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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS PRODUÇÃO DE FILME E COBERTURA ATIVA À BASE DE QUITOSANA E EXTRATO DE PRÓPOLIS PARA INIBIÇÃO DE MELANOSE EM CAMARÃO REFRIGERADO DOUGLAS ISFRAN Florianópolis 2022 DOUGLAS ISFRAN PRODUÇÃO DE FILME E COBERTURA ATIVA À BASE DE QUITOSANA E EXTRATO DE PRÓPOLIS PARA INIBIÇÃO DE MELANOSE EM CAMARÃO REFRIGERADO. Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Engenharia de Alimentos, do Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos do Centro Tecnológico da Universidade Federal de Santa Catarina apresentado como requisito para a obtenção do Título de Bacharel em Engenharia de Alimentos. Orientador: Prof. Dr. Germán Ayala Valencia Coorientador: Me. Wilson Daniel Caicedo Chacon Florianópolis 2022 Douglas Isfran PRODUÇÃO DE FILME E COBERTURA ATIVA À BASE DE QUITOSANA E EXTRATO DE PRÓPOLIS PARA INIBIÇÃO DE MELANOSE EM CAMARÃO REFRIGERADO Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para a obtenção do Título de “Bacharel em Engenharia de Alimentos” e aprovado em sua forma final pelo Curso de Engenharia de Alimentos Florianópolis, 03 de agosto de 2022. Banca Examinadora: Prof. Germán Ayala Valencia. Dr. Orientador Universidade Federal de Santa Catarina Douglas Isfran Acadêmico Prof. Alcilene Rodrigues Monteiro Fritz. Dra. Avaliadora Universidade Federal de Santa Catarina Maria Jaízia dos Santos Alves. Me. Avaliadora Universidade Federal de Santa Catarina AGRADECIMENTOS Agradeço à minha família, em especial meus pais, Cerlei e Pedro, aos meus irmãos Dejanir e Djalma, meus sobrinhos Letícia e Gustavo e meu primo Flávio por todo o carinho, apoio, incentivo e confiança durante todos esses anos. Agradeço ao meu orientador Prof. Gérman Ayala Valencia e ao Coorientador Wilson Caicedo Chacon pela dedicação, paciência, confiança e ensinamentos transmitidos. Agradeço aos meus amigos que torceram pelo meu sucesso, aos professores do Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos pelos conhecimentos transmitidos ao longo desses anos e a todos do LiEB que me acolheram durante o tempo de iniciação científica e do TCC. Agradeço a todos que de alguma forma participaram e colaboraram com essa pesquisa. Agradeço a Universidade Federal de Santa Catarina por ter me dado a oportunidade de realizar essa formação acadêmica e disponibilizar estrutura para a realização dessa pesquisa. Agradeço ao Laboratório de Camarões Marinhos (LCM/UFSC) pela doação dos camarões. Agradeço a todos os colegas que estiveram presentes durante essa jornada. E por último, um agradecimento especial a Dra. Denise Esteves Moritz pelo apoio, dedicação, confiança, ensinamentos e principalmente pela amizade ao longo de anos trabalhando juntos no LiEB, e ao Gabriel Coelho Leandro, pela parceria ao longo do curso. A vocês muito, muito obrigado... RESUMO O aumento da demanda dos consumidores por alimentos mais saudáveis, frescos e com um maior prazo de validade tem levado ao desenvolvimento de novas tecnologias para a manutenção da qualidade desses alimentos. Dentre elas, estão o desenvolvimento de filmes e coberturas ativas produzidos a partir de polímeros naturais, como a quitosana, e incorporados com agentes ativos. Este estudo teve como objetivo o desenvolvimento e caracterização de filmes e coberturas ativas a base de quitosana, aditivadas com extrato de própolis, visando a inibição da melanose em camarão refrigerado. Para isto, foram produzidos filmes e coberturas de quitosana incorporados com 0%; 5%; 10% e 20 % de extrato de própolis, sendo os filmes elaborados pela técnica de Casting e as coberturas. Também foram elaboradas coberturas de quitosana e própolis nas mesmas concentrações dos filmes e aplicadas em camarão refrigerado. Os resultados obtidos mostram que a adição do extrato de própolis nos filmes de quitosana causam repulsão entre as moléculas de quitosana, gerando um aumento de espessura do filme, uma diminuição da cristalinidade, diminuição da hidrofobicidade da molécula de quitosana e a obtenção de uma cor amarelo-esverdeada. A análise de FTIR indicou que não houve formação de novas ligações entre a quitosana e o extrato de própolis, mas sim, que as interações são feitas através de pontes de hidrogênio. Já as coberturas apresentaram uma tendência positiva na manutenção da qualidade dos camarões e uma leve superioridade ao tratamento com metabissulfito de sódio obtendo um pH final de 7,31±0,39 para os camarões revestidos com a cobertura de quitosana aditivada com 20% de extrato de própolis, valor este, que é inferior ao máximo estabelecido pela legislação brasileira (7,85), enquanto os camarões revestidos com metabissulfito apresentaram pH de 7,89±0,21, indicando que a cobertura ativa de própolis e quitosana pode ser um possível substituto aos sulfitos na preservação de camarões refrigerados e na redução ou inibição da melanose. Palavras-chave: biopolímeros, compostos ativos, conservação de alimentos, embalagens ABSTRACT The increase by consumer for healthier, fresh foods with a longer shelf life has led to the development of new technologies to maintain the quality of these foods. Among them are the development of films and active coatings produced from natural polymers, such as chitosan, and incorporated with active agents. This study aimed to develop and chracterize active films and coatings based on chitosan, added with propolis extract, aiming at inhibiting melanosis in refrigerated shrimp. For this, chitosan films form solution incorporated with 0%; 5%; 10% and 20% of propolis extract were produced by the Casting technique. Chitosan and propolis coatings were also prepared at the same concentrations as the films and applied on the refrigerated shrimp. The results obtained show that the addition of propolis extract to chitosan films causes repulsion between chitosan molecules, generating an increase in film thickness, a decrease in crystallinity, a decrease in the hydrophobicity of the chitosan molecule and obtaining a yellow color greenish. The FTIR analysis indicated that there was no formation of new bonds between chitosan and propolis extract, but that the interactions are made through hydrogen bonds. The coatings, on the other hand, showed a positive trend in maintaining the quality of the shrimp and a slight superiority to the treatment with sodium metabisulfite, obtaining a final pH of 7.31±0.39 for the shrimp coated with the chitosan coating added with 20% extract of propolis, which is lower than the maximum established by Brazilian legislation (7.85), while the shrimp coated with metabisulfite had a pH of 7.89±0.21, indicating that the active coverage of propolis and chitosan can be a possible substitute for sulfites in the preservation of refrigerated shrimp and in the reduction or inhibition of melanosis. Keywords: biopolymers, active compounds, food preservation, packaging LISTA DE FIGURAS Figura 1- Modelo de funções de embalagens ................................................................. 14 Figura 2 - Agentes ativos utilizados nos sistemas de embalagens ativas. ...................... 17 Figura 3 - Funcionamento de um sistema de embalagem ativa. ..................................... 18 Figura 4 - Tipos de biopolímeros ................................................................................... 20 Figura 5 - Estrutura química da quitosana,nD é o número de mols de unidades 2-amino- 2-desoxi-D- glicopiranose e nA é o número de mols de unidades 2-acetamido-2-desoxi- D-glicopiranose. ............................................................................................................. 21 Figura 6 - Classificação de compostos antioxidantes baseados no seu mecanismo de ação ................................................................................................................................. 24 Figura 7 - Formação de pontos pretos ou melaninas, ocasionando a melanose em camarão ........................................................................................................................... 30 Figura 8 - Formação da melanina ................................................................................... 31 Figura 9 - O papel dos sulfitos como agentes redutores na inibição enzimática, reduzindo os percursores de pigmentos (quinonas) a difenóis incolores e menos reativos ........................................................................................................................................ 32 Figura 10 - Fluxograma de etapas elaboradas neste trabalho ......................................... 37 Figura 11 - Colorímetro Delta Vista ............................................................................... 39 Figura 12 - Espaço de cor CIELab ................................................................................. 40 Figura 13 - Equipamento de Difração de Raio-X (DRX) ............................................... 41 Figura 14 - Equipamento de Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR) ................................................................................................................ 42 Figura 15 - Goniômetro .................................................................................................. 43 Figura 16 - Drenagem dos camarões após imersão nos tratamentos .............................. 44 Figura 17 - pHmetro ....................................................................................................... 45 Figura 18 - Difratograma Filmes (DRX) ........................................................................ 