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Matriz Religiosa Semita - Matrizes sociológicas das religiões no Brasil 12-11-2023


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Matrizes sociológicas das religiões 
no Brasil
Apresentação
A história humana é permeada por narrativas de experiências religiosas. No entanto, é preciso 
estabelecer compreensões sobre o fenômeno religioso, a religião, as instituições religiosas e afins. 
Tais discussões necessitam serem articuladas com as especificidades sociais e culturais que se 
desenvolveram ao longo dos séculos e constituíram-se como os cenários oportunos para os 
diversos modos de constituição da religião e dos fenômenos religiosos. Cada cenário específico 
ofereceu bases para constituição e/ou consolidação dos fenômenos religiosos e das identidades 
religiosas institucionais e individuais.
 
Nesta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá sobre as matrizes religiosas presentes no Brasil 
(indígena, ocidental, africana e oriental) e seus campos simbólicos, compreenderá as continuidades, 
descontinuidades e transformações do campo religioso no Brasil e relacionará as diferentes 
religiosidades com as novas identidades institucionais e individuais.
Bons estudos.
Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Classificar o campo religioso brasileiro na contemporaneidade verificando continuidades, 
descontinuidades, transformações e novos métodos de análise do fenômeno religioso.
•
Categorizar as quatro matrizes religiosas presentes no Brasil: indígena, ocidental, africana e 
oriental, sua relação com a diversidade religiosa e cultural e com o campo simbólico.
•
Relacionar diferentes vertentes do campo religioso brasileiro com a configuração de novas 
identidades institucionais e individuais.
•
Infográfico
No Brasil, existem adeptos de religiões monoteístas. Essas religiões partem do pressuposto da 
existência de um único Deus, apesar de cada uma indicar sua divindade. 
 
Neste Infográfico, você conhecerá três dessas religiões: Islamismo, Judaísmo e Catolicismo. 
Aponte a câmera para o 
código e acesse o link do 
conteúdo ou clique no 
código para acessar.
https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/5139b3fa-a157-4c3c-a579-406536e19ac4/44df86d2-8e49-4696-b457-aa9d665c6199.png
 
Conteúdo do livro
O Brasil, ou melhor, toda a América Latina é constituída por uma historicidade atrelada à 
colonização. A colonização ressoa até os dias atuais nas esferas sociais, políticas, econômicas e 
religiosas no Brasil. Nesse sentido, para se compreender os projetos fundacionais das religiosidades 
no Brasil, é preciso retomar à colonização como fator histórico. Essa retomada possibilitará 
compreender as matrizes religiosas e os campos religiosos no Brasil.
No capítulo Matrizes sociológicas das religiões no Brasil, do livro Sociologia da religião, base teórica 
desta Unidade de Aprendizagem, você conhecerá as matrizes religiosas no Brasil, bem como 
compreenderá as novas identidades individuais e institucionais e o modo como elas têm se 
constituído. As reconfigurações individuais e institucionais afetam diretamente o campo religioso 
no Brasil, que também tem se reconfigurado.
Boa leitura.
SOCIOLOGIA DA 
RELIGIÃO 
Itala Daniela da Silva
Matrizes sociológicas 
das religiões no Brasil 
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Categorizar as quatro matrizes religiosas presentes no Brasil (indígena, 
ocidental, africana e oriental), bem como sua relação com a diversidade 
religiosa e cultural e com o campo simbólico.
 � Classificar o campo religioso brasileiro na contemporaneidade veri-
ficando continuidades, descontinuidades, transformações e novos 
métodos de análise do fenômeno religioso. 
 � Relacionar diferentes vertentes do campo religioso brasileiro com 
a configuração de novas identidades institucionais e individuais.
Introdução
A história do Brasil é constituída por uma miscigenação de povos e culturas, 
embora ainda haja uma predominância das epistemologias eurocentradas 
nas análises, nas explicações e na apresentação dos fenômenos ocorridos 
no país e, também, na América Latina. Nesse sentido, a decolonização 
das constituições teóricas, a partir da sensibilização geopolítica e cultural, 
é importante na tessitura das compreensões sobre os fenômenos religio-
sos no Brasil, visto que as constituições das matrizes religiosas, as vertentes 
e a classificação do campo religioso são atravessadas pela pluralidade 
dos povos e das culturas que em território brasileiro foram miscigenados. 
