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OBRAS HIDROVIÁRIAS 4 I. DRAGAGEM E DERROCAMENTO I.1 DRAGAGEM I.1.1 Introdução O serviço de dragagem consiste na escavação e remoção (retirada, transporte e deposição) de solo, rochas decompostas ou desmontadas (por derrocamento) submersos em qualquer profundidade e por meio de variados tipos de equipamentos (mecânicos ou hidráulicos) em mares, estuários e rios. Neste item estão consideradas somente as dragagens em lâminas d’água de até cerca de 30 m de profundidade para fins de navegação. As dragagens fluviais envolvem normalmente menores volumes do que as marítimas, pois as profundidades são reduzidas (abaixo de 5 m), bem como são realizadas somente sob a ação de correntes, o que consequentemente reduz o porte dos equipamentos. Dependendo da largura do canal fluvial, pode ser realizada a escavação a partir da margem por escavadeiras, embora preponderem os equipamentos flutuantes. As dragagens de implantação, efetuadas para a implantação de um determinado gabarito geométrico (profundidade, largura e taludes), diferem das dragagens de manutenção, efetuadas sistematicamente para manter o gabarito. De fato, as primeiras acarretam um maior volume de serviço, uma vez que na implantação existe a necessidade da acomodação do terreno ao gabarito imposto, estando sujeita a deslizamentos de taludes até conseguir-se a estabilidade das rampas. O objetivo de gestão de curto prazo de uma dragagem consiste na escavação de material de acordo com um determinado gabarito de navegação especificado. Assim, na Figura I.1 apresentam- se curvas características de assoreamento no Canal de Acesso ao Porto de Santos (SP), levantadas após as dragagens de manutenção efetuadas em 1973, 1974 e 1975, sendo que na Figura I.2 apresentam-se as curvas de evolução temporal do alteamento dos fundos em função das cotas finais de dragagem. O objetivo de gestão de longo prazo de uma dragagem diz respeito à localização do despejo dos dragado (bota-fora) de modo a compatibilizar os aspectos técnico-econômicos, de economicamente evitar o retorno dos materiais dragados, e ambientais. A gestão e operação das áreas de despejo de dragagem, visando assegurar a sua utilização a longo prazo constituem os mais importantes objetivos de longo prazo. No caso do citado exemplo da dragagem do Canal de Acesso ao Porto de Santos, em meados da década de 1970 a Companhia Docas de Santos alterou o local de despejo dos dragados do extremo oeste da Baía de Santos (Ponta de Itaipu), aonde os mesmos eram despejados há décadas, para o extremo leste (Ponta da Manduba), pois extensivas e detalhadas campanhas hidrográficas, envolvendo inclusive testes com traçadores radioativos, indicaram que no primeiro local havia um rápido retorno de praticamente metade do volume removido, enquanto no segundo os dragados eram afastados do local de dragagem. OBRAS HIDROVIÁRIAS 5 Figura I.1: Curvas características de assoreamento na curva do canal de acesso ao Porto de Santos. (BRASIL, 1977) Figura I.2: Evolução temporal do assoreamento no canal externo na curva do canal de acesso ao Porto de Santos. (BRASIL, 1977) OBRAS HIDROVIÁRIAS 6 I.1.2 Dragas mecânicas I.1.2.1 Caracterização As dragas mecânicas são caracterizadas pelo uso de alguma espécie de caçamba para escavar e elevar o material do fundo. Estes equipamentos podem ser classificados em função do modo em que as caçambas estão montadas na draga em: conectadas por cabos, estruturalmente conectadas e com esteira e estruturalmente conectadas. Podem também ser classificadas quanto ao tipo de trabalho em descontínuo e de alcatruzes. As primeiras têm pequena capacidade de escavação relativamente ao custo, não sendo utilizadas nos trabalhos rotineiros de manutenção de profundidades em obras mais amplas. No caso dos equipamentos terrestres o transporte para a área de despejo é normalmente efetuado por caminhões. As dragas flutuantes têm maior produtividade pelo fato de seu peso ao flutuar permitir maior versatilidade de operação. No caso dos equipamentos flutuantes estacionários dispõe-se de embarcações auxiliares de reboque e os dragados são transportados para a área de despejo normalmente a partir do