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TRANSPORTES E SEGUROS INTERNACIONAIS AULA 3 Profª Rafaela Aparecida de Almeida 2 CONVERSA INICIAL Nas aulas anteriores, construímos um conhecimento a respeito dos modais terrestres: rodoviário e ferroviário e do modal aquaviário. Nesta aula, conheceremos melhor os modais aeroviário e dutoviário, fechando, assim, os cinco modais de cargas existentes. Conhecer as características de cada modal é muito importante para os profissionais de Comércio Exterior, pois nos permite a análise e realização de estudos com vistas a otimização embarques, uso da multimodalidade/intermodalidade e busca por operações economicamente mais viáveis, o que poderá representar um diferencial competitivo nas organizações em que estamos inseridos. Portanto, caro aluno, convidamos você a embarcar nesta aula, que abordará as seguintes temáticas: • Introdução ao transporte aéreo; • Tarifas e cálculo de frete; • Órgãos reguladores e gestores do transporte aéreo; • Transporte de cargas perigosas; • Transporte dutoviário. Desejamos bons estudos e muito conhecimento adquirido! CONTEXTUALIZANDO De acordo com dados da Associação Brasileira De Empresas Aéreas – ABEAR, até 2023, o transporte de carga aérea brasileiro deve superar 1 milhão de toneladas em voos internacionais. Os últimos dados apresentados, até 2018, demonstram uma evolução da demanda da carga aérea internacional, considerando importações e exportações brasileiras, conforme podemos ver no gráfico a seguir. 3 Gráfico 1 – Demanda da carga aérea internacional – importações e exportações brasileiras Diante de um cenário de crescimento, é reforçada a importância de se conhecer as particularidades que envolvem o modal aéreo, sabendo que, ao se planejar uma operação de transporte, o principal ponto é conhecer as características de cada modal, tornando a operação o mais efetiva possível. Cabe aos profissionais envolvidos nas mais diversas áreas do comércio exterior conhecer os diferentes tipos de equipamentos existentes e suas características. Além disso, é imperativo que conheçamos como é feita a cobrança de frete e quais os órgãos reguladores de cada modal e a legislação vigente em âmbito nacional e internacional, bem como, no que diz respeito ao transporte aeroviário especificamente, nas diretrizes que envolvem o transporte de produtos perigosos, considerando o alto nível de restrições desse modal. TEMA 1 – INTRODUÇÃO AO TRANSPORTE AÉREO O modal aeroviário, juntamente com o aquaviário, é um dos principais modais do transporte internacional de cargas. Trata-se do mais rápido, sendo indicado para embarques urgentes, courier, produtos com alto valor agregado e pequenos volumes. No entanto, na maioria dos casos, a urgência e necessidade da mercadoria é que direciona o embarque para o transporte aéreo. O modal aéreo permite às organizações aplicarem políticas de just in time, permitindo uma redução no nível de estoques e reduzindo os custos de capital de giro pelo carregamento contínuo, quando comparado ao marítimo, que demanda maior nível de estoque. 4 Figura 1 – Modal marítimo x modal aéreo Crédito: Tanumporn/Shutterstock. A análise que precisamos fazer aqui é qual o transit time para o modal marítimo e para o modal aéreo e qual a cobertura de estoque necessária para suprir o período de trânsito de cada uma. Trata-se de um trade-off (compensação nos custos), ou seja, uma escolha em detrimento de outra, analisando o custo com transportes versus o custo com a manutenção de estoques. Neste modal, o principal cuidado para o transporte diz respeito à embalagem que deverá ser adequada à cada tipo de mercadoria, principalmente no caso de mercadorias perecíveis, de alto valor agregado ou perigosas. O transporte neste modal poderá ocorrer tanto em aeronaves exclusivas de cargas, os cargueiros quanto em voos mistos, em que as cargas são transportadas nos porões. 