50 Figura 19 - Espectro FTIR de filme de quitosana contendo extrato de própolis. ........... 52 https://d.docs.live.net/2fdaabc3b96e1a50/Trabalho%20de%20Conclusão%20de%20Curso%20Douglas%202022.docx#_Toc108723694 https://d.docs.live.net/2fdaabc3b96e1a50/Trabalho%20de%20Conclusão%20de%20Curso%20Douglas%202022.docx#_Toc108723702 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Estudos utilizando extratos naturais para prevenção de melanose em camarão ........................................................................................................................................ 33 Tabela 2 - Tabela de interpretação do ΔE ...................................................................... 40 Tabela 3 - Dados de espessura e ângulo de contato para os filmes de quitosana incorporados com 0; 5; 10 e 20% de extrato de própolis ............................................... 47 Tabela 4 - Resultados análise colorimétrica ................................................................... 47 Tabela 5 - Interpretação do valor ΔE segundo Mokrzycki e Tatol (2012) ..................... 48 Tabela 6 - Perda de massa dos camarões refrigerados ................................................... 54 Tabela 7 - Dados de pH para todos os tratamentos em função do tempo de armazenamento ............................................................................................................... 55 Tabela 8 - Análise visual dos camarões refrigerados de acordo com o tratamento empregado e em função do tempo de armazenamento ................................................... 57 LISTA DE ABREVEATURA E SIGLAS µL: Microlitro Å: Angstrom ABCC: Associação Brasileira de Criadores de Camarão ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária ATR: Attenuated Total Reflectance (Refletância Total Atenuada) BOD: Biochemical Oxygen Demand (Demanda Bioquímica de Oxigênio) CMC: Carboximetilcelulose DRX: Difração de Raios-X DSC: Differential Scanning Calorimetry (Calorimetria Exploratória Diferencial) EDTA: Ethylenediamine Tetraacetic Acid (Ácido Etilenodiamino Tetra-acético EP: Extrato de Própolis EQA: Departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos FAO: Food and Agriculture Organization of the United Nations FTIR: Espectroscopia de Infravermelho por Transformada de Fourier g/g: Grama por grama kHz: Quilo-Hertz kV: Quilovoltagem LCM: Laboratório de Camarões Marinhos LiEB: Laboratório Integrado e Engenharia Biológica LINDEN: Laboratório Interdisciplinar para o Desenvolvimento de Nanoestruturas m/m: Massa por massa mA: Miliamperagem MAP: Modified Atmosphere Packaging (Embalagem de Atmosfera Modificada) MBS: Metabissulfito de Sódio p/v: Parte por volume PPO: Polifenoloxidase PPO: Polyphenol Oxidase (Polifenoloxidase) Q: Quitosana RPM: Rotações por minuto TPC: Contagens Totais de Placas Aeróbicas TVB-N: Nitrogênio Básico Volátil Total TVC: Total de Contagens Viáveis TVN: Nitrogênio Volátil Total UFSC: Universidade Federal de Santa Catarina UFSCAR: Universidade Federal de São Carlos UV: Ultravioleta v/v: Volume por volume ΔE: Diferença de Cor SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 10 1.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................... 13 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................. 13 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................ 14 2.1 EMBALAGENS ................................................................................................. 14 2.2 QUITOSANA ..................................................................................................... 19 2.3 AGENTES ANTIOXIDANTES......................................................................... 23 2.4 AGENTES ANTIMICROBIANOS ................................................................... 24 2.5 EXTRATO DE PRÓPOLIS ............................................................................... 25 2.6 MELANOSE EM CAMARÕES ........................................................................ 28 3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................ 37 3.1 MATERIAIS ...................................................................................................... 37 3.2 PRODUÇÃO DO EXTRATO DE PRÓPOLIS VERDE ................................... 38 3.3 PRODUÇÃO DO FILME ATIVO ..................................................................... 38 3.4 CARACTERIZAÇÃO DOS FILMES................................................................ 39 3.4.1 Espessura ........................................................................................................... 39 3.4.2 Análise de Cor ................................................................................................... 39 3.4.3 Difração de Raios-X – DRX ............................................................................. 40 3.4.4 Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier – FTIR . 41 3.4.5 Ângulo de contato ............................................................................................. 42 3.5 APLICAÇÃO DA COBERTURA ATIVA DE QUITOSANA INCORPORADA COM EXTRATO DE PRÓPOLIS EM CAMARÃO REFRIGERADO ........................ 43 3.5.1 Aquisição dos Camarões .................................................................................. 43 3.5.2 Tratamentos aplicados nos camarões .............................................................43 3.5.3 Análise Físico-Químicas ................................................................................... 44 3.5.4 Análise de Perda de Massa .............................................................................. 45 3.5.5 Análise visual .................................................................................................... 45 3.6 ESTATÍSTICA ................................................................................................... 45 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................... 46 4.1 ESPESSURA ...................................................................................................... 46 4.2 COR .................................................................................................................... 47 4.3 MOLHABILIDADE ........................................................................................... 49 4.3.1 Ângulo de Contato ............................................................................................ 49 4.4 DIFRAÇÃO DE RAIOS-X (DRX) .................................................................... 49 4.5 ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO COM TRANSFORMADA DE FOURIER - FTIR ........................................................................................................... 51 4.6 APLICAÇÃO ..................................................................................................... 53 4.6.1 Perda de Peso .................................................................................................... 53 4.6.2 pH ....................................................................................................................... 55 4.6.3 Análise Visual .................................................................................................... 57 5 CONCLUSÃO ................................................................................................... 60 6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .......................................... 61 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 62 10 1 INTRODUÇÃO As embalagens desempenham um papel fundamental na indústria de alimentos (FONTOURA; CALIL; CALIL, 2016), pois além de acondicionar, proteger, comunicar e conferir conveniência (BRAGA; PERES, 2010), preservam a qualidade e segurança dos alimentos, atuando como barreira a contaminações físicas, químicas e microbiológicas que possam colocar em risco a saúde do consumidor e, ao cumprir essas funções, contribuem também para a diminuição do desperdício de alimentos (FONTOURA; CALIL; CALIL, 2016). Em geral, as embalagens são elaboradas de forma a atuarem como barreiras inertes, tendo como função principal proteger o produto embalado, sem interagir com ele (SANTANA et al., 2013). A demanda de consumidores por produtos mais frescos, naturais e com alto valor nutritivo (DOMÍNGUEZ et al., 2018), aliados a um maior prazo de validade e conveniência (MAJID et al., 2016), fez com que as indústrias de embalagens juntamente com centros de pesquisas e universidades invistam cada vez mais em novas tecnologias, por exemplo, as embalagens ativas (FONTOURA; CALIL; CALIL, 2016). Uma vez que o aumento do consumo de plásticos ou polímeros de origem petroquímica resulta inevitavelmente em problemas socioeconômicos e ambientais, (FONTOURA; CALIL; CALIL, 2016), surge a demanda pela produção de embalagens a partir de materiais ambientalmente corretos, como os biopolímeros (MAJID et al., 2016) que podem ser obtidos a partir de fontes naturais renováveis como milho, celulose, batata, cana-de-açúcar, sintetizados por bactérias a partir de pequenas moléculas como ácido butírico ou ácido valérico, dando origem ao polihidroxibutirato e ao polihidroxibutirato-co-valerato, respectivamente, derivados de fonte animal, como a quinina, quitosana ou proteínas (LANDIM et al., 2016). Dentre os polímeros naturais, a quitosana, um amino polissacarídeo derivado da desacetilação da quitina, elemento que constitui a maior parte dos exoesqueletos dos insetos, crustáceos e da parede celular dos fungos (FREDDO et al., 2014), tem despertado grande interesse (MACIEL; FRANCO; YOSHIDA, 2012), pois é o segundo polímero natural mais abundante (DIAS, 2012), ficando