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LIVRO: Tratado de Enfermagem Médico Cirúrgica – BRUNNER & SUDDART DISTÚRBIOS DA VESÍCULA BILIAR Vários distúrbios afetam o sistema biliar e interferem na drenagem normal da bile no duodeno. Esses distúrbios incluem a inflamação do sistema biliar e o carcinoma que provoca obstrução da árvore biliar. A doença da vesícula biliar com cálculos constitui o distúrbio mais comum do sistema biliar. Embora nem todas as ocorrências de inflamação da vesícula biliar (colecistite) estejam relacionadas com cálculos na vesícula biliar (colelitíase) ou no ducto colédoco (coledocolitíase), mais de 90% dos clientes com colecistite aguda apresentam cálculos biliares. Contudo, mais de 15 milhões de norte-americanos com cálculos biliares não apresentam dor e não percebem a presença de cálculos (Bope e Kellerman, 2011). Colecistite A colecistite (inflamação da vesícula biliar, que pode ser aguda ou crônica) provoca dor, hipersensibilidade e rigidez da parte superior direita do abdome (que pode irradiar-se para a área esternal média ou para o ombro direito) está igualmente associada a náuseas, vômitos e aos sinais habituais de inflamação aguda. Ocorre desenvolvimento de empiema da vesícula biliar quando esta fica repleta de líquido purulento (pus). A colecistite calculosa constitui a causa de mais de 90% dos casos de colecistite aguda (Feldman, Friedman e Brandt, 2010; Rakel e Rakel, 2011). Na colecistite calculosa, o efluxo biliar é obstruído por um cálculo biliar. A bile remanescente na vesícula biliar inicia uma reação química; ocorrem autólise e edema e os vasos sanguíneos na vesícula biliar ficam comprimidos, prejudicando o seu suprimento vascular. Em consequência, pode ocorrer gangrena da vesícula biliar com perfuração. As bactérias desempenham uma função mínima na colecistite aguda; no entanto, ocorre infecção secundária da bile em cerca de 50% dos casos. Os microrganismos envolvidos são geralmente entéricos (residem normalmente no trato GI) e incluem Escherichia coli, espécies de Klebsiella e Streptococcus. Não se acredita que a contaminação bacteriana possa estimular o início efetivo da colecistite aguda (Feldman et al., 2010). A colecistite acalculosa descreve uma inflamação aguda da vesícula biliar na ausência de obstrução por cálculos biliares. A colecistite acalculosa é observada após procedimentos cirúrgicos de grande porte, traumatismo grave ou queimaduras. Outros fatores associados a esse tipo de colecistite incluem torção, obstrução do ducto cístico, infecções bacterianas primárias da vesícula biliar e múltiplas transfusões de sangue. Foi especulado que a colecistite acalculosa é causada por alterações nos líquidos e eletrólitos e por alterações do fluxo sanguíneo regional na circulação visceral. Acredita-se também que a estase biliar (falta de contração da vesícula biliar) e a viscosidade aumentada da bile desempenhem alguma função. A ocorrência de colecistite acalculosa com procedimentos cirúrgicos de grande porte ou traumatismo dificulta o seu diagnóstico. Colelitíase Em geral, os cálculos ou cálculos biliares formam-se na vesícula biliar a partir dos constituintes sólidos da bile; variam acentuadamente quanto ao tamanho, formato e composição (Figura 50.2). São incomuns em crianças e adultos jovens; no entanto, tornam-se mais prevalentes com o avanço da idade. De acordo com estimativas, a prevalência dos cálculos biliares varia de 5 a 20% em mulheres entre 20 e 55 anos de idade e de 25 a 30% em mulheres com mais de 50 anos. A colelitíase acomete aproximadamente 50% das mulheres em torno dos 70 anos. A prevalência nos homens é de aproximadamente 1/3 a metade das taxas de incidência em mulheres (Feldman et al., 2010). Fisiopatologia Existem dois tipos principais de cálculos biliares: aqueles compostos predominantemente de pigmento e aqueles compostos principalmente de colesterol. Os cálculos pigmentares formam-se, provavelmente, quando pigmentos não conjugados na bile precipitam para formar cálculos; estes são responsáveis por cerca de 10 a 25% dos casos nos EUA (Feldman et al., 2010). O risco de desenvolver esses cálculos apresenta-se aumentado em clientes com cirrose, hemólise e infecções urinárias. Os cálculos pigmentares não podem ser dissolvidos e precisam ser removidos cirurgicamente. Os cálculos de colesterol respondem pela maior parte dos 75% de casos remanescentes de doença da vesícula biliar nos EUA. O colesterol, um constituinte normal da bile, é insolúvel em água. A sua solubilidade depende dos ácidos biliares e da lecitina (fosfolipídios na bile). Em clientes propensos a formar cálculos biliares, ocorrem síntese diminuída de ácidos biliares e aumento da síntese de colesterol no fígado, resultando em bile supersaturada com colesterol, que precipita separando-se da bile, formando cálculos. A bile saturada de colesterol predispõe à formação de cálculos biliares e atua como irritante, provocando alterações inflamatórias na mucosa da vesícula biliar (Feldman et al., 2010). Os cálculos de colesterol e a doença da vesícula biliar acometem duas a três vezes mais mulheres que homens; as mulheres afetadas geralmente têm mais de 40 anos de idade, são multíparas e obesas (Feldman et al., 2010; Goldman e Schafer, 2012). A formação de cálculos é