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RINITE ALÉRGICA Definição A rinite alérgica é uma patologia inflamatória da mucosa nasal, mediada por imunoglobulina E (IgE), após a exposição da mucosa nasal a um ou mais alérgenos. No Brasil, a prevalência da rinite alérgica é variável nas diferentes regiões, apresentando-se, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. Epidemiologia Trata-se de uma doença com prevalência crescente. Estima-se, atualmente, que atinja cerca de 10 a 40% da população mundial. Observa-se que 15 a 38% dos pacientes com rinite alérgica também desenvolvem asma alérgica. No Brasil, os ácaros da poeira domiciliar Dermatophagoides farinae (Df), Dermatophagoides pteronyssinus (Dp) e Blomia tropicalis (Bt) são os principais alérgenos relacionados a etiologia da rinite. Fatores de risco Aeroalérgenos Ácaros domiciliares - Dp, Df e Bt; Baratas; Fungos; Animais de pelo; Pólens; Ocupacionais - trigo, poeira de madeira, detergente, látex etc. Poluentes Intradomiciliares: cigarro, fogão a lenha, etc. Extra-domiciliares: ozônio, dióxido de enxofre etc. Irritantes Odores fortes, perfumes, ar condicionado, produtos de limpeza etc. Outros Mudanças bruscas de temperatura; Uso de AAS, principalmente em adultos. Fisiopatologia Exposição ao fator de risco Reconhecimento por receptores IgE Inflamação local mediada por mastócitos e basófilos - liberação de histamina e etc. Atuação dos mediadores pró-inflamatórios nos vasos sanguíneos, terminações nervosas e glândulas mucosas Congestão nasal, prurido e rinorreia Fase Precoce (início minutos depois da exposição) Fisiopatologia Recrutamento celular - basófilos, neutrófilos e linfócitos Th2 Liberação de mediadores inflamatórios Remodelamento e alterações da mucosa Manutenção da congestão nasal Fase Tardia (4-8 horas após a exposição) Quadro Clínico Prurido nasal; Esternutos (espirros); Rinorreia aquosa; Congestão nasal; Sintomas oculares (prurido e epífora); Rinorreia posterior; Tosse crônica não produtiva; Fadiga. Classificação Rinite Alérgica Leve Moderada/ Grave Persistente Intermitente Considera-se persistente quando a frequência dos sintomas é > 4 dias por semana ou > 4 semanas de duração por ano. Considera-se moderada ou grave quando o paciente apresenta alteração no sono, e/ou interferrência em tarefas rotineiras. Considera-se intermitente quando a frequência dos sintomas é < 4 dias por semana ou < 4 semanas de duração por ano. Considera-se leve quando o paciente consegue realizar atividades diárias sem incômodo dos sintomas. Diagnóstico O diagnóstico é clínico! É feito através da anamnese e exame físico, e, se necessário com auxílio de exames complementares. Exames Complementares Testes Cutâneos por Picada (TCP): Dosamento sérico de IgE específicas: Exame Físico: Rinoscopia anterior - avaliar presença de pólipos e desvio septal. Mucosa azulada/pálida ou edemaciada e hiperemiada (fase aguda). Endoscopia nasal - reservada para os pacientes sem alterações na rinoscopia ou aos que não respondem ao tratamento inicial. Oroscopia: avaliar presença de rinorreia posterior. Ausculta pulmonar. Medição de óxido nítrico nasal; Rinomanometria; Testes de provocação nasal; Testes de provocação conjuntival. São os recuros mais utilizados e evidenciam reações alérgicas mediadas por IgE. Possuem alta sensibilidade e especificidade. A dosagem sérica da IgE total está relacionada a uma maior probabilidade de encontro de IgE específicas em indivíduos alérgicos, mas seu valor diagnóstico para alergia é limitado. Tratamento O objetivo do tratamento é restaurar a função das vias aéreas superiores, de forma a melhorar a qualidade de vida do doente. Objetivos: Tratamento Não Farmacológico