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1 AEE PARA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL, ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTACÃO 1 Sumário 1 - HISTÓRIA DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL .................................... 3 2 - DEFICIÊNCIA INTELECTUAL ............................................................ 4 3 - DEFICIÊNCIA INTELECTUAL OU DEFICIÊNCIA MENTAL? ............ 5 3.1 Graus da deficiência intelectual ..................................................... 7 3.2 Principais causas de deficiência intelectual ................................... 8 3.3 - Síndrome de Dowm ..................................................................... 9 3.4 - Síndrome do X Frágil ................................................................ 10 3.5 - Síndrome do Cri-du-Chat (miado do gato) ................................. 11 3.6 - Síndrome de Angelman ............................................................ 11 3.7 - Erros Inatos do Metabolismo (Fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito etc.) ............................................................................................. 12 4 - DIAGNÓSTICO ................................................................................ 12 5 - PROCESSO DE INCLUSÃO E APRENDIZAGEM ........................... 14 5.1- O que é o atendimento educacional especializado (AEE)? ....... 18 5.2 - Práticas pedagógicas e alunos com deficiência intelectual ........ 19 6 - BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL ....... 21 7 - ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO: HISTÓRICO E CONCEITOS .................................................................................................... 24 8 - POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA PESSOAS COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO NO BRASIL ............................................... 35 9 - IMPORTÂNCIA DE PROGRAMAS ESPECÍFICOS PARA ALUNOS COM AH/S........................................................................................................ 37 9.1- A importância das estratégias de diferenciação curricular e o contexto escolar atual ................................................................................... 40 9.2 Sugestões e dicas para sua prática pedagógica com .................. 43 alunos com Altas Habilidades/Superdotação ..................................... 43 10- REFERÊNCIAS ............................................................................... 47 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 1 - HISTÓRIA DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Figura:1 Antigamente, na Grécia, os deficientes intelectuais eram abandonados ou assassinados por não atenderem os ideais de beleza e perfeição. Na idade Média por apresentarem sinais de malformação física ou mental, os deficientes intelectuais eram considerados filhos de satanás, sendo queimados em fogueiras. Entretanto, por conta do advento do cristianismo, os deficientes intelectuais também eram protegidos como inocentes de Deus, uma vez que apresentavam a inocência e a pureza. No século XVII, houve o interesse da ciência no estudo da deficiência com a obra “Opera Omnia” de Nicolau Taumaturgo, que hoje é conhecido como São Nicolau, padroeiro dos deficientes. As pessoas com deficiência intelectual passaram a ser consideradas passíveis de serem educadas somente no século XIX, graças ao trabalho do médico Jean Itard (1774-1838) — considerado o primeiro teórico d e Educação Especial — com o menino Victor de Aveyron, conhecido como “menino selvagem”. Atualmente, houve uma grande mudança na maneira de tratar a pessoa com deficiência, não mais usando os termos do passado com significados negativos. 4 Deficiência Intelectual veio substituir conotações e termos errôneos como “débil mental”, “idiota”, “retardado mental”, excepcional, “incapaz mentalmente”, “maluco” o u “louco ”, construídos e utilizados por médicos, em determinados períodos históricos da sociedade europeia. (PESSOTTI, 1984, apud OLIVEIRA,2017 p. 14). A declaração dos direitos dos deficientes aprovados pela ONU, em 13 de dezembro de 1975, diz em seu artigo 4 ª: O deficiente tem os mesmos direitos civis e políticos dos demais seres humanos. Sendo assim, está-se promovendo uma conscientização na sociedade, buscando a inclusão dos deficientes intelectuais, para que possam ter um futuro promissor. 2 - DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A Deficiência intelectual (DI) ou Deficiência mental (DM) como era anteriormente designada, é caracterizada como uma incapacidade de limitações significativas, tanto no funcionamento intelectual quando no comportamento adaptativo e se origina principalmente antes dos dezoito anos de idade. Segundo o Documento Subsidiário à Política Nacional de Inclusão: “Deficiência Mental é a incapacidade caracterizada por limitações significativas tanto no funcionamento intelectual quanto no comportamento adaptativo expresso em habilidades conceituais sociais e práticas” (PAULON, 2007, apud PEREIRA, 212, p .4). A D.I. é uma das deficiências mais encontrada em crianças e adolescentes, atingindo 1% da população jovem. Caracterizada pela redução no desenvolvimento cognitivo, ou seja, no QI, normalmente abaixo do esperado para a idade cronológica da criança ou adulto, acarretando muitas vezes um desenvolvimento mais lento na fala, no desenvolvimento neuro psicomotor e em outras habilidades. Entre as causas mais comuns deste transtorno estão os fatores de ordem genética, as complicações durante o período da gestação, parto ou pós-natais. A deficiência intelectual é um quadro psicopatológico que se refere, de maneira especial, às funções cognitivas. O que caracteriza a deficiência intelectual são defasagens e alterações nas estruturas mentais para o conhecimento. 5 No entanto, o fato de a criança ter uma deficiência intelectual não diz respeito ao modo como sua estruturação subjetiva está se processando, o que remete a possibilidade desta criança se constituir como um sujeito possuidor de desejos, vontades e sonhos. Porém, o que determina as diferentes estruturas são as experiências e formas de relações que a mesma estabelece, a partir do lugar que ocupa em sua cultura de origem. A deficiência mental com o comprometimento cognitivo relacionado ao intelecto teórico (capacidade para utilização das formas lógicas de pensamento conceitual), que pode também se manifestar no intelecto pratico(capacidade para resolver problemas de ordem prática de modo racional), que ocorre no período de desenvolvimento, ou seja, até os 18 anos de idade. (SANTA CATARINA, 2006, apud PEREIRA, 212, p.2) 3 - DEFICIÊNCIA INTELECTUAL OU DEFICIÊNCIA MENTAL? Figura: 2 Após longos debates em prol da mudança do termo e do nome, a deficiência mentalpassou a ser designada de deficiência intelectual. A Psicologia, a Medicina e a Neurociência abriram as fronteiras do conhecimento sobre o fenômeno do déficit cognitivo, possibilitando que profissionais e os familiares mais bem informados passassem a recomendar a adoção do termo ‘deficiência intelectual’, entendendo que o déficit cognitivo não está na mente como um todo e sim numa parte dela, o intelecto. 6 O termo antigo era propenso ao abuso, e induzia a uma interpretação errônea e até mesmo um insulto, para as pessoas com deficiência e seus familiares. Assim, o termo Deficiência mental precisa ser eliminado das salas de aula, dos consultórios médicos, dos registros de caso, e eventualmente, do vocabulário do povo nas ruas. No entanto, desde o ano de 1983, alguns acréscimos relevantes foram realizados em frente a essa definição. A partir dessa data, a Deficiência Intelectual passa a ser interpretada como um estado de funcionamento. Assim, deixa de ser uma expressão individual do indivíduo e passa a ser uma interação deste indivíduo com limitações com o meio e o contexto em que está inserido. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) – CID.10 (1995), a classificação da OMS – CID.10, é baseada ainda no critério quantitativo. Por essa classificação, a gravidade da deficiência intelectual ou mental está relacionada às nomenclaturas: Profundo, Severo, Moderado, Leve. Nesse intuito, de acordo com a OMS, em sua denominação desde 1976, as pessoas com deficiência são classificadas como portadoras de Deficiência Mental leve, moderada, severa e profunda. Essa classificação por graus de deficiência deixava claro que as pessoas não são afetadas da mesma maneira. Contudo, nos dias atuais tende-se a não enquadrar previamente as pessoas com deficiência intelectual em uma categoria baseada em generalizações ou comparações, mas sim considerando a pessoa de acordo com as relações estabelecidas socialmente, por exemplo, seu convívio familiar, os estímulos recebidos, etc. A deficiência intelectual pode ser classificada em leve, moderada, severa e profunda; com base no funcionamento intelectual do indivíduo. No entanto, é o funcionamento adaptativo que determina o nível de apoio necessário que esse indivíduo precisa para realizar diversas atividades). Assim, foram definidos quatro níveis de suporte/apoio para as pessoas com deficiência intelectual: apoio intermitente, apoio limitado, apoio amplo e apoio permanente: O apoio intermitente é oferecido conforme as necessidades do indivíduo. É caracterizado como de natureza episódica, pois a pessoa nem sempre necessita dele. 7 Geralmente se faz necessário por períodos curtos durante transições ao longo da vida, como, por exemplo, perda do emprego ou uma crise médica aguda. O apoio intermitente pode ser de alta ou baixa intensidade A intensidade de apoio limitado é caracterizada por consistência ao longo do tempo. Por exemplo, o treinamento para o emprego no mercado de trabalho por um tempo limitado ou o apoio na transição da vida escolar para a vida adulta. O apoio amplo é caracterizado pelo apoio regular (por exemplo, apoio diário) em pelo menos alguns ambientes (por exemplo, no trabalho, na escola) e não por tempo limitado (por exemplo, apoio permanente nas atividades de vida diária). Apoio permanente é caracterizado pela constância e alta intensidade. É oferecido nos ambientes onde a pessoa vive e é de natureza vital para a sustentação da vida do indivíduo. É importante destacar que não há instrumentos padronizados que avaliam as condutas adaptativas dos indivíduos e o s níveis de apoio que eles necessitam. Assim, um indivíduo não pode ser diagnosticado com deficiência intelectual apenas por testes de QI – quociente de inteligência, outros testes devem ser utilizados para indicar limitações no comportamento adaptativo, que envolve habilidades conceituais, sociais e práticas; considerando o ambiente cultural e da comunidade que o indivíduo está inserido, a diversidade linguística e diferenças culturais. Também se deve considerar o sistema de suporte/apoio que a pessoa necessita 3.1 Graus da deficiência intelectual Profunda: Grandes problemas de comunicação com o meio; São dependentes dos outros em quase todas as funções e atividades, pois suas dificuldades físicas e intelectuais são gravíssimos; Grave: Necessitam de proteção e ajuda para atividades diárias; apresentam muitos problemas psicomotores; precisa de ajuda para comunicar-se. Moderada: São capazes de adquirir hábitos de autonomia pessoal e social; podem aprender a comunicar pela linguagem oral, m as apresentam dificuldades na expressão e compreensão oral; dificilmente chegam a dominar as técnicas de leitura, escrita e cálculo; 8 Leve: Podem chegar a realizar tarefas mais complexas; A sua aprendizagem é mais lenta, mas podem permanecer em classes comuns embora precisem de um acompanhamento especial; podem desenvolver aprendizagens sociais e de comunicação e têm capacidade para se adaptar e integrar no mundo em que vive; apresentam atraso mínimo nas áreas perceptivas e motoras; geralmente não apresentam problemas de adaptação ao ambiente familiar e social. Assim, percebe -se que a deficiência pode até mesmo ser mais agravada ou menos agravada, dependendo da qualidade das relações sociais do sujeito. Compreende-se que, dentro dessa definição, há um cuidado dos sistemas de apoio responsáveis por auxiliarem as pessoas com deficiência intelectual. Neste ponto, cabe analisar algum as questões relativas à função estruturante que a escola e a família precisam exercer com essa criança, ou seja, na constatação de uma necessidade educacional especial de um sujeito , em função de uma deficiência intelectual, a família e a escola precisam oferecer subsídios e oportunidades sociais para que ela se desenvolva, a partir de valores como respeito, aceitação e admiração. 3.2 Principais causas de deficiência intelectual Um dos desafios no diagnóstico da Deficiência Intelectual é estabelecer claramente a origem ou identificar a causa da Deficiência. Em cerca de 40% dos casos, não é possível determinar exatamente qual a causa. No entanto, sabe-se que existem fatores de risco que podem levar à Deficiência e estes fatores são multifatoriais, compostos de quatro categorias: biomédicos, sociais, comportamentais e educacionais. Os fatores podem ser descritos de acordo com o momento de ocorrência, como: pré-natais (durante a gestação), perinatal (no momento do parto) e pós -natais (após o nascimento). Fatores Biomédicos: se relacionam aos processos biológicos. Os principais são: Distúrbios cromossômicos e genéticos; Síndromes genéticas; Distúrbios metabólicos; Doenças maternas; Prematuridade; Distúrbios 9 Neonatais; Lesão ao nascimento; Lesão cerebral traumática; Distúrbios convulsivos, etc. Fatores Sociais: se relacionam com a interação social e familiar, com o estimulação e resposta do adulto. Os principais fatores sociais são: Pobreza/Falta de estímulos; Má-nutrição materna; Violência doméstica; Falta de acesso ao cuidado pré-natal; Falta de acesso aos cuidados no nascimento; Falta de estimulação adequada; Institucionalização, etc. Fatores Comportamentais: se relacionam a comportamentos potencialmente causais, os principais são: Uso de álcool na gestação; Uso de drogas pelos pais; Imaturidade dos pais; Rejeição dos pais ao cuidado da criança; Abandono da criança pelos pais; Abuso e negligência da criança; Violência doméstica, etc. Fatores educacionais: se relacionam à disponibilidade de apoios educacionais que promovem o desenvolvimento intelectual, tais como: Deficiência intelectual dos pais; Falta de preparação para ser pais; Diagnósticotardio; Serviços educacionais inadequados; Apoio familiar inadequado; Falta de encaminhamento para estimulação precoce, etc. Entre os inúmeros fatores que podem causar a deficiência intelectual, destacam- se alterações cromossômicas e gênicas, desordens do desenvolvimento embrionário ou outros distúrbios estruturais e funcionais que reduzem a capacidade do cérebro. 3.3 - Síndrome de Dowm 10 Figura: 3 É a mais frequente entre as anomalias genéticas que causam Deficiência Intelectual (1 a cada 600 bebês nascidos vivos) e o risco da incidência aumenta com a idade materna. Em 94% dos casos, a trissomia é acidental (trissomia simples), em apenas 3,3% dos casos, ocorre por translocação, podendo ser neste caso, hereditária (pode ocorrer mais d e um caso na família) e, em 2,4 % do s casos, ocorre o mosaicismo celular, no qual a pessoa possui uma linhagem de células normais e uma trissômica. As características desta síndrome incluem: deficiência intelectual, hipotonia global (criança com os músculos mais “molinhos”, principalmente quando bebês), dismorfias como baixa implantação das orelhas, cabelos lisos, baixa estatura, com tendência à obesidade, alteração nas pregas das mãos e pés, dentre outras. 3.4 - Síndrome do X Frágil Depois da Síndrome de Down, é a causa genética mais frequente de Deficiência Intelectual. As pessoas com esta síndrome, apresentam algumas características físico-faciais, como face alongada, orelhas grandes e em abano, testículos aumentados, mas o que mais chama atenção é sua 11 característica comportamental (muito agitado, arredio, com dificuldade de interação e contato com o outro, lembrando um Autismo). É transmitida pelo cromossomo X e afeta preferencialmente os meninos. 3.5 - Síndrome do Cri-du-Chat (miado do gato) Síndrome do Miado do Gato, esta desordem tem como característica principal o choro marcante semelhante ao miado de gato, provocado pelo desenvolvimento anormal da musculatura da laringe, a qual se tornará normal em poucas semanas após o nascimento. Além disso, outras particularidades como dimorfismo facial, microcefalia, retardo mental, anomalias dentárias, baixo peso ao nascimento e problemas respiratórios podem estar associados. O quadro clínico varia de paciente a paciente, conforme a idade. No período neonatal, a criança apresenta severa hipotonia muscular, baixo peso e pequena estatura. 3.6 - Síndrome de Angelman A Síndrome de Angelman é uma doença genética e neurológica que se caracteriza por convulsões, movimentos desconexos, atraso intelectual, ausência da fala e riso excessivo. As crianças com esta síndrome apresentam boca, língua e maxilar grandes, uma testa pequena e, geralmente, são loiros e têm os olhos azuis. As causas da Síndrome de Angelman são genéticas e estão relacionadas com a ausência ou mutação no cromossomo 15 herdado da mãe. Essa síndrome não tem cura, no entanto há tratamentos que ajudam a diminuir os sintomas e a melhorar a qualidade de vida dos portadores da doença. A Síndrome de Angelman é uma doença genética que não tem cura, mas seus sintomas podem ser amenizados com as terapias acima e com a utilização de remédios, como a Ritalina, que atua diminuindo a agitação dos portadores desta síndrome. 12 3.7 - Erros Inatos do Metabolismo (Fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito etc.) Alterações metabólicas, em geral enzimáticas, que normalmente não apresentam sinais nem sintomas sugestivos de doenças. São detectados pelo Teste do Pezinho, e quando tratados adequadamente, podem prevenir o aparecimento de deficiência intelectual. Alguns achados clínicos ou laboratoriais que sugerem esse tipo de distúrbio metabólico: falha de crescimento adequado, doenças recorrente s e inexplicáveis, convulsões, ataxia, perda de habilidade psicomotora, hipotonia, sonolência anormal ou coma, anormalidade ocular, sexual, de pelos e cabelos, surdez indecifrável, acidose láctea e/ou metabólica, distúrbios de colesterol, entre outros. 