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1 O Curso de Administração Pública em Tempos de Coprodução do Bem Público e de Governança Pública: Proposição e Referências. Autoria: José Francisco Salm, Maria Ester Menegasso Resumo: A administração pública é um conjunto de estratégias em ação atualmente focada na governança pública e na coprodução do bem público. O trabalho contém uma proposição para o curso de administração pública com esse foco. Essa proposição se apoia na ontologia, na epistemologia, na multidimensionalidade humana, na democracia, na participação e no interesse público. Também na realidade do presente e nas possibilidades objetivas do porvir, principalmente aquelas que indicam a reorientação dos valores que legitimam a ação e o comportamento do ser humano na comunidade. O trabalho contém um conjunto de recomendações que enfeixam a proposição para o curso. 1 Introdução A administração pública é um conjunto de estratégias em ação, direcionadas para a produção do bem público em uma determinada sociedade. Entre essas estratégias em ação podem-se citar as organizações burocráticas públicas, as organizações sem fins lucrativos que produzem ou coproduzem serviços públicos e todos os demais arranjos comunitários que estão a serviço da produção do bem comum. Essa concepção de administração pública distingue a esfera pública da esfera privada e tem no ser humano, enquanto animal político, na democracia, na participação e no interesse público a sua pedra angular. Alicerçada sob essa base, a compreensão da administração pública torna-se mais sofisticada e mais complexa, sobretudo se considerados os grandes desafios e mudanças com que a sociedade se defronta nos dias atuais. A formação do administrador público, como consequência, também está se tornando, cada vez mais, sofisticada e complexa, principalmente se forem consideradas as crescentes necessidades e demandas da sociedade, os avanços tecnológicos, as consequências dos imperativos de equilíbrio exigido pela biosfera e as contínuas mudanças e desafios de toda ordem, que atingem a esfera pública e privada. Acresça-se, ainda, a esses fatores, a amplitude cada vez maior do campo da administração pública e o reordenamento da base ontológica e epistemológica dessa área do saber. Portanto, a formação do administrador público requer uma base ampla de conhecimentos que se complementa com um conjunto elaborado de saber específico sobre a produção do bem público. Paradoxalmente, os cursos de administração pública, com algumas exceções, se ancoram em estudos que privilegiam apenas o saber sobre o funcionamento das organizações burocráticas e as rotinas legais da atividade dessas estratégias de produção do bem público. Integrado a esse saber sobre a burocracia e as rotinas legais, esses cursos também focam o estudo das questões relativas à eficiência, seja pela busca da produtividade da burocracia ou pelo envolvimento do mercado na produção dos serviços públicos. No entanto, nesse tipo de curso é dada uma atenção menor ao estudo de outras estratégias de produção dos serviços públicos, assim como, a busca do conhecimento sobre a complexa teia do arranjo político e de sua governança. Também pouco se focam as diversas redes que, no seu conjunto, constituem o tecido social e nele produzem ou coproduzem o bem público. A elaboração de uma proposição para o curso de administração pública, por conseguinte, exige conhecimentos que estão além daqueles que usualmente se requer quando se faz uma grade curricular, composta pelas disciplinas convencionalmente aceitas nesses cursos. A elaboração de uma proposição para o curso de administração pública não convencional parte do conhecimento da base ontológica e epistemológica que sustenta toda a 2 sua estrutura. Além desse conhecimento também é necessário ter uma visão de mundo e o domínio sobre as teorias e métodos que constroem o curso. A realidade presente e futura a ser considerada no desenho do curso pode ser definida, a partir do contextualismo dialético e de possibilidades objetivas (RAMOS, 2010). Feitas essas considerações iniciais, o objetivo deste artigo é apresentar uma proposição para o curso de administração pública, que atente para a realidade presente, assim como, para uma visão de mundo baseada em possibilidades objetivas do futuro; que tenha sustentação em uma base ontológica e epistemológica que se coadune com essa realidade e as possibilidades do porvir, bem como, coloque no ser humano, enquanto animal político, na democracia e no interesse público sua razão maior de ser. A proposição para o curso de administração pública é constituída por um conjunto de generalizações, sob a forma de modelo heurístico, que se espera, possam servir de referência para cada contexto em que ela for levada a efeito. Para levar a termo esse objetivo, o artigo se organiza em cinco tópicos. O primeiro constitui esta (1) introdução. No segundo se discutem os (2) fundamentos da proposição para o curso, enquanto no terceiro eles se aplicam na (3) composição dos conhecimentos necessários ao administrador público. Já o quarto contém as (4) considerações finais com algumas propostas sobre a implementação da proposição. O último tópico apresenta a (5) relação bibliográfica citada neste artigo. A elaboração da proposição para o curso contida neste documento não se esgota nem se apresenta como uma simples apresentação das disciplinas, que se supõem necessárias para a formação do administrador público. A proposição se compõe de um conjunto de ideias, asserções e propostas que se completam, desde a afirmação inicial sobre a concepção que se tem da administração pública, passando pelos fundamentos ontológicos, epistemológicos, a concepção do que se entende por ser humano e seu habitat democrático, pelo entendimento do que se identifica como interesse público, culminando com uma breve discussão do que é a realidade em termos de contextualismo dialético e de possibilidade objetiva. Esses fundamentos da proposição são importantes, porque sem eles será impossível encontrar uma razão de ser para o entendimento de administração pública que impregna e perpassa o curso. Em outras palavras, esses fundamentos elucidam a concepção de administração pública que orienta a proposição para o curso de administração pública. Esses fundamentos da proposição para o curso serão o objeto de discussão do próximo tópico. Mas não sem antes