Cessação do tabagismo; Prevenção de sobrepeso/obesidade. Identificar e evitar os eventuais alérgenos que desencadeiam o quadro. OBS: avaliar se a medida não irá interferir de maneira relevante na vida do paciente. Tratamento Farmacológico Anti-histamínicos orais: são eficazes no alívio de alguns sintomas - rinorreia, esternutos, prurido nasal e ocular. Anti-histamínicos nasais: atuam reduzindo a rinorreia e o prurido nasal. Glicocorticoides nasais: são a base do tratamento. Controlam os sintomas e possuem efeito sinérgico com os anti-histamínicos. Glicocorticoides orais: utilizados na fase aguda. Tratamento Farmacológico Anticolinérgicos nasais: são eficazes no controle da rinorreia. Indcados apenas para tratamento adjuvante. Antagonistas dos leucotrienos: indicados para a fase tardia. Imunoterapia específica com alérgenos: induz a dessensibilização e produz um estado de anergia para os alérgenos. Descongestionantes nasais: promovem alívio dos sintomas, mas podem induzir rinite medicamentosa. Tratamento Rinite Intermitente Leve Beclometasona spray. Corticoide nasal. Rinite Intermitente Moderada/Grave Loratadina; Dexclorfeniramina. Anti-histamínico H1 oral. Rinite Persistente Leve Loratadina; Dexclorfeniramina. Anti-histamínico H1 oral. Rinite Persistente Moderada/Grave Beclometasona spray. Corticoide nasal por 60 dias. OBS: pode-se adicionar um anti-histamínico H1 oral. Tratamento Adjuvante Lavagem Nasal com SF 0,9%. Descongestionantes nasais: promovem alívio rápido e podem ser usados por até 5 dias. Medicações Medicações Medicações Referências BRASILEIRO, IV CONSENSO. ABORL-CCF. 2017. CALDEIRA, Leonor Esteves et al. Rinite alérgica–Classificação, fisiopatologia, diagnóstico e tratamento. Rev Port Imunoalergologia, v. 29, n. 2, p. 95-106, 2021. ASMA Definição A asma é doença inflamatória crônica das vias aéreas inferiores caracterizada por hiperresponsividade dessas vias a diferentes estímulos, com consequente obstrução do fluxo aéreo, de forma recorrente e, geralmente reversível. A prevalência estimada da asma no Brasil é 4,4% em adultos e 20% em crianças e adolescentes. Epidemiologia Estima-se que a asma afete aproximadamente 334 milhões de pessoas no mundo e cerca de 20 milhões de brasileiros. É a 4ª causa de internação no Brasil, principalmente de crianças e adolescentes das regiões Nordeste e Sudeste. A taxa de mortalidade hospitalar da doença aumentou nos úlitmos anos, acometendo mais significativamente idosos. O pico de incidência ocorre aos 3 anos de idade, sendo mais comuns em meninos. Em adultos, a prevalência se iguala entre os sexos. Fatores de risco Atopia É o principal fator de risco; Síndrome imune que propicia a síntese de IgE após exposição à antigénos - liberação de substâncias broncoconstritoras. Mais de 80% dos asmáticos são atópicos. Genética A presdiposição a doença é poligênica. A maioria dos genes identificados favorecem a resposta imune Th2. Alérgenos Precipitam as crises; Exposição a ácaros precocemente - maior chance de desenvolver a doença. Ocupação A asma ocupacional acontece de maneira independente da presença de atopia e melhora com o afastamento das atividades. Obesidade O aumento do IMC > 30 Kg/m³ está associado a asma. Fatores mecânicos + fatores metabólicos. Fatores de risco Infecções; Dieta; Poluição; Baixo peso ao nascer; Prematuridade; Não realização do aleitamento materno. Alérgenos; Infecções Virais; Fármacos; Exercícios Físicos; Dieta; Poluição; Hormônios; DRGE; Estresse. FATORES DE RISCO PARA AS CRISES: FATORES DE RISCO CONTROVERSOS PARA DESENVOLVIMENTO DA DOENÇA: Fisiopatologia Exposição ao fator de risco Infiltração da mucosa Inflamação da árvore traqueobrônquica Remodelamento brôquinco Hiperreatividade