mais frequente em indivíduos que usam contraceptivos orais, estrogênios ou clofibrato; esses medicamentos são conhecidos pela sua capacidade de aumentar a saturação de colesterol biliar (Feldman et al., 2010). A incidência de formação de cálculos aumenta com a idade, em consequência da secreção hepática aumentada de colesterol e síntese diminuída de ácidos biliares. Além disso, existe um risco aumentado, https://jigsaw.vitalsource.com/books/978-85-277-2820-1/epub/OEBPS/Text/chapter50.html#ch50fig2 devido à má absorção de sais biliares em clientes com doença GI ou fístula com tubo T e naqueles que foram submetidos a ressecção ou bypass ileal. A incidência também é maior em indivíduos com diabetes melito (Boxe 50.1). Boxe 50.1 FATORES DE RISCO Colelitíase •Obesidade •Mulheres, particularmente as que tiveram múltiplas gestações ou que são indígenas ou de etnicidade hispânica •Alterações frequentes no peso •Perda de peso rápida (leva ao rápido desenvolvimento de cálculos biliares e alto risco de doença sintomática) •Tratamento com estrogênio em dose alta (p. ex., no caso de câncer de próstata) •Terapia com estrogênio em dose baixa – associada a um pequeno aumento no risco de cálculos biliares •Ressecção ou doença ileal •Fibrose cística •Diabetes Manifestações clínicas Os cálculos biliares podem ser silenciosos: não produzem dor e causam apenas sintomas GI discretos. Esses cálculos podem ser detectados de modo incidental durante uma cirurgia ou em uma avaliação de problemas não relacionados. O cliente com doença da vesícula biliar em consequência de cálculos biliares pode desenvolver dois tipos de sintomas: aqueles causados pela própria doença da vesícula biliar e aqueles decorrentes da obstrução das vias biliares por um cálculo. Os sintomas podem ser agudos ou crônicos. Pode haver ocorrência de desconforto epigástrico, como plenitude, distensão abdominal e dor vaga no quadrante superior direito do abdome. Esse desconforto pode surgir depois de uma refeição rica em alimentos fritos ou gordurosos. Dor e cólica biliar Se houver obstrução do ducto cístico por um cálculo biliar, a vesícula biliar torna-se distendida, inflamada e, eventualmente, infectada (colecistite aguda). O cliente desenvolve febre e pode apresentar massa abdominal palpável; pode ter cólica biliar, com dor excruciante na parte superior direita do abdome, que se irradia para as costas e para o ombro direito. A cólica biliar está geralmente associada a náuseas e vômitos, e torna-se perceptível várias horas depois de uma refeição pesada. O cliente move-se com inquietação, incapaz de encontrar uma posição confortável. Em alguns clientes, a dor é mais constante do que em cólica. Essa crise de cólica biliar é causada pela contração da vesícula biliar, que não consegue liberar a bile devido à obstrução pelo cálculo. Quando distendido, o fundo da vesícula biliar entra em contato com a parede do abdome, na região da nona e décima cartilagens costais direitas. Isso provoca acentuada hipersensibilidade no quadrante superior direito com a inspiração profunda e impede a excursão inspiratória total. A dor da colecistite aguda pode ser intensa a ponto de exigir o uso de medicamentos analgésicos. O uso de morfina tem sido tradicionalmente evitado, devido à preocupação de que possa causar espasmo do esfíncter de Oddi; em seu lugar, administra-se meperidina. Essa opção é controversa, visto que a morfina constitui o agente analgésico preferido para o manejo da dor aguda, e alguns metabólitos da meperidina são tóxicos para o sistema nervoso central (SNC). Além disso, todos os opioides estimulam, em certo grau, o esfíncter de Oddi (Porth e Matfin, 2009). Quando o cálculo biliar se desloca e não causa mais obstrução do ducto cístico, a vesícula biliar drena e o processo inflamatório desaparece depois de um período de tempo relativamente curto. Se o cálculo biliar continuar obstruindo o ducto, podem ocorrer formação de abscesso, necrose e perfuração com peritonite generalizada. Icterícia Ocorre icterícia em alguns clientes com doença da vesícula biliar, geralmente com obstrução do ducto colédoco. A bile, que não é mais transportada para o duodeno, é absorvida pelo sangue, conferindo coloração amarelada à pele e às mucosas. Com frequência, é acompanhada de prurido (coceira) acentuado da pele. Alterações na coloração da urina e das fezes A excreção dos pigmentos biliares pelos rins confere à urina uma coloração muito escura. As fezes, que não são mais tintas com pigmentos biliares, tornam-se acinzentadas (semelhante à massa de vidraceiro) ou cor de argila. Déficit de vitaminas A obstrução do fluxo biliar interfere na absorção das vitaminas lipossolúveis A, D, E e K. Os clientes podem apresentar deficiências dessas vitaminas quando a obstrução biliar é prolongada; por exemplo, um cliente pode sofrer sangramento causado pela déficit de vitamina K (a vitamina K é necessária para a coagulação normal do sangue). Manejo clínico Os principais objetivos da terapia clínica consistem em reduzir a incidência de episódios agudos de dor na vesícula biliar e de colecistite por meio de manejo de suporte e nutricional e, se possível, remoção da causa da colecistite mediante terapia farmacológica, procedimentos endoscópicos ou intervenção cirúrgica. Embora os procedimentos não