chamar a atenção para os limites que se põem a essa tarefa, uma vez que esses assuntos não se esgotam em poucas páginas de um artigo. Assim, a apresentação e discussão de cada um desses assuntos ou categorias não devem ultrapassar os limites do necessário, de forma que se esclareçam os fundamentos da proposição objeto deste documento. Antes de prosseguir para a discussão dos fundamentos da proposição para o curso é necessário esclarecer o conceito de bem comum empregado neste artigo. O conceito de “bem comum tem um significado distributivo [...] para o bem-estar de todos os membros da comunidade ou grupo em questão”. “São às vezes sinônimos de bem comum, expressões como: bem-estar público, bem público e interesse público” (SILVA, B., 1986, p.117-118). É importante esclarecer que essa proposição para o curso de administração pública é um modelo heurístico nos moldes propostos e discutidos por Weber (2004) e Ramos (1981), porque ela assume a forma de generalizações que levam em conta fundamentos ontológicos e epistemológicos, associando-os a realidade presente e do porvir, a partir do contextualismo dialético e de possibilidades objetivas. Não se pode esperar, portanto, que a proposição seja passível de implementação em qualquer contexto, sem que sofra as necessárias adaptações à realidade em que for aplicada. 2 Fundamentos da proposição para o curso 3 Este tópico se divide em duas partes. A primeira parte trata das referências teóricas. Nessa parte se faz uma breve análise da base ontológica, das referênciasepistemológicas, da concepção que se tem do ser humano sob o aspecto da sua multidimensionalidade e da razão. Tece-se um breve comentário sobre o cidadão e a liberdade, como qualidades do ser humano parentético. O entendimento sobre o interesse público é discutido a partir das diversas correntes de pensamento e dos modelos de administração pública. Dá-se destaque a concepção do interesse público formulada pelos autores do modelo do novo serviço público. Essas categorias também são relacionadas com a formação do administrador público e a proposição para o curso de administração pública. A segunda parte trata da realidade e da visão de futuro, sob a qual também se alicerça a proposição para o curso. 2.1 Referências teóricas O empreendimento científico em administração pública está associado, quase sempre, ao emprego da metodologia e dos métodos mais adequados às necessidades da pesquisa em uma de suas áreas de atuação. Na busca de resposta à pergunta de pesquisa, se leva em conta o melhor método de coleta e análise dos dados, sem considerar, muitas vezes, os fundamentos que alicerçam essa metodologia e as teorias que deles emergem e suportam todo o trabalho do pesquisador. Perde-se, neste contexto, a discussão filosófica sobre a natureza da realidade e sobre a teoria do conhecimento que emoldura o aprendizado por meio da pesquisa. Essas questões já foram discutidas por Spicer e Lowery (2006), Spicer (2008) e Raadschelders (2011), principalmente quando envolvem pesquisa qualitativa. Nunca é por demais lembrar que qualquer trabalho científico dificilmente pode atingir um nível acadêmico elevado se não puder extrair, de si próprio, os seus fundamentos epistemológicos. Em outras palavras, o trabalho que se preza como acadêmico requer uma base de sustentação, a partir do conhecimento ontológico e epistemológico que lhe deu origem. Em administração pública e nos cursos que formam o administrador público não pode ser diferente (RAMOS, 1981). A ontologia se constitui de teorias sobre a existência que, geralmente, se originam da filosofia, religião ou da física. Ela trata da natureza da existência e se ancora largamente em crenças e valores. A natureza da existência pode ser imanente ou transcendente. Na imanente, os fins últimos da existência se completam em si mesmos. Nesse caso, a existência pode se realizar no processo histórico. Já a transcendência está associada ao significado da existência ou, como afirma Voegelin (1978), a existência do ser humano ilumina e é iluminado pelo cosmos. A transcendência se expressa pelo busca permanente do significado da própria existência e supera a ideia do antropocentrismo (AZEVÊDO; ALBERNAZ, 2006). Essas duas correntes da base ontológica ensejam combinações que permitem afirmar, de acordo com Raadschelders (2011), que a ontologia gera teorias sobre o que pode ser conhecido (epistemologia), como o conhecimento pode ser produzido (metodologia) e quais práticas de pesquisa podem ser empregadas (método). Afirma, esse autor, que a crença na realidade estática e imanente permite saber algo sobre essa realidade naquele momento e requer métodos que permitem a mensuração. Essa é, de acordo com o autor, a principal base de sustentação em administração pública. Outra combinação afirma que a realidade é estática e transcendente, o que enseja o conhecimento mediante a fé e contemplação. Outra combinação leva em conta que a existência é dinâmica e imanente, abordagem essa que dá guarida ao entendimento ou conhecimento contextualizado, a teoria crítica e as abordagens 4 históricas. Também é possível conceber a existência como dinâmica e transcendente, mas, nesse caso, é impossível indicar uma metodologia, pois ela funde o humano com a metafísica. Dessa breve análise pode-se depreender que a administração pública convencional tem seu foco principal na realidade objetiva, estática e imanente. Que o foco de muitos trabalhos e estudos em administração pública, em que não se discute a base ontológica, podem estar ao abrigo de qualquer base, sem que o autor do trabalho tenha dela consciência. Para os propósitos da proposição para o curso de administração pública, objetivo deste artigo, toma-se por base ontológica, a realidade estática e imanente, sempre que o curso propõe estudos sobre métodos e técnicas, principalmente, aquelas que têm como avaliação fatos e realidades mensuráveis. Outra base que dá sustentação ao curso é a combinação que leva em conta a existência dinâmica e imanente, empregada sempre que o curso promove o conhecimento contextualizado, a abordagem histórica e a teoria crítica. Sempre que o curso trata do ser humano, como um ente multidimensional, a abordagem ontológica pode combinar a existência como realidade estática e transcendente, principalmente em situações relacionadas com o significado da atividade pública ou o ato de servir que é intrínseco à