atrás somente da celulose (SANTIAGO, 2016). Além disso, é biodegradável, provém de fontes renováveis e é capaz de formar filmes flexíveis e resistentes, com barreira eficiente a oxigênio, além de possuir atividade antimicrobiana (MACIEL; FRANCO; YOSHIDA, 2012), ser atóxica 11 (DIAS, 2012) e ser um excelente veículo para a incorporação de uma grande variedade de aditivos, tais como antioxidantes, antifúngicos, antimicrobianos, corantes e outros nutrientes (FREITAS, 2015). Sendo uma das fontes mais promissoras de compostos bioativos, a própolis (BOUCHELAGHEM, 2021) tem como constituintes mais importantes os flavonóides (flavonóis, flavonas e flavononas), compostos fenólicos e compostos aromáticos, que parecem ser os principais componentes responsáveis pelas suas atividades biológicas (SIRIPATRAWAN; VITCHAYAKITTI, 2016) e são conhecidos como ingredientes ativos antioxidantes e antimicrobianos (BOUCHELAGHEM, 2021), tornando-se um composto funcional em embalagens de alimentos (KHODAYARI, 2019). A própolis é uma substância resinosa natural (ARDJOUM, 2021; KHODAYARI, 2019; SIRIPATRAWAN; VITCHAYAKITTI, 2016) e quimicamente complexa (KHODAYARI, 2019; REYES; LANDGRAF; SOBRAL, 2021; BOUCHELAGHEM, 2021), coletada pelas abelhas Apis mellifera (ARDJOUM, 2021; BERTOTTO, 2022) e abelhas sem ferrão pertencentes à tribo Meliponini (SUREK, 2022) de várias partes de plantas (BERTOTTO, 2022) e árvores (IBRAHIM; ALQURASHI, 2022). A literatura mostra que a própolis possui várias atividades biológicas, incluindo propriedades antibacterianas, antifúngicas, antivirais, antioxidantes, antitumorais, antimutagênicas, anticancerígenas (SIRIPATRAWAN; VITCHAYAKITTI, 2016; BOUCHELAGHEM, 2021), antiprotozoárias (BOUCHELAGHEM, 2021) anti- inflamatórias (BERTOTTO, 2022; SIRIPATRAWAN; VITCHAYAKITTI, 2016), anestésicas (KHODAYARI, 2019), antibióticas (CORREA-PACHECO, 2019) e propriedades terapêuticas imunomoduladoras (BERTOTTO, 2022). Isso resultou no desenvolvimento de diversos medicamentos populares, formulações cosméticas e aditivos alimentares à base de própolis (BERTOTTO et al., 2022). Neste contexto, uma vez que a oxidação e contaminação microbiana são os principais fatores que afetam a qualidade e a segurança dos alimentos, estão sendo desenvolvidas embalagens a partir de materiais de base biológica com a inclusão de própolis no intuito de transferir suas propriedades antimicrobianas e antioxidantes para os alimentos com os quais as embalagens estão em contato (SIRIPATRAWAN; VITCHAYAKITTI, 2016). O camarão é um crustáceo altamente perecível (GONÇALVES; OLIVEIRA, 2016; CÉSAR, 2020), com uma vida útil limitada devido à deterioração microbiológica 12 e a melanose durante o seu armazenamento (YUAN et al., 2015). Devido a sua elevada atividade de água, composição química com alto teor de gordura insaturada e pH próximo à neutralidade, os camarões são os animais aquáticos mais propensos a sofrerem alterações oxidativas, hidrolíticas e/ou microbiológicas. O fato de possuir maior nível de aminoácidos livres do que os peixes e conter enzimas que quebram as proteínas rapidamente é outro aspecto que torna esses crustáceos alvos fáceis para o ataque da microbiota deteriorante (CÉSAR, 2020). A melanose, ou “mancha negra”, é uma das principais causas de perda de qualidade de camarões e consiste na formação de pigmentos escuros, acumulados principalmente no cefalotórax desses animais. Ainda que a melanose não cause danos à saúde dos consumidores, ela afeta as característicassensoriais do camarão, reduzindo a qualidade e consequentemente a vida útil desde alimento, podendo levar a perdas econômicas (NAGARAJAN et al., 2021; GONÇALVES; OLIVEIRA; ABRANTES, 2015; GONÇALVES; OLIVEIRA, 2016; CÉSAR, 2020). Desta forma, para evitar o aparecimento de manchas pretas abaixo da cutícula, adicionam-se, imediatamente após a captura, misturas de inibidores de melanose, principalmente aquelas baseadas em derivados de sulfitos (CÉSAR, 2020). O metabissulfito de sódio (MBS) (Na2S2O5) é o agente sulfitante mais utilizado em todo o mundo; normalmente logo após a despesca, os camarões são submetidos a choque térmico em solução de MBS, água e gelo (GONÇALVES; OLIVEIRA; ABRANTES, 2015; CÉSAR, 2020). Apesar da eficiência dos sulfitos na prevenção da melanose (GONÇALVES; OLIVEIRA; ABRANTES, 2015), seu uso em alimentos apresenta limitações por considerações como toxicidade, salubridade, efeito no paladar, sabor, textura e custo (GONÇALVES; OLIVEIRA, 2016), além de ser considerado responsável por ocasionar problemas de saúde em pessoas expostas a ele (GONÇALVES; OLIVEIRA; ABRANTES, 2015). Tendo em consideração a preservação da qualidade dos alimentos, a saúde do consumidor, os impactos ambientais causados pelo uso de aditivos químicos e embalagens de origem petroquímica e que na literatura não foi encontrado nenhum estudo que tenha produzido e aplicado coberturas à base de quitosana e compostos fenólicos da própolis como uma alternativa para o controle da melanose em camarões refrigerados, este estudo pretende responder ao seguinte problema de pesquisa: Quais os efeitos da própolis no desenvolvimento de filmes e coberturas ativos à base de quitosana na inibição de melanose em camarão refrigerado? 13 1.1 OBJETIVO GERAL Esse estudo visa atender ao seguinte objetivo geral: Desenvolver e caracterizar filmes e coberturas ativas à base de quitosana, adicionadas com extrato de própolis, visando à inibição de melanose em camarão refrigerado. 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Para alcançar o objetivo geral, foram definidos os seguintes objetivos específicos: a) Produzir filmes ativos a base de quitosana e extrato de própolis pela técnica de Casting; b) Analisar o efeito do extrato de própolis nas principais propriedades físicas e químicas dos filmes produzidos (efeitos da adição do extrato de própolis na matriz polimérica de quitosana); c) Aplicar as soluções à base de quitosana e extrato de própolis como coberturas em camarão refrigerado; d) Investigar os efeitos das coberturas de quitosana e extrato de própolis na alteração de perda de peso, pH e aspecto visual de camarão refrigerado durante o tempo de armazenamento. 14 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 EMBALAGENS No atual sistema econômico mundial as embalagens se fazem parte integrante e essencial, não sendo possível imaginar o mundo sem elas. Tendo estas um papel fundamental na indústria de alimentos em virtude das suas múltiplas funções (FONTOURA; CALIL; CALIL, 2016), que além de conter, proteger, comunicar e conferir conveniência (BRAGA; PERES, 2010), mantém a qualidade e segurança, atuando como barreira a contaminações físicas, químicas e microbiológicas que possam colocar em risco a saúde do consumidor, e ao cumprir essas funções contribuem também para a diminuição do desperdício de alimentos (FONTOURA; CALIL; CALIL, 2016). A figura 1 representa um modelo das funções desempenhadas por embalagens. Figura 1- Modelo de funções de embalagens Fonte: Yam, Takhistov e Miltz (2005). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA): Embalagens para alimentos - é o artigo que está em contato direto com alimentos, destinado a contê-los, desde a sua fabricação até a sua entrega ao consumidor, com a finalidade de protegê-los de agente externos, de alterações e de contaminações, assim como de adulterações (BRASIL, 2001a). As embalagens de produtos alimentícios são encontradas em diferentes tipos de materiais, como metal, plástico, vidro, papel, madeira, têxteis e cortiça (JORGE, 2013), sendo elas classificadas de acordo com a sua utilização em primárias, secundárias e terciárias. As embalagens primárias são as que estão em contato direto com o produto, as secundárias têm a função de agrupar, para facilitar a manipulação e a apresentação, podendo exercer também a função de proteger a embalagem primária, em seu interior, 15 evitando choques e vibrações excessivas, já as embalagens terciárias protegem a mercadoria durante as fases do transporte e assim por diante (LANDIM et al., 2016). Geralmente, os materiais para a elaboração de embalagens têm sido selecionados com o objetivo de possuir a menor interação com o produto que acondicionam. Diante disso, as embalagens atuam como barreiras inertes, com a função principal de proteger o produto embalado, sem interagir com ele (SANTANA et al., 2013). No entanto, com a demanda de consumidores por produtos mais frescos, naturais, com alto valor nutritivo (DOMÍNGUEZ et al., 2018), maior prazo de validade e conveniência (MAJID et al., 2016), aliados com a tendência moderna de práticas de varejo e mudanças de estilo de vida, são os incentivos para a evolução de novas embalagens sem comprometer as características de segurança e qualidade dos alimentos (DOMÍNGUEZ et al., 2018), ainda mais que em certos alimentos, o prazo de validade pode ser drasticamente reduzido se nenhum aditivo químico for adicionado (DOMÍNGUEZ et al., 2018). Pensando nisso, as indústrias de embalagens e centros de pesquisa/universidades têm investido cada vez mais em estudos de novas tecnologias, a fim de trazer melhorias, como: prolongar as características de qualidade do alimento; conferir melhor aparência; maior proteção mecânica no embarque, transporte, desembarque e nos supermercados; produtos mais próximos ao natural, combinar conveniência e praticidade; entre outras adaptações, a fim de atender as necessidades e desejos do consumidor. Algumas das inovações importantes na área de embalagens são: as embalagens ativas e inteligentes e os biopolímeros (FONTOURA; CALIL; CALIL, 2016). As mudanças emergentes na indústria de embalagens