depósito numa barcaça (batelão), a qual transporta o material para o destino final. As dragas estacionárias são operadas com pontaletes (charutos, ou spuds), ou âncoras em locais mais fundos, movimentados com sistema de elevação e guinchos para posicionamento e deslocamento (normalmente sistemas à ré e sistemas à vante). Também podem ser utilizadas as modalidades de dragas autotransportadoras, dependendo das condições no local da dragagem. I.1.2.2 Pá de arrasto (dragline) A pá de arrasto (dragline) trata-se de equipamento mecânico terrestre de guincho que se desloca sobre esteiras que movimentam o conjunto de plataforma giratória, aonde está montada a cabine de operação, a treliça (lança) do guincho, o motor e três tambores com dois cabos ligados à caçamba (lançamento, içamento arrastamento) e um para movimentação da lança (ângulo vertical). O ciclo completo de operação consiste no lançamento, arrasto, içamento, giro e descarga da caçamba operada pelos cabos. É adequada para operação em terrenos moles, trata-se de equipamento de baixa produtividade e indicado para serviços de abertura de calhas em várzeas ou mangues, ou manutenções localizadas (por exemplo em confluências). I.1.2.3 Draga mecânica de colher (escavadeira shovel) A draga mecânica de colher (escavadeira shovel) trata-se de equipamento mais robusto do que o anterior, permitindo penetração e corte em materiais mais duros, uma vez que a caçamba está estruturalmente conectada à extremidade de um braço rígido (ver Figura I.3). A lança é movimentada por cabo e outro cabo opera o braço de escavação. Os comandos também podem ter acionamento hidráulico. OBRAS HIDROVIÁRIAS 7 Figura I.3: Draga mecânica de colher. (SALLES, 1993) I.1.2.4 Draga de caçamba de mandíbulas (clamshell ou orange peel) A draga de caçamba de mandíbulas trata-se de equipamento operado por três cabos, que movimentam verticalmente a lança, movimentam verticalmente a caçamba e abrem ou fecham as mandíbulas. Para solos moles utiliza-se o clamshell e para blocos de material duro utiliza-se a caçamba orange peel (ver Figura I.4). Seu ciclo de operação compreende giro, lançamento, fechamento de mandíbulas, içamento, giro de retorno e abertura da caçamba para descarga, tendo portanto menor rendimento do que a pá de arrasto. Figura I.4: Draga de caçamba. (SALLES, 1993) Na Figura I.5 está apresentado este equipamento com um sistema estacionário de pontão ancorado e na Figura I.6 uma draga autotransportadora, com cisternas dotadas de portas de fundo acionadas por sistema hidráulico para despejo dos dragados. De um modo geral, são equipamentos escavadores de baixo custo, exigindo recursos humanos de modesta capacitação, permitindo operação com condições de agitação (caçambas OBRAS HIDROVIÁRIAS 8 operadas por cabos) e em maiores profundidades, bastando estender o comprimento de cabo no tambor. Suas desvantagens são a baixa capacidade, sendo indicada para serviços localizados, não sendo eficiente na dragagem de material muito fluido. Figura I.5: Draga de caçamba operando com pontão ancorado. (SALLES, 1993) Figura I.6: Vista lateral e planta de draga de caçambas flutuante e autotransportadora. (SALLES, 1993) OBRAS HIDROVIÁRIAS 9 I.1.2.5 Draga de pá escavadora (dipper) A draga de pá escavadora (dipper) consiste fundamentalmente de draga mecânica de colher montada em barcaça (ver Figuras I.7 e I.8). Normalmente a caçamba está localizada no extremo do braço, o qual conecta-se aproximadamente no meio do braço a um pivô e por um cabo à roldana no extremo do braço. Os equipamentos mais modernos são dotados de atuadores hidráulicos e frequentementepodendo ser dotado de retroescavador. Figura I.7: Vista lateral, corte, planta e foto (retroescavadeira) de draga de pá escavadora (“dipper”). (SALLES, 1993) Figura I.8: Vista lateral, planta e corte de uma draga de pá escavadora (“dipper”). (SALLES, 1993) De um modo geral, são equipamentos escavadores de custo médio, com baixa a moderada OBRAS HIDROVIÁRIAS 10 capacidade em áreas de operação mais amplas, e bom desempenho na escavação argila rija, areia grossa, pedregulhos e materiais duros maiores e desagregados. Suas desvantagens estão na recomendação de não operar com condições