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Livro-Texto - Unidade II-instituição de direito

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INSTITUIÇÕES DE DIREITO
Unidade II
5 DIREITO CIVIL
O direito civil é um dos ramos do direito privado de maior importância, pois ele regula os direitos 
e as obrigações no âmbito da vida privada das pessoas, ou seja, as formas de aquisição de direitos e 
obrigações, incluindo os seus bens (patrimônios) e as demais relações participantes da sociedade.
A lei que trata do direito civil é a Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (BRASIL, 2002a), que institui o 
Código Civil. Esse código, por tratar dos mais variados assuntos, foi dividido em duas grandes partes, que 
tiveram subdivisões em livros específicos, de modo a facilitar o entendimento e o estudo das matérias afins. 
Sua divisão foi efetivada da seguinte forma: Parte Geral (Livro I – Das Pessoas; Livro II – Dos Bens; Livro III – Dos 
Fatos Jurídicos) e Parte Especial (Livro I – Do Direito das Obrigações; Livro II – Do Direito de Empresa; 
Livro III – Do Direito das Coisas; Livro IV – Do Direito de Família; e Livro V – Do Direito das Sucessões).
5.1 Noções introdutórias ao direito civil
O direito civil, tal qual o direito de empresa, comercial e outros ramos, está compreendido no direito 
privado. Mas nem sempre foi assim. O Código Civil de 1916 incorporou uma parte do que se conhecia 
por Código Comercial e que tratava do que hoje se conhece como direito de empresa. 
Outra questão legislativa importante foi a troca do nome da antiga Lei de Introdução ao Código Civil 
Brasileiro – Decreto-lei n. 4.657/1942 – para Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – conforme 
redação dada pela Lei n. 12.376/2010 –, que inovou seu teor também a reboque da constitucionalização do 
direito privado operada pela Constituição Federal de 1988. Note-se, de antemão, que a Lei de Introdução 
às Normas do Direito Brasileiro, justamente por versar sobre a matéria de teoria geral do direito, alcança 
a matéria de direito público, a exemplo de regra geral de convalidação de atos administrativos, muito 
notadamente do art. 20 ao art. 24 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, autêntico prisma 
de teoria geral do direito regente de matéria de direito público. 
Quer um exemplo do que era tratado na Lei de Introdução ao Código Civil e, ainda, compreender 
como a legislação acompanha a evolução social? Observe a figura a seguir:
- Estava dentro do Código Civil
- Servia como orientação para todos os ramos do direito
- Exemplo: vigência da lei
- Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até 
que outra a modifique ou revogue
- É uma lei autônoma
- Seve como orientação de teoria geral de direito 
- Exemplo: a LICC foi revogada (pela Lei n. 12.376/2010) 
e passou a se chamar LINDB
LINDB
LICC
Figura 17 – Lei de Introdução ao Código Civil x Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro 
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Unidade II
Repare que toda a evolução do direito civil possui uma característica comum, que são os valores 
fundamentais da sociedade. Grande parte desses conteúdos são tratados no direito civil, especialmente 
a personalidade, o patrimônio das pessoas, a forma como as pessoas fazem seus acordos no Brasil, entre 
outros. O nome do conjunto de valor perene é invariante axiológica. Disse o grande jurista Miguel Reale 
(1991), em conferência proferida no Rio de Janeiro, em 9 de julho de 1991, na instalação da VI Semana 
Internacional de Filosofia, promovida pela Sociedade Brasileira de Filósofos Católicos, que assim prestou 
homenagem ao autor no ensejo de seu octogésimo aniversário:
Não creio possa haver tema mais fascinante do que este das invariantes 
axiológicas, isto é, da existência ou não de valores fundamentais e fundantes 
que guiem os homens, ou lhes sirvam de referência, em sua faina cotidiana. 
Seriam como que estrelas valorativas determinantes ou esclarecedoras de 
cada vocação, desde a do sacerdote para o sagrado à do poeta para a beleza, 
desde a do empresário para a riqueza à do filósofo para a verdade, desde a 
do jurista para a justiça à do trabalhador para a produção e o útil-vital.
A magnitude do assunto suscita logo uma série de perguntas inquietantes: 
“serão tais valores primordiais inatos? Se não o forem, terão objetividade 
em si, mas como e quando a constituíram? Ou serão, ao contrário, meras 
aparências, simples idealizações subjetivas com que nos enganamos a nós 
mesmos, mascarando a nossa ignorância?”.
Vede que estão em jogo a natureza e o destino do homem, para sabermos 
se a sua vida tem um sentido, ou é mera folha solta e inerme, entregue aos 
surpreendentes e imprevistos avatares da História?
 Saiba mais
Quer saber mais sobre as variantes axiológicas? Acesse a íntegra do 
artigo no link a seguir: 
REALE, M. Invariantes axiológicas. Estudos Avançados, São Paulo, 
v. 5, n. 13, set./dez. 1991. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141991000300008&lng=pt&tlng=
pt. Acesso em: 20 jan. 2020.
A liberdade é um bem jurídico, um bem da vida, tutelado pelo direito como invariante axiológica 
consagrada pela Constituição Federal. A reboque da Constituição de 1988, o Código Civil de 2002 rege 
a autonomia privada, que diz respeito justamente ao manejo da liberdade pelos particulares, eis que 
capazes da prática de atos que impliquem assunção de direitos e obrigações. Dir-se-á mais de previsões 
gerais e abstratas previstas na norma (campo do obrigatório e proibido, não do facultativo), ao passo em 
que obrigação dir-se-á mais de posições (direitos e obrigações) assumidas por meio de ato ou contrato, 
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INSTITUIÇÕES DE DIREITO
justamente em razão do exercício da capacidade civil: o exercício da autonomia privada, que encontra 
limite ou contra freio em matéria de ordem pública ou matéria de ordem cogente. Isto é, matérias que 
não são livremente disponíveis pelo exercício da autonomia privada.
Note-se, ainda, que é muito caro ao direito brasileiro a codificação do direito civil, eis que o Brasil já 
experimentou em seu processo sócio-histórico a justaposição de ordens jurídicas. Basta recordarmos que 
a colonização brasileira foi realizada por meio do Padroado Régio: o clero, mais notadamente os jesuítas 
da Companhia de Cristo, geria a administração pública. A justaposição normativa se dava exatamente 
porque diversas normas vigoravam ao mesmo tempo, nesse caso, a Igreja e o Estado. 
Abundam arquivos na Torre do Tombo, em Portugal, que demonstram que a Ordem de Cristo contou 
com o poder de senhorio, dotado de jurisdição cível e criminal, com poder de mero império (potestade: 
poder de castigar e de usar força, mesmo violência, reserva de poder coercitivo legitimado) e poder 
de misto império (poder de exercer jurisdição, exercer atividade judicante, distribuição de justiça) 
(NORONHA, 2008).
Somem-se a esse contexto outros fatores, como a incidência de ordenações portuguesas com as 
derrogações em matéria de silvícolas da terra, isto é, derrogação da norma geral para com os índios, sob 
incidência de equidade como mecanismo de integração da norma sem que houvesse hipótese de lacuna 
legislativa, mas em razão da pessoa, o índio.
Para reforçar a importância de percebermos quão cara é para o direito brasileiro a codificação escrita 
de um Código Civil, ponderemos o processo sócio-histórico do direito brasileiro. 
De início, uma brevíssima notícia histórica: antes da experiência do direito luso-brasileiro com 
os indígenas e a respectiva derrogação da norma geral escrita por equidade, e mesmo o costume 
(mecanismos de integração da norma), e sem que houvesse hipótese de lacuna legislativa, Portugal já 
havia experimentado o assentamento e o convívio com povos então ditos bárbaros, até porque Roma 
sucumbiu aos bárbaros. De modo que, em Portugal, matéria do chamado direito das gentes – pauta mais 
estudada em direito constitucional e muito cara à matéria de soberania popular, que muito importa aos 
usos e costumes que também são fontes de direito, ao lado da norma escrita decorrente de processo 
legislativo – importava derrogação de ordenação portuguesa pelosusos e costumes dos povos bárbaros. 
Quem se recorda do livro Eurico, o presbítero, de Alexandre Herculano, pode já ter reparado nas notas do 
autor a respeito do direito visigodo ou direito visigótico, de importância capital na formação do direito 
português, que, ademais, convivia, com a justaposição do direito canônico. 
As Ordenações Filipinas vigeram por mais de três séculos no Brasil, e esse modelo de corpo legislativo 
que remonta a Portugal do século XVII perpassou ao Código Civil de 1916. Foi essa experiência histórica 
que determinou a inspiração do Código Civil de 1916 (GOMES, 2006). Tudo ao passo em que as 
Ordenações Filipinas já surgiram como forma de atualização do direito português anterior, construído 
nas Ordenações Manuelinas “constituindo, verdadeiramente, uma presença da Idade Média nos tempos 
modernos” (GOMES, 2006, p. 4). Essa permanência histórica de figuras jurídicas que perpassaria até 
o Código Civil de 1916 remontaria, ademais, aos comentários e interpretações (glosas) do direito 
romano, em especial aos entendimentos de Accursio, Bártolo e demais jurisconsultos medievais que 
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Unidade II
interpretavam e comentavam o direito romano (GOMES, 2006). Acerca do liame entre as Ordenações 
Filipinas que substituíram as Ordenações Manuelinas:
As Ordenações Filipinas foram elaboradas em cumprimento ao Alvará de 
5 de junho de 1595 pelo qual Felipe II de Espanha mandou rever, reformar e 
codificar toda a legislação portuguesa. [...]. O método e a sistematização das 
matérias é o das Ordenações manuelinas. Representam, porém, uma reação 
contra o direito canônico, na opinião do mesmo Cândido Mendes, apoiada 
por Martins Junior (GOMES, 2006, p. 4).