fortalecerão a economia melhorando a segurança alimentar, a qualidade e minimizando as perdas de produtos (MAJID et al., 2016). Yam, Takhistov e Miltz (2005) definiram embalagem inteligente “como um sistema de embalagem capaz de realizar funções inteligentes (como detectar, entender, registrar, rastrear, comunicar e aplicar lógica científica) para facilitar a tomada de decisões, para estender a vida útil, aumentar a segurança, melhorar a qualidade, fornecer informações e avisar sobre possíveis problemas”, ou seja, a embalagem inteligente fornece conhecimento sobre propriedades do alimento fechado e seu ambiente existente e ajuda a fornecer ideia básica para o varejista, cliente e fabricante sobre o estado dessas propriedades (MAJID et al., 2016). As duas funções importantes que a embalagem inteligente desempenha são as de monitorar as condições internas e externas, registrando as alterações ocorridas tanto 16 dentro quanto fora da embalagem, e de avaliar a qualidade do produto alimentício dentro do pacote, que envolve a associação intima da embalagem com o espaço livre ou alimento, exigindo assim, o uso de indicadores para a segurança e qualidade do item de alimento embalado (MAJID et al., 2016). Alguns indicadores utilizados são: os indicadores de tempo-temperatura, indicadores de qualidade, frescor e amadurecimento, indicadores de oxigênio, indicadores de violação, biossensores e etiquetas por rádio frequência (FONTOURA; CALIL; CALIL, 2016). As embalagens ativas são as embalagens contendo agentes ativos (VILELA et al., 2018), os quais interagem com o alimento embalado, mudando as condições do meio que o cerca (BRAGA; PERES, 2010), mantendo ou estendendoa sua qualidade ou o seu prazo de validade e assim contribuindo vigorosamente para a redução da deterioração, do desperdício de alimentos, do recall de alimentos e dos surtos de doenças transmitidas por alimentos (VILELA et al., 2018). Atualmente cresce o desenvolvimento de embalagens com compostos ativos que além de atuarem como barreira a agentes externos e de interagirem com o alimento na sua conservação, mantém a qualidade microbiológica e sensorial dos alimentos (FREITAS, 2015), fazendo isso, através da incorporação de agentes ativos na sua matriz polimérica e pela interação entre embalagem e alimento acondicionado (MAJID et al., 2016). Sendo assim, a embalagem ativa é utilizada como substituto das técnicas convencionais de processamento de alimentos (tratamentos térmicos elevados, salga, acidificação, desidratação e conservação aditiva) (MAJID et al., 2016). São exemplos de sistemas de embalagens ativas: sistemas enzimáticos, químicos e fotoquímicos de absorção de O2 e CO2, controladores dos níveis de etileno e de níveis de umidade; incorporadores de enzimas; absorvedores de odores e sabores desagradáveis; preservadores de cor; agentes antimicrobianos e antioxidantes, materiais que se autorresfriam ou autoaquecem entre outros (FONTOURA; CALIL; CALIL, 2016). Na Figura 2 são mostrados alguns agentes ativos utilizados nos sistemas de embalagens ativas. 17 Fonte: Vilela et al. (2018). Como visto na Figura 2, diferentes compostos podem ser incorporados aos filmes, visando conferir-lhes propriedades de barreiras específicas. Um dos principais sistemas são os filmes com ação antioxidante e antimicrobiana, que retardam ou diminuem o processo de oxidação do produto embalado, inibem o crescimento de microrganismos e são de grande importância para a indústria alimentícia e farmacêutica (MÜLLER, 2016). A degradação oxidativa é, após o crescimento microbiano, a principal causa de deterioração de alimentos (VILELA et al., 2018), pois é responsável pela produção de odores e sabores desagradáveis nos produtos, mudanças de textura e cor, devido à oxidação da mioglobina, o que influencia a escolha e aceitação do consumidor (DOMÍNGUEZ et al., 2018). No entanto, não apenas as alterações organolépticas são importantes durante o desenvolvimento da oxidação de lipídeos, mas também a formação de compostos tóxicos, tais como aldeídos (DOMÍNGUEZ et al., 2018) e a perda de valor nutricional causado pela degradação de ácidos graxos essenciais, proteínas e vitaminas lipossolúveis (VILELA et al., 2018). A oxidação lipídica limita o tempo de conservação de muitos alimentos, já que pode ocorrer em conteúdo de gordura de apenas 1% (ANDREO; JORGE, 2006). Então prevenção é economicamente importante e fundamental para a proteção da saúde humana (DEL RÉ; JORGE, 2012). Sendo a indústria da carne um exemplo claro da produção de alimentos com diferentes quantidades de gordura e um alto teor de ácidos graxos insaturados, além de serem produtos altamente perecíveis. Tendo isso em mente, é fácil entender que a oxidação lipídica poderia ser considerada como a principal causa da deterioração da qualidade em carnes e produtos derivados (DOMÍNGUEZ et al., 2018). Tornando assim, os antioxidantes como uma alternativa para prevenir ou minimizar deterioração oxidativa dos alimentos (DEL RÉ; JORGE, 2012). Figura 2 - Agentes ativos utilizados nos sistemas de embalagens ativas. 18 O desenvolvimento de embalagens com atividades antimicrobianas consiste principalmente na redução do teor de conservantes nos alimentos, pois ao invés dos aditivos serem adicionados diretamente no alimento, eles são adicionados na embalagem e liberados controladamente, em menores quantidades, e apenas onde sua presença é necessária, ou seja, na superfície do produto onde a maior parte das reações de deterioração acontecem (IURA, 2012). A figura 3 mostra o esquema de um sistema ativo antimicrobiano. Figura 3 - Funcionamento de um sistema de embalagem ativa. Fonte: Fontoura; Calil e Calil (2016). Essas embalagens apresentam substâncias antimicrobianas incorporadas e, ou imobilizadas no material da embalagem e são capazes de reduzir, inibir ou retardar o crescimento de microrganismos deterioradores e, ou patogênicos (IURA, 2012). As embalagens antimicrobianas podem ser classificadas em dois tipos: aquelas na qual o agente ativo necessita migrar para o produto gradualmente e aquelas que o agente é efetivo sem a necessidade de migração (FONTOURA; CALIL; CALIL, 2016). A liberação de aditivos por embalagens ativas aumenta a segurança do consumidor, já que os antimicrobianos podem controlar a contaminação microbiana reduzindo a taxa de crescimento dos microrganismos, aumentando a fase Lag ou inativando por contato (IURA, 2012). Outra demanda dos consumidores é pela utilização de materiais de embalagens que sejam ambientalmente corretos, como os biopolímeros (MAJID et al., 2016) que podem ser obtidos a partir de fontes naturais renováveis como milho, celulose, batata, cana-de-açúcar, sintetizados por bactérias a partir de pequenas moléculas como ácido butírico ou ácido valérico, dando origem ao polihidroxibutirato e ao polihidroxibutirato- co-valerato, respectivamente e derivados de fonte animal, como a quinina, quitosana ou proteínas (LANDIM et al., 2016). As embalagens produzidas por biopolímeros são excelentes veículos para a incorporação de uma grande variedade de aditivos, tais como antioxidantes, 19 antifúngicos, antimicrobianos, corantes e outros nutrientes (FREITAS, 2015), além de serem biodegradáveis, ou seja, são degradadas por meio de processo de compostagem natural (MAJID et al., 2016). A biodegradação é um processo natural e complexo onde compostos orgânicos, são convertidos em compostos simples por meio de mecanismos bioquímicos e, então, redistribuídos no meio ambiente, através do ciclo elementar do carbono, nitrogênio e enxofre, ou seja, a biodegradação de um polímero é o processo pelo qual microrganismos e suas enzimas consomem este polímero como fonte de nutrientes, em condições normais de umidade, temperatura e pressão (LANDIM et al., 2016). 2.2 QUITOSANA As embalagens para alimentos são produzidas atualmente em sua maioria por materiais plásticos, devido às suas características de flexibilidade, leveza, baixo custo, variedade entre outras (FONTOURA; CALIL; CALIL, 2016). No entanto, a maioria dos plásticos ou polímeros é de origem petroquímica (fonte não renovável), sendo que o consumo global de plástico é de mais de 200 milhões de toneladas e com uma taxa de crescimento anual de 5% (FURTADO, 2016), o aumento do seu consumo resulta inevitavelmente em problemas socioeconômicos, como a escassez e o aumento do preço do petróleo, e ambientais, como a geração e acúmulo de resíduos sólidos, que podem levar dezenas ou centenas de anos para se decompor na natureza (FONTOURA; CALIL; CALIL, 2016). Diante dessa situação têm-se buscado meios alternativos para reduzir tais impactos, através do desenvolvimento dos biopolímeros, que são polímeros de fontes renováveis, produzidos pela natureza e que podem ser também biodegradáveis (FONTOURA; CALIL; CALIL, 2016). Os biopolímeros mais comuns utilizados para a preparação de embalagens são as proteínas, polissacarídeos ou lipídeos e suas combinações, que permitem preparar filmes biodegradáveis com características melhoradas (DOMÍNGUEZ et al., 2018). Na figura 4 são mostrados alguns exemplos de biopolímeros. 