cirúrgicos eliminem os riscos associados à cirurgia, essas abordagens estão associadas a sintomas persistentes ou à formação de cálculos recorrentes. As abordagens não cirúrgicas, incluindo litotropsia e dissolução dos cálculos biliares, proporcionam, em sua maioria, somente soluções temporárias para os problemas dos cálculos biliares e https://jigsaw.vitalsource.com/books/978-85-277-2820-1/epub/OEBPS/Text/chapter50.html#ch50box1 raramente são usadas nos EUA. Em alguns casos, outras abordagens de tratamento podem estar indicadas; estas são descritas mais adiante. A remoção da vesícula biliar (colecistectomia) por meio de abordagens cirúrgicas tradicionais foi substituída, em grande parte, pela colecistectomia laparoscópica (remoção da vesícula biliar por meio de uma pequena incisão no umbigo). Em consequência, os riscos cirúrgicos diminuíram, juntamente com a duração da internação e o longo período de recuperação necessário após uma colecistectomia cirúrgica padrão. Em casos relativamente raros, pode ser necessário um procedimento cirúrgico padrão. Terapia nutricional e de suporte Cerca de 80% dos clientes com inflamação aguda da vesícula biliar obtêm uma remissão com repouso, soluções intravenosas, aspiração nasogástrica, analgesia e antibióticos. A não ser que ocorra deterioração da condição do cliente, a intervenção cirúrgica é adiada até a regressão dos sintomas agudos (em geral, dentro de poucos dias). Nessa ocasião, o cliente deve ser submetido a uma colecistectomia laparoscópica (Goldman e Schafer, 2012). A dieta logo após um episódio geralmente consiste em líquidos com baixo conteúdo de gordura. Pode incluir suplementos em pó ricos em proteína e carboidratos, misturados com leite desnatado. Quando tolerado, é possível acrescentar frutas cozidas, arroz ou tapioca, carnes magras, purê de batata, vegetais não formadores de gases, pão, café ou chá. O cliente deve evitar ovos, creme, carne de porco, alimentos fritos, queijo, molhos, vegetais formadores de gases e álcool. É importante lembrar ao cliente que os alimentos gordurosos podem induzir um episódio de colecistite. O manejo nutricional pode constituir a principal modalidade de terapia em clientes que tiveram apenas intolerância dietética a alimentos gordurosos e sintomas GI vagos (Dudek, 2010; Rakel e Rakel, 2011). Terapia farmacológica O ácido ursodesoxicólico (UDCA) e o ácido quenodesoxicólico (quenodiol ou CDCA) têm sido utilizados para dissolver pequenos cálculos biliares radiotransparentes, compostos principalmente de colesterol (Karch, 2012). O UDCA tem menos efeitos colaterais que o quenodiol e pode ser administrado em doses menores para obter o mesmo efeito. Atua ao inibir a síntese e a secreção de colesterol, dessaturando, assim, a bile. O tratamento com UDCA pode reduzir o tamanho dos cálculos existentes, dissolver os pequenos cálculos e evitar a formação de novos cálculos. São necessários 6 a 12 meses de terapia em muitos clientes para dissolver os cálculos, e é preciso monitorar o cliente quanto à ocorrência de recidiva dos sintomas ou ao aparecimento de efeitos colaterais (p. ex., sintomas GI, prurido, cefaleia) durante esse período. A dose efetiva de medicamento depende do peso corporal. Esse método de tratamento geralmente está indicado para clientes que recusam submeter-se a uma cirurgia ou para os quais a cirurgia está contraindicada (DiCiaula, Wang, Wang et al., 2010). Os clientes com sintomas frequentes e significativos, oclusão do ducto cístico ou cálculos pigmentares não são candidatos à terapia farmacológica. A colecistectomia laparoscópica ou aberta é mais apropriada para clientes sintomáticos com risco cirúrgico aceitável (DiCiaula et al., 2010). Manejo cirúrgico Realiza-se o tratamento cirúrgico da doença da vesícula biliar e cálculos biliares para aliviar os sintomas persistentes, remover a causa da cólica biliar e tratar a colecistite aguda. A cirurgia pode ser adiada até regressão dos sintomas do cliente, ou pode ser realizada como procedimento de emergência, quando exigida pela condição do cliente. Medidas pré-operatórias Radiografia de tórax, eletrocardiograma e provas de função hepática podem ser realizados, além das radiografias da vesícula biliar. Pode-se administrar vitamina K se o nível de protrombina estiver baixo. As necessidades nutricionais são consideradas e, se o estado nutricional estiver subótimo, pode ser necessário administrar glicose intravenosa com suplementos proteicos para ajudar na cicatrização da ferida e na prevenção da lesão hepática. As orientações ao cliente para a cirurgia de vesícula biliar assemelham-se àquelas para qualquer laparotomia ou laparoscopia abdominal superior. Antes da cirurgia, são fornecidas explicações e demonstrações sobre a mudança de posição e a respiração profunda. Por meio de exercícios de respiração profunda e mudança frequente de posição, é possível evitar pneumonia e atelectasia no período pós-operatório. O cliente deve ser informado de que os tubos de drenagem, assim como um tubo nasogástrico e aspiração, podem ser necessários durante o período pós-operatório imediato quando se realiza uma colecistectomia aberta. Colecistectomia laparoscópica A colecistectomia laparoscópica (Figura 50.5) constitui a abordagem padrão para o tratamento dos cálculos biliares