos danos ambientais afetam mais 
desfavoravelmente os grupos e as populações vulneráveis. Por isso, o estudo da desigualdade ambiental 
implica conhecer e reconhecer os padrões de Justiça Ambiental, ou seja, o contexto, as pessoas e as 
dinâmicas de decisão sobre os projetos e as iniciativas que impactam o ambiente. 
Venha conosco conhecer os principais fundamentos dessa discussão e se preparar para o exercício ético e 
responsável de suas atividades profissionais em respeito aos processos democráticos de proteção ao meio 
ambiente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
O contexto das desigualdades 
 
Nos últimos anos, a desigualdade tornou-se uma temática prioritária em qualquer discussão de instituições 
governamentais em nível global ou nacional. Isso porque estamos acompanhando a escalada da desigualdade 
em todo o planeta e, como tal, reduzi-la é um pressuposto fundamental para mitigar os impactos deletérios 
que ela causa em nossas sociedades. Esse é um objetivo compartilhado por governos e por organismos 
multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. Mas, como compreender a 
desigualdade e as suas variações? 
Com efeito, a desigualdade se estabelece a partir dos processos estruturais em sociedade, em que ela “[...] 
condiciona, limita ou prejudica o status e a classe social de uma pessoa ou um grupo e, consequentemente, 
interfere em requisitos primários para a qualidade de vida” (OXFAM, 2021, [s. p.]). A desigualdade é 
multidimensional, mas vamos nos concentrar em duas delas: a econômica e a social. A desigualdade 
econômica se dá por meio da concentração de renda em um número reduzido de pessoas em uma sociedade, 
ou seja, a maior parte da riqueza produzida e acumulada encontra-se nas mãos de poucos. A desigualdade 
social, por sua vez, está diretamente ligada à estratificação de pessoas em uma sociedade por critérios, como 
gênero, raça, origem social, entre outras variantes, identificando-se, geralmente, com os grupos mais 
vulneráveis de uma sociedade. Tanto a desigualdade econômica quanto a social caminham associadas. Esse 
é caso do Brasil, com suas desigualdades múltiplas, colocando o país como um dos mais desiguais do 
mundo e o 84º no índice de desenvolvimento humano global entre 189 países (ONU, 2020). 
Apesar da relevância e do compromisso dos atores com a redução da desigualdade, os estudos e as 
estatísticas sinalizam em sentido contrário, tanto na concentração de renda quanto no aumento da pobreza. 
Segundo o relatório da OXFAM, a questão da concentração de renda é um problema mundial. A plutocracia, 
o segmento que inclui o 1% mais rico, detém a riqueza dos outros 99% da população mundial; apenas oito 
bilionários possuem a riqueza da metade mais pobre do planeta (OXFAM, 2017a). Mesmo com a pandemia 
da Covid-19, a desigualdade não deixou de aumentar. Um nível alto de desigualdade reduz a 
competitividade e afeta a economia de um país, por gerar uma estagnação na dinâmica social. Os resultados 
desses dados são preocupantes, porque a desigualdade “[...] aumenta a criminalidade e a insegurança e gera 
mais pessoas vivendo com medo do que com esperança” (OXFAM BRASIL, 2017a, [s. p.]). 
Com os níveis de concentração de renda, temos o efeito imediato do aumento da pobreza, agora agravada 
pelas implicações da Covid-19 em nível global. No caso do Brasil, em especial, após ter saído do Mapa da 
Fome em 2014, os índices de pobreza cresceram nos últimos anos (OXFAM, 2017b). Trata-se do retorno de 
uma questão estrutural da sociedade brasileira aos debates políticos e econômicos. E não podemos nos 
esquecer de que o compromisso de não retroceder no combate à fome não é somente político, mas um 
objetivo expresso no art. 3º, III, da Constituição Federal de 1988, de “[...] erradicar a pobreza e a 
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (BRASIL, 1988, [s. p.]). 
É por meio do combate e da superação dos altos índices de desigualdade, em qualquer de seus enfoques, que 
podemos traçar um compromisso efetivo para a construção de uma sociedade igualitária e democrática, 
requisito fundamental para o enfrentamento das crises contemporâneas. 
 