20 Figura 4 - Tipos de biopolímeros Fonte: Elaborado pelo autor (2019). Os filmes biodegradáveis têm a mesma função dos filmes convencionais de origem petroquímica usados como embalagem, protegem os alimentos contra agentes externos e proporcionam barreira contra a permeabilidade de água, gases e luz (GALINDO, 2017). A utilização dos biopolímeros dependerá da sua disponibilidade,custo, propriedades de barreira, propriedades mecânicas, funcionais e sensoriais, e das condições em que os filmes serão armazenados, interferindo diretamente na sua integridade por conta da sua estrutura química (GALINDO, 2017). Dentre os polímeros naturais, a quitosana tem despertado grande interesse, pois é biodegradável, provém de fontes renováveis e é capaz de formar filmes flexíveis e resistentes, com barreira eficiente a oxigênio, além possuir atividade antimicrobiana (MACIEL; FRANCO; YOSHIDA, 2012), caráter bioativo, permeabilidade seletiva, ação polieletrônica, habilidade de quelação e capacidade adsortiva (SANTANA et al., 2013). Todas as possíveis aplicações da quitosana são devido à sua biodegradabilidade, biocompatibilidade, não toxicidade, disponibilidade comercial e insolubilidade em soluções aquosas neutras e alcalinas que é influenciada pelo seu grau de desacetilação, estrutura molecular e força iônica do meio (DIAS, 2012). A quitosana é um amino polissacarídeo, derivado da desacetilação da quitina, a qual constitui a maior parte dos exoesqueletos dos insetos, crustáceos e parede celular dos fungos (FREDDO et al., 2014), sendo o segundo polímero natural mais abundante B io p o lim er o s Gelatina Proteína do soro de leite Zeína Amido Celulose Alginato Quitosana 21 (DIAS, 2012), ficando atrás somente da celulose (SANTIAGO, 2016). A desacetilação da quitina consiste na substituição de grupos acetilas (COCH3) por grupos aminos livres (-NH2) que podem ser protonados em meio ácido (-NH +3) fazendo com que a quitosana seja solúvel em soluções ácidas de ácidos como: acético, cítrico, ascórbico, lático, málico, oxálico, succínico, adípico e propiónicos. O grau de desacetilação em quitina e quitosana é de 5 a 15% e de 70 a 95% respectivamente (DIAS, 2012), mas segundo Furtado (2016) o grau de desacetilação da quitosana pode variar ainda de 50% a 95%. Sendo assim, as propriedades físicas da quitosana dependem do seu grau de desacetilação, assim como da sua massa molar e da pureza do produto (FURTADO, 2016). Estruturalmente a quitosana é constituída por duas unidades estruturais, 2- amino-2-desoxi-D-glicopiranose e 2-acetamido-2-desoxi-Dglicopiranose unidas por ligações glicosídicas do tipo β (1→4) (Figura 5), tendo em maior proporção a unidade glicosamina (FURTADO, 2016). Figura 5 - Estrutura química da quitosana, nD é o número de mols de unidades 2-amino-2-desoxi-D- glicopiranose e nA é o número de mols de unidades 2-acetamido- 2-desoxi-D-glicopiranose. Fonte: Santos et al. (2009). O mecanismo de formação do filme de quitosana envolve o rearranjo molecular em uma matriz de filme ou gel. Forças atrativas, devido às ligações de hidrogênio, hidrofóbicas e eletrostáticas, equilibram as forças repulsivas, formando a matriz filmogênica. A quitosana possui três tipos de grupos funcionais reativos: um grupo amino, um grupo hidroxila primário e um secundário (nas posições C-2, C-6 e C-3 da unidade de Glucosamina, respectivamente) (YOSHIDA; OLIVEIRA; FRANCO, 2009), apresentando assim uma versatilidade singular para modificações físicas e químicas (FURTADO, 2016). Alguns tipos de modificações são relatados na literatura, como os processos de reticulação, inserção de grupos funcionais, adição de plastificantes e quelação com íons ou complexação com proteínas e outros polímeros, podendo essas 22 modificações melhorar as propriedades mecânicas e a degradabilidade do material, alterar a solubilidade do polímero, melhorar a eficiência no combate de bactérias, entre outros (FURTADO, 2016). Sendo assim, as propriedades mecânicas e de barreira dos filmes de quitosana podem ser reguladas pela adição de plastificantes (PRIYADARSHI et al., 2018). Os plastificantes são compostos que reduzem a tensão ou deformação, a dureza, viscosidade e densidade do polímero, ao mesmo passo em que aumentam a sua mobilidade macromolecular, que é consequência da difusão do plastificante na matriz polimérica, que diminuem as interações intermoleculares entre as suas cadeias (FURTADO, 2016). Além disso, podem alterar propriedades como o grau de cristalinidade, condutividade elétrica, resistência à degradação biológica, entre outras propriedades físicas (FURTADO, 2016). Plastificante é definido como uma molécula não volátil e de baixa massa molecular que é adicionada a materiais poliméricos com intuito de alterar sua estrutura, diminuindo as forças intermoleculares entre as cadeias poliméricas e criando um volume livre que resulta na mobilidade do filme (YOSHIDA; OLIVEIRA; FRANCO, 2009), sendo uma classe de dezoito (18) moléculas que são muito utilizados nas indústrias como aditivos (FURTADO, 2016). A classe dos polióis, como glicerol, etileno glicol e propilenoglicol, vem sendo muito estudada atualmente como aditivo. O glicerol especificamente tem uma boa eficiência como plastificante e apresenta muitas aplicações na indústria farmacêutica, cosmética, alimentícia, pois apresenta baixa toxicidade ao homem e é um subproduto na produção de biodiesel (FURTADO, 2016). A quitosana em função de sua estrutura química se torna uma excelente alternativa para ser utilizada como base na produção de embalagens e filmes biodegradáveis (GALINDO, 2017), ainda mais que a quitosana também apresenta atividade antimicrobiana contra vários microrganismos patógenos e deteriorantes, uma vez que, devido às suas cargas positivas, ela interage nas cargas aniônicas da membrana celular dos microrganismos impedindo que os mesmos se desenvolvam, aumentando a vida útil dos alimentos, mantendo suas características sensoriais com qualidade e segurança, e consequentemente diminui os desperdícios (GALINDO, 2017). Khan et al. (2016) avaliaram a atividade antioxidante e antibacteriana in vitro da quitosana modificada com ácido fumárico. Os dados revelaram que a quitosana modificada pode ser utilizada na conservação de alimentos e no material de embalagens para garantir a segurança dos alimentos, pois inibiu a atividade bacteriana da Listeria 23 monocytogenes, da Salmonella enterica, da Escherichia coli gram-negativa e da Staphylococcus aureus gram-positiva. Além disso, a utilização da quitosana para a preservação de alimentos foi reportada por Shekarforoush et al. (2015) na inibição do crescimento da Listeria monocytogenes (bactéria responsável pela listeriose em humanos) na carne de frango. Diante de suas propriedades estruturais e funcionais, atualmente a quitosana é produzida em grande escala em vários países e, devido à facilidade de se obter o polímero em várias formas físicas diferentes, muitas aplicações industriais têm surgido, sendo que, com o aumento da disponibilidade dos produtos comerciais, aliados a uma variedade de formas e modificações químicas da quitosana, representa uma grande oportunidade para a comunidade científica e industrial (SANTIAGO, 2016). 2.3 AGENTES ANTIOXIDANTES Estruturalmente falando, os antioxidantes são compostos aromáticos que possuem pelo menos uma hidroxila, podendo ser sintéticos, largamente utilizados pela indústria de alimentos, ou naturais, como organosulfurados, fenólicos e terpenos, que fazem parte da constituição de diversos alimentos (DEL RÉ; JORGE, 2012). Neste contexto, podemos dar uma ampla definição de antioxidante, sendo ele “qualquer substância que, presente em baixas concentrações, quando comparada a do substrato oxidável, atrasa ou inibe a oxidação deste substrato de maneira eficaz” (RIBEIRO et al., 2008). Os compostos antioxidantes podem ser classificados de acordo com o mecanismo de ação como antioxidantes primários (ou de quebra de cadeia), nomeadamente sequestradores de radicais livres e antioxidantes secundários (ou preventivos), incluindo quelante de metais, absorvedores de UV, supressores de oxigénio (1O2) singleto e removedores de oxigênio (VILELA et al., 2018) Figura6. A vantagem dos antioxidantes secundários reside na sua capacidade de reduzir ou prevenir a ocorrência de reações de oxidação, enquanto os antioxidantes primários reagem com os radicais livres para convertê-los em produtos (razoavelmente) estáveis que não se envolvem em novas reações de iniciação ou propagação. Vale a pena ressaltar que alguns agentes ativos exibem ambos os mecanismos de ação (VILELA et al., 2018). 24 Figura 6 - Classificação de compostos antioxidantes baseados no seu mecanismo de ação Fonte: Tian et al. (2013). 2.4 AGENTES ANTIMICROBIANOS Os agentes antimicrobianos são um dos componentes ativos mais estudados, uma vez que o crescimento de microrganismos patogênicos e / ou deteriorantes é, de longe, a principal causa de deterioração de alimentos (VILELA et al., 2018). Esses agentes podem ser incorporados diretamente ao material da embalagem no processo de transformação do polímero ou imobilizados quimicamente e aplicados como revestimento (SANTOS; YOSHIDA, 2011). Na incorporação o agente migra da embalagem para a superfície do produto, enquanto na imobilização o composto atua somente em nível superficial sem a necessidade de migração (IURA, 2012). São exemplos de agentes antimicrobianos os íons metálicos (por exemplo, prata, cobre, ouro e platina), óxidos metálicos (por exemplo, TiO2, ZnO e MgO), óleos essenciais (por exemplo, tomilho, orégano, pimentão e limão), extratos vegetais (por exemplo, semente de uva, chá verde, casca / casca de romã, acerola, amora, gengibre e sálvia), polissacarídeos (por exemplo, quitosana), componentes bioativos puros (por exemplo, timol e carvacrol), peptídeos (por exemplo, nisina e lactoferrina), enzimas (por exemplo, peroxidase e lisozima) e antimicrobianos sintéticos (por exemplo , sais de amônio quaternário, ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA) e ácido propiônico, benzóico e sórbico) (VILELA et al., 2018). 