sintomáticos. Nos EUA, cerca de 700.000 clientes necessitam de cirurgia a cada ano para a remoção da vesícula biliar, dos quais 80 a 90% são candidatos à colecistectomia laparoscópica (Feldman et al., 2010). Se houver suspeita de obstrução do ducto colédoco por um cálculo biliar, pode-se realizar uma CPRE com esfincterotomia para explorar o ducto antes da laparoscopia. Antes da realização do procedimento, o cliente é informado sobre a possível necessidade de um procedimento abdominal aberto, e administra-se uma anestesia geral. A colecistectomia laparoscópica é realizada por meio de uma pequena incisão ou punção feita na parede abdominal, no umbigo. A cavidade abdominal é insuflada com dióxido de carbono (pneumoperitônio) para ajudar na inserção do laparoscópio e na visualização das estruturas abdominais. O aparelho de fibra óptica é introduzido através da pequena incisão umbilical. Várias punções ou pequenas incisões https://jigsaw.vitalsource.com/books/978-85-277-2820-1/epub/OEBPS/Text/chapter50.html#ch50fig5 adicionais são feitas na parede abdominal para introduzir outros instrumentos cirúrgicos no campo operatório. Uma câmera acoplada ao laparoscópio possibilita ao cirurgião visualizar o campo intra-abdominal e o sistema biliar em um monitor de televisão. Após a dissecção do ducto cístico, o ducto colédoco pode ser visualizado por ultrassom ou colangiografia para avaliar a anatomia e identificar a presença de cálculos. A artéria cística é dissecada e clampeada. A vesícula biliar é separada do leito hepático e removida da cavidade abdominal após aspiração da bile e de pequenos cálculos. Pinças para cálculos também podem ser usadas para extrair ou esmagar os cálculos maiores. Com o procedimento laparoscópico, o cliente não apresenta o íleo paralítico que ocorre com a cirurgia abdominal aberta e tem menos dor abdominal no pós-operatório. Com frequência, o cliente recebe alta do hospital no mesmo dia da cirurgia ou dentro de 1 ou 2 dias, e retoma a sua plena atividade e trabalho dentro de 1 semana após o procedimento. A conversão para um procedimento cirúrgico abdominal tradicional pode ser necessária em 2,2% dos casos nos EUA e em 3,6 a 8,2% dos casos no mundo inteiro. A conversão para um procedimento aberto é necessária se houver inflamação na vesícula biliar ou ao seu redor, dificultando a dissecção segura da porta do fígado (Feldman et al., 2010). (A porta do fígado é a fissura do fígado onde entram a veia porta e a artéria hepática e a partir da qual saem os ductos hepáticos.) A triagem cuidadosa dos clientes e a identificação daqueles com baixo risco de complicações limitam a frequência de conversão para um procedimento abdominal aberto. No entanto, com o uso crescente dos procedimentos laparoscópicos, o número dessas conversões pode aumentar. A complicação mais grave após colecistectomia laparoscópica consiste em lesão do ducto biliar, que pode ser identificada e corrigida por ocasião do procedimento. Os clientes com vazamento de bile no pós-operatório podem não desenvolver sintomas por vários dias após o procedimento e, em alguns, pode transcorrer um período de tempo ainda mais prolongado antes que a lesão do ducto biliar fique aparente (McDonald, Burroughs, Feagan et al., 2010). O vazamento de bile pode resultar em acúmulos de líquido, que geralmente podem ser tratados pela colocação de stent endoscópico. A peritonite biliar, uma complicação rara, pode resultar em doença grave ou morte. Em razão da curta permanência no hospital com a colecistectomia laparoscópica não complicada, é importante orientar o cliente sobre o manejo da dor pós-operatória e a necessidade de relatar os sinais e sintomas de complicações intra-abdominais, incluindo perda de apetite, vômitos, dor, distensão abdominal e elevação da temperatura. Embora a recuperação da colecistectomia laparoscópica seja rápida, os clientes ficam sonolentos depois do procedimento. É necessário que o cliente receba assistência em casa durante as primeiras 24 a 48 h. Caso ocorra dor no ombro ou na área escapular direita (devido à migração do dióxido de carbono utilizado para insuflar a cavidade abdominal durante o procedimento), a enfermeira pode recomendar a aplicação de uma almofada térmica durante 15 a 20 min a cada hora. Figura 50.5 Na colecistectomia laparoscópica (A), o cirurgião faz quatro incisões pequenas (menos de 1,3 cm cada) no abdome e insere um laparoscópio com uma câmera em miniatura por incisão umbilical (B). A câmera mostra a vesícula biliar e os tecidos adjacentes em uma tela, o que possibilita ao cirurgião visualizar as partes do órgão para remoção. Colecistectomia Na colecistectomia, a vesícula biliar é removida através de uma incisão abdominal (em geral, subcostal direita) após a ligadura do ducto e da artéria cística. O procedimento é realizado para a colecistite aguda e crônica. Em alguns clientes, um dreno é colocado próximo ao leito da vesícula biliar e exteriorizado por punção, caso haja extravasamento de bile. O tipo de dreno é escolhido com base na preferência do médico. Um extravasamento pequeno deve se fechar espontaneamente em alguns dias, sendo o acúmulo de bile evitado com o dreno. Em geral, apenas uma pequena quantidade de líquido serossanguinolento drena nas primeiras 24 h após a cirurgia; depois