As desigualdades e os efeitos sobre a proteção 
ambiental 
 
De imediato, uma pergunta fundamental: qual a relação entre a desigualdade – econômica e social – com as 
questões ambientais? A resposta é: são faces de um mesmo problema. Isso porque, como alertou o filósofo 
francês François Ost (1997, p. 390), “a injustiça das relações sociais gera a injustiça das relações com a 
natureza”. Nessa perspectiva, a desigualdade econômica e a social resultam na desigualdade ambiental que, 
por sua vez, pode se manifestar em duas dimensões: no acesso e no uso privilegiado dos recursos naturais, a 
partir de um padrão de consumo privilegiado para poucos; na ausência de participação e proteção ambiental 
para os grupos mais vulneráveis, que sofrem com a distribuição desigual dos efeitos deletérios no meio em 
que vivem e estão inseridos. 
Em primeiro lugar, a compreensão sobre os processos de apropriação dos recursos naturais, notadamente nas 
disparidades de consumo entre ricose pobres – interpretados nos contrastes entre países e classes sociais. 
Ricardo Abramovay (2012) confere um dado significativo em um mundo com mais de 7 bilhões de pessoas: 
metade das emissões globais de gases de efeito estufa provém dos 500 milhões de habitantes mais ricos do 
planeta. Percebe-se que as populações dos países do norte global, ricos, possuem padrões de consumo 
insustentáveis e, como tal, é fato de que estão pressionando os limites de sustentação planetária, não os 
pobres do mundo (MATTEI; NADER, 2013). Esses dados mostram que, se de um lado os países ricos 
conseguiram atingir os benefícios do crescimento econômico, de outro lado, a maioria dos países em 
desenvolvimento não conseguiu os padrões mínimos de uma existência digna. E isso é uma questão 
particularmente sensível, porque reciprocamente será necessário frear a “pegada ecológica” nos países 
centrais, do norte global, e ao mesmo tempo possibilitar condições de vida com dignidade para pessoas de 
outras regiões do planeta. Dito de forma direta: não é possível enfrentar os desafios impostos pela dinâmica 
da mudança do clima e os riscos sobre a disponibilidade dos recursos naturais sem questionar a pressão que 
o atual modelo de produção, comercialização e consumo impõe em nossas sociedades. Do contrário, serão 
mantidas as disparidades no acesso e uso dos recursos naturais e, por evidente, a desigualdade econômica e 
social em nível global. E para esse cenário, temos o alerta do economista Tim Jackson (2013, p. 17) de que 
“[...] a prosperidade para poucos, baseada na destruição ecológica e na persistente injustiça social, não é um 
pilar para uma sociedade civilizada”. O que se tem nessa perspectiva são sociedades disfuncionais, em que 
os conflitos e confrontos serão cada vez mais intensos, retroalimentando a insustentabilidade ambiental. 
Uma outra dimensão da desigualdade ambiental é que as políticas e os problemas ecológicos não são 
democráticos. Os projetos e as iniciativas dos processos produtivos são decididos e alocados em países e/ou 
em territórios de grupos vulneráveis que, além de não participarem dos efeitos positivos desses 
investimentos, estão mais sujeitos aos efeitos nocivos da poluição e dos danos ambientais. Como exemplo, 
temos a situação dos povos originários e tradicionais, que são expulsos ou têm os seus territórios 
diretamente afetados pela implementação de grandes projetos de infraestrutura – barragens, mineração etc. –
, sem terem benefícios diretos e arcando com o passivo dessas iniciativas. Esses projetos, na maioria das 
vezes apoiados pelo Poder Público, são geradores de externalidades negativas, tanto nos efeitos sobre os 
grupos afetados quanto no meio ambiente comum, ou seja, prejudicam outras atividades econômicas 
existentes. No mesmo sentido, nas cidades, essas populações vivem em áreas frágeis ambientalmente 
(morros, encostas, beiras de rios etc.) ou próximas de lixões e terrenos poluídos e sofrem as mazelas da 
segregação socioespacial, isto é, a ausência de políticas públicas que conjuguem uma existência digna. 
É preciso pontuar que o problema de alocação dos passivos ambientais ultrapassa, por vezes, os limites 
territoriais de um país. Esse é o caso das tentativas dos países ricos de exportarem lixo para os países em 
desenvolvimento. No que se refere ao Brasil, a União Europeia tentou exportar pneus usados, cujos rejeitos 
ficariam em nosso país. O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal, que, no julgamento da Arguição de 
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 101, em 2009, proibiu essa espécie de importação, 
assentando que ela afrontaria os preceitos constitucionais de saúde e do meio ambiente ecologicamente 
equilibrado (BRASIL, 2009). 
Além das dimensões principais, há uma nova faceta da desigualdade ambiental, que se constitui pela 
intensificação dos efeitos adversos do clima, em que milhões de pessoas deverão deixar seus lares e países e 
se mudarem para outros lugares, configurando o que tem sido denominado de deslocados ambientais ou, 
como tem sido utilizado por alguns, de refugiados ambientais. O relatório World Disaster Report, do ano de 
2018, elaborado pela Cruz Vermelha Internacional (2018), consignou que, entre os anos de 2006-2016, mais 
de 771 mil mortes foram atribuídas a desastres, com quase dois bilhões de pessoas afetadas por eventos 
dessa natureza, das quais cerca de 95% delas em ocorrências por questões climáticas. Ainda que as questões 
sobre clima sejam produzidas pelos setores mais ricos da sociedade, os seus efeitos são sentidos, sobretudo, 
pelos povos mais vulneráveis no mundo. Afinal, como expõe Sergio Margulis (2020, p. 120), são as pessoas 
de baixa renda as mais afetadas pela mudança do clima, porque “[...] tendem a viver e trabalhar em locais 
mais expostos a riscos climáticos, sem infraestrutura que os reduzam, em casas e bairros que enfrentam os 
maiores problemas quando impactados [...]”. 
Por essa conjugação de variantes da desigualdade ambiental, é possível constatar a imbricada e 
correspondente relação entre desigualdade e o futuro da vida no planeta. Afinal, a persistência da 
desigualdade ambiental é um fator desagregador de toda a construção moderna de Estado e sociedade. Lutar 
por uma maior igualdade, ao reverso, pode nos ajudar a um compromisso comum dos problemas que 
ameaçam a todos nós (PICKETT; WILKINSON, 2015). 
 