1.1 Tipos de aeronaves Quanto aos tipos de aeronaves, temos as seguintes configurações: • Full Pax – avião de passageiros: são aeronaves de uso exclusivo de passageiros no deck superior, sendo o deck inferior destinado ao transporte de bagagem. Neste tipo de aeronave, a preferência é para a bagagem; em seguida, produtos perecíveis; e, eventual sobra de espaço, para demais tipos de carga. • All Cargo/Full Cargo ou cargueiro – são aeronaves específicas, configuradas apenas para o transporte de carga, não transportando passageiros. O transporte da carga se dá nos decks superior e inferior. 5 • Combi/misto – são aeronaves utilizadas para o transporte conjunto de passageiros e cargas, nas quais as cargas são transportadas tanto no lower deck (andar inferior) quanto no upper deck (andar superior). Saiba mais A maior aeronave cargueira na atualidade é Antonov An-225 Mriya, produzida durante a década de 1980 pela Antonov Design Bureau, na então RSS Ucraniana, hoje Ucrânia. Seu primeiro voo ocorreu em 21 de dezembro de 1988. Esta aeronave possui 84 metros de comprimento e capacidade de decolagem com até 640 toneladas. Para se ter uma noção de seu tamanho, ela comportaria facilmente mais de 1.500 pessoas. Figura 2 – Antonov Na-225 Mriya Crédito: Kamilpetran/Shutterstock. 1.2 Conhecimento de embarque aéreo Este modal se diferencia dos demais por sua maior agilidade, tanto no tempo de trânsito quanto pela rapidez na emissão antecipada de documentos e no processo de liberação nos aeroportos. Nele a documentação acompanha a carga de modo que esteja disponível no destino no momento do desembaraço aduaneiro. O conhecimento de embarque aéreo é o documento mais importante do transporte e pode ser emitido pela própria companhia aérea, quando esta for o transportador ou pelo agente de carga, sem identificação do transportador ou companhia aérea. Este documento deve ser preenchido em sua totalidade, de acordo com os campos solicitados: 6 • Número do voo; • Data e empresa aérea; • Aeroportos de origem, trânsito e destino; • Nome e endereço do transportador, do expedidor e do destinatário da mercadoria; • Descrição da mercadoria; • Quantidade de volumes, peso e dimensões; • Tipo e valores da tarifa de frete. O Air Waybill é o documento que comprova a entrega da mercadoria para o transporte aéreo, além de representar a existência de um contrato de transporte entre o embarcador e o transportador. Pode ser apresentado de duas formas: • MAWB (Master Air Waybill) – documento emitido para a companhia aérea. Representa a totalidade da carga entregue por diversos embarcadores e consolidadas em um único embarque. No caso de cargas consolidadas, o MAWB não é entregue aos embarcadores, pois estes receberão os HAWBs emitidos pelo agente para suas cargas individuais. • HAWB (House Air Waybill) – trata-se do Conhecimento de Embarque emitido pelo agente de cargas e entregue a cada embarcador, correspondente a uma parte ou fração da carga total consolidada no MAWB. Este documento é composto de três originais: o primeiro original fica com o transportador, o segundo acompanha a mercadoria durante o trânsito e é entregue ao destinatário e o terceiro é entregue ao expedidor em comprovação do embarque. TEMA 2 – TARIFAS E CÁLCULO DE FRETE Sabemos que, usualmente, o transporte aéreo é mais caro quando comparado ao marítimo internacional. No entanto, é importante conhecermos as particularidades envolvidas nesta modalidade, que poderão trazer redução de custos ao embarcador, como é o caso dos embarques consolidados. Vale frisar que nenhuma companhia aérea tem liberdade para fixar tarifas individualmente, pois as tarifas de frete aéreo são estabelecidas em comum 7 acordo entre as companhias aéreas e sob o controle e fiscalização da International Air Transport Association– IATA (Associaçãode Tráfego Aéreo Internacional). Dias (2012) destaca outros fatores que podem influenciar na formação de tarifas, tais como: • Oferta e demanda existente; • Situação econômica das diferentes regiões ou destinos; • Características das mercadorias transportadas (peso, volume e valor); • Distância entre origem e destino e conexões necessárias. 