disso, o dreno é removido. O dreno costuma ser mantido se houver exsudação excessiva ou extravasamento de bile. A inserção de um tubo T no ducto colédoco durante o procedimento aberto é, atualmente, incomum; é apenas utilizado em caso de complicação (i. e., cálculo retido no ducto colédoco). A lesão do ducto biliar representa uma complicação grave da colecistectomia; no entanto, ocorre menos frequentemente que na abordagem laparoscópica que substituiu, em grande parte, a colecistectomia cirúrgica tradicional. Minicolecistectomia A minicolecistectomia é um procedimento cirúrgico em que a vesícula biliar é removida através de uma pequena incisão abdominal, como o próprio nome sugere. Se houver necessidade, a incisão cirúrgica é ampliada para remover cálculos biliares maiores. Podem ser usados ou não drenos. O curto tempo de permanência no hospital foi identificado como importante vantagem desse tipo de procedimento (Goldman e Schafer, 2012). O procedimento é controverso, uma vez que limita a exposição a todas as estruturas biliares envolvidas. Coledocostomia A coledocostomia é reservada para o cliente com colecistite aguda, que pode estar demasiado doente para se submeter a um procedimento cirúrgico. Consiste na realização de uma incisão no ducto colédoco, geralmente para a remoção de cálculos. Após a extração dos cálculos, costuma ser inserido um tubo no ducto para drenagem da bile até a resolução do edema. Esse tubo é acoplado a um equipo de drenagem por gravidade; o cliente é monitorado rigorosamente, e uma colecistectomia laparoscópica é planejada para uma data futura, após a resolução da inflamação aguda. Colecistostomia cirúrgica A colecistostomia é realizada quando a condição do cliente impede uma cirurgia mais extensa, ou quando uma reação inflamatória aguda é grave. A vesícula biliar é cirurgicamente aberta, os cálculos e a bile ou a drenagem purulenta são removidos, e um tubo é fixado com uma sutura em bolsa de tabaco. O dreno é conectado a um sistema de drenagem para evitar o extravasamento de bile ao redor do dreno ou seu escape para a cavidade peritoneal. Após a recuperação do episódio agudo, o cliente pode retornar para colecistectomia laparoscópica subsequente. Apesar do risco mais baixo, a colecistostomia cirúrgica apresenta elevada taxa de mortalidade (relatada em até 10 a 30%) em decorrência do processo patológico subjacente (Barie, 2010; McKay, Abulfaraj e Lipschitz, 2012). Colecistostomia percutânea A colecistostomia percutânea tem sido utilizada no tratamento e no diagnóstico da colecistite aguda em clientes com alto risco para qualquer procedimento cirúrgico ou anestesia geral. Podem incluir clientes com sepse ou com insuficiência cardíaca, renal, pulmonar ou hepática grave. Sob anestesia local, uma agulha fina é introduzida pela parede abdominal e margem hepática dentro da vesícula biliar, sob orientação de ultrassonografia ou tomografia computadorizada (TC). A bile é aspirada para assegurar a colocação adequada da agulha, e um cateter é inserido na vesícula biliar para descomprimir a via biliar. Com esse procedimento, foi relatada a ocorrência de alívio quase imediato da dor, bem como resolução dos sinais e sintomas de sepse e colecistite. São administrados antibióticos antes, no decorrer e depois do procedimento. Considerações gerontológicas A intervenção cirúrgica para a doença da via biliar constitui o procedimento operatório mais comum realizado em indivíduos idosos. A saturação da bile com colesterol aumenta com a idade, devido à secreção hepática aumentada de colesterol e à diminuição na síntese de ácidos biliares. Ainda que a incidência de cálculos biliares aumente com a idade, o cliente idoso pode não exibir os sintomas típicos de febre, dor, calafrios e icterícia. Os sintomas de doença da via biliar no indivíduo idoso podem ser acompanhados ou precedidos daqueles do choque séptico, que consistem em oligúria, hipotensão, alterações do estado mental, taquicardia e taquipneia. Embora a cirurgia no indivíduo idoso represente um risco, em razão das doenças associadas preexistentes, a taxa de mortalidade em consequência de complicações graves da própria doença da via biliar também é elevada. O risco de morte e de complicações está aumentado no cliente idoso que se submete a uma cirurgia de emergência para a doença da via potencialmente fatal. Apesar da presença de doença crônica em muitos clientes idosos, a colecistectomia eletiva costuma ser bem tolerada e pode ser realizada com baixo risco, quando se efetua uma avaliação e quando são fornecidos cuidados apropriados antes, no decorrer e depois do procedimento cirúrgico. Devido a mudanças no reembolso das despesas para cuidados de saúde, houve diminuição no número de procedimentos cirúrgicos eletivos realizados, incluindo a colecistectomia. Em consequência, os clientes que necessitam do procedimento são examinados em estágios mais avançados da doença. Ao mesmo tempo, cada vez mais, os clientes submetidos à cirurgia têm mais de 60 anos de idade e podem apresentar colecistite aguda complicada. Devido ao risco mais elevado de complicações e à permanência mais curta no hospital, é essencial que os clientes idosos e sua família recebam informações específicas sobre os sinais e sintomas das complicações, bem como sobre as medidas