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Matrizes sociológicas das religiões no Brasil Apresentação A história humana é permeada por narrativas de experiências religiosas. No entanto, é preciso estabelecer compreensões sobre o fenômeno religioso, a religião, as instituições religiosas e afins. Tais discussões necessitam serem articuladas com as especificidades sociais e culturais que se desenvolveram ao longo dos séculos e constituíram-se como os cenários oportunos para os diversos modos de constituição da religião e dos fenômenos religiosos. Cada cenário específico ofereceu bases para constituição e/ou consolidação dos fenômenos religiosos e das identidades religiosas institucionais e individuais. Nesta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá sobre as matrizes religiosas presentes no Brasil (indígena, ocidental, africana e oriental) e seus campos simbólicos, compreenderá as continuidades, descontinuidades e transformações do campo religioso no Brasil e relacionará as diferentes religiosidades com as novas identidades institucionais e individuais. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Classificar o campo religioso brasileiro na contemporaneidade verificando continuidades, descontinuidades, transformações e novos métodos de análise do fenômeno religioso. • Categorizar as quatro matrizes religiosas presentes no Brasil: indígena, ocidental, africana e oriental, sua relação com a diversidade religiosa e cultural e com o campo simbólico. • Relacionar diferentes vertentes do campo religioso brasileiro com a configuração de novas identidades institucionais e individuais. • Infográfico No Brasil, existem adeptos de religiões monoteístas. Essas religiões partem do pressuposto da existência de um único Deus, apesar de cada uma indicar sua divindade. Neste Infográfico, você conhecerá três dessas religiões: Islamismo, Judaísmo e Catolicismo. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/5139b3fa-a157-4c3c-a579-406536e19ac4/44df86d2-8e49-4696-b457-aa9d665c6199.png Conteúdo do livro O Brasil, ou melhor, toda a América Latina é constituída por uma historicidade atrelada à colonização. A colonização ressoa até os dias atuais nas esferas sociais, políticas, econômicas e religiosas no Brasil. Nesse sentido, para se compreender os projetos fundacionais das religiosidades no Brasil, é preciso retomar à colonização como fator histórico. Essa retomada possibilitará compreender as matrizes religiosas e os campos religiosos no Brasil. No capítulo Matrizes sociológicas das religiões no Brasil, do livro Sociologia da religião, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá as matrizes religiosas no Brasil, bem como compreenderá as novas identidades individuais e institucionais e o modo como elas têm se constituído. As reconfigurações individuais e institucionais afetam diretamente o campo religioso no Brasil, que também tem se reconfigurado. Boa leitura. SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO Itala Daniela da Silva Matrizes sociológicas das religiões no Brasil Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Categorizar as quatro matrizes religiosas presentes no Brasil (indígena, ocidental, africana e oriental), bem como sua relação com a diversidade religiosa e cultural e com o campo simbólico. � Classificar o campo religioso brasileiro na contemporaneidade veri- ficando continuidades, descontinuidades, transformações e novos métodos de análise do fenômeno religioso. � Relacionar diferentes vertentes do campo religioso brasileiro com a configuração de novas identidades institucionais e individuais. Introdução A história do Brasil é constituída por uma miscigenação de povos e culturas, embora ainda haja uma predominância das epistemologias eurocentradas nas análises, nas explicações e na apresentação dos fenômenos ocorridos no país e, também, na América Latina. Nesse sentido, a decolonização das constituições teóricas, a partir da sensibilização geopolítica e cultural, é importante na tessitura das compreensões sobre os fenômenos religio- sos no Brasil, visto que as constituições das matrizes religiosas, as vertentes e a classificação do campo religioso são atravessadas pela pluralidade dos povos e das culturas que em território brasileiro foram miscigenados. Neste capítulo, você aprenderá sobre as matrizes religiosas presentes no Brasil (indígena, ocidental, africana e oriental) e seus campos simbóli- cos, compreenderá as continuidades e descontinuidades e transforma- ções do campo religioso no país e relacionará as diferentes religiosidades com as novas identidades institucionais e individuais. 