função da administração pública. Essas combinações da realidade proporcionadas pela ontologia também servem de base e perpassam a discussão que será levada a efeito sobre o presente e o porvir, mediante o uso do contextualismo dialético e da possibilidade objetiva. A epistemologia que sustenta a proposição para o curso de administração pública segue essa linha da base ontológica. A realidade estática e imanente pode permitir uso de métodos e técnicas com base positivista. Já as demais combinações da realidade propostas na base ontológica se alinham com o construtivismo e o interpretativismo, além de uma base paradigmática deontológica (o dever profissional) e teleológico (a razão de ser ou os fins últimos de ser), podendo, dentro desse quadro de referência epistemológica, se ajustar a diversas perspectivas teóricas (SPICER, 2008; STOUT, 2012). O ser humano, dentro desse quadro de referência, é um animal político que integra a comunidade dos demais seres humanos. Ele é um participe da esfera pública da comunidade e, por isso mesmo, um cidadão. Além da dimensão política, o ser humano é um membro da comunidade e, por esse motivo, é um ente social. Também se constitui de uma dimensão física que o identifica como ser econômico. A razão, predicado principal do ser humano, se soma a multidimensionalidade humana. A razão é a força na psique humana, que permite ao ser humano exercitar o cálculo (razão instrumental) e, ao mesmo tempo, encontrar ou não legitimidade nos atos que lucidamente pratica (razão substantiva). Essa condição da razão dá ao ser humano a possibilidade de agir de forma ética, tanto frente às responsabilidades comunitárias (ética da responsabilidade), quanto frente às suas convicções (ética da convicção) (RAMOS, 1981). Nestes termos, a democracia é o habitat natural do ser humano multidimensional, mesmo porque ele é um ser que integra a comunidade. Assim, a esfera pública é um privilégio do ser humano na condição de animal político. A esfera privada é o espaço da necessidade e abriga as atividades econômicas e de subsistência (ARENDT, 1981). Enquanto ente político ele se identifica como um ser parentético, enquanto ente social ele é um ser reativo e na condição de ente econômico, ele é um ser operacional (RAMOS, 1984; AZEVÊDO; ALBERNAZ, 2006). Uma proposição para o curso de administração pública se volta para a formação do ser humano multidimensional, parentético por excelência que se rege pela razão, tanto na concepção instrumental quanto substantiva. Nestes termos, a formação do administrador público se constitui em um desafio, tanto para professores quanto para aqueles que, na qualidade de artífices, projetam o curso. A liberdade de escolha que integra o conceito de razão torna necessária a participação do ser humano na comunidade, desenvolvendo-se, desta forma, a democracia e o equilíbrio na sua psique. Voegelin (1978) desenvolveu o índice linguístico “in between” para explicar a tensão existencial com que o ser humano se defronta ao exercitar essa liberdade em ser ele 5mesmo e ao mesmo tempo integrar a comunidade dos semelhantes. Esta condição deve impregnar a formação do administrador público, uma vez que dele se exige uma visão de estadista. Para Arendt (2008), o estadista se caracteriza pelo equilíbrio dessa tensão e pela capacidade de compreender a coletividade dos seres humanos quando em comunidade. Portanto, esta é uma condição e característica que se deseja de um egresso do curso de administração pública. O ser humano quando age na esfera pública como ente político tem no interesse público a referência para o exercício da cidadania. Desta maneira, a articulação e a realização do interesse público é uma das justificativas para a existência do governo. Esta assertiva foi discutida por Denhardt e Denhardt (2007) ao elaborarem o modelo no novo serviço público. De acordo com esses autores, cabe ao governo, em conjunto com a comunidade, o papel de garantir que o interesse público predomine sobre o interesse privado. Eles também afirmam que o interesse público é uma prerrogativa da comunidade, assim como o interesse privado é do mercado. Esses autores também definem o interesse público a partir de diversos modelos e concepções teóricas. Para o modelo normativo, o interesse público é o padrão que serve de guia para que o administrador público execute os ditames da lei. Já para o modelo que os autores identificam como abolicionista, o interesse público não pode ser mensurado nem observado, ele sempre será suplantado pelas escolhas individuais que servem de guia para os formuladores de políticas públicas. Para as teorias do processo político, o conceito de interesse público é de somenos importância, uma vez que é mais relevante se entender como se chega a identificar qual o interesse da maioria dos cidadãos. Para os que se perfilam com o modelo de valores compartilhados, o interesse público é baseado na busca ativa e consciente de valores coletivos. Os autores também analisam o interesse público a partir de modelos de administração pública. Para o que eles denominam de velha administração pública (as organizações burocráticas públicas), o interesse público é definido pelos políticos eleitos pela sociedade. Para o modelo da nova gestão pública (escolhas baseadas no interesse próprio dos consumidores dos serviços públicos), o interesse público é o subproduto das escolhas individuais realizadas pelos indivíduos na qualidade de consumidores dos serviços públicos. O modelo do novo serviço público, proposto por Denhardt e Denhardt (2007), baseia-se nos primados da democracia e do interesse público, por isso mesmo, advoga que o papel do administrador público é o de articulador e facilitador do processo de engajamento do cidadão na definição do interesse público. Seguem também esta linha de pensamento os King, Chilton e Roberts (2010). Para esses autores, o interesse público representa os objetivos ou metas definidas por consenso e/ou as coisas desejadas pela comunidade, tais como a preservação da ordem, a manutenção dos processos de governança e a defesa contra agressores externos. A proposição para o curso de administração pública, objetivo central deste artigo, segue a linha de pensamento de Denhardt e Denhardt (2007), sobre o que é interesse público e o papel do administrador público. Levando-se em conta que os modelos de administração pública são modelos heurísticos que exigem adequação à realidade, a proposição para o curso considera que eles são complementares entre si, de acordo com a proposta de Salm e Menegasso (2006). Esses autores consideram a primazia do modelo do novo serviço público e do conceito de interesse público que o integra, no entanto, afirmam que os demais modelos também se fazem presente na realidade em que age o administrador público. 