É que o direito implica justamente uma continuidade, permanência, consagração na experiência 
sócio-histórica, de modo que há uma permanência relativa das figuras jurídicas. “O direito, 
indiscutivelmente, inova, apresenta elementos de renovação permanente, mas conserva, sempre, um 
fulcro de tradição” (REALE, 1991, p. 61). Tanto que, mesmo a chamada Lei da Boa Razão, Lei de 18 de 
agosto de 1769, determinava que eventuais lacunas nas Ordenações deveriam ser integradas conforme 
opinião de jurisconsultos de acordo “com as verdades essenciais, intrínsecas, inalteráveis que a ética 
dos romanos havia estabelecido” (GOMES, 2006, p. 5), conquanto Pontes de Miranda entendesse 
que a Lei da Boa Razão impediria de invocar entendimento de glosadores medievais a respeito do 
direito romano nos julgamentos. Da parte final do preâmbulo ao título 64 do livro 3º das Ordenações 
Filipinas havia previsão de que a aplicação da norma, inclusive em hipótese de ausência de previsão legal 
(lacuna), deveria procurar respeitar as glosas de Accursio e de Bártolo, com menção expressa de que as 
glosas de Accursio já estariam, inclusive, incorporadas ao texto das ordenações (GOMES, 2006).
O direito romano era fonte subsidiária (supletiva) de direito prevista nas Ordenações do Reino, 
ao passo que a Lei da Boa Razão, Lei de 18 de agosto de 1769, ressalvou que preceitos do direito 
romano não seriam aplicados quando se fundassem em costumes particulares dos romanos, que, 
pois, colidissem com usos e costumes nacionais, assim como não seriam aplicados quando colidissem 
com matérias políticas, econômicas, mercantis e marítimas (BEVILÁQUA, 1976). Por isso, a Lei de 28 
de agosto de 1772 (Estatutos da Universidade de Coimbra) ofereceu o elemento de elucidação na 
regra seguinte: “São conformes à boa razão as leis romanas aceitas pelo uso moderno” (BEVILÁQUA, 
1976, p. 40). Isso fez com que o jurista português, assim como o jurista brasileiro, estudasse direito 
estrangeiro para aferir a boa razão das leis romanas. Da vigência das Ordenações Filipinas até a 
vigência do primeiro Código Civil brasileiro (1917), o direito romano era fonte subsidiária (supletiva) 
de direito de matérias não expressamente reguladas em legislação. Mesmo na contemporaneidade, 
o direito romano mantém seu valor doutrinário para elucidar questões, abalizar a perquirição do 
fundamento justo, assimilar e constituir princípios de direito, elementos que compõem a formação 
da consciência jurídica (BEVILÁQUA, 1976).
 Observação
Fontes supletivas são usadas quando as fontes originárias não satisfazem 
a necessidade diante do fato concreto.
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INSTITUIÇÕES DE DIREITO
As Ordenações Filipinas vigoraram no Brasil mesmo após a Proclamação da Independência (de 1822), 
ao passo que a Constituição de 25 de março de 1824 previu no art. 179, inciso XVIII, que se organizasse 
um Código Civil brasileiro (GOMES, 2006).
A legislação civil da República remonta à experiência histórica das Ordenações Filipinas:
Interessante insistir na observação de que as Ordenações compiladas para o 
reino de Portugal tiveram vida mais longa e influência mais decisiva no Brasil. 
Em 1867, Portugal organizou o seu Código Civil, à base do projeto elaborado 
pelo Visconde Seabra. [...]. Essa tradição foi mais respeitada no Brasil, não 
havendo exagero na proposição de que o Código Civil brasileiro constitui, em 
pleno século XX, uma expressão muito mais fiel da tradição jurídica lusitana 
do que a que pode representar o próprio Código Civil português promulgado 
cerca de cinquenta anos antes (GOMES, 2006, p. 9-10).
Ordenações, em sentido geral, significam ordens, decisões ou normas jurídicas avulsas, ou, ainda, 
as coleções de legislações dentro da história do direito português. Elas são muito importantes para 
o nosso estudo em razão de o Brasil ter sido colonizado por Portugal. O costume era que a coroa, no 
caso, Portugal, impusesse suas legislações para as colônias, exatamente como ocorreu no Brasil. Desse 
modo, até que o Brasil se tornasse um Estado soberano e viesse a elaborar a sua própria legislação, as 
ordenações portuguesas vigoraram aqui.
Ordenações 
Filipinas (1604)
Ordenações 
Manuelinas (1521)
Ordenações 
Afonsinas (1447)
Figura 18 – Ordenações que vigeram no Brasil Colônia
Retomada para fins de coesão e de conclusão: precisamos perceber quão caro é para o direito 
brasileiro a codificação escrita de um Código Civil para que haja segurança e estabilidade no exercício 
da liberdade.
 Observação
O direito versa sobre a cultura e as crenças dos povos, que percebem 
qual o mínimo ético exigível para viabilizar uma salutar sociabilidade. Todo 
tráfego de bens da vida pressupõe tráfego social.
Mesmo discernindo o direito das esferas da norma moral, da norma religiosa e de normas de etiqueta 
social, o direito resguarda o mínimo ético existencial para viabilizar a pacificação social: o direito como 
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Unidade II
justiça. Se é verdade que o direito natural foi superado pelo direito positivo – positivo significa o posto, 
o previamente estipulado, no sentido de legislado por escrito –, o direito se assenta sobre os Princípios 
Gerais do Direito – matéria de Teoria Geral do Direito –, muitos dos quais consagrados em adágios latinos 
– enunciados em latim –, por exemplo, os tria praecepta iuris (três princípios ou preceitos romanos). 
Veja a seguir:
•	 Honeste vivere: viver honestamente. Diz respeito à toda pauta de vontade manifestamente 
declarada pelo sujeito. Importa a todo ato e contrato. Este princípio diz respeito ao uso ou ao 
manejo da liberdade, da autonomia privada. Toda conduta pressupõe um sujeito.
•	 Alterum non laedere: não lesar ninguém. Tradicionalmente, diz respeito à reciprocidade e à 
proporcionalidade, princípios da paridade, como indenizar dano passível de ser revertido ao estado 
anterior, tornar indene, retornar ao status quo ante ou compensar, caso o dano seja irreversível 
(dano ambiental incidente sobre recursos naturais não renováveis como recursos minerais que 
se exaurem sem que a natureza os reponha ou reproduza) ou não passível de mensuração da 
extensão do dano em equivalente diretamente mensurável em pecúnia (a exemplo de indenização 
por danos morais, em princípio, não demonstráveis porque presumíveis em decorrência do injusto 
de um ilícito, como danomoral in re ipsa, que pode prescindir de prova de sofrimento ou de abalo 
psíquico, desde que presentes os requisitos configuradores exigidos pela jurisprudência, hipótese 
na qual indenização é sinônimo de compensação).
•	 Suum cuique tribuere: dar a cada qual o que lhe é devido na justa medida de sua igualdade 
ou de sua desigualdade. Eis que o direito sequer opera o princípio da causalidade, como outras 
ciências, porque o direito opera o princípio da imputação: dado A, então deve ser B campo do 
dever ser, já que o direito tem por objeto a cultura, a regulação ou pacificação do convívio 
social, isto é, o direito tem por objeto a norma, que é dado da cultura, e não da biologia 
ou das matemáticas. Este princípio também fundamenta matéria de responsabilidade civil, de 
indenização, de proporcionalidade, de tudo, enfim, que diga respeito a indenizar ou compensar, 
bem como toda pauta de abuso de direito. Toda essa pauta remonta ao exercício da autonomia 
particular, o uso que o sujeito faz de sua liberdade por meio de atos e contratos, vínculos e 
relações jurídicas.
 Observação
Re, res e rei, grosso modo, trata-se de deriva morfossintática do latim res, 
que pode ser compreendido como “coisa”. É importante um discernimento 
preliminar: em filosofia do direito, coisa é tudo que existe, seja corpóreo ou 
incorpóreo, material ou imaterial, manifesto ou imanifesto, com exceção 
do ser humano. 
A figura a seguir mostra a estrutura de primeiro nível do Código Civil brasileiro.
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INSTITUIÇÕES DE DIREITO
Parte Geral
Livro I
Das Pessoas
Pessoas 
naturais ou 
físicas são os 
seres humanos. 
Para o Direito, 
todos os seres 
humanos 
são capazes 
de gozar 
de direitos 
e contrair 
obrigações na 
esfera privada
Livro I
Do Direito das 
Obrigações
Regem as 
relações 
jurídicas que 
têm por objeto 
as prestações 
de uma pessoa 
(devedora) em 
favor de uma 
outra (credora)
Livro II
Dos Bens
Trata dos 
valores 
materiais e 
imateriais e 
recebem a 
denominação 
de Bens. São 
geralmente 
os objetos 
das relações 
jurídicas. 
Podem ser 
fungíveis e 
infungíveis, 
divisíveis, 
consumíveis e 
inconsumíveis, 
ainda 
singulares e 
coletivos
Livro II
Do Direito de 
Empresas
Código Civil 
brasileiro
Disciplina 
as relações 
comerciais 
e estabelece 
os direitos e 
obrigações das 
empresas e dos 
empresários
Livro IV
Do Direito de 
Família
Estabelece as 
normas jurídicas 
que estruturam, 
organizam 
e protegem 
as famílias. 