brônquica Classificação: Asma Alérgica Forma mais comum; Geralmente tem início na infância; Pacientes com histórico familiar + ou atópicos; A via aérea é infiltrada por eosinófilos; Boa resposta a corticóide inalatório Asma Não Alérgica Asma com Obstrução Aérea Fixa Asma por Obesidade Fenótipos Tem início tardio; É mais prevalente em mulheres; Não está associada a atopia; Infiltração das vias aéreas por neutrófilos, eosinófilos ou poucas células; Resposta ao corticóide inalatóriomenor. Asma de longa duração e tratamento inadequado. Ocorre perda irreversível da função pulmonar pela remodelação das vias aéreas. Pacientes obesos apresentam sintomas respiratórios. Ocorre pouca inflamação eosinofílica nas vias aéreas. Quadro Clínico Sintomas pioram à noite ou pela manhã; Sintomas desencadeados por infecções virais, exercícios. exposição a alérgenos ou mudanças climáticas. Dispneia; Sibilos; Tosse; Dor ou sensação de aperto no peito; Despertar noturno por tosse/dispneia; Diagnóstico J45.0 - Asma predominantemente alérgica; J45.1 - Asma não alérgica; J45.8 - Asma mista CID-10: Critérios Clínicos + Critérios Funcionais: Histórico de sintomas respiratórios; Confirmação de limitação variável do fluxo aéreo expiratório - espirometria. Diagnóstico no Adulto: Exame Físico: pode haver presença de sibilos expiratórios, tempo espiratório prolongado e tiragem intercostal*. Espirometria: PFE: variabilidade diurna >10%. Teste cutâneo para IgE: Outros: raio-x de tórax e hemograma. - VEF1/CVF < 0,75-0,80 - Aumento na VEF1 de 12% e 200mL, após o uso de Salbutamol. Diagnóstico Critérios Clínicos + Critérios Funcionais: Histórico de sintomas respiratórios; Confirmação de limitação variável do fluxo aéreo expiratório - espirometria. Diagnóstico em Crianças > 5 anos: Exame Físico: pode haver presença de sibilos expiratórios, tempo espiratório prolongado e tiragem intercostal*. Espirometria: Teste de broncoprovocação por exercício: PFE: variabilidade diurna >13%. Outros: raio-x de tórax, hemograma, teste cutâneo para IgE. - VEF1/CVF < 0,9. - Aumento na VEF1 de 12%, após o uso de Salbutamol. - Queda no VEF1 > 12% ou > 15% no PFE. Diagnóstico em Crianças <= 5 anos: Diagnóstico clínico! Sinais e sintomas característicos: sibilância, dispneia, tosse, cansaço, aperto no peito e limitação reversível ao fluxo aéreo. TRATAMENTO Não Farmacológico Educar o paciente; Avaliar o uso dos dispositivos inalatórios; Exercícios físicos - adultos; Farmacológico Tratamento individualizado, de acordo com o controle e gravidade da doença, preferências do paciente e acesso aos medicamentos. Via inalatória é preferencial para tratamento de manutenção e alívio. Medicamentos Controladores São a base do tratamento e possuem atividade anti-inflamatória. Os medicamentons que fazem parte desse grupo são: CI, corticoides orais, os LABA e os imunobiológicos anti-IgE. Medicamentos de Alívio São usados de acordo com a necessidade do paciente, atuando de maneira rápida para o alívio dos sintomas;. Os SABA são os mais utilizados. Tratamento > 6 anos. STEP 1 STEP 2 STEP 3 STEP 4 STEP 5 Asma intermitente; Sintomas < 2x/mês e sem fatores de risco para exacerbações. Asma peristente leve; Sintomas 2x/mês ou 1x/semana. Asma persistente moderada. Sintomas na maioria dos dias ou noturnos 1x na semana ou +. Asma peristente grave. Sintomas na maioria dos dias ou ao despertar 1x na semana ou baixa função pulmonar. Asma persistente grave refratária.. Sem resposta aos outros tratamentos. 1ª LINHA: CI em baixa dose + formoterol. 2ª LINHA: CI em baixa dose + SABA. Sob demanda! 1ª LINHA: CI em baixa dose + formoterol - sob demanda. 2ª LINHA: CI em baixa dose - fixo. SABA + CI - sob demanda. 