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CONCEPÇÕES DE LÍNGUA E LINGUAGEM O QUE OS PROFESSORES ALFABETIZADORES PRECISAM SABER Emilia Kochinski Manuela Pires Weissbock Eckstein

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CONCEPÇÕES DE LÍNGUA E LINGUAGEM: O QUE OS PROFESSORES ALFABETIZADORES PRECISAM SABER
Emilia Kochinski
Manuela Pires Weissbock Eckstein
	
O objetivo desse texto é tratar sobre as concepções de língua e de linguagem[footnoteRef:1] de base tradicional, estruturalista e interacionista, apresentando de forma sucinta seus objetos de estudo e discussão. [1: 	 Entendemos que concepção de língua se refere ao entendimento do que significa o código escrito. Saussure (2006, p. 133) afirma essa questão: “[...] a língua é um sistema em que os termos são solidários e o valor de um resulta tão somente da presença simultânea de outros”. No artigo de Rômulo da Silva Vargas Rodrigues, da Universidade Católica de Goiás (2008), é possível compreender que Saussure, ao definir a língua como um sistema de valores, essa é possível ser mensurada como uma convenção social, em que nenhum sujeito tem o poder de modificá-la. Já a concepção de linguagem, defende-se ao nosso olhar, pelos estudos de Geraldi (2008) que afirma que há uma relação intrínseca da concepção de língua, defendida por Suassure e a defesa por uma concepção de linguagem que se evidencia como expressão do pensamento, instrumento de comunicação e a linguagem como interação social. Nesse sentido, entende-se a linguagem como um instrumento de uso social e que se envolve, de forma intrínseca, com a língua, ou seja, com o código escrito.] 
 É sabido que a linguagem a partir de suas diversas manifestações, está presente na vida de todos os sujeitos e é a forma que promove a interação com o mundo e torna o ser humano sociável. Como já mencionado anteriormente, a concepção de linguagem pelo olhar do estudioso Geraldi (2008), é compreendida como expressão do pensamento, como instrumento de comunicação e como forma de interação. 
A linguagem como forma de expressão do pensamento, incide sobre a ideia de que ela é considerada como uma tradução do pensamento e partir de uma gramática normativa estática, o conceito do “certo e errado” é indispensável para a distinção do ser falante. No ensino da língua materna, esse viés aprecia as formas gramaticais preestabelecidas, ou seja, um ensino prescritivo sem espaços para as variações linguísticas e a valorização das regras a serem seguidas. Ao nosso entendimento, as concepções de base tradicional e estruturalista se encontram nessas discussões.
Já a linguagem como instrumento de comunicação, é explicada por Travaglia (1996, p. 22) como um “sistema de códigos imutáveis”, capaz de fazer com que emissor e receptor se comuniquem. Assim, a língua acaba funcionando como um conjunto de regras, que transmite mensagens por meio de códigos que devem ser entendido pelo seu receptor, para que haja de fato a comunicação. Aqui também identificamos as concepções de base tradicional e estruturalista, como pertencentes a estas discussões.
A linguagem como forma de interação, propõe um ensino dinâmico, capaz de proporcionar melhores caminhos para a interação. O educando passa a aprender de forma ativa, percebendo a língua e seu uso de forma mais clara e presente em seu cotidiano. Isso incide em o aluno descobrir, por exemplo, as diferentes formas de utilizar a língua, não apenas aprendendo através de repetições e métodos tradicionalistas. Compreender portanto, a língua como prática social, comunicativa de interação e diálogo, é proporcionar uma reflexão sobre ela, em que o indivíduo adquire uma independência intelectual e passa a ter várias visões daquilo que lhe é apresentado, atribuindo valores e significados de acordo com sua própria visão de mundo.
A partir desse contexto, percebemos que um estudo mais particular sobre essas questões é importante para o professor que alfabetiza e trabalha com a língua portuguesa. Nesse sentido, apontaremos a seguir, cada concepção de língua e de linguagem e seus nortes teóricos.
A concepção de língua e de linguagem de base tradicional é caracterizada por apresentar uma perspectiva didática rígida, centrada no educador e no conteúdo de forma estática. Predomina-se a reprodução dos conteúdos relacionados ao ensino da língua, por exemplo, de forma pronta e acabada, esquecendo que o sujeito é um ser pensante e capaz de produzir seu próprio conhecimento[footnoteRef:2]. [2: 	 Segundo Mizukami (1986, p. 52), na concepção tradicional de ensino, “[...] o indivíduo principal é o professor, pois esse assume o papel de figura básica do trabalho, exercendo a função de transmissor do conhecimento, enquanto o educando representa o depósito onde esse conhecimento é guardado. O conhecimento é idealizado de forma acabada, o professor estabelece o conteúdo a ser transmitido ao aluno e este se guarda a aceitá-lo de maneira cumulativa, por meio da memorização”.] 
