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NUTRIÇÃO CLÍNICA Profª Ma. Marilene Magalhães de Brito As fístulas digestivas são conceituadas como sendo o estabelecimento de uma comunicação anormal entre o tubo digestivo e qualquer outra víscera oca intra- abdominal ou em cavidade livre (fístula interna), ou, ainda, com a superfície cutânea (fístula externa), através da qual ocorre drenagem de secreção digestiva. Taxa de mortalidade: 10% a 60%. Desnutrição Desequilíbrio hidroeletrolítico Sepse Alto débito inicial pela fístula Baixo débito: < 500 mL /dia Alto débito: > 500 mL/dia Dentre as várias etiologias, a deiscência de anastomoses digestivas é a mais frequente (~ 80%), ocorrendo habitualmente entre o 4º e 10º dia da operação. Doença de Crohn Radioterapia Perfurações inadvertidas em ato operatório Trauma Países em desenvolvimento: tuberculose e a amebíase Desnutrição Corpos estranhos deixados na cavidade acidentalmente ou de forma intencional Cirurgias do tubo digestivo em locais com processo inflamatório ou neoplásico A gravidade depende de uma série de variáveis: Etiologia Tipo de fístula (drenagem interna ou externa) Localização anatômica Débito da fístula (qualidade e quantidade do líquido perdido). Qualidade do líquido drenado: determinado pela localização anatômica da fístula. Perda de eletrólitos e proteínas espoliadas. Ação lesiva direta dos líquidos digestivos sobre os tecidos. Lesão proteolítica na ferida: favorece a infecção e a deiscência da parede abdominal com alto risco de evisceração. A pele em contato direto com estes líquidos sofre queimadura química: pode gerar processo infeccioso grave. As fístulas biliares podem ser espontâneas (raras) ou pós-intervenção cirúrgica ou trauma As fístulas espontâneas internas em geral se associam com litíase da árvore biliar O débito da fístula igualmente determina o prognóstico Estado geral e nutricional muito importância Repouso do trato digestivo pelo uso da NPT, em princípio, não é necessário. Fístula Colecistoentérica As fístulas esofágicas, em geral, são complicações cirúrgicas pós-esofagectomia com anastomoses que podem ser cervical, intra-torácica ou abdominal, ou ainda de traumas penetrantes em região cervical, de perfuração pela ingestão de corpos estranhos com arestas ou de endoscopia. A exclusão do trânsito alimentar é medida importante Cerca de 85 a 90 % das fístulas gástricas são complicações cirúrgicas. Causas menos comuns, de ocorrência espontânea, são inflamações, isquemias, câncer e irradiação. Ocorrem em cerca de 6 a 8 % das anastomoses gástricas por ressecções oncológicas e determinam uma mortalidade de 50 a 70%. Nas doenças benignas, se o débito for superior a 200 ml/ dia, é esperada uma mortalidade em torno de 40 %. São fístulas de grande morbimortalidade, em geral, de alto débito com importante perda hidroeletrolítica e de bicarbonato, levando a importante acidose metabólica. Resultam, quase sempre, de intervenções cirúrgicas, sendo que cerca de 85% ocorrem após ressecções gástricas, operações biliares, duodenais, pancreáticas ou em cólon direito. Duplicação Pilórica (Fístula Antro-Duodenal) https://www.google.com/url?sa=i&url=http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script%3Dsci_arttext%26pid%3DS0872-81782010000100008&psig=AOvVaw3tVkVDgQgozPdH3uWcQM0Z&ust=1589825948708000&source=images&cd=vfe&ved=0CA0QjhxqFwoTCKDI2rDBu-kCFQAAAAAdAAAAABAW Os outros 15 % ocorrem por neoplasia, trauma ou complicações de doença ulcerosa benigna. A mortalidade global varia de 5 a 67%. Mesmo com NPT, a mortalidade permanece elevada, devido a grande perda de líquido, com grave distúrbio hidroeletrolítico. O líquido proveniente do intestino delgado é alcalino e tem alto poder proteolítico por si só. Acrescido das secreções duodenal e biliar e suco pancreático ativado Uma fístula do intestino delgado pode ser extremamente agressiva para o peritônio, trajeto fistuloso da ferida cirúrgica e pele da parede abdominal. (CONRADO etal, 2010) Podem ser complicação de uma operação prévia, ou, mais raramente, espontâneas, como na Doença de Crohn, enterite actínica, ou corrosão pela presença de corpos estranhos. As fístulas das doenças inflamatórias intestinais são de tratamento mais difícil, assim como aquelas originadas em intestino previamente irradiado. Se estiverem localizadas próximo ao ângulo de Treitz, apresentarão débito alto com importante perda hidroeletrolítica. As fístulas localizadas mais distalmente, próximas à válvula íleocecal, podem apresentar comportamento benigno com pequeno débito, inclusive com possibilidade de abordagem nutricional por via oral. Podem ser espontâneas como consequência de doenças inflamatórias inespecíficas Diverticulites Perfuração por corpos estranhos ingeridos ou introduzidos pelo ânus Complicação de intervenção cirúrgica abdominal Em geral, apresentam baixo débito, permitindo o uso do trato digestivo sem grandes problemas. Espera-se seu fechamento espontâneo em cerca de 90 % dos casos em um período de 40 a 50 dias. Fístula gastrocolônica: A - vista do estômago. B – vista do cólon DESNUTRIÇÃO (55 - 90%): Grande catabolismo Desnutrição prévia Perdas aumentadas Jejum imposto pelo tratamento Nutrição ineciente. Índices de mortalidade Anos 80: 40 - 65% Últimos anos: 10 - 15% OBJETIVOS Primário: impedir a desnutrição ou seu agravamento. 