A Justiça Ambiental 
 
Diante do contexto da desigualdade ambiental, uma das principais proposições para o enfrentamento em 
sentido crítico é o movimento de Justiça Ambiental. Trata-se de um movimento que surgiu originalmente 
nos Estados Unidos na década de 1980 e procura demonstrar que os efeitos prejudiciais recaem, sobretudo, 
em grupos mais vulneráveis da sociedade, em demonstração do racismo ambiental naquele país. As pautas e 
os princípios norteadores do movimento de Justiça Ambiental daquele país se espalharam pelo mundo e 
chegaram ao Brasil no final da década de 1990, conjugando as especificidades das lutas e pautas ambientais 
em nosso país. 
Segundo Acselrad, Mello e Bezerra (2009), o movimento de Justiça Ambiental articula suas proposições em 
duas dimensões de atuação: (i) a discussão sobre os processos decisórios de participação na formulação das 
políticas ambientais, em especial por parte das populações afetadas; (ii) os efeitos sobre a distribuição dos 
benefícios e encargos das intervenções sobre o ambiente. 
Em primeiro lugar, os processos decisórios são invariavelmente estabelecidos numa relação de 
verticalização imposta por empresas e governos, de cima para baixo, sem os protocolos de consulta, ou 
quando ocorrem são realizados com mecanismos de pressão sobre as comunidades e os grupos do entorno, 
impedindo a livre manifestação pelo peso de retaliações econômicas, sociais, físicas e políticas no âmbito 
local. Isso é particularmente sensível pela conjugação de fatores ou justificativas de que a falta de empregos 
e investimentos em um local justificaria a aceitação de projetos e empreendimentos que causam danos 
ambientais e sanitários, prejudicando a qualidade de vida das populações para um objetivo imediato que, na 
maioria das vezes, tem uma proposição exclusivamente econômica, ou seja, o lucro imediato para as 
empresas. 
Esses processos decisórios estão em uma dinâmica dissonante aos mais elementares princípios estruturantes 
do Direito Ambiental. Isso porque os documentos internacionais de proteção ao meio ambiente destacam a 
necessidade de participação comunitária na formulação e execução de políticas ambientais. A Declaração do 
Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992, consigna, em seu art. 10, que “[...] o 
melhor modo de tratar as questões ambientais é com a participação de todos os cidadãos interessados [...]” 
(ONU, 1992, [s. p.]). E continua deixando claro que o acesso adequado à informação sobre o meio ambiente 
“[...] inclui a informação sobre os materiaise as atividades que oferecem perigo a suas comunidades, assim 
como a oportunidade de participar dos processos de adoção de decisões” (ONU, 1992, [s. p.]). No mesmo 
sentido, fundamentado no Princípio 10 ora delineado, recentemente foi aprovado no âmbito das Nações 
Unidas o Acordo Regional sobre Acesso à Informação, Participação Pública e Acesso à Justiça em Assuntos 
Ambientais na América Latina e no Caribe, conhecido como Acordo de Escazú (ONU, 2018), que garante 
os “direitos de acesso”, compreendendo o direito à informação, à participação pública nos processos de 
tomada de decisões em questões ambientais e o direito de acesso à justiça. A legislação brasileira, no mesmo 
sentido, estabelece a participação em vários diplomas legais, prevendo a audiência pública no licenciamento 
ambiental de atividades efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação ambiental 
(CONAMA, 1986; 1987; 2020). Por esses elementos, evidencia-se que as políticas públicas que afetam 
pessoas, populações, cidades e regiões devem ser fruto de uma construção dialógica entre os atores 
envolvidos, e não a sobreposição de uma única interpretação. 
Como decorrência dos obstáculos dos direitos de acesso aos processos decisórios, temos a segunda 
dimensão da Justiça Ambiental, acerca da distribuição dos encargos das intervenções sobre o meio ambiente, 
que recairão justamente nas populações, nos grupos e nas pessoas mais vulneráveis em sociedades desiguais 
– como é o caso do Brasil. Portanto, são esses grupos que, ora são privados do acesso aos recursos naturais 
para viverem, ora “são expulsos de seus locais de moradia para a instalação de grandes projetos hidroviários, 
agropecuários ou de exploração madeireira ou mineral” (ACSELRAD; MELLO; BEZERRA, 2009, p. 42). 
Esse é o caso, por exemplo, dos projetos de desenvolvimento que são impostos e implicam a expulsão de 
grupos e populações. Dois são os exemplos. O primeiro são expulsões ligadas ao mercado global de terras, 
com aquisição de grandes áreas produtivas por corporações para a produção de biocombustíveis ou para o 
extrativismo, forçando milhares de agricultores a venderem ou deixarem suas terras, inclusive, por 
contaminações, porque o nosso país é o campeão mundial no uso de agrotóxicos. O segundo exemplo são os 
projetos de infraestrutura, como o caso da Usina de Belo Monte, no Pará, em que milhares de pessoas foram 
expulsas de suas casas com o alagamento de amplas faixas de terras, com a perda dos laços sociais e de 
pertencimento ancestrais, além dos impactos ambientais, em que o mais evidente foi a perda da 
biodiversidade da região. Na mesma perspectiva, pessoas e grupos são atingidos pela implantação de 
projetos de hidrelétricas, um dos pontos mais críticos na agenda ambiental brasileira, com movimentos em 
todo o país em questionamento ao modelo de implementação dessas iniciativas. 
Nessa conjugação, nota-se que o movimento de Justiça Ambiental é fundamentalmente uma rede que 
estabelece um contraponto e uma resistência aos mecanismos de imposição e verticalização dos processos 
decisórios que saem prontos de gabinetes governamentais, sem interface ou diálogo com a realidade dos 
territórios e lugares. O que está em pautas nessas reivindicações é, sobretudo, o compromisso com a 
participação comunitária em uma sociedade democrática e dialógica, princípio e condição fundamental para 
um combate efetivo ao crescimento da desigualdade ambiental e suas consequências. 
 