para evitá-las. PROCESSO DE ENFERMAGEM O cliente que se submete à cirurgia para doença da vesícula biliar Avaliação O cliente que se submete a tratamento cirúrgico para a doença da vesícula biliar é frequentemente admitido no hospital ou na unidade de cirurgia na manhã do mesmo dia da intervenção. Os exames prévios são frequentemente concluídos 1 semana ou mais antes da admissão. Nessa ocasião, a enfermeira orienta o cliente sobre a necessidade de evitar o tabagismo, aumentar a recuperação pulmonar no pós-operatório e evitar as complicações respiratórias. Ressalta também a necessidade de evitar o ácido acetilsalicílico, medicamentos não esteroides e outros agentes (medicamentos de venda livre e fitoterápicos) capazes de alterar a coagulação e outros processos bioquímicos. A avaliação deve concentrar-se no estado respiratório do cliente. Se for planejada uma abordagem cirúrgica tradicional, a incisão abdominal alta necessária durante a cirurgia pode interferir na excursão respiratória completa. A enfermeira registra história de tabagismo, problemas respiratórios prévios, respirações superficiais, tosse persistente ou inefetiva e presença de sons respiratórios adventícios. O estado nutricional é avaliado com base na história nutricional e exame geral realizado por ocasião dos exames pré-internação. A enfermeira também faz uma revisão dos resultados laboratoriais previamente obtidos para obter informações sobre o estado nutricional do cliente. Diagnóstico Diagnósticos de enfermagem Com base nos dados de avaliação, os principais diagnósticos de enfermagem pós-operatórios podem incluir os seguintes: •Dor aguda e desconforto relacionados com a incisão cirúrgica •Troca de gases prejudicada relacionada com a incisão cirúrgica abdominal alta (quando se realiza colecistectomia cirúrgica tradicional) •Integridade da pele prejudicada relacionada com a drenagem biliar alterada após a intervenção cirúrgica (quando um tubo T foi inserido, devido a cálculos retidos no ducto colédoco, ou quando foi utilizado outro dispositivo de drenagem) •Nutrição desequilibrada: ingestão menor que as necessidades corporais, relacionada com a secreção inadequada de bile •Déficit de conhecimento sobre as atividades de autocuidado, relacionado com o cuidado da incisão, modificações alimentares (quando necessário), medicamentos e sinais ou sintomas que devem ser relatados (p. ex., febre, sangramento, vômitos). Problemas colaborativos/complicações potenciais As complicações potenciais podem incluir as seguintes: •Sangramento •Sintomas GI (que podem estar relacionados com extravasamento biliar ou com lesão do intestino). Planejamento e metas As metas para o cliente consistem em alívio da dor, ventilação adequada, integridade da pele e melhora da drenagem biliar, aporte nutricional ótimo, ausência de complicações e entendimento das rotinas de autocuidado. Intervenções de enfermagem Após a recuperação da anestesia, o cliente é colocado na posição de Fowler baixa. Podem ser administradas soluções intravenosas, e a aspiração nasogástrica (um tubo nasogástrico provavelmente foi inserido imediatamente antes da cirurgia para um procedimento não laparoscópico) pode ser instituída para aliviar a distensão abdominal. São administrados água e outros líquidos dentro de poucas horas após o procedimento laparoscópico. Uma dieta branda é iniciada após o retorno dos sons intestinais, que geralmente ocorre no dia seguinte quando se utiliza uma abordagem laparoscópica. Alívio da dor A localização da incisão subcostal na cirurgia de vesícula biliar não laparoscópica frequentemente faz com que o cliente evite mudar de posição e mover-se, imobilize o local afetado e faça respirações superficiais para evitar a dor. Como a expansão completa dos pulmões e o aumento gradual da atividade são necessários para evitar complicações pós-operatórias, a enfermeira administra agentes analgésicos, conforme prescrição, para aliviar a dor e ajudar o cliente a mudar de posição, tossir, respirar profundamente e deambular, quando indicado. O uso de um travesseiro ou de uma cinta sobre a incisão pode reduzir a dor durante essas manobras. Melhora do estado respiratório Os clientes que se submetem à cirurgia da via biliar estão particularmente propensos a complicações pulmonares, assim como todos os clientes com incisões abdominais superiores. Por conseguinte, a enfermeira supervisiona o cliente na realização de respirações profundas e tosse a cada hora, a fim de expandir totalmente os pulmões e evitar o desenvolvimento de atelectasia. O uso precoce e consistente da espirometria de incentivo também ajuda a melhorar a função respiratória. A deambulação precoce evita as complicações pulmonares, bem como outras complicações, como a tromboflebite. As complicações pulmonares têm mais tendência a ocorrer em clientes idosos, clientes obesos e naqueles com doença pulmonar preexistente. Manutenção da integridade da pele e promoção da drenagem biliar Nos clientes que se submetem a uma colecistostomia ou coledocostomia, o dreno precisa ser imediatamente conectado a um recipiente de drenagem. A enfermeira deve fixar o equipo aos curativos ou à roupa do cliente, com folga suficiente para que ele possa se movimentar sem deslocar ou dobrar o tubo. Como um sistema de drenagem permanece