1ª LINHA: CI em baixa dose + formoterol - fixo. CI em baixa dose + formoterol - sob demanda. 2ª LINHA: CI em baixa dose + formoterol - fixo. SABA + CI - sob demanda. 1ª LINHA: CI em dose média + formoterol - fixo. CI em baixa dose + formoterol - sob demanda. 2ª LINHA: CI em dose média/alta + LABA - fixo. SABA + CI - sob demanda. 1ª LINHA: CI em dose alta + formoterol + LAMA - fixo. CI em baixa dose + formoterol - sob demanda. 2ª LINHA: CI em baixa dose + SABA - sob demanda. Avaliar terapias adicionais: anti-IgE, anti-IL 5/5R, anti-IL 4R. Tratamento < 6 anos. OBS: não há tratamento preferencial para a etapa 1 - seguir orientações gerais para todos os asmáticos. Medicações CORTICÓIDES INALATÓRIOS Dipropionato de Beclometasona Budesonida Cápsula inalante ou pó inalante de 200mcg e 400 mcg; Aerossol ou Spray de 50 mcg e 250 mcg. Cápsula inalante de 200 mcg e 400 mcg; Pó inalante ou aerossol bucal de 200 mcg. Efeitos Adversos: a deposição na mucosa oral e laríngea pode causar candidíase orofaríngea e rouquidão. Atuam reduzindo a inflamação e a hiperresponsividade brônquica, controlando os sintomas, melhorando a função pulmonar e reduzindo o risco de exarcerbações. Além disso, evitam o remodelamento brôquinco. Medicações CORTICÓIDES ORAIS Nas crises, a dose recomendada é de 1-2 mg/kg/dia, podendo ser dividida em 2 ou 3 administrações. Prednisolona Nas crises, a dose recomendada é de 40-60 mg/dia, podendo ser dividida em 2 ou 3 administrações. Prednisona CORTICÓIDES ORAIS NAS CRISES Prednisona Prednisolona Comprimidos de 5 mg e de 20 mg. Solução oral de 1 mg/mL e 3 mg/mL. Atuam como anti-inflamatórios e são indicados, em baixas doses, para uso rotineiro em pacientes de dificil controle da doença (step 5). Efeitos Adversos: osteoporose, obesidade, DM, HAS, retardo do crescimento em crianças, glaucoma, catarata, infecções e bloqueio do eixo hipotálamo- pituitária-adrenal. Baixa Dose: ≤ 7,5 mg de prednisolona. OBS: após o uso prolongado de CO (> 3 meses), o paciente deve ser monitorado permanentemente, devido ao risco de insuficiência adrenal aguda. Medicações Montelucaste É um antagonista de receptores leucotrienos que atua bloqueando a broncoconstrição e reduzindo a inflamação na via aérea. Efeitos Adversos: dor abdominal, cefaleia e sede. Indicado para pacientes step 2 a 4, associado ao CI. Dose para menores de 2 - 5 anos: 1 sachê de 4 mg, 1x/dia. Dose para menores de 6 - 14 anos: 5 mg, 1x/dia. Dose para > 15 anos: 10 mg, 1x/dia. Apresentações: Comprimidos mastigáveis: 4 e 5 mg. Comprimidos revestidos: 10 mg. Sachê (grânulos orais): 4 mg. USO OBS: tem efeito não inferior ao CI no controle da asma, porém o efeito na redução das exacerbações é menor. Medicações SABA Salbutamol Fenoterol Aerosol 100 mcg. Aerosol 100 mcg; Solução inalante de 5 mg/mL. Broncodilatadores beta-2-agonistas de curta duração. Possuem rápido início de ação (5-30 min) e proporcionam alívio de 4-6 horas. Efeitos Adversos: taquicardia, hiperglicemia, hipopotassemia e hipomagnesemia. USO Rotina: aplicar de 1 a 2 jatos, a cada 20 min, Prevenção de broncoespasmo no exercício ou exposição a alérgeno (adultos): 2 jatos antes da exposição. Medicações LABA Formoterol Efeito broncodilatador por 12h; Início de ação rápido em 5 min; Salmeterol Efeito broncodilatador por 12h; Início de ação mais lento, após 20 min. Cápsula ou pó inalante de 12 mcg Pó para inalação de 50 mcg Broncodilatadores beta-2-adrenérgicos seletivos de longa duração. Efeitos Adversos: taquicardia, hiperglicemia, hipopotassemia e hipomagnesemia. USO Formoterol: 1 a 2 inalações, VO, 2x/dia. Dose Máxima em Crianças: 48 mcg. Dose Máxima em Adultos: 72 mcg. Saltemerol: 1 inalação, VO, 2x/dia. Medicações LAMA/SAMA Ipratrópio Os anticolinérgicos