4 - DIAGNÓSTICO Fazer um diagnóstico de deficiência mental pode ser desafiador em alguns casos e requer a aplicação de um criterioso julgamento clínico, frequentemente exigido quando o indivíduo tem uma origem cultural e/ou linguística que difere significativamente da maioria; quando os procedimentos padrões de avaliação não são apropriados (grande s limitações sensoriais e/ou motoras); quando surgem dificuldades no contato e validação das observações dos informantes e outras situações de investigação clínica aprofundada. Os transtornos psicopatológicos identificado s na infância ou adolescência podem se manifestar, primeiramente, de uma forma bastante sutil, oferecendo grandes dificuldades para o avaliador durante a formulação do diagnóstico. 13 O clínico deve, diante de situações diversas, requisitar exames gerais e testes específicos, estabelecendo uma avaliação completa com a família ou responsáveis pelo indivíduo e com a escola ou instituição que este frequenta. A hipóxia perinatal e as infecções congênitas são grandes causas de deficiência mental, bem como a síndrome de Down, que é a síndrome genético- cromossômica mais frequente. Deve -se lembrar da possibilidade da síndrome do X frágil e da síndrome alcoólica fetal (crianças com baixo ganho de peso, lábio superior afilado, fenda palpebral estreita e microcefalia). Dentre as encefalopatias, é importante destacar os erros inatos do metabolismo. Um diagnóstico da presença de deficiência mental requer um julgamento d e que a inteligência e o comportamento adaptativo da pessoa estão significativamente abaixo da média e que os sinais estavam presentes antes dos 18 anos. Isso quer dizer que os profissionais envolvidos no julgamento clínico devem buscar através de observações, entrevistas, testes uma definição clara da presença da deficiência durante o período de desenvolvimento infantil. Essa carência é preocupante, pois compromete a garantia de uma prestação de serviços mais eficiente e de maior qualidade. O julgamento clínico envolve perícia e experiência, emergindo diretamente de dados completos e extensivos. Nesse caso, o julgamento clínico depende de um contato prévio com uma equipe interdisciplinar de profissionais das áreas da saúde e educação, buscando a complementaridade e segurança no diagnóstico, após a formulação adequada do diagnóstico, torna-se imprescindível a preparação de uma conduta terapêutica e educacional apropriada. O diagnóstico de deficiência mental está a cargo de médicos e psicólogos clínicos, realizando- se em consultórios, hospitais, centros de reabilitação e clínicas. Equipes interdisciplinares de instituições educacionais também o realizam. As finalidades do registro diagnóstico são diversas, como entre outras: elegibilidade; concessão de benefícios e assistência previdenciária; concessão de proteção legal; acesso a cotas para o ensino superior e a vagas de emprego. A sua realização requer o uso de instrumento e recursos que garantam 14 resultados confiáveis. Os manuais de psiquiatria e os sistemas internacionais de classificação estão entre os referenciais que mais orientam esse procedimento. 5 - PROCESSO DE INCLUSÃO E APRENDIZAGEM Figura:4 Durante muito tempo, a s crianças com deficiência, as que frequentavam a escola, deveriam ser educadas em salas separadas, pois as crianças consideradas normais precisavam aproveitar melhor das instruções que lhes eram proporcionadas. A defesa desta educação foi feita em nome da “Ordem e Progresso”, princípios que regiam o país naquela época. Estes princípios foram criados em precaução dos desajustados e criminososque poderiam surgir. No entanto, pode se observar que estes estigmas são produtos das relações sociais, definidos por uma sociedade ou grupo social ao qual a pessoa pertence que determina o que é ‘normal’ e o que é ‘diferente’. Na atualidade, no modelo de educação inclusiva que propõe mudanças na forma de atendimento a todas as crianças - não só aquela com deficiência vêm caminhando a passos lentos. Na contemporaneidade as escolas valem se de métodos desiguais, classificatórios e competitivos promovendo os alunos bons, apesar do discurso de respeito às diferenças e especificidades de cada 15 educando. No entanto, entende-se que uma proposta educativa ou terapêutica dirigida a uma criança com deficiência intelectual poderá ser determinante do seu destino. Assim, como a experiência relacional que o sujeito encontra ao longo da vida, permite-lhes ressignificar sua estruturação. O movimento pela inclusão abrange várias ações como, cultural, pedagógica, social e política, buscando o direito de todos os alunos poderem aprender, participar e estar juntos, sem nenhum tipo de exclusão. A educação inclusiva faz parte de um paradigma educacional que se fundamenta na concepção dos direitos humanos, que luta pela igualdade, e que avança em relação ao ideal de justiça nas circunstâncias que revelam exclusão dentro ou fora da instituição escolar. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº 9.394/96, no artigo 59, preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às suas necessidades; assegura a terminalidade específica àqueles que não atingiram o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências e; a aceleração de estudos aos superdotados para conclusão do programa escolar. Também define, dentre as normas para a organização da educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do aprendizado” (art. 24, inciso V) e “[...]oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames” (art. 37). (BRASIL, 20 08, apud TÉDDE, 2012, p.32) A escola comum se torna inclusiva quando reconhece as diferenças dos alunos diante do processo educativo e busca a participação e o progresso de todos, adotando novas práticas pedagógicas. A inclusão não é apenas colocar alunos com deficiência dentro das unidades escolares e achar que isso é o suficiente, o que muito se verifica, hoje, no processo de inclusão é a confusão que se faz entre os termos integração e inclusão. A noção de integração tem sido compreendida de diversas maneiras, quando aplicada à escola. Os diversos significados que lhe são atribuídos devem-se ao uso do termo para expressar fins diferentes, sejam eles pedagógicos, sociais, filosóficos e outros. O emprego do vocábulo é encontrado até mesmo para designar alunos agrupados em escolas especiais para deficientes, ou mesmo em classes especiais, grupos de lazer, residências para deficientes. Por tratar -se de um constructo histórico recente, que data dos anos 60, a integração sofreu a influência dos movimentos que caracterizaram e reconsideraram outras ideias, como as de escola, sociedade, educação. O número crescente de estudos referentes à integração escolar e o emprego 16 generalizado do termo têm levado a muita confusão a respeito das ideias que cada caso encerra. (MANTOAN, p.2, 1993, apud TÉDD E, 2012, p.32). A noção de inclusão não é incompatível com a de integração, porém instituí a inserção de uma forma mais radical, completa e sistemática. O conceito se refere à vida social e educativa e todos os alunos devem ser incluídos nas escolas regulares e não somente colocados na " corrente principal". O vocábulo integração é abandonado, uma vez que o objetivo é incluir um aluno ou um grupo de alunos que já foram anteriormente excluídos; a meta primordial da inclusão é a de não deixar ninguém no exterior do ensino regular, desde o começo. As escolas inclusivas propõem um modo de se constituir o sistema educacional que considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função dessas necessidades. A inclusão causa uma mudança de perspectiva educacional, pois não se limita a ajudar somente os alunos que apresentam dificuldades na escola, mas apoia a todos: professores, alunos, pessoal administrativo, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. O impacto desta concepção é considerável, porque ela supõe a abolição completa dos serviços segregados. A inclusão tentando garantir uma educação de qualidade para os alunos com deficiência incluídos no ensino regular, trouxe através da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, o Atendimento Educacional especializado (AEE), um serviço da educação especial que identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. O AEE tem como missão, identificar, planejar e efetuar recursos tanto de acessibilidade, quanto, pedagógicos que facilitem a participação dos alunos incluídos no ensino regular, visando principalmente seu desenvolvimento e sua aprendizagem. A aprendizagem tem um papel fundamental para o desenvolvimento do saber, do conhecimento. Todo e qualquer processo de aprendizagem é ensino - 17 aprendizagem, incluindo aquele que aprende, aquele que ensina e a relação entre eles. Explica-se esta conexão entre desenvolvimento e aprendizagem através da zona de desenvolvimento proximal (distância entre os níveis de desenvolvimento potencial e nível de desenvolvimento real), um “espaço dinâmico” entre os problemas que uma criança pode resolver sozinha (nível de desenvolvimento real) e os que deverá resolver com a ajuda de outro sujeito mais capaz no momento , para em seguida, chegar a dominá-los por si mesma (nível de desenvolvimento potencial). A constatação empírica confirma e estabelece em nossos dias um conjunto de dados que dizem respeito aos