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Terapias Comportamentais e Cognitivas convergências e divergências.

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8 - Terapias Comportamentais e Cognitivas: convergências e divergências. 
 
8.1. As terapias comportamentais – o paradigma comportamental 
A análise Comportamental Clínica, também freqüentemente nomeada como 
Terapia Analítico-Comportamental, é um termo usado para se referir às propostas de 
intervenção clínica que são baseadas nos princípios provenientes da Análise 
Experimental do Comportamento e do Behaviorismo Radical de B. F. Skinner. Suas 
estratégias de intervenção estão voltadas para o setting terapêutico, em que há ênfase na 
análise operante do comportamento verbal, na relação terapeuta-cliente e na análise dos 
eventos privados sem, no entanto, perder o cunho externalista de causalidade. Tais 
abordagens ou teorias têm como princípio que a aprendizagem é o elemento 
fundamental a ser analisado no surgimento e manutenção das psicopatologias. (Abreu & 
Guilhardi, 2004; Kerbauy, 2001; Rangé, 2001). 
A terapia comportamental, sem referências as aspectos cognitivos como 
determinantes do comportamento, tem proposto, historicamente, uma forma de 
intervenção clínica que requer: a) a avaliação precisa do comportamento-alvo e de sua 
interdependência com outros comportamentos; b) a especificação da topografia do 
comportamento; c) as dimensões e funções do comportamento; d) a história de 
reforçamento; e) a freqüência e ocorrência dos comportamentos desadaptativos. O foco 
da análise é, portanto, as relações funcionais entre os estímulos do ambiente e as 
respostas da pessoa. Tal análise permite o planejamento das mudanças comportamentais 
desejadas e, por conseguinte, o processo de resolução dos problemas apresentados por 
pelo indivíduo. 
Portanto a abordagem comportamental é empregada no sentido de se entender 
por que aquele indivíduo, vivendo dentro de certas situações e num dado momento, 
apresenta aqueles comportamentos e os mantém. Desse modo, o terapeuta 
comportamental busca descobrir as causas que originaram aqueles comportamentos 
desadaptativos, assim como os fatores envolvidos na sua manutenção. A investigação 
dessas causas e dos fatores de manutenção dos comportamentos é feita via método 
experimental. Conforme Delitti (2001) em função da queixa inicial trazida pelo cliente, 
o terapeuta investiga as causas externas (variáveis independentes) das quais o 
comportamento (variável dependente) é produto, procurando identificar os fatores 
mantenedores, e levanta hipóteses a fim de comprovar, durante a intervenção, a 
ocorrência e a freqüência das relações contingenciais. Levantadas as hipóteses, o 
terapeuta ajuda o cliente a discriminar as contingências em operação, testando o seu 
funcionamento e sua influência no comportamento. Isso permitirá que o terapeuta e o 
cliente façam a previsão e o controle do comportamento de ambos, não só nas relações 
estabelecidas pelo cliente, mas na própria relação terapêutica. 
O processo de identificação e análise de todas as variáveis que contribuíram para 
o aparecimento e para a manutenção da resposta desadaptativa, bem como suas 
conseqüências para o indivíduo e para o meio, ao longo do tempo, chama-se análise 
funcional (forma de avaliação das variáveis independentes que interferem nas 
respostas). Constitui-se no aspecto mais difícil da análise comportamental e talvez seja a 
maior contribuição da abordagem comportamental para o diagnóstico e a terapia 
(Kerbauy, 2001; Meyer, 2001; Skinner, 1953/1989; Torós, 2001;). 
Hayes, citado por Meyer (1995) considera que não existe uma definição única de 
análise do comportamento, abordagem comportamental ou behaviorista, mas sim, 
quatro níveis de análise, que em conjunto formam um paradigma -o paradigma chamado 
behaviorismo radical de Skinner. Os quatro níveis de análise envolvidos são o 
tecnológico, o metodológico, o conceitual e o filosófico. 
No nível tecnológico, temos um conjunto de técnicas, que em geral envolvem 
manipulações diretas de eventos antecedentes e consequentes, por exemplo o uso de um 
sistema de pontos, procedimento de reforçamento ou extinção sensorial ou social, 
programas de treino de habilidades específicas. Técnicas terapêuticas incluem 
dessensibilização sistemática, treino assertivo, entre outras. 
Meyer (1995) chama a atenção para o fato de que a gama de técnicas é grande, e 
que o elemento comum a todas é que devem estar baseadas numa análise funcional. 
Uma intervenção bem sucedida implica não apenas em usar uma técnica, mas, também, 
em corretas decisões sobre ocasiões apropriadas para seu uso e acurada interpretação de 
seus efeitos. 
No nível metodológico, ilustrando o caráter experimental do paradigma, o 
trabalho original da análise comportamental aplicada é quase totalmente orientado para 
pesquisa (delineamentos experimentais com sujeito único, medidas repetidas, 
observação direta), o que é importante (pesquisas sobre a própria atuação) para a 
formação de conhecimento científico - um dos compromissos da abordagem. Entretanto, 
concorda com Freitas (citado por Meyer,1995) quando diz que a tarefa central da análise 
do comportamento ou da ciência do comportamento é a de especificar as variáveis 
independentes (eventos ambientais) das quais o comportamento “tenha probabilidade” 
de ser função (análise de contingências), ou seja, muito do progresso obtido pela análise 
do comportamento deve-se a análises funcionais não-experimentais, isto é, à 
identificação (ou tentativa) de variáveis dependentes e independentes, ou das 
contingências que produzem e mantém comportamentos. (Meyer, 1995). O aspecto 
metodológico básico da análise comportamental,então, é a análise funcional, e este 
aspecto é condição necessária para que um trabalho seja considerado comportamental. 
No nível conceitual, o analista do comportamento deve conhecer e aplicar os 
princípios básicos do comportamento, uma vez que conceitos científicos podem 
fornecer a estrutura necessária para se ordenar e desenvolver a prática clínica. Além 
disto, deve tentar relacionar os seus procedimentos com estes princípios. Reforçamento, 
punição, extinção, controle de estímulo, generalização, esquemas de reforçamento, 
contraste comportamental, equivalência de estímulos, controle por regras verbais, são 
alguns dos conceitos da abordagem. Por exemplo porque consideramos útil perguntar a 
um cliente o que ele sentiu em uma dada situação ou o que ele pensou? Como é que isto 
pode ser entendido comportamentalmente? Ou quando analisamos sonhos, intuições? 
Enfim, porque qualquer técnica bem sucedida funcionou? Que processo ou processos 
comportamentais podem ter ocorrido? 
Conforme Hayes (1978), a metodologia e as técnicas formam as paredes e teto 
do nosso campo, mas eles não podem permanecer firmes por longo tempo sem a firme 
fundação do interesse filosófico e conceitual. 
No nível filosófico, um resumo das principais propostas do behaviorismo radical 
foi apresentado por Freitas (1985): 
1- O comportamento dos organismos é ordenado, passível de ser estudado 
cientificamente na mesma forma das ciências naturais. 
2- A relação entre o comportamento dos organismos e seu meio ambiente deve 
ser estudada diretamente, sem a postulação de eventos mentais, conceituais ou 
fisiológicos de efeito mediador entre as variáveis independentes e a variável 
dependente. 
3- Os acontecimentos do mundo privado dentro da pele são levados em 
consideração, como mais comportamento a ser estudado. Não se nega a possibilidade de 
auto-observação ou do auto-conhecimento, ou ainda sua possível utilidade. Questiona-
se sua natureza (não é diferente do comportamento aberto) e sua acessibilidade (relato 
verbal). 
4- O que é sentido ou introspectivamente observado não é nenhum mundo 
imaterial da consciência ou vida mental, mas o próprio corpo do observador. São 
produtos colaterais da história genética e ambiental da pessoa. 
5- O que é sentido ou introspectivamente observado não é a causa do 
comportamento. Essas residemfora do organismo e afetam a sua probabilidade de 
ocorrência. O ambiente determina o comportamento pelo menos em três formas: a) 
através de sua ação seletiva durante a evolução da espécie; b) seu efeito na modelagem 
e manutenção do repertório comportamental que converte cada membro da espécie em 
uma pessoa; e c) seu papel como estabelecedor da ocasião na qual o comportamento 
ocorre (Skinner, 1994). 
Concluindo, são essenciais numa terapia comportamental, no nível 
metodológico, a análise de contingências; no nível conceitual, o conhecimento e a 
aplicação, mesmo que assistemática, de princípios de comportamento; e no nível 
filosófico, pelo menos a rejeição ao mentalismo. Caso contrário teremos uma 
abordagem sem consistência e que provavelmente não sobreviverá. 
Dos estudos referidos pode-se perceber que de uma perspectiva comportamental, 
de modo genérico, o comportamento é função de condições ambientais específicas com 
as quais está associado por processos de aprendizagem. A terapia comportamental, 
como um todo, procura estudar de forma objetiva e experimental as relações de cada 
aspecto do comportamento com o meio onde este ocorre, dentro de um contexto 
situacional específico, com determinados antecedentes, respostas e conseqüências, que 
expressam, de forma geral, os princípios de aprendizagem e as leis gerais do 
comportamento. 
 