2.1 Cálculo do frete aéreo O frete aéreo é cobrado pelo peso da carga, calculado por quilo, porém, o volume também é considerado se exceder limites previamente estabelecidos para determinado peso, no caso do aéreo, seis vezes o peso da carga. No transporte aéreo, por regulamentação IATA, uma aeronave acomoda 166,66 kg em 1 metro cúbico. Lembre-se que o frete é cobrado de acordo com o peso da mercadoria ou o espaço, sempre o que for maior. Desta forma, precisamos conhecer o peso líquido, bruto e cubado da carga. Crédito: Iconic Bestiary/Shutterstock. Neste momento, você deve estar se perguntando: como faço para descobrir o peso cubado da minha carga? Vamos considerar algumas regras: • Regra 1 – cada quilograma (1.000 gramas) pode ocupar no máximo um espaço de 6.000 cm3. • Regra 2 – o frete será cobrado pelo que for maior: peso bruto (mercadoria + embalagem) ou peso cubado. • Regra 3 – para o cálculo do peso cubado, as três dimensões da carga precisam ser consideradas, ou seja, comprimento, largura e altura. Considere o embarque hipotético a seguir: 8 Embarque de 1 caixa com dimensões: • 0,80m³ x 0,80m³ x 0,80m³ • Peso líquido 58 kg • Peso bruto 64 kg Vamos aos cálculos: Lembre-se da regra 1: se 166,667 kg corresponde a 1 metros cúbico, então, 1 kg terá 0,006 metros cúbicos. Assim, a fórmula para o cálculo da cubagem aérea ficaria: altura (cm) x largura (cm) x comprimento (cm) ÷ fator de cubagem (6.000 cm cúbicos) = peso cubado (kg) Desta forma, aplicando o cálculo ao exemplo citado, teríamos: 80 x 80 x 80 ÷ 6.000 = 85,333 kg cubados Por fim, precisamos aplicar a regra 2, que diz que o frete será cobrado pelo que for maior, ou peso bruto ou cubado. Então, nosso embarque, neste caso, será tarifado pelo peso cubado de 85,333 kg e não pelo peso bruto de 64 kg, que é menor. 2.2 Tarifas de frete Uma forma de redução de custos neste modal está na consolidação de cargas. Por exemplo, uma empresa que possui diversos fornecedores em determinada região dos Estados Unidos, poderá solicitar o envio de todas as cargas para o armazém de um agente de carga. Então, esse agente irá consolidar as cargas desses diferentes fornecedores em um único embarque, conseguindo, assim, redução na tarifa. Vamos entender melhor esse exemplo, analisando os diferentes tipos de tarifas de frete existentes no modal aéreo: 9 • Tarifa Geral – é a tarifa aplicada de forma escalonada para embarques que não contenham mercadorias valiosas e que não estejam enquadradas na tarifa específica ou na tarifa classificada. O escalonamento ocorre da seguinte forma: o Até 45 kgs o De 45 a 100 kg o De 100 a 300kg o De 300 a 500 kg o Acima de 500kg Sendo assim, quanto maior for o peso, menor será a tarifa a ser paga, valendo aqui a prática da consolidação. • Tarifa mínima – aplicada a pequenos volumes, que não atingem determinado valor de frete a partir do seu cálculo por peso. Esta tarifa irá variar de acordo com área de destino da carga. • Tarifa classificada – é expressa por meio de porcentagem de aumento ou redução das tarifas, o ad valorem, como é caso de mercadorias de alto valor. • Tarifa de sobretaxa – aplicada para cargas que apresentem dificuldade para manipulação, como cargas de medidas extraordinárias ou volumes de peso excessivo. 2.3 Formas de pagamento No modal aéreo, duas formas de pagamento são aceitas: • Frete pré-pago (freight prepaid) – o pagamento do frete é realizado no ponto de embarque, normalmente quando a condição de venda é CIF ou CFR. • Frete a pagar (freight collect) – quando o pagamento do frete pode ocorrer em qualquer lugar, em geral no destino. TEMA 3 – ÓRGÃOS REGULADORES E GESTORES DO TRANSPORTE AÉREO O modal aéreo é um dos mais restritivos, entre os existentes. Neste terceiro tema, conheceremos os órgãos e gestores responsáveis pela garantia, segurança e diretrizes deste modal. 