aspectos estruturais e funcionais da vida intelectual dos D.M. Podemos resumi-los no que segue: ● os deficientes mentais configuram uma condição intelectual análoga a uma construção inacabada, mas até o nível em que conseguem evoluir intelectualmente, essa evolução se apresenta como sendo similar à das pessoas normais mais novas; ● embora possuam esquemas de assimilação equivalente aos normais mais jovens, os deficientes mentais mostram-se inferiores às pessoas normais, em face da resolução de situações-problema, ou seja, na colocação em prática de seus instrumentos cognitivos; ● apesar de se definir por paradas definitivas e uma lentidão significativa no processo intelectual, a inteligência dos deficientes mentais testemunha uma certa plasticidade ao reagir satisfatoriamente à solicitação adequada do meio. A objetivação do espaço, do tempo e das relações causais pela coordenação recíproca dos esquemas de ação ocorre quando se dá oportunidade de os alunos deficientes mentais realizarem movimentos tendo sempre em vista conseguir algo desejado, que os mobilize a pôr em prática esquemas conhecidos ou a criar novos meios para se adaptar. Isso significa que não se trata de exercita-los com vistas a conseguir uma destreza motora e nem mesmo uma acuidade sensorial ótimas em si mesmas. Fornecer experiências que favoreçam a estruturação do real, por intermédio dos 18 esquemas, envolve um trabalho que intenta objetivos cognitivos e que não sereduz a mero treinamento de habilidades perceptivo-motoras. As crianças com D.I. necessitam de credibilidade, necessitam que acreditemos em seu aprendizado. Quando estimuladas e incentivadas, as crianças com D.I., nos mostram aprendizagens e desenvolvimentos que nos surpreendem. Alunos com deficiência intelectual são considerados alunos público-alvo da Educação Especial e estão presentes na s escolas regulares e especiais, dessa forma, é importante que o professor conheça as especificidades e necessidades desses alunos para melhor atendê-los, podendo, assim, ser garantido a eles, além do acesso de matriculado, o desenvolvimento e aprendizado. Dessa forma, é importante que seja oferecida a esse público a acessibilidade à inclusão e escolarização, de forma a satisfazer suas necessidades. 5.1- O que é o atendimento educacional especializado (AEE)? Figura:5 O atendimento educacional especializado refere -se a uma prática voltada à educação especial, subsidiada pelas legislações e que visa apoiar o aprendizado 19 e desenvolvimento dos alunos com deficiência. O AEE não se caracteriza como adaptação do ensino escolar e de seus conteúdos acadêmicos, e sim um espaço em que o aluno constrói conhecimento para si mesmo, o que refletirá em seu desenvolvimento acadêmico. Nesse atendimento educacional especializado, preconiza-se o desenvolvimento de habilidades nos alunos para que estes ultrapassem as barreiras impostas pela deficiência. Quando se trabalha com alunos com DI no AEE, é importante a aquisição de habilidades que oportunizem ao sujeito a passagem de uma posição passiva e automatizada para uma ativa no processo de aprendizagem. Dessa forma, oportunizar aprendizagem em situações e experiências vividas pelo aluno pode garantir a ele maior sucesso na realização desse processo. O ambiente físico para a realização do AEE deve ser enriquecedor para o processo educacional dos alunos com DI, proporcionando a eles um melhor envolvimento. Assim como o espaço, o professor também assume um papel fundamental nesse AEE, pois deve conhecer seus alunos e suas particularidades, além de oferecer o desenvolvimento de competências intelectuais e adaptativas. 5.2 - Práticas pedagógicas e alunos com deficiência intelectual Figura: 6 Ao realizar uma atividade com alunos com DI, deve-se utilizar instruções curtas e objetivas, de forma a explicar a atividade em pequenos passos. Por exemplo, ao solicitar que os alunos realizem uma atividade na qual tenham de circular a 20 letra A, na sequência pintar a letra E de amarelo e fazer um x em cima da letra I, sempre realizar a instrução para o aluno com DI em etapas, facilitando, assim, a sua compreensão. Além, disso o uso de reforçadores durante a realização da atividade, tais como elogios, pode ser um mecanismo auxiliador no aumento de comportamentos de interesse na realização da s atividades. Durante a realização de atividades com esses alunos é importante oferecer apoio a eles, por meio de estratégias de pequenos grupos ou parceria com alunos tutores, favorecendo, assim, a interação social desses alunos com seus pares. O apoio a esse aluno também pode ser de um adulto, porém, salienta -se que esse apoio poderá ser retirado aos poucos, buscando-se uma maior autonomia do aluno. Destaca-se que o professor de sala comum, professor da educação especial, a gestão escolar, a família e os demais profissionais envolvidos devem observar o aluno, buscando destacar suas potencialidades, realizando avaliações do seu desenvolvimento e fomentando ações para o ensino, desenvolvimento e autonomia desses alunos. 1. Centralizar as atividades nas aprendizagens funcionais 2. Priorizar o trabalho individual e ou pequenos grupos 3. Utilizar pistas gestuais e chaves visuais para permitir a compreensão de mensagens e situações 4. Proporcionar ajuda adulta de forma sistemática, diminuindo a ajuda, ou aumentando as formas de desafios 5. Desmembrar as atividades em pequenos passos 6. Evitar a superproteção por parte dos adultos e pares 7. Reforçar o esforço 8. Favorecer a atividade sem erro 9. Trabalhar de forma sistemática as atividades da vida cotidiana 10. Realizar práticas motivadoras e alegres que contemplem materiais e recursos diversos 21 11. Dar feedback imediato 12. Utilizar comandos verbais 13. Trabalhar a memória associativa contextualizada 14. Utilizar-se do concreto, porém, não somente em dimensões físicas 15. Estimular curiosidade e desafios ao aluno 16. Reconhecer interesses do aluno 17. Instruções diretas sobre comportamentos em diferentes ambientes 18. Utilizar atividades em blocos 19. Fazer direcionamentos durante a realização das atividades 20. Estimular a interação social 21. Fazer uso de tecnologias assistidas 22. Demanda de cumprimento das tarefas 23. Comparação das potencialidades e dificuldades do aluno com seus próprios parâmetros. 6 - BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL A Educação Especial no Brasil foi introduzida com um caráter elitista, pois, poucas pessoas tinham acesso a esse tipo específico de atendimento, se caracterizava por fatos isolados e seu atendimento se restringia às deficiências visuais, auditivas e deficiências físicas. Já em relação à deficiência mental, quase nada se fazia para sanar algum problema diagnosticado, uma época muito atrasada para tal deficiência. Em 1967, a Sociedade Pestalozzi do Brasil, criada em 1945, já contava com 16 instituições por todo o país. Criada em 1954, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais já contava também com 16 instituições em 1962. Nessa época, foi criada a Federação Nacional das APAES 22 (FENAPAES) que, em 1963, realizou seu primeiro congresso (MEN DES, 1995, apud GH ERLANDI, 2016, p. 05). Então no final da década de 50 e início da década d e 60, começou a se pensar em outros tipos de “deficiências” no Brasil, as APAES e a Associação Pestalozzi começam a “cuidar” dessas pessoas com um enfoque menos clínico e mais para o aprendizado da pessoa com deficiência, iniciando com as AVDs (Atividades de Vida Diária) e AVDs (Atividades de Vida Prática). Pode-se perceber que houve uma ampliação das instituições privadas de caráter beneficente, isentando assim o governo da obrigatoriedade de oferecer o atendimento necessário aos deficientes n a rede pública de ensino, e isto se dá até os dias d e hoje. A partir de 1957, o atendimento educacional a pessoas que apresentavam deficiência foi avocado pelo governo federal, em âmbito nacional. Ao longo da década de 60, ocorreu um crescimento do número de escolas de ensino especial jamais observado no cenário do nosso país. Em 1969, havia mais de 800 estabelecimentos de ensino especial para deficientes mentais. Enquanto que, na década de 70, observamos nos países mais desenvolvidos amplos debates e indagações sobre a integração dos deficientes mentais na sociedade. Já no Brasil ocorre a institucionalização da Educação Especial através de programas de políticas públicas; sendo criado o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), em 1973. Em 1989, a lei Federal 7.853/89, institui a CORDE – Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência - a oferta obrigatória e gratuita de Educação Especial em estabelecimentos públicos de ensino, e prevê crime punível com reclusão de uma a quatro anos e multa para os dirigentes de ensino público ou particular que se recusarem sem justa causa a matrícula de qualquer aluno com qualquer deficiência em seu estabelecimento. Com a publicação da Declaração de Salamanca, na metade do séc. XX, surge um movimento em prol da Educação Inclusiva que defende a integração e a inclusão da pessoa com deficiência emtodo a esfera da sociedade, o indivíduo deficiente passa a ser “visto” como cidadão de direitos e deveres. A Declaração de Salamanca foi promulgada em junho de 1994, na Espanha, onde