Quando se faz um levantamento das modalidades ou dos gêneros em 
psicoterapia comportamental a abordagem mais referida é a psicoterapia analítico-
comportamental, uma prática clínica embasada nos pressupostos filosóficos do 
Behaviorismo Radical e nos conceitos e métodos da Análise do Comportamento, que 
vem desenvolvendo procedimentos de intervenção terapêutica desde 1953, ano em que 
B. F. Skinner cunhou o termo "Terapia Comportamental" (ZAMIGNANI, 2007). 
Skinner (1994) designa o modelo de causalidade do seu sistema psicológico de 
modo causal de seleção por conseqüências, no qual propõe que as causas do 
comportamento estão nas conseqüências que ele produz. Segundo este modelo, a 
determinação do comportamento é produto de processos básicos de variação e seleção, 
de maneira semelhante à teoria da seleção natural proposta por Charles Darwin, ou seja, 
os comportamentos são selecionados a partir do efeito que produzem no mundo. O 
comportamento humano, na perspectiva behaviorista radical, é determinado por três 
níveis de variação e seleção - a genética, a história individual e o ambiente social. Nas 
palavras de Skinner, "o comportamento humano é o produto conjunto (1) das 
contingências de sobrevivência responsáveis pela seleção natural das espécies e (2) das 
contingências de reforçamento responsáveis pelos repertórios adquiridos por seus 
membros, incluindo (3) as contingências especiais mantidas por um ambiente social que 
evoluiu" (SKINNER, 1981/1987, p. 55). 
Por conseguinte, os psicólogos de orientação analítico-comportamental 
investigam como os comportamentos de cada indivíduo foram selecionados pelos 
efeitos que produziram e produzem no mundo, isto é, buscam pelas contingências 
instaladoras e mantenedoras de cada repertório comportamental. 
Embora o modelo de causalidade behaviorista radical seja claramente voltado 
para as relações do indivíduo com o ambiente que se situa "fora de sua pele", os eventos 
privados, compreendidos como respostas e estímulos que ocorrem "sob a pele" do 
indivíduo, são objeto de investigação. Skinner explicita a utilidade prática dos eventos 
privados: "eles são pistas (1) para o comportamento passado e as condições que o 
afetaram, (2) para o comportamento atual e as condições que o afetam, e (3) para as 
condições relacionadas com o comportamento futuro" (SKINNER, 1974/1995, p. 31). 
Neste sentido, os chamados "fenômenos mentais" ou "processos psicológicos 
superiores" não são vistos como entidades mentais de uma natureza especial, mas como 
respostas que são diferentes apenas por ocorrerem "sob a pele" do indivíduo e, por isso, 
terem acessibilidade limitada. 
Além disso, Skinner, em diversas obras (por exemplo, 1953/2003 e 1974/1995), 
lida com os eventos privados como constituintes do ambiente do indivíduo que se 
comporta, o que implica em admiti-los como parte do controle do comportamento 
(TOURINHO, 1997). Nas palavras de Skinner (1953/2003), "(...) o termo ‘ambiente' 
significa presumivelmente qualquer evento no universo capaz de afetar o organismo. 
Mas parte do universo está circunscrita no interior da própria pele do organismo" (p. 
281). 
Ainda, Skinner aponta que os sentimentos não são determinados pelos 
pensamentos, mas são estados corporais produzidos pela interação do indivíduo com o 
mundo. Dito de outra forma, os sentimentos são subprodutos das contingências em 
vigor, sendo que mudanças nestas contingências alteram aquilo que o indivíduo sente. 
Skinner explica que "nós não choramos porque estamos tristes ou sentimos tristeza 
porque choramos, nós choramos e sentimos tristeza porque aconteceu alguma coisa" 
(SKINNER, 1989/2005, p. 103). 
Enfim, como aponta Zamignani (2003), na terapia analítico-comportamental "os 
estímulos e respostas que ocorrem sob a pele do terapeuta ou do cliente podem estar 
envolvidos em diferentes processos comportamentais e podem exercer um papel 
importante na construção de um repertório de autoconhecimento" (p. 7), objetivo de 
qualquer psicoterapia. 
Em resumo, a terapia analítico-comportamental, embora atribua extrema 
importância para os eventos privados no setting clínico, assevera que é nas relações com 
o ambiente externo que devem ser buscadas as explicações pertinentes para todo e 
qualquer comportamento, ou seja, o recorte da análise e da intervenção é externalista. 
Aqui é importante destacar uma tendência encontrada na literatura e na prática 
da clínica comportamental, que é a de apresentar propostas ou estratégias clínicas como 
a da psicoterapia analítico-funcional (Kohlenber & Tsai, 1991) e a terapia de aceitação e 
compromisso (Hayes, Strosahl & Wilson, 1999), como exemplos dentro da terapia 
analítico-comportamental. Essa tendência é encontrada em Abreu (2006), que 
menciona que as terapias analítico-comportamentais, como as referidas, apresentam 
hoje propostas de intervenção com larga aplicação e validação empírica. 
Terapia analítico funcional (FAP): enfatiza a análise da relação terapêutica 
como estratégia para promover a mudança comportamental do cliente.O pressuposto 
central da FAP é o de que o cliente se comporta em relação ao terapeuta de forma 
semelhante ao modo como se comporta com outras pessoas significativas em sua vida 
(Kohlenberg e Tsai, 2004). Em outras palavras, os comportamentos clinicamente 
relevantes (CRBs) ocorrem na sessão e podem ser tratados via modelagem direta, o que 
evitaria o controle por regras na psicoterapia. Logo, mudanças de comportamento em 
sessão teriam grande probabilidade de ser generalizadas para outras situações sociais. 
Como a terapia de aceitação e compromisso (ACT), a FAP considera que os 
problemas dos clientes são conseqüências de uma história de fuga ou esquiva de 
situações interpessoais aversivas que podem ser desencadeadas a partir da relação 
terapêutica. Assim, o terapeuta tem o papel de promover o bloqueio da esquiva de 
situações interpessoais aversivas e a aceitação das reações emocionais associadas a elas 
(CONTE; BRANDÃO, 1999). 
A FAP classifica os comportamentos, relacionados com problemas do cotidiano, 
que aconteçam na relação com o terapeuta, como CCRs (Comportamentos Clinicamente 
Relevantes). CCR1 é um comportamento que pertence à mesma classe funcional como 
comportamentos que, quando emitidos no cotidiano fora da relação terapêutica, fazem 
parte do problema para o qual o cliente procura terapia. CCR2 é uma melhora do 
cliente, que ocorre na sessão. Se ele emite comportamentos funcionalmente similares 
nas situações problemáticas do cotidiano, os problemas delemelhorariam. CCR3 é a 
interpretação que o cliente dá às suas ações e reações. 
A visão analítica-funcional propõe que as pessoas se comportam devido às 
contingências de reforçamento presentes nas suas vidas, e a terapia prossegue de acordo 
com o mesmo princípio. A interação terapêutica é curativa quando enfraquece os CCRs 
1, fortalece os CCRs 2 e modifica os CCRs 3 para se tornar mais construtivas. Enquanto 
a ACT enfatiza a descontrução do controle verbal, para que o cliente possa dar uma 
chance às contingências, a FAP coloca o cliente em contato direto com as contingências 
que controlam seu comportamento. O comportamento clinicamente relevante é 
modelado durante a sessão terapêutica por meio de reforçadores naturais. Estes últimos 
são reações genuínas do terapeuta, ou outros efeitos causados pelos comportamentos do 
cliente que não são específicos para o ambiente terapêutico, mas também são 
disponíveis como conseqüências de comportamentos similares no ambiente natural. 
Trata-se de eventos que são contingentes a uma classe maior de respostas por serem 
elementos que fazem parte da vida do cotidiano. 
 