10 Entre os órgãos internacionais destacamos a IATA e ICAO. A nível nacional, a ANAC e INFRAERO, ambas vinculadas ao Ministério da Infraestrutura. Para finalizar, analisaremos as diferenças entre uma companhia aérea e um agente de carga. Conhecer mais das responsabilidades de cada ente nos permitirá um maior entendimento acerca da dinâmica, dos interesses e normatizações que envolvem a navegação aérea. 3.1 IATA A IATA – International Air Transport Association (Associação Internacional de Transporte Aéreo) regulamenta o transporte aéreo no qual as empresas e os agentes de carga são filiados. Tem como principais funções: • Defender os interesses de seus representados; • Garantir segurança na prestação de serviços aéreos; • Estimular a colaboração entre as empresas de aviação civil; • Estabelecer tarifas de fretes uniformes entre as companhias associadas; • Tornar viáveis as rotas aéreas, garantindo a realização de um transporte regular no âmbito internacional. 3.2 ICAO A ICAO – Internacional Civil Aviation Organization (Organização da Aviação Civil Internacional) é uma agência especializada da ONU, criada pelos Estados em 1944 para gerenciar a administração e o governo da Convenção sobre Aviação Civil Internacional (Convenção de Chicago). A ICAO trabalha com os 193 Estados-membros da Convenção e grupos da indústria para chegar a um consenso sobre padrões e práticas internacionais de aviação civil e políticas em apoio ao setor de aviação civil seguro, eficiente, protegido, economicamente sustentável e ambientalmente responsável. É responsável, ainda, pela coordenação, assistência e capacitação dos Estados em apoio a vários objetivos de desenvolvimento da aviação; produz planos globais para coordenar o progresso estratégico multilateral em segurança e navegação aérea; monitora e relata inúmeras medidas de desempenho do setor de transporte aéreo; e audita as capacidades de supervisão da aviação civil dos Estados nas áreas de segurança e proteção. 11 3.2 ANAQ – Agência Nacional de Aviação Civil Foi instituída em 2005, com o propósito de regular e fiscalizar as atividades da aviação civil e a infraestrutura aeronáutica e aeroportuária no Brasil. É uma autarquia federal de regime especial e está vinculada ao Ministério da Infraestrutura. Entre as principais competências, destacam-se: • Representar o Brasil junto a organismos internacionais de aviação e negociar acordos e tratados sobre transporte aéreo internacional; • Emitir regras sobre segurança em área aeroportuária e a bordo de aeronaves civis; • Conceder, permitir ou autorizar a exploração de serviços aéreos e de infraestrutura aeroportuária; • Estabelecer o regime tarifário da exploração da infraestrutura aeroportuária; • Autorizar, regular e fiscalizar atividades de aeroclubes, escolas e cursos de aviação civil. 3.3 INFRAERO A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO) é uma empresa pública instituída nos termos da Lei n. 5.862, de 12 de dezembro de 1972, sob vinculação do Ministério da Infraestrutura. Tem por finalidade implantar, administrar, operar e explorar industrial e comercialmente a infraestrutura aeroportuária e de apoio à navegação aérea, prestar consultoria e assessoramento em suas áreas de atuação e na construção de aeroportos, bem como realizar quaisquer atividades, correlatas ou afins, que lhe forem conferidas pelo ministério supervisor. 3.4 Companhias aéreas São empresas de transporte aéreo autorizadas pelas autoridades de seu país de origem a operar o transporte de cargas e passageiros,de caráter regular ou não, de acordo com as normas internacionais, com aeronaves devidamente registradas e capacitadas para o tráfego aéreo. 12 Neste âmbito, existem empresas que se unem em alianças aéreas para aumentar sua competitividade com a redução de custos e compartilhamento ou partilha de voos. Essas empresas necessitam da concessão de rotas ou linhas aéreas por parte dos governos dos países nos quais seus aviões sobrevoem. 