25 2.5 EXTRATO DE PRÓPOLIS A própolis, termo que provém do grego “pro” que significa defesa e “polis” que significa cidade, ou seja, defesa da cidade (colméia) (COSTA, 2007). As abelhas Apis mellifera (ARDJOUM, 2021; BERTOTTO, 2022) e abelhas sem ferrão pertencentes à tribo Meliponini (SUREK, 2022) coletam várias partes de plantas (BERTOTTO, 2022) e árvores, incluindo brotos, folhas, cascas, exsudatos (IBRAHIM; ALQURASHI, 2022) e botões (BOUCHELAGHEM, 2021), que misturam com suas enzimas salivares, cera de abelha (BERTOTTO, 2022; BOUCHELAGHEM, 2021) e pólen (BERTOTTO, 2022), causando uma reação que dá origem a própolis (BOUCHELAGHEM, 2021), uma substância resinosa natural (ARDJOUM, 2021; KHODAYARI, 2019; SIRIPATRAWAN; VITCHAYAKITTI, 2016) e quimicamente complexa (KHODAYARI, 2019; REYES; LANDGRAF; SOBRAL, 2021; BOUCHELAGHEM, 2021), que é utilizada como material cimentante na construção (BERTOTTO, 2022) e reparação de suas colmeias, para isolar e fazer zonas estéreis na colmeia (MAHDAVI-ROSHAN, GHEIBI; POURFARZAD, 2022), evitar vibrações provenientes do ambiente externo que sejam prejudiciais à estrutura das colmeias (COSTA, 2007) e como agente defensivo contra invasores (BERTOTTO, 2022). A cor da própolis varia do amarelo escuro, ao marrom esverdeado, ao vermelho em função de sua idade e fontes vegetais próximas, enquanto os compostos fenólicos e terpenos são responsáveis pelo seu aroma distinto (BOUCHELAGHEM, 2021). Sendo constituída em, aproximadamente, 50% de resinas vegetais, 30% de cera, 10% de óleos essenciais, 5% de pólen e 5% de outros compostos orgânicos (BOUCHELAGHEM, 2021; IBRAHIM ; ALQURASHI, 2022) e minerais (IBRAHIM ; ALQURASHI, 2022), a própolis possui uma composição química influenciada por diversos fatores, englobando as fontes vegetais no entorno da colmeia, métodos de coleta, época de coleta, variação geográfica e climática, altitudes e iluminação (BOUCHELAGHEM, 2021). Contudo, a literatura destaca que a região geográfica desempenha um papel crucial nos tipos de própolis, especialmente devido à variação climática e diferente flora etnobotânica por região. Assim, tendo como base a composição química e a origem vegetal, vários tipos de própolis foram identificados, sendo as mais conhecidas à própolis tipo álamo (eurasiana), as própolis verde e vermelha (brasileiras) e a própolis mediterrânea (BOUCHELAGHEM, 2021). 26 A própolis do tipo álamo é amplamente distribuída na Europa, Ásia, América do Norte e Nova Zelândia e tem sua composição química largamente estudada entre os diferentes tipos de própolis, contendo mais de 400 compostos já identificados até 2014, oferecendo assim um modelo de padronização ideal (BOUCHELAGHEM, 2021). A própolis brasileira é dividida em dois tipos principais: a própolis verde, elaborada a partir de plantas herbáceas nativas da Região Sudeste do Brasil (MOURA, 2022) e cuja principal fonte vegetal é a Baccharis dracunculifolia (CONTE, 2022), e a própolis vermelha, produzida a partir da resina gerada pela Dalbergia ecastophillum, típica da Região Nordeste do Brasil (MOURA, 2022; REYES; LANDGRAF; SOBRAL, 2021) e popularmente conhecida como rabo-de-bugio ou marmelo-do-mangue (MOURA, 2022). Por possuir compostos químicos de interesse medicinal em sua constituição, a própolis vermelha é mais rara e valiosa comercialmente que a própolis verde, tendo seu valor cinco vezes maior (MOURA, 2022). Além da Dalbergia ecastophyllum, a Clusia scrobiculata, Clusia major, Clusia minor e Clusia rosea também são fontes vegetais da própolis vermelha, considerando que ela é amplamente distribuída no Brasil, Venezuela, Cuba, México e China. Já a própolis mediterrânea, cujos principais compostos são diterpenos, provavelmente originários da planta conífera do gênero Cupressaceae, é encontrada na Grécia, Croácia, Malta, Chipre, Marrocos, Egito e Argélia (BOUCHELAGHEM, 2021). Por volta de 300 a.C. civilizações antigas já utilizavam popularmente a própolis para diversos fins, como desinfetante bucal, no tratamento de feridas, antieczema, antimialgia, antirreumático, mumificação de cadáveres, entre outras aplicações (CONTE, 2022). A literatura mostra que a própolis possui várias atividades biológicas, incluindo propriedades antibacterianas, antifúngicas, antivirais, antioxidantes, antitumorais, antimutagênicas, anticancerígenas (SIRIPATRAWAN; VITCHAYAKITTI, 2016; BOUCHELAGHEM, 2021), antiprotozoárias (BOUCHELAGHEM, 2021) anti-inflamatórias (BERTOTTO, 2022; SIRIPATRAWAN; VITCHAYAKITTI, 2016), propriedades terapêuticas imunomoduladoras (BERTOTTO, 2022), anestésicas (KHODAYARI, 2019) e antibióticas (CORREA-PACHECO, 2019). Isso resultou no desenvolvimento de diversos medicamentos populares, formulações cosméticas e aditivos alimentares à base de própolis (BERTOTTO et al., 2022). Os constituintes conhecidos da própolis são agrupados em classes químicas que abrangem: alcanos, álcoois, ácidos aromáticos, ácidos graxos, óleos voláteis, 27 aminoácidos, terpenóides, açúcares e álcoois de açúcares, hidrocarbonetos, flavonóides, fenóis, ésteres de cera, chalcones, glicerol derivados, aldeídos, cetonas, oligoelementos e pequenas porções de minerais. São vários os compostos ativos incluídos nessas categorias, como flavonas, ácido cafeico, ácido butanóico, ácido málico, isovanilina, vanilina, alanina, timol, galangina, ácido benzóico, ácido cumárico, ácido ferúlico, ácido gentísico, ácido vanílico, ácidos decanóicos, pinocembrina, luteolina, lignanas, terpenos, kaempferol, miricetina, quercetina e crisina, e sua atividade biológica está associada à atividade sinérgica de muitas classes de seus componentes ativos (BOUCHELAGHEM, 2021). Com intuito de melhorar as informações disponíveis para o seu uso, alguns países como Brasil, China, Japão, Coreia do Sul, Austrália, Estados Unidos da América, Canadá e União Europeia, já regulamentaram a própolis, e utilizam os teores de flavonoides e fenólicoscomo alguns dos principais parâmetros químicos no controle de qualidade do produto (SUREK, 2022). No Brasil, a regulamentação de identidade e os requisitos mínimos que a própolis bruta e os extratos de própolis de A. mellifera e Meliponini devem atender são descritos na Instrução Normativa nº 3, de 2001, do Ministério da Agricultura e Abastecimento, que institui ainda medidas para a industrialização e comercialização desses produtos em âmbito nacional e internacional (BRASIL, 2001b; SUREK, 2022). Sendo uma das fontes mais promissoras de compostos bioativos, a própolis (BOUCHELAGHEM, 2021) tem como constituintes mais importantes os flavonóides (flavonóis, flavonas e flavononas), compostos fenólicos e compostos aromáticos, que parecem ser os principais componentes responsáveis pelas suas atividades biológicas (SIRIPATRAWAN; VITCHAYAKITTI, 2016) e são conhecidos como ingredientes ativos antioxidantes e antimicrobianos (BOUCHELAGHEM, 2021), tornando-se um composto funcional em embalagens de alimentos (KHODAYARI, 2019). Neste contexto, já estão em desenvolvimento materiais de embalagem de base biológica contendo própolis projetadas para transferir suas propriedades antimicrobianas e antioxidantes para os alimentos com os quais estão em contato, uma vez que a oxidação e contaminação microbiana são os principais fatores que afetam a qualidade e a segurança dos alimentos (SIRIPATRAWAN; VITCHAYAKITTI, 2016). A própolis tem recebido grande atenção como agente antimicrobiano e antioxidante em diversos filmes poliméricos, como quitosana, gelatina (ARDJOUM, 2021; REYES; LANDGRAF; SOBRAL, 2021), hidroxipropilmetilcelulose 28 (ARDJOUM, 2021), amido, hidroximetilcelulose (REYES; LANDGRAF; SOBRAL, 2021), tendo sido relatados os efeitos antimicrobianos da própolis contra bactérias Gram-postivas (Bacillus cereus, Listeria monocytogenes, e Staphylococcus aureus) e Gram-postivas (Salmonella Typhimurium, Escherichia coli e Pseudomonas fluorescence) (SIRIPATRAWAN; VITCHAYAKITTI, 2016). Siripatrawan e Vitchayakitti (2016) desenvolveram filmes de quitosana contendo diferentes concentrações de extrato de própolis e avaliaram a atividade antimicrobiana dos filmes para Staphylococcus aureus, Salmonella enteriditis, Escherichia coli e Pseudomonas aeruginosa. como resultado todos os filmes de quitosana com extrato de própolis apresentaram inibição contra as bactérias testadas. Eles testaram também as propriedades mecânicas e de permeabilidade ao vapor de água, e em conclusão, a adição do extrato de própolis melhorou as propriedades mecânicas e de barreira dos filmes. Devido sua ampla aplicação biológica, a própolis está ganhando atenção da comunidade científica (BOUCHELAGHEM, 2021), tornando-se uma alternativa sustentável aos plásticos convencionais, sendo adicionada a filmes biodegradáveis para melhorar suas propriedades mecânicas e funcionais (BERTOTTO, 2022), podendo ser também uma alternativa aos conservantes químicos, portanto, a própolis é uma boa escolha para aplicação em tecnologia de alimentos (IBRAHIM; ALQURASHI, 2022). 2.6 MELANOSE EM CAMARÕES Nativo da costa do Pacífico do México, o camarão branco (Litopenaeus vannamei) tornou-se uma variedade de camarão cultivada no mundo inteiro, comumente capturada ou criada para a alimentação (YUAN et al., 2016). O camarão é um recurso alimentar muito importante em todo o mundo devido ao seu alto valor comercial e valor nutricional (YUAN et al., 2015). De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS – FAO, 2020), o camarão é a segunda mercadoria mais valiosa em termos monetários dentre os produtos da pesca, sendo responsável por 15% do valor total do pescado comercializado internacionalmente. Estudo realizado em 2016 apontou a China como o principal produtor mundial de camarão branco do Pacífico, com níveis de produção de aproximadamente 1.120.000 toneladas em 2010 (YUAN et al., 2016). 