Portanto, trata 
das obrigações 
e dos direitos 
que decorrem 
das relações 
e do convívio 
familiar
Parte Final ou Das 
Disposições Finais e 
Transitórias
Livro III
Dos Fatos 
Jurídicos
Trata dos 
acontecimentos 
naturais ou 
humanos que 
são passíveis de 
gerar efeitos/
consequências 
no plano 
jurídico
Livro III
Do Direito das 
Coisas
Regula a 
relação de 
poder das 
pessoas sobre 
os bens, bem 
como as 
formas de sua 
utilização
Parte 
Especial
Livro V
Do Direito das 
Sucessões
Reúne o 
conjunto 
de normas 
jurídicas 
que regem 
as formas e 
condições de 
transferência 
patrimonial 
após a sua 
morte, para os 
seus herdeiros, 
em função 
da lei ou de 
eventual 
testamento
Figura 19 – Estrutura geral do Código Civil brasileiro
Observa-se que o Código Civil brasileiro está dividido em três grandes partes. Estudaremos do que 
trata cada parte, para você ter a visão completa da estrutura e o escopo desse diploma legal, cujos 
preceitos regulam as relações sociais que merecem proteção jurídica:
•	 Parte Geral: a sociedade é formada por pessoas (cidadãos), portanto, é razoável que o Código 
Civil estabeleça os conceitos e os princípios em torno da definição de pessoas para o mundo 
jurídico. Também é feita a classificação dos bens e dos acontecimentos que surgem naturalmente 
no âmbito da sociedade em consequência do convívio social necessário e inevitável. Esta parte se 
subdivide em três livros, que tratam: Das Pessoas (naturais e jurídicas); Dos Bens (quanto as suas 
classificações); e Dos Fatos Jurídicos (negócios jurídicos, atos jurídicos lícitos e ilícitos e da prova).
•	 Parte Especial: formada por cinco livros, que se subdividem em títulos e capítulos, tratando 
do seguinte:
— Do Direito das Obrigações: aborda os direitos e as obrigações no que se refere as suas 
modalidades, transmissão, quitação e extinção, inadimplemento, contratos de forma geral, 
as espécies de contratos, os atos unilaterais, os títulos de crédito, a responsabilidade civil e as 
preferências e os privilégios creditórios.
— Do Direito de Empresa: trata dos aspectos legais relacionados com o empresário, a sociedade, 
o estabelecimento e os institutos das coisas.
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Unidade II
— Do Direito das Coisas: acentua os institutos relacionados com a posse, os direitos reais, a 
propriedade, a superfície, as servidões, o usufruto, o uso, a habitação, o direito do promitente 
comprador, o penhor, a hipoteca e a anticrese.
— Do Direito de Família: trata da proteção dos institutos ligados à constituição e à proteção 
da família, incluindo direito pessoal, direito patrimonial, união estável, tutela e curatela. Parte 
muito importante para a vida em sociedade.
— Do Direito das Sucessões: inclui sucessões em geral, sucessão legítima, sucessão testamentária, 
inventário e partilha.
•	 Parte Final ou Das Disposições Finais Transitórias: regula as várias questões genéricas de 
aplicação do Código Civil, bem como vários pontos importantes para a boa transição do antigo 
código (que vigeu até 11 de janeiro de 2003) para esse novo.
 Saiba mais
Leia o artigo a seguir, do professor Miguel Reale, expoente da codificação 
do Código Civil de 2002, bem como de todo o direito, sobretudo o pátrio.
REALE, M. Função social do contrato. [s.d.]. Disponível em: http://www.
miguelreale.com.br/artigos/funsoccont.htm. Acesso em: 20 jan. 2020.
Com base no exposto, foi possível entender a importância, a abrangência e a complexidade do direito 
civil para o regramento da vida em sociedade, cujos princípios, institutos e regras estão consolidados no 
Código Civil brasileiro. A seguir, serão estudados alguns conceitos essenciais para consolidar esse ramo 
do direito.
5.2 Da validade dos atos jurídicos
Negócio jurídico é uma relação jurídica que decorre da manifestação de vontade negocial das partes. 
Para ser considerado existente, válido e eficaz, ele segue os degraus da chamada escada ou escala 
ponteana. Para Tartuce (2011, p. 25), negócio jurídico é:
Toda ação humana de autonomia privada, com a qual os particulares regulam 
por si os próprios interesses, havendo uma composição de vontades, cujo 
conteúdo deve ser lícito. Constituiu um ato destinado à produção de efeitos 
jurídicos desejados pelos envolvidos e tutelados pela norma jurídica.
Todos os negócios jurídicos objetivam o tráfego de bens materiais e imateriais da vida, susceptíveis 
ou não de mensuração econômica (no que se refere a pessoas, coisas e ações) e pressupõem então atos 
negociais e ou contratos, porque o epicentro da matéria é o vínculo jurídico. Vínculo, aqui, negocial, 
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INSTITUIÇÕES DE DIREITO
de tráfego de bens da vida, o liame, nexo entre sujeitos de direitos e de obrigações coobrigados por 
vínculo negocial. Em razão da natureza ou qualidade do vínculo, tem-se a qualidade do sujeito, isto é, 
sua posição e sua situação jurídica. 
Um exemplo de negócio jurídico de simples compreensão é a compra e venda. De um lado, temos 
o comprador, que aceita ou não o preço que está estabelecido pela outra parte, que é o vendedor. O 
comprador deve entregar o dinheiro ajustado ao vendedor, e este deve entregar ao comprador o bem 
objeto da transação. Parece muito simples, mas pode ocorrer uma série de problemas nesse trâmite, 
como o produto não ser exatamente o que o comprador queria ou o dinheiro entregue ser falso.
Assim é que negócio jurídico é espécie do gênero relação jurídica, que pressupõe situações jurídicas 
que variam entre dois polos: coincidentes e não coincidentes. Explica-se que mútua e recíprocasempre 
será uma relação negocial entre sujeitos, mas se o interesse não for plenamente coincidente, além de 
mútuo e recíproco, ao outro sujeito da mesma relação jurídica incumbirá não uma prestação coincidente, 
mas uma contraprestação – pauta do caráter sinalagmático das contraprestações onerosas, cujo anverso 
é o vínculo de natureza gratuita ou graciosa, isto é, de caráter não oneroso, a exemplo de convênios que 
se distinguem dos contratos justamente pela ausência de sinalagma.
 Observação
Sinalagma significa troca mútua. É o vínculo de reciprocidade e troca 
em um contrato entre duas partes. No contrato sinalagmático, há uma 
relação de prestação e contraprestação, subsumida na expressão latina do 
ut des (dou para que dês).
Para que os negócios irradiem efeitos oponíveis visados pela vontade manifestada (interesse), são 
necessários três requisitos, ou planos, demonstrados na figura a seguir, que expõe a chamada escada ou 
escala ponteana.
EficáciaValidade
Planos do 
negócio jurídico
Existência
Figura 20 – Escada ponteana
Você já pensou que a prática de atos jurídicos pode não partir de uma pessoa natural? Pois é o 
que acontece nas sociedades coligadas, uma matéria de interesse de conglomerados transnacionais. 
92
Unidade II
O Código Civil permite que a vontade que anima os atos praticados por uma sociedade coligada 
seja a vontade manifestada não apenas por uma ou mais pessoas naturais, na qualidade de 
representante (ainda que essa pessoa seja integrante de um órgão diretivo colegiado, mas também 
por órgão de sociedade coligada, como o Conselho Fiscal), de modo que o representante legal que 
anima a vontade que pratica os atos no interesse da sociedade não seja necessariamente uma 
pessoa física ou natural.
As pesquisas são feitas junto ao respectivo registro público dos atos constitutivos de cada 
pessoa jurídica e das sociedades empresárias, vez que são os atos constitutivos – contrato social, 
para as sociedades empresárias – que estatuem e que detêm poderes diretivos para animar a 
vontade dos atos praticados no interesse da sociedade, tudo em torno da figura do representante 
legal, que nunca se deve tomar por sinônimo de proprietário nem de sócio. Daí a importância de 
toda matéria de registros públicos para segurança jurídica e estabilidade da paz social, sobre a qual 
se sedimenta a sociabilidade humana e todo tráfego social de bens da vida, no que se incluem os 
vínculos negociais.
O plano da existência jurídica compreende três aspectos que devem existir: os agentes, o objeto da 
transação e que o negócio pretendido não contrarie a lei.
O segundo plano, que é o da validade, aprofunda o plano da existência. Esse plano determina que 
o negócio, para valer perante o ordenamento jurídico, deve ter agentes capazes de realizar o ato. Além 
disso, o objeto da transação deve ser lícito, possível, determinado ou determinável; a forma deve ser 
aquela que a legislação determina ou aquela que a lei não proíbe e a vontade deve ser livre, consciente 
e voluntária.
O último plano da escala ponteana é o da eficácia, ou seja, questões acidentais que representam: 
a condição, que pode ser resolutiva (encerrar o negócio) ou suspensiva (suspender o negócio e seus 
efeitos por algum tempo); o termo, que é um evento futuro e certo, subdividindo-se em inicial e final; e 
o encargo, que traz um ônus que pode ser posto ao beneficiado por um ato gratuito.
Você pode estar se perguntando: o que acontece se um negócio jurídico não se revestir de todas 
essas formalidades? A resposta é: depende de qual requisito foi desrespeitado, podendo esse ser ato 
nulo, que não vigora nunca, e ato anulável. Os atos anuláveis podem decorrer da incapacidade relativa 
do agente ou por erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores, ao passo que os 
atos nulos são aqueles que foram celebrados por agente absolutamente incapaz, quando o objeto for 
ilícito, não estiver revestido da forma que a lei determinar, ou a lei proibir expressamente a sua prática.
5.3 Responsabilidade civil e ato ilícito
Duque (2007) aponta que o direito das obrigações é a principal fonte do direito contratual, ao passo 
que, no direito, fonte deve ser entendida como qualquer forma de explicar a origem ou causa dos 
institutos, de modo que, para as obrigações, fonte compreende toda maneira da qual emana a norma, 
para além da norma escrita, que sempre se coteja com as demais fontes de direito, como jurisprudência, 
doutrina e princípios gerais do direito.
93
INSTITUIÇÕES DE DIREITO
O Código Civil brasileiro reconhece três fontes de obrigações: o contrato, o 
ato ilícito e as declarações de vontade. A doutrina, entretanto, classifica as 
fontes de acordo com critérios mais abrangentes. Pressupõem, nesse sentido, 
a fonte sempre imediata (direta) da lei, seguida de outras fontes mediatas 
(indiretas), como o contrato e o ato ilícito. Convém ressaltar que não é 
matéria deste estudo investigar cada uma das fontes obrigacionais, mas 
apenas demonstrar o direito contratual a partir da liberdade de contratar 
(livre-iniciativa) (DUQUE, 2007, p. 103).