3.5 Agentes de carga O agente de carga é o intermediário entre a companhia aérea e os embarcadores, não sendo comum que os embarques aéreos sejam fechados pelos embarcadores diretamente com as companhias aéreas. O agente de carga é de grande utilidade, pois sua expertise em operações de importação e exportação permite que ele analise as demandas de seus clientes indicando as melhores rotas, disponibilidade de espaço em aeronaves, fretes etc. Por negociarem grandes volumes de cargas junto às companhias aéreas, por meio da consolidação de cargas, conseguem redução nas tarifas de frete. Parte de sua receita é auferida a partir de um percentual do frete e de taxas expedientes cobradas dos embarcadores. No que diz respeito à documentação, possuem seus próprios conhecimentos de carga aérea (HAWB) e são autorizados a emiti-los a partir dos MAWBs das empresas aéreas, nos embarques consolidados. TEMA 4 – TRANSPORTE DE CARGAS PERIGOSAS O modal aeroviário permite o transporte de todos os tipos de carga, salvo em casos em que o material transportado possa oferecer risco à aeronave, tripulantes, passageiros ou responsáveis pelo manuseio. É para a preservação de vidas que esse modal impõe restrições muito severas no que diz respeito às cargas perigosas. De acordo com a UNECE – Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa –, as mercadorias perigosas estão sujeitas a regulamentos de transporte, local de trabalho, armazenamento, proteção ao consumidor e ao meio ambiente, para evitar acidentes com pessoas, bens ou o meio ambiente, outros bens ou os meios de transporte empregados. Desta forma, antes de realizar um embarque aéreo, vale observar: 13 • É aconselhável procurar um agente de carga para orientação de como efetuar o embarque e verificar se o tipo de carga a ser embarcada é permitida neste modal. • Permitido o embarque, todos os volumes devem ser corretamente identificados, de modo que, quem as manipule possa ter o devido cuidado, de acordo com cada tipo de produto e grau de periculosidade. • Atentar ao fato de que, algumas mercadorias são muito perigosas para serem transportadas em aviões de passageiros ou mistos, podendo ser embarcadas somente em aviões cargueiros e em alguns casos com restrições de quantidade. • Todo transporte deverá ser acompanhado de uma ficha de emergência, contendo todas as informações sobre o produto para o correto manuseio e para algum atendimento na eventualidade de algum problema. 4.1 Cargas com restrições Existem alguns materiais/produtos que, historicamente, não são aprovados nesta modalidade de transporte. Dias (2012) destaca: • Armas e materiais de guerra; • Materiais que contenham resíduos infecciosos; • Animais vivos infectados; • Restos mortais humanos provenientes de doença infecciosa; • Espécies da fauna e flora silvestres que estejam em perigo de extinção; • Artigos capazes de comprometer a segurança da aeronave; • Artigos proibidos por leis ou regulamentos dos países de origem, trânsito ou destino. A avaliação de mercadorias perigosas só poderá ser feita por pessoas devidamente treinadas que possuem certificado válido que comprove terem sido aprovadas de forma satisfatória em Treinamento no Manuseio Sem Risco de Mercadorias Perigosas, emitido por empresa devidamente homologada pela IATA. 14 4.2 Classes de risco As mercadorias perigosas são classificadas pela ONU – Organização das Nações Unidas – em nove classes de risco, que, por sua vez, podem ser subdivididas devido à grande extensão de tipos de produtos e riscos envolvidos, conforme disposição apresentada no quadro a seguir. Quadro 1 – Classes de risco Classe 1 – Explosivos Crédito: Ody_Stocker/Shutterstock. Divisão 1.1 – São artigos e substâncias que possuem um risco de explosão de massa, isto é, uma explosão virtualmente instantânea de toda a carga. Divisão 1.2 – São artigos e substâncias que possuem um risco de projeção, mas não uma explosão de massa. Divisão 1.3 – Artigos e substâncias