Com base no contexto histórico, essa concepção reflete o modelo da norma culta da língua predominante da elite, como modelo a ser seguido.
Para os alunos pertencentes às classes dominantes, essa “didática do reconhecimento” tem como efeito, o aperfeiçoamento desconhecimento [...], que já possuem, da língua “legítima”; para os alunos pertencentes às camadas populares, essa “didática do reconhecimento” não ultrapassa seus próprios limites, porque, na aprendizagem da língua, reconhecer não leva a conhecer. Em outras palavras: a escola leva os alunos pertencentes às camadas populares a reconhecer que existe uma maneira de falar e escrever considerada “legítima”, diferente daquela que dominam, mas não os leva a conhecer essa maneira de falar e escrever, isto é, a saber, produzi-la e consumi-la. (SOARES, 1986, p.63)
Observa-se de maneira clara, a ausência de uma prática pedagógica que possa levar o indivíduo a conhecer a língua em sua totalidade, identificando-a como ação e não como reação. Assim, a língua quando vista apenas como decodificação dos signos, símbolos e das regras sem analisar um contexto e principalmente por desconsiderar o aluno como construtor e intitulá-lo como reprodutor dos conteúdos, não contribui para que seja possível a construção de sentidos.
Já a concepção de língua e de linguagem de base estruturalista, vê a língua como um código. De acordo com Mizukami (1986), essas questões estão relacionadas as teorias behavioristas de ensino e de aprendizagem que dimensionam a transmissão de conteúdos por treinamento de habilidades, considerando o educando como um recipiente de informações. 
Considerando essa perspectiva, compreender a concepção de língua e de linguagem nessa esfera, pressupõe o mesmo caminho. Saussure (2006, p. 22) defende em seus estudos que: “A imposição das regras e a obediência ao sistema estruturado e sincronizado da língua já é o bastante para ensinar a ler e escrever”. Afirma, portanto, que a língua é vista como um código, ou seja, como um conjunto de signos que se combinam seguindo regras, é capaz de transmitir uma mensagem, informações de um emissor a um receptor. Esse formato de comunicação reforça a passividade do aluno, em que ele recebe instruções do tipo “copie”, “transcreva”, “separe as sílabas”, dando ênfase no modelo de reprodução, sem pensar no que proporciona significado ao aluno. 
Algumas ações didáticas caracterizam essa concepção: as palavras são expostas de maneira isolada em que a criança é orientada a isolar as letras (unidade menor da palavra); a separar pelas unidades maiores da palavra, ou seja, as sílabas; criar representatividade de uma letra com apenas um objeto, por exemplo, A de avião. Esses propõem a identificação da estrutura da palavra por partes. 
Dessa forma, a consciência fonológica e a lexical estão interligadas com a concepção de língua e linguagem estruturalista, pela capacidade de segmentar de modo consciente as palavras em suas menores unidades, em sílabas e em fonemas. Considerada habilidade metalinguística de tomada de consciência das características formais da linguagem, ou seja, habilidade para segmentar a linguagem oral em palavras.
Por fim, quando tratamos da concepção de língua e de linguagem de base interacionista, avaliamos que ela pressupõe que, a aprendizagem acontece a partir da interaçãodo sujeito com o meio e com os outros indivíduos, em que seja possível a reconstrução de saberes. Para Mizukami (1986, p. 55), a concepção interacionista ou construtivista se caracteriza, portanto, pela interação entre fatores internos e externos ao indivíduo. Nesse caso, entende-se que o indivíduo processa ativamente as informações provenientes do meio físico e social, gerando “construções mentais” que são elementos novos (originais) e não simples cópias da realidade externa.
No que diz respeito a língua e a linguagem, essa concepção traduz que o indivíduo é considerado construtor e não apenas receptor ou reprodutor do conhecimento, valorizando a produção textual oral e escrita, de maneira a considerar além dos códigos, os significados das palavras que ele utiliza cotidianamente. Nesse contexto, reconhecemos que haja um trabalho intenso sobre a consciência semântica[footnoteRef:3] dos elementos da escrita. [3: 	 Para Pereira (2010, p. 04), a consciência semântica tem como foco a significação vocabular e estrutural da língua e os elementos coesivos lexicais.] 