se estabeleceu que escolas regulares inclusivas se tornassem eficazes no combate à discriminação e determinava que as escolas devessem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, 23 mentais, sociais, emocionais e linguísticas. Mais adiante, na publicação da LDB 9394/1996 as pessoas com deficiência tiveram seus direitos assegurados na forma da Lei. Art. 58. Entende- se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de educação especial. §2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular. BRASIL, 1996, apud GHERLANDI, 2016, p. 06). Toda essa evolução da Educação Especial se deu de forma lenta e culturalmente perturbadora; para muitas famílias era difícil admitir um deficiente em seu meio, sendo este um processo ainda mais lento nas cidades interioranas. Famílias mais abastadas e com uma compreensão intelectual um pouco melhor, buscavam atendimento para seus filhos e parentes nas escolas especializadas existentes, já famílias mais humildes, ainda escondiam seus filhos em suas casas, e às vezes os mandavam morar em asilos ou em casa de parentes em outros estados, pois, existia a “cultura da vergonha” de se ter um filho (a) dito “especial”. Com o tempo isso foi sendo amenizado, pois, quanto mais manifestava-se sobre o tema e esse era disseminado na mídia e na sociedade contemporânea, os próprios familiares começaram a procurar mais estabelecimentos de ensino, que pudessem dar atendimento para seus filhos de maneira digna e saudável. A elaboração de projeto preliminar de Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica havia sido discutida por diversas vezes, no âmbito da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, para a qual foi enviado o documento “Referenciais para a Educação Especial”. Após esses estudos preliminares, a Câmara de Educação Básica decidiu retomar os trabalhos, sugerindo que esse documento fosse encaminhado aos sistemas de ensino de todo o Brasil, d e modo que suas orientações pudessem contribuir para a normatização dos serviços previstos nos Artigos 58, 59 e 60, do Capítulo V, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN. 24 Representando um avanço em relação ao movimento de integração escolar, que pressupunha o ajustamento da pessoa com deficiência para sua participação no processo educativo desenvolvido nas escolas comuns, a inclusão postula uma reestruturação do sistema educacional , ou seja, uma mudança estrutural no ensino regular, cujo objetivo é fazer com que a escola se torne inclusiva, um espaço democrático e competente para trabalhar com todos os educandos, sem distinção de raça, classe, gênero o u características pessoais, baseando-se no princípio de que a diversidade deve não só ser aceita como desejada.( LDBEN.2001, apud GHERLANDI, 2016, p. 07). Ainda que na legislação recomende-se o atendimento de pessoas com deficiência no ensino comum, o mesmo não chega a 40% da população que necessita dos serviços propostos. No entanto, as matrículas de crianças com deficiências na rede pública têm aumentado, conforme o Censo Escolar do MEC/INEP (2006), passando, gradativamente, a responsabilidade desse atendimento para as esferas municipais, estaduais e federais e não mais para as entidades beneficentes, mantidas com o auxílio da comunidade. Para considerarmos uma oferta de Escola Inclusiva, faz -se necessário refletir como os professores deveriam se adequadamente capacitados em suas ações do dia -a -dia para que possa modificar sua prática pedagógica. Em um âmbito geral, sabemos que os professores que atuam na Rede Regular de Ensino foram pouco ou nada preparado para receber e acolher as peculiaridades enfrentadas pelos alunos da Educação Especial, em contrapartida, está arraigado em seus saberes a homogeneização da classe, negando as diferenças. 7 - ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO: HISTÓRICO E CONCEITOS 25 Figura:7 Até o início do século XX não havia de se quantificar atributos da inteligência, o que começou a se tornar possível quando Alfred Binet, um psicólogo francês, desenvolveu a primeira escala de desenvolvimento infantil. Milhares de crianças foram observadas sistematicamente, possibilitando a identificação e a descrição das tarefas que podiam ser desempenhadas em cada etapa do desenvolvimento cronológico infantil. A partir do trabalho de psicólogos, o conceito de superdotação foi ampliado, passando a incluir a criatividade e seus vários componentes, como por exemplo, pensamento divergente, solução de problemas e a capacidade de tomada de decisão. Ainda, mais recentemente, acrescentou -se ao conceito de superdotação termo talento, de forma que indivíduos que demonstram habilidades marcantes nas artes de representação, ou mesmo que excedem em outras áreas de desempenho, podem igualmente ser designados como superdotados. O termo superdotado é usado para indicar alguma criança que se destaca da s demais, podendo ser em habilidades especificas ou gerais dentro de seus ambientes de convívios cotidianos. A definição de superdotados descrita pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura) é de que são considerados superdotados todos aqueles que apresentam desempenho mais aguçado e também elevada potencialidade e habilidade em qualquer um dos seguintes 26 aspectos, podendo ser isolados ou combinados: capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica especifica, pensamento criador ou produtivo, capacidade de liderança, talento especial, dramáticas e musicais. De acordo com as Diretrizes para educação especial (MEC, 1995), o tipo intelectual seria aquele que apresenta flexibilidade e fluência do pensamento, capacidade de pensamento abstrato para fazer associações, produção ideativa, rapidez do pensamento, julgamento crítico, capacidade de resolver e lidar com problemas; o tipo acadêmico apresenta aptidão acadêmica específica concentração, rapidez de aprendizagem, boa memória; o tipo criativo apresenta originalidade, imaginação, capacidade para resolver problemas de forma diferente e inovadora; tipo social que revela a capacidade de liderança e persuasão; o tipo criativo, que apresenta flexibilidade, facilidade de auto expressão ; o tipo psicomotor, que se destaca nos esportes, agilidade e resistência e finalmente os tipos especiais, que revelam destaques nas artes plásticas, músicas e literatura. Essas características descritas como superdotação, podem ser encontradas combinadas entre si, além de ter a possibilidade de aparecimento de outras características e habilidades. Portanto, nem todos os alunos superdotados apresentam um conjunto dessas características, e quando as tem, não a apresentam necessariamente em simultaneidade, às vezes são camufladas dependendo as circunstancias que a criança está vivendo. Há também aqueles que possuem altas habilidades e superdotação, mas têm rendimento escolar inferior ao nível de estudo o qual está inserido, então, manifestam falta de interesse e desmotivação para os estudos acadêmicos e paraa rotina escolar, podendo também apresentar dificuldades de socialização e integração ao grupo de alunos, desencadeando problemas de aprendizagem e de adaptação escolar. Esses alunos por muitas vezes acabam por ser “podados” pelos profissionais da educação quando não identificados, pois eles são enxergados pelas dificuldades que apresentam e não pelas qualidades ou habilidades que devem ser estimuladas. 27 A identificação e avaliação dos alunos com altas habilidades e superdotação é processual e contínua, podendo ocorrer a partir da observação do professor sobre os alunos que se destacam dentre os demais alunos da turma. Depois os pais devem ser consultados sobre o dia a dia dessa criança no ambiente familiar, verificando se é percebido essa habilidade ou se a família tem estimulado essa área na criança. Verificar como o aluno se apresenta em relação aos demais alunos; realizar avaliação pedagógica para que se revele realmente a área da habilidade ou superdotação. O aluno com altas habilidades e superdotação pode ser descoberto em qualquer uma das etapas da escolarização, mas o quanto antes for identificado poderá ter mais atendimento especializado e ser estimulado dentro de sua área de interesse. Cabe essa responsabilidade ao professor de estar redimensionando seu olhar através de estudos, pesquisas e formações continuadas a estar fazendo um diagnóstico minucioso e detalhado desses alunos, para que se possa trabalhar dentro da área de interesse desses alunos e orientar a família como lidar com essa superdotação. Conforme o Plano Nacional de Educação, Não há como ter uma escola regular eficaz quanto ao desenvolvimento e aprendizagem dos educandos especiais sem que seus professores, demais técnicos, pessoal administrativo e auxiliar, sejam preparados para atendê-los adequadamente. (BRASIL, 2001, apud SOUZA, 20 13, p. 15) Nesse sentido, a escola e seus profissionais devem estar devidamente preparados para atender essa clientela e também precisa assumir uma postura primordial frente a essa realidade existente, a de estar fazendo a inclusão desses alunos superdotados, já amparados pela legislação há algumas décadas, como a LDB, as escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes comuns atividades que favoreçam, a o aluno que apresente altas habilidades/superdotação, o aprofundamento e enriquecimento de aspectos curriculares, mediante desafios suplementares nas classe s comuns, em sala de recursos ou e m outros espaços definidos pelos sistemas de ensino, inclusive para conclusão, em menor tempo, da série ou etapa escolar. 