que possuem um risco de fogo, um risco pequeno de explosão ou um risco pequeno de projeção, mas não um risco de explosão de massa. Divisão 1.4 – Artigos ou substâncias que não apresentam risco significante. Divisão 1.5 – Substâncias muito pouco sensíveis que possuem um risco de explosão de massa. Divisão 1.6 - Artigos muito pouco sensíveis que não possuem um risco de explosão de massa. Classe 2 – Gases 15 Crédito: Infinetsoft/Shutterstock. Divisão 2.1 – Gases Inflamáveis. Divisão 2.2 – Gases não inflamáveis e não tóxicos. Divisão 2.3 – Gases Tóxicos. Classe 3 – Líquidos inflamáveis Crédito: Nicola Renna/Shutterstock. Esta classe não possui divisões. Classe 4 – Sólidos Inflamáveis, substâncias passíveis de combustão espontânea, substâncias que, em contato com a água, emitem gases inflamáveis Crédito: Infinetsoft/Shutterstock. Divisão 4.1 – Sólidos inflamáveis. Divisão 4.2 – Substâncias passíveis de combustão espontânea. Divisão 4.3 - Substâncias que, em contato com a água, emitem gases inflamáveis. Classe 5 - Substâncias oxidantes e peróxidos orgânicos 16 Crédito: Ody_Stocker/Shutterstock. Divisão 5.1 – Oxidantes. Divisão 5.2 – Peróxidos orgânicos. Classe 6 – Substâncias tóxicas e infecciosas Crédito: Infinetsoft/Shutterstock. Divisão 6.1 – Substâncias tóxicas. Divisão 6.2 – Substâncias infecciosas. Classe 7 – Material radioativo Crédito: Technicsorn Stocker/Shutterstock. Esta classe não possui divisões. Classe 8 – Corrosivos 17 Crédito: Ody_Stocker/Shutterstock. Esta classe não possui divisões. Classe 9 – Miscelâneas Crédito: Medicalstocks/Shutterstock. Esta classe não possui divisões. Fonte: Regulamento Brasileiro da Aviação Civil – Rbac n. 175 – Emenda n. 1, 2018. No que diz respeito às embalagens utilizadas no transporte de artigos perigosos em aeronaves civis brasileiras ou estrangeiras com origem, trânsito, destino e até mesmo sobrevoo em território brasileiro, devem cumprir todas as Instruções Técnicas para o Transporte Seguro de Artigos Perigosos pelo Modal Aéreo contidas nos manuais da Organização da Aviação Civil Internacional – OACI e da Associação Internacional de Transportes Aéreos – IATA – ou regulamento equivalente vigente reconhecido e utilizado nacional e internacionalmente. Para os fins de embalagem, os números do Grupo de Embalagem I, II e III são atribuídos aos artigos perigosos, exceto aos das Classes 1, 2 e 7 e aos das divisões 5.2 e 6.2, de acordo com o grau relativo de perigo apresentado pelo artigo ou substância, como segue: Figura 3 – Grupos de embalagem 18 TEMA 5 – TRANSPORTE DUTOVIÁRIO O modal dutoviário utiliza dutos ou tubulações para movimentação de produtos líquidos, gasosos além de minérios. De acordo com Razzolini Filho (2012), são sistemas de tubulações, bombas, equipamentos de controle e sistemas computacionais utilizados para movimentar diferentes tipos de produtos, entre cidades, refinarias e bases de distribuição. Entre as principais vantagens deste modal estão: • Com relação ao tempo de trânsito, o transporte dutoviário é o mais confiável, pois existem poucas interrupções que podem causar variabilidade no tempo em entrega; • Perdas e danos não são muito comuns nesse tipo de transporte; • O perigo em operações dutoviárias é limitado; • Os fatores meteorológicos não são significativose as bombas são equipamentos altamente confiáveis. No entanto, este oferece um rol limitado de serviços e capacidade, sendo petróleo e derivados os principais produtos que tem movimentação economicamente viável por dutos e apesar de sua movimentação ser lenta é contrabalançada pelo fato de operar ininterruptamente 24 horas por dia. 5.1 Tipos de dutos 19 Segundo a localização de construção dos dutos, eles podem ser divididos em quatro tipos. Figura 4 – Dutos Crédito: Bild Llc/Shutterstock. Dutos subterrâneos: dutos não visíveis, localizados abaixo da terra. Enterrados de forma a serem mais protegidos contra intempéries e acidentes provocados por outros veículos e vandalismo. Os dutos enterrados estão mais seguros em caso de rupturas ou vazamentos do material transportado devido à grande camada de terra que os envolve. Figura 5 – Dutos subterrâneos Crédito: Vladimir Mulder/Shutterstock. 