acoplado quando o cliente está deambulando, a bolsa de drenagem pode ser colocada no bolso de um roupão ou fixada de modo que fique abaixo da cintura ou no nível do ducto colédoco. Se for utilizado um dreno de Penrose, a enfermeira troca os curativos, quando necessário. Depois desses procedimentos cirúrgicos, o cliente é examinado quanto a indicações de infecção, extravasamento de bile na cavidade peritoneal e obstrução da drenagem biliar. Se a bile não estiver drenando de modo adequado, é provável que uma obstrução esteja causando o refluxo de bile no fígado e na corrente sanguínea. Devido à possível ocorrência de icterícia, a enfermeira deve observar a coloração das escleras. Além disso, ela deve observar e registrar a ocorrência de dor abdominal no quadrante superior direito, náuseas, vômitos, drenagem biliar ao redor de qualquer dreno, fezes com coloração de argila e alteração dos sinais vitais. A bile pode continuar drenando do trajeto de drenagem em quantidades consideráveis por algum tempo, exigindo trocas frequentes dos curativos externos e proteção da pele contra a irritação (a bile é corrosiva para a pele). Para evitar a perda total de bile, o médico pode querer que o dreno (tubo T) ou o recipiente de coleta sejam elevados acima do nível do abdome, de modo que a bile possa drenar externamente apenas se houver desenvolvimento de pressão no sistema ductal. A cada 24 h, a enfermeira mede a bile coletada e registra a sua quantidade, coloração e característica da drenagem. Depois de vários dias de drenagem, o tubo T pode ser clampeado por 1 h antes e depois de cada refeição, de modo que a bile seja liberada no duodeno para ajudar no processo de digestão (Ren, Zhang e Shang, 2008; Townsend et al., 2012). Dentro de 7 dias a 3 semanas, o dreno é removido (Chohan e Munden, 2008). O cliente que vai para casa com um dreno no local necessita de instruções e tranquilização sobre a função, bem como o cuidado do tubo T (Chohan e Munden, 2008). Em todos os clientes com drenagem biliar, a enfermeira (ou o cliente, se estiver em casa) observa diariamente a coloração das fezes. Amostras de urina e de fezes podem ser enviadas ao laboratório para exame de pigmentos biliares. Dessa maneira, é possível determinar se o pigmento biliar está desaparecendo do sangue e drenando novamente no duodeno. É importante manter um cuidadoso registro do balanço hídrico. Melhora do estado nutricional A enfermeira negocia com o cliente o consumo de uma dieta com baixo teor de gorduras e rica em carboidratos e proteínas imediatamente depois da cirurgia. Por ocasião da alta hospitalar, geralmente não há instruções nutricionais especiais, a não ser manter uma dieta saudável e evitar o consumo excessivo de gorduras. A restrição de gorduras costuma ser suspensa em 4 a 6 semanas, quando os ductos biliares se dilatam para acomodar o volume de bile anteriormente mantido pela vesícula biliar, e quando a ampola de Vater volta a funcionar de modo efetivo. Depois desse período, quando o cliente ingere gordura, uma quantidade adequada de bile é liberada no trato GI para emulsificar as gorduras e possibilitar a digestão. Isso contrasta com a condição observada antes da cirurgia, quando as gorduras não podiam ser digeridas por completo ou de modo adequado, podendo ocorrer flatulência. Uma das finalidades da cirurgia da vesícula biliar é possibilitar uma dieta normal. Monitoramento e manejo de complicações potenciais Pode ocorrer sangramento em consequência de punção ou lesão inadvertida de um vaso sanguíneo importante. No período pós-operatório, a enfermeira monitora rigorosamente os sinais vitais e inspeciona as incisões cirúrgicas e quaisquer drenos à procura de sangramento. Além disso, ela examina o cliente quanto à presença de aumento da hipersensibilidade e rigidez do abdome. Quando esses sinais e sintomas ocorrem, são relatados ao cirurgião. A enfermeira orienta o cliente e a sua família a relatar qualquer mudança na coloração das fezes, visto que essa alteração pode indicar complicações. Podem ocorrer sintomas GI, embora incomuns, com a manipulação do intestino durante a cirurgia. Após a colecistectomia laparoscópica, a enfermeira avalia o cliente quanto à ocorrência de anorexia, vômitos, dor, distensão abdominal e elevação da temperatura. Esses sintomas podem indicar infecção ou ruptura do trato GI e devem ser relatados imediatamente ao cirurgião. Como o cliente recebe alta logo depois da cirurgia laparoscópica, ele e a sua família são instruídos verbalmente e por escrito sobre a razão de relatar imediatamente a ocorrência desses sintomas. Promoção dos cuidados domiciliar e comunitário Orientação do cliente sobre autocuidados. A enfermeira orienta o cliente sobre os medicamentos prescritos (vitaminas, agentes anticolinérgicos e antiespasmódicos) e suas ações. Informa também o cliente e a família sobre os sintomas que devem ser relatados ao médico, incluindo icterícia, urina escura, fezes de coloração pálida, prurido e sinais de inflamação e infecção, como dor ou febre. Alguns clientes relatam uma a três evacuações por dia, devido ao gotejamento contínuo de bile através da junção coledocoduodenal depois da colecistectomia. Em geral, essa frequência diminui no decorrer de um período de algumas semanas a vários meses. Se o cliente