2.2 A realidade e a visão de futuro 6 Nesta parte se discute a realidade presente e a do porvir. As questões centrais que merecem elaboração são a definição da realidade da administração pública; as mudanças que afetam essa realidade pela perda do estado estável; como elas podem ser vistas a partir do determinismo e do contextualismo dialético e a visão do futuro com base nos limites do presente e na possibilidade objetiva do porvir. A definição de administração pública como prática da produção ou coprodução do bem público também se circunscreve ao espaço em que ela se realiza. Essa afirmação encontra amparo nos fundamentos ontológicos e epistemológicos da imanência já discutidos neste documento. A administração pública é um fenômeno global, todavia ela está intimamente relacionada com a realidade e a cultura do contexto em que ela se realiza. Ela também é afetada pelo maior ou menor intervencionismo do Estado (RAADSCHELDERS, 2011). Essa afirmação encontra eco na realidade de passado próximo, quando governos optaram por diminuir o tamanho do Estado, dando origem ao movimento da nova gestão pública, que privilegiava o mercado na produção do bem público, em detrimento da organização burocrática pública. Se por um lado a administração é produto do meio, por outro ela tem uma orientação normativa, sem o que ela não poderia ter na sua base ontológica uma característica transcendente. Essa característica também decorre da concepção que se tem do ser humano como um ente multidimensional, que se define como político, social e econômico. Também porque a sociedade ou a comunidade, nos dizeres de Aristóteles, é o ser humano em escala ampliada (BARKER, 1980). Logo, a administração pública como agente do governo e da comunidade na produção ou coprodução do bem público se espraia para os espaços da política, da sociedade ou comunidade e da economia. Uma proposição para o curso de administração pública, ao levar em conta esse fato, tem no seu arcabouço, estudos direcionados ao entendimento desses espaços. Se por um lado, o estudo da administração pública leva ao aprofundamento teórico e a compreensão dos fenômenos políticos, sociais, comunitários, por outro lado, também precisa ter o foco de seus estudos voltados à compreensão do contexto local a que se aplicam essas teorias. Assim, o que se requer na formação do administrador público é o desenvolvimento da capacidade de pensar nos termos em que Arendt (2005) põe essa questão ou da forma como Schon (2000) e Pressley (2011) definem o profissional reflexivo. A realidade que envolve a atividade do administrador público também é afetada pelas mudanças que vêm ocorrendo nas últimas décadas. Essas mudanças se explicam pelos estudos e pesquisas de Hirschman (1978), que analisa a transformação dos valores que deram origem a modernidade e ao arranjo social do presente. De acordo com esse autor, os valores associados ao interesse próprio alicerçaram muitas instituições que hoje regem a sociedade, entre elas, o mercado e a organização dos negócios. Ainda segundo o autor, legitimou-se a prevalência do interesse próprio na sociedade, contrariando o conceito de cidadania definido pelos pensadores clássicos gregos. De fato, no decurso do século XVIII, o pensamento clássico foi superado por novas propostas que continham, no seu bojo, uma nova ordem, que tornava o interesse próprio em novo referencial para a sociedade. Não há como estranhar, portanto, as dificuldades para a prevalência do interesse público na sociedade nem a ambiguidade dos cursos de administração, quando se propõem formar, também, administradores públicos. As consequências da transformação dos valores a que se refere o autor estão evidentes no presente. Se de um lado o desenvolvimento trouxe avanços extraordinários, por outro promoveu externalidades, que hoje limitam o império do interesse próprio na sociedade, como é o caso das questões ambientais. Essas externalidades já alcançam a liberdade do ser humano na esfera pública, promovem a massificação na sociedade ao superar valores comunitários, desequilibram a biosfera, sistema e habitat natural do ser humano e, por incrível que pareça, 7 podeestar no bojo de muitas crises financeiras que hoje atingem diversos países. Esse conjunto de crises indica que o referencial que rege e legitima os negócios na sociedade já não se presta mais como guia para a vida humana associada. O esgotamento desse referencial vem produzindo, nos últimos cinquenta anos, muitas rupturas, as quais Schon (1973) associou a perda do estado estável. Esse fato a que se refere o autor é a perda do referencial que legitima as ações das pessoas na sociedade. Vive-se, por conseguinte, um tempo de mudança de referenciais e de crise de legitimidade das instituições. Nessa perda de legitimidade das instituições inclui-se a administração pública da forma como foi tradicionalmente concebida. Uma proposição para o curso de administração pública deve ter presente esse fato e fazer uso do contextualismo dialético, como Ramos (2009) o concebeu, para manter atualizado, de forma permanente, o conteúdo necessário ao aprendizado dos alunos. Se por um lado, os valores associados ao interesse próprio estão pondo limites à ação humana, por outro, desenha-se um cenário de possibilidades objetivas, em que outros valores podem gerar novas alternativas para a vida humana associada. Pode-se afirmar, portanto, que no bojo da perda do Estado estável, também se criaram novos arranjos sociais e outras tantas estratégias para se obter a melhoria da sociedade e da qualidade de vida de seus cidadãos. Não há como negar que a democracia vem se consolidando em diversos países; que as pessoas na sociedade têm mais oportunidades de participação; que a transparência, a accountability e o controle social sobre o governo e o seu aparato burocrático se sedimenta, tanto na legislação quanto na prática social. Também, as mais diferentes formas associativas, com os mais diversos propósitos, estão se desenvolvendo e a colaboração, cooperação e