20 Dutos aparentes: dutos visíveis, encontrados geralmente na chegada e saída de estações de bombeio, nas estações de carregamento e descarregamento e nas estações de lançamento/recebimento. Figura 6 – Dutos aparentes Crédito: Industryviews/Shutterstock. Dutos aéreos: são aqueles colocados bem acima do solo, construídos suspensos no ar nos terrenos que apresentam relevo acidentado, necessários para vencer grandes vales, cursos d’água, pântanos ou terrenos muito acidentados. Figura 7 – Dutos aéreos Crédito: Anita Warren-Hampson/Shutterstock. 21 Dutos submarinos: a maior parte da tubulação está submersa no fundo do mar. São utilizados para o transporte da produção de petróleo das plataformas marítimas para as refinarias ou tanques de armazenagem situados em terra. Figura 8 – Dutos submarinos Crédito: Ksanawo/Shutterstock. 5.2 Classificação Dependendo da substância ou tipo de produto transportado, os dutos podem são classificados em: • Carbodutos – transporte de carvão mineral. • Gasodutos – transporte de gases, como gás natural e dióxido de carbono. • Oleodutos – transporte de substâncias derivadas e não derivadas do petróleo, tais como: combustível, gasolina, álcool, dos terminais marítimos às refinarias ou centros de distribuição. Funcionam por meio de um sistema de bombeamento. Para facilitar a vazão durante o transporte, cada tipo de produto é mantido aquecido a uma temperatura compatível com as suas características físicas (densidade, viscosidade, ponto de fulgor etc.). 22 • Minerodutos – transporte de minérios, por exemplo, minério de ferro, diesel, querosene, cimento e sal-gemas. O transporte é realizado entre as regiões produtoras e as usinas siderúrgicas ou terminais portuários. Aproveitam as diferenças de altitudes existentes no trajeto e funcionam por um jato de água contínuo, em alta pressão. A espessura das paredes do duto é dimensionada em função da granulometria do minério, para que não ocorram rupturas ao longo da linha de transporte. • Polidutos – destinados ao transporte de produtos diversos, tais como: água, cerveja, vinho, que se mantém separados por suas características físico químicas ou por equipamentos especialmente projetados para este fim. 5.2 Transporte dutoviário internacional brasileiro No que tange ao transporte dutoviário internacional brasileiro, o gasoduto Bolívia-Brasil ganha destaque. Com 2.593 quilômetros de extensão, o trecho boliviano tem início na localidade boliviana de Rio Grande, 40 quilômetros ao Sul de Santa Cruz de la Sierra e se estende por 557 km até Porto Suarez, na fronteira com o Brasil. No trecho brasileiro, ao cruzar a fronteira, o Gasoduto entra em solo brasileiro pelo município de Corumbá (MS), atravessando cerca de 5 mil propriedades em 136 municípios distribuídos pelos estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. E, assim, fechamos nossa aula, perfazendo o caminho do conhecimento nos cinco modais de cargas existentes e possíveis de utilização no transporte internacional. TROCANDO IDEIAS Vimos em nossa aula que o modal aeroviário é altamente restritivo no que diz respeito a cargas perigosas. É válido lembrar que tais restrições valem tanto para o transporte de carga quando para bagagem de mão e àquela despachada dos passageiros, uma vez que esses artigos perigosos podem colocar em risco a saúde e a segurança de todos. Portanto, assim como devemos consultar os agentes de cargas antes de embarcar uma carga contendo produtos perigosos, como passageiros, devemos ler sempre os manuais das companhias aéreas que falam sobre isso. 23 Pesquise e troque ideia com seus colegas a respeito de quais são as cargas perigosas proibidas e carga perigosa oculta proibidas em voos full pax e Combi. NA PRÁTICA Resolva a questão proposta a seguir. As respostas estão ao final deste documento. 