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Por Breno C. Vizzoni ANATOMIA, FLUXO E ISQUEMIA Orifem das coronárias é 0,7 a 1cm acima das cúspides da aorta e percorrem a superfície epicárdica, com cerca de 85% do fluxo coronariano sendo direcionado para a perfusão do VE. Coronária esquerda irriga a maior parte do VE, enquanto a direita irriga o VD e a região posterior e inferior do VE. Dominância direita Coronariografia: cateterismo de leito arterial para acessá-lo. Leito femoral é um dos pontos de acesso ao óstio coronariano, com uso de fio-guia. É o acesso mais antigo, sendo pouco utilizado hoje em dia. Leito radial de braço não dominante é, atualmente, o ponto de acesso de escolha. É mais superficial que artéria femoral e é mais fácil de ser acessada, com menores índices de complicações. Acessar coronária em cirurgias eletivas por leito femoral é iatrogênico, haja vista o índice elevado de complicações. Os cateteres são específicos para cada tipo de punção e região anatômica de escolha para ser acessada. FLUXO CORONARIANO Miocárdio Altamente dependente do metabolismo aeróbio, com baixa capacidade de armazenamento de energia e demanda de oxigênio variável. Balança de déficit e equilíbrio energético. Doença aterosclerótica diz respeito à redução da oferta de oxigênio, com obstrução fixa, estável ou dinâmica. Resistência Vasos de condutância: epicárdicas! Vasos pré-arteriolares: e arteríolas e microcirculação. distalmente aos vasos de condutância, sendo essas as artérias perfurantes, que penetram no miocárdio e irrigam o órgão. Os vasos de condutância somente conduzem o fluxo sanguíneo coronariano, já que é na microcirculação que apresenta necessidade de resistência para que haja a troca sanguínea. Esses vasos recebem o fluxo de alta pressão proveniente da aorta e em condições fisiológicas não exercem resistência ao fluxo. Transforma energia recebida na sístole em cinética de fluxo na diástole. Na presença de estenoses há aumento da resistência e redução do fluxo posterior. Vasos de condutância: R1 Arteríolas e microcirculação: R2 Compressão extravascular: R3 Janela ao fluxo coronariano Diferença entre pressão diastólica coronariana e ventricular. Vasos arteriolares Responsáveis 2/3 da resistência coronariana, sendo o principal local de modulação de fluxo sanguíneo. Autorregulação – controle miogênico A depender da tensão na parede dos vasos, há contração ou relaxamento da musculatura lisa dos vasos. Por que existe esse mecanismo? É necessário que a circulação distal seja sempre constante, evitando isquemia. Aumento da oferta quando há aumento do consumo! Lei de Poiseuille Cálculo do fluxo de qualquer vaso do corpo. O mecanismo de autorregulação corrige o fluxo intenso para que não haja sobrecarga vascular. Isso ocorre por meio da alteração da resistência distal, mantendo a constância do fluxo coronariano distal. RESERVA DE FLUXO CORONARIANO Fluxo de repouso Mantém-se uniforme com estenoses de até 70%. Quando maior que 70%, a circulação distal se encontra em hiperemia máxima. Essa hiperemia torna o vaso incapacitado de realizar a autorregulação. Situações de aumento de demanda causam o desbalanço da oferta e consumo, levando à isquemia. Função endotelial Vasoconstrição: endotelinas. Vasodilatação: NO, adenosina e prostaglandinas. Quando o paciente está em hiperemia máxima, essas substâncias endogenamente se encontram elevadas. O endotélio tem diversas funções, agindo em diversos cenários, diretamente ligadas à saúde cardiovascular. O bom funcionamento das células endoteliais, portanto, com boa saúde cardiovascular, está cada vez menos sujeito às alterações de modulação de fluxo coronariano. ATEROSCLEROSE Principal causa de morbimortalidade no mundo! Mais de 30% das mortes nos EUA são de causa aterosclerótica, e no Brasil é quase esse valor. Altamente relacionada com o envelhecimento populacional! É o estreitamento arterial relacionado a placas, com depósitos de materiais gordurosos em tecido subendotelial. Afeta as artérias de médio e grande porte, sendo o tipo mais comum. Arteriolosclerose Afeta camadas mais internas e intermediárias das paredes arteriolares! É o espessamento das paredes do vaso, evoluindo a estenoses. Frequentemente afeta os rins e está relacionada à hipertensão arterial ou diabetes. Arteriolosclerose de Möckenberg Etiologia Processo complexo, com múltiplos fatores levando a um determinante