Saiba mais 
 
De forma recorrente, relatórios são editados para a divulgação de estudos e pesquisas sobre as dimensões e 
implicações da desigualdade nos âmbitos global e brasileiro. Eles têm sido utilizados para sensibilizar e 
contribuir na formulação de políticas públicas de combate à desigualdade. Um dos mais importantes estudos 
foi editado pelas Nações Unidas em 2019 e trouxe um panorama global da desigualdade econômica, social, 
racial e ambiental no século XXI. Você pode baixá-lo diretamente no site da UNDP. 
Outro relatório, também das Nações Unidas, editado em 2021, trouxe os dados da desigualdade na Amárica 
Latina. Acesse-o também no site da UNDP. 
 
Introdução da aula 
 
Estudante, nesta aula, estudaremos a importância dos movimentos sociais na promoção e proteção ao meio 
ambiente. Afinal, muitas das pautas e discussões que temos sobre as questões ecológicas foram suscitadas 
pelos movimentos sociais ao longo das últimas décadas, como é o caso do desmatamento das florestas 
tropicais, do aquecimento global, da perda da biodiversidade, da proteção aos animais, entre outras. 
Além de conhecer a configuração das principais entidades ambientais em nível nacional e internacional, o 
conteúdo da aula destacará a importância das organizações não governamentais, conhecidas pela sigla ONG, 
para a agenda ambiental. E nisso, você conhecerá as formas e o meio de atuação que, em breve, poderão 
estar no âmbito de suas atividades profissionais. 
 
 
 
 
 
 
 
https://www.undp.org/pt/brazil/publications/relat%C3%B3rio-do-desenvolvimento-humano-2019
https://www.undp.org/latin-america/publications/regional-human-development-report-2021-trapped-high-inequality-and-low-growth-latin-america-and-caribbean
Gênese do ambientalismo 
 
O movimento ambiental tem origem na segunda metade do século XIX, com os grupos protecionistas 
criados na Europa, que estavam preocupados com os efeitos das transformações advindas da Revolução 
Industrial, como a perda de áreas selvagens e a poluição em cidades que se tornaram insalubres. Nessa 
perspectiva, a primeira sociedade ambientalista privada foi criada na Inglaterra em 1863, chamada 
de Commons, Foot-paths and Open Spaces Preservation Society (MCCORMICK, 1992). 
Já nos Estados Unidos, os primeiros grupos ambientalistas são da virada dos séculos XIX e XX, 
estabelecidos a partir de duas compreensões sobre as relações do homem com a natureza: 
os preservacionistas, que defendiam a manutenção de áreas virgens, intocadas, sem a interferências de 
atividades humanas; e os conservacionistas, centrados na racionalização e compatibilização do uso dos 
recursos naturais com a proteção ao ambiente (MCCORMICK, 1992). Essas leituras são reflexos das 
discussões da época, assentadas ora na proteção da vida selvagem, ora nos efeitos da industrialização e da 
urbanização. Apesar de históricas, essas duas visões, com variações e adequações – e, por vezes, em 
associação –, ainda são presentes na compreensão contemporânea da proteção ao meio ambiente. 
No final da década de 1950 e início da década de 1960, começa a surgir uma nova articulação de grupos e 
entidades de proteção ao meio ambiente, influenciados pelos riscos da corrida nuclear, da explosão 
demográfica, do aumento da degradação ambiental; fatores esses que foram exteriorizados por meio de 
denúncias formuladas através da publicação de livros e artigos acadêmicos. Um caso emblemático é a 
obra Primavera Silenciosa, de autoria da bióloga Rachel Carson, em 1962, que demonstrou os efeitos 
nocivos da contaminação por pesticidas na agricultura e as consequências para o equilíbrio ecológico. Essa 
publicação teve enorme repercussão nos meios acadêmicos e políticos, influenciando decisivamente o 
movimento ambientalista e abrindo as discussões que levaram o governo norte-americano a criar a sua 
agência de proteção ao meio ambiente nos anos de 1970. 
A década de 1960 foi um período de efervescência em nível global, com a emergência de novos movimentos 
sociais, pautados em reivindicações por direitos, inclusão, participação política e proteção ao ambiente, 
todos em afirmação de valores coletivos. Como exemplos, as exigências pelo exercício de direitos civis pela 
população afro-americana nos Estados Unidos, liberados por Martin Luther King, e os protestos de “maio de 
1968”, que eclodiu com as demandas culturais dos estudantes franceses em face das estruturas vigentes na 
sociedade da época. Nesse período,o movimento ambientalista começa a se organizar não somente em 
concepções preservacionistas e conservacionistas, mas assume a perspectiva crítica, na proposição de uma 
ecologia política, conjugando aspectos materiais, como as implicações da poluição e da explosão 
demográfica sobre a natureza, com aqueles enfoques de orientação ética, preocupados com a sobrevivência 
da vida humana e não humana no planeta para as presentes e futuras gerações. 
As décadas de 1970 e 1980 trouxeram uma nova configuração na estrutura do movimento ambientalista. Se, 
em um primeiro momento, os movimentos ambientalistas eram oriundos de pautas convergentes de 
determinados setores da sociedade, o avanço das questões ecológicas no tabuleiro político e econômico da 
governança global impuseram uma nova estruturação, em que começam a se organizar em nível 
institucional, por meio de pessoas jurídicas de caráter não governamental, ora em organizações de âmbito 
internacional, que traziam em seu bojo a premissa que os problemas ecológicos não eram somente locais, 
mas conjugavam aspectos transfronteiriços e globais; ora como entidades nacionais, orientadas por pautas 
regionais e locais, focadas nos projetos de desenvolvimento sustentável de acordo com a realidade em cada 
país. Em qualquer dessas perspectivas, teríamos doravante a expansão de organizações de caráter não 
governamental, estimuladas pelas Nações Unidas. 
No início do século XXI, surgiram novas formas de atuação em face dos problemas ambientais por meio 
de ativismos impulsionados pelos avanços das novas tecnologias de informação e comunicação, 
especialmente a internet e suas redes sociais. Uma das formas é o ciberativismo, em que comunidades 
virtuais de pessoas com propósitos e pautas convergentes estimulam determinadas práticas. Um exemplo é o 
evento anual chamado “Hora do Planeta”, organizado pela organização WWF, a qual é responsável por 
conjugar centenas de cidades e quase 1 bilhão de pessoas em defesa das pautas patrocinadas pelo 
movimento, como a emergência climática e a perda da biodiversidade. 
Um importante ativismo, recente, que conjuga a atuação virtual e real, é o movimento de jovens suecos 
iniciado pela jovem Greta Thunberg, que em maio de 2018 iniciou um protesto escolar às sextas-feiras em 
frente ao Parlamento sueco, cobrando medidas contra a mudança climática. A princípio, sozinha, e depois 
com a companhia de milhares de jovens que deixavam de participar das aulas para protestarem, Greta 
inspirou um movimento que se espalhou pelo mundo com o nome de “sextas-feiras pelo clima”. O 
movimento continua e é considerado um dos principais ativismos ambientais na contemporaneidade. 
 