Neste capítulo, você aprenderá sobre as matrizes religiosas presentes 
no Brasil (indígena, ocidental, africana e oriental) e seus campos simbóli-
cos, compreenderá as continuidades e descontinuidades e transforma-
ções do campo religioso no país e relacionará as diferentes religiosidades 
com as novas identidades institucionais e individuais. 
1 Matrizes religiosas no Brasil: 
relações com as diversidades religiosa e 
cultural e o campo simbólico
Muitas vezes, a história do Brasil, assim como a da América Latina, tem 
sido contada por constituições teóricas eurocentradas, ou seja, teorias cons-
truídas a partir das compreensões dos colonizadores, e não dos colonizados 
(SANTOS, 2017). 
O filósofo Salazar Bondy (1968), ao discutir sobre epistemologias filosóficas 
para a América Latina, argumenta que as correntes de pensamentos vigentes 
na Europa nos séculos da colonização adentraram o cenário latino-americano 
e constituíram os modos de pensamento e conhecimento, dando-se de modo 
paralelo e sendo diretamente influenciados pelos determinantes exógenos do 
Ocidente (SALAZAR BONDY, 1968). 
No entanto, devemos considerar que há efetivas distinções entre o povo 
europeu, estadunidense e latino-americano. Nesse sentido, as sensibilidades ge-
opolíticas e a construção de análises decoloniais (com o olhar dos colonizados, 
e não dos colonizadores) são importantes para uma coerente discussão sobre 
a miscigenação dos nossos povos e culturas: “vivemos em nosso continente 
uma história distinta à do chamado mundo ocidental, não passamos pelos 
mesmos processos históricos que se deram na Europa” (SANTOS, 2017, p. 95).
Mas o que faz com que essas indicações se tornem pertinentes na abertura 
de uma reflexão sobre as matrizes religiosas no Brasil? Tal discussão indica 
uma sensibilidade histórica que fundamentará a necessidade de ampliar os 
horizontes sobre as religiões no país, visto que, em uma perspectiva eurocen-
tradas, as matrizes se consolidariam, quase majoritariamente, com influências 
cristãs. No entanto, na realidade brasileira, em razão da miscigenação do nosso 
povo e de nossa cultura, existem outras matrizes que pertencem à história 
religiosa do cenário geopolítico nacional. Elói Santos, dialogando com as 
questões concernentes à religião, indica também a importância da retomada 
histórica, tornando-se importante pensar a “[...] diversidade religiosa a partir 
da construção histórica do Brasil” (SANTOS, 2016, p. 2).
Por esse motivo, precisamos partir dos pressupostos das condições colo-
nizadoras, históricas, sociais, políticas e econômicas para compreender os 
projetos fundacionais da religiosidade no Brasil. E isso nos leva a retomar o 
período da colonização, pois, ao chegarem no Brasil, portugueses e holandeses 
se depararam com povos indígenas que tinham e continuam tendo modos 
próprios de viver a espiritualidade (SANTOS, 2016). 
Matrizes sociológicas das religiões no Brasil2
Para Elói Santos (2016), não se trata de uma religião indígena no sentido 
unificado e epistemologicamente estruturado do termo, mas de uma matriz 
indígena, abrindo-se, com essa indicação, uma questão importante que 
precisa ser dirimida antes mesmo de seguir para a contextualização das 
matrizes religiosas. 
A problemática que deve ser ampliada diz respeito ao conceito de religião 
que se constituiu a partir de epistemologias universalizantes, nomeada ante-
riormente como unificada e epistemologicamente estruturada. Pesquisadores 
do fenômeno religioso, atravessados pelas críticas pós-colonial, apontamque 
a estruturação do conceito religioso como universalizante “[...] pode estar 
relacio nada a projetos políticos de determinados centros de produção do 
conhecimento” (SILVA; GRÜNEWALD, 2019, p. 200). 
Para Silva e Grünewald (2019, p. 200), as etimologias que se constituíram 
no contexto da colonização “[...] [elevaram] a categoria religião a um suposto 
valor explicativo universal, de modo a promover interesses específicos de legi-
timidade e de dominação”, o que acabou limitando outras formas de expressão. 