comum e disfunção endotelial. Sucessivas lesões endoteliais por diversos mecanismos: Estresse de cisalhamento Tensões físicas decorrentes de fluxo sanguíneo turbulento! Pontos de bifurcação e tortuosidade são os locais mais suscetíveis e comuns de cisalhamento, altamente relacionado a hipertensão arterial. Inflamação crônica Portadores de comorbidades de alto risco cardiovascular e estilo de vida. Anormalidades químicas na corrente sanguínea Hipercolesterolemia e diabetes mellitus. Infecções por algumas bactérias ou vírus Chlamydia pneumoniae ou CMV. Disfunção endotelial Estímulo à produção de molécilas de adesão recrutam e invaginam as células inflamatórias (monócitos). Há ligação dos monócitos no endotélio e células T, com migração dessas células ao espaço subendotelial e iniciação e perpetuação de resposta inflamatória vascular local. O monócito vai ser ativado a macrófago, que vão fazer a fagocitose de LDL e VLDL a partir da sua ligação e oxidação no endotélio. A partir do momento em que o macrófago fagocita essas moléculas, eles se tornam células espumosas. Estrias gordurosas. Liberação de citocinas pró-inflamatórias Há migração de células musculares lisas da camada média vascular para dentro da placa e camada subendotelial. Dentro do microambiente inflamatório, essas células se tornam aberrantes e aumentam o tamanho da placa. Após isso, pontos de necrose inflamatória ocorrem dentro da placa, seguidos de calcificação. Inflamação da placa aterosclerótica É o que determina a estabilidade da placa! Placa estável Se relaciona aos pacientes com controle adequado dos fatores de risco! Capa fibrótica espessa e quadro inflamatório reduzido. Apresenta maior resistência e estabilidade estrutural, com menor risco de romper ou de se desenvolver. Placa instável Se relaciona a mau controle dos fatores de risco! Capa fibrótica mais delgada, com alta inflamação e menor resistência. Possibilidade intrínseca de rompimento da placa e evolução a processo isquêmico agudo! Mais vulneráveis à erosão, fissura e ruptura espontânea! Evoluem a trombose, oclusão e IAM. Ruptura de placa leva à exposição do material subendotelial, agregação e ativação plaquetária, ativação da cascata de coagulação e trombose sobre a placa! O indivíduo pode não ter sintoma algum, mas pode agudizar o evento cardiovascular iminentemente. O trombo resultante pode organizar-se e ser incorporado dentro da placa, modificando seu formato e deflagrando o crescimento rápido, pode ocluir rapidamente o lúmen vascular e precipitar um evento isquêmico agudo, e pode provocar embolia. A placa pode ser preenchida por sangue, acarretando expansão e oclusão imediata da artéria Os conteúdos da placa (em vez de trombos) podem provocar embolia, ocluindo o vaso a jusante Placa coronariana estável Regridem, permanecem estáticas ou crescem lentamente ao longo de décadas até que provoquem estenose ou oclusão. A estabilidade da placa depende de múltiplos fatores, como: Composição (proporção relativa de lipídios, células inflamatórias, células musculares lisas, tecido conjuntivo e trombo). Estresse de parede (fadiga da capa) Tamanho e localização do núcleo e configuração da placa em relação ao fluxo sanguíneo Hemorragia in situ > Podetransformar placas estáveis em instáveis. Controle adequado de fatores de risco e consequente redução da inflamação sistêmica. DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA ESTÁVEL Angina estável Típica Dor ou desconforto retroesternal, em peso, aperto ou queimação, podendo irradiar ou não Desencadeada por esforços/stress Melhora com repouso/uso de nitrato Atípica 2 dos critérios acima Não cardíaca 1 ou nenhum critério acima Fatores confirmatórios da angina ser decorrente de DAC 1) Homem > 65 anos ou mulher > 55 anos 2) Doença cardiovascular conhecida 3) Crença, por parte do paciente, que a dor seja de origem cardíaca 4) A dor piora no exercício 5) A dor não se reproduz a palpação 2 ou menos: DAC descartada – 81% de especificidade 3 ou mais: DAC confirmada – 87% de sensibilidade A aterosclerose segue assintomática por décadas e tradicionalmente os sintomas surgem quando as placas estáveis reduzem o lúmen arterial em 70%. Abordagem inicial Probabilidade pré-teste Paciente 21 anos, sexo feminino, sem comorbidades, com dor torácica contínua em pontada após prática de atividade física extenuante → Probabilidade de DAC?? Paciente 73 anos, sexo