solidariedade foram eleitas condições essenciais para o desenvolvimento autóctone das comunidades (PUTMAN, 2000). Esse conjunto de fatos pode ser verificado na realidade brasileira de modo crescente. Cabe lembrar que a função de servir (colaboração, cooperação e solidariedade) está entre as premissas do modelo de administração pública, denominado o novo serviço público. Por isso mesmo, o curso que prepara o administrador público deve ter presente essa nova realidade, incluindo-se, também, o cenário de possibilidades objetivas que dela decorre, especialmente aquelas associadas aos valores relacionados com a cooperação, colaboração e solidareidade. É particularmente importante para a administração pública, que esses fenômenos em construção na vida humana associada, já permitem identificar uma nova estratégia para a produção do bem público, denominada de coprodução do bem público (BRANDSEN; PESTOFF, 2008; DUNSTON; LEE; BOUD; BRODIE; CHIARELLA, 2009; ORR; BENNETT, 2009; SMITH, 2010). A coprodução é uma estratégia para a produção do bem público que distribui o poder e as responsabilidades entre os agentes públicos, privados e cidadãos. Ela se caracteriza pela articulação e participação do governo e dos cidadãos na produção do bem público. Este fato já pode ser constatado na administração pública local, e na maioria dos municípios e estados brasileiros (KLEIN; SALM; HEIDEMANN; MENEGASSO, 2012). Também é particularmente importante para a administração pública, que a formulação e implementação das políticas públicas não seja mais um privilégio apenas dos governos. A sociedade, por meio de suas mais diversas organizações e instituições, formula e implementa políticas públicas. Este fato enseja um novo fenômeno para governos e para a administração pública. A literatura em ciência política e em administração pública denomina esse fenômeno de governança pública (KOLIBRA; MEEK; ZIA, 2011). A governança pública é assim, um elo entre o governo e a sociedade, para a definição das políticas públicas e para a provisão do bem público com a participação da comunidade. Essa é uma concepção de administração pública que está criando corpo na maior parte das sociedades democráticas do ocidente (BEVIR, 2009). A governança pública e a coprodução, como formuladas neste artigo, 8 encontram eco nas referências teóricas discutidas ao longo deste documento. Por este motivo, ambas devem orientar a concepção de uma proposição para o curso de administração pública. A consequência das mudanças que a sociedade enfrenta, traz reflexos para toda a vida humana associada. A administração pública como instituição também precisa ser repensada, bem como os cursos que preparam os administradores públicos. O que se necessita é algo novo que responda às novas demandas que, diuturnamente, se põem à sociedade. Este é um dos maiores desafios que enfrentam os cursos de administração pública responsáveis pela formação do administrador público. Neste sentido é preciso reformular as diretrizes curriculares do curso, proporcionando-se maior liberdade para que se possa realmente inovar na preparação do administrador público. Também há a necessidade de se dar primazia ao estudo das questões relacionadas com a governança pública e a coprodução do bem público, pela importância que elas apresentam para a formulação de políticas públicas e para a produção do bem público. O próximo tópico trata desta questão, especialmente da composição dos conhecimentos necessários ao administrador público e do perfilhamento de algumas propostas sobre a implementação de uma proposição para o curso de administração pública. 3 Proposição para o curso de administração pública Este tópico contém uma breve descrição dos conhecimentos necessários ao administrador público, o ordenamento didático pedagógico para a sua formação e algumas sugestões para a implementação de um curso que se alinha com essa proposição. Na descrição dos conhecimentos serão revisitadas as referências teóricas analisadas neste documento. No ordenamento didático pedagógico será utilizada a metodologia do tipo narrativa imaginativa denominada “thought experiments” (PRESSLEY, 2011), além de propostas de cursos que seguem o mesmo referencial contido nessa proposição. 3.1 Composição dos conhecimentos necessários ao administrador público A essência das referências teóricas desenvolvida neste documento é a base dos conhecimentos necessários à proposição de curso, para a formação do administrador público. Assim, uma proposição de curso deve dar particular importância aos fundamentos ontológicos e epistemológicos que sustentam esse empreendimento. Entre esses fundamentos está o entendimento da existência como realidade estática e imanente, necessária quando se requer o aprendizado de métodos e técnicas. Para os estudos relacionados com a teoria crítica, se concebe a existência como realidade dinâmica e imanente, como a história e o conhecimento contextualizado. O entendimento da existência como realidade estática e transcendente serve de base aos conhecimentos necessários sobre o significado da atividade pública e do trabalho, especialmente quando envolvem a cooperação, a colaboração, a solidariedade e a motivação humana. Esses fundamentos também se aplicam aos estudos sobre o porvir, sempre que eles representam possibilidades objetivas. O estudo de técnicas e métodos relacionados com mensuração quantitativa podem empregar os fundamentos epistemológicos do positivismo, uma vez que se referem a realidade como estática e imanente. As demais concepções ontológicas ensejam o emprego dos fundamentos do construtivismo e do interpretativismo, além das bases paradigmáticas (KUHN, 2005) deontológicas para os estudos relacionados com o dever profissional e a ética 9 da responsabilidade. Os fundamentos paradigmáticos teleológicos se coadunam com os estudos sobre o significado da existência do ser humano e a sua participação no âmbito da esfera pública. Os estudos sobre o ser humano e a sua relação com o espaço político, social, comunitário e econômico exigemque o curso promova o conhecimento sobre a concepção do ser humano como um ente multidimensional. Esses estudos devem explorar cada um desses espaços e identificar as principais teorias e aplicações dos conceitos pertinentes a essa multidimensionalidade. Entre esses conceitos e respectivas teorias estão aqueles que dizem respeito ao papel do cidadão na comunidade; a