Retomar as matrizes é, nesse sentido, oferecer espaço para outras possi-
bilidades de expressão além do que é concebido dentro da explicação univer-
salizante do termo. A matriz indígena é marcada por uma pluralidade, pois 
“[...] os povos indígenas brasileiros em toda a sua diversidade e riqueza cul-
tural possuíam e possuem uma enorme variedade de religiosidades visto que 
são muitos povos” (SANTOS, 2016, p. 3). Ainda, Elói Santos (2016) pontua 
que, nas religiosidades indígenas, não há demarcações temporais e espaciais 
entre sagrado e profano, sentidos adotados nas tradições ocidentais, conforme 
conceitua Mircea Eliade (2010). 
A matriz do cristianismo representa outra vertente religiosa vivida no 
Brasil, cujas discussões apresentam questões próprias, visto que também é 
concebida como matriz ocidental, ainda que o cristianismo tenha sua “gênese 
no oriente médio” (SANTOS, 2016). Entretanto, a migração do cristianismo 
para a América Latina e para o Brasil, deu-se a partir da colonização da 
Espanha e de Portugal. Logo, o cristianismo do Brasil adveio da religiosidade 
da Europa ocidental (SANTOS, 2016). 
Outra matriz do território brasileiro tem origem no processo de colonização 
e de escravidão dos povos africanos em nosso território, tendo feito migrar sua 
cultura e religião. No entanto, no território brasileiro, essa religiosidade foi 
marginalizada pela hegemonia católica: no país, há um sincretismo religioso 
entre os santos católicos e os orixás das religiões africanas. A matriz africana, 
expressa quase majoritariamente pela umbanda e pelo candomblé, tem sido, 
3Matrizes sociológicas das religiões no Brasil
na atualidade, uma forma de resistência política e social, tendo em vista recupe-
rar a identidade do povo negro e sua historicidade ancestral (SANTOS, 2016). 
Com a imigração dos japoneses, chineses e indianos, outra matriz ainda 
se consolidou em nosso território — a oriental, com a presença do budismo, 
sobretudo o tibetano, que tem como líder religioso Dalai Lama, além da Igreja 
Messiânica Mundial do Brasil e do movimento Hare Krishna (SANTOS, 2016). 
2 Vertentes do campo religioso brasileiro: 
novas configurações das identidades 
institucionais e individuais
Neste capítulo, escolhemos iniciar apresentando as matrizes religiosas presentes 
no Brasil por acreditarmos que elas nos dariam um horizonte breve e histórico 
sobre a inserção das expressões e religiosidades no território nacional. 
Diante das devidas apresentações históricas, faz-se importante compreender 
as condições sócio-históricas atuais que oferecem o lastro para as continui-
dades, descontinuidades e transformações no campo do fenômeno religioso 
(tópico discutido posteriormente). Como dito, devemos introduzir a questão 
analisando o alicerce social que subjaz as novas configurações identitárias, 
individuais ou institucionais. 
Há diversas discussões sociológicas em torno da modernidade e da pós-
-modernidade: alguns estudiosos defendem que já estamos na pós-modernidade 
(LYOTARD, 2009), e outros asseguram que estamos na modernidade tardia 
ou na alta modernidade (GIDDENS, 2002). Independentemente do horizonte 
teórico escolhido, constatamos que, em ambos os cenários, na verdade exis-
tem mudanças profundas nos modos de vida, subjetivação e estruturação 
das realidades sociais, políticas e econômicas, as quais refletem, inclusive, 
nas formações ou re-formações (tendo em vista a indagação sobre se seriam 
reformas ou novas formas, o termo “re-formação” está grifado com hífen) das 
religiões e dos fenômenos religiosos, que, por sua vez, dão plausibilidade e 
sustentação à re-invenção da religião (GOMES, 2008).
Matrizes sociológicas das religiões no Brasil4
O cenário moderno e/ou pós-moderno implica a construção de novos modos 
de subjetividade e subjetivação (BIRMAN, 2012), constituídos a partir desse 
cenário específico. Lipovetsky e Serroy (2011), ao discutirem sobre a moder-
nidade, indicam que a evolução histórico-evolutivo desse regime sociocultural 
se deu a partir de três momentos. 
O primeiro está vinculado a um modelo religioso tradicional da cultura, 
já que esta não se constituía de modo autônomo. 
O segundo momento, ou segunda era “[...] coincide com o advento das 
democracias modernas, portadoras dos valores de igualdade, liberdade, 
de laicidade: é o momento revolucionarista da cultura” (LIPOVETSKY; 
SERROY, 2011, p. 12). A modernidade, com o seu caráter de universalidade, 
quis fazer tábua rasa do passado, construindo seu aparato racional desvinculado 
de particularismos e das influências da Igreja, das tradições e superstições. 
