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CIÊNCIAS NATURAIS – FUNDAMENTOS E METODOLOGIAS NA EDUCAÇÃO BÁSICA AULA 4 Profª Kelly Aguiar 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, serão abordados conceitos e contextos relacionados ao eixo Vida e Evolução do componente curricular Ciências nos anos iniciais do ensino fundamental, conforme proposta da Base Nacional Comum Curricular (doravante BNCC), em consonância com as relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS). TEMA 1 – A VIDA COMO FENÔMENO NATURAL E SOCIAL Com base nos estudos das aulas anteriores sobre alfabetização científica, metodologias e a relação com a nova BNCC, estamos avançando no aprofundamento dos eixos temáticos, conhecidos por unidades na BNCC. Nesta aula, vamos explorar a unidade temática Vida e Evolução, contemplando a valorização da biodiversidade pelo reconhecimento da vida como fenômeno natural e social, ampliando a visão sobre os ecossistemas e suas interações (incluindo os seres humanos) e compreendendo os processos evolutivos que resultaram na riqueza e diversidade de vida no planeta Terra (Brasil, 2017). A evolução, pelo conceito biológico, é um processo de modificações nos seres vivos ao longo do tempo. Isto significa que a biodiversidade que conhecemos hoje é o resultado dessas mudanças contínuas, as quais permitem a adaptação das espécies ao ambiente. Um ambiente que vai se tornando mais seco ao longo do tempo geológico, por exemplo, possibilitará a sobrevivência de espécies que possuam características mais resistentes à dessecação e que, consequentemente, tenham sucesso reprodutivo. A teoria evolucionista tem como base os estudos de Charles Darwin e Alfred Russel Wallace. De acordo com esse pensamento, o mecanismo da seleção natural permite que as espécies que possuam características mais aptas tenham sucesso em determinado ambiente, considerando que todos os seres vivos descendem de um ancestral comum. Mas como foi possível que os cientistas confirmassem essa teoria? Os estudos geológicos e paleontológicos permitiram encontrar evidências da evolução biológica por meio dos registros fósseis. Além disso, a análise dos ecossistemas, a qual permite identificar as interações, a interdependência e a adaptação dos seres vivos aos seus ambientes, bem como as semelhanças e 3 diferenças entre as espécies, dá origem a pesquisas importantes para a compreensão da biodiversidade atual. Somos o resultado do processo evolutivo. Nesse contexto, os conteúdos ou objetos de conhecimento (termo utilizado na BNCC) relacionados aos estudos sobre Vida e Evolução no ensino fundamental I (primeiro ao quinto ano) abordam questões intrínsecas à compreensão da importância de se preservar a biodiversidade por meio de investigações sobre: os seres vivos e suas adaptações aos ambientes, as características de animais, plantas e microrganismos, as cadeias alimentares, o conhecimento sobre o corpo humano, a integração entre seus sistemas e o respeito à diversidade. Portanto, é fundamental que os estudantes compreendam os fatores que influenciam a manutenção ou o impacto aos ecossistemas, valorizem a preservação da biodiversidade em cada bioma, em especial os nacionais, garantindo os serviços ambientais e tomem decisões conscientes de justiça socioambiental, concernentes ao enfoque CTS. TEMA 2 – CONHECER O CORPO HUMANO E RESPEITAR AS DIFERENÇAS NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL No início do processo de alfabetização, os estudantes podem ser instigados a entender o modo de pensar da Ciência, em cenários educativos e situações de ensino e aprendizagem focadas na alfabetização científica, desenvolvendo competências para que suas decisões sejam tomadas de forma a considerar as relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade. No primeiro ano do ensino fundamental, os professores podem selecionar estratégias que incentivem os estudantes a realizar registros por meio de desenhos e a comunicar suas aprendizagens oralmente, ampliando o vocabulário e percebendo quais argumentos fazem parte do arcabouço científico para explicar a complexidade da vida. Nessa etapa, a BNCC (Brasil, 2017) destaca o trabalho com o reconhecimento do próprio corpo humano, sua representação gráfica, suas partes e funções básicas, como elementos essenciais para conectar as mudanças físicas ao longo do crescimento às transformações