razão, tanto nos seus aspectos instrumentais do cálculo e do planejamento, bem como, os substantivos relacionados com as responsabilidades e as convicções; a ética, tanto a da responsabilidade quanto a da convicção; a democracia, nela incluída os conceitos de transparência, accountability, controle social sobre o governo e a articulação da comunidade; a concepção e as ações que são pertinentes ao ser humano parentético, como líder e estadista, ao reativo, como um ente comportamental e ao operacional, como operador da tecnologia e dos sistemas tecnológicos; a liberdade e os seus limites no âmbito das organizações burocráticas; o interesse público e o compartilhamento de valores em torno do bem comum; e os estudos das mais diversas formas de associativismo e de redes devem ser estudados, bem como, os modelos de administração pública frente à realidade e ao contexto sociocultural. A realidade e a visão do futuro também proporcionam indicativos sobre os conhecimentos necessários ao estudioso de administração pública. O conhecimento do contexto local em que se realiza a administração pública é primordial para a formação do administrador público. O conhecimento da realidade exige muitos dos referenciais que foram descritos neste tópico, pois sem eles não há como, criticamente, compreender essa realidade. Também as questões relacionadas com as mudanças que afetam a realidade e a perda do estado estável devem ser de domínio do administrador público. Nessas questões se insere a mudança de valores e a legitimidade dos referencias que orientam a ação ou o comportamento humano. Da mesma forma, a possibilidade objetiva do porvir que for incorporada ao curso, também merece ser elaborada pelo curso. Nesse contexto, vale relembrar a importância dos estudos sobre a cooperação, solidariedade, colaboração e articulação comunitária e a relevância do exercício da reflexividade sobre essas importantes dimensões da vida humana associada. Os conceitos e teorias sobre o intervencionismo do estado e o estado mínimo ou o estado necessário também compõem os conhecimentos que o curso deve prestigiar. O estudo do desequilíbrio da biosfera perpassa todo o curso, bem assim, a tecnologia como meio de prover o bem público. Merecem especial atenção na formação do administrador público, as novas estratégias que são utilizadas para a produção do bem público, assim como, para a elaboração das políticas públicas. As evidências da realidade indicam que o bem púbico é coproduzido em rede na sociedade. Em alguns casos, as organizações não governamentais produzem o bem público, mesmo independente do Estado. O curso que forma administradores públicos deve focar seus objetivos para este fato que redefine a administração pública. Da mesma forma, as políticas públicas estão sendo formuladas e implementadas, tanto pelos governos quanto pelas mais diversas instâncias da sociedade. Esse fenômeno se consagra na literatura da ciência política e da administração pública. No caso da administração pública comparada há uma pujante literatura sobre esse assunto, uma vez que esse fenômeno muda o entendimento corrente sobre o que é governo e Estado. Portanto, o curso de administração pública deve focar, em sentido macro, na governança pública e, no sentido operacional da produção dos serviços públicos, na coprodução do bem público. Essa combinação da governança pública com a coprodução do bem público é, de acordo com os referenciais aqui alinhavados e os fenômenos que ocorrem 10 no contexto da sociedade, o foco central desta proposição para o curso de administração pública. 3.2 Ordenamento didático pedagógico de uma proposição para o curso de administração pública Este tópico do trabalho está dividido em três partes. Na primeira parte serão realizados breves comentários sobre as justificativas, os objetivos, o perfil profissional, e o âmbito de atuação do egresso do curso. Na segunda parte, os comentários focam a proposta pedagógica, crítica às diretrizes curriculares desses cursos, duração e dedicação ao curso, a estrutura curricular definida por meio das áreas de conhecimento, a prática pedagógica, a avaliação do processo de aprendizagem, o preparo do corpo docente e o apoio de laboratórios e biblioteca. 3.2.1 As justificativas, o objetivo e o participante do curso. As justificativas para a implementação do curso de administração pública se encontram nos fundamentos para a proposição do curso, contidas nesse documento. É necessário incluir nas justificativas, também, a demanda local e os benefícios da inserção social do curso na comunidade. As justificativas também devem comprovar que a implementação do curso decorre do engajamento da sociedade local e que o curso é construído a partir do modelo de coprodução do bem público. Sob esse aspecto, o envolvimento das lideranças locais e dos participantes de organizações não governamentais se torna necessária, uma vez que elas legitimam a participação da sociedade no projeto do curso. Nas justificativas contidas nos projetos de cursos, é usual anexar um estudo do vocacionamento. Importante lembrar que o curso de administração pública promove o preparo de cidadãos e líderes para a produção do bem público, necessários em qualquer espaço da sociedade. Embora a definição do vocacionamento seja uma exigência desses projetos, no caso de administração pública é repetir o óbvio. Outra justificativa que comumente consta dos projetos de curso é a viabilidade que a região ou local oferece para o seu funcionamento. Neste caso é necessário ter em conta que a região ou local que menos oferece condições talvez seja o que mais necessita desse tipo de curso. A questão dos focos em governança pública e coprodução do bem público, como estratégias que exigem uma abordagem multidisciplinar e transdisciplinar de administração, merece atenção especial nas justificativas. Por este motivo, as justificativas devem indicar que o curso tem os seus valores associados ao bem público, ao interesse público, à cidadania e à democracia. O objetivo do curso deve ser o de formar um administrador público capaz de exercer a governança pública e realizar a coprodução do bem público, nos espaços de instituições voltadas para o interesse público e o desenvolvimento regional com sustentabilidade, sejam elas organizações públicas ou comunitárias. Nesse objetivo se insere a capacidade de uso com eficiência dos meios e a transparência dos processos utilizados na produção desses serviços. Também se inclui o preparo para promover e alavancar a participação comunitária, as práticas democráticas, a articulação social de redes, a liderança e coordenação dessas redes e a intermediação entre governo e sociedade. Faz-se presente no objetivo, a capacitação do profissional reflexivo, crítico, parentético na sua essência, mas consciente de que ele serve ao cidadão e à comunidade. 