Terapia de Aceitação e compromisso (ACT): tem como meta principal tratar a 
esquiva emocional, o número excessivo de respostas literais ao conteúdo cognitivo e a 
inabilidade de assumir e manter compromissos com a mudança comportamental (Hayes 
et al., apud Abreu, 2006). Segundo seus criadores, os clientes normalmente chegam à 
clínica com queixas que apresentam claramente a tentativa de controlar os supostos 
determinantes de seu sofrimento, ou seja, a eliminação de emoções negativas, 
lembranças, impulsos,etc. A ACT estaria centrada na quebra do controle de estímulo 
problemático, abrindo possibilidade de contato com fontes alternativas de reforçamento. 
Em vez de tentar mudar os conteúdos que o cliente traz, ou levar o cliente a 
pensar mais racionalmente, a ACT considera que tal trabalho se reduz à reorganização 
do cenário, e pretende olhar atrás deste, ou seja, atacar os contextos sócio-verbais que 
tornaram estes conteúdos ou estes pensamentos problemáticos. Ela se interessa para os 
contextos que permeiam uma sociedade patogênica ou uma cultura alienadora (HAYES; 
STROSSAHL e WILSON, 1999). 
A ACT objetiva enfraquecer a esquiva de emoções negativas e aumentar a 
capacidade para mudança comportamental. O controle aversivo exercido por eventos 
privados pode impedir o contato com as fontes de reforçamento. Desta forma, o 
terapeuta nem sempre agirá como o cliente espera. Ele procura fazer que o cliente 
destrua regras em vigor e entre em contato com as contingências naturais, sem, no 
entanto, perceber o cliente como alguém necessitado de que lhe ensinem como se 
comporte. 
A ACT foi desenvolvida a partir da releitura contextualizadas do processo 
psicoterapêutico (Hayes, 1987). Um dos alvos principais da ACT é a redução da esquiva 
experiencial, que é vista pela teoria como uma das maiores fontes do sofrimento 
humano. A ACT promove uma atitude de aceitar pensamentos e emoções como 
realmente são, e não como parecem ser. Uma vez livre da luta contra as próprias 
avaliações, pensamentos e sentimentos, as pessoas podem agir de modo produtivo sobre 
seu ambiente. 
O modelo postula que os transtornos de ansiedade são decorrentes da 
socialização da pessoa de acordo com quatro contextos sócio-verbais patogênicos, que 
resumem uma variedade de armadilhas embutidas na forma em que se faz uso da 
linguagem no ato de pensar (Hayes, Pankey & Gregg, 2002). O contexto de literalidade 
refere-se à tendência de idéias e pensamentos a se tornarem fonte de regulação de 
emoções e comportamentos mais importantes. Assim, não há espaço suficiente para o 
efeito regulador saudável da experiência direta. Os conceitos podem determinar nossas 
reações como se fossem literalmente fatos, e esquecemos que não são nada mais do que 
produtos verbais. Se o controle verbal se torna excessivo, as pessoas começam a viver 
em função dos conceitos, crenças e vieses. O contexto de avaliação refere-se à tendência 
automática de categorizar eventos em termos de bons ou ruins. Se estas avaliações não 
são baseadas nas vivências diretas e contextualizadas em ampla visão das mesmas, 
podem influenciar nossas reações de maneiras injustas e rígidas. Isto acontece 
principalmente quando são baseadas em regras sociais ou construções verbais. 
O contexto de controle refere-se à tendência de tentar-se eliminar os 
sentimentos, pensamentos e sensações avaliados como negativos. Trata-se de tentar 
rejeitar aspectos de sua própria vivência, ao invés de enfrentar as condições no contexto 
da vida que os geram. O contexto de dar razões refere-se a tentativas de criar 
explicações literais para os problemas, tornando estes últimos socialmente aceitáveis ou 
ao menos compreensíveis. Enquanto a cultura em geral oferece amplo apoio a esta 
estratégia, mostrando mais compaixão, tolerância e outras vantagens às pessoas que 
conseguem explicar bem suas ansiedades e seus comportamentos auto-destrutivos, esta 
produção de razões lógicas e aceitáveis pode afastar as pessoas cada vez mais do 
contato com as condições que realmente poderiam mudar para resolver seus problemas. 
Hayes e Gregg (2000) distinguem três níveis da vivência de si. O Eu Conceitual 
é o que pensamos sobre nós mesmos. São conceitos que explicam o que a pessoa 
percebe a respeito de si mesma. Identificar-se demasiadamente com seu Eu Conceitual 
gera atitudes defensivas, rígidas e desonestas. A pessoa que cai nesta armadilha terá 
dificuldade de aceitar ou até mesmo entender aspectos da sua vivência que não cabem 
na camisa de força do seu auto-conceito e se dedicará a disfarçar ou negar estes 
aspectos. Muito importante no processo de distanciar-se deste Eu é que a pessoa retira o 
caráter literal de seus pensamentos e regras, aprende que estes não são o que parecem 
significar. Neste processo, o cliente aprende que ele não é o que pensa sobre si mesmo. 
Pode descobrir que seus pensamentos são nada mais do que seus próprios 
comportamentos verbais e, portanto, não podem impor nenhuma realidade ao que ele 
deveria se adequar. 
O Eu Vivencial é a vivência dos sentimentos, sensações e pensamentos. Neste 
nível, a pessoa se reconhece no fluxo perpétuo de mudanças. Ter contato com o Eu 
Vivencial leva a características saudáveis como atitudes flexíveis, genuínas, abertura 
para a experiência e capacidade de crescimento. Porém, realmente identificar-se com 
estes conteúdos mutáveis e imprevisíveis caracteriza-se por um modo de ser altamente 
instável e impulsivo. 
O Eu Observador corresponde à perspectiva transcendente, em que a pessoa tem 
consciência que não é nem os conceitos que ela tem sobre si, nem os conteúdos que 
vivencia, que todos estes são eventos com os quais lida, mas que são distintos dela 
mesma. O contato com este nível de ser permite que a pessoa se reconheça como 
expectadora dos seus problemas e conflitos e, assim, consegue entendê-los melhor 
porque não se confunde com eles. Esta tomada de distância em relação aos pensamentos 
e sentimentos aumenta a tolerância aos mesmos, bem como permite ver suas 
implicações mais amplas com mais clareza. 
A ACT procura aumentar a consciência que a pessoa pode ter de sua vivência 
interior (emoções, pensamentos, sensações) por habilidades que envolvem observação e 
aceitação. A aceitação de sentimentos e sensações (que não são sempre o que 
desejamos) facilita a disposição para agirmos num mundo que não está sob nosso 
controle, mas em que podemos ter efeitos importantes, com a condição de nos 
envolvermos ativamente nele, ao invés de vivê-lo em nossa cabeça. Desta perspectiva, a 
pessoa não é seu fluxo de consciência, já que todos os conteúdos passam, enquanto ela 
permanece. Aprende a tomar a posição de observador que permite um contato íntimo 
com os conteúdos e o fluxo dos momentos da vida, sem se confundir comestes, 
podendo enxergar o sentido mais amplo dos mesmos. Assim, a pessoa torna-se capaz de 
agir de acordo com seus valores e não sob o controle dos contextos sócio-verbais 
descritos acima. 
 
Terapia por Contingências de Reforçamento (GUILHARDI, 2004). É uma 
proposta de intervenção terapêutica que se baseia no modelo de seleção do 
comportamento pelas suas conseqüências. Com a TCR o autor está apenas contribuindo 
e participando de um processo ou movimento de desenvolvimento da Análise Aplicada 
do Comportamento. Tal modelo tem como fundamento para a atuação clínica: o 
Behaviorismo Radical de B. F. Skinner, para a conceituação filosófico-conceitual e a 
Ciência do Comportamento e inúmeros artigos publicados em revistas especializadas, os 
quais dão um panorama abrangente e compreensivo do que se tem produzido na área 
chamada de Análise do Comportamento, com publicações de artigos de estudos 
experimentais básicos ou aplicados, textos teóricos e estudos de caso em diferentes 
contextos. 
 