sociais pelas quais passam as diferentes fases do desenvolvimento humano. Outra habilidade essencial para os estudantes do primeiro ano é compreender os motivos pelos quais as decisões de cuidados de higiene estão 4 relacionadas à manutenção da qualidade de vida. Os estudantes devem ser capazes de associar a lavagem correta das mãos, o uso de máscaras e o distanciamento social às medidas preventivas para evitar doenças virais como o coronavírus. Com base na observação, os estudantes podem ser estimulados a comparar características físicas individuais e de etnias diferentes, percebendo a diversidade humana e a importância de se respeitar e valorizar as semelhanças e diferenças para um convívio social sadio. Considerando a integração entre aspectos cognitivos e afetivos, Seniciato e Cavassan (2008) incentivam a interação dos alunos com o mundo em que vivem a fim de obter uma educação científica para a vida. Assim, é importante pensar em aulas em ambientes naturais, em espaços que instiguem a curiosidade, motivem para a pesquisa e promovam o processo investigativo. TEMA 3 – O ESTUDO DE PLANTAS E ANIMAIS NO SEGUNDO E NO TERCEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL No segundo e no terceiro ano do ensino fundamental, os estudantes estão aprimorando suas ideias com base na observação e estabelecimento de hipóteses para explicar os acontecimentos e fenômenos do cotidiano. A investigação, nessa fase, está intimamente relacionada ao aperfeiçoamento da “nova leitura e interpretação de mundo”, com os instrumentos da Ciência. A BNCC aborda a investigação das características de plantas e animais e as suas respectivas adaptações aos seus ambientes nesse momento do ciclo de aprendizagem, por meio da percepção das regularidades e padrões apresentados, permitindo que os estudantes consigam elaborar interpretações com base em argumentos. Uma boa estratégia é o trabalho com a ludicidade, por exemplo. Por meio da construção de jogos e modelos didáticos, é possível comparar e classificar grupos de animais e plantas com base em suas características externas, modo de vida (nicho ecológico) e habitat. A investigação dos estudantes pode ser aprofundada com estudos da Paleontologia (estudo dos fósseis) e da Geologia (estudo da Terra e suas modificações) com o intuito de fortalecer a história da Ciência, a fim de se compreender como o ser humano conseguiu encontrar respostas sobre a biodiversidade atual pesquisando os processos evolutivos ao longo do tempo. 5 No segundo ano do ensino fundamental, há um aprofundamento maior sobre os conhecimentos das plantas, compreendendo questões sobre os fatores que influenciam sua sobrevivência, suas partes e funções. Uma das habilidades evidenciadas é o reconhecimento do papel das plantas no equilíbrio dos ecossistemas e manutenção de serviços ambientais essenciais, como a proteção dos mananciais pelas florestas preservadas. No terceiro ano do ensino fundamental, a ampliação científica ocorre com os estudos sobre os animais e suas relações com seus respectivos biomas, relatando o processo de desenvolvimento desses seres vivos, desde o seu nascimento. Assim, os estudantes têm a possibilidade de compreender como a adaptação dos seres vivos ao ambiente é fator fundamental para a sobrevivência. Para articular a alfabetização científica e tecnológica, é possível utilizar diferentes linguagens, como vídeos e textos científicos. O professor pode realizar com os alunos pesquisas na internet e demaismídias, como a revista Ciência Hoje das Crianças, para a construção de um guia de animais e plantas da região, contemplando entrevistas com moradores locais, colagens de fotos, desenhos e pequenos textos, em uma abordagem de ensino híbrido por rotação de estações (Bacich; Neto; Trevisani, 2015). TEMA 4 – CADEIAS ALIMENTARES E O PAPEL DOS MICRO-ORGANISMOS NO QUARTO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Luckmann e Nobre (2019) identificaram que estudantes dos anos finais do ensino fundamental apresentaram conhecimentos incipientes sobre a evolução biológica, caracterizando-a apenas como mudanças para melhoria dos seres vivos. Também citaram os seres humanos como seres vivos separados da categoria dos animais. Dessa forma, é possível inferir que há necessidade de se trabalhar os conhecimentos sobre a vida como fenômeno influenciado pela evolução ainda nos anos iniciais, para