29 Na década de 1970, deu-se início a carcinicultura no Brasil, com incentivos por parte do governo de alguns estados para impulsionar a produção de camarão, objetivando o comércio internacional (CÉSAR, 2020). No Brasil, a carcinicultura, cultivo de camarão em cativeiro, concentrou-se na região nordeste, devido as suas condições edafoclimáticas favoráveis à adaptação do camarão branco (Litopenaeus vannamei), sendo essa a região brasileira mais apta para o desenvolvimento da atividade (CÉSAR, 2020). No ano de 2003, a carcinicultura brasileira foi especialmente bem-sucedida, atingindo uma produção recorde ao ultrapassar as 90 mil toneladas de camarões, sendo que quase 80% da produção foi destinada ao mercado internacional, obtendo assim um valor de exportação na ordem de 226 milhões de dólares (CÉSAR, 2020). No entanto, segundo dados da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC, 2019), houve uma queda da produção a partir de 2004 que se estendeu até 2018, causada pelo Whispovirus, um vírus conhecido como “mancha branca” e que atingiu dez estados brasileiros, incluindo os principais estados criadores de camarão, Rio Grande do Norte e Ceará. Segundo Rocha (2021), a região Nordeste foi a mais afetada pela “mancha branca”, tendo uma redução de 29,41% no volume de produção de 2014 (85 mil toneladas) para 2016 (60 mil toneladas). Contudo, em 2019 a produção de camarão marinho cultivado no Brasil atingiu um volume de 90 mil toneladas, um crescimento de 16,88% em relação a 2018 (77 mil toneladas) e um aumento de 50% se comparado a 2016, mostrando assim uma recuperação do setor ao alcançar um volume de produção próxima ao de 2003 (90.190 toneladas) (ABCC, 2020; CÉSAR, 2020). De acordo com Rocha (2022), mesmo com as dificuldades enfrentadas durante a pandemia de COVID- 19, o setor de carcinicultura continuou a crescer, atingindo um volume de produção de 112 mil toneladas em 2020 e de 120 mil toneladas em 2021, e com perspectiva de atingir 200 mil toneladas em 2022 (ABCC, 2020; CÉSAR, 2020). Nos últimos anos o consumo de frutos do mar aumentou e os consumidores tornaram-se mais conscientes dos seus benefícios nutricionais. No entanto, o camarão é um crustáceo altamente perecível (GONÇALVES; OLIVEIRA, 2016; CÉSAR, 2020), com uma vida útil limitada devido à deterioração microbiológica e a melanose durante o seu armazenamento (YUAN et al., 2015). Pois graças a sua elevada atividade de água, composição química com alto teor de gordura insaturada e pH próximo à neutralidade, os camarões são os animais aquáticos mais propensos a sofrerem alterações oxidativas, 30 hidrolíticas e/ou microbiológicas. O fato de possuir maior nível de aminoácidos livres do que os peixes e conter enzimas que quebram as proteínas rapidamente é outro aspecto que torna esses crustáceos alvos fáceis para o ataque da microbiota deteriorante (CÉSAR, 2020). A melanose, ou “mancha negra” como é comumente conhecida, é uma das principais causas de perda de qualidade de camarões e consiste na formação de pigmentos escuros, acumulados principalmente no cefalotórax desses animais. Isto acontece devido a reações bioquímicas catalisadas pelas enzimas polifenoloxidases (PPO), que na presença de oxigênio formam compostos que podem se polimerizar, dando origem à melanina que é um pigmento insolúvel, escuro e de alto peso molecular e que se concentram principalmente sob a carapaça do cefalotórax (GONÇALVES; OLIVEIRA, 2016; CÉSAR, 2020). A Figura 7 ilustra o aparecimento dos pontos pretos, ocasionando a melanose em camarões. Figura 7 - Formação de pontos pretos ou melaninas, ocasionando a melanose em camarão Fonte: Gonçalves e Oliveira (2016) A melanização em crustáceos é um processo fisiológico relacionado ao sistema imunológico de invertebrados, que permite uma resposta rápida a infecção por patógenos. Uma vez queo camarão é retirado da água, inicia-se um processo chamado de melanogênese. Como ilustrado na Figura. 8, os fenóis, compostos incolores, sofrem oxidação enzimática catalisada por polifenoloxidases e se transformam em quinonas altamente coloridas, que reagem com aminoácidos para formar polímeros marrons complexos. O produto final da ação das polifenoloxidases, as o-quinonas reagem ao O2 sofrendo oxidação adicional, desta vez sem a presença de enzimas, e dá origem a um polímero insolúvel de alto peso molecular chamado melanina (GONÇALVES; OLIVEIRA, 2016). 31 Figura 8 - Formação da melanina Fonte: Gonçalves e Oliveira (2016) Ainda que a melanose não cause danos à saúde dos consumidores, ela afeta as características sensoriais do camarão, reduzindo a qualidade e consequentemente a vida útil desde alimento, podendo levar a perdas econômicas (NAGARAJAN et al., 2021; GONÇALVES; OLIVEIRA; ABRANTES, 2015; GONÇALVES; OLIVEIRA, 2016; CÉSAR, 2020). Para manter a qualidade dos camarões durante o manuseio, processamento e armazenamento e impedir o aparecimento da melanose, deve-se implementar a minimização da polifenoloxidase (PPO), regulando o pH e/ou a temperatura, assim como o uso de inibidores apropriados de PPO (GONÇALVES; OLIVEIRA, 2016). Desta forma, para evitar o aparecimento de manchas pretas abaixo da cutícula, adicionam-se, imediatamente após a captura, misturas de inibidores de melanose, principalmente aquelas baseadas em derivados de sulfitos (CÉSAR, 2020). Os sulfitos são os aditivos mais eficientes e vastamente utilizados no mundo para prevenir a melanose em camarões. Eles atuam como antioxidantes, esterilizantes e conservantes, sendo usualmente misturados com ácidos orgânicos, tais como ácido cítrico, ácido ascórbico e ácido etilenodiamino tetra-acético (ethylenediamine tetraacetic acid - EDTA), ou com agentes quelantes para potencializar sua eficiência. O metabissulfito de sódio (MBS) (Na2S2O5) é o agente sulfitante mais utilizado em todo o mundo, pois, normalmente logo após a despesca, os camarões são submetidos a choque térmico em solução de MBS, água e gelo (GONÇALVES; OLIVEIRA; ABRANTES, 2015; CÉSAR, 2020). Segundo Gonçalves, Oliveira e Abrantes (2015, p. 1), “Esses compostos interferem na polimerização das quinonas e não permitem a formação de pigmentos escuros nos camarões”. Como ilustrado na Figura. 9, o MBS tem o seu efeito antioxidante devido à formação de íons redutivos (SO3 2) que sequestram o O2 do meio, estabelecendo um ambiente anaeróbio inadequado tanto para o crescimento de microrganismos aeróbios, quanto para a formação da melanose (CÉSAR, 2020). 32 Figura 9 - O papel dos sulfitos como agentes redutores na inibição enzimática, reduzindo os percursores de pigmentos (quinonas) a difenóis incolores e menos reativos Fonte: Gonçalves e Oliveira (2016) Apesar da eficiência dos sulfitos na prevenção da melanose (GONÇALVES; OLIVEIRA; ABRANTES, 2015), seu uso em alimentos apresenta limitações por considerações como toxicidade, salubridade, efeito no paladar, sabor, textura e custo (GONÇALVES; OLIVEIRA, 2016), além de precisar ser reaplicado várias vezes para um efeito contínuo (GONÇALVES; OLIVEIRA, 2016). Sendo assim, seu uso na carcinicultura libera resíduos tóxicos, o que pode causar um grande impacto ambiental, especialmente nos corpos d’água próximos as fazendas de cultivo, que recebem grandes quantidades, principalmente de MBS diariamente (CÉSAR, 2020), como também à saúde humana, pois o MBS é considerado responsável por crises de asma por causar reações alérgicas graves em pessoas expostas a ele. Seus resíduos, bem como o dióxido de enxofre (SO2), também são prejudiciais à saúde e podem causar intoxicações agudas, dificuldade para respirar, cianose e até mesmo induzir a formação de edema pulmonar (GONÇALVES; OLIVEIRA; ABRANTES, 2015). Neste contexto, considerando os danos causados pelos sulfitos e as crescentes preocupações dos consumidores em relação à origem e processamento de alimentos (GONÇALVES; OLIVEIRA; ABRANTES, 2015), gerando uma demanda de mercado por produtos mais saudáveis e com menos aditivos (GONÇALVES; OLIVEIRA, 2016), atualmente vários estudos vêm sendo realizados na busca de alternativas que sejam oriundas de fontes orgânicas e sustentáveis para a substituição dos sulfitos, recorrendo, assim, a vários produtos, tais como: quitosana, extrato de plantas, fungos, sementes, frutos, folhas, chás (CÉSAR, 2020). A Tabela 1 mostra vários estudos realizados utilizando extratos naturais para a prevenção da melanose em camarões. 