1 Matrizes religiosas no Brasil: relações com as diversidades religiosa e cultural e o campo simbólico Muitas vezes, a história do Brasil, assim como a da América Latina, tem sido contada por constituições teóricas eurocentradas, ou seja, teorias cons- truídas a partir das compreensões dos colonizadores, e não dos colonizados (SANTOS, 2017). O filósofo Salazar Bondy (1968), ao discutir sobre epistemologias filosóficas para a América Latina, argumenta que as correntes de pensamentos vigentes na Europa nos séculos da colonização adentraram o cenário latino-americano e constituíram os modos de pensamento e conhecimento, dando-se de modo paralelo e sendo diretamente influenciados pelos determinantes exógenos do Ocidente (SALAZAR BONDY, 1968). No entanto, devemos considerar que há efetivas distinções entre o povo europeu, estadunidense e latino-americano. Nesse sentido, as sensibilidades ge- opolíticas e a construção de análises decoloniais (com o olhar dos colonizados, e não dos colonizadores) são importantes para uma coerente discussão sobre a miscigenação dos nossos povos e culturas: “vivemos em nosso continente uma história distinta à do chamado mundo ocidental, não passamos pelos mesmos processos históricos que se deram na Europa” (SANTOS, 2017, p. 95). Mas o que faz com que essas indicações se tornem pertinentes na abertura de uma reflexão sobre as matrizes religiosas no Brasil? Tal discussão indica uma sensibilidade histórica que fundamentará a necessidade de ampliar os horizontes sobre as religiões no país, visto que, em uma perspectiva eurocen- tradas, as matrizes se consolidariam, quase majoritariamente, com influências cristãs. No entanto, na realidade brasileira, em razão da miscigenação do nosso povo e de nossa cultura, existem outras matrizes que pertencem à história religiosa do cenário geopolítico nacional. Elói Santos, dialogando com as questões concernentes à religião, indica também a importância da retomada histórica, tornando-se importante pensar a “[...] diversidade religiosa a partir da construção histórica do Brasil” (SANTOS, 2016, p. 2). Por esse motivo, precisamos partir dos pressupostos das condições colo- nizadoras, históricas, sociais, políticas e econômicas para compreender os projetos fundacionais da religiosidade no Brasil. E isso nos leva a retomar o período da colonização, pois, ao chegarem no Brasil, portugueses e holandeses se depararam com povos indígenas que tinham e continuam tendo modos próprios de viver a espiritualidade (SANTOS, 2016). Matrizes sociológicas das religiões no Brasil2 Para Elói Santos (2016), não se trata de uma religião indígena no sentido unificado e epistemologicamente estruturado do termo, mas de uma matriz indígena, abrindo-se, com essa indicação, uma questão importante que precisa ser dirimida antes mesmo de seguir para a contextualização das matrizes religiosas. A problemática que deve ser ampliada diz respeito ao conceito de religião que se constituiu a partir de epistemologias universalizantes, nomeada ante- riormente como unificada e epistemologicamente estruturada. Pesquisadores do fenômeno religioso, atravessados pelas críticas pós-colonial, apontamque a estruturação do conceito religioso como universalizante “[...] pode estar relacio nada a projetos políticos de determinados centros de produção do conhecimento” (SILVA; GRÜNEWALD, 2019, p. 200). Para Silva e Grünewald (2019, p. 200), as etimologias que se constituíram no contexto da colonização “[...] [elevaram] a categoria religião a um suposto valor explicativo universal, de modo a promover interesses específicos de legi- timidade e de dominação”, o que acabou limitando outras formas de expressão. Retomar as matrizes é, nesse sentido, oferecer espaço para outras possi- bilidades de expressão além do que é concebido dentro da explicação univer- salizante do termo. A matriz indígena é marcada por uma pluralidade, pois “[...] os povos indígenas brasileiros em toda a sua diversidade e riqueza cul- tural possuíam e possuem uma enorme variedade de religiosidades visto que são muitos povos” (SANTOS, 2016, p. 3). Ainda, Elói Santos (2016) pontua que, nas religiosidades indígenas, não há demarcações temporais e espaciais entre sagrado e profano, sentidos adotados nas tradições ocidentais, conforme conceitua Mircea Eliade (2010). A matriz do cristianismo representa outra vertente religiosa vivida no Brasil, cujas discussões apresentam questões próprias, visto que também é concebida como matriz ocidental, ainda que o cristianismo tenha sua “gênese no oriente médio” (SANTOS, 2016). Entretanto, a migração do cristianismo para a América Latina e para o Brasil, deu-se a partir da colonização da Espanha e de Portugal. Logo, o cristianismo do Brasil adveio da religiosidade da Europa ocidental (SANTOS, 2016). Outra matriz do território brasileiro tem origem no processo de colonização e de escravidão dos povos africanos em nosso