bloqueiam os receptores muscarínicos de acetilcolina, inibindo o componente neurogênico do broncoespasmo e reduzem a secreção de muco na via aérea. Efeitos Adversos: xerostomia e gosto amargo. Meia vida curta Solução para inalação - nebulização Imunobiológicos Omalizumabe Mepolizumabe É uma imunoterpia anti-IgE inicada para pacientes step IV e V com asma refratária ao tratamento. Indicado para > 6 anos. É um anticoroi monoclonal que tem como alvo a IL-5. Indicado para > 18 anos. Tiotrópio Meia vida longa Solução para inalação Solicitar contagem eosinofílica no sangue periférico; Verificar se a asma é desencadeada por alérgenos e realizar testes cutâneos ou dosagem de IgE sérica específica para um alérgeno. Soliciar IgE sérica total; Em caso de asma com fenótipo T2 baixo, não considerar o tratamento com imunobiológicos. Critérios: 1. 2. 3. 4. CONTROLE Da asma CONTROLE DAS LIMITAÇÕES CONTROLEDOS RISCOS FUTUROS Envolve o controle das limitações clínicas do paciente - sintomas mínimos durante o dia e ausência de sintomas à noite; e, a necessidade reduzida de medicações de alívio. Envolve a redução do risco de exacerbações, perda acelerada da função pulmonar e dos efeitos adversos do tratamento. A AVALIAÇÃO DEVE SER FEITA EM RELAÇÃO ÀS ÚLTIMAS 4 SEMANAS! Referências GLOBAL INITIATIVE FOR ASTHMA (GINA). Global strategy for the asthma management and prevention. [Fontana]: GINA, 2023. Disponível em: https://ginasthma.org/wp-content/uploads/2023/05/GINA-2023-Full-Report-2023-WMS.pdf MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA DE ATENÇÃO ESPECIALIZADA À SAÚDE, SECRETARIA DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INSUMOS ESTRATÉGICOS EM SAÚDE, PCDT asma, 2023. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2016 PIZZICHINI, Marcia Margaret Menezes et al. Recomendações para o manejo da asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia-2020. Jornal brasileiro de pneumologia, v. 46, 2020. DPOC DEFINIÇÃO Doenças obstrutivas (ou doenças das vias aéreas), caracterizadas pelo aumento da resistência ao fluxo aéreo devido a uma obstrução parcial ou completa em qualquer nível, da traqueia e brônquios maiores até os bronquíolos terminais e respiratórios. Enfisema, bronquite crônica e doença de pequenas vias frequentemente são consideradas como um único grupo e referidas como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), uma vez que muitos pacientes apresentam características sobrepostas de lesões tanto em nível acinar (enfi sema) quanto em nível brônquico (bronquite); e doença das pequenas vias respiratórias, uma condição na qual os bronquíolos de pequeno calibre se encontram estreitados. Fisiopatologia Bronquite obstrutiva crônica: É a inflamação da parede dos brônquios com lúmen > 2 mm. A bronquite obstrutiva crônica é composta por um infiltrado leucocitário misto (polimorfonucleares e mononucleares), metaplasia de células caliciformes e uma acentuada hiperplasia das glândulas submucosas. Essas alterações, paralelamente à inflamação da parede dos brônquios, resultam em diminuição do calibre, com obstrução do fluxo aéreo. Doença de pequenas vias aéreas: É a inflamação da parede dos bronquíolos (bronquiolite) e pequenos brônquios com lúmen < 2 mm. A parede das pequenas vias aéreas encontra-se espessada, contendo infiltrado inflamatório misto (polimorfonucleares e mononucleares) e acúmulo difuso de colágeno (fibrose). Enfisema pulmonar: É uma doença dos "ácinos", que são as unidades funcionais de troca gasosa dos pulmões. Há uma destruição progressiva dos septos alveolares e/ou paredes dos bronquíolos respiratórios, levando à formação de grandes espaços aéreos com reduzido poder de troca gasosa. Além disso, a