1) Uma empresa de eletrônicos pretende realizar o embarque aéreo dos volumes abaixo descritos. Mercadorias diversas e consolidadas em um único MAWB. 98 caixas Peso líquido total 882 kg Peso bruto total 1.078kg Volume: 4.0 m³ a) Calcule o peso cubado deste embarque. b) Considerando o escalonamento de tarifas de frete a seguir, indique qual o valor do frete a ser pago por esse embarque. Frete por kg US$ 2.40 até 45kg US$ 2.19 entre 45 e 100kg US$ 1.98 entre 100 e 300kg US$ 1.77 entre 300 e 500kg US$ 1.56 a partir de 500kg 24 FINALIZANDO Nesta aula, abordamos os pontos mais relevantes dos modais aeroviário e dutoviário. Nosso primeiro tema nos trouxe uma visão geral do modal aeroviário em que pudemos conhecer os diferentes tipos de aeronaves, de acordo com o tipo de uso e os tipos de conhecimento de embarque aéreo, MAWB e HAWB com a descrição das principais informações que devem constar neste documento. Na sequência, abordamos o cálculo de cubagem do modal aéreo e pudemos perceber que existem diferentes tipos de cobrança de frete, sendo a consolidação de cargas um modo viável de redução de custos. Nosso terceiro tema nos permitiu conhecer os entes responsáveis pela normatização deste modal, bem como as diferenças entre companhias aéreas e agentes de carga. Seguimos abordando um ponto crucial de atenção, o transporte de cargas perigosas, conhecemos os tipos de cargas mais restritivas e as nove classes de risco. Por fim, estudamos o modal dutoviário no qual pudemos conhecer os diferentes tipos e classificações deste modal e descobrir que no transporte internacional brasileiro este modal é utilizado para o transporte de gás da Bolívia para Brasil. Nossas próximas aulas abordarão os INCOTERMS 2020. Venha conosco e descubra quais foram as mudanças que tivemos nesta última revisão em relação à versão de 2010. 25 REFERÊNCIAS ABEAR. Panorama 2018: o setor aéreo em dados e análises. Disponível em: <https://www.abear.com.br/wp-content/uploads/2019/12/Panorama2018.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2020. ANAC. Institucional. Disponível em: <https://www.anac.gov.br/acesso-a- informacao/institucional>. Acesso em: 2 jun. 2020. ANAC. Transporte de artigos perigosos em aeronaves civis. Regulamento Brasileiro da Aviação Civil – Rbac n. 175 – Emenda n. 1, 2018. DIAS, M. A. Logística, transporte e infraestrutura. São Paulo: Editora Atlas S.A, 2012. ICAO. About ICAO. Disponível em: <https://www.icao.int/about- icao/Pages/default.aspx>. Acesso em: 2 jun. 2020. INFRAERO Aeroportos. Relatório de Gestão de 2017. Disponível em: <http://www4.infraero.gov.br/media/676901/rel_gestao_sedecap201904033a.pd f>. Acesso em: 2 jun. 2020. RAZZOLINI FILHO, E. Transporte e modais: com suporte de TI e SI. Curitiba: InterSaberes, 2012. TGB. Traçado. Disponível em: <http://www.tbg.com.br/pt_br/o- gasoduto/tracado.htm>. Acesso em: 2 jun. 2020. UNECE. Dangerous Goods. Disponível em: <https://www.unece.org/fr/trans/danger/danger.html>. Acessoem: 2 jun. 2020. 26 GABARITO a) Considerando que no exercício o volume já foi dado, não há necessidade de realizar o cálculo da cubagem multiplicando as três dimensões (L X A x C). Desta forma, devemos considerar a divisão do volume total por 0,006 (cálculo da cubagem para o modal aéreo). Sendo assim, teremos: • Volume: 4,0m³ / 0,006 = 666,666 Portanto, o peso cubado neste embarque será de 666,666 kg cubados. b) Relembrando a regra de que o frete será pago sempre pelo que for maior, ou peso bruto ou cubado, neste caso, nosso maior peso é o bruto de 1.078kg. Considerando tratar-se de uma carga de 1.078 kg, a tarifa utilizada será do enquadramento >>> US$ 1.56 a partir de 500 kg. Para que possamos saber o valor do frete a ser pago, bastará multiplicar o peso da carga pela tarifa por quilo. Assim, teremos: • Peso bruto 1.078 kg x US$ 1.56 = US$ 1.681,68 • Portanto, o frete deste embarque seria de US$ 1.681,68.