 
 
Os movimentos ambientais e as organizações não 
governamentais 
 
A compreensão dos movimentos ambientalistas, como conhecemos atualmente, está diretamente ligada à 
conversão de um número significativo deles em pessoas jurídicas denominadas “organizações não 
governamentais” – referenciadas pela sigla ONG –, com atuação destacada a partir da década de 1970. O 
conceito de ONG é para aquelas pessoas que não se enquadram como governamentais ou empresariais de 
fins lucrativos; portanto, em sentido amplo, estão incluídos conceitualmente os sindicatos, as organizações 
profissionais e as entidades com pautas específicas, como de consumidores, de questões identitárias e outras 
de promoção social. Entretanto, o conceito de ONGs na área ambiental é mais restrito, definidas como 
pessoas privadas, não governamentais, sem fins lucrativos, com propósitos de intervenção acerca de 
questões globais às locais em prol das iniciativas de proteção e promoção do meio ambiente. Outras 
expressões são utilizadas como equivalentes para caracterizar as ONGs ambientalistas, como “entidade do 
terceiro setor”, por não fazer parte do governo (primeiro setor) ou do segundo setor (empresas privadas), ou 
ainda “organizações da sociedade civil”. 
As ONGs ambientalistas tiveram um forte estímulo e articulação a partir da Conferência das Nações Unidas 
sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, no ano de 1972. Diante das dinâmicas dos problemas 
ecológicos, que são transfronteiriços, algumas das principais entidades ambientalistas estão organizadas em 
nível internacional. Destacaremos algumas das principais organizações globais de proteção ambiental. 
A primeira delas é o WWF, que é o Fundo Mundial para a Natureza, uma organização não governamental 
criada em 1961, na cidade de Gland, Suíça. Com mais de cinco milhões de associados em todo o mundo, o 
WWF tem “[...] como missão global conter a degradação do meio ambiente e construir um futuro no qual as 
pessoas vivam em harmonia com a natureza” (WWF, 2020, [s. p.]). Tem linha centrada em projetos que 
atuam na conservação da biodiversidade mundial, na garantia da sustentabilidade de recursos naturais 
renováveis e na redução da poluição e do desperdício. O WWF se estabelece de forma transnacional por 
meio de uma rede de entidades associadas e tem como símbolo um urso panda, uma vez que surgiu de uma 
ação para a arrecadação de fundos para a proteção dessa espécie. O WWF-Brasil foi criado em 1996 e atua 
por meio de projetos no contexto econômico e social brasileiro, em especial, nos biomas brasileiros, como a 
Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica e o Pantanal, e nos ecossistemas marinhos. Suas iniciativas “[...] 
buscam proteger e restaurar a biodiversidade, fortalecer a agricultura familiar e a produção local, além 
de gerar estudos sobre o impacto do desmatamento e das queimadas” (WWF, 2020, [s. p.]). 
A segunda organização é o Greenpeace, criado em Vancouver, Canadá, em 1971. Trata-se de uma das mais 
combativas organizações ambientalistas, que tem atuação por meio do ativismo ambiental e de mecanismos 
de pressão sobre governos e empresas. O Greenpeace é mantido exclusivamente por seus associados, 
recusando financiamento público ou empresarial. Entre as suas principais missões e valores, estão: (i) 
proteger os ecossistemas e a biodiversidade em todas as suas formas; (ii) promover a paz, o desarmamento 
global e a não violência; (iii) enfrentar as mudanças climáticas: (iv) promover soluções sustentáveis junto à 
sociedade (GREENPEACE, 2022). O Greenpeace possui escritório no Brasil desde 1992 e desenvolve ações 
ativistas em defesa da Amazônia e contra o desmatamento; na luta contra os agrotóxicos; no combate aos 
efeitos danosos da mineração; entre outras. 
A terceira organização internacional é a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos 
Recursos Naturais – conhecida pela sigla em inglês IUCN –, criada na França, em 1948, com linha de 
influência acadêmica e na busca de soluções ecológicas. Trata-se da maior rede de sociedades ambientais em 
nível global, conjugando mais de 1.400 membros, entre órgãos governamentais e da sociedade civil (IUCN, 
2019). A IUCN é reciprocamente um espaço de debates e de iniciativas para os projetos de conservação 
ambiental em todo o planeta, conjugando a atuação de especialistas e populações locais em busca do 
equilíbrio ecológico. 
Além dessas estruturas ambientalistas internacionais, há aquelas de origem nacional, com atuação específica 
em áreas, regiões e povos na conjuntura brasileira. Relacionaremos três organizações do nosso país: S.O.S 
Mata Atlântica, criada para a conservação do bioma de mesmo nome; Instituto Socioambiental (ISA), com 
propósito de proteção aos povos originários; Instituto “O Direito por um Planeta Verde” (IDPV), de natureza 
acadêmica, destinado às temáticas jurídicas ambientais. 
A Fundação S.O.S Mata Atlântica é uma ONG brasileira criada em 1986 e que atua no fomento de 
políticas públicas para a proteção e conservação da Mata Atlântica, um dos principais biomas brasileiros. 
Sua atuação se dá por meio de estudos e monitoramento das intervenções antrópicas sobre o bioma, 
conscientização pública e aprimoramento da legislação ambiental (SOS MATA ATLANTICA,2021). Já 
o Instituto Socioambiental (ISA) é uma organização criada em 1994 e que atua na defesa da diversidade 
socioambiental brasileira, em especial, por projetos e iniciativas em conjunto com comunidades indígenas, 
quilombolas e extrativistas, de modo a preservar e fortalecer a cultura e os saberes tradicionais (ISA, 2021). 
Em associação com o acompanhamento de políticas públicas que influenciam direta e indiretamente os 
direitos das populações originárias e tradicionais, o ISA desenvolve projetos de economia e soluções 
sustentáveis para esses povos da sociodiversidade brasileira (ISA, 2021). Por fim, o Instituto “O Direito 
Por um Planeta Verde” (IDPV), pessoa jurídica sem fins lucrativos criada em 2005, reúne os principais 
especialistas na área do Direito Ambiental no Brasil. O IDPV, uma das entidades filiadas à IUCN, é o 
responsável pela edição anual do Congresso Brasileiro de Direito Ambiental, fórum de discussões com 
pesquisas e debates acadêmicos sobre os principais desafios e proposições sobre as demandas ecológicas em 
nível internacional e nacional. 
 