Recordemos, então, que a responsabilidade civil não tem por requisito a ilicitude da conduta – 
comissiva ou omissiva –, porque mais importa o conteúdo ou o fundo antijurídico da conduta, que pode, por 
exemplo, configurar abuso de exercício de direito sem que necessariamente se tenha ilicitude da conduta. 
A título de mais exemplo, a violação de dever de cuidado, bem como a violação do princípio da 
confiança – ambas se comunicam com o abuso de direito ou abuso de exercício de direito – podem 
ensejar responsabilidade civil – responsabilização cível – sem que a conduta seja em princípio ilícita. Não 
ser ilícita, significa, aqui, por exemplo, a conduta não estar previamente proibida por meio de norma 
típica, respeitado o princípio da legalidade. 
A responsabilidade civil não exige ilicitude da conduta como requisito (pauta do princípio da 
legalidade), ao passo que reclama antijuridicidade (recordemos, por exemplo, o princípio do neminen 
laedere) da conduta e imputabilidade do sujeito ou agente. Imputabilidade, em geral, diz respeito tanto 
ao elemento subjetivo, dolo ou culpa, exigíveis em certas hipóteses, quanto à qualidade do agente ou 
sujeito, ainda que não importe o elemento subjetivo.
Um exemplo é a sociedade empresária que deve compensar dano ambiental irreversível, 
independentemente de dolo ou culpa, para além da responsabilização penal ou criminal da própria 
pessoa jurídica, independentemente de dolo ou culpa, elemento subjetivo, nesse mesmo exemplo do 
dano ambiental. 
O meio ambiente é um bem da vida, um bem jurídico tão caro à ordem constitucional que serve 
muito bem à finalidade, inclusive didática, de se discernir limites do exercício da autonomia privada e 
limites do exercício da liberdade, cujos freios são normas cogentes. Veja-se o exemplo do inciso XXIII 
do art. 21 da Constituição Federal, que assim dispõe: “d) a responsabilidade civil por danos nucleares 
independe da existência de culpa”. Agora, observe a seguir a diferença entre dolo e culpa:
No dolo
ou conduta dolosa existe uma vontade livre e consciente do agente 
em provocar o resultado. O agente tem intenção de prejudicar 
direito de outrem. Assim, a conduta nasce ilícita e é intencional.
Na culpa
existe vontade de praticar o ato (tanto que o faz), mas não há intenção 
de provocar o resultado maléfico e prejudicial, ou seja, quer a conduta, 
mas não o resultado que dela decorre. Assim, a conduta nasce lícita e o 
resultado dela não se deseja ou se espera.
Figura 21
94
Unidade II
A responsabilidade civil do inciso XXIII, art. 21 da Constituição Federal de 1988, é um exemplo de 
hipótese de responsabilidade civil que se perfaria pela antijuridicidade, mais de um resultado do que 
propriamente uma conduta; tanto que essa norma visa contornar justamente a perquirição de tópicas 
como criação de situação de risco e dever de controle, ao mesmo tempo que passa ao largodo elemento 
subjetivo (despreza até mesmo a culpa, que já prescindiria do elemento de vontade deliberada de obter 
vantagem indevida ou desatender comando normativo, como em casos nos quais se exige demonstração 
cabal de dolo para configuração de responsabilidade). 
É possível discernir ilícito de antijurídico da seguinte forma: ilícita, em princípio, é a conduta que 
avilta norma (campo do proibido e do obrigatório), em razão do princípio da legalidade; já antijurídica 
é a conduta injusta, ainda que, em princípio, não ilícita, a exemplo do abuso de direito (que inclui ato 
chicaneiro e emulativo) e do abuso de confiança (o que enseja ponderação de principiologia que inclui, 
por exemplo, princípio da proporcionalidade, princípio de paridade de armas, princípio de vedação do 
excesso, entre outros).
Veja-se a norma principiológica do art. 927 do Código Civil (BRASIL, 2002a):
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, 
fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente 
de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os 
direitos de outrem.
Podemos observar que a norma principiológica do art. 927 do Código Civil atravessa desde a tópica 
da assunção de risco (mais própria da seara da culpa) até a teoria da responsabilização objetiva, para 
a qual um resultado material antijurídico prescinda de perquirição de elemento subjetivo da autoria 
(de modo que o antijurídico poderia se configurar, ainda que ausente o elemento do injusto, e sem 
que viesse à baila a ponderação da causa sine qua non ante conduta omissiva que não implique causa 
suficiente do resultado antijurídico), apenas porque lesivo de interesse tutelado.
 Observação
Sine qua non ou conditio sine qua non é uma expressão latina, traduzida 
como “sem a/o qual não pode ser”. Refere-se a uma ação cuja condição ou 
ingrediente é indispensável e essencial.
A norma do inciso XXIII do art. 21 da Constituição Federal determina que haverá a responsabilização 
por dano ambiental, independentemente de haver culpa. É o que se chama de responsabilidade objetiva. 
As excludentes de ilicitude, como o caso fortuito e de força maior, não se aplicam a esse caso porque o 
resultado (dano ambiental) é finalístico.
95
INSTITUIÇÕES DE DIREITO
Conforme o art. 393 do Código Civil, o devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso 
fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Talvez você esteja 
curioso para saber no que consiste o caso fortuito ou a força maior. O parágrafo único do supracitado 
artigo define que o caso fortuito ou de força maior é aquele que se verifica no fato necessário, cujos 
efeitos não é possível evitar ou impedir.
Um exemplo claro dessa responsabilização é o caso do shopping center que foi obrigado a indenizar 
clientes atingidos pelo desabamento do teto do estabelecimento. Em primeira e segunda instâncias, o 
pedido de indenização foi negado sob o argumento de que o desabamento ocorreu por força maior ou 
caso fortuito – fortes chuvas e ventos que atingiram São Paulo naquele dia. Acontece que, em terceira 
instância, a ministra relatora do recurso especial, Nancy Andrighi, afirmou que a ocorrência de chuvas, 
mesmo fortes, está dentro da margem de previsibilidade em uma cidade como São Paulo. Assim, a 
cliente teve a sua indenização garantida.
Sobre a responsabilidade dos agentes públicos, há algo um tanto diferente do que se atua em direito 
privado. Pode-se chegar ao disparate de se desprezar mesmo a figura jurídica dos efeitos residuais do 
nulo, na sanha de se extremar toda motivação e fundamentação, para se forjar responsabilização objetiva 
a pretexto de se lavar os traumas nacionais da inoperância estatal, sem que, de pouco ou de nada, se 
passe de uma estipulação de bode expiatório, cujo expurgo purificaria o restante da coletividade – como 
se assim se atendesse o binômio eficácia-eficiência de qualquer forma de controle ou de distribuição 
de justiça social. Esse tipo de injustiça, em geral, parece gravitar em torno do desprezo à norma do 
parágrafo 6º do art. 37 da Constituição Federal, que prevê responsabilidade objetiva do Estado frente ao 
particular, sem que haja estatuição de responsabilidade objetiva em face do servidor público, mesmo o 
superior hierárquico que responde pelo exercício da ascendência hierárquica.
Veja-se a referida norma do parágrafo 6º do art. 37 da Constituição Federal:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes 
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos 
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência 
e, também, ao seguinte: 
[...].
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras 
de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa 
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o 
responsável nos casos de dolo ou culpa (BRASIL, 1988).
Há de se ter muita cautela, prudência e parcimônia com tudo que possa aparentar responsabilidade 
objetiva de servidor público, que inexiste, ademais pretensamente fundada em lesividade presumida, 
que, via de regra, é requisito de procedibilidade, isto é, de admissibilidade de ação coletiva cível 
desprovida de demonstração cabal do dano – que incumbiria, então, à instrução probatória e jamais 
a algum malabarismo retórico em torno de lesividade presumida a pretexto de salvaguarda de 
96
Unidade II
erário público e menos ainda de indenização de direito da personalidade de ente público por lesão à 
moralidade administrativa.
Contemporaneamente, não se admite vigência do adágio in claris cessat interpretatio, que assim 
poderia ser vertido ao nosso idioma: em matérias ou textos claros, descabe perquirir sentido e alcance. 
Lembre-se que toda decisão judicial implica criação de uma norma concreta, exercício do poder de 
império que o ordenamento jurídico confere à tutela jurisdicional, incidente sobre as partes daquele 
processo judicial: boa, simples e suficiente razão pela qual toda e qualquer norma sempre reclama 
estipulação de seu sentido e alcance pelo intérprete (matéria de Hermenêutica). Portanto, cabe à 
população conhecer seus direitos, reclamar por eles e fazer com que os agentes públicos atendam 
a todas as necessidades sociais.
5.3.1 Conceito e requisitos da responsabilidade civil
Responsabilidade é o significado de uma obrigação que alguém tem de assumir com as consequências 
jurídicas de sua ação, ou seja, a pessoa possui uma causa que enseja um dever jurídico que lhe sucede. 
Vejamos um exemplo simples: uma visita leva para sua casa uma criança, e a criança quebra um 
determinado adorno. A visita sabe que a ação cometida pela criança de quebrar o adorno vai ensejar 
(além de um óbvio pedido de desculpas) uma reparação no sentido de substituir o bem quebrado. 
Assim, para o direito, responsabilidade é uma obrigação derivada – dever jurídico sucessivo – 
de assumir as consequências jurídicas de um fato. A responsabilidade civil é a obrigação que pode 
determinar que uma pessoa repare o prejuízo causado a outra, por uma ação ou omissão dela, ou por 
fato de pessoas ou coisas que dela dependam.
No exemplo dado no parágrafo anterior, há uma obrigação moral contraída pela visita cuja criança 
quebrou o adorno, mas não jurídica. É o mesmo que se diz das condutas religiosas morais, cujas 
penitências para reparar o dano podem, por exemplo, consistir em jejum, oferendas ou rezas. Note-se 
que não há uma coercitividade institucionalizada dentro da norma moral que exija da pessoa jejuar, 
ofertar ou rezar. 