 
 
 
8.2. As terapias cognitivas – o paradigma cognitivo 
Quando se fala das terapias cognitivas normalmente se está falando de uma ou 
mais das diversas modalidades terapêuticas e concepções aliadas à introdução de termos 
e concepções cognitivos, as quais podem ser rotuladas de abordagens comportamental-
cognitiva ou cognitivo-comportamental. (Abreu & Guilhardi, 2004; Kerbauy, 2001; 
Rangé, 2001. Destacam-se a Terapia Racional-Emotiva-Comportamental (Albert Ellis, 
1955); a Terapia Cognitiva (Aron Beck, dec. de 60); Terapia Muldimodal (Lazarus, 
1989), entre outras. 
Para a abordagem desse tópico faço a opção de tratar de forma ampla os 
princípios e pressupostos básicos de diversas modalidades no âmbito das psicoterapias 
cognitivas (i.é., baseadas no modelo cognitivo), isto porque eles também se aplicam, de 
forma geral, à TCC. 
Para começar, o aspecto central que marca as terapias cognitivas, quase sem 
exceção, é o entendimento de que a psicopatologia, ou os problemas trazidos pelos 
pacientes são resultado de crenças disfuncionais e/ou de pensamentos distorcidos, os 
quais influenciariam o humor e o comportamento do indivíduo, enviesando sua 
percepção da realidade (Beck e Freeman, 1993). 
Os primórdios das terapias cognitivas encontram-se no behaviorismo 
mediacional de Hull e Tolman, em especial do último. Estes Behavioristas começaram a 
rejeitar o modelo de Watson e assumiram uma outra postura, na qual o ambiente perdia 
o seu lugar primordial na causação do comportamento para cedê-lo de volta ao 
organismo. Em outras palavras, estímulos ambientais gerariam nas pessoas processos 
mentais que, por sua vez, seriam a causa do comportamento. Este tipo de Behaviorismo 
ficou conhecido como Behaviorismo Mediacional, pois tais processos cognitivos 
mentais mediariam a ação dos estímulos ambientais no organismo, maneira de pensar 
ainda dualista e mecanicista. Atualmente, chama-se este tipo de Behaviorismo de 
Cognitivismo (Matos, 1993). 
Em Bahls e Navolar (2004) encontramos que o modelo cognitivo utiliza o 
conceito da estrutura “biopsicossocial ” na determinação e compreensão dos fenômenos 
relativos a psicologia humana, no entanto focaliza o trabalho sobre os fatores cognitivos 
da psicopatologia .As terapias baseadas no modelo cognitivo, em especial a TCC, vem 
demonstrando eficácia em pesquisas científicas rigorosas além de ser as primeiras a 
reconhecer a influência do pensamento sobre o afeto, o comportamento,a biologia e o 
ambiente (Shinohara,1997). 
De acordo com o modelo cognitivo os indivíduos atribuem significado a 
acontecimentos, pessoas, sentimentos e demais aspectos de sua vida, e com base nisso 
comportam-se de determinada maneira e constroem diferentes hipóteses sobre o futuro e 
sobre sua própria identidade. As pessoas reagem de formas variadas a uma situação 
específica podendo chegar a conclusões também variadas. Em alguns momentos a 
resposta habitual pode ser uma característica geral dos indivíduos dentro de determinada 
cultura, em outros momentos estas respostas podem ser idiossincráticas derivadas de 
experiências particulares e peculiares a um indivíduo. Em qualquer situação estas 
respostas seriam manifestações de organizações cognitivas ou estruturas. De acordo 
com Bech, citado por Bahls e Navolar (2004), uma estrutura cognitiva é um 
componente da organização cognitiva em contraste com os processos cognitivos que são 
passageiros. 
Conforme Range (1997) nossas emoções e comportamentos são influenciados 
pela maneira de como percebemos e interpretamos os eventos (cognições), ou seja, 
como estruturamos o mundo; propõe ainda, que o pensamento disfuncional ou 
distorcido seja comumente apresentado nos distúrbios psicológicos. A psicopatologia é 
resultante de significados maladaptativos que o sujeito constrói em relação a si, ao 
contexto ambiental (experiência) e ao futuro (objetivos), que juntos formam a tríade 
cognitiva. Na ansiedade, a visão de si é vista como inadequada (devido a recursos 
deficientes), o contexto é considerado perigoso e o futuro parece incerto. Já na 
depressão, todos os três componentes são interpretados negativamente. 
 Afeto 
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 Comportamento 
(modelo esquemático – Range, 1997). 
 