11 O perfil profissional do egresso do curso é o de um tomador de decisões, articulador de interesses, educador e facilitador da transformação social, líder de redes, gestor de organizações, inovador e empreendedor da comunidade. Dentro desse perfil, o egresso do curso atua em todas as áreas em que se realiza a governança pública e a coprodução do bem público. 3.2.2 A proposta pedagógica, estrutura curricular, a prática pedagógica e o preparo do corpo docente e da infraestrutura necessária ao curso A proposta pedagógica do curso deve seguir as diretrizes curriculares nacionais para os cursos de administração. Lamentavelmente ainda existe uma visão míope que não vê diferença entreadministração de empresas e administração pública. Aquela se rege pelos valores da esfera privada, enquanto esta segue os valores da esfera pública. Preparar administradores para as empresas e para a administração pública, com um mesmo currículo, é pouco discernir a coisa privada da pública. Mas esse assunto está em discussão nas esferas competentes. Enquanto isso, se espera que a lucidez daqueles que projetam os cursos de administração pública promova o diferencial que distingue os dois cursos. A duração do curso é de quatro anos, no total de 3.600 horas. No entanto, a amplitude e profundidade de conhecimentos que se espera do egresso de um curso de administração pública, nos moldes em que ele está projetado nessa proposição, exige dedicação aos estudos. Sem isto não se pode afirmar que o egresso de um curso de administração pública tenha o perfil do egresso que se delineou neste documento. A proposição do curso sugere uma estrutura curricular que contenha, além das disciplinas obrigatórias e de natureza operacional dos cursos de administração, as seguintes: Ciência Política e Democracia; Psicologia social; Filosofia e ética; Orçamento Público para a governança pública; Administração Pública, governança e coprodução do bem público; Teorias de Administração Pública e de Governança; Relações de trabalho em organizações públicas; Governança pública municipal e regional; Planejamento e alocação de recursos em governança pública; Implementação de serviços públicos; Práticas de benchmarking na governança e coprodução pública municipal e regional; Tecnologias para a Governança e a Coprodução Pública; Políticas Públicas e Governança Pública; Processos de negociação em governança pública; Educação e sensibilização ambiental; Práticas de controle social e de accountability na governança pública; Gestão social em espaços regionais e locais; Desenvolvimento institucional e de comunidades; e Liderança e formação de redes na governança pública e na coprodução do bem público. A formação em administração pública que foge ao desenho dos cursos tradicionais, como é o caso dessa proposição, encontra dificuldades para compor o seu quadro de docentes. Esse fato ocorre porque as disciplinas têm um caráter multidisciplinar e transdisciplinar, que exige um conjunto de professores com formação diversificada e, muitas vezes, de diferentes campos de conhecimento. Ainda nesse caso, existe dificuldade em compor o quadro de professores, uma vez que todos eles devem ter o mesmo entendimento das referências que sustentam o curso. Portanto, o preparo dos professores de cursos que se alinham com essa proposição passa a ser uma questão central. Caso se negligencie esse preparo, o curso pode mudar sua base de sustentação e o seu foco, perdendo o seu diferencial e, por via de consequência, o seu objetivo. A infraestrutura do curso segue a linha convencional, com exceção da biblioteca. Além dos livros usuais para esses cursos, a biblioteca deve conter obras clássicas de ciência política, cidadania, filosofia e antropologia social. As bases de dados devem conter periódicos da área 12 de administração pública, ciência política, filosofia e sociologia em língua portuguesa, principalmente, mas também em língua inglesa, espanhola e francesa. A obrigatoriedade da leitura dos artigos contidos nesses periódicos deve ser constante no curso. Desnecessário lembrar a importância e a necessidade dos textos que contém os métodos e técnicas utilizadas para a realização das atividades e rotinas relativas à governança pública e à coprodução do bem público. As considerações finais que seguem contêm alguns comentários e recomendações, de ordem geral, que se inserem no escopo do objetivo desse artigo. 4 Considerações Finais A elaboração do conjunto de referenciais que compõem essa proposição para o curso de administração se estrutura em fundamentos ontológicos e epistemológicos específicos, bem como, na realidade presente e do porvir descrita neste documento. A concepção que se tem do ser humano e da administração pública também perpassa toda a proposição. Os fundamentos e a realidade do presente e do porvir servem de apoio à composição dos conhecimentos necessários ao administrador público. Resta, agora, apresentar um conjunto de recomendações que enfeixam a proposição para o curso de administração pública em tempos de governança pública e de coprodução do bem público. A elaboração do projeto de curso de administração pública parte do princípio que o conjunto de mudanças de toda ordem que acometem a sociedade tem sua razão de ser no esgotamento dos valores e crenças, que tem servido de referencial para a ação e o comportamento humano e que esses valores e crenças legitimaram e privilegiaram o interesse próprio em detrimento do interesse público. Essas crenças e valores geraram muitos benefícios para a sociedade, mas agora se esgotam como referencial, uma vez que também deram origem a muitas externalidades, dentre as quais, o desequilíbrio da ordem no ser humano e da biosfera. Essas externalidades indicam como possibilidade objetiva e pelos limites que eles impõem à sociedade, a definição de um novo referencial que pode vir a incorporar a cooperação, colaboração e a solidariedade. Essa possibilidade é coerente com indícios da