masculino, portador de hipertensão arterial, dislipidemia e diabetes mellitus, com dor torácica típica há 3 meses, com piora progressiva → Probabilidade de DAC?? INVESTIGAÇÃO Pacientes com baixa probabilidade pré-teste de doença coronariana → Buscar outros diagnósticos Pacientes com doenças terminais, com baixa expectativa de vida ou que não desejam ser submetidos a tratamentos invasivos → Diagnóstico clínico Pacientes com alta probabilidade pré-teste, com sintomas refratários à terapia otimizada ou com angina típica em baixa carga de esforço → Estratégia invasiva > Cateterismo cardíaco Probabilidade pré-teste intermediária: 15-85% → Teste não invasivo AngioTC de coronárias → Melhor para DESCARTAR DAC → Baixa probabilidade de DAC → Sem diagnóstico prévio de DAC → Características clínicas associadas a boa qualidade de imagem Testes de isquemia → Melhor para CONFIRMAR DAC → Intermediária-alta probabilidade de DAC → DAC prévia conhecida Avaliam a discordância dos contrastes no repouso e no estresse. Falha de contraste no repouso e no estresse indica fibrose cardíaca. Falha de contraste apenas no estresse, mas com repouso normal, indica isquemia cardíaca. Ressonância nuclear magnética Método mais acurado para caracterizar o tecido miocárdico, padrão ouro em várias avaliações do coração. → Avaliação das funções ventriculares E e D (global e segmentar); → Avaliação de viabilidade miocárdica; → Detecção e caracterização do infarto agudo do miocárdio; → Diagnóstico topográfico e etiológico das cardiomiopatias não isquêmicas; Detecção e quantificação de fibrose miocárdica Detecção e quantificação de isquemia (RMN de estresse) Avaliação pericárdio e avaliação vascular Exame custo elevado Logística mais complexa → Local de instalação; → Dimensões do aparelho; → Custos de implantação e manutenção; → Pessoal especializado; Independe de “janela” para sua resolução e não utiliza contraste iônico. Vantagens Alta resolução Contraste não ionizante / não radioativo Menor dependência do operador 3D / Planos arbitrários Não-invasivo One-stop shop - único exame é possível avaliar com alta acurácia diagnóstica função ventricular, isquemia e viabilidade do miocárdio. Perfusão miocárdica: necessária injeção de contraste gadolíneo. Realce sugestivo de etiologia isquêmica respeita a progressão endoepicárdica em território coronariano. Cintilografia miocárdica Exame de perfusão para avaliação da isquemia. Radiação nuclear emitida pelas partículas do contraste absorvidas pelo tecido é captada em forma de imagens. Medicina nuclear x radiodiagnóstico Visualiza funcionalidade // visualiza anatomia. Modalidades de estresse e fisiologia de isquemia: físico e químico (dipiridamol/adenosina ou dobutamina). Pontua-se cada segmento miocárdico e se estima o grau de isquemia. Ecocardiograma com estresse Farmacológico (dobutamina ou dipiridamol) ou físico. Pesquisa de isquemia por alterações segmentares de contratilidade. Pesquisa de reserva miocárdica por viabilidade miocárdica. Pesquisa de comportamento dos gradientes e do ventrículo esquerdo nas valvopatias. É de baixo custo, não invasivo e de rápida execução. É examinador dependente, necessita de boa janela ecocardiográfica e avalia a isquemia e fase mais tardia. Teste ergométrico Baixo custo, amplamente disponível, com informações clínicas, hemodinâmicas, metabólicas, diagnósticas, prognósticas e arritmias. Simula situações de estresse miocárdico e apresenta grande quantidade de informações. Acurácia depende do examinador, da qualidade do exame e da prevalência da doença na população examinada. Protocolos, equipe treinada e equipamento validado melhoram os resultados. Avalia o fim da cascata isquêmica. Idealmente deve ser sempre realizado em associação a exames de imagem, com adequada capacidade de esforço e ECG interpretável. Testes isquêmicos com imagem RNM com estresse farmacológico: padrão ouro! Isquemia, morfologia, localização precisa dos defeitos, viabilidade > one stop shop. RNM, cintilografia e ecocardiograma de estresse: mesma acurácia para diagnóstico e avaliação de isquemia. Escolha depende de detalhes pontuais, como conhecimento local, experiência de cada teste, disponibilidade e custo. Aterosclerose: processo evolutivo de início juvenil praticamente fisiológico. Início dos sintomas decorre de décadas de acúmulo e formação aterosclerótica coronariana. O prognóstico é diretamente