que seja possível aprofundar a temática nos anos finais como preconiza a BNCC. Nesse âmbito, os estudantes do quarto ano do ensino fundamental são estimulados a analisar as cadeias alimentares e a atuação dos microrganismos em processos biotecnológicos e na dinâmica de doenças. Esses conteúdos porporcionam um contexto importante para o desenvolvimento de habilidades voltadas à compreensão e comunicação sobre o funcionamento dos 6 ecossistemas, fatores e mecanismos que influenciam a sobrevivência das espécies. Os professores podem auxiliar na investigação dos estudantes realizando a curadoria, na qual selecionam informações que possibilitem reconhecer as interações entre os seres vivos e desses com os fatores abióticos nos ecossistemas. Esse trabalho pedagógico envolve metodologias mais ativas para promover a reflexão e a valorização da condição, especial e única, da biodiversidade e, principalmente, de ações mais cidadãs frente às tomadas de decisão por parte dos estudantes. De acordo com a BNCC (Brasil, 2017), os estudantes do quarto ano do ensino fundamental podem desenvolver habilidades concernentes à compreensão dos elementos das cadeias alimentares, reconhecendo o sol como fonte de energia e analisando o ciclo da matéria e o fluxo de energia de um ecossistema. É importante que os professores selecionem estratégias experimentais para observação e interpretação dos processos de decomposição, incentivando que os estudantes registrem mudanças em função da ação de fungos e bactérias, estabelecendo a conexão entre soluções tecnológicas para os problemas relacionados à gestão de resíduos. A biotecnologia também é destaque nessa etapa, já que é possível avaliar a função dos microrganismos na indústria de alimentos, medicamentos, combustíveis e demais produtos e processos tecnológicos que podem beneficiar a humanidade. Por fim, os estudantes podem propor medidas preventivas em função da análise sobre as formas de transmissão de doenças relacionadas a microrganismos, bem como dar exemplos de cuidados de higiene, vacinas e ações públicas essenciais para promoção da saúde individual e coletiva, como o direito de acesso à alimentação saudável, controle de vetores de doenças e saneamento básico. TEMA 5 – A INTEGRAÇÃO DO CORPO HUMANO NO QUINTO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Na unidade Vida e Evolução, os estudantes do quinto ano do ensino fundamental são instigados a aprofundar os estudos sobre o corpo humano, investigando como os sistemas são integrados no processo de nutrição do 7 organismo. Trata-se de reconhecer os sistemas digestório, respiratório e circulatório como elos de um processo físico e químico para o metabolismo do corpo (Brasil, 2017). As habilidades necessárias nessa fase incluem compreender o papel de cada parte para o funcionamento do todo e justificar a importância da distribuição de nutrientes no sangue aliado ao processo de eliminação de resíduos pelo sistema excretor. Os hábitos alimentares também são explorados no quinto ano pela classificação dos grupos alimentares e comparação de dietas em função do modo de vida das populações, fatores sociais e das necessidades para a qualidade de vida. Além disso, é fundamental debater a influência da mídia sobre o comportamento alimentar e os hábitos de consumo de alimentos, bem como reconhecer os distúrbios alimentares que afetam a saúde. Os professores podem trabalhar de forma interdisciplinar e promover a análise e discussão, por exemplo, em Ciências, Educação Física, História, Língua Portuguesa e Matemática sobre os dados de saúde da população brasileira e em especial dos estudantes da região para que reflitam sobre a necessidade de tomada de decisão em favor da saúde, por meio das escolhas alimentares, práticas de exercícios físicos, bem-estar familiar e convívio ético e harmonioso em diferentes contextos de vida das pessoas. As relações CTS nesse contexto permitem pesquisar as diferenças nas condições de acesso à saúde das pessoas, realizar entrevistas, compilação de dados, promover seminários e debater como as políticas públicas podem contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. NA PRÁTICA Para estimular a participação dos estudantes, você os convidou para um passeio utilizando óculos de realidade virtual. De forma rotativa, os estudantes puderam vivenciar uma visita científica à Floresta Amazônica, um dos biomas mais importantes para o sequestro de carbono (biomassa concentrada nos troncos das grandes árvores) e diminuição dos efeitos das mudanças climáticas do planeta, responsável pela manutenção de condições ambientais como os famosos “rios voadores” que abastecem de chuvas as Regiões Sudeste e Sul do Brasil. 