degradação do tecido elástico do parênquima pulmonar reduz a capacidade de sustentação dos bronquíolos durante a expiração. Quadro Clínico Cianose ou eritrocianose; Aumento do diâmetro anteroposterior do tórax (tórax em tonel); Pletora facial; Edema de membros inferiores; Murmúrio vesicular bem reduzido; Sibilância e roncos; Estertores crepitantes ou subcrepitantes; Bulhas cardíacas hipofonéticas; Hiperfonese do componente pulmonar (P2) da segunda bulha cardíaca (B2), secundária a hipertensão arterial pulmonar. Na fase avançada, o exame clínico pode demonstrar alterações típicas da DPOC: Os três sintomas mais comuns na DPOC são tosse, produção de escarro e dispneia aos esforços. Achados Físicos Sinais de tabagismo ativo: odor de fumaça ou manchas de nicotina nas unhas dos dedos da mão. Na ausculta: uma fase expiratória longa e pode incluir sibilância à expiração. Sinais de hiperinsuflação: tórax em barril e ampliação dos volumes pulmonares com limitação das excursões diafragmáticas avaliadas por percussão. Pacientes com obstrução grave do fluxo aéreo: uso dos músculos acessórios da respiração, sentando-se na posição típica de “tripé” para facilitar as ações dos músculos esternocleidomastóideos, escalenos e intercostais. Obs:Alguns pacientes podem desenvolver cianose, visível nos lábios e leitos ungueais. “pink puffers”“blue bloaters” Indicadores- chave para considerar um diagnóstico de DPOC diagnóstico Doença cardíaca Síndrome metabólica Osteoporose Apnéia do sono Depressão Câncer de pulmão Comorbidades: FumarExposição ao combustível de biomassa Asma Infecções infantis Prematuridade História de família Fatores de risco: Dispneia Tosse Escarro Sintomas: diagnóstico Achados radiográficos Aumento dos espaços intercostais; Visualização de mais do que nove ou dez arcos costais anteriores; Retificação das hemicúpulas diafragmáticas; Maior penetração dos raios X, com maior hipotransparência pulmonar; Coração alongado (em "gota"). Sinais de hiperinsuflação pulmonar: Tratamento Uma avaliação combinada de "sintomas" e "riscos" Alívio sintomático Melhorar tolerância ao exercício Melhorar estado de saúde Reduzir sintomas: Prevenir progressão da doença Prevenir e tratar exacerbações Redução de mortalidade Reduzir riscos: Objetivos do Tratamento Escala de dispneia modificada “ Modified Medical Research Council (mMRC)” COPD Assessment Test (CAT) Pacientes com CAT ≥ 10 ou mMRC ≥ 2, ou seja, os mais sintomáticos, são colocados do lado "direito" do quadro (grupos B e D). São considerados de maior risco os pacientes com duas ou mais exacerbações recentes, que ficam na parte de cima do quadro (grupos C e D). Tratamento Farmacológico Os broncodilatadores inalatórios são as grandes drogas na terapia da DPOC! Uma discreta broncodilatação pode trazer um grande benefício clínico ao paciente, já que ele convive com uma reserva respiratória baixa. A inalação é a forma preferível para a administração desta medicação. Três classes principais de broncodilatadores estão em uso atualmente: Agentes anticolinérgicos (antagonistas dos receptores muscarínicos - SAMA (ação curta - Ipratrópio); LAMA (ação longa - Tiotrópio) Agonistas B2 adrenérgicos (simpaticomiméticos) - SABA (ação curta - salbutamol); LABA (ação longa - Formoterol) Teofilina (metilxantina) Glicocorticoides inalatórios: O impacto do uso de corticosteroides inalatórios sobre as taxas de mortalidade na DPOC é controverso. O uso de corticoide inalatório em pacientes com doença mais grave e exacerbação mais frequente é justificado pelo resultado de diversos estudos que mostraram redução da frequência de exacerbações nesses pacientes, sem que houvesse, contudo, diminuição (estatisticamente significativa) dos sintomas