Existe um ponto comum entre a responsabilidade civil (objeto deste estudo) e a responsabilidade 
penal ou criminal. Ambas decorrem de um fato juridicamente qualificado como ilícito ou não desejado 
pelo direito, posto que, ao serpraticado, ofende a ordem jurídica. A responsabilidade civil diz respeito ao 
dever daquele que comete ato ilícito de indenizar quem sofre o dano, sendo que o Código Civil procura 
determinar em que condições uma pessoa pode ser considerada responsável pelo dano sofrido por outra 
pessoa e em que medida está obrigada a repará-lo. A reparação do dano é feita por meio de indenização, 
que é, em regra, pecuniária, ou seja, em dinheiro. O dano pode ser à integridade física, aos sentimentos 
ou aos bens de uma pessoa.
Como a responsabilidade civil decorre de uma agressão, dolosa ou culposa, a um bem juridicamente 
tutelado, ela sujeita o infrator ao pagamento de uma contraprestação, caso o agente não consiga 
retornar ao status quo ante (estado anterior das coisas). Mas, para a responsabilidade ficar caracterizada, 
é necessário que existam os seguintes elementos: 
97
INSTITUIÇÕES DE DIREITO
•	 Conduta: pode ser positiva ou negativa, ou seja, fazer ou deixar de fazer algo.
•	 Dano: significa a lesão ao bem jurídico tutelado.
•	 Nexo de causalidade: é a relação entre a conduta do agente e o resultado danoso.
Existem dois tipos de responsabilidade civil: a contratual e a extracontratual (também chamada de 
responsabilidade aquiliana).
A responsabilidade contratual decorre do inadimplemento da obrigação prevista no contrato, ou 
seja, houve a violação da norma contratual fixada pelas partes. Sua disposição legal está nos art. 389 
até o 395 do Código Civil. Uma vez celebrado o contrato, as partes tornam-se responsáveis pelo seu 
adimplemento, ou seja, por cumprir aquilo que combinaram. A relação jurídica decorre do contrato 
obrigacional existente. 
Já a responsabilidade aquiliana ou extracontratual decorre da violação direta de uma norma legal, 
regulamentada nos artigos 186 a 188 e 927 e seguintes do Código Civil. Esse tipo de obrigação deriva 
da desatenção de algum direito preexistente do ofendido, sem que exista qualquer vínculo. Um exemplo 
é um acidente entre veículos automotores.
No entanto, existem outras formas de classificar a responsabilidade civil que não acerca da 
contratualidade ou extracontratualidade. Trata-se de observar a culpa do agente, o que será visto no 
item a seguir.
5.3.2 Responsabilidade objetiva e subjetiva
A responsabilidade civil também pode ser classificada no tocante ao sujeito, por meio de sua conduta 
ao analisar a culpa. Assim, responsabilidade civil subjetiva é aquela em que existe a necessidade de 
se demonstrar a culpa da pessoa, que atingiu o resultado lesivo ou por ter agido com negligência, 
imprudência ou imperícia. A responsabilidade subjetiva decorre, portanto, do dano causado em função 
de ato doloso ou culposo. Vejamos a seguir a diferença entre as três situações: 
•	 Negligência: é a falta de cuidado necessário.
•	 Imprudência: o agente assume um risco desnecessário.
•	 Imperícia: é a ausência de habilidade técnica daquele que pratica o ato, mas que em tese deveria ter.
A noção básica da responsabilidade civil subjetiva é o princípio segundo o qual cada um responde 
pela própria culpa. Desse modo, é necessário que o autor da ação judicial comprove a culpa do réu. 
Em outras palavras, o ônus da prova incumbe a quem o alegar.
Responsabilidade civil objetiva é uma espécie de responsabilidade na qual a ação dolosa ou culposa 
é irrelevante juridicamente. Apenas é necessário comprovar o nexo de causalidade entre o dano e a 
98
Unidade II
conduta do agente para que surja o dever de indenizar. O Código Civil estabelece a responsabilidade 
civil objetiva do transportador caso haja dano com a carga transportada, pouco importando se o 
transportador foi cuidadoso ou desleixado no transporte.
Talvez você esteja se perguntando se existe alguma hipótese de a responsabilidade civil objetiva não 
ser considerada. A resposta é positiva. Para afastar a responsabilidade civil objetiva, é necessário que o 
agente demonstre que a lesão é consequência de caso fortuito ou força maior, de culpa exclusiva da 
vítima ou culpa exclusiva de um terceiro. Fora isso, será responsável.
5.3.3 Responsabilidade civil e penal
A responsabilidade pode ser cível e penal, alternativa ou cumulativamente, isto é, a configuração de 
uma não exclui a outra, bem como não implica necessariamente a outra. Grosso modo, a responsabilidade 
civil implica ilícito civil e responsabilização por meio de procedimento civil, cujo modelo paradigmático 
de processualidade pátria é o Código de Processo Civil. Assim, a pessoa pode ser retaliada em razão de 
uma conduta reprovável tanto na esfera civil quanto na esfera penal.
Exemplificando essa diferença, podemos ter um único evento do qual irradiam diferentes efeitos 
jurídicos. Suponha que você tenha presenciado um atropelamento de um motociclista. A primeira coisa 
que se verificará é se existem ou não vítimas, para acudir o direito à vida. Depois, a extensão do dano 
material. Nesse caso, é importante salientar que podem existir dois processos diferentes: um de natureza 
penal, que vai confirmar ou afastar a intenção do agente no atropelamento, caso haja vítima; e outro 
de natureza civil, para apurar quanto é devido.
Ilícito penal, contravenção penal e infração penal são espécies do gênero delito. Ilícitos penais puníveis 
como crimes estão estatuídos no Código Penal e em normas penais esparsas, legislação penal especial. 
O processo penal é uma espécie do gênero processo sancionador, e o paradigma modelo de processo 
sancionador pátrio é o Código de Processo Penal, cuja principiologia rege todo processo sancionador, 
mesmo em âmbito administrativo sancionador.
A responsabilidade penal diz mais respeito ao dever violado, uma vez que pressupõe violação de 
norma cogente de ordem pública, para além de normas privadas dispositivas fundadas na autonomia da 
vontade privada. O prisma iuris é sempre o exercício da liberdade e da capacidade de se autodeterminar. 
Em torno do elemento subjetivo em direito sancionador, perquire-se juízo de autorreprovabilidade da 
conduta e freios inibitórios, para além de motivação e presença de intenção deliberadamente consciente 
de prejudicar ou de alcançar resultado proibido: vasto campo da autoria do ilícito, que se perquire no 
cotejo da materialidade delitiva – o resultado lesivo concreto, a materialidade. Em outras palavras, é 
necessário que a pessoa conheça o delito e deseje praticá-lo, mesmo quando sua moral o determinar 
em sentido contrário. É por isso que existe a diferença entre dolo e culpa.
5.3.4 Reparação do dano
A responsabilidade pode ser cível, criminal e administrativa. Uma não exclui outra, tampouco uma 
acarreta necessariamente outra. Um ilícito (ou conduta) pode perfazer, alternativa ou cumulativamente, 
99
INSTITUIÇÕES DE DIREITO
mais de uma categoria de ilícito; por exemplo, uma conduta ilícita que acarrete condenação penal do 
autor do ilícito, cumulada com responsabilização cível de se indenizar a vítima.
A reparabilidade pode ser consensual, voluntária (como a mediação e a conciliação) ou litigiosa. É 
litigiosa se obtida por meio de ação judicial ou de arbitragem. A tônica recai no direito potestativo, que 
diz respeito à faculdade de o interessado exigir a observância compulsória de seu direito lesado: se a 
providência é pleiteada em procedimento litigioso, tem-se a lide, isto é, pretensão resistida. Ou seja, um 
interessado invoca a tutela jurisdicional (ou por meio de procedimento de arbitragem) para que o poder 
judiciário diga qual o direito aplicável. 
Tem-se, assim, na relação processual: o polo ativo (parte autora), que exerce direito de ação em 
razão de seu direito potestativo de invocar a tutela jurisdicional ante um direito material lesado; e o 
polo passivo, ao qual é oportunizada a ciência do processo para que possa exercer seu direito de se opor 
à pretensão do autor da ação. É por isso que o processo implica pretensão resistida. O autor pretende 
a tutela e, portanto, pede procedência de seu mérito, e o réu, oportunizada a ciência, contesta parase 
opor à pretensão do autor.
A ideia de responsabilidade penal é que o agente infringe norma penal de direito público – o interesse 
lesado é da sociedade como um todo, na reponsabilidade civil; o interesse diretamente lesado é de 
cunho privado. Aí o interessado pode ou não pleitear uma reparação desse dano. 
O importante é que a responsabilização penal é pessoal e intransferível, podendo responder o réu, 
inclusive com sua liberdade, e ela não passa da pessoa do condenado maior de 18 anos.
Dano material e dano moral
Grosso modo, dano material é aquele que não apresenta muita dificuldade na mensuração de 
sua extensão e, portanto, na sua liquidação ou solução em pecúnia, para que se obtenha o retorno 
ao status quo ante (tornar indene, reverter ao estado anterior, que pressupõe mensurabilidade do 
equivalente em pecúnia).
O dano moral diz respeito ao campo do imaterial e, mais notadamente, aos direitos da personalidade. 
Por não ter índole material, tanto sua reversibilidade quanto a mensurabilidade de sua extensão para 
arbitramento de seu equivalente em pecúnia (estipulação do quantum indenizatório) são mais delicadas: 
exatamente por não importar a discussão sobre reversibilidade, diz-se compensar mais do que se diz 
indenizar. Tal qual o dano ambiental irreversível que se compensa, a lesão a direito da personalidade, a 
exemplo de dor ou abalo psicológico, se compensa. A dor, o sofrimento e o abalo psicológico podem ser 
presumidos (dano in re ipsa) em razão da natureza do abalo e sempre mediante perquirição do elemento 
antijurídico ou injusto de uma conduta ilícita ou abusiva.