A atuação das ONGs e a agenda ambiental 
 
As organizações não governamentais (ONGs) possuem um papel fundamental nas instâncias deliberativas 
em nível internacional e nacional, em contribuição direta acerca da sensibilização sobre os problemas 
estruturais e no processo de formulação das políticas e estratégias de promoção e proteção ao meio 
ambiente. A arquitetura internacional de discussão sobre as temáticas ambientais estimula a participação 
comunitária e a atuação através dessas entidades, inclusive, em seus fóruns de discussões. Para exemplificar, 
a Declaração do Rio de Janeiro, elaborada em 1992 durante a Cúpula da Terra, destaca que “[...] o melhor 
modo de tratar as questões ambientais é com a participação de todos os cidadãos interessados, em vários 
níveis” (ONU, 1992, [s. p.]). E um dos níveis de participação é, sem dúvida, por meio das organizações 
ambientalistas. 
No Brasil, a importância das ONGs ambientalistas está presente no seu reconhecimento pelo Poder Público. 
No âmbito federal, temos o Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas, com 673 delas inscritas e 
distribuídas em todas as regiões do país (BRASIL, 2019). Cadastros similares estão organizados no âmbito 
dos estados brasileiros. O papel desses cadastros é atestar a regularidade jurídica dessas pessoas jurídicas 
para os fins de participação nas estruturas governamentais dos entes federativos, como veremos. 
Nesse sentido, é preciso destacar a função dessas entidades no desenho institucional brasileiro. Uma das 
principais formas de participação e atuação na formulação de políticas públicas ambientais ocorre por meio 
dos conselhos de meio ambiente. Eles são integrados pelos representantes do Poder Público, do setor 
empresarial e das organizações ambientalistas. Esses conselhos de meio ambiente são obrigatórios em todos 
os níveis federativos para aqueles que pretendem efetuar o licenciamento ambiental de atividades efetivas ou 
potencialmente poluidoras, ou seja, se um estado ou um município decidir por licenciar atividades, além de 
órgão ambiental capacitado, ele deverá possuir conselho de meio ambiente com caráter deliberativo. 
O mais relevante desses órgãos no país é o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), vinculado 
ao Ministério do Meio Ambiente, que conjuga integrantes eleitos entre as ONGs ambientalistas brasileiras 
inscritas no Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas. A estrutura jurídica brasileira prevê também a 
existência de conselhos com participação comunitária e/ou de pessoas jurídicas ambientalistas em casos de 
unidades de conservação e nos órgãos responsáveis pela gestão dos recursos hídricos no Brasil, como os 
comitês de bacia hidrográfica, os conselhos estaduais e o nacional de recursos hídricos. 
Outra forma de participação das ONGs ambientalistas em conjunto com o Poder Público é por meio de 
parcerias em projetos e programas para o desenvolvimento sustentável. Um dos exemplos de financiamento 
é através dos fundos de meio ambiente, com recursos financeiros destinados para projetos de soluções 
sustentáveis e para setores específicos, como biomas, populações tradicionais, combate à poluição, entre 
outros. O Fundo Nacional do Meio Ambiente, criado pelo governo brasileiro por meio da Lei nº 7.797, em 
1989, é o mais antigo da América Latina e tem apoiado uma série de iniciativas nessa perspectiva (BRASIL, 
1989). Há, ainda, fundos ambientais no âmbito de estados e municípios, assim como aqueles para áreas 
como a proteção da biodiversidade e das florestas públicas brasileiras. 
Em geral, as entidades ambientalistas exercem mecanismos permanentes de acompanhamento e fiscalização 
sobre as intervenções e pressões que empresas e governos exercem sobre o meio ambiente. Duas formas 
podem ser destacadas: a atuação administrativa e a judicial. Na primeira delas, a administrativa, as ONGs 
costumam acionar e cobrar a fiscalização dos órgãos governamentais de proteção ao meio ambiente – como 
o IBAMA, na esfera federal – em caso de infrações ambientais praticadas por empresas privadas e pelo 
próprio Poder Público. A segunda forma é a intervenção na esfera judicial, em que as pessoas jurídicas 
ambientalistas criadas há mais de um ano e com finalidades institucionais ambientais possuem legitimidade 
processual para ajuizar ação civil pública para a defesa do meio ambiente, inclusive em casos de ocorrência 
de danos ambientais, conforme dispõe a Lei Federal nº 7.347/1985 (BRASIL, 1985). Por fim, podem acionar 
Ministério Público em caso de crimes ambientais cometidos por pessoas físicas ou jurídicas, para que ele 
faça a proposição da competente ação penal de responsabilização. 