relacionado ao diagnóstico precoce da placa coronariana. Gráfico de gravidade prognóstica da precocidade da abordagem ao paciente coronariano. Quanto mais cedo, melhor. DOENÇA ESTÁVEL Isquemia: desbalanço entre oferta e consumo, por: Placa aterosclerótica com consequente redução luminal; Vasoespasmo coronariano; Disfunção microvascular; Cardiomiopatia isquêmica; redução da oferta de O2 ao miocárdio. Pacientes com angina estável e/ou equivalente Pacientes com diagnóstico recente de IC ou disfunção de VE Paciente com angina estável e suspeita de vasoespasmo ou doença microvascular Pacientes assintomáticos Investigação – Step 01 Anamnese Avaliar sintomas clássicos e equivalentes, além de fatores de risco para DAC, calcular o ERG Exame físico Normalmente sem alterações no exame físico, quando presentes, as alterações são decorrentes de manifestações secundárias à doença aterosclerótica. Sopro carotídeo, ITB, redução da amplitude de pulsos periféricos e sinais de AVC prévio. Angina estável Dor ou desconforto (equivalentes), em peso, aperto ou queimação, localizadas... Fatores confirmatórios de a angina ser decorrente de DAC Homem maior que 65 anos ou mulher maior que 55. Doença cardiovascular conhecida. Crença, por parte do paciente, que a dor seja de origem cardíaca. Dor que piora no exercício. Dor que não se reproduz à palpação. 2 fatores ou menos: DAC descartada. 3 fatores ou mais: DAC confirmada. Step 02 Avaliar qualidade de vida, expectativa de vida e escolha do paciente. Doenças terminais, pacientes acamados, prerrogativa religiosa. Prevenção quaternária: não maleficência. Step 03 ECG e RX de tórax ECOG de repouso Step 04 – importante! Probabilidade pré-teste Avaliação de que o indivíduo tem a doença que eu estou pesquisando! Padrão de probabilidade Probabilidade de ser doença coronariana aguda de acordo com a apresentação sintomática e idade dos pacientes. Pacientes com baixa probabilidade pré-teste de DAC: buscar outros diagnósticos. Pacientes com doençasterminais, com baixa expectativa de vida ou que não desejam ser submetidos a tratamentos invasivos: diagnóstico clínico. Pacientes com alta probabilidade pré-teste, com sintomas refratários à terapia otimizada ou com angina típica em baixa carga de esforço: estratégia invasiva → cateterismo cardíaco. Probabilidade pré-teste intermediária: 15 a 85%. Testes não invasivos! Prova anatômica: angioTC. Melhor para descartar DAC, baixa probabilidade de DAC e sem diagnóstico prévio de DAC. Características clínicas associadas a boa qualidade de imagem. Alergia ao contraste, insuficiência renal terminal, uso de metformina e gravidez são contraindicações para a angioTC. Testes de isquemia Melhor para confirmar a DAC, intermediária a alta probabilidade de DAC, com DAC prévia conhecida. Teste ergométrico, ecocardiograma de estresse, cintilografia miocárdica e RNM de estresse são exemplos de testes de isquemia. Avaliam a discordância dos contrastes no repouso e no estresse – formação de imagem. Falha de contraste no repouso e no estresse: fibrose. Falha de contraste somente no estresse, com repouso normal: isquemia. Testes isquêmicos não invasivos Estresse físico: exercício físico. Estresse farmacológico: medicamentos que ajam na fisiologia vascular. Testes isquêmicos de imagem Padrão-ouro: RNM com estresse farmacológico! Avalia isquemia, morfologia, localização precisa dos defeitos, viabilidade > one stop shop. RNM, cintilografia e ecocardiograma de estresse: apresentam a mesma acurácia para detecção de isquemia, mas a RNM é o padrão ouro, porque além da avaliação isquêmica, também apresenta as alterações estruturais. Ressonância nuclear magnética Perfusão miocárdica com injeção de gadolíneo, sendo absolutamente contraindicada em paciente com disfunção renal, já que causa nefroesclerose aguda. Também demonstra o acometimento fibrótico ou isquêmico miocárdico. Isquemia endoepicárdica: trajeto respeitado na isquemia! Cintilografia miocárdica Exame de perfusão para avaliação de isquemia, feita com radiação nuclear de radioisótopos, que serão absorvidos pelo tecido e emitir a radiação. A radiação é captada e com ela são formadas as imagens. Ecocardiograma de estresse Pesquisa de isquemia por alterações segmentares de contratilidade. Pesquisa de reserva miocárdica, avaliando sua viabilidade. Pesquisa de comportamento dos gradientes e do ventrículo nas valvopatias. Teste ergométrico