receber alta do hospital ainda com um dreno no local, ele e sua família precisam receber treinamento sobre o seu manejo. A enfermeira demonstra sobre o cuidado apropriado do dreno e explica a razão de relatar imediatamente quaisquer alterações na quantidade ou nas características da drenagem. A supervisão na fixação dos curativos apropriados reduz a ansiedade do cliente sobre a sua volta ao lar com o dreno ou tubo ainda em posição. O Boxe 50.2 fornece mais detalhes. Cuidados contínuos. Com suporte suficiente em casa, a maioria dos clientes recupera-se rapidamente da colecistectomia. No entanto, os clientes idosos ou frágeis ou aqueles que vivem sozinhos em casa podem necessitar de encaminhamento para cuidado domiciliar. Durante as visitas domiciliares, a enfermeira avalia o estado físico do cliente, particularmente a cicatrização das feridas e o progresso para a recuperação. Além disso, é importante avaliar o cliente quanto à adequação do alívio da dor e dos exercícios respiratórios. Se o cliente tiver um sistema de drenagem em posição, a enfermeira o examina quanto à sua perviedade e manuseio apropriado pelo cliente e família. A avaliação dos sinais de infecção e a orientação do cliente sobre os sinais e sintomas de infecção também constituem intervenções de enfermagem importantes. O entendimento do esquema terapêutico (medicamentos, retorno gradual às atividades normais) pelo cliente é avaliado, e efetua-se um reforço do ensino prévio. A enfermeira ressalta a importância de manter as consultas de acompanhamento e lembra ao cliente e à família a razão de participar nas atividades de promoção da saúde e triagem de saúde recomendada. Boxe 50.2 ORIENTAÇÕES AO CLIENTE Manejo do autocuidado após colecistectomia laparoscópica Manejo da dor •Você pode sentir dor ou desconforto no ombro direito, devido ao gás utilizado para insuflar a área abdominal durante a cirurgia. Sentar-se ereto na cama ou em uma cadeira, caminhar ou usar uma almofada térmica são procedimentos que podem aliviar o desconforto •Tomar medicamentos analgésicos, quando necessário e conforme prescrição. Relatar ao cirurgião se não houver alívio da dor, mesmo com o uso de analgésico. Retorno às atividades •Começar imediatamente a realização de exercício leve (deambulação) •Tomar banho de chuveiro ou de banheira depois de 1 ou 2 dias •Dirigir carro depois de 3 ou 4 dias •Evitar levantar objetos com mais de 2,2 kg depois da cirurgia, geralmente por 1 semana •Reiniciar a atividade sexual, quando desejado. Cuidado da ferida •Verificar diariamente o local de punção à procura de sinais de infecção •Lavar o local de punção com sabão neutro e água •Deixar que esparadrapos especiais sobre o local de punção se desprendam. Não retirá-los. Reinício da alimentação •Retomar a dieta normal •Se você apresentava intolerância às gorduras antes da cirurgia, adicioná-las gradualmente à dieta em pequenos incrementos. Cuidado de acompanhamento •Marcar uma consulta com seu cirurgião para 7 a 10 dias após a alta •Telefonar para o cirurgião se tiver qualquer sinal ou sintoma de infecção no local de punção ou ao seu redor: rubor, hipersensibilidade, edema, calor ou drenagem •Telefonar para o cirurgião se tiver febre de 37,7°C ou mais por 2 dias consecutivos •Telefonar para o cirurgião se apresentar náuseas, vômitos ou dor abdominal. Reavaliação Os resultados esperados do cliente podem incluir os seguintes: 1.Relata diminuição da dor. a.Imobiliza a incisão abdominal para diminuir a dor. b.Evita alimentos que provocam dor. c.Utiliza a analgesia pós-operatória, conforme prescrição. 2.Mostra função respiratória apropriada. a.Consegue excursão respiração completa, com inspiração e expiração profundas. b.Tosse de maneira efetiva, usando um travesseiro para imobilizar a incisão abdominal. c.Utiliza analgesia pós-operatória, conforme prescrição. d.Realiza exercícios, conforme prescrição (p. ex., muda de posição, deambula). 3.Exibe integridade normal da pele ao redor do local de drenagem biliar (quando aplicável). a.Não apresenta febre nem dor abdominal; não tem nenhuma alteração dos sinais vitais nem presença de bile, drenagem de odor fétido ou pus ao redor do dreno. b.Demonstra o manejo correto do dreno (quando aplicável). c.Identifica os sinais e sintomas de obstrução biliar a serem observados e relatados. d.Apresenta níveis séricos de bilirrubina dentro da faixa de referência. https://jigsaw.vitalsource.com/books/978-85-277-2820-1/epub/OEBPS/Text/chapter50.html#ch50box2 4.Obtém alívio da intolerância nutricional. a.Mantém aporte nutricional adequado e evita os alimentos que provocam sintomas GI. b.Relata diminuição ou ausência de náuseas, vômitos, diarreia, flatulência e desconforto abdominal. 5.Ausência de complicações. a.Apresenta sinais vitais normais (pressão arterial, pulso, frequência e padrão respiratórios e temperatura). b.Relata ausência de sangramento do trato GI e do dreno ou cateter biliar (quando presente), sem qualquer sinal de sangramento nas fezes. c.Relata o retorno do apetite e a ausência de qualquer evidência de vômitos, distensão abdominal ou dor. d.Lista os sintomas que devem ser relatados imediatamente ao cirurgião, e demonstra entendimento sobre o autocuidado, incluindo o cuidado da ferida.
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