Além desse contexto de atuação em face das instituições públicas e setor empresarial, é importante destacar 
que muitas ONGs são criadas para projetos na escala da proximidade, ou seja, nos lugares em que vivem 
comunidades e pessoas que são beneficiadas ou atendidas pelas suas iniciativas e estratégias de melhoria das 
condições de vida e de preservação e conservação dos recursos naturais. Outras ONGs atuam na produção 
de dados, estudos e pesquisas que subsidiarão um conjunto de proposições públicas e privadas em suas áreas 
institucionais, muitas vezes realizados em parceria com instituições de ensino. Da mesma forma, algumas 
ONGs estabelecem projetos de educação ambiental, para a formação de uma consciência pública sobre a 
importância da proteção ambiental, estimulando a participação comunitária e dos setores organizados da 
sociedade civil. 
 
Saiba mais 
 
As organizações da sociedade civil desempenham um papel fundamental na agenda de nossas sociedades, 
com projetos e iniciativas com impacto social, em benefício de grupos, comunidades e cidades. Seja 
conhecendo, se beneficiando ou mesmo atuando profissionalmente em uma delas, as organizações da 
sociedade civil estão na linha de frente dos desafios do nosso tempo. Portanto, como profissional, é 
importante conhecer os trabalhos dessas entidades. Como sugestão, conheça o trabalho do Observatório do 
Terceiro Setor, uma agência brasileira de conteúdo multimídia com foco nas temáticas sociais e nos direitos 
humanos. 
 
Um mundo em transformações 
 
https://observatorio3setor.org.br/
https://observatorio3setor.org.br/
O mundo vive um período de transformações inéditas, no que tem sido denominado por cientistas e 
pensadores como a era do Antropoceno, em que a humanidade se tornou uma força geológica, pela 
intensidade de suas intervenções sobre os sistemas naturais. Se, por um lado, as últimas décadas registraram 
um forte crescimento da economia e do consumo com a globalização, por outro lado, a explosão 
demográfica, a urbanização e o aumento da poluição estão provocando uma série de crises em nível global. 
Nesse contexto, um dos principais desafios é a questão da mudança do clima, emque os efeitos adversos do 
aquecimento global – potencializado pela emissão de gases de efeito estufa – são sentidos em todo o planeta. 
Eventos climáticos e meteorológicos, como chuvas, enchentes, tempestades, ciclones e secas, são cada vez 
mais intensos, afetando as atividades agropecuárias e os ecossistemas, com a perda da biodiversidade e a 
extinção de componentes da flora e da fauna. Esse quadro é reconhecido não somente pela ciência, mas 
também pelo conjunto de atores do tabuleiro institucional, como organismos multilaterais, governos, setor 
empresarial e sociedade civil. Tendo como referência o Acordo de Paris, tratado global, os Estados têm se 
comprometido em reduzir a emissão dos seus gases de efeito estufa, causadores do aquecimento global, 
além do compromisso com um conjunto de medidas para reduzir as vulnerabilidades de países, regiões e 
cidades em face da mudança do clima. 
Enquanto o mundo se depara com as exigências da mudança do clima, um antigo problema estrutural está de 
volta: o aumento da desigualdade econômica e social no mundo. Além de impactar negativamente a 
economia e as relações sociais, a desigualdade tem se manifestado em diversas dimensões, e uma delas é a 
ambiental. Ou seja, temos agora a desigualdade ambiental, que se configura ora com as disparidades no 
acesso e consumo dos recursos naturais entre países, ora com a alocação de riscos ambientais para regiões e 
populações mais vulneráveis, afetadas desfavoravelmente pela poluição e pelos danos ambientais. Além 
disso, mais recentemente, em decorrência da emergência climática, temos o surgimento dos deslocados 
ambientais, pessoas e grupos que são obrigados a deixar seus lares e países por desastres e eventos 
climáticos. 
Nesse contexto, a sociedade civil, por meio das organizações não governamentais, conhecidas pela sigla 
ONG, tem se organizado e proposto medidas de combate às principais crises na proteção do meio ambiente, 
seja por atuação em nível internacional, como o enfrentamento da mudança do clima e da perda da 
biodiversidade, seja por atuação nacional e regional, diretamente em projetos e iniciativas com povos 
tradicionais, pessoas e cidades. 
Por tudo que se relacionou, há a constatação de que estamos em um período de problemas sistêmicos, com 
consequências diretas nas atividades econômicas e sociais. Portanto, a importância do conhecimento e da 
compreensão dessas questões é um elemento agregador na formação profissional, justamente para se 
preparar para o manejo dos instrumentos e mecanismos de superação das crises. 
 