Um dos objetivos desse momento histórico consistiu em emancipar os homens 
das coesões tradicionais (LIPOVETSKY; SERROY, 2011). 
No que concerne ao terceiro momento, ou terceira era (onde estaríamos 
situados), o autor indica: “As grandes utopias, os contramodelos de sociedade 
evaporaram, perderam o essencial de sua credibilidade” (LIPOVETSKY; 
SERROY, 2011, p. 13), a partir do qual supervalorizamos o presente em de-
trimento do futuro. Além de Lipovetsky e Serroy, outros teóricos refletiram 
sobre a contemporaneidade e sinalizaram uma sociedade de consumo, do 
espetáculo, do descartável e da liquidez, e da exteriorização do eu de novas 
formas de subjetivação (BAUMAN, 2001; BIRMAN, 2012; DEBORD, 1997), 
destacando-se que cada horizonte teórico, embora tenha semelhanças, assinala 
percepções e análises distintas. 
No entanto, a partir dos fatores apontados pelos teóricos escolhidos, 
constata-se que a modernidade (pós-modernidade, hipermodernidade, 
modernidade tardia — a depender do horizonte epistêmico escolhido) conjuga 
vários fatores: crises mercadológica e institucionais, “[...] alteração de papéis 
sociais, passando pela crise do racionalismo, a eliminação dos mitos, a quebra 
de tabus preconceitos, a secularização” (BARTH, 2007, p. 90). Além desses 
fatores, Barth (2007) sinaliza que houve uma explosão religiosa atrelada a 
novos modos de se comportar consigo, com o outro e com Deus. 
5Matrizes sociológicas das religiões no Brasil
As crises no início da pós-tradição fizeram filósofos e sociólogos dos sé-
culos XIX e XX pressuporem o fim das religiões e da crença nas divindades, 
a exemplo de Nietzsche (2012). Contudo, o que tem sido testemunhado a cada 
censo é a reconfiguração dos modos de se relacionar com os campos religiosos. 
As religiões antes vistas como tradicionais têm perdido sua hegemonia, pois a 
autoridade das instituições vem sendo desmantelada, no sentido de ser posta em 
xeque. A explosão do novo comportamento diante de si e do outro reivindica 
relações subjetivas a partir da necessidade de sentido de cada homem/mulher 
(GOMES, 2008). Segundo a socióloga Danièle Hervieu-Léger (2008, p. 37): 
A “secularização” das sociedades modernas [...] combina, de maneira comple-
xa, a perda da influência dos grandes sistemas religiosos sobre uma sociedade 
que reivindica sua plena capacidade de orientar ela mesma seu destino, e a 
recomposição, sob uma forma nova das representações religiosas que permitem 
a esta sociedade pensar a si mesma como autônoma. 
Nesse sentido, continua a autora, “[...] não é indiferença com relação à crença 
que caracteriza nossas sociedades. É o fato de que a crença escapa totalmente ao 
controle das grandes igrejas e das instituições religiosas” (HERVIEU-LÉGER, 
2008, p. 41-42). Esse cenário favorece o crescimento de novas expressões 
religiosas em todo o mundo, inclusive no Brasil, e,ao mesmo tempo, convoca 
as religiões de cunho tradicionais a reinventarem o seu interior, dando espaço 
a outros modos de expressão da fé mesmo no seio de sistemas tradicionais, 
como o catolicismo (GOMES, 2008). 
A bricolagem, o trânsito religioso, a adesão às perspectivas espirituais que 
concedem sobremaneira a individualidade, a subjetividade e que respondem 
a uma necessidade de sentido particular têm sido constantes na sociedade 
contemporânea: 
A ruptura entre a crença e a prática constitui o primeiro índice do enfraque-
cimento do papel das instituições guardiãs das regras da fé. Mas o aspecto 
mais decisivo desta “perda de regulamentação” aparece principalmente na 
liberdade com que os indivíduos “constroem” seu próprio sistema de fé, fora 
de qualquer referência há um corpo de crenças institucionalmente invalidade. 
(HERVIEU-LÉGER, 2008, p. 42). 