28 É na escola que o superdotado pode revelar as suas faces diante de comportamentos, que podem levar desde uma evolução e aprimoramento de suas habilidades até ao comportamento tedioso que, em muitos casos, reproduzem um aproveitamento escolar insatisfatório. 7.1 Inteligências: o contexto histórico Figura:8 As discussões sobre inteligência, Altas Habilidades/Superdotação, incluindo concepções, identificação e modelos de atendimento educacionais, vêm sendo, ao longo do tempo, debatidas a partir de várias vertentes teóricas. Verifica -se uma grande preocupação em relação a essas discussões tanto sobrea complexidade do assunto quanto a necessidade de ir além das concepções ainda calcadas em mensuração de inteligência ou meramente em questões acadêmicas. Constata-se, pela via da história, que o interesse pelos mais capazes e mais habilidosos é antigo. Interessante observarmos o pensamento de Platão (século. IX a.C.,1999) em A República, cuja tônica se dá em torno de diálogos entre Sócrates e seus discípulos. Assim, num diálogo entre ele e seu discípulo Glauco, o assunto abordado diz dos aspectos relacionados à seleção dos cidadãos para a cidade ideal de Platão. Sócrates desenvolve seu 29 pensamento baseado na ideia de que a alma dos homens possui dois elementos: a coragem e a sabedoria. Deus, ainda de acordo com o filósofo, deu aos homens duas artes: a música e a ginástica. O filósofo ressalta que a dádiva não foi dada nem para a alma, nem para o corpo, mas, sim, para os dois elementos já citados, ou seja, a coragem e a sabedoria. Da associação do que é inato com o que é dom divino, nasce a perfeição em um dos campos, música ou ginástica. Dessa forma, Sócrates convence Glauco de que, para a formação de líderes para a cidade idealizada, seria necessário ao cidadão deter a capacidade de regular essa associação. Sócrates então passa a formular o que ele chamou de “fábula” para a organização social da cidade em questão pela via da educação. Primeiramente, os chefes, os soldados e os cidadãos seriam convencidos de que “na cidade sois todos irmãos, entretanto, o Deus que os forjou misturou ouro na composição daqueles que podiam deter o comando, logo, estes seriam mais preciosos. Naqueles que podiam auxiliar, Deus misturou prata. Ferro e bronze foram as misturas daqueles que deveriam dedicar-se ao trabalho na lavoura e artesanato. Nessa concepção, a educação seria, inicialmente, a mesma para todos. Por meio dela, os cidadãos seriam identificados como tendo alma de bronze, de prata e de ouro, formando assim três classes na sociedade. Aos com alma de ferro e bronze seria destinado o lugar social da sustentação econômica – artesãos e lavradores –; aos com alma de prata – os auxiliares (guerreiros) –, caberiam a defesa e o poder; já ao s com alma de ouro, os que devem deter o comando da cidade – guardiões e administradores –, seriam confiados o saber e a filosofia, por meio de uma longa e diferenciada formação. 30 7.2- Características do superdotado Figura:9 Embora seja um grupo de alunos heterogêneo, é importante considera que nem todos os alunos vão apresentar todas as características aqui listadas, sendo algumas mais típicas de uma área do que de outras . Características comportamentais: Necessidades de definição própria; capacidade de desenvolve interesses; aborrecimento fácil com a rotina; busca de originalidade e autenticidade; desejo pelo aperfeiçoamento pessoal; rejeição de autoridade excessiva; fraco interesse por regulamentos; senso de humor altamente desenvolvido; descuido na escrita; impaciência com detalhes. Características de aprendizagem: Podem apresentar poder de observação, exibir uma percepção clara do que é significativo e ser especialmente atencioso; podem ler bastante, independência, mostrando preferência por livros e revistas escritos para crianças mais velhas; frequentemente demonstram grande prazer na atividade intelectual; apresentam capacidades bem desenvolvidas de abstração, de conceituação e de síntese; podem rapidamente perceber semelhanças, diferenças e anomalias; frequentemente abordam um material complexo, dividindo -o em seus componentes e analisando-os sistematicamente. Características de pensamento criativo: os indivíduos criativos têm uma percepção intuitiva aberta e não julgadora; formação acidental de conceitos; 31 curiosidade aliada a um alto nível de inteligência; senso de humor; grande sensibilidade estética; gosto pelo risco; fortes interesses simbólicos. O indivíduo criativo pode ser inconformista; humorista; originalidade; capacidade de elaboração; persistência e dedicação; malabarismo intelectual; flexível. Um dos componentes fundamentais do ato criativo é a independência e, por este motivo, o indivíduo excepcionalmente criativo apresenta forte senso de liberdade para com os seus atos; ele não admite relações de dependência para com os outros. (STEIN 1975, apud SOUZA, 2013, p. 19) O problema fundamental do indivíduo criativo consiste e m aprendera enfrentar a desconformidade que resulta da sua divergência. Isto leva a dificuldades diversas relacionadas a como lidar com as pressões sociais sendo-se uma pessoa fortemente original e quase que compulsivamente inovadora. As características descritas anteriormente podem se manifestar de forma construtiva, favorecendo a aprendizagem e boas socializações interpessoais, como podem se manifestar de forma dificultadora, delimitando as relações interpessoais e sendo, difíceis e dolorosas. Ocorrendo intolerância, e falta de compreensão por parte dos colegas bem como o aluno ser considerado “diferente” pelos professores. Essas situações podem levar o aluno para o isolamento e posteriormente exclusão do grupo social. A superdotação em crianças e adolescentes, é composta por três fatores: precocidade ou talento; pensamento divergente (criativo e/ ou crítico) e dedicação obstinada a determinadas tarefas. “A precocidade está sempre relacionada não ao comportamento ou forma de pensamento propriamente ditos, mas, à idade em que estes são exibidos [...]” (GAMA, 20 06, apud SOUZA, 2013, p.19). Assim as crianças precoces apresentam um desenvolvimento a cima da média superando o nível esperado para sua idade, sendo prematuro em qualquer área do conhecimento, como exemplo: Uma criança que lê antes dos quatro anos de idade. Depois vem o prodígio, refere-se àquelas crianças que, em uma idade precoce até os dez anos demonstram um desempenho a o nível d e um profissional adulto e m algum campo cognitivo específico, ou seja, criança com habilidades extremas, capaz de desempenhar tão bem quanto um adulto, o que parece contrariar a ordem normal da natureza, podendo vir a causar desconforto e estranhamento, como exemplo: Mozart, que com três a nos de 32 idade já tocava piano maravilhosamente bem, superando qualquer profissional adulto. O Gênio também pode ser uma classificação de acrianças com altas habilidades/superdotação, sendo caracterizado como gênio aquele que transforma um campo de conhecimento com consequências fundamentais e irreversíveis a partir de estudos e pesquisas buscando conhecimentos e deixando grandes contribuições para a sociedade, é aquele que, além d e deixar sua marca pessoa l no seu campo de atuação, leva as pessoa a pensarem de forma criativa e diferente. Para a comunidade científica, o uso do termo “gênio” deve ser resguardado para descrever apenas aquelas pessoas que deram contribuições originais e de grande valor à humanidade. Os gênios são os grandes realizadores da humanidade que mudaram os paradigmas de um tempo, aqueles cujo conhecimento e capacidade são incrivelmente excepcionais e únicos. Como exemplos podem citar: Einstein, Freud, Leonardo da Vinci. Que dentro de sua área d e atuação e pesquisa contribuíram para o desenvolvimento da sociedade atual. Uma criança capaz de tocar violino aos sete anos, com a competência de um músico; resolver problemas algébricos aos nove ou começar a falar por volta dos três ou quatro meses de vida, está sujeita à rejeição daqueles que a cercam por conta da não compreensão de seus feitos. Entre estas crianças precoces, algumas vão apresentar outras características de superdotação quando mais velhas, outras não. O pensamento divergente, outro fator da superdotação, é representado pela capacidade de pensar respostas novas, de dar soluções diferentes para problemas abertos enquanto que o pensamento convergente almeja encontrar a resposta certa, aquela que foi definida a priori. Na verdade, a distinção entre pensamento criativo e pensamento crítico é apenas uma forma de diferenciar aluno superdotados que dão preferência à criação de produtos novos – pinturas, músicas, coreografias, textos literários, poemas, etc. – daqueles que dão preferência à resolução de problemas – matemáticos, científicos, ou outros – que não implicam no surgimento de um produto n a concepção m ais corriqueira da palavra [... ]. (GAMA, 2006, apud SOUZA, 2013, p.21) As características para identificar uma superdotação são: habilidade acima da média; comprometimento com a tarefa; e criatividade. 