realidade, com a multidimensionalidade humana e com os primados que regem a esfera pública, bem como, com o princípio que estabelece a primazia do interesse público sobre o interesse próprio. A possibilidade objetiva dessa nova ordem leva a uma concepção mais abrangente e complexa de administração pública e, consequentemente, da formação do administrador público. A base ontológica e epistemológica que se ajusta a essa nova ordem serve de pedra angular à projeção mais ambiciosa de novos arranjos na sociedade e na comunidade. Esses arranjos, alguns observáveis na realidade e elaborados na literatura da ciência política, filosofia, antropologia, sociologia e administração pública, indicam uma nova governança pública e estratégias de produção do bem público, que incorporam a coprodução dos serviços públicos. Um projeto de curso não pode passar ao largo dessa nova concepção de administração pública, nem deixar de adequar os conteúdos ministrados em sala de aula a essa nova realidade. Neste sentido, os currículos passam a ser mais transitórios para atender a mudanças contínuas. As disciplinas relacionadas com as humanidades são fundamentais e relevantes, constituindo a base principal de sustentação do curso. A multidisciplinaridade e a transdisciplinaridade são a característica do projeto pedagógico. Também o conhecimento da organização burocrática como estratégia de produção do bem público é relevante ao curso, assim como, o de outras estratégias comunitárias que 13 também produzem os serviços públicos. Esse conhecimento é essencial, pois indica a importância que a organização burocrática ainda tem para a administração pública. Aliás, a organização burocrática é necessária como estratégia para a produção do bem público, enquanto perdurar o conceito de produção em massa. Ela, em conjunto com as demais estratégias de produção do bem público, compõe a rede que coproduz os serviços públicos. Por isso mesmo, o conhecimento sobre o funcionamento da organização burocrática é essencial ao administrador público. Os estudos das teorias administrativas convencionais não são suficientes para o preparo dos administradores públicos. É necessário incluir, nesses estudos, as teorias sobre a governança pública e sobre a coprodução do bem público, que se originam na filosofia, ciência política, sociologia e antropologia, além de outros campos do saber. A multidimensionalidade humana permite integrar os conhecimentos sobre o ser humano e o seu habitat, quando se exerce a reflexividade. Formas de liberar a mente humana para a reflexão, tanto dos alunos quanto dos professores do curso, é um imperativo que deve ser agregadoao projeto pedagógico. A participação é uma característica do ser humano, uma vez que a sua dimensão social e comunitária implica na existência do outro. Para realizar essa característica humana, a sala de aula do curso necessita ser ordenada por meio da articulação dessa pequena comunidade de aprendizagem. Essa é uma tarefa nova para muitos professores. A realidade, em permanente mudança, exige que o conteúdo dos programas tenha a primazia sobre a formalidade que os reveste. É próprio das organizações burocráticas, nelas incluídos os cursos formais de administração pública, dar mais importância à forma do que aos resultados, neste caso, ao aprendizado do conteúdo dos programas das disciplinas. Por isso, a sala de aula deve ser mais flexível do que a organização burocrática que a sustenta. A mudança continuada que se observa em todas as atividades humanas exige a prática do contextualismo dialético, também na prática docente de sala de aula. Faz-se necessário uma interação permanente entre realidade e as suas concepções teóricas. Portanto, a sala de aula de um curso de administração pública que se molda às orientações dessa proposição interage permanentemente com a realidade. Nessa condição, deve-se estimular toda sorte de vivência junto à realidade. Considerando que a governança pública e a coprodução do bem público também fazem parte da realidade social em construção, o projeto de curso de administração pública deve incluir atividades de pesquisa-ação, com o propósito de identificar novas práticas que se relacionem com essas estratégias de produção do bem público. A literatura que trata da governança pública e da coprodução é, em larga escala, originária de países de língua inglesa, espanhola e francesa. Portanto, a produção intelectual autóctone, nesses campos do saber, deve ser estimulada nos cursos de administração pública. Resta alertar que a literatura desenvolvida em outros países sobre a governança pública e a coprodução deve ser submetida à metodologia da redução sociológica proposta por Ramos (1996). Os valores relacionados com o interesse público, a cooperação, a colaboração e a solidariedade são o âmago da administração pública e dos cursos que preparam o administrador público. Integrar esses valores às práticas dos cursos permite preparar administradores públicos aptos a servir à sociedade. O projeto de curso de administração pública que se estrutura sobre a proposição contida nesse documento pode oferecer ao aluno, durante o último ano de estudos, toda a sorte de leituras, notícias e experiências que o coloquem em contato com a dinâmica da vida do administrador público. Também pode oferecer ao egresso do curso, programas de permanente atualização profissional. Esses programas são uma das estratégias de inserção social do curso, principalmente quando ele integra uma universidade pública. 14 Um comentário final se faz necessário ao encerrar este artigo. A proposição que se faz neste documento é um referencial que pode ser útil para a concepção e a elaboração de um projeto de curso de administração pública em tempos de governança pública e de coprodução do bem público. Mas antes, ela se destina à reflexão e apreciação crítica de todos aqueles que se dedicam a uma das mais dignas atividades, quer seja, formar administradores públicos que servem a sociedade. 5 Referências Bibliográficas ARENDT, H. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária; Rio de Janeiro: Salamandra; São Paulo: Editora da USP, 1981. ARENDT, H. A promessa da política. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil Ltda, 2008. AZEVÊDO, A., ALBERNAZ, R. Alberto Guerreiro Ramos´s. Anthropological approach to the social sciences: the parenthetical man. 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