O dano moral pode se dar in re ipsa, isto é, independentemente de comprovação ou demonstração 
de dor, sofrimento ou abalo psicológico, o que implica matéria de dever de informação suficiente, 
ou seja, clara e transparente, em matéria de tráfego de bens da vida, mais notadamente em matéria 
de direito do consumidor. Contudo, exige-se demonstração do liame ou nexo causal, bem como da 
100
Unidade II
antijuridicidade da conduta comissiva ou omissiva. Há situações concretas que ensejam ponderação de 
pletora de singularidades do caso concreto (por exemplo, a figura do dano estético indenizável).
5.4 Contratos
Destaca-se no Código Civil de 2002, como eixo teleológico (fundamento mais finalidade), o seu 
art. 421, segundo o qual “a liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função 
social do contrato”, a reboque da Constituição Federal de 1988, firme na soberania popular e, pois, na 
liberdade individual, liberdade civil. O Poder Constituinte assentou nos incisos XXII e XXIII do art. 5º da 
Constituição Federal que o “direito de propriedade atenderá a sua função social” (haja vista o art. 3º que 
rege a própria Constituição Federal em razão da soberania popular).
São importantes as lições de Dromi (2007) para aclarar a relação entre o direito contratual e a 
natureza humana. De um ponto de vista filosófico, todos os direitos fundamentais preexistem. Antes de 
ser proprietários, somos um ser humano; antes de ter direito à indústria e ao comércio, temos direito à 
vida e à não discriminação. A vida é a liberdade respeitada (DROMI, 2007).
O assentamento das avenças em um plano transindividual não implicaria diminuição de garantia 
para os contratantes porque não se aviltaria o princípio de que o pactuado – ou contraído; contrair-se 
direitos e obrigações, atributo que adere ao respectivo sujeito contratual; posição, situação, vínculo, 
próprios do liame contratual – deve ser adimplido, tanto que o adágio romano pacta sunt servanda 
permanece como princípio geral do direito primaz em direito das obrigações e, pois, em matéria de 
obrigações contratuais.
Tanto é assim que o art. 422 do Código Civil diz que “os contratantes são obrigados a guardar, assim 
na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé” (BRASIL, 2002a).
Probidade é uma das categorias morais dos romanos, tal qual o decoro, a honestidade, entre outras. 
O vocábulo “probidade” abrange todo o campo semântico do agir honesto e legítimo, isto é, da boa-fé, 
que envolve o agir legítimo e conforme a respectiva vontade manifestamente declarada, até porque 
a essência ou substância do ato prevalece sobre a forma. Recorde-se que a bona fides não é atributo 
do sujeito do enunciado nem da enunciação (há muito já se foram os tempos das Ordálias, nas quais o 
critério de verdade esteve atrelado ao valor social do sujeito que declarava ou jurava), ao passo que a 
bona fides se perquire no cotejo da proporcional correspondência entre a vontade manifesta e o bem da 
vida ou prestação almejados, na medida em que é vedado o abuso de direito. 
Em direito público, o cotejo da motivação, finalidade e fundamentação do ato pode implicar desvio 
de objeto, de finalidade ou de poder, porque perquirida a bona fides, mediante exame judicial do mérito 
administrativo, ainda que discricionário; por exemplo, a figura da lesividade presumida da lei da ação 
popular, que é norma autorizativa de procedibilidade, isto é, de admissibilidade e processamento, de 
ação judicial ante lesividade presumida que importa perquirição de justo motivo de ato ou contrato 
administrativo. Vê-se, pois, que o direito sempre opera de modo lógico-sistêmico porque visa estabilizar 
a pacificação social, premissa de todo e qualquer tráfego de bens da vida.
101
INSTITUIÇÕES DE DIREITO
Recordemos que a propriedade privada foi cara aos ideais humanistas da soberania popular 
justamente porque o povo reclamou sua soberania contra a usurpação da soberania popular pelo 
soberano absolutista, que, até então, se entendia ou se pretendia soberano. O soberano era o titular de 
toda a terra, de todo o território da nação, e escolhia, entre a nobreza, quem receberia a concessão para 
explorar aquela terra. 
É importante lembrar que o servo era servo da gleba e não propriamente servo do senhor feudal. Por 
isso, não se poderia angariar a titularidade nem da terra, bem de raiz, nem sequer do excedente produtivo, 
que era angariado, tal qual tributo, inclusive não apenas em pecúnia, mas também em gêneros in natura, 
para se sustentar a cavalaria, que era a força militar mantida pela nobreza para proteger contra invasões 
e saques os principados e, mais propriamente, proteger a soberania do monarca. Trata-se da afirmação 
da soberania popular atrelada à afirmação da prevalência do valor social do trabalho, inclusive como 
fundamento de mobilidade social (o status de cidadão definia a situação do sujeito, e não o estamento 
social ao qual pertencesse), em razão da igualdade e da isonomia. A cidadania é indissociável das 
categorias liberdade e igualdade. A isonomia impõe equiparação e justiça social para que a liberdade 
garanta a igualdade e assim se perfaça a cidadania: daí a soberania popular.
O imperativo da função social do contrato veda condutas ou posições abusivas, que impliquem lesão 
ou risco de lesão ao ordenamento jurídico, haja vista o art. 187 do Código Civil: “também comete ato 
ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim 
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes” (BRASIL, 2002a).
O contrato e seu adimplemento devem atentar-se tão somente aos interesses das partes que os 
estipulam, porque a existência do contrato pressupõe (porque é da finalidade do contrato e, pois, 
fundamento de existência do contrato) sua função social inerente ao poder negocial para tráfego de 
bens da vida e, portanto, toda assunção de vínculos e posições para os sujeitos contratuais.
Assim é que, como fonte de direito constitucionalizada do direito privado, o parágrafo 4º do art. 173 
da Constituição Federal de 1988 não admite negócio jurídico que implique abuso do poder econômico 
que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.
Quando se extrapolam, por exemplo, os usos e costumes da praça (usos e costumes são fontes do 
direito,além de mecanismo integrador da norma, sobretudo em matéria de direito negocial, pauta do tráfego 
de bens da vida) negocial ou do normal e proporcional objetivo das avenças, o poder judiciário não se 
restringe à apreciação dos alegados direitos dos contratantes porque coteja tanto os valores sociais em 
jogo quanto a proporcional correspondência à vontade manifestamente declarada.
 Observação
Vontade é elemento subjetivo, e interesse é elemento objetivo. Então, 
a vontade manifestamente declarada perfaz o interesse objetivo; subjetiva 
é a posição do sujeito, e objetivo é o seu interesse versado por meio da 
vontade manifestamente declarada.
102
Unidade II
Todo contrato pressupõe sua causação, o que atravessa desde a vontade formativa anterior até o 
próprio contrato, bem como a vontade manifestamente declarada, e é, pois, o prisma do adimplemento 
(a exemplo da figura do adimplemento substancial e de efeito residual do nulo indenizável, que prescinde 
de convalidação porque opera conversão do ato, tal qual a conversão da remuneração em indenização 
mediante adimplemento ou lesão, prejuízo) por parte de particular sujeito de contratação nula com o 
poder público. A vedação de enriquecimento sem causa (princípio geral de direito, também conhecido 
como vedação do enriquecimento ilícito) prevalece sobre qualquer pauta de risco e de prevalência de 
interesse público, uma vez que o mínimo ético exigível do interesse público primário prevalece sobre 
todo interesse público secundário, compreendido como interesse de meio (em geral pecuniário), e não 
de fim, da administração pública.
A sociabilidade, caráter humano precípuo, fundadora do próprio Estado, impõe a prevalência da 
boa-fé para que a pacificação social permita livre tráfego de bens da vida por meio do direito negocial e 
contratual, bem como do direito obrigacional: daí o sentido e alcance da segurança jurídica que modaliza 
o princípio geral, segundo o qual as avenças devem ser cumpridas, pacta sunt servanda, justamente 
para que a causação que atravessa a vontade formadora do vínculo negocial – que define a situação 
jurídica do sujeito contratual – se perquire ao lúmen da função social do contrato e, assim, dos usos e 
costumes da praça, bem como à luz do cotejo da situação pessoal do sujeito contratante, respeitando-se 
a equidade, a proporcionalidade, a paridade de armas, a vedação do excesso, entre outros princípios 
gerais do direito. 
Guarde-se esta lição: a função social do contrato não amesquinha nem colide com as livres avenças, 
nem com o exercício da autonomia privada, mas antes lhes assegura efetiva validade e eficácia, até 
porque o princípio do pacta sunt servanda não desatende a prevalência da essência do ato sobre a forma 
e, pois, a perquirição da proporcionalidade no cotejo da finalidade (tudo pauta, sempre, da boa-fé). 
A função social do contrato é a garantidora de que os contratos serão cumpridos ou adimplidos. Não 
é antinômica à segurança jurídica; é, pelo contrário, sua fonte de eficácia-eficiência (capacidade ou 
potência de produção de efeito).
5.4.1 Garantias contratuais
As garantias contratuais têm por lastro o vínculo jurídico negocial contratual (art. 104 do Código 
Civil de 2002), cujo adimplemento obrigado pela vontade manifestamente declarada deve cotejar o 
art. 412 do Código Civil, vértice de equidade (justamente para tutela dessa principiologia, o direito 
admite a revisão contratual com base, por exemplo, na teoria da base objetiva, entre outras). Por não ser 
absoluta a liberdade de contratar, o próprio lastro de garantias deve observar a preservação da relação 
de equivalências.
Destacam-se os direitos reais de garantia: hipoteca, penhor e anticrese. Esses direitos podem lastrear 
averbação de ônus real em sede de registro público, que obsta livre disposição de bens patrimoniais. 