33 Tabela 1 - Estudos utilizando extratos naturais para prevenção de melanose em camarão Estudo Resultados Tipo de material Autores Prevenção da perda de qualidade e melanose de camarão branco do Pacífico por extratos de folhas de caju Os resultados mostram que o uso de solução de extrato de folha de caju pode ser usado como inibidor alternativo da melanose aos agentes sulfitantes, uma vez que ajudou a reduzir o crescimento microbiano e o surgimento da melanose nos camarões brancos do Pacífico. Solução de extrato de folhas de caju Sae-Leaw e Benjakul (2019) Acerola como possível agente antimelanótico em camarão branco (Litopenaeus vannamei) Os resultados mostram que o uso de solução de extrato de acerola não é suficiente para melhorar a qualidade ou prolongar a vida dos camarões brancos, no entanto, em relação ao índice de melanose para a solução de acerola apresentou um melhor resultado comparado ao grupo controle (sem tratamento). Solução de extrato de acerola Gonçalves et al. (2015) Extensão da vida útil do camarão branco do pacífico usando revestimentos à base de goma tragacanta contendo extrato de casca de limão persa (Citrus latifolia) Os resultados obtidos mostram que o revestimento à base de goma tragacanta contendo extrato de casca de limão persa tem um efeito protetor na vida de prateleira do camarão, aumentando sua vida útil em 4 dias, além de reduzir o processo de melanose e poder melhorar as propriedades químicas e sensoriais do camarão durante 10 dias de refrigeração. Cobertura à base de goma tragacanta e extrato de casca de limão persa Khaledian, Basiri e Shekarforoush (2021) Extensão da vida útil do camarão branco do Pacífico (Litopenaeus vannamei) usando quitosana e ε- polilisina durante o armazenamento refrigerado Os resultados mostram que as coberturas de quitosana e quitosana combinada com ε- polilisina podem efetivamente prologar a vida de prateleira do camarão ao inibir o crescimento de bactérias mesófilas e psicrotróficas, além de reduzir as alterações de qualidade físico-químicas e sensorial durante o armazenamento em baixa temperatura. Cobertura de quitosana e quitosana com ε-polilisina Na et al. (2018) Influência do revestimento Os resultados mostram que a cobertura de quitosana-gelatina com extrato de pericarpo Cobertura de Nagarajan et al. 34 comestível de quitosana- gelatina incorporado com extrato de pericarpo longkong em camarão tigre preto refrigerado (Penaeus monodon) longkong tem efeitos positivos na prevenção da melanose, nas propriedades químicas, microbiológicas e sensoriais do camarão tigre preto em armazenamento refrigerado por 20 dias. quitosana-gelatina com extrato de pericarpo longkong (2021) Avaliação comparativa da extensão da vida de prateleira do camarão Litopenaeus vannamei embalado com MAP tratado com extratos naturais Os resultados mostram que o extrato de casca de romã e extrato de semente de toranja amalgamado com MAP sem oxigênio e aumento de CO2 (Pp-CN e Gfs-CN) podem reprimir o crescimento microbiano e aumentar a vida útil e melhorar a qualidade tangível, até 24 dias. Solução de o extrato de casca de romã e extrato de semente de toranja amalgamado Udayasoorian et al.(2017) O efeito do revestimento de quitosana-gelatina na qualidade do camarão (Litopenaeus vannamei) sob condição refrigerada Os resultados mostram que a cobertura de quitosana-gelatina foi eficaz em reduzir a deterioração e prolongar substancialmente a vida útil do camarão, mantendo sua qualidade sensorial desejável por mais tempo. Cobertura de quitosana-gelatina Farajzadeh et al. (2016) Revestimentos de quitosana enriquecidos com resíduos ativos de camarão para preservação de camarão Os resultados mostram que o efeito antimelanósico da quitosana foi potencializado pela incorporação de concentrado lipídico-proteico de camarão na solução de cobertura, aumentando a fase lag e inibindo o crescimento de microrganismos envolvidos na deterioração do camarão, além de impedir o desenvolvimento da melanose em armazenamento refrigera por 5 dias. Cobertura de quitosana com concentrado lipídico- proteico de camarão Arancibia et al. (2015) Revestimentos comestíveis à base de exopolissacarídeos Os resultados mostram que a cobertura à base de exopolissacarídeos ativos enriquecidos com extrato de alga vermelha estendeu a útil do camarão refrigerado e Cobertura à base de exopolissacarídeos Balti et al. (2020) 35 ativos enriquecidos com extrato de alga vermelha (Gracilaria gracilis) para melhorar a conservação de camarões durante o armazenamento refrigerado manteve todos os atributos sensoriais, mantendo os níveis bacterianos relativamente baixos. ativos enriquecidos com extrato de alga vermelha (Gracilaria gracilis) Efeitos de conservantes quitosana-alginato-nisina na qualidade e microbiota de deterioração do camarão Penaeus vannamei durante o armazenamento refrigerado Os resultados que os camarões tratados com o conservante quitosana-alginato-nisina tiveram uma vida de prateleira mais longa e menores proporções crescentes de valores de TVB-N (Nitrogênio Básico Volátil Total), TVC (Total de Contagens Viáveis), pH e K (frescor) durante o armazenamento a frio. Cobertura de quitosana-alginato- nisina Cen et al. (2021) Efeito do revestimento de quitosana-carvacrol na qualidade do camarão branco do Pacífico durante o armazenamento em gelo afetado pelo ácido caprílico Os resultados mostram que a cobertura de quitosana-cravacrol foi eficaz em prolongar a vida de prateleira e manter a boa qualidade do camarão. Além disso, a adição de ácido caprilico a cobertura de quitosana-cravacrol apresentaram menor valor de TPC (Contagens Totais de Placas Aeróbicas) e TVB-N (Nitrogênio Básico Volátil Total) e mantiveram maiores graus de textura característica do camarão. Cobertura de quitosana-cravacrol e ácido caprílico Wang et al. (2018) Efeito do revestimento de quitosana combinado com extrato de chá verde na melanose e qualidade do camarão branco do Pacífico durante o armazenamento em Os resultados mostram que a formação da melanose foi significativamente inibida e a qualidade sensorial foi melhorada no camarão branco do Pacífico tratado com a cobertura de quitosana, extrato de chá verde e com quitosana incorporado de extrato de chá verde. Cobertura de quitosana, extrato de chá verde e quitosana com extrato de chá verde Yuan et al. (2016a) 36 gelo Efeito do revestimento de quitosana combinado com extrato de casca de romã na qualidade do camarão branco do Pacífico durante o armazenamento gelado Os resultados mostram que a cobertura de quitosana combinado com extrato de casca de romã pode inibir a melanose e mudança de diferença de cor, e melhorar a qualidade sensorial, dureza e elasticidade do camarão branco do Pacífico durante 10 dias de armazenamento gelado. Cobertura de quitosana combinado com extrato de casca de romã Yuan et al. (2016b) Efeito antioxidante do extrato de casca de laranja na qualidade química, propriedades sensoriais e manchas pretas de camarão branco cultivado Os resultados mostram que o extrato de casca de laranja melhora a qualidade química e as características sensoriais dos camarões durante o armazenamento em temperatura de geladeira, diminuindo o pH, o valor de peróxido e o TVN (Nitrogênio Volátil Total), além de prevenir o aparecimento das manchas pretas. Solução de extrato de casca de laranja Vakili e Ardakani (2018) Fonte: Elaborado pelo autor 37 3 MATERIAIS E MÉTODOS As principais etapas do processo são apresentadas na Figura 10, representando os estágios necessários para obtenção dos resultados. Fonte: Elaborado pelo autor 3.1 MATERIAIS O extrato de própolis verde utilizado como agente ativo (antioxidante e antimicrobiano) no presente trabalho foi adquirida da Breyer produtos de abelha (Formigas – Minas Gerais, Brasil). A quitosana com 85% de desacetilação utilizada como biopolímero foi adquirida da Polymar Ciência e Nutrição S/A (Fortaleza, Brasil), também foram utilizado ácido acético para preparação da solução filmogênica e Etanol. TCC Filme de quitosana e extrato de própolis Análises Molhabilidade Ângulo de Contato Cor Espessura FTIR DRX Cobertura de quitosana e extrato de própolis Aplicação em camarão Análises Perda de pesoVisual pH Figura 10 - Fluxograma de etapas elaboradas neste trabalho 38 A água destilada será usada como solvente de todos os sistemas em estudo e Etanol (≥ 99.6, Êxodo Científica, Brasil) para o extrato de própolis. 3.2 PRODUÇÃO DO EXTRATO DE PRÓPOLIS VERDE O extrato de própolis foi produzido em modo descontínuo de acordo com o método de Alves, Monteiro e Valencia (2022). A própolis verde moída foi adicionada à solução hidroetanólica na proporção de 1:35 (% p/v). A solução hidroetanólica foi preparada diluindo o etanol absoluto em água para obter a solução com concentração de etanol de 96% v/v. A extração foi realizada em banho ultrassônico a 40 kHz (Ultracleaner 1650, Unique, Brasil) por 20 minutos, com volume total de extrato de 100 mL. Após a extração, o extrato de própolis foi centrifugado a 25 °C em uma centrífuga (Kasvi, Brasil) com força de 1700 × g, a 4000 RPM por 15 minutos. Na sequência, o extrato foi filtrado em papel filtro e armazenados em frasco âmbar a -24°C sob ausência de luz até o momento da utilização. 3.3 PRODUÇÃO DO FILME ATIVO Os filmes ativos foram elaborados de acordo com o método Casting, utilizando a metodologia adaptada de Siripatrawan e Vitchayakitti (2016), que consiste no preparo de uma solução filmogênica, onde inicialmente, dissolve-se em ácido acético glacial 1% a quitosana (1%, g/100g), e deixa-se hidratar por 20 minutos, após hidratação a mistura de ácido acético e quitosana é pesada e então colocada em banho aquecido a 60 °C sob agitação mecânica (aproximadamente 400 RPM) por 30 minutos para completa dissolução da mistura. A solução obtida foi pesada, adicionada com o extrato de própolis (0; 5; 10; 20% m/m) e completada a massa evaporada com água destilada. Em seguida a solução é colocada sob agitação magnética a 60 rpm por 20 minutos para a completa mistura do aditivo no meio aquoso. Após a completa mistura, a solução foi colocada em banho de ultrassom por 20 minutos para retirada das bolhas de ar. Por fim foram pesados 10 g de solução formadora de filme em placas de petri pequenas e então deixadas a temperatura ambiente para secar. Foram produzidos filmes nas concentrações 0; 0,05; 0,1 e 0,2 g de própolis/g de quitosana. Filmes sem extrato de própolis foram considerados como controle (Q). 39 3.4 CARACTERIZAÇÃO DOS FILMES 3.4.1 Espessura As espessuras dos filmes foram determinadas com micrômetro digital (Mitutoyo Co., Japão) com sensibilidade de 0,001 mm. Foram feitas 4 medidas em pontos aleatórios dos filmes e obteve-se a média. 3.4.2 Análise de Cor A cor dos filmes de quitosana e quitosana/extrato de
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