e da mortalidade. Efeitos adversos: Candidíase orofaríngea , perda de densidade óssea e pneumonia* Tratamento Farmacológico Tratamento Farmacológico Glicocorticoides orais O uso crônico de glicocorticoides orais no tratamento da DPOC não é recomendado devido a uma relação desfavorável de custo/benefício. O uso crônico de glicocorticoides orais está associado a efeitos colaterais significativos, incluindo osteoporose, ganho de peso, catarata, intolerância à glicose e risco aumentado de infecção. Um estudo recente demonstrou que os pacientes que reduziram de forma gradual suas doses crônicas (aproximadamente 10 mg/dia) de prednisona de baixa dose não apresentaram qualquer efeito adverso na frequência das exacerbações, qualidade de vida relacionada com a saúde ou função pulmonar. Antibióticos: Existem fortes dados implicando a infecção bacteriana como um agente precipitador de uma porção substancial de exacerbações. Estudos iniciais de antibióticos profiláticos ou supressores, administrados periodicamente ou durante o ano todo, não demonstraram impacto positivo sobre a ocorrência de exacerbação. Oxigênio: A administração de O2 suplementar é a única terapia farmacológica comprovadamente capaz de reduzir as taxas de mortalidade em pacientes com DPOC, para os pacientes com hipoxemia em repouso (saturação de O2 em repouso ≤ 88% ou < 90% com sinais de hipertensão pulmonar ou insuficiência cardíaca direita) e PaO2 < 55 mostrou-seque a administração de O2 exerce um impacto significativo sobre a taxa de mortalidade. Os pacientes que preencherem esses critérios devem receber suprimento contínuo de oxigênio, já que o benefício na mortalidade é proporcional ao número de horas/dia do seu uso. Tratamento Não Farmacológico Reabilitação pulmonar: Esse termo se refere a um programa de tratamento que inclui educação e condicionamento cardiovascular. Na DPOC, mostrou-se que a reabilitação pulmonar melhora a qualidade de vida relacionada com a saúde, dispneia e capacidade para exercícios. Ela também se mostrou capaz de reduzir as taxas de internação ao longo de um período de 6 a 12 meses. Cessação do tabagismo: Estudos demonstraram que fumantes de meia-idade que foram capazes de abandonar o tabagismo com sucesso apresentaram melhora significativa na taxa de declínio da função pulmonar, retornando ao patamar de alterações anuais semelhantes às dos indivíduos que não fumavam. Existem três abordagens farmacológicas principais para o problema: bupropiona; terapia de reposição da nicotina disponível sob a forma de gomas de mascar, adesivos transdérmicos, pastilhas, inaladores e spray nasal; e vareniclina, um agonista/antagonista do receptor do ácido nicotínico. Imunização: Os pacientes com DPOC devem ser vacinados anualmente contra influenza. A vacina antipneumocócica polivalente e COVID-19 também é recomendada. Referênc ias 2022, 2023 Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease, Inc.GLOBAL STRATEGY FOR THE DIAGNOSIS, MANAGEMENT, AND PREVENTION OF CHRONIC OBSTRUCTIVE PULMONARY DISEASE (2023 REPORT) Medicina interna de Harrison | Porto Alegre; AMGH; 19 ed; 2017. 2 v. KUMAR, Vinay; ASTER, Jon C.; ABBAS, Abul K.. Robbins & Cotran Patologia: bases patológicas das doenças. 9 Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021, 1421 p. DPOC estável: manejo farmacológico inicial. www.uptodate.com/contents/stable-copd-initial-pharmacologic-management Revisão da literatura atualizada até: agosto de 2023. Última atualização deste tópico: 03 de agosto de 2023. https://www.uptodate.com/contents/stable-copd-initial-pharmacologic-management/contributors https://www.uptodate.com/contents/stable-copd-initial-pharmacologic-management/contributors FIM! BOM FERIADO