1) minimizar o trânsito pela região da fístula, para acelerar a cicatrização e promover fechamento espontâneo; 2) dar TN para eventual operação corretiva da fístula num segundo tempo; 3) modular a reação imunoinflamatória, diminuindo o excesso de inflamação e de imunossupressão. Diminuir a morbidade, acelerar o fechamento da fístula e diminuir a mortalidade. A escolha do suporte depende da localização da fístula. TNE é a preferencial sempre que possível Fístulas de alto débito: TNP Respondem a qualquer administração de dieta pelo TGI, ainda que por acessos posicionados distalmente aos orifícios fistulosos. Alimentação oral: Estimula perdas adicionais de líquidos, proteína e eletrólitos pelo trajeto da fístula. Jejum via oral: minimiza e/ou controla o débito da fístula. Perdas elevadas pela fístula implicam na dificuldade de cicatrização e fechamento da mesma. FISTULA DE ALTO DÉBITO ALIMENTAÇÃO ORAL O uso da NPT determina uma redução em todas as secreções digestivas de forma muito mais eficaz que o jejum simples. Mesmo com o uso da NPT, se for permitida a ingestão oral, ainda que de líquidos, haverá um estímulo secretório com consequente aumento do débito da fístula Minimizando as perdas hídricas e de eletrólitos, permite que a espoliação proteica seja controlada, condição essencial para a manutenção ou recuperação do estado nutricional Apesar da aplicação da fórmula de HB, raramente será necessária uma administração > 30 a 40 Kcal/Kg/dia. (25 a 30 Kcal/Kg/dia ) Proteínas: - 1,2 a 1,5 g/Kg/dia (manutenção) - 1,5 a 1,8 g/Kg/dia (repleção) - Até 2,0 g/Kg/dia (pacientes com perdas severas) Pacientes com fístula de alto débito: 1,2 a 1,5 x total de calorias recomendado; 1,5 a 2,0g de proteína/Kg/dia. Lipídios: O uso de lipídios é fundamental para prevenção de deficiências de AGE. A adição de lipídios à NP (sistema 3:1) pode atingir anabolismo poupando proteína, sem os riscos de hiperglicemia e com o benefício de aportar os AGE. Nesses casos, emulsões lipídicas devem corresponder 20 a 30% do total de calorias. Carboidratos: A glicose endovenosa deverá ser a principal fonte energética da NPT. Infusão excessiva de glicose prejudica a função respiratória e hepática. Relação Cal/g N A relação 150:1 Resulta em ótimo balanço nitrogenado na grande maioria dos pacientes desnutridos (ausência de sepse). Para calcular a necessidade hídrica deve-se tomar como base o gasto energético: 1mL/Kcal/dia,uma vez que se faz necessário 1mL de água para cada caloria despendida. O volume deve ser reposto com soluções eletrolíticas balanceadas. Soluções com albumina humana: níveis séricos < 2,5g/dL. Febre, sepse e perdas gastrointestinais: aumentam a necessidade de água e calorias. Perdas adicionais pelo TGI devem ser medidas com precisão, para determinar a quantidade de eletrólitos a serem repostos. VITAMINAS E MINERAIS As doses recomendadas para suporte parenteral são semelhantes às doses recomendadas VO. Pacientes com fístulas de alto débito: - Vitaminas e minerais: 2 x a quantidade de proposta pela RDA; - Vitamina C: 5 a 10 x do recomendado (RDA); - Suplementação com Zn está indicada. Redução do débito da fístula; Diminuição das perdas hídricas e de eletrólitos; Controle da espoliação proteica. Uso de lipídios na TNP: - Evita sobrecarga de glicose e - Fontes de ácidos graxos essenciais. Quantidade de mínima de glicose: 50 a 150g ou 2g/Kg/dia provimento de calorias para o SNC. A NE é um potente estímulo para a ativação das defesas antimicrobianas do intestino proximal. Fístulas do esôfago: aporte da dieta enteral distalmente à fístula (sonda nasojejunal ou jejunostomia) utilizando o TGI do paciente; Fístulas distais (íleo terminal e cólon): soluções oligoméricas e monoméricas permitem infusão enteral segura sem aumento do débito da fístula (absorção no jejuno proximal). Observações: 1. Fístulas proximais de alto débito devem ser inicialmente tratadas com TNP; 2. Nas fístulas altas ou baixas e naquelas que se consegue passar sonda distalmente, pode-se empregar NE; 3. Se o débito da fístula aumentar consideravelmente com o uso da TNE, deve-se retornar a TNP. (CAMPOS, 2018) (SOUZA et al, 2001) Indivíduo do sexo masculino, 62 anos, diabético, hipertenso, com quadro de icterícia progressiva há 20 dias associado a perda de peso. Apresenta colúria, acolia fecal, dor abdominal pós-prandial e astenia em membros inferiores. Os exames laboratoriais evidenciaram anemia. A ressonância magnética evidenciou moderada dilatação das vias biliares intra-hepáticas, redução abrupta ao nível da confluência dos ductos e má caracterização do segmento proximal do hepatocolédoco, sem fator obstrutivo. Após três dias de pós-operatório (DPO), realizou-se colecistectomia e ressecção do TK com derivação biliar externa, cujo histopatológico evidenciou margens comprometidas. No 4° dia de PO evoluiu com abdômen obstrutivo e fístula biliar de alto débito (600 a 800 ml por dia). Qual a TN indicada? (CREMA E. et al. Fístula esôfago-traqueal após ingestão cáustica. J Bras Pneumol. v.33, n.1, p.105-108, 2007) QUAL SUA PRESCRIÇÃO DE TERAPIA NUTRICIONAL?