33 O conjunto dessas três características define um superdotado, e a presença isolada de qualquer um destes traços não seria suficiente para definir a superdotação, pois é na interligação entre os três que se encontra a produção ou criação superior. Assim a primeira é fundamental que manifesta a potencialidade superior em todo e qualquer campo do desempenho humano e envolve duas dimensões: habilidades gerais: incide na aptidão de processar e apreender informações, agregar experiências que resultem em respostas apropriadas e adequadas a novas situações e na capacidade de se engajar às experiências abstratas e, habilidades específicas: constituem - se na habilidade de adquirir conhecimento, prática e agilidade para atuar em uma ou mais atividades de determinadas áreas do saber e fazer; a segunda característica descrita pelo autor relaciona -se ao direcionamento especifico de atuação na realização de tarefas o aluno apresenta algumas características no envolvimento com a tarefa: perseverança, persistência, dedicação e autoconfiança; A terceira envolve aspectos de: fluência, flexibilidade, originalidade de pensamento, abertura a n ovas experiências, curiosidade, sensibilidade e coragem para correr riscos. No entanto, essa característica, deve-se ressaltar que, a criatividade não está somente relacionada à área artística, mas também a qualquer área que o aluno se interesse, acreditando-se que o seu desenvolvimento e a motivação dentro no estudo de seu interesse ampliem as possibilidades de este ter sucesso, alto nível de desenvolvimento. Ele acredita também que a superdotação possa ser uma transição. O indivíduo pode apresentar algumas características de altas habilidades decorrente do meio e do estimulo ao qual vive. Mas para ser classificado como um superdotado há uma combinação de fatores e características que o define como um superdotado, ou seja, o aluno precisa ter associações de habilidades: Criatividade; Habilidade acima da média e comprometimento com a tarefa. A superdotação emerge ou “se esvai” em diferentes épocas e sob diferentes circunstâncias da vida de uma pessoa; assim, os comportamentos de superdotação podem ser exibidos em certas crianças (mas não em todas elas) em alguns momentos (não em todos os momentos) e sob certas circunstâncias (e não em todas as circunstâncias de sua vida). 34 A habilidade acima da média, um dos componentes da superdotação, só pode ser identificada investigando o contexto no qual a criança está inserida com as demais crianças da mesma realidade. A habilidade acima da média pode ser detectada tendo com o referência um grupo homogêneo de pessoas (por exemplo, os alunos de um a m esma turma escolar), da mesma faixa etária e aproximadamente da m esma origem socioeconômica (já que as oportunidades de expressão das AH /SD estão estreitamente vinculadas ao contexto) (FREITAS, 2010, apud SOUZA, 2013, p. 23). Com base em diversos autores , destacam boa parte das características mencionadas quando se trata de pessoas com AH/SD: precocidade, gosto e nível elevado de leitura; interesses variados e diferenciados; tendência a se associar com pessoas mais velhas; assincronismo; preferência por trabalhar ou estudar sozinhos; independência; autonomia; senso de humor refinado; sensibilidade estética muito desenvolvida; elevada capacidade de observação; liderança; gosto e preferência por jogos que exijam estratégia. Como se podeperceber, a concepção de inteligência foi se ampliando no decorrer do tempo, com implicações importantes para a prática educacional, e mais especificamente, para a prática pedagógica do professor, em sala de aula, especialmente no que se refere à identificação das necessidades educacionais especiais do aluno e ao seu ensino. Crianças superdotadas dispõem de um alto nível de inteligência de padrão cru, ou seja, possui potencialidades, mas necessitam ser trabalhadas, desenvolvidas e aperfeiçoadas. Gardner acredita que estas crianças, quando expostas a conteúdos específicos das inteligências nas quais tem potencial, bem como têm oportunidades para explorar tais conteúdos , possuem verdadeiras chances de s e tornarem excepcionais em campos de atividade que dependem das inteligências em questão. (GAMA, 2006, apud SOUZ A, 2013, p. 23) Entretanto é preciso estar em alerta para a impossibilidade de estabelecer fórmulas para o reconhecimento das características que representem a existência de altas habilidades e superdotação, o que demanda um olhar atento sobre a criança. Mesmo porque, uma criança talentosa não deixa d e ser uma criança e por isso, pode apresentar condutas típicas de sua faixa etária mesmo que contrastantes com suas habilidades. 35 Acredita-se que a única característica que distingue a criança com altas habilidades e superdotação das demais, é o talento. Este talento surge da capacidade de adquirir conhecimento, desenvolver habilidades e compreender a experiência. Esta criança necessita de incentivo, pois caso contrário, pode desistir ou voltar seu talento para fins destrutivos e antissociais. 8 - POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA PESSOAS COM ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO NO BRASIL Remontam à época de 1960, no Brasil, as primeiras prescrições normativas sobre a formação de professores para atuarem com pessoas com necessidades educacionais especiais. A Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais (CADAME) colaborou com o então Ministro da Educação e Cultura, Pedro Paulo Penido, para a aprovação do Decreto nº 48.961, de 22 de setembro de 1960, documento que aponta, no artigo 3º, a forma com o devia ser desenvolvida a educação, treinamento, reabilitação e assistência educacional das crianças deficientes mentais de qualquer idade ou sexo . Porém, não houve menção à educação especial de superdotados. A primeira menção de Educação para “alunos excepcionais”, nas políticas públicas brasileiras, aconteceu na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) aprovada em 1961. Porém, somente 10 anos depois, em 1971, com a promulgação da Lei de No 5.692/71, a LDB incluiu explicitamente as diretrizes para o ensino de superdotados no Artigo 9º da que afirma que os superdotados deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas fixadas pelos competentes Conselhos de Educação. Em seguida, no ano de 1973, foi criado o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), que agia vinculado ao MEC com o intuito de promover ações educacionais e financiar ações de atendimento ao portador de necessidades especiais, que inclui tanto as deficiências quanto as AH/SD. Com base na 36 Portaria Ministerial nº 550, o CENESP definiu seu Regimento Interno, o qual dispõe nos caput e parágrafo único do art. 2º: O CENESP tem por finalidade planejar, coordenar e promover o desenvolvimento da Educação Especial no período pré-escolar, nos ensinos de 1º e 2º graus, superior e supletivo, para os deficientes da visão, da audição, mentais, físicos portadores de deficiência múltiplas, educandos com problemas de conduta e os superdotados, visando à sua participação progressiva na comunidade, obedecendo aos princípios doutrinários, políticos e científicos que orientam a Educação Especial (MAZZOTTA, 2003, apud MATOS, 2016,p.178 ). A criação desse órgão representa uma inclusão legal do quadro da Educação Especial na lista de responsabilidades e preocupações do governo. Após 13 anos, em 1986, esse órgão – CENESP – foi substituído pela Secretaria de Educação Especial (SEESP) que prontamente publicou manuais para a orientação do ensino de alunos com AH/SD. Finalmente, por meio da elaboração do Plano Nacional de Educação (Lei Federal Nº 10.172 de janeiro de 2001) e das Diretrizes Nacionais da Educação Especial na Educação Básica, em setembro de 2001, foi determinado a implantação de programas de atendimento especializado aos alunos com Altas Habilidades/Superdotação nas áreas artísticas, intelectual e psicomotora. Somente, no ano de 2005, em parceria com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e as Secretarias de Educação, são criados os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) em todos os 27 territórios brasileiros, que passaram a ser referência de atendimento aos alunos com AH/ SD, disponibilizando recursos didáticos e pedagógicos para o ensino dos mesmos e realizando a formação de professores que atuam com esses alunos, para que fossem capazes de atender os desafios vinculados à condição que esses alunos apresentam. Estes núcleos são preconizados na política educacional e representam uma resposta às necessidades da sociedade, e esses alunos, que por muito tempo foram tidos como inexistentes, passam a ganhar direitos e tratamento apropriado às suas necessidades especiais. 37 O Censo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas indica 2.982 alunos com Altas Habilidades/Superdotação no Brasil. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima a porcentagem de 3,5 a 5%, aproximadamente oito milhões de pessoas, que a presentam AH/SD no nosso país. Entretanto, para esse índice foram consideradas apenas altas habilidades nas áreas linguística e lógico- matemática, consideradas áreas cognitivas baseadas em testes de Quociente de Inteligência (QI). Pesquisas que levam em consideração outros tipos de inteligência além da cognitiva indicam que esse número pode chegar até 7,78% da população brasileira. Esses dados indicam um elevado percentual de alunos com AH/SD e que necessitam de atendimento específico. No Brasil os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação (NAAH/S) representam uma conquista materializada em 2005. 9 - IMPORTÂNCIA DE PROGRAMAS ESPECÍFICOS PARA ALUNOS COM AH/S Por serem considerados acima da média, muitos acreditam que os alunos com AH/SD não precisam de atendimento especializado. Somado a isso, ainda há a crença de que alunos com deficiência físicas e intelectuais são mais carentes desses serviços do que os alunos com altas habilidades. Essa ideia está arraigada a um preconceito inconsciente de que as deficiências precisam de auxílio, enquanto que os superdotados já são privilegiados. Alunos com AH/SD são alunos com Necessidades Educacionais Especiais, eles enfrentam obstáculos nos estudos e necessitam de adaptação de currículo e/ou estratégias pedagógicas diferenciadas, e por isso são a tendidos pela Educação Especial. Devido à capacidade de assimilação acima da média dos colegas, o aluno com AH/SD apresenta mu itas vezes dificuldade de concentração durante as aulas, e outras vezes se sente entediado e desmotivado. Sem interesse, esse aluno deixa de participar das aulas, algumas vezes até atrapalhando o andamento da classe com atividade s paralelas que para ele parece bem mais interessante. Sem interesse, esse aluno deixa de participar das aulas, muitos questionam a necessidade de programa especiais para alunos com Altas Habilidades/Superdotação. No entanto, crianças superdotadas tem duas necessidades 38 primárias, a primeira é que precisam se sentir confortáveis com elas mesmas e com a diferença que simultaneamente abre possibilidades e cria dificuldades; e segundo, elas precisam desenvolver seu potencial. As dificuldades não estão relacionadas as habilidades acadêmicas, mas a maior parte do tempo, estão relacionadas com habilidades sociais, cuja relação é dialética, ou seja, uma condição interfere na outra. A reunião de estudantes com altas habilidades em programas especializados cria um ambiente onde podem se sentir confortáveis estudando junto com pares que apresentam necessidades educacionais semelhantes, possibilitando assim o desenvolvimento de suas potencialidades. Para isso, metodologias de ensino e práticas pedagógicas diferenciadas são desenvolvidas para apresentar assuntos complexos e uma ampla gama de informações em um curto período de tempo. Crianças superdotadas não somente aprendem mais rápido que outras, mas também aprendem de maneira diferente. Os métodos de ensino tradicional tomam assuntos complexos e os quebram em assuntos menores, como pequenas doses que são apresentadas uma de cada vez, porém as mentes superdotadas podem consumir grandes quantidades de informação de uma só vez, aumentando gradativamente em complexidade. Para suprir essas necessidades apresentadas por alunos com AH/SD, faz -se necessário desenvolver programas de atendimento especializado que sejam adequados às suas necessidades educacionais especiais desses alunos. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva afirma claramente que os alunos com AH/SD são alvo de atendimento educacional especializado em todas as etapas e modalidades da Educação. No Decreto 7611/11 estão determinados tanto os tipos de atendimento especializado oferecido aos alunos com AH/SD quanto a responsabilidade técnica e financeira do MEC na ampliação desses serviços. De acordo com este documento e também com a Nota Técnica n° 04, emitida pela Diretoria de Políticas de Educação Especial da SECADI, no Artigo 2º, parágrafo 1º e inciso II; os serviços oferecidos pelo atendimento 39 educacional especializado - compreendido como o conjunto de atividades, recursos pedagógicos organizados institucionalmente e continuamente devem ser prestados de forma suplementar à formação de estudantes com altas habilidades/superdotação. De maneira nenhuma os serviços de atendimento especializado visam substituir a educação regular. Na página da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação, pode ser encontrada a seguinte afirmação: No Brasil não existe escola especial para pessoas com altas habilidades/superdotadas. O sistema regular de ensino em classe comum deverá assegurar a matrícula de todo e qualquer aluno, conforme a legislação, organizando-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais. O aluno com Altas Habilidades/ Superdotado deverá receber atendimento suplementar em Salas de Recursos ou em outros espaços definidos pelo sistema em horário contrário ao das aulas regulares (MAIA, 2004, apud MATO S, 2016, p.184). Entretanto, muitas vezes esse direito ao atendimento especializado, em sal as e horários diferenciados, não é assegurado. Em muitos casos, estes alunos precisam contar com um pai persistente, um professor interessado ou um administrador de escola inovador para que se sintam suficientemente motivados em sala de aula. Essa nem sempre é uma tarefa fácil, e por isso, é necessário aumentar a conscientização sobre a importância da qualidade do programa de ensino para alunos dotados de altas capacidades. Os tipos de atendimentos especializados oferecidos aos alunos com AH/SD podem variar de acordo com as políticas públicas vigentes ou das decisões dos governos municipais e estaduais tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, porém, todos esses atendimentos podem ser separados de m odo geral em duas categorias básicas: aceleração e compactação de currículo; ou enriquecimento curricular. O método do enriquecimento, bastante aplicado no Brasil, é m ais adequado. O aluno com altas habilidades frequenta sua turma regularmente e no contra horário recebe atendimento individual de um professor especializado, que irá trabalhar com projetos específicos (PÉREZ, 2007, apud MATO S, 2 016, p.185). Em outras palavras, as atividades n o núcleo visam tornar cada aluno um aprendiz de pesquisador . Dessa forma, o ensino para alunos com AH/SD tem 40 como base atividades desenvolvidas de forma específica, diferenciada e direcionada para sua área de domínio, possibilitando a ampliação dos conhecimentos e oferecendo condições para o desenvolvimento mais efetivo de seus estudos. 9.1- A importância das estratégias de diferenciação curricular e o contexto escolar atual Após o processo de identificação, é importante que o (a) professor (a) disponha de estratégias de diferenciação curricular. No entanto, o currículo é algo que tem sido questionado durante a prática pedagógica. Pois a o invés de oferecer possibilidades de inovação, apenas reproduz o que a escola propõe. A dimensão política da educação e da escola deveria ser caracterizada como um espaço social e democrático. Porém, não é assim que acontece. Os (as) alunos (as) não escolhem o que aprendem, e o conhecimento lhes é imposto. As escolas apenas reproduzem o conhecimento que visa instruir os estudantes, a se tornarem seres passivos, no intuito de adaptá-los a uma sociedade que não satisfaz as suas necessidades educacionais. O contexto político da educação e da escola apresenta práticas curriculares no qual os (as) alunos (as) têm que se adaptar. Para Silva (2004) “O currículo é sempre resultado de uma seleção: de um universo mais amplo de conhecimentos e saberes, seleciona -se aquela parte que vai constituí-lo”. Ou seja, o conteúdo é selecionado, e imposto aos (as) alunos (as), de modo que não há uma reflexão sobre a sua importância, os (as) estudantes apenas aprendem o que lhes é ensinado, de acordo com o interesse d e uma minoria. O modelo curricular reproduz as estruturas sociais. Tendo um papel importante na reprodução da estrutura de classes da sociedade capitalista, atuando ideologicamente. Apenas 6560 transmitindo a ideologia dominante. Neste sentido, é importante professores (as), pedagogos (as), psicólogos (as) e outros sujeitos que participam da vida escolar, apontar as crítica relacionadas ao currículo, pois elas questionam a realização do mesmo em função dos arranjos sociais e educacionais, que tratam das desigualdades e injustiças sociais. E isto é um fator importante, pois devemos refletir sobre o que se deve aprender na escola, como forma de atender às necessidades da sociedade e não apenas de quem está n o poder. É preciso proporcionar aos (as) alunos (as) conteúdos de seus 41 interesses e desperte o espírito investigativo no processo de aprendizagem. Por isso, é essencial que trabalhar nas salas de aula, atividades artísticas para desenvolver a criatividade dos (as) alunos (as). Ao refletirmos sobre a importância do modelo curricular, verificamos que o importante não é desenvolver técnicas de como fazer o currículo, mas desenvolver conceitos que permitam compreender o que ele pode proporcionar. Sendo assim, não seremos manipulados pela ideologia que o currículo apresenta, mas tentaremos mudar a realidade que é imposta por ele. Inclusive na escola, pois ela atua ideologicamente. Para Moreira (2002) os dominantes apresentam estratégias de conservação, com a finalidade de
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