 
Estudo de caso 
 
Em uma localidade no interior do Brasil, a notícia da possível implantação de uma fábrica potencialmente 
causadora de significativa degradação ambiental está causando intensos debates entre o Poder Público e os 
moradores. De um lado, o Poder Público em defesa da nova atividade econômica, argumentando, em síntese, 
a oferta de novos empregos para a cidade. De outro lado, moradores mais antigos, preocupados com os 
impactos da possível instalação da fábrica para o meio ambiente, em especial, porque a cidade tem sofrido 
com eventos climáticos, como a ausência de chuvas e a falta de água para as atividades produtivas. Entre 
essas leituras, encontra-se uma parcela substancial da população, que está apreensiva e não dispõe de um 
conjunto de informações para uma opinião favorável ou contrária sobre a implementação do novo 
empreendimento. 
Nesse contexto, você, consultor na área ambiental, é contratado por uma organização não governamental 
(ONG) com atuação na localidade para conferir as orientações sobre os processos de análise e decisão sobre 
a possível instalação da fábrica. A ONG pretende solicitar uma audiência pública e usar as informações que 
você, enquanto consultor, produziu para a compreensão da dinâmica do processo de decisão para possível 
aprovação ou não da fábrica. 
_______ 
Reflita 
Diante dos conflitos constantes entre atividades econômicas e proteção ao meio ambiente, procure refletir 
sobre a possibilidade de compatibilização entre essas duas áreas. Além disso, em um contexto de mudanças 
climáticas, faça uma reflexão sobre a importância de todos os envolvidos e afetados por empreendimentos e 
atividades poluidoras participarem em conjunto das decisões que impactam o meio ambiente e a qualidade 
de vida de pessoas, populações e cidades. 
 
Em primeiro lugar, ao ser contratado como consultor, é importante destacar a 
legitimidade de todos os envolvidos – população, ONGs e Poder Público – no processo 
de consciência e participação sobre a possível instalação dessa nova fábrica. Isso 
porque a legislação brasileira e os instrumentos internacionais de proteção ao meio 
ambiente destacam a centralidade do princípio da participação comunitária, ou seja, 
que todos os afetados e interessados direta e indiretamente sejam ouvidos no processo 
de tomada de decisão. No caso, de um lado, há o interesse do Poder Público, 
justificado pela possibilidade de geração de novos empregos na cidade; de outro 
lado, há uma parcela de moradores preocupados com os impactos dessa nova fábrica 
no ambiente e nas suas atividades. 
De forma a conferir respaldo técnico às informações de sua consultoria, é importante 
enumerar alguns dos principais diplomas sobre a participação comunitária, como a 
Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992, que 
dispõe em seu art. 10 que “[...] o melhor modo de tratar as questões ambientais é com 
a participação de todos os cidadãos interessados [...]”; e isso inclui “[...] a informação 
sobre os materiais e as atividades que oferecem perigo a suas comunidades, assim 
como a oportunidade de participar dos processos de adoção de decisões” (ONU, 1992, 
[s. p.]). Outro importante diploma nesse sentido é o Acordo de Escazú, que garante os 
“direitos de acesso”, compreendendo o direito à informação, à participação pública nos 
processos de tomada de decisões em questões ambientais e o direito de acesso à justiça 
(ONU, 2018). 
No que se refere à legislação brasileira, ela estabelece a participação em vários 
diplomas legais, prevendo a audiência e a consulta pública no licenciamento ambiental 
de atividades potencialmente causadoras de significativa degradação ou poluição, 
situação correspondente ao caso em discussão (CONAMA, 1986; 1987; 2020). Ou 
seja, todas as vezes que se configurar uma obra ou atividade causadora de poluição ou 
degradação de forma significativa haverá a possibilidade de uma audiência pública 
para ouvir a população. E, nesse caso, o órgão ambiental responsável deverá trazer as 
informações sobre os impactos positivos e negativos do empreendimento. É pertinente 
destacar que nessa audiência pública a população poderá fazer perguntas, esclarecer 
dúvidas e ter acesso às informações que julgar necessárias para compreender as 
implicações de uma fábrica. Portanto, esse conjunto de dados deverá ser evidenciado 
em sua consultoria. Por esses elementos, evidencia-se que as políticas públicas que 
afetam pessoas, populações, cidades e regiões devem ser fruto de uma construção 
dialógica entre os atores envolvidos, e não a sobreposição de uma única interpretação. 
 
 
Resumo visual

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