de agitação (principalmente a ondulação), na limitação de operação em maiores profundidades, não sendo eficiente na dragagem de material muito fluido. I.1.2.6 Draga de alcatruzes A draga de alcatruzes (ver Figuras I.9 a I.12) utiliza uma cadeia sem fim móvel de caçambas (rosário), montada numa lança, que escava o fundo próximo ao tombo inferior, roldana guia da lança movida pelo rosário, e eleva o material para o tombo superior, de onde parte a geração do movimento do rosário, aonde cada caçamba descarrega sua carga e retorna para outra. Abaixo do tombo superior situa-se a caixa de lama que recebe a descarga das caçambas, estando dotada de dispositivo distribuidor que descarrega os dragados para um bordo ou outro, conforme o posicionamento dos batelões que transportam o material para o despejo. Figura I.9: Representação esquemática de uma draga de alcatruzes. (SALLES, 1993) OBRAS HIDROVIÁRIAS 11 Figura I.10: Detalhes do rosário de draga mecânica de alcatruzes. (SALLES, 1993) Figura I.11: Draga de alcatruzes – Perfil de escavação. (SALLES, 1993) OBRAS HIDROVIÁRIAS 12 Figura I.12: Esquema operacional de uma draga mecânica de alcatruzes. (SALLES, 1993) A draga de alcatruzes estacionária opera posicionando-se com cabos presos em âncoras (ver Figura I.12) ou em pontos nas margens. Na Figura I.13 apresenta-se o esquema operacional de uma draga de alcatruzes. Figura I.13: Esquema operacional de uma draga de alcatruzes. (SALLES, 1993) OBRAS HIDROVIÁRIAS 13 De um modo geral, têm as vantagens de operarem continuamente, alta força de corte, mínima diluição, aplicação em grandes projetos de implantação de canais e boa capacidade de escavação (inclusive das partículas maiores) com maior rendimento para dragas de grande capacidade dragando material homogêneo, sendo então indicadas para trechos fluviais de rios de grande porte, flúvio-marítimos e estuarinos. Suas desvantagens consistem no alto custo de mobilização e manutenção, na sua grande sensibilidade à ação de ondulação e na necessidade do uso de batelões para o transporte, pois a operação destes é restrita para aterro em áreas rasas marginais. I.1.3 Dragas hidráulicas I.1.3.1 Caracterização As dragas hidráulicas são caracterizadas pela misturação e transporte do material dragado em escoamento hidráulico de alta velocidade. Desagregadores mecânicos podem ser usados quando for necessário escavar ou raspar material mais consistente. Uma bomba de dragagem é utilizada para criar a carga hidráulica e o escoamento necessários para transportar a mistura bifásica água- solo ao longo de tubulação para o seu despejo. Pode-se considerar basicamente dois tipos de dragas hidráulicas: draga estacionária de sucção e recalque, que se desloca em maiores distâncias com auxílio de rebocadores, e autotransportadora, montada em embarcação autopropelida que armazena os dragados em cisterna e os despeja pelo fundo ou por bombeamento. I.1.3.2 Draga estacionária de sucção e recalque A draga estacionária de sucção e recalque é a forma mais simples de draga hidráulica (ver Figuras I.14 e I.15). Seu esquema operacional de posicionamento está apresentado na Figura I.16. Quando a draga não dispõe de desagragador o uso deste tipo de draga está limitado a escavar materiais móveis e fluidos em áreas localizadas, podendo dispor de sistema de jatos d’água de alta velocidade para facilitar a retirada de material. Figura I.14: Dragagem de um talude com draga de sucção e recalque. (SALLES, 1993) OBRAS HIDROVIÁRIAS 14 Figura I.15: Draga de sucção e recalque. (SALLES, 1993) Figura 1.16: Esquema operacional de uma draga de sucção e recalque (posição das âncoras). (SALLES, 1993) A draga estacionária de sucção e recalque com desagregador é a mais comum e versátil draga hidráulica. Esta draga é equipada com um desagregador rotatório (ver Figura I.17) que é um escavador que envolve a boca da linha de sucção. O desagregador escava e translada os dragados para a área de influência do escoamento de alta velocidade na boca de sucção, aonde os sedimentos são misturados, passando pela bomba da draga para a linha flutuante e ou terrestre de recalque e para a área de despejo.
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