8 Eles perceberam a exuberância da floresta com suas inúmeras espécies vegetais e diversas espécies animais. Fizeram pesquisas complementares e registraram em um mural coletivo todas as informações relevantes sobre a vida nesse bioma. Você trouxe para eles explorarem a revista Ciência Hoje das Crianças n. 316, de novembro de 2020, e solicitou que eles realizassem a leitura coletiva do artigo: “Florestas vazias?!”. Posteriormente, você realizou a leitura de partes importantes do artigo e auxiliou ou estudantes a interpretarem as informações do texto, por meio de estratégias de leitura e incentivo à argumentação científica. Após as reflexões, você pode solicitar que os estudantes registrem por meio de desenhos e texto como seria uma floresta cujos animais tivessem sido extintos, privilegiando os estudos que realizaram sobre os ecossistemas, cadeias alimentares e adaptação dos seres vivos aos ambientes. Esse tempo para reflexão e comunicação é fundamental para que os estudantes compreendam a importância da manutenção das florestas para a qualidade de vida socioambiental. Para que você aprofunde seus conhecimentos, busque informações sobre a Floresta Amazônica e organize um mural de curadoria. Visite o site: <https://wakelet.com/>, faça seu cadastro e compile toda a sua pesquisa, utilizando vídeos, podcasts, imagens, reportagens, textos de blogs especializados, artigos científicos e compartilhe com seus colegas e estudantes. Seria importante que você também fizesse seu vídeo para promover as aprendizagens que construiu e destacasse a relação interdependente dos seres vivos com o ambiente, que também inclui os seres humanos, afinal, somos resultado dos serviços ambientais que a natureza nos proporciona. FINALIZANDO Nesta aula, exploramos a unidade Vida e Evolução nos anos iniciais (primeiro ao quinto ano) do ensino fundamental, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades essenciais para a compreensão da dinâmica da vida como fenômeno natural e social influenciada pelos mecanismos da evolução. 9 No primeiro ano, as habilidades selecionadas na BNCC versaram sobre o reconhecimento das características do próprio corpo humano e as medidas de higiene, bem como o respeito às diferenças.No segundo e no terceiro ano, as regularidades e padrões observados na relação entre animais e plantas com os ecossistemas são o foco e possibilitam ampliar a visão dos estudantes sobre como a biodiversidade que observamos atualmente foi resultado da evolução. No quarto ano, o funcionamento dos ecossistemas é aprofundado por meio da compreensão das cadeias alimentares e do papel dos microrganismos na natureza. As relações CTS podem ser analisadas e discutidas de acordo com os estudos sobre a biotecnologia na produção industrial com a atuação dos microrganismos. Para o quinto ano, as habilidades a serem desenvolvidas versam sobre a relação entre os sistemas de nutrição do corpo humano, os fatores que influenciam escolhas e hábitos alimentares e a preocupação com o direito de acesso à saúde coletiva e individual. 10 REFERÊNCIAS BACICH, L.; NETO, A. T.; TREVISANI, F. de M. Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. In.: BACICH, L.; NETO, A. T.; TREVISANI, F. de M. (Orgs.). Ensino híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso Editora, 2015. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofi nal_site.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2021. LUCKMANN, C. B.; NOBRE, S. B. A evolução biológica na óptica de alunos do ensino fundamental. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. v. 4, n. 1, p. 113-125, jan. 2019. Disponível em: <https://www.nucleodoconhecimento.com.br/biologia/evolucao-biologica>. Acesso em: 25 fev 2021. SENICIATO, T.; CAVASSAN, O. Afetividade, motivação e construção de conhecimento científico. Ciências & Cognição. v. 13 (3): p. 120-136, on-line, dez. 2008. Disponível em: <http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v13_3/m318253.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2021.
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