A propriedade fiduciária (de fidúcia, no sentido de certeza, confiança, segurança) diz respeito ao 
lastro de garantia (art. 1.361 ao art. 1.368 do Código Civil). Note-se, ademais, as disposições gerais do 
art. 1.419 ao art. 1.510 do Código Civil incidentes sobre matéria garantia.
103
INSTITUIÇÕES DE DIREITO
Também outras formas de garantia podem ser livremente estipuladas por meio de cláusulas acessórias 
livremente pactuadas que obedeçam à principiologia que parte do art. 3º e alcança a principiologia da 
norma geral do art. 412 do Código Civil, vértice de equidade.
5.4.2 Confissão de dívida
A assunção de dívida está disciplinada no art. 299 ao art. 303 do Código Civil de 2002, a exemplo 
de um mero termo de confissão ou assunção de dívida por meio do qual um sujeito capaz opera ato 
formativo de direito do credor.
Veja que a pauta recai, aqui, sobre a declaração do devedor, mais do que sobre a manifestação 
de vontade do credor; eis que preexistente o débito ou a dívida, em razão de algum vínculo jurídico 
que implicasse situação ou posição de devedor a algum sujeito que, então, assume (e assim o declara 
manifestamente) sua posição subjetiva de devedor, reconhecendo, pois, a dívida. Para uma situação 
jurídica qualquer na qual um eventual sujeito devedor recusasse assunção de sua dívida, o credor poderia 
invocar a tutela jurisdicional para que o poder judiciário declarasse a existência do débito, mediante 
exame de mérito da causa de pedir, a causa petendi (em direito, causa petendi e pedido definem a 
natureza ou qualidade da ação ou o rito processual, jamais uma ou outra nomenclatura ou nomen iuris).
Importa, ainda, notar-se o inciso III do art. 333 do Código Civil:
Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o 
prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código:
III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, 
fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las 
(BRASIL, 2002a).
5.4.3 Teoria da imprevisão
Se o sujeito é capaz e livre para encetar negócio jurídico dentro da vida civil, é, portanto, responsável 
pelos atos praticados, bem como pelo adimplemento de seus contratos, haja vista o lastro de sua bona 
fides, a boa-fé, que sempre se presume, ao passo que a má-fé, assim como o dolo, sempre deve ser 
comprovada (dolo compreende a vontade consciente e deliberada de obter proveito indevido ou de 
obter resultado proibido mediante conduta ilícita, campo do elemento subjetivo).
A sociabilidade reclama pacificação social para segurança jurídica no tráfego dos bens da vida. 
Ao mesmo tempo que a vontade manifestamente declarada vincula o sujeito, sabe-se que a vontade é 
livre. Da vontade livre e do livre arbítrio decorre a prevalência da dignidade da vida humana (invariante 
axiológica prevalente), de modo que a vinculação da vontade é sempre relativa (art. 421 e art. 422 do 
Código Civil).
A vontade dos agentes em sede de direito civil é tão valiosa que o contrato pode ser rompido mediante 
cumprimento da chamada cláusula penal de estipulação facultativa. Embora o nome “cláusula penal de 
104
Unidade II
estipulação facultativa” dê ideia de sanção ou penalidade, na verdade trata-se de figura civil, que é 
livre dispositiva: incide se expressamente prevista, cláusula acessória (para além de demais eventuais 
consequentes jurídicos, como a solução em perdas e danos acrescida de indenização).
Trata-se, pois, da tutela da vontade livre sob a égide do princípio geral do pacta sunt servanda, bem 
como da prevalência da função do contrato, corolário da autonomia da vontade privada (liberdade 
civil). Essa pauta recai na norma geral do art. 412 do Código Civil, vértice de equidade. A prevalência do 
interesse público primário é outro princípio que relativiza a autonomia da vontade primária. Justamente 
para tutela dessa principiologia, o direito admite expressamente a revisão contratual diante da alteração 
superveniente das circunstâncias que deram origem ao negócio jurídico (teoria da imprevisão, teoria da 
base objetiva, entre outras).
Ademais, o princípio da autonomia da vontade confere aos contratantesampla liberdade para 
estipular o que lhes convenha, desde que preservada a moral, a ordem pública e os bons costumes, 
valores que não podem ser derrogados pelas partes. Eis que soem ser ponderados sempre à luz do ato 
e do sujeito, para além de eventuais circunstâncias pessoais que possam importar à soberania do non 
liquet: a indeclinabilidade da tutela jurisdicional, compreendido o livre acesso à tutela jurisdicional, 
que empunha o poder de império com seu poder geral de cautela, sua autoexecutoriedade por meio da 
titularidade da violência legitimada – o poder coercitivo de fazer-se cumprir compulsoriamente a iuris 
dicere (pode-se dizer o direito), a exemplo da condução coercitiva debaixo de vara. 
Em Roma, os pretores portavam ramos de varas (empunhadura, titularidade) da autoexecutoriedade 
do poder de império (ínsita ao poder geral de cautela). O Estado não desconhece o uso da força. Lembremos 
que o titular soberano do poder de império, no estado democrático de direito, é única e exclusivamente 
o poder judiciário. Na França, Benjamin Constant havia proposto que se erigisse um quarto poder, um 
poder moderador, que conciliasse os poderes legislativo, executivo e judiciário, desempenhado pelo 
monarca. Prevaleceu a tripartição dos poderes, tão cara a Montesquieu.
Desse modo, a intervenção do poder judiciário nos contratos, à luz da teoria da imprevisão e da 
teoria da onerosidade excessiva, exige a demonstração de mudanças supervenientes das circunstâncias 
iniciais vigentes à época da realização do negócio, oriundas de evento imprevisível (teoria da imprevisão) 
e de evento imprevisível e extraordinário (teoria da onerosidade excessiva), que comprometam o valor 
da prestação, demandando tutela jurisdicional específica (arts. 317, 478 e 479 do Código Civil).
É pressuposta da aplicação das referidas teorias (arts. 317 e 478 do Código Civil) a existência de um 
fato imprevisível em contrato de execução diferida, que imponha consequências indesejáveis e onerosas 
para um dos contratantes – o que sempre enseja se ponderar se a sinistralidade ou anômalo poderia ser 
prevista, evitada, resistida, respeitados o dever geral de cuidado, o princípio geral da confiança, a boa-fé, 
entre outros. 
Quanto à imprevisibilidade, tem-se o seguinte exemplo: não se admite imprevisível a onerosidade 
decorrente de convenção coletiva de trabalho, haja vista sua própria previsibilidade, a reboque do art. 114, 
§ 2º, da Constituição Federal. A jurisprudência examina com cautela e parcimônia as pautas da teoria da 
imprevisão que versem sobre variações monetárias e cambiárias, em razão da respectiva principiologia 
105
INSTITUIÇÕES DE DIREITO
regente. Tenhamos em mente que o exercício da livre iniciativa econômica e da livre concorrência que 
fundamenta o exercício de sociedade empresária pressupõe o risco do negócio, motivo pelo qual se 
converte receita excedente em lucro para ser distribuído entre os sócios. Portanto, o risco, em princípio, 
é da livre empresa.
6 DIREITO DO CONSUMIDOR
6.1 Noções introdutórias de direito do consumidor
Este tópico tem o objetivo de viabilizar a identificação de uma relação de consumo (ou consumerista) 
e ponderar o escopo de norma cogente indisponível da norma consumerista, que tutela tanto o 
consumidor individualmente situado quanto o consumidor em termos de sujeito difuso público e 
indeterminado, o que repercute em matéria de riscos, deveres, responsabilidades, inclusive quanto ao 
dever de veracidade, de lealdade e de suficiência de informação, ou seja, tudo que atravessa a pauta de 
práticas abusivas.
O direito do consumidor é o ramo do direito que visa equilibrar as relações comerciais que são 
resultantes do consumo de bens e serviços na sociedade, buscando preservar os interesses dos 
consumidores, que são considerados hipossuficientes (geralmente, a parte mais fraca nesse tipo de relação). 
Não é por outro motivo que a principal lei que trata dessas regras denomina-se Código de Defesa do 
Consumidor (CDC), Lei n. 8.078 (BRASIL, 1990b), que, já no seu título, traz explicitamente a ideia de que os 
consumidores precisam de defesa. Também é possível dizer que os consumidores precisam de proteção.
Figura 22
Em seu artigo 5º, inciso XXXII, a CF inclui a defesa do consumidor no rol dos direitos fundamentais 
e impõe ao Estado o dever de promover a defesa dos consumidores. Portanto, o CDC é a consequência 
legislativa do cumprimento desse mandamento constitucional.
Mas você sabe de onde vem essa história de proteger o consumidor? Vejamos um exemplo simples 
do fabricante de bolsas para viagem. Antigamente, para possuir uma bolsa de viagem, era necessário 
mandar fazer uma. Assim, todos os elementos da compra, como material, forma de elaboração, preço e 
106
Unidade II
prazo, eram discutidos diretamente com o fabricante artesanal da bolsa. O mesmo ocorria com sapatos, 
roupas, máquinas etc. Essa fase do consumo foi marcada por aquilo que os doutrinadores consumeristas 
chamaram de bilateralidade na produção. Porém, com a evolução e a avidez das pessoas para consumir, 
aos poucos, esse trabalho da negociação foi desaparecendo e sendo substituído pela decisão apenas 
do fabricante, que oferecia o seu produto já pronto, não dando chances para o consumidor questionar 
ou decidir sobre o produto a consumir. Desse modo, caberia ao consumidor apenas duas hipóteses: 
aderir ao contrato previamente elaborado pelo fornecedor (contrato de adesão); ou adquirir o produto 
confeccionado com material de origem e qualidade desconhecidos na maioria das vezes.
Torna-se óbvio, então, o desequilíbrio da relação de consumo. O fornecedor passa a prezar pela 
quantidade em detrimento da qualidade, e, portanto, o consumidor depara‐se com produtos muitas 
vezes viciados ou portadores de defeitos, que podem causar prejuízos de ordem econômica ou até 
mesmo física. 