A história da terapia cognitiva - principal representante atual entre as terapias 
cognitivas - inicia-se em 1956, quando Aaron Beck realizou um trabalho de pesquisa 
com o intuito de verificar os pressupostos psicanalíticos acerca da depressão. Para a 
Psicanálise, pessoas deprimidas apresentavam uma “hostilidade retrofletida ” ou seja, 
uma espécie de masoquismo ou necessidade de sofrer. Beck percebeu então que a 
depressão era melhor entendida como um transtorno cuja principal característica seria 
uma tendência negativa onde a pessoa deprimida apresenta, muito freqüentemente, 
expectativas negativas com relação ao resultado de seus comportamentos e uma visão 
também negativa de si mesma,do contexto em que está inserida e de seus objetivos. 
(Beck &Alford,2000). A partir disso os demais estudos desenvolveram-se de forma a 
testar estratégias de modificação de tais tendências negativas existentes na depressão 
bem como a extensão da testagem deste novo modelo a outros transtornos. 
De acordo com Falcone (1995) o final da década de 60 foi marcada pelo 
surgimento de insatisfações com a terapia comportamental tradicional, por esta não 
considerar os fatores cognitivos como imprescindíveis para compreensão e tratamento 
mais abrangentes de problemas clínicos mais complexos, tais como desordens de 
ansiedade e depressão. Além dos estudos de Bandura sobre aprendizagem vicária e 
auto-eficácia, que contribuíram para o desenvolvimento de pesquisas na área de 
cognição, modelos de tratamento tais como a Terapia Racional Emotiva de Ellis, o 
Treino Auto-Instrucional de Meichenbaum e a Terapia Cognitiva da Depressão de Beck 
foram se desenvolvendo e gerando interesses entre os profissionais de orientação 
comportamental. O avanço das pesquisas que incorporam processos cognitivos aos 
modelos comportamentais conquistaram um número cada vez maior de adeptos gerando 
o que mais tarde foi chamado por Mahoney (1988) de “revolução cognitiva”. 
Abordando especificamente os princípios básicos do modelo cognitivo 
aplicáveis à TCC, Rangé (1997) destaca que as interpretações que um indivíduo faz do 
mundo estruturam-se progressivamente durante seu desenvolvimento, formando regras 
ou esquemas. Estes orientam, organizam, selecionam suas novas interpretações e 
ajudam a estabelecer critérios de avaliação de eficácia ou adequação de sua ação no 
mundo (como regras gramaticais regulam o comportamento verbal). 
Range (1997) refere que esquemas são como “fórmulas” que a pessoa tem a seudispor para lidar com situações regulares de forma a facilitar o processamento de novas 
situações. Orientam na seleção de detalhes relevantes do ambiente e a evocar dados da 
memória importantes dados para sua interpretação. Os esquemas podem se organizar em 
compostos mais complexos, chamados constelações cognitivas, que se manifestam 
através de prontidões cognitivas (sets), entendidas como estados de ativação cognitiva, 
que preparam o indivíduo para um certo tipo de atividade cognitiva específica (detecção 
de perigo, por exemplo). Estes esquemas determinam a espécie e a amplitude das 
reações emocionais e comportamentais. 
Em condições normais um estado de prontidão cognitiva varia de acordo com 
mudanças na estimulação, mas pode haver uma tendenciosidade (ou rigidez) na ativação 
desses sets (esquemas organizados), e há a ativação de um modo particular de 
interpretar as situações, ou de funcionamento, por exemplo, que pode ser negativista, 
narcisista,vulnerável, eróticos, etc. (Range, 1997). A ativação de um modo estimula a 
ativação de esquemas correspondentes e de certos sets cognitivos, que irão disparar 
pensamentos automáticos – verbalizações ou imagens encobertas, específicas, 
autônomas e idiossincráticas, sentidas como plausíveis. Os pensamentos automáticos 
vão gerar emoções correspondentes; é a partir deles que se chega aos esquemas, e se 
descobre os tipos de distorções cognitivas que sustentam as patologias. 
O domínio pessoal, de acordo com Range (1997), é um dos esquemas mais 
fundamentais, sendo constituído pelo conjunto de objetos, tangíveis ou não, que são 
relevantes para uma pessoa. No centro do domínio está o seu conceito de si mesma, seus 
atributos físicos e características pessoais, suas metas e valores. Em torno do centro há 
objetos animados ou inanimados nos quais há investimento e incluem a família,amigos, 
bens, etc. Outros componentes variam em grau de abstração e incluem: escola, trabalho, 
grupo social, valores, etc. A natureza da resposta emocional depende da pessoa ver os 
eventos como adicionando (alegria/euforia), subtraindo (tristeza/depressão), ameaçando 
(medo/pânico) ou invadindo/coagindo (raiva/hostilidade), seu domínio. 
O funcionamento psicológico bem como a adaptação psicológica a determinado 
contexto estão na dependência de “estruturas de cognição com significado ” ou 
simplesmente “esquemas ”.O termo “significado ” é, por sua vez, designado como o 
resultado da ação de interpretar uma realidade determinada e a forma de relação desta 
realidade com o self . (Bahls e novolar, 2004). 
Uma “categoria de significado” apresenta implicações que são padrões 
específicos de emoção, atenção, memória e comportamento. Este fato denomina-se 
“especificidade do conteúdo cognitivo”. Os significados são construídos pelo indivíduo, 
ou seja,não são componentes preexistentes da realidade. No entanto tais significados 
podem constituir-se como corretos ou incorretos em relação a um contexto ou objetivo 
específicos. Os significados ditos incorretos são denominados como “disfuncionais ” ou 
“maladaptativos ” no que se refere a ativação dos sistemas. Os esquemas só são 
classificados como adaptativos ou maladaptativos com relação a um contexto 
específico. Assim os esquemas evoluem para facilitar a adaptação da pessoa ao 
ambiente no qual está inserida. Os erros (“distorções cognitivas ” e “preconcepções ”) 
podem acontecer tanto em relação ao conteúdo cognitivo propriamente dito 
(significado) como em relação ao processo de elaboração de significado (processamento 
cognitivo). 
O modelo cognitivo propõe que existe nos indivíduos uma predisposição a 
fazerem construções cognitivas falhas e isto denomina-se “vulnerabilidade cognitiva ”. 
Em decorrência da especificidade cognitiva uma vulnerabilidade cognitiva específica 
predispõe a pessoa a uma síndrome específica. Nos transtornos de ansiedade, por 
exemplo, existe o impedimento de uma tendência inata a ampliar o foco de atenção 
(ampliar o universo de fenômenos aos quais um organismo fica atento) de forma que 
este organismo atua como se estivesse em uma situação de ameaça real sem poder dar 
outros significados à situação. Em situações de ameaça à sobrevivência esta tendência é 
bloqueada de forma que o indivíduo foca sua atenção sobre aquilo que está o 
ameaçando,o que é extremamente adaptativo do ponto de vista evolutivo (Lotufo 
Neto,1993b; Rangé,1998b). Assim, nos transtornos de ansiedade, o indivíduo sente-se 
intensamente vulnerável ao que considera serem ameaças, esta sensação o leva a 
esquivar-se de situações potencialmente ansiogênicas para ele. 
Os significados maladaptativos, dos quais resultam a psicopatologia, são 
construídos em relação ao que é denominado de “Tríade Cognitiva ” ou seja em relação 
ao self, ao ambiente (experiência atual) e ao futuro (objetivo). 
O objetivo da terapia, dentro do modelo cognitivo, seria o de fornecer estratégias 
capazes de corrigir conceitos idiossincrásicos maladaptativos. No processo de 
psicoterapia os sistemas de crenças pessoais são testados com relação à suas 
conseqüências e funcionalidade para a vida do paciente dentro de contextos específicos 
(Lima &Wielenska,1993). Através de registros de pensamentos, usados na terapia 
cognitivo-comportamental, as crenças disfuncionais e os pensamentos distorcidos 
podem ser modificados pelo acesso a pensamentos alternativos e compensatórios, 
desenvolvendo-se novas crenças, facilitando a mudança dos estados de humor e do 
comportamento. 
O modelo cognitivo, fundamentado nas teorias construtivistas, vê o homem 
como um ser que constrói seus significados sobre os fatos e portanto constrói sua 
própria realidade, já que a forma como este interpreta seu mundo determinará a maneira 
com que ele irá comportar-se. 
 
Terapias cognitivo-comportamentais contemporâneas 
De acordo com Dobson e Block (1988) as terapias cognitivo-comportamentais 
representam a mistura de estratégias comportamentais e processos cognitivos com o 
objetivo de alcançar mudanças cognitivas e comportamentais. Os diversos 
procedimentos terapêuticos cognitivo-comportamentais apresentam muitos aspectos 
comuns e estão incluídos dentro de três principais divisões: terapias de reestruturação 
cognitiva, de treinamento de habilidades e de solução de problemas. Do primeiro grupo 
fazem parte as modalidades que mais tem sido empregadas e divulgadas: a TREC, de 
Ellis, a Terapia Cognitiva de Beck e o treinamento auto-instrucional, de Meichenbaum. 
As terapias de reestruturação cognitiva assumem que o estresse emocional é a 
conseqüência de pensamentos mal adaptados. Portanto, a meta destas intervenções 
clínicas é estabelecer mais padrões adaptativos de pensamento. 
 
Terapia Racional Emotivo-comportamental (TREC): Considerada o primeiro 
exemplo de abordagem cognitivo-comportamental, a teoria e a prática da TREC foi 
formulada por Albert Ellis, nos anos 50, a partir de seus questionamentos à eficácia dos 
métodos psicanalíticos clássicos. 
Ellis formulou gradativamente a teoria do distúrbio emocional e uma série de 
métodos de tratamento que enfatizavam uma forma prática de lidar com os problemas 
da vida. O nome original da abordagem era TRE, até 1993, quando foi mudado, em 
razão do caráter comportamental do seu processo terapêutico. 
De acordo com a TREC os pensamentos e as emoções humanas estão 
significativamente interligados. Os sintomas neuróticos ou conseqüências são 
determinados pelo sistema de crenças do indivíduo frente às experiências ou eventos. 
De acordo com o modelo ABC de Ellis, o papel do terapeuta é possibilitar que o cliente 
perceba que as crenças o levam a ter esse ou aquele comportamento, e a partir disso, 
reorganizar suas crenças para fazer escolhas ou opções que o levem a viver feliz. Essas 
escolhas ou opções que o indivíduo fará resultam de aprendizagem, ou seja, Ellis 
elabora um modelo de aprendizagem para o tratamentode distúrbios emocionais e 
desvios de comportamento. Esse modelo de aprendizagem chama-se ABC da Terapia 
Racional Emotivo-Comportamental, o qual pressupõe que os eventos ativadores – “A” – 
constituem pessoas e coisas com as quais os indivíduos se deparam; que os 
pensamentos, cognições ou idéias – “B” – constituem as noções e crenças que os 
indivíduos têm de “A”; e que os comportamentos e sentimentos – “C” – constituem as 
reações provocadas por “B”. Esse modelo de aprendizagem se completa com o debate 
das crenças (D) e pela percepção de mudanças das crenças irracionais por parte do 
cliente (E). Para Albert Ellis, o próprio cliente é responsável pela sua mudança 
comportamental. 
A TREC sustenta que os indivíduos possuem tendências inatas e adquiridas para 
pensar e agir irracionalmente. De modo a manter um estado de saúde emocional, os 
indivíduos podem monitorar constantemente e questionar o seu sistema de crenças 
básico, e é papel do terapeuta auxilia-lo nessa tarefa. 
Ellis (1970) identificou 11 crenças irracionais que tomam a forma de 
expectativas não realistas. A substituição de necessidades irrealistas e 
supergeneralizadas por desejos, preferências ou expectativas realistas, poderão gerar 
maiores mudanças nas emoções e comportamentos. 
No que se refere às técnicas empregadas, a TREC propõe uma abordagem 
multidimensional, que incorpora técnicas cognitivas, emotivas e comportamentais. 
Entretanto, o mais importante instrumento terapêutico mantém um “método lógico-
empírico de questionamento científico, questionamento e debate” destinado a ajudar os 
indivíduos a mudarem suas crenças irracionais. 
Além disso, a TREC utiliza outras técnicas, tais como: desempenho de papéis, 
modelação, imagem racional-emotiva, exercícios que provocam vergonha, métodos de 
relaxamento, condicionamento operante e treinamento de habilidades. 
As metas mais importantes da TREC são: auto-interesse, interesse social, auto-
direção, tolerância em relação a si e aos outros, flexibilidade, aceitação da incerteza, 
confiança em interesses vitais, auto-aceitação, pensamento científico e uma perspectiva 
de vida não utópica. 
 