território, tendo feito migrar sua cultura e religião. No entanto, no território brasileiro, essa religiosidade foi marginalizada pela hegemonia católica: no país, há um sincretismo religioso entre os santos católicos e os orixás das religiões africanas. A matriz africana, expressa quase majoritariamente pela umbanda e pelo candomblé, tem sido, 3Matrizes sociológicas das religiões no Brasil na atualidade, uma forma de resistência política e social, tendo em vista recupe- rar a identidade do povo negro e sua historicidade ancestral (SANTOS, 2016). Com a imigração dos japoneses, chineses e indianos, outra matriz ainda se consolidou em nosso território — a oriental, com a presença do budismo, sobretudo o tibetano, que tem como líder religioso Dalai Lama, além da Igreja Messiânica Mundial do Brasil e do movimento Hare Krishna (SANTOS, 2016). 2 Vertentes do campo religioso brasileiro: novas configurações das identidades institucionais e individuais Neste capítulo, escolhemos iniciar apresentando as matrizes religiosas presentes no Brasil por acreditarmos que elas nos dariam um horizonte breve e histórico sobre a inserção das expressões e religiosidades no território nacional. Diante das devidas apresentações históricas, faz-se importante compreender as condições sócio-históricas atuais que oferecem o lastro para as continui- dades, descontinuidades e transformações no campo do fenômeno religioso (tópico discutido posteriormente). Como dito, devemos introduzir a questão analisando o alicerce social que subjaz as novas configurações identitárias, individuais ou institucionais. Há diversas discussões sociológicas em torno da modernidade e da pós- -modernidade: alguns estudiosos defendem que já estamos na pós-modernidade (LYOTARD, 2009), e outros asseguram que estamos na modernidade tardia ou na alta modernidade (GIDDENS, 2002). Independentemente do horizonte teórico escolhido, constatamos que, em ambos os cenários, na verdade exis- tem mudanças profundas nos modos de vida, subjetivação e estruturação das realidades sociais, políticas e econômicas, as quais refletem, inclusive, nas formações ou re-formações (tendo em vista a indagação sobre se seriam reformas ou novas formas, o termo “re-formação” está grifado com hífen) das religiões e dos fenômenos religiosos, que, por sua vez, dão plausibilidade e sustentação à re-invenção da religião (GOMES, 2008). Matrizes sociológicas das religiões no Brasil4 O cenário moderno e/ou pós-moderno implica a construção de novos modos de subjetividade e subjetivação (BIRMAN, 2012), constituídos a partir desse cenário específico. Lipovetsky e Serroy (2011), ao discutirem sobre a moder- nidade, indicam que a evolução histórico-evolutivo desse regime sociocultural se deu a partir de três momentos. O primeiro está vinculado a um modelo religioso tradicional da cultura, já que esta não se constituía de modo autônomo. O segundo momento, ou segunda era “[...] coincide com o advento das democracias modernas, portadoras dos valores de igualdade, liberdade, de laicidade: é o momento revolucionarista da cultura” (LIPOVETSKY; SERROY, 2011, p. 12). A modernidade, com o seu caráter de universalidade, quis fazer tábua rasa do passado, construindo seu aparato racional desvinculado de particularismos e das influências da Igreja, das tradições e superstições. Um dos objetivos desse momento histórico consistiu em emancipar os homens das coesões tradicionais (LIPOVETSKY; SERROY, 2011). No que concerne ao terceiro momento, ou terceira era (onde estaríamos situados), o autor indica: “As grandes utopias, os contramodelos de sociedade evaporaram, perderam o essencial de sua credibilidade” (LIPOVETSKY; SERROY, 2011, p. 13), a partir do qual supervalorizamos o presente em de- trimento do futuro. Além de Lipovetsky e Serroy, outros teóricos refletiram sobre a contemporaneidade e sinalizaram uma sociedade de consumo, do espetáculo, do descartável e da liquidez, e da exteriorização do eu de novas formas de subjetivação (BAUMAN, 2001; BIRMAN, 2012; DEBORD, 1997), destacando-se que cada horizonte teórico, embora tenha semelhanças, assinala percepções e análises distintas. No entanto, a partir dos fatores apontados pelos teóricos escolhidos, constata-se que a modernidade (pós-modernidade, hipermodernidade, modernidade tardia — a depender do horizonte epistêmico escolhido) conjuga vários fatores: crises mercadológica e institucionais, “[...] alteração de papéis sociais, passando pela crise do racionalismo, a eliminação dos mitos, a quebra de tabus preconceitos, a secularização” (BARTH, 2007, p. 90). Além desses fatores, Barth (2007) sinaliza que houve uma explosão religiosa atrelada a novos modos de se comportar consigo, com o outro e com Deus. 5Matrizes sociológicas das religiões no Brasil As crises