Matrizes sociológicas das religiões no Brasil6
Esse cenário de novas construções identitárias e institucionais, que se eri-
gem nos novos referenciais, tem indubitavelmente aberto novas possibilidades 
para o campo religioso no mundo e no Brasil. Ademais, é importante assinalar 
que a modernidade, a hipermodernidade, a pós-modernidade ou a moderni-
dade tardia (a depender do horizonte teórico escolhido) vividas na Europa são 
distintas dos cenários vividos no Brasil. Conforme assinala Gomes (2008, 
p. 35): “[...] há que se ter o cuidado de não enquadrar de imediato a sociedade 
brasileira dentro do esquema da modernidade”, já que, para ele, a modernidade 
brasileira se operacionalizou de maneira distinta. Logo, as alterações sofridas 
por nossas instituições podem ter um registro originário diferente, visto que 
“[...] nossa modernidade é periférica, constituída nas franjas das sociedades 
capitalistas centrais, em permanente processo de importação de instituições, 
numa condição de subalternidade” (GOMES, 2008, p. 35). 
Demarcadas essas considerações quanto às alterações identitárias e ins-
titucionais, mas considerando que a instauração do projeto de modernidade 
no Brasil pôde ser vivida com especificidades, discutiremos sobre o campo 
religioso brasileiro.
3 Campo religioso brasileiro: continuidades, 
descontinuidades, transformações e 
métodos de análise do fenômeno religioso
A cada censo, percebe-se uma reorganização no quantitativo de fiéis e das 
perspectivas religiosas, rearranjos que advêm tanto do trânsito religioso vivido 
na atualidade quanto dos modos de análise desses fenômenos. Sobre o campo 
religioso no Brasil, Gomes (2008) afirma que tem se diferenciado e se tornado 
plural, visto o aparecimento de novas instituições e identidades religiosas, o 
que intensifica o trânsito religioso, as “[...] possibilidades sincréticas e [os] 
novos modos de crer” (GOMES, 2008, p. 36).
O cristianismo ainda tem uma grande força no campo religioso no Bra-
sil, no entanto as igrejas cristãs têm se rearranjando para oferecer aos fiéis 
sentidos de vida e religiosos que não estejam necessariamente vinculados às 
normatizações institucionais, e sim que deem conta dos anseios subjetivos de 
cada realidade social, política e econômica do povo brasileiro. 
7Matrizes sociológicas das religiões no Brasil
As fronteiras rígidas entre as religiões têm se flexibilizado, aumentando 
o trânsito entre elas. Desde a colonização, a Igreja Católica apresenta uma 
hegemonia que reverbera diretamente no quantitativo de adeptos, predomínio 
este também associado à relação Igreja-Estado observada ao longo da história, 
desde Roma, que também se estabeleceu em nosso país, de tal modo que se 
dizer brasileiro era quase se dizer católico (GOMES, 2008). 
Ainda, aqueles que receberam culturalmente a religião tradicional têm 
aberto mão desse modo de vida para escolhas que correspondam às suas ne-
cessidades de sentido. No interior da Igreja Católica, vem crescendo o número 
de grupos religiosos, como a Renovação Carismática Católica, que possibi-
lita outros modos de relação com o sagrado, mais intimistas e subjetivistas. 
As igrejas evangélicas também têm tido expressas adesões conforme o cenário 
de instauração dos novos templos, já que no Brasil os critérios subjetivos são 
tão importantes quanto os socioeconômicos (LEONEL, 2010). 
As religiões de matrizes africanas também vêm sofrendo alterações, visto 
que a adesão a essas expressões religiosas tem sido marcada pelo reconheci-
mento identitário de um povo que reconhece a escravização dos seus ances-
trais e se posiciona eticamente na busca de uma reparação histórica. Nesse 
compromisso sociopolítico e entrelaçado com a busca de novas experiências 
religiosas, as expressões orientais, budismo e movimento Hare Krishna, 
também estão se consolidando no cenário nacional.
Assim, a pergunta que se coloca nessa conjuntura é: as alterações quanti-
tativas têm ocorrido apenas agora ou essa percepção diz respeito às alterações 
no modo como as análises do fenômeno religioso têm acontecido? Segundo 
Leonel (2010), podemos verificar novas propostas analíticas no campo da 
sociologia da religião, nas quais os estudos têm se voltado para as questões da 
dessubstancialização religiosa e do multipertencimento. Acredita-se que esses 
novos enfoques favorecem conclusões distintas sobre as questões anteriormente 
postas por esse campo científico (LEONEL, 2010). 