Terapia Cognitiva: Abordando a Psicologia Cognitiva de Beck, 
especificamente, Falcone (2001) destaca que a mesma surgiu na década de 60 propondo 
que os transtornos psicológicos são resultado de um modo distorcido ou disfuncional do 
indivíduo perceber os acontecimentos. Estando altamente centrada na variável 
pensamento, a terapia cognitiva identifica três níveis deste: os pensamentos 
automáticos, as crenças intermediárias, e as crenças centrais. 
Os pensamentos automáticos representam o primeiro nível do funcionamento 
cognitivo são ativados a partir de situações corriqueiras do nosso dia-a-dia e, segundo 
Falcone (2001), podem surgir em forma de sentenças ou de imagens. É comum a 
presença de pensamentos automáticos distorcidos nos transtornos psicológicos, 
apresentando nestes casos as distorções cognitivas e será a partir da análise dos 
pensamentos automáticos que temos acesso às distorções. A importância da 
discriminação destas distorções reside no fato de que estas sustentam os transtornos 
psicológicos aos quais nos defrontamos, apresentando padrões característicos nas 
diferentes patologias (Rangé, 1995). 
As crenças intermediárias representam o segundo nível de pensamento. Sua 
característica principal é que estes não estão diretamente relacionados à exposição às 
contingências, ocorrendo assim sob forma de suposição ou regras. No caso de 
suposições, seu conteúdo concentra-se em uma relação do tipo “Se ... então”. No 
formato de regras, seu conteúdo possui a característica básica de sinalizar um “dever”. 
As crenças centrais podem ser definidas como verdades absolutas que o sujeito 
faz de si, dos outros e de seu mundo. São desenvolvidas desde a infância, como 
resultado de circunstâncias presentes em seu ambiente, tendo com características 
principais a rigidez, a generalização e a globalização (Beck, 1997; Freeman e Dattilio, 
1998). No tocante aos níveis de pensamento proposto pela Terapia Cognitiva, as crenças 
centrais constituem o nível mais profundo da estrutura cognitiva. Também chamadas de 
esquemas, são compreendidos como estruturas cognitivas que “orientam o indivíduo ao 
lidar com uma situação, ajudando-o a selecionar detalhes sobre o ambiente e a lembrar 
dados relevantes”. 
Conforme Dobson e Block (1988), os esquemas são estruturas cognitivas que 
organizam e processam a entrada de informação e representam os padrões de 
pensamento adquiridos na infância no desenvolvimento de uma pessoa. Erros lógicos 
adquiridos durante o período de desenvolvimento vão formar a substância do esquema e 
predispor o indivíduo a ter problemas emocionais. Enquanto o esquema de um 
indivíduo bem ajustado faz concessões para a avaliação realista de eventos da vida, o 
esquema de indivíduos mal ajustados resulta na distorção da realidade e facilita o 
transtorno psicológico. 
A noção de esquemas é fundamental para o entendimento do que é patológico 
dentro da teoria cognitiva. Os esquemas selecionam, organizam e orientam o 
comportamento, pois sustentam e estabelecem critérios avaliativos da realidade, 
preparando o indivíduo para um certo tipo de atividade cognitiva a fim de perceber 
eventos como aditivos e apetitivos (alegria, felicidade), como subtrativos (tristeza, 
pesar), como ameaçadores (medo, pavor), invasivos (raiva, agressão). Padrões 
persistentes de interpretação da realidade, inflexibilidade e rigidez de esquemas densos 
e hiperativos são fatores mantenedores da psicopatologia. (Lopes, Lopes & Lobato, 
2006). 
O esquema negativo é caracterizado por uma tríade negativista. Os indivíduos 
depressivos vêem a si mesmos, seu mundo e seu futuro de forma negativa. Quanto mais 
severa é a depressão, mais este esquema domina os processos cognitivos. 
Vejamos um exemplo: 
Fulano tem dificuldade de falar em público. O pensamento que vem a sua cabeça 
quando está numa situação em que é necessário falar a um grupo, por exemplo, é de 
que não será compreendido, e, conseqüentemente, pensarão que ele não sabe do que 
fala. Isso quer dizer que ele é burro e incompetente. 
Situação Problema: falar em público 
Pensamento automático: não vão me compreender 
Crença de Suporte (pressuposição condicional decorrente do pensamento 
automático): pensarão que não sei sobre o assunto 
Crença Central: Sou burro, incompetente. 
Outro exemplo com sistematização gráfica diferente: 
 Silvana entra no escritório e Maria a cumprimenta polidamente. (situação) 
O que essa situação diz a meu respeito (Silvana)? 
As pessoas não me dão atenção. (pensamento automático) 
O que isso gera em decorrência? 
Nunca terei um relacionamento íntimo de amizade (crença periférica) 
E isso quer dizer que... 
Sou desagradável (Crença central) 
 
Quanto às técnicas empregadas, a terapia cognitiva envolve a aplicação de 
procedimentos empíricos aos processos cognitivos, comportamentais e afetivos do 
cliente e representa uma extensão lógica do modelo cognitivo de Beck. A meta da 
terapia é substituir avaliações distorcidas dos eventos da vida por avaliações cognitivas 
realistas. 
O tratamento envolve um programa específico de experiências aprendidas, de 
modo a ensinar os clientes: 
1) a monitorar pensamentos automáticos; 
2) a reconhecer as relações entre cognição, emoção e comportamento; 
3) a testar a validade dos pensamentos automáticos; 
4) a substituir pensamentos distorcidos por cognições mais realistas; 
5) aprender a identificar e alterar crenças ou suposições subjacentes que 
predispõem o indivíduo a se engajar em padrões de pensamentos disfuncionais. 
 
Treinamento Auto-Instrucional: De acordo com Dobson e Block (1988) os 
estudos de Donald Meichenbaum se desenvolveram em um período em que florescia a 
terapia comportamental, bem como as idéias de Ellis e Beck. Meichenbaum realizousua 
pesquisa de doutoramento investigando os efeitos do procedimento operante no 
tratamento de pacientes esquizofrênicos internos, treinados a emitir “conversas 
saudáveis”. Ele observou que os pacientes que se engajavam em uma auto-instrução 
espontânea para “conversar saudavelmente” eram menos perturbados e demonstravam 
performance de conversa superior em uma variedade de medidas. Estes achados 
levaram-no a focalizar-se no papel dos fatores cognitivos na modificação do 
comportamento. 
Meichenbaum foi influenciado fortemente por Luria e Vygotsky (soviéticos), 
que estudaram a relação desenvolvimental entre linguagem, pensamento e 
comportamento. Eles sugeriam que o desenvolvimento do controle voluntário sobre o 
próprio comportamento envolve uma progressão gradual, desde regulação externa por 
outros significantes (instruções parentais) à auto-regulação como um resultado da 
internalização dos comandos verbais. 
A partir daí, Meichenbaum propõe que os comportamentos cobertos operam de 
acordo com os mesmos princípios dos comportamentos manifestos e que os 
comportamentos cobertos estão, portanto,sujeitos a modificação, usando as mesmas 
estratégias comportamentais empregadas para modificar comportamentos manifestos 
(Meichenbaum, apud Dobson e Block, 1988). 
Quanto às técnicas, Meichenbaum tentou explorar o desenvolvimento de um 
programa auto-instrucional, designado a tratar deficiências mediacionais de crianças 
impulsivas. As metas do programa de tratamento eram: 1) Treinar crianças impulsivas a 
produzir auto-comando e respondê-lo apropriadamente. 2) Fortalecer as propriedades 
mediacionais da fala interna das crianças, de modo a trazer seus comportamentos sob 
seus próprios controles verbais. 3) Superar quaisquer deficiências mediacionais, de 
compreensão ou de produção. 4) Encorajar as crianças a auto-reforçar seus 
comportamentos apropriadamente. 
O programa de treinamento auto-instrucional aumentou significativamente o 
desempenho nas tarefas de crianças impulsivas através de um número de medidas 
relativas aos grupos de controle. Meichenbaum enfatisa a técnica de treinamento auto-
instrucional, no que respeita às tarefas graduais, modelação cognitiva, treinamento 
mediacional direto e auto-reforçamento. Entretanto, o alvo desta abordagem não é 
significativamente diferente das de Ellis (1962) ou Beck (1963). 
O treinamento auto-instrucional provê um paradigma de tratamento básico que 
pode ser modificado para se adequar às necessidades especiais de uma população clínica 
particular. 
Em suma, como propõe Borba (2004) existem três proposições da Terapia 
Cognitivo-Comportamental (o que se aplica às TCCs de modo geral): 
1) A atividade cognitiva afeta o comportamento (declaração derivada do modelo 
mediacional básico). 
A atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada (Se podemos ter acesso à atividade 
cognitiva, cognições podem ser identificáveis e acessíveis). 
A mudança do comportamento pode ser afetada pela mudança cognitiva (há métodos 
alternativos para a mudança do comportamento, além das contingências de 
reforçamento manifesto) 
 