no início da pós-tradição fizeram filósofos e sociólogos dos sé- culos XIX e XX pressuporem o fim das religiões e da crença nas divindades, a exemplo de Nietzsche (2012). Contudo, o que tem sido testemunhado a cada censo é a reconfiguração dos modos de se relacionar com os campos religiosos. As religiões antes vistas como tradicionais têm perdido sua hegemonia, pois a autoridade das instituições vem sendo desmantelada, no sentido de ser posta em xeque. A explosão do novo comportamento diante de si e do outro reivindica relações subjetivas a partir da necessidade de sentido de cada homem/mulher (GOMES, 2008). Segundo a socióloga Danièle Hervieu-Léger (2008, p. 37): A “secularização” das sociedades modernas [...] combina, de maneira comple- xa, a perda da influência dos grandes sistemas religiosos sobre uma sociedade que reivindica sua plena capacidade de orientar ela mesma seu destino, e a recomposição, sob uma forma nova das representações religiosas que permitem a esta sociedade pensar a si mesma como autônoma. Nesse sentido, continua a autora, “[...] não é indiferença com relação à crença que caracteriza nossas sociedades. É o fato de que a crença escapa totalmente ao controle das grandes igrejas e das instituições religiosas” (HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 41-42). Esse cenário favorece o crescimento de novas expressões religiosas em todo o mundo, inclusive no Brasil, e,ao mesmo tempo, convoca as religiões de cunho tradicionais a reinventarem o seu interior, dando espaço a outros modos de expressão da fé mesmo no seio de sistemas tradicionais, como o catolicismo (GOMES, 2008). A bricolagem, o trânsito religioso, a adesão às perspectivas espirituais que concedem sobremaneira a individualidade, a subjetividade e que respondem a uma necessidade de sentido particular têm sido constantes na sociedade contemporânea: A ruptura entre a crença e a prática constitui o primeiro índice do enfraque- cimento do papel das instituições guardiãs das regras da fé. Mas o aspecto mais decisivo desta “perda de regulamentação” aparece principalmente na liberdade com que os indivíduos “constroem” seu próprio sistema de fé, fora de qualquer referência há um corpo de crenças institucionalmente invalidade. (HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 42). Matrizes sociológicas das religiões no Brasil6 Esse cenário de novas construções identitárias e institucionais, que se eri- gem nos novos referenciais, tem indubitavelmente aberto novas possibilidades para o campo religioso no mundo e no Brasil. Ademais, é importante assinalar que a modernidade, a hipermodernidade, a pós-modernidade ou a moderni- dade tardia (a depender do horizonte teórico escolhido) vividas na Europa são distintas dos cenários vividos no Brasil. Conforme assinala Gomes (2008, p. 35): “[...] há que se ter o cuidado de não enquadrar de imediato a sociedade brasileira dentro do esquema da modernidade”, já que, para ele, a modernidade brasileira se operacionalizou de maneira distinta. Logo, as alterações sofridas por nossas instituições podem ter um registro originário diferente, visto que “[...] nossa modernidade é periférica, constituída nas franjas das sociedades capitalistas centrais, em permanente processo de importação de instituições, numa condição de subalternidade” (GOMES, 2008, p. 35). Demarcadas essas considerações quanto às alterações identitárias e ins- titucionais, mas considerando que a instauração do projeto de modernidade no Brasil pôde ser vivida com especificidades, discutiremos sobre o campo religioso brasileiro. 3 Campo religioso brasileiro: continuidades, descontinuidades, transformações e métodos de análise do fenômeno religioso A cada censo, percebe-se uma reorganização no quantitativo de fiéis e das perspectivas religiosas, rearranjos que advêm tanto do trânsito religioso vivido na atualidade quanto dos modos de análise desses fenômenos. Sobre o campo religioso no Brasil, Gomes (2008) afirma que tem se diferenciado e se tornado plural, visto o aparecimento de novas instituições e identidades religiosas, o que intensifica o trânsito religioso, as “[...] possibilidades sincréticas e [os] novos modos de crer” (GOMES, 2008, p. 36). O cristianismo ainda tem uma grande força no campo religioso no Bra- sil, no entanto as igrejas cristãs têm se rearranjando para oferecer aos fiéis sentidos de vida e religiosos que não estejam necessariamente vinculados às normatizações institucionais, e sim que deem conta dos anseios subjetivos de cada realidade social, política e econômica do povo brasileiro. 