Em suma, são esses novos ângulos que possibilitam a análise das transfor-
mações, a continuidade e as descontinuidades vividas no campo religioso no 
Brasil. Conforme Silva e Grünewald (2019, p. 198), “[...] os desdobramentos 
desse campo de estudo no mundo contemporâneo têm exigido um reexame 
sistemático de seus contornos teóri co-metodológicos em função da sua plas-
ticidade intrínseca”.
Concluímos, portanto, que as novas abordagens vêm influenciando na 
construção de tessituras qualitativas e quantitativas no que concerne às alte-
rações sofridas no campo religioso no Brasil. 
Matrizes sociológicas das religiões no Brasil8
BARTH, W. L. O homem pós-moderno, religião e ética. Teocomunicação, Porto Alegre, 
v. 37, n. 155, p. 89-108, mar. 2007. 
BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
BIRMAN, J. O sujeito na contemporaneidade: espaço, dor e desalento na atualidade. Rio 
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012. 
DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
ELIADE, M. O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: WMF Martins 
Fontes, 2010.
GIDDENS, A. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. 
GOMES, S. S. As novas comunidades católicas: rumo a uma cidadania renovada? 2008. 
117 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica do 
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. 
HERVIEU-LÉGER, D. O peregrino e o convertido: a religião em movimento. Petrópolis: 
Vozes, 2008.
LEONEL, G. G. Campo religioso brasileiro na contemporaneidade: continuidades, des-
continuidades, transformações e novos ângulos de análise. Interseções, Rio de Janeiro, 
v. 12, n. 2, p. 382-407, dez. 2010. 
LIPOVETSKY, G.; SERROY, J. A cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada. 
São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
LYOTARD, J. F. A condição pós-moderna. 12. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.
NIETZSCHE, F. A gaia ciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 
SALAZAR BONDY, A. ¿Existe unaa filosofía de nuestra américa? Argentina: Siglo Veintiuno, 
1968. 
SANTOS, E. C. Diversidade religiosa brasileira e as quatro matrizes. Subsídios pedagógicos 
para o ensino religioso, Curitiba, n. 38, p. 2-5, 2016. 
SANTOS, G. A. O. Psicologia fenomenológico-existencial e pensamento decolonial: um 
diálogo necessário. Revista NUFEN, Belém, v. 9, n. 3, p. 93-109, 2017. 
SILVA, D. V.; GRÜNEWALD, R. A. Velhas e novas crenças: sobre o encontro de religiosi-
dades em uma vila amazônica. Religião & Sociedade, Rio de Janeiro, v. 39, n. 1, jan./ abr. 
2019. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
-85872019000100198&tlng=pt. Acesso: 3 jul.2020.
9Matrizes sociológicas das religiões no Brasil
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
Matrizes sociológicas das religiões no Brasil10
Dica do professor
É importante que você compreenda as condições sócio-históricas atuais que oferecem o lastro para 
as continuidades, descontinuidades e transformações no campo do fenômeno religioso. Portanto, 
deve-se analisar o alicerce social que subjaz as novas configurações identitárias, individuais ou 
institucionais. Nesse contexto, lembre-se que, além de conhecer as matrizes religiosas presentes no 
Brasil, deve-se compreender as expressões religiosas que constituem essas matrizes.
Nesta Dica do Professor, será apresentado o Movimento Hare Krishna. Você aprenderá sobre o 
fundador, o contexto cultural no qual o movimento se desenvolveu e sua chegada ao Brasil. 
Conhecerá, ainda, o seu livro sagrado e algumas características.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
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Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:
Escritos de comunidades novas católicas e as religiões de 
matrizes africanas em sala de aula: violências religiosas
Este artigo discute sobre os escritos de comunidades católicas no Brasil, para analisar os 
preconceitos que se consolidam frente às matrizes africanas. O texto alinha a temática com as 
questões educacionais e reforça a importância de os professores de Religião ampliarem seus 
conhecimentos em favor de afirmativas multiculturais para o diálogo inter-religioso.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Historiando: o candomblé
Assista esta entrevista com o Babalorixá Marcio de Jagun, que tem como objetivo apresentar 
pontos cruciais do candomblé, bem como discutir sobre a importância de uma análise sócio-
histórico brasileira que leve em consideração a pluriculturalidade de nosso país.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
https://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/35142/html
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