Para Cavalcante (2008), a concepção de língua e de linguagem interacionista:
[...] não é neutra, não é uniforme e muito menos pura. Ela varia e muda, ou seja, é heterogênea por natureza. Nessa perspectiva, leva-se em conta tanto os aspectos internos da língua (fonologia, morfologia, sintaxe e semântica) quanto os extralinguísticos (psicológicos, históricos, sociais, geográficos, culturais etc), inclusive e, principalmente, o sujeito da ação linguística, mas sempre tomando como unidade básica de ensino o texto. (CAVALCANTE, 2008, p. 3).
Considerando que a essência da língua e da linguagem é a interação verbal, essa ação deve proporcionar uma visão ampla de significados da linguagem, sob um aspecto voltado a ação social e não mais como objeto social, passando a considerar o uso natural das palavras sem artificialidade.
Essa concepção de língua e linguagem propõe uma ação diferenciada, por compreender o sujeito como um ser histórico, que valoriza a expressão oral, as diferentes formas de produção textual e a capacidade de construção de sentidos e significados, que se dão tanto pela oralidade quanto pela escrita.
Desse modo, segundo Faraco e Castro (2005), não pode ser atribuída a concepção de língua e linguagem de base interacionista, um olhar “monológico”. Isto explica que a linguagem somente será eficiente e funcional se utilizada como meio de interação verbal ou escrita entre dois ou mais interlocutores, tornando-se sociável, produtiva e relevante.
Nesse mesmo sentido, Possenti (1993) afirma que ao se apropriar da língua e linguagem os indivíduos as transformam em discurso e por meio desse, é que eles desenvolvem sua comunicabilidade com a sociedade. A este respeito, Geraldi (1993, p. 3) também se posiciona, enfatizando que a língua nada mais é do que a “produção social”, que geralmente são refletidas as igualdades ou desigualdades da sociedade, existindo as variações linguísticas que podem prestigiar determinado grupo de pessoas em detrimento a outros. No entanto, concordam ambos os autores, que se trata de interação, sem a qual nem língua, nem linguagem se desenvolvem dada a ideia de que não há sujeito acabado, pronto, mas sim, que estão em desenvolvimento e esse, acaba ocorrendo por meio de suas falas e as dos outros. 
A concepção de base interacionista difere da concepção de base tradicional e de base estruturalista, porque ela estimula uma forma de pensar, agir, de planejar, em que o sujeito, reconstrói o conhecimento existente, dando um novo significado a um novo conhecimento, o que se encontra em constante reconstrução. 
Referências: 
CAVALCANTE, Maria Auxiliadora da Silva. Concepções de linguagem e de gramática: implicações para o ensino da língua materna nos anos iniciais. Maceió: EDUFAL, 2008.
FARACO, Carlos Alberto; CASTRO, Maria Helena Guimarães de. Linguagem e diálogo: as idéias lingüísticas do círculo de Bakhtin. Curitiba: Criar Edições, 2005.
GERALDI, João Wanderley. Concepções de linguagem e ensino de português. In: GERALDI, J. W. (Org.). O texto na sala de aula; leitura e produção. Cascavel: Assoeste, 2008. p. 41-49. Disponível em: <file:///C:/Users/Nome/Downloads/36-105-1-PB%20(1).pdf>. Acesso em 16 de novembro de 2015.
GERALDI, João Wanderley. Portos de passagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.
PEREIRA, Vera Wannmacher. Aprendizado da leitura e consciência linguística. Disponível em: <https://www.google.com.br/?gws_rd=ssl#q=o+que+%C3%A9+consciencia+semantica> Acesso em 18 de Nov de 2015.
POSSENTI, Sirio. Discurso, estilo e subjetividade. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
RODRIGUES, Rômulo da Silva Vargas. Saussure e a definição da língua como objeto de estudos. Revel. Edição Especial n.2. 2008.
SAUSSURE, Ferdinand de, 1857-1913. Curso de linguistíca geral/ Ferdinand de Saussure; organizado por Charles Bally, Albert Sechehaye; com a colaboração de Albert Riedlinge; prefácio da edição brasileira Issac Nicolau Salum; tradução de Antonio Chelini, José Paulo Paes, izidoro Blikstein. 27. Ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
SOARES, Magda Becker. Livro didático: uma história mal contada. Agosto, 1986.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. São Paulo: Cortez, 1996.

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