A prática da TCC: síntese das terapias cognitivas (ou cognitivo-
comportamentais) 
Resta tratar em breve do que chamamos de Terapia cognitivo-comportamental 
tal como a conhecemos, apresentada por Range (1997), e que teve origem em meio à 
evolução da própria terapia comportamental e à revolução cognitiva (podendo-se tomar 
como suas precursoras as modalidades referidas acima, de Beck, Ellis e Meichenbaun, 
entre outras). De acordo com o autor, a concepção do modelo cognitivo, que envolve as 
noções de esquemas, modos e pensamentos automáticos gerou a prática da TCC, que 
pode ser tomada como uma integração dos princípios e práticas das terapias 
comportamental e cognitiva. Há um grupo de autores, como Costa (2002), que 
entendem que tal tentativa - de mesclar conceitos, métodos e práticas da terapia 
cognitiva com a terapia comportamental - representa um desconhecimento dos 
princípios de ambas as orientações: "defender a compatibilidade, complementaridade 
e/ou integração entre Behaviorismo Radical e Cognitivismo constitui em uma 
incoerência teórica que só pode ser explicada pela ausência de familiaridade com os 
pressupostos de uma ou outra orientação" (p. 44). 
Essa discussão é relevante, mas foge ao objetivo desse ensaio. Por ora 
tomaremos o termo TCC como vem sendo tratado no nosso meio, mais ou menos como 
um plano geral que contempla todas as terapias que de uma forma ou de outra adotam o 
modelo S-O-R, considerando os componentes cognitivos mediacionais na determinação 
do comportamento. 
A TCC adota o modelo S-O-R, que identifica a presença de um organismo e de 
processos cognitivos mediacionais entre um estímulo e a emissão de uma resposta. 
Conforme Knapp (2004), enquanto o comportamentalismo enfatiza o determinismo 
ambiental, a TCC pressupõe que a testagem da realidade seja dirigida ao pensamento do 
paciente, e não ao seu comportamento encoberto. 
Conforme Rangé (1997), trata-se de uma 
 
“...abordagem ativa, diretiva e estruturada, usada no tratamento de problemas 
psiquiátricos, fundamentada nos modelos cognitivo e comportamental, e 
caracterizada pela aplicação de uma série de procedimentos clínicos, como a 
introspecção, teste de realidade, insight, e inúmeros procedimentos 
comportamentais que conduzem a aprendizagens, visando aperfeiçoar 
discriminações e corrigir concepções equivocadas, modificar estados 
emocionais e mudar comportamentos julgados inadequados. (p. 24)” 
 
Conforme Borba (2004), a TCC estimula a percepção das relações funcionais 
entre pensamentos, sintomas físicos e emocionais e determinados acontecimentos, 
evidenciando que as perturbações sofridas podem ser compreendidas e modificadas com 
o desenvolvimento de habilidades mais saudáveis e relacionadas com a realidade e 
necessidades do paciente. 
Range (1997; 1998) refere o uso do método socrático no trabalho cognitivo, o 
que se dá na forma de perguntas que o terapeuta faz para que o paciente questione o 
fundamento de suas crenças. Os questionamentos, que visam a reestruturação cognitiva, 
são dirigidos às possíveis evidências que sustentam as crenças e pensamentos 
automáticos. O paciente é conduzido a uma espécie de “teste de hipóteses” no que diz 
respeito aos fundamentos de seus pensamentos automáticos e crenças, evidenciando-se, 
nesse sentido, o .emprego do método indutivo, na medida em que se toma as evidencias 
dos dados como instrumento de avaliação na credibilidade das hipóteses. 
A TCC é orientada para o problema e não para a personalidade. É estruturada e 
dirigida para as mudanças pretendidas tendo em vista a problemática em questão. 
Baseia num modelo educacional que tem como meta ensinar ao paciente recursos para 
lidar sozinho com novas situações, no futuro. (Range, 1997; 1998). 
As tarefas de casa são consideradas um aspecto central do tratamento e podem 
incluir o emprego de técnicas (por exemplo, de exposição com prevenção de resposta no 
caso dos transtornos ansiosos), e o registro diário de pensamentos disfuncionais 
(RDPD), que permite o registro da ocorrência dos comportamentos-alvo (“sintomas”), 
os quais serão trabalhados na sessão seguinte, e fornecerão dados para a condução do 
processo. A detecção dos pensamentos disfuncionais e das crenças durante a sessão é 
fundamental para a adequada demonstração das distorções cognitivas. Mas com o 
RDPD o paciente aprende a detecta-los e maneja-los por si mesmo, identificando os 
eventos situacionais (dia, hora, situação), emocionais (sentimentos, reações corporais) 
ecognitivos (pensamentos e imagens) relevantes. (Bahls & Novolar, 2004; Range, 1997; 
1998). A análise dos RDPD permitirão o estabelecimento de um conjunto de sintomas-
alvo (desânimo, tristeza, ansiedade, dificuldade de concentração, evitações, etc.), o que 
está relacionado ao quadro apresentado pelopaciente. A partir daí busca-se a alteração 
das cognições que sustentam esses sintomas-alvo. 
Parte da sintomatologia pode ser atribuída à incompreensão sobre a 
problemática, de forma que faz parte da instalação da aliança terapêutica – um 
importante elemento da relação terapêutica e parte do processo de mudança- uma 
explanação sobre a lógica da TCC, sua compreensão dos problemas e em especial da 
problemática do paciente. Estas informações já oferecem algum alívio, uma vez que se 
sente compreendido e com esperança de resolução, aumentando a possibilidade de que o 
paciente se empenhe de forma ativa em direção à mudança pretendida. (Rangé, 1997; 
1998). 
À medida que o paciente aprende a lógica do processo, que envolve a detecção e 
“teste” dos fundamentos de seus pensamentos disfuncionais, busca-se a generalização 
para fora do contexto terapêutico. Isto pelo caráter educativo do tratamento, já que se 
busca tornar o próprio paciente capaz de mudar seu comportamento pela modificação de 
suas cognições e interpretações dos eventos aos quais se expõe. 
Acerca dos procedimentos terapêuticos, destacam-se os comportamentais,que 
incluem o Plano de Atividades Diárias (PAD) e a prescrição de tarefas graduadas para 
pacientes deprimidos, a auto-exposição a certas situações nos quadros ansiosos, a 
prevenção de respostas para o Toc, entre outros que podem auxiliar no combate aos 
sintomas-alvo e para testes da realidade na modificação de crenças distorcidas. As 
técnicas permitem a identificação, teste na realidade, correção de concepções errôneas e 
avaliação mais objetiva e realística da realidade. Envolvem ensinar o paciente a 
observar e controlar seus pensamentos automáticos (reconhecendo o vínculo entre 
cognições, afetos e comportamentos); examinar evidências para seus pensamentos 
automáticos; substituir as cognições automáticas e tendenciosas por outras mais 
orientadas para a realidade; e aprender a identificar e alterar as crenças (esquemas) 
disfuncionais que sustentam e geram os pensamentos automáticos. (Range, 1997; 1998). 
 