As principais regras que visam à defesa e à proteção efetiva dos consumidores foram elaboradas 
pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Resolução nº 39/248, de 10 de abril de 1985 
(UNITED NATIONS, 1985), inspirada na DDC, promulgada pelo Presidente John Fitzgerald Kennedy em 
15 de março de 1962 nos Estados Unidos. A Declaração trazia quatro pontos principais, conforme 
podemos ver na figura a seguir: 
Direito à segurança 
ou proteção contra a 
comercialização de produtos 
perigosos à saúde e à vida
Direito a ser ouvido na 
elaboração das políticas 
públicas que sejam de seu 
interesse
Direito à opção, no combate 
aos monopólios e oligopólios 
e na defesa da concorrência 
e da competitividade 
como fatores favoráveis ao 
consumidor
Direito à informação, 
incluindo os aspectos 
gerais da propaganda e 
o da obrigatoriedade do 
fornecimento de informações 
sobre os produtos e sua 
utilização
Declaração 
dos direitos do 
consumidor
Figura 23 – Declaração dos Direitos do Consumidor (Estados Unidos, 1962)
Os fundamentos apresentados por John Fitzgerald Kennedy permanecem presentes na Resolução 
39/248 (UNITED NATIONS, 1985) e, portanto, fazem parte do ordenamento jurídico brasileiro, uma vez 
que o Brasil assinou tratados na ONU assumindo o compromisso de criar legislações internas que visem 
à proteção da relação de consumo. Essa ação trouxe para a CF de 1988, nos termos do art. 5º, inciso 
XXXII, do art. 24, inciso VIII, do art. 150, parágrafo 5º, e do art. 170, inciso V, a determinação da criação 
dessa norma, que se materializou pelo CDC (BRASIL, 1990b).
Desse modo, fica evidente que o CDC tem um caráter social, uma vez que visa defender, organizar e 
educar a sociedade. Assim explicam Marques e Cavallazzi:
107
INSTITUIÇÕES DE DIREITO
O Código de Defesa do Consumidor constitui verdadeiramente uma lei 
de função social, lei de ordem pública econômica, de origem claramente 
constitucional. A entrada em vigor de uma lei de função social traz como 
consequência modificações profundas nas relações jurídicas relevantes na 
sociedade (MARQUES; CAVALLAZZI, 2006, p. 61).
Como você pode perceber,o direito do consumidor destina-se a proteger uma parte que é 
considerada hipossuficiente, porque não decide mais quais são todas as características e qualidades dos 
bens, produtos ou serviços que consome. Assim, para equilibrar a relação, é necessário que existam leis 
que obriguem a parte mais forte da relação de consumo a informar, proteger, ouvir e, acima de tudo, 
proporcionar ao consumidor o direito de escolha. 
Antes de adentrar nos conceitos pertinentes ao direito do consumidor, importa esclarecer a relação 
jurídica existente na relação de consumo. O CDC (BRASIL, 1990b) qualificará a relação de consumo 
quando nas partes figurarem um consumidor e um fornecedor.
As partes são definidas assim:
Fornecedor
Vendedor de um 
produto ou serviço
Consumidor
Adquirente de um 
produto ou serviço
Figura 24
A relação de consumo pode ser efetiva, quando se concretiza de fato (por exemplo, a compra e a 
venda de uma geladeira), ou potencial, quando há a divulgação do produto ou serviço (por exemplo, a 
propaganda). Portanto, para termos uma relação de consumo, nos termos do CDC, não é necessário que 
o fornecedor concretamente venda bens ou preste serviço; basta que, mediante oferta, coloque os bens 
à disposição de consumidores potenciais.
6.2 Conceito de consumidor
É importante saber que nem toda relação comercial se configura numa relação de consumo. Todavia, 
sempre que a relação comercial envolver um fornecedor e um consumidor, estará configurada a relação 
jurídica de consumo regulada pelo CDC. Portanto, você precisa entender os conceitos de consumidor e 
fornecedor à luz do CDC, para que seja capaz de reconhecer uma relação de consumo. 
Tanto pessoas físicas quanto pessoas jurídicas podem ser consumidoras. A condição essencial para 
que se configure uma relação de consumo é que o comprador adquira o produto ou utilize o serviço 
como destinatário final, conforme estabelece o artigo 2º do CDC (BRASIL, 1990b).
108
Unidade II
O conceito legal de destinatário final se relaciona com a intenção de uso do produto ou consumo 
final do serviço, ou seja, quando não se pretende adquirir o bem para revenda ou uso profissional. Ao 
contrário, o bem é retirado do mercado, pois o consumidor final esgota a sua potencialidade comercial 
através do consumo final; com a utilização do bem, coloca fim na cadeia de produção ou na cadeia de 
serviços, pois o consumidor final é aquele que utiliza o bem em benefício próprio. Portanto, sempre que 
o produto ou o serviço for destinado ao consumo final, serão aplicadas as regras do CDC.
Em comentário ao parágrafo único do art. 2º do CDC, enuncia José Geraldo Brito Filomeno:
O parágrafo único do comentado art. 2º, porém, trata não mais daquele 
determinado e individualmente considerado consumidor, mas sim de uma 
coletividade de consumidores, sobretudo quando indeterminados e que 
tenham intervindo em dada relação de consumo. [...] Desta forma, além dos 
aspectos já tratados em passos anteriores, o que se tem em mira no parágrafo 
único do art. 2º do Código do Consumidor é a universalidade, conjunto de 
consumidores de produtos e serviços, ou mesmo grupo, classe ou categoria 
deles, e desde que relacionados a um determinado produto ou serviço, 
perspectiva essa extremamente relevante e realista, porquanto é natural que se 
previna, por exemplo, o consumo de produtos ou serviços perigosos ou então 
nocivos, beneficiando-se, assim, abstratamente as referidas universalidades e 
categorias de potenciais consumidores (FILOMENO, 2004, p. 38).
Você sabia que o dia mundial dos direitos do consumidor foi instituído no dia 15 de março em 
homenagem ao presidente Kennedy? A data foi escolhida porque foi em 15 de março de 1983 que 
começou a vigorar a Declaração dos Direitos do Consumidor e, em 1985, a Assembleia Geral da ONU 
adotou os direitos do consumidor como diretrizes das Nações Unidas, o que lhe deu legitimidade e 
reconhecimento internacional.
6.3 Conceito de fornecedor
Fornecedor, em sentido amplo, é alguém que abastece com regularidade outrem com algum 
produto. São exemplos os fornecedores de farinha de trigo para a padarias, de energia elétrica, gás 
encanado ou internet. Contudo, a definição de fornecedor dada pelo CDC, em seu artigo 3º, é muito 
vasta. Isso porque o CDC estabelece que fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou 
privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados que desenvolvem atividade 
de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição 
ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Portanto, o CDC busca englobar todas as 
pessoas capazes de fornecer produtos e serviços e de prestar serviços.
Desse modo, podem ser considerados como fornecedores reais os fabricantes, os produtores e 
os construtores:
•	 Fabricante: quem fabrica e coloca o produto no mercado, incluindo o montador e o fabricante 
de peça ou componente.
109
INSTITUIÇÕES DE DIREITO
•	 Produtor: quem coloca no mercado produtos não industrializados (in natura), de origem animal 
ou vegetal (carnes, frutas, legumes etc.).
•	 Construtor: quem introduz produtos imobiliários (casa, apartamento, terreno etc.), respondendo 
pela construção, bem como pelo material empregado na obra.
O fornecedor presumido é o importador do produto industrializado ou in natura; os fabricantes ou 
produtores estão no exterior. 
O fornecedor aparente, também chamado de quase fornecedor, é quem coloca seu nome ou sua 
marca no produto final. Nesse caso, aplica-se a teoria da aparência, que se justifica pela apropriação 
que a empresa distribuidora faz do produto. Por exemplo: na franquia, o franqueador, titular da marca, é 
o fornecedor aparente. O concessionário franqueado tem responsabilidade solidária. Já o comerciante e 
os demais participantes do ciclo produtivo e distributivo são também considerados fornecedores, sendo 
responsáveis solidariamente. São exemplos os supermercados, as lojas varejistas, as distribuidoras de 
bebidas etc.
Mas você sabe o que são produtos ou serviços para o direito do consumidor? O CDC traz a informação 
no artigo 3º, que fixa que “produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial” e “serviço 
é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração”. Merecem destaque 
dois tipos de serviços, sendo que o primeiro (citação a seguir) se enquadra na relação de consumo, e o 
segundo (citação adiante) não:
Os serviços de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária estão 
enquadrados nas relações de consumo. Portanto, por exemplo, surgindo 
uma ação judicial entre uma pessoa física e um banco, o CDC será aplicado 
nessa ação judicial. No passado, os bancos defendiam que o CDC não deveria 
ser aplicado nas suas relações com os clientes, pois os produtos e serviços 
bancários (crédito – dinheiro) obtidos pelos seus clientes eram utilizados na 
aquisição de outros bens e serviços, portanto, não se caracterizavam pelo 
consumo final. Essa tese foi totalmente afastada pelo Superior Tribunal 
de Justiça, que, na sua Súmula 297 (resumo do entendimento do Tribunal 
acerca de um determinado assunto), entendeu que ‘o Código de Defesa do 
Consumidor é aplicável às instituições financeiras’. Mesmo antes da edição 
da Súmula 297 do STJ em 2004, já havia nos tribunais superiores precedentes 
apontando para o reconhecimento da relação de consumo na prestação de 
serviços financeiros (STJ, 1995, p. 15524).
O exemplo a seguir resume claramente o que tratamos:
Os bancos, como prestadores de serviços especialmente contemplados no 
artigo 3º, parágrafo segundo, estão submetidos às disposições do Código 
de Defesa do Consumidor. O recorrente, como instituição bancária, está 
submetido às disposições do Código de Defesa do Consumidor, não porque 
110
Unidade II
ele seja fornecedor de um produto, mas porque presta um serviço consumido 
pelo cliente, que é o consumidor final desses serviços, e seus direitos devem 
ser igualmente protegidos como o

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