7Matrizes sociológicas das religiões no Brasil As fronteiras rígidas entre as religiões têm se flexibilizado, aumentando o trânsito entre elas. Desde a colonização, a Igreja Católica apresenta uma hegemonia que reverbera diretamente no quantitativo de adeptos, predomínio este também associado à relação Igreja-Estado observada ao longo da história, desde Roma, que também se estabeleceu em nosso país, de tal modo que se dizer brasileiro era quase se dizer católico (GOMES, 2008). Ainda, aqueles que receberam culturalmente a religião tradicional têm aberto mão desse modo de vida para escolhas que correspondam às suas ne- cessidades de sentido. No interior da Igreja Católica, vem crescendo o número de grupos religiosos, como a Renovação Carismática Católica, que possibi- lita outros modos de relação com o sagrado, mais intimistas e subjetivistas. As igrejas evangélicas também têm tido expressas adesões conforme o cenário de instauração dos novos templos, já que no Brasil os critérios subjetivos são tão importantes quanto os socioeconômicos (LEONEL, 2010). As religiões de matrizes africanas também vêm sofrendo alterações, visto que a adesão a essas expressões religiosas tem sido marcada pelo reconheci- mento identitário de um povo que reconhece a escravização dos seus ances- trais e se posiciona eticamente na busca de uma reparação histórica. Nesse compromisso sociopolítico e entrelaçado com a busca de novas experiências religiosas, as expressões orientais, budismo e movimento Hare Krishna, também estão se consolidando no cenário nacional. Assim, a pergunta que se coloca nessa conjuntura é: as alterações quanti- tativas têm ocorrido apenas agora ou essa percepção diz respeito às alterações no modo como as análises do fenômeno religioso têm acontecido? Segundo Leonel (2010), podemos verificar novas propostas analíticas no campo da sociologia da religião, nas quais os estudos têm se voltado para as questões da dessubstancialização religiosa e do multipertencimento. Acredita-se que esses novos enfoques favorecem conclusões distintas sobre as questões anteriormente postas por esse campo científico (LEONEL, 2010). Em suma, são esses novos ângulos que possibilitam a análise das transfor- mações, a continuidade e as descontinuidades vividas no campo religioso no Brasil. Conforme Silva e Grünewald (2019, p. 198), “[...] os desdobramentos desse campo de estudo no mundo contemporâneo têm exigido um reexame sistemático de seus contornos teóri co-metodológicos em função da sua plas- ticidade intrínseca”. Concluímos, portanto, que as novas abordagens vêm influenciando na construção de tessituras qualitativas e quantitativas no que concerne às alte- rações sofridas no campo religioso no Brasil. Matrizes sociológicas das religiões no Brasil8 BARTH, W. L. O homem pós-moderno, religião e ética. Teocomunicação, Porto Alegre, v. 37, n. 155, p. 89-108, mar. 2007. BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. BIRMAN, J. 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Acesso: 3 jul.2020. 9Matrizes sociológicas das religiões no Brasil Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Matrizes sociológicas das religiões no Brasil10 Dica do professor É importante que você compreenda as condições sócio-históricas atuais que oferecem o lastro para as continuidades, descontinuidades e transformações no campo do fenômeno religioso. Portanto, deve-se analisar o alicerce social que subjaz as novas configurações identitárias, individuais ou institucionais. Nesse contexto, lembre-se que, além de conhecer as matrizes religiosas presentes no Brasil, deve-se compreender as expressões religiosas que constituem essas matrizes. Nesta Dica do Professor, será apresentado o Movimento Hare Krishna. Você aprenderá sobre o fundador, o contexto cultural no qual o movimento se desenvolveu e sua chegada ao Brasil. Conhecerá, ainda, o seu livro sagrado e algumas características. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/cb88a26c12f132260fbd84f1d87d6a50 Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Escritos de comunidades novas católicas e as religiões de matrizes africanas em sala de aula: violências religiosas Este artigo discute sobre os escritos de comunidades católicas no Brasil, para analisar os preconceitos que se consolidam frente às matrizes africanas. O texto alinha a temática com as questões educacionais e reforça a importância de os professores de Religião ampliarem seus conhecimentos em favor de afirmativas multiculturais para o diálogo inter-religioso. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Historiando: o candomblé Assista esta entrevista com o Babalorixá Marcio de Jagun, que tem como objetivo apresentar pontos cruciais do candomblé, bem como discutir sobre a importância de uma análise sócio- histórico brasileira que leve em consideração a pluriculturalidade de nosso país. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/35142/html https://www.youtube.com/embed/7enrB65eve4