Entre as técnicas cognitivas e comportamentais para detectar e modificar tais crenças e 
comportamentos decorrentes, podem-se citar: 
TÉCNICAS CLÁSSICAS: relaxamento (respiração, treino e relaxamento muscular 
progressivo); dessensibilização sistemática e treino da assertividade (parada do 
pensamento). 
TÉCNICAS MODERNAS: auto-instrução; inoculação do estresse e treinamento de 
habilidades sociais (solução de problemas, exposição, prevenção de respostas). 
 
 
8.3. Convergências e divergências: uma tentativa de síntese 
 
Abordando divergências entre os enfoques cognitivo e comportamental Falcone 
(1993) destaca que a terapia cognitivo-comportamental considera que os problemas 
psicológicos podem ser compreendidos em termos de sistemas de respostas 
intercalados: o cognitivo, afetivo/fisiológico e o comportamental. O modo como uma 
pessoa percebe o ambiente a sua volta (reação cognitiva) é seletivo e depende de um 
conjunto de regras e crenças adquiridas no desenvolvimento desta pessoa. As reações 
cognitivas influenciam e são influenciadas pelas reações afetivas, fisiológicas e 
comportamentais. Assim, nas desordens de ansiedade e na depressão, o indivíduo 
percebe e avalia a situação de forma distorcida, tendenciosa (distorção cognitiva), 
propiciando a ocorrência de afetos desagradáveis (angústia, desânimo, etc), de reações 
fisiológicas correspondentes (sudorese, taquicardia, tonteira, fraqueza, etc), e de 
comportamento (bloqueio, colapso, tremor, fuga, evitação, etc), que acabam 
confirmando as hipóteses negativistas acerca de situação e da auto-imagem. 
Behavioristas radicais, numa posição claramente monista admitem o estudo 
científico de fenômenos privados. Assim, "... pensamentos não são substancialmente 
diferentes em virtude de sua natureza privada. Eles podem ter propriedades especiais 
porque são verbais, mas ainda são comportamentos". Com base nesta proposição, os 
behavioristas radicais encontram uma forma de estudar as reações humanas fazendo 
uma distinção entre público e privado, em vez de físico e mental, considerando esta 
última como falsa e dualista. (Hayes, 1987, p.330, apud Falcone, 1995). 
Mantendo a ênfase na determinação ambiental, os behavioristas radicais 
procuram compreender as contingências que apoiam a relação entre pensamentos e 
outras formas de ação humana, através do estudo do comportamento controlado por 
regras ou controle verbal (Alvarez, 1991). Deste modo, regras verbais produzidas pela 
comunidade social-verbal influenciam outras formas de ação humana. As implicações 
clínicas desta proposição referem-se a possível distorção verbal que um indivíduo pode 
ter da realidade e de si mesmo, a partir de controle instrucional generalizado, mostrando 
efeitos nocivos no comportamento, mesmo quando as contingências são contactadas 
(Alvarez, 1991). Isto é "tradicionalmente entendido como distorção cognitiva" na 
perspectiva da TCC. (Alvarez, 1991, p.77). "A reestruturação cognitiva, por sua vez, 
seria reconhecida como uma forma de modificação de conduta verbal". 
Para os behavioristas radicais, aceitar o uso da palavra "cognição" seria aderir a 
uma postura dualista, o que constituiria um sério problema metodológico. Deste modo, 
a referência às reações cognitivas como "comportamentos encobertos" foi uma 
estratégia brilhante que estendeu o modelo operante à compreensão de fenômenos mais 
complexos. Cognitivistas-comportamentais também consideram as cognições como um 
sistema de respostas, mas não de uma forma tão compromissada com contingências e 
com termos precisamente impostos. Embora preocupados com validade empírica e 
expressão de conceitos operacionais, eles não são tão rigorosos do ponto de vista 
científico. 
Behavioristas radicais costumam ser bem mais flexíveis na aplicação de técnicas 
terapêuticas do que na construção de suas teorias ao adotarem um ecletismo técnico 
assumido, o que talvez seja uma forma de suprir as limitações impostas pelo rigor 
metodológico do behaviorismo radical.(Falcone, 1993). 
Outra diferença encontrada entre cognitivistas e behavioristas radicais está na 
ênfase dada às contingências ambientais e às cognições. O primeiro grupo enfatiza que 
os eventos cognitivos - crenças centrais, crenças intermediárias, pensamentos 
automáticos - são as variáveis determinantes dos comportamentos e dos sentimentos; 
consequentemente, o recorte da sua intervenção é internalista. Os terapeutas 
comportamentais, embora atribuam extrema importância para os eventos privados, 
assevera que é nas relações com o ambiente externo que devem ser buscadas as 
explicações pertinentes para todo e qualquer comportamento, ou seja, o recorte da 
análise e da intervenção é externalista. Deste modo behavioristas radicais enfatizam a 
determinação ambiental na compreensão dos comportamentos (abertos e encobertos) do 
indivíduo, enquanto cognitivo-comportamentais priorizam os processos cognitivos, 
considerando que o homem reage a um ambiente percebido e não a um ambiente real. 
(Falcone,1993). 
Um diferença importante diz respeito ao emprego de categorias nosológicas, 
como usadas no diagnóstico psiquiátrico pelos dois paradigmas. Pode-se dizer que seu 
emprego é irrelevante e inadequado para uma análise do comportamento. Considerando-
se que a análise do comportamento tem como pressupostos os princípios da 
aprendizagem, não há por que considerar princípios subjacentes ao comportamento que 
possam agir como causadores dos comportamentos "normais" e "anormais". Além 
disso, ao behaviorismo radical interessa a análise de casos particulares, o que iria contra 
um sistema classificatório tal como o DSM, já que dois indivíduos classificados como 
portadores de "transtorno do pânico", por exemplo, teriam idiossincrasias que deveriam 
ser objeto de análises individuais, ou seja, suas histórias pessoais seriam maisimportantes para um diagnóstico "correto", bem como para o tratamento daí decorrente. 
(Lopes, Lopes & Lobato, 2006). 
Na abordagem cognitiva não há nenhuma restrição ao uso de sistemas 
classificatórios. O uso do sistema DSM dentro dessa abordagem se faz de forma a 
procurar como os perfis psicológicos se encaixam nas classificações dos transtornos 
psiquiátricos, a partir dos quais os terapeutas planejam com seus clientes os passos da 
terapia. Além disso, o diálogo com a psiquiatria se faz pelo fato de essa abordagem 
encarar os fenômenos psicológicos mais propriamente como fenômenos 
psicobiológicos, donde o uso de psicofármacos poder ser feito conjuntamente com o 
tratamento psicoterapêutico (Lotufo Neto & Araújo, 1995). 
 
Em suma, enquanto que as Terapias Comportamentais têm como principal 
objetivo, através da utilização dos princípios da aprendizagem, a modificação dos 
comportamentos desadaptativos, as Terapias Cognitivas visam modificar as crenças 
disfuncionais e os erros no modo como é processada a informação para, deste modo, 
modificar as perturbações emocionais e/ou comportamentais, destacando-se, portanto, o 
modelo mediacional neste grupo. Ao longo deste processo, é assumida e modificada a 
discrepância existente entre a interpretação que o indíviduo faz das situações e as 
circunstâncias reais das mesmas. 
Ressalta-se entretanto os aspectos comuns entre as terapias comportamentais e 
as cognitivas, que podem ser assim sintetizados, conforme Borba (2005): 
a) a semelhança metodológica, no sentido de primarem por um estudo objetivo, 
baseado em evidências, cientificamente comprovado; 
b) o desenvolvimento de hipóteses e práticas sistematizadas, e portanto 
perfeitamente passíveis de replicação; 
c) o pragmatismo, pelo objetivo de aplicar o conhecimento desenvolvido; 
d) a perfeita compatibilidade entre as intervenções cognitivas e as 
comportamentais, que maximizam a eficiência do tratamento e provocam mudanças 
significativas à qualidade de vida de uma pessoa; 
e) a